quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura

“O próprio Cristo está presente na sua Palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura” (Verbum Domini, n, 52).

Esta afirmação da Exortação Apostólica Verbum Domini sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, promulgada pelo Papa Bento XVI no dia 30 de setembro de 2010, retoma o que a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II já havia afirmado em seu n. 7.

Nessa Exortação, destacando a Liturgia como lugar privilegiado para a proclamação da Palavra de Deus, o Papa exortava a “fazer com que todos os fiéis sejam educados para saborear o sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano na Liturgia, mostrando os mistérios fundamentais da nossa fé” (n. 52).

É isto que temos feito em nosso blog com as publicações sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura, identificando a presença de cada livro na Liturgia do Rito Romano e analisando os critérios que norteiam a escolha dos seus textos.

Nesta postagem, por ocasião dos 10 anos da Exortação Verbum Domini e dos 1600 anos da morte de São Jerônimo, grande tradutor e estudioso da Palavra de Deus, gostaríamos de deixar um sumário das nossas postagens sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura, que iremos atualizando à medida que novos textos forem publicados:

ANTIGO TESTAMENTO

Pentateuco

Gênesis 1–11: Parte I / Parte II (2023)

Gênesis 12–50: Parte I / Parte II (2023)

ÊxodoParte I / Parte II / Parte III (2022)

Levítico (2022)

NúmerosParte I / Parte II (2022)

DeuteronômioParte I / Parte II / Parte III (2020)

“Livros Históricos

Josué (2020)

Juízes (2020)

Livros de SamuelParte I / Parte II (2021)

Livros dos ReisParte I / Parte II (2021)




Rute (2023)

Ester (2023)

Judite (2023)

Tobias: Parte I / Parte II (2023)

Profetas “maiores”

EzequielParte I / Parte II Parte III (2021)

Daniel: Parte I / Parte II (2023)

Profetas “menores”

Amós (2021)

Oseias (2021)

Miqueias (2020)

Sofonias (2022)



Malaquias (2024)

Joel (2019)

Sapienciais

Provérbios (2020)


 (2021)

SabedoriaParte I / Parte II / Parte III (2019)

NOVO TESTAMENTO

Cartas Paulinas


Carta aos GálatasParte IParte II (2021)

1ª Carta aos CoríntiosParte I / Parte II / Parte III / Parte IV (2022)

2ª Carta aos CoríntiosParte I / Parte II / Parte III (2022)

Carta aos Romanos: Parte I / Parte II / Parte III / Parte IV / Parte V (2023)

Carta aos Filipenses: Parte I  / Parte II / Parte III / Parte IV (2024)

Carta aos Colossenses: Parte I  / Parte II / Parte III / Parte IV (2024)

Carta aos Efésios: Parte I / Parte II / Parte III / Parte IV / Parte V (2024)

Carta aos Hebreus, Cartas Católicas e Apocalipse

Carta aos HebreusParte I / Parte II  / Parte III / Parte IV (2022)

Carta de TiagoParte I / Parte II (2021)

1ª Carta de Pedro: Parte I / Parte II / Parte III / Parte IV (2023)


1ª Carta de JoãoParte I / Parte II / Parte III (2019)



Confira também:



“Vossa palavra é uma luz para os meus passos, é uma lâmpada luzente em meu caminho”
(Sl 118,105)

Postagem publicada em 30 de setembro de 2019. Última atualização: 20 de novembro de 2024.

Festa da Exaltação da Santa Cruz em Moscou

No último dia 27 de setembro o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou, conforme o calendário juliano, a Divina Liturgia da Festa da Exaltação da Santa Cruz na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador em Moscou.

Na noite da véspera, dia 26, o Patriarca presidiu a Vigília da Festa na Catedral Patriarcal, com a exposição da Santa Cruz para a adoração dos fiéis.

Dia 26: Vigília e exposição da Santa Cruz

Ícone da festa
(Para conhecer o simbolismo desse ícone, clique aqui)
Exposição da Santa Cruz

Rito da adoração da Cruz

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Homilia do Papa Bento XVI: Festa dos Santos Arcanjos

Após nossa postagem sobre a história da Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, publicamos a homilia do Papa Bento XVI por ocasião desta Festa no ano de 2007, durante a Santa Missa na Basílica de São Pedro para a Ordenação de seis Bispos [1]:

Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael
Ordenação Episcopal de seis novos Bispos
Homilia do Papa Bento XVI
Sábado, 29 de setembro de 2007

Queridos irmãos e irmãs!
Celebramos esta Ordenação episcopal na festa dos três Arcanjos que na Escritura são mencionados pelo nome: Miguel, Gabriel e Rafael. Isto faz-nos recordar que na antiga Igreja já no Apocalipse os Bispos eram classificados como “anjos” da sua Igreja, expressando deste modo uma correspondência íntima entre o ministério do Bispo e a missão do Anjo. A partir da tarefa do Anjo pode-se compreender o serviço do Bispo. Mas o que é um Anjo? A Sagrada Escritura e a tradição da Igreja deixam-nos entrever dois aspectos. Por um lado, o Anjo é uma criatura que está diante de Deus, orientada, com todo o seu ser para Deus. Os três nomes dos Arcanjos terminam com a palavra “El”, que significa “Deus”. Deus está inscrito nos seus nomes, na sua natureza. A sua verdadeira natureza é a existência em vista d'Ele e para Ele. Explica-se precisamente assim também o segundo aspecto que caracteriza os Anjos: eles são mensageiros de Deus. Trazem Deus aos homens, abrem o céu e assim abrem a terra. Exatamente porque estão junto de Deus, podem estar também muito próximos do homem. De fato, Deus é mais íntimo a cada um de nós de quanto o somos nós próprios. Os Anjos falam ao homem do que constitui o seu verdadeiro ser, do que na sua vida com muita frequência está velado e sepultado. Eles chamam-no a reentrar em si mesmo, tocando-o da parte de Deus. Neste sentido também nós, seres humanos, deveríamos tornar-nos sempre de novo anjos uns para os outros, anjos que nos afastam dos caminhos errados e nos orientam sempre de novo para Deus. Se a Igreja antiga chama os Bispos “anjos” da sua Igreja, pretende dizer precisamente o seguinte: “os próprios Bispos devem ser homens de Deus, devem viver orientados para Deus”. “Multum orat pro populo” - “Reza muito pelo povo”, diz o Breviário da Igreja a propósito dos santos Bispos. O Bispo deve ser um orante, alguém que intercede pelos homens junto de Deus. Quanto mais o fizer, tanto mais compreende também as pessoas que lhe estão confiadas e pode tornar-se para elas um anjo um mensageiro de Deus, que as ajuda a encontrar a sua verdadeira natureza, a si mesmas, e a viver a ideia que Deus tem delas.

Tudo isto se torna ainda mais claro se olharmos agora para as figuras dos três Arcanjos cuja festa a Igreja celebra hoje. Antes de tudo está Miguel. Encontramo-lo na Sagrada Escritura sobretudo no Livro de Daniel, na Carta do Apóstolo São Judas Tadeu e no Apocalipse. Deste Arcanjo tornam-se evidentes nestes textos duas funções. Ele defende a causa da unicidade de Deus contra a soberba do dragão, da “serpente antiga”, como diz João. É a perene tentativa da serpente de fazer crer aos homens que Deus deve desaparecer, para que eles se possam tornar grandes; que Deus é um obstáculo para a nossa liberdade e que por isso devemos desfazer-nos dele. Mas o dragão não acusa só Deus. O Apocalipse chama-o também “o acusador dos nossos irmãos, que os acusava de dia e de noite diante de Deus” (12,10). Quem põe Deus de lado, não enobrece o homem, mas priva-o da sua dignidade. Então o homem torna-se um produto defeituoso da evolução. Quem acusa Deus, acusa também o homem. A fé em Deus defende o homem em todas as suas debilidades e insuficiências: o esplendor de Deus resplandece sobre cada indivíduo. É tarefa do Bispo, como homem de Deus, fazer espaço para Deus no mundo contra as negações e defender assim a grandeza do homem. E o que se poderia dizer e pensar de maior sobre o homem a não ser que o próprio Deus se fez homem? A outra função de Miguel, segundo a Escritura, é a de protetor do Povo de Deus (cf. Dn 10,21; 12,1). Queridos amigos, sede verdadeiramente “anjos da guarda” das Igrejas que vos serão confiadas! Ajudai o povo de Deus, que deveis preceder na sua peregrinação, a encontrar a alegria na fé e a aprender o discernimento dos espíritos: a acolher o bem e a recusar o mal, a permanecer e tornar-se sempre mais, em virtude da esperança da fé, pessoas que amam em comunhão com Deus-Amor.

Encontramos o Arcanjo Gabriel sobretudo na preciosa narração do anúncio a Maria da Encarnação de Deus, como nos refere São Lucas (1,26-38). Gabriel é o mensageiro da Encarnação de Deus. Ele bate à porta de Maria e, através dela, o próprio Deus pede a Maria o seu “sim” para a proposta de se tornar a Mãe do Redentor: dar a sua carne humana ao Verbo eterno de Deus, ao Filho de Deus. Repetidas vezes o Senhor bate às portas do coração humano. No Apocalipse diz ao “anjo” da Igreja de Laodiceia e, através dele, aos homens de todos os tempos: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele” (3,20). O Senhor está à porta à porta do mundo e à porta de cada um dos corações. Ele bate para que o deixemos entrar: a encarnação de Deus, o seu fazer-se carne deve continuar até ao fim dos tempos. Todos devem estar reunidos em Cristo num só corpo: dizem-nos isto os grandes hinos sobre Cristo na Carta aos Efésios e na Carta aos Colossenses. Cristo bate. Também hoje Ele tem necessidade de pessoas que, por assim dizer, lhe põem à disposição a própria carne, que lhe doam a matéria do mundo e da sua vida, servindo assim para a unificação entre Deus e o mundo, para a reconciliação do universo. Queridos amigos, compete-vos bater à porta dos corações dos homens, em nome de Cristo. Entrando vós mesmos em união com Cristo, podereis também assumir a função de Gabriel: levar a chamada de Cristo aos homens.

São Rafael é-nos apresentado sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é confiada a tarefa de curar. Quando Jesus envia os seus discípulos em missão, com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada a de curar. O Bom Samaritano, acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada, torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. Este homem ferido, com necessidade de curas, somos todos nós. Anunciar o Evangelho, já em si é curar, porque o homem precisa sobretudo da verdade e do amor. Do Arcanjo Rafael são referidas no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura. Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Cura o seu amor. Afasta os demônios que, sempre de novo, rasgam e destroem o seu amor. Purifica a atmosfera entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para sempre. Na narração de Tobias esta cura é referida com imagens legendárias. No Novo Testamento, a ordem do matrimônio, estabelecido na criação e ameaçado de muitas formas pelo pecado, é curado pelo fato de que Cristo o acolhe no seu amor redentor. Ele faz do matrimônio um sacramento: o seu amor, que por nós subiu à cruz, é a força restauradora que, em todas as confusões, dá a capacidade da reconciliação, purifica a atmosfera e cura as feridas. Ao sacerdote é confiada a tarefa de guiar os homens sempre de novo ao encontro da força reconciliadora do amor de Cristo. Deve ser o “anjo” curador que os ajuda a ancorar o seu amor no sacramento e a vivê-lo com empenho sempre renovado a partir dele. Em segundo lugar, o Livro de Tobias fala da cura dos olhos cegos. Todos sabemos quanto estamos hoje ameaçados pela cegueira para Deus. Como é grande o perigo de que, perante tudo o que sabemos sobre as coisas materiais e que somos capazes de fazer com elas, nos tornamos cegos para a luz de Deus. Curar esta cegueira mediante a mensagem da fé e o testemunho do amor, é o serviço de Rafael confiado dia após dia ao sacerdote e de modo especial ao Bispo. Assim, somos espontaneamente levados a pensar também no Sacramento da Reconciliação, no Sacramento da Penitência que, no sentido mais profundo da palavra, é um sacramento de cura. A verdadeira ferida da alma, de fato, o motivo de todas as outras nossas feridas, é o pecado. E só se existe um perdão em virtude do poder de Deus, em virtude do poder do amor de Cristo, podemos ser curados, podemos ser remidos.

“Permanecei no meu amor”, diz-nos hoje o Senhor no Evangelho (Jo 15,9). No momento da Ordenação Episcopal Ele di-lo de modo particular a vós, queridos amigos. Permanecei no seu amor! Permanecei naquela amizade com Ele cheia de amor que Ele neste momento vos doa de novo! Então a vossa vida dará fruto um fruto que permanece (Jo 15,16). Para que isto vos seja concedido, todos rezamos por vós neste momento, queridos irmãos. Amém.

Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel

Fonte: Santa Sé

[1] Os Bispos ordenados foram: Mieczysław Mokrzycki, Francesco Brugnaro, Gianfranco Ravasi, Tommaso Caputo, Sergio Pagano e Vincenzo Di Mauro.

A história da Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael

Bendizei ao Senhor Deus, seus anjos todos, valorosos que cumpris as suas ordens, sempre prontos para ouvir a sua voz!” (Sl 102,20).

A Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, os únicos três anjos nomeados na Sagrada Escritura [1], é celebrada no dia 29 de setembro. Seu culto foi defendido pelo Papa São Zacarias I (741-752) durante o Sínodo de Roma de 745, o qual proibiu invocar nomes de anjos mencionados apenas nos apócrifos.

Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel sustentam o ícone de Cristo

A origem da festa de 29 de setembro remonta ao século VI, embora no início fosse uma celebração específica do Arcanjo Miguel, que dos três foi sempre o mais venerado no Rito Romano [2].

A devoção a São Miguel

Embora Miguel seja identificado na Escritura como protetor, a devoção mais antiga atribui-lhe o caráter de taumaturgo, isto é, aquele que faz milagres, que cura as enfermidades. Na Frígia (parte da atual Turquia) haviam fontes atribuídas ao seu patrocínio, cujas águas eram consideradas curativas.

Em Constantinopla teria sido construída a primeira igreja em sua honra, o Michaelion, no tempo do Imperador Constantino (séc. IV). Para comemorar sua vitória sobre Licínio na Batalha de Adrianópolis (324), o Imperador teria encomendado para a igreja um ícone de Miguel em armadura subjugando Satanás representado como uma serpente, elementos que se tornaram característicos de sua iconografia.

Logo a devoção a este Arcanjo se tornou muito popular: apenas em Constantinopla teriam sido construídas quinze igrejas em sua honra. Também no Egito Miguel era particularmente venerado, sendo-lhe confiada a proteção do rio Nilo.

No Ocidente seu culto difundiu-se a partir do século V, especialmente na Itália. Neste período teria sido construída a Basílica de São Miguel na via Salária, ao norte de Roma, cuja dedicação no dia 29 de setembro marca a origem da atual festa dos Arcanjos.

O Sacramentário Veronense (séc. VI) traz cinco formulários de Missa para o dia 30 de setembro, descrito como Natale basilicae Sancti Angeli in Salaria. Os Sacramentários Gelasiano e Gregoriano (séc. VII-VIII), por sua vez, trazem a indicação Dedicatio basilicae Sancti Michaelis para o dia 29 de setembro, data que prevaleceu, mesmo após a destruição da igreja (cujas fundações foram redescobertas apenas em 1996).

No final do século V a tradição narra uma aparição do Arcanjo Miguel em uma caverna do monte Gargano, no sul da Itália, no dia 08 de maio. Ali foi edificado um santuário em sua honra que logo se tornou muito popular, de modo que foi acrescida ao calendário a celebração da Apparitio Sancti Michaelis (Aparição de São Miguel) no dia 08 de maio.

Esta celebração foi suprimida na edição do Missal de 1962, considerada como duplicação da festa de 29 de setembro (de fato, eram utilizadas as mesmas orações e leituras para as duas festas).

Santuário de São Miguel em Gargano (Itália)

A Liturgia romana atribuía a Miguel várias funções: primeiramente como condutor das almas para o céu, à luz da parábola do rico e Lázaro, onde este é levado pelos anjos ao seio de Abraão (Lc 16,22). Desta tradição derivam as invocações ao Arcanjo nas orações da encomendação dos agonizantes e nas Missas dos defuntos. Esta tradição influenciou também a iconografia do arcanjo: foi-lhe acrescentada uma balança, com a qual se pesariam as obras da alma por ele conduzida.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Dedicação de igreja em Cracóvia

O Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou no último dia 27 de setembro a Santa Missa para a dedicação da igreja de Santo Estanislau, Bispo e Mártir, na vila de Kantorowice, em Cracóvia.

Em sua homilia, Dom Marek destacou alguns pontos da recente Carta do Cardeal Robert Sarah sobre a centralidade da Liturgia e particularmente da Eucaristia na vida da Igreja.

Acolhida ao Arcebispo
Aspersão do altar
Ritos iniciais
(A inscrição no altar diz: "Fazei isto em memória de mim!")
Evangelho

Ângelus do Papa: XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 27 de setembro de 2020

Amados irmãos e irmãs!
Na minha terra dizem: “Com mau tempo, boa cara”. Com esta “boa cara” digo-vos: bom dia!
Com a sua pregação sobre o Reino de Deus, Jesus opõe-se a uma religiosidade que não envolve a vida humana, que não questiona a consciência nem a sua responsabilidade perante o bem e o mal. Isto também é demonstrado pela parábola dos dois filhos, proposta no Evangelho de Mateus (cf. 21, 28-32). Ao convite do pai para ir trabalhar na vinha, o primeiro filho responde impulsivamente “não, eu não vou”, mas depois se arrepende e vai; ao contrario, o segundo filho, que responde imediatamente “sim, sim pai”, na realidade não o faz, não vai. A obediência não consiste em dizer “sim” ou “não”, mas sempre em agir, em cultivar a vinha, em realizar o Reino de Deus, em praticar o bem. Com este simples exemplo, Jesus quer superar uma religião entendida apenas como prática exterior e habitual, que não incide na vida e nas atitudes das pessoas, uma religiosidade superficial, apenas “ritual”, no mau sentido da palavra.
Os representantes desta religiosidade de “fachada”, que Jesus desaprova, eram na altura «os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo» (Mt 21,23) que, segundo a admoestação do Senhor, no Reino de Deus serão precedidos por publicanos e meretrizes (cf. v. 31). Jesus diz-lhes: «os publicanos e as meretrizes preceder-vos-ão no reino de Deus». Esta afirmação não deve levar a pensar que fazem bem aqueles que não seguem os mandamentos de Deus, quantos não seguem a moral, e dizem: “Aqueles que vão à Igreja são piores do que nós!”. Não, este não é o ensinamento de Jesus. Jesus não aponta os publicanos e as meretrizes como modelos de vida, mas como “privilegiados da Graça”. E eu gostaria de sublinhar esta palavra “graça”, a graça, porque a conversão é sempre uma graça. Uma graça que Deus concede a quem se abre e se converte a Ele. De facto, aquelas pessoas, ouvindo a sua pregação, arrependeram-se e mudaram de vida. Pensemos em Mateus, por exemplo, São Mateus, que era um publicano, um traidor da sua pátria.
No Evangelho de hoje, aquele que causa melhor impressão é o primeiro irmão, não por ter dito “não” ao seu pai, mas porque depois do “não” se converteu ao “sim”, arrependeu-se. Deus é paciente com cada um de nós: não se cansa, não desiste depois do nosso “não”; também nos deixa livres de nos distanciarmos d'Ele e cometer erros. Pensar na paciência de Deus é maravilhoso! Como o Senhor nos espera sempre; sempre ao nosso lado para nos ajudar; mas Ele respeita a nossa liberdade. Ele aguarda trepidante o nosso “sim”, para nos acolher novamente  nos seus braços paternos e nos colmar com a sua misericórdia sem limites. A fé em Deus pede que renovemos todos os dias a escolha do bem em vez do mal, a escolha da verdade em vez da mentira, a escolha do amor ao próximo em vez do egoísmo. Aqueles que se converterem a esta escolha, depois de terem experimentado o pecado, encontrarão os primeiros lugares no Reino do Céu, onde há mais alegria por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos (cfLc 15, 7).
Mas a conversão, mudar o coração, é um processo, um processo que nos purifica das incrustações morais. E por vezes é um processo doloroso, porque não há caminho para a santidade sem alguma renúncia e sem combate espiritual. Lutar pelo bem, lutar para não cair em tentação, fazer  o que podemos, para chegar a viver na paz e na alegria das Bem-aventuranças. O Evangelho de hoje põe em questão a forma de viver a vida cristã, que não é feita de sonhos e belas aspirações, mas de compromissos concretos, a fim de nos abrirmos cada vez mais à vontade de Deus e ao amor pelos irmãos. Mas isto, mesmo o menor compromisso concreto, não pode ser feito sem a graça. A conversão é uma graça que devemos pedir sempre: “Senhor, concedei-me a graça de melhorar. Dai-me a graça de ser um bom cristão”.
Maria Santíssima nos ajude a ser dóceis à ação do Espírito Santo. Ele  desfaz a dureza dos corações e os predispõe ao arrependimento, para obter a vida e a salvação prometidas por Jesus.

Parábola dos dois filhos (Andrei Mironov)

Fonte: Santa Sé

Fotos da Missa do Papa com a Gendarmeria Vaticana

Na tarde do último sábado, 26 de setembro, o Papa Francisco celebrou a Santa Missa do XXVI Domingo do Tempo Comum no altar da Cátedra da Basílica de São Pedro para os membros da Gendarmeria, o corpo de polícia do Vaticano.

A celebração ocorre próximo à Festa de São Miguel, Arcanjo, padroeiro da Gendarmeria, cuja imagem foi colocada junto ao altar.

Procissão de entrada
Leituras
Evangelho
Homilia

Homilia do Papa: XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano A

Santa Missa para o Corpo da Gendarmeria
Homilia do Santo Padre Francisco
Basílica Vaticana, Altar da Cátedra
Sábado, 26 de setembro de 2020

As leituras deste domingo nos falam da conversão. A conversão do coração; conversão que quer dizer “mudar de vida”, isto é, que o coração que não vai por um bom caminho encontre um bom caminho.
Mas não apenas a nossa conversão: é também a conversão de Deus. «Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou - ouvimos na 1ª leitura - e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida. Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá» (Ez 18,27-28). O ímpio se converte. Digamos mais facilmente: o pecador se converte e Deus também se converte por si mesmo ao pecador. O encontro com Deus, a conversão, é de ambas as partes; ambas buscam encontrar-se. O perdão não é apenas ir ali, bater à porta e dizer: “Perdoa-me”, e pelo interfone te respondem: “Te perdoo. Vá embora”. O perdão é sempre um abraço de Deus. Mas Deus caminha, como nós caminhamos, para encontrar-nos.
Este é o perdão de Deus, o modo de converter-se. “Mas eu, como irei a Deus? Sou pecador!”. É o que Deus quer: que você vá, que você vá a Ele. O que fez o pai do filho pródigo? - aquele que saiu com o dinheiro e gastou a fortuna nos vícios -, o que fez o pai? Quando viu o filho vindo - porque o filho havia sentido que devia retornar ao pai; devia retornar por necessidade, mas ainda assim o filho deu o passo -, o pai, que estava no terraço, desceu imediatamente e foi ao encontro do filho. Não esperou na porta com o dedo apontado, o abraçou! E quando o filho falava, pedindo perdão, o abraço tapou sua boca. Esta é a conversão. Este é o amor de Deus. É um caminho de encontro mútuo.
E sobre isso eu gostaria de enfatizar: um coração que sempre é aberto ao encontro com Deus - e isto é a conversão, ser aberto ao encontro com Deus -, qual é o modelo? O modelo é aquele do Evangelho, do rico, do pobre, o modelo é Jesus Cristo. Ele saiu ao nosso encontro. Ouvimos na 2ª leitura: «Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. Ele, existindo em condição divina - Jesus era Deus - não fez do ser igual a Deus uma usurpação - isto é, permanecer lá -, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens (...) humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz» (Fl 2,5-8).
A estrada da conversão é aproximar-se, é a proximidade, mas uma proximidade que é serviço. E esta palavra faz com que eu me dirija a vós, caros irmãos gendarmes. Sempre que vocês se aproximarem para servir, imitai Jesus Cristo. Sempre que vocês derem um passo para colocar ordem, pensai que estais fazendo um serviço, estais realizando uma conversão que é serviço. E da maneira como farão, farão bem aos outros. E por isto, eu quero agradecer. O vosso serviço é uma conversão vossa - como aquela de Jesus Cristo -, deixar a comodidade, deixar... “Vou a servir”; e a outra conversão, aquela do outro, que não se sente punido no primeiro momento, mas escutado, corrigido, com a humildade de Jesus. Assim Jesus vos pede ser como Ele: fortes, disciplinados, mas humildes e servidores.
Uma vez ouvi um ancião que, falando do filho que gritava com os filhos, dizia: “Meu filho não entendeu que, sempre que grita com os filhos, perde autoridade”. A vossa autoridade é no serviço: colocar os limites, fazer com que as coisas se cumpram, mas no serviço, na caridade, na amabilidade. E esta é uma grande vocação vossa. Para mim seria uma grande tristeza se alguém me dissesse: “Não, o vosso Corpo da Gendarmeria..., são funcionários que cumprem o seu horário e depois não se interessam...”. Não, não. Esta não é a estrada para converter-se e para converter os outros. A vossa estrada é aquela do serviço, como o pai que vai ao encontro do filho, como o irmão que vê uma coisa e diz: “Não, isto não de pode fazer, isto não está bem”. A estrada é essa, mas dito com o coração, dito com humildade, dito com proximidade.
Diz a Bíblia, no Evangelho, que Jesus estava sempre com os pecadores, com os malfeitores até, mas não se sentiam próximos a Jesus, não se sentiam julgados. Mas Jesus nunca lhes mentiu. Não: “A verdade é esta, a estrada é esta”. Mas o dizia com amabilidade, o dizia com o coração, o dizia como irmão.
Obrigado pelo vosso serviço. Obrigado, porque vejo que o vosso serviço vai por essa estrada. Às vezes alguém pode escorregar um pouco, mas quem não escorrega na vida? Todos! Mas nos levantamos: “Não fiz bem, mas agora...”. Retomar sempre esse caminho para a conversão das pessoas e também para a própria conversão. No serviço não se erra, porque o serviço é amor, é caridade, é proximidade. O serviço é a estrada que escolheu Deus em Jesus Cristo para perdoar-nos, para converter-nos.
Obrigado pelo vosso serviço, e andai avante, sempre com essa proximidade humilde mas forte que nos ensinou Jesus Cristo. Obrigado.


Tradução nossa do original italiano divulgado pela Santa Sé.

domingo, 27 de setembro de 2020

Ordenações Diaconais em Milão

O Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, celebrou no último sábado, dia 26 de setembro,  a Santa Missa na Catedral de Santa Maria Nascente, o Duomo de Milão, para a Ordenação Diaconal de 17 seminaristas da Arquidiocese.

Candidatos durante os ritos iniciais
Oração do dia
Homilia
Promessa de obediência
Imposição das mãos

sábado, 26 de setembro de 2020

Homilia: XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano A

São Clemente de Alexandria
Livro sobre a salvação dos ricos
A verdadeira penitência consiste em não recair nas mesmas faltas

Aquele que de todo o coração se converte para Deus tem as portas abertas, e o Pai recebe com os braços abertos ao filho realmente arrependido. Entretanto, a verdadeira penitência consiste em não recair nas mesmas faltas, erradicando os pecados pelos quais reconhece ser réu de morte. Estando estes eliminados, Deus voltará a morar novamente em ti. Cristo afirmou que, no céu, quando um pecador se converte e faz penitência, o Pai e os anjos experimentam um enorme e incomparável júbilo e uma alegria festiva. Por isso também exclama: Quero misericórdia e não sacrifícios. Não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta. Ainda que vossos pecados sejam como a púrpura, ficarão brancos como a neve; mesmo que sejam vermelhos como escarlate, ficarão como a lã.
Na verdade, só Deus pode perdoar os pecados e não imputar os delitos; o que não impede que também a nós nos tenha ordenado perdoar cada dia aos irmãos arrependidos. E se nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas, quanto mais o Pai de misericórdia, aquele bom Pai de todo consolo, que transborda de entranhas de misericórdia e é rico em clemência, propenso a usar de uma infinita paciência e que aguarda àqueles que se convertem. Converter-se sinceramente significa acabar com o pecado e não voltar mais a vista ao que fica para trás.
Deste modo, Deus concede o perdão das culpas passadas; o não reincidir no futuro fica sob a responsabilidade de cada um. E arrepender-se supõe lamentar-se das faltas cometidas, e pedir com insistência ao Pai que as lance definitivamente no esquecimento, Ele que é o único capaz de, em sua misericórdia, dar por não feito o feito, e abolir com a suavidade do Espírito os delitos da vida passada.
Queres tu, ladrão, que seja perdoado teu delito? Deixa de roubar! Devolve, e com juros, o que roubaste. Tu que és uma testemunha falsa, aprende a ser veraz; tu que és um perjuro, abstém-te do juramento e rompe com os outros afetos viciosos. Talvez seja impossível romper de forma imediata e ao mesmo tempo com os afetos inveterados; mas a coisa será viável se contamos com a graça de Deus, as orações dos amigos e a ajuda fraterna, unido tudo isso a uma verdadeira penitência e a uma assídua meditação.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 223-224. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo clicando aqui.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Jubileu dos Santuários no ano 2000

No dia 24 de setembro do ano 2000 o Papa João Paulo II celebrou a Santa Missa do XXV Domingo do Tempo Comum (ano B) na Praça de São Pedro por ocasião da conclusão do Congresso Mariano Internacional e Jubileu dos Santuários no contexto do Ano Santo.

Conclusão do Congresso Mariológico-Mariano Internacional
Jubileu dos Santuários
Homilia do Papa João Paulo II
24 de setembro de 2000

Caríssimos irmãos e irmãs,
1. “Pegou numa criança e colocou-a no meio” (Mc 9,36). Este singular gesto de Jesus, recordado pelo Evangelho que há pouco se proclamou, vem imediatamente depois da admoestação com que o Mestre exortara os discípulos a desejarem não o primado do poder, mas a primazia do serviço. Foi um ensinamento que decerto sensibilizou profundamente os Doze, os quais acabavam de “discutir sobre qual deles era o maior” (Mc 9,34). Dir-se-ia que o Mestre sentiu a necessidade de explicar um ensinamento tão comprometedor, com a eloquência de um gesto rico de ternura. A uma criança, que em conformidade com os parâmetros dessa época não contava nada, Ele deu o seu abraço e quase se identificou com ela: “Quem receber em meu nome uma destas crianças, é a mim que recebe” (Mc 9,37).
Nesta Eucaristia, que conclui o XX Congresso Mariológico-Mariano Internacional e o Jubileu Mundial dos Santuários Marianos, apraz-me assumir como perspectiva de reflexão precisamente este singular ícone evangélico. Nele emerge, mais do que um ensinamento moral, uma indicação cristológica e, de maneira indireta, uma indicação mariana.

Missa do Papa no Santuário de Fátima (Portugal)

No abraço à criança, Cristo revela em primeiro lugar a delicadeza do seu coração, capaz de todas as vibrações da sensibilidade e do afeto. Antes de tudo, há a ternura do Pai que, desde a eternidade, no Espírito Santo, a ama e no seu rosto humano vê o “Filho predileto” em quem encontra agrado (cfMc 1,11; 9,7). Depois, há a ternura totalmente feminina e materna, com a qual Maria O circundou nos longos anos transcorridos na sua casa de Nazaré. Sobretudo na Idade Média, a tradição cristã deteve-se com frequência para contemplar a Virgem que abraça o Menino Jesus. Aelredo de Rievaulx, por exemplo, dirige-se com afeto a Maria, convidando-a a abraçar o Filho que ela, depois de três dias, reencontrou no templo (cfLc 2,40-50): “Aperta, dulcíssima Senhora, aperta Aquele que tu amas, lança-te ao seu pescoço, abraça-O, beija-O e compensa os três dias da sua ausência com múltiplas delícias” (De Iesu puero duodenni 8: SCh 60, p. 64).

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

As Quatro Têmporas: uma Liturgia “ecológica”

Ó Senhor, vós marcastes para a terra o lugar de seus limites, vós formastes o verão, vós criastes o inverno” (Sl 73,17).

Desde a eleição do Papa Francisco o tema do cuidado da criação tem estado em destaque. Na Encíclica Laudato si’, publicada em 2015, o Pontífice destaca o alcance “ecológico” (ou “cósmico”) da Liturgia, particularmente da Eucaristia (n. 236):

“A Eucaristia é, por si mesma, um ato de amor cósmico. ‘Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja da aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo’. A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo, saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração” [1].

No ciclo do Ano Litúrgico, existem quatro celebrações que tocam mais diretamente o mistério da natureza e que, embora não tenham sido abolidas pela reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, atualmente são pouco conhecidas: as Quatro Têmporas.

Do latim quattuor tempora (quatro tempos ou quatro estações), as Quatro Têmporas são celebrações do Rito Romano que marcam a passagem das quatro estações do ano: primavera, verão, outono e inverno.


A origem das Quatro Têmporas

O Liber pontificalis (séc. VI-VII) atribui sua origem mais remota ao Papa São Calisto I (217-222), que teria prescrito para a igreja de Roma três jejuns anuais “nos sábados do trigo, do vinho e do azeite, segundo a profecia” [2]. As três têmporas citadas eram:
- as do verão (no hemisfério norte), celebradas em junho, após a colheita do trigo;
- as do outono, em setembro, para a colheita das uvas;
- e as do inverno, em dezembro, para a semeadura.

São Calisto I, Papa (217-222)

Posteriormente foram inseridas as têmporas da primavera, em março. No tempo do Papa São Leão Magno (440-461) as quatro já são conhecidas, como ele afirma em uma de suas homilias para as têmporas, destacando a dimensão do jejum:

“Os jejuns, por inspiração do Espírito Santo, distribuem-se pelo ciclo do ano todo, de tal modo que a lei da abstinência atinge todas as estações. De fato, celebramos o jejum da Primavera na Quaresma, do Verão no Pentecostes, do Outono no sétimo mês, porém, o do Inverno neste décimo mês” [3].

O número quatro, além de completar o número das estações, evoca também uma fundamentação bíblica. Trata-se do texto de Zc 8,19, que menciona quatro jejuns ao longo do ano. Vale destacar, porém, que nesta perícope o jejum adquire não um caráter penitencial, mas festivo, dupla dimensão também presente nas têmporas cristãs.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Festa da Natividade de Maria em Moscou

No último dia 21 de setembro o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou, conforme o calendário juliano, a Divina Liturgia da Festa da Natividade de Maria na igreja de Santo Elias em Moscou.

Na noite da véspera, dia 20, o Patriarca presidiu a Vigília da Festa na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador.

Dia 20: Vigília

Ícone da festa
(Para conhecer o simbolismo desse ícone, clique aqui)

Incensação

Fiéis veneram o ícone

Dia 21: Divina Liturgia

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Ângelus do Papa: XXV Domingo do Tempo Comum - Ano A

 Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 20 de setembro de 2020

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
A página do Evangelho de hoje (cfMt 20,1-16) narra a parábola dos trabalhadores contratados ao dia pelo dono da vinha. Através desta narração, Jesus mostra-nos a surpreendente maneira de agir de Deus, representada por duas atitudes do proprietário: a chamada e a recompensa.
Primeiro a chamada. Cinco vezes o proprietário de uma vinha vai à praça e chama para trabalhar para ele: às seis, nove, doze, três e cinco da tarde. É comovedora a imagem deste proprietário que vai várias  vezes à praça à procura de trabalhadores para a sua vinha. Esse proprietário representa Deus que chama todos e chama sempre, a toda a hora. Deus também age desta forma hoje: Ele continua a chamar todos, a qualquer hora, e convida a trabalhar no Seu Reino. Este é o estilo de Deus, que por nossa vez somos chamados a aceitar e imitar. Ele não está fechado no seu mundo, mas “sai”: Deus está sempre em saída, à nossa procura; Ele não está fechado: Deus sai. Ele sai continuamente à nossa procura, porque não quer que ninguém seja excluído do seu desígnio de amor.
Também as nossas comunidades são chamadas a sair dos vários tipos de “fronteiras” que possam existir, para oferecer a todos a palavra de salvação que Jesus veio trazer. É uma questão de abertura a horizontes de vida que ofereçam esperança àqueles que estão estacionados nas periferias existenciais e ainda não experimentaram, ou perderam, a força e a luz do encontro com Cristo. A Igreja deve ser como Deus: sempre em saída; e quando a Igreja não está em saída, adoece com os tantos males que temos na Igreja. E por que há estas doenças na Igreja? Porque não está em saída. É verdade que quando saímos há o perigo de um acidente. Mas é melhor uma Igreja acidentada, por sair, por anunciar o Evangelho, do que uma Igreja que está doente por fechamento. Deus sai sempre, porque é Pai, porque ama. A Igreja deve fazer o mesmo: sempre em saída.
A segunda atitude do proprietário, que representa a de Deus, é a sua forma de recompensar os trabalhadores. Como paga Deus? O proprietário concorda «um denário» (v. 2) com os primeiros trabalhadores contratados pela manhã. Àqueles que começaram mais tarde, ele diz: «tereis o salário que for justo» (v. 4). No final do dia, o dono da vinha manda dar a todos o mesmo pagamento, ou seja, um denário. Aqueles que trabalharam desde a manhã ficam indignados e lamentam-se contra o proprietário, mas ele insiste: quer dar a máxima recompensa a todos, mesmo aos que chegaram por último (vv. 8-15). Deus paga sempre o máximo: não paga só metade. Paga tudo. E aqui se compreende que Jesus não fala do trabalho nem do salário justo, que é outro problema, mas do Reino de Deus e da bondade do Pai celeste que continuamente sai para convidar e paga o máximo a todos.
De fato, Deus comporta-se desta forma: não olha para o tempo nem para os resultados, mas para a disponibilidade, olha para a generosidade com a qual nos colocamos ao Seu serviço. A sua ação é mais do que justa, no sentido de que vai além da justiça e manifesta-se na Graça. Tudo é Graça. A nossa salvação é Graça. A nossa santidade é Graça. Ao conceder-nos a Graça, Ele  dá-nos mais  do que  merecemos.  E assim, quem  raciocina com lógica humana, isto é, a de mérito adquirido com a própria habilidade, de primeiro torna-se último. “Mas, trabalhei tanto, fiz tanto na Igreja, ajudei tanto, e sou pago da mesma forma que este que veio por último”. Recordemos quem foi o primeiro santo canonizado na  Igreja: o Bom  Ladrão. Ele “roubou” o Céu no último momento da sua vida: isto é Graça, assim é Deus. Também com todos nós. Por outro lado, aqueles que procuram pensar nos próprios méritos falham; aqueles que humildemente se confiam à misericórdia do Pai, de últimos, - como o Bom Ladrão - acabam por ser os primeiros (cf. v. 16).
Que Maria Santíssima nos ajude a sentir todos os dias a alegria e a admiração de sermos chamados por Deus a trabalhar para Ele, no Seu campo que é o mundo, na Sua vinha que é a Igreja. E ter como nossa única recompensa o seu amor, a amizade  com  Jesus.


Fonte: Santa Sé