quarta-feira, 30 de junho de 2021

Solenidade de São Pedro e São Paulo em Manila

Enquanto em Jerusalém há o costume de conferir as Ordenações Presbiterais na Solenidade de São Pedro e São Paulo, na Arquidiocese de Manila (Filipinas) há outro costume associado a esse dia: a Missa presidida pelo Núncio Apostólico na intenção do Papa.

Assim, Dom Charles John Brown, atual Núncio Apostólico nas Filipinas, presidiu a Santa Missa no último dia 29 de junho na Catedral Metropolitana da Imaculada Conceição.

O Cardeal Jose Fuerte Advincula, que tomou posse como novo Arcebispo de Manila no dia 24 de junho, assistiu a Missa revestido com suas vestes corais [1]. No mesmo dia 29 o Papa Francisco abençoou em Roma o pálio, que deverá ser-lhe imposto brevemente pelo Núncio Apóstólico.

Note-se que a Catedral de Manila possui uma réplica da imagem de São Pedro venerada na Basílica Vaticana, ornada para a ocasião com as insígnias pontifícias. As imagens de São Pedro e São Paulo sobre o altar também remontam a um costume do Vaticano [2].

Imagem de São Pedro com as insígnias pontifícias
Imagem de São Pedro
Imagem de São Paulo

Incensação da imagem de São Pedro
Procissão de entrada

Ordenações Presbiterais em Jerusalém

Em Jerusalém, a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos, no dia 29 de junho, costuma ser dedicada às Ordenações Presbiterais dos franciscanos da Custódia da Terra Santa.

Neste ano de 2021, com efeito, o Patriarca Latino de Jerusalém, Dom Pierbattista Pizzaballa, celebrou a Santa Missa da Solenidade na igreja do Santíssimo Salvador, sede da Custódia da Terra Santa, durante a qual conferiu a Ordenação Presbiteral a cinco diáconos:

Procissão de entrada
Incensação do altar
Leituras
Evangelho
Homilia

Ângelus do Papa: Solenidade de São Pedro e São Paulo 2021

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Papa Francisco
Ângelus
Terça-feira, 29 de junho de 2021

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
No centro do Evangelho da Liturgia de hoje (Mt 16,13-19) o Senhor dirige aos discípulos uma pergunta decisiva: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (v. 15). É a interrogação crucial que Jesus nos repete hoje: “Quem sou Eu para ti?”. Quem sou Eu para ti, que acolheste a fé mas ainda tens medo de te fazeres ao largo na minha Palavra? Quem sou Eu para ti, que és cristão há tanto tempo mas que, desgastado pelo hábito, perdeste o primeiro amor? Quem sou Eu para ti, que vives um momento difícil e tens necessidade de despertar para recomeçar? Jesus pergunta: Quem sou Eu para ti? Hoje demos-lhe uma resposta, mas uma resposta que brote do coração. Todos nós, demos-lhe uma resposta que brote do coração!

Antes desta pergunta, Jesus dirigiu aos discípulos outra: «Quem dizem as pessoas que Eu sou?» (cf. v. 13). Tratava-se de uma sondagem para descobrir quais eram as opiniões sobre Ele e a fama de que gozava, mas a notoriedade não interessa a Jesus, não era uma sondagem deste tipo. Então, por que fez Ele esta pergunta? Para frisar uma diferença, que é a diferença fundamental da vida cristã. Alguns se limitam à primeira pergunta, às opiniões, e falam de Jesus; e outros, ao contrário, falam com Jesus, entregando-lhe a vida, entrando em relação com Ele, fazendo a passagem decisiva. É isto que interessa ao Senhor: estar no centro dos nossos pensamentos, tornar-se o ponto de referência dos nossos afetos; ser, em síntese, o amor da nossa vida. Não as opiniões que temos sobre Ele: isto não lhe interessa. A Ele interessa-lhe o nosso amor, se está no nosso coração.

Os Santos que hoje celebramos fizeram esta passagem, tornando-se testemunhas. Passar da opinião a ter Jesus no coração: testemunhas. Não eram admiradores, mas imitadores de Jesus. Não eram espectadores, mas protagonistas do Evangelho. Não acreditavam em palavras, mas nos atos. Pedro não falou de missão, mas viveu a missão: era pescador de homens; Paulo não escreveu livros eruditos, mas cartas vivas, enquanto viajava e testemunhava. Ambos gastaram a vida pelo Senhor e pelos irmãos. E provocam-nos. Pois corremos o risco de permanecer na primeira questão: dar pareceres e opiniões, ter grandes ideias e dizer belas palavras, mas nunca nos colocarmos em jogo. E Jesus quer que nos coloquemos em jogo. Quantas vezes, por exemplo, dizemos que gostaríamos de uma Igreja mais fiel ao Evangelho, mais próxima do povo, mais profética e missionária, mas depois, na prática, nada fazemos! É triste ver que muitos falam, comentam e debatem, mas poucos testemunham. As testemunhas não se perdem em palavras, mas dão fruto. As testemunhas não se queixam dos outros e do mundo, mas começam por si próprias. Lembram-nos que Deus não deve ser demonstrado, mas mostrado com o próprio testemunho; não anunciado com proclamações, mas testemunhado com o exemplo. A isto se chama “pôr a vida em jogo”.

Contudo, olhando para a vida de Pedro e Paulo, pode surgir uma objeção: ambos foram testemunhas, mas nem sempre exemplares: foram pecadores! Pedro negou a Jesus e Paulo perseguiu os cristãos. Mas - eis a questão - eles testemunharam também as suas quedas. São Pedro, por exemplo, poderia ter dito aos Evangelistas: “Não escrevais os erros que eu cometi”, fazei um Evangelho for sport. Ao contrário, a sua história sai nua, sai crua dos Evangelhos, com todas as suas misérias. São Paulo faz o mesmo, e nas suas cartas narra erros e fraquezas. É por aqui que a testemunha começa: pela verdade sobre si própria, pela luta contra as próprias duplicidades e falsidades. O Senhor pode fazer grandes coisas através de nós, quando não nos preocupamos em cuidar de defender a nossa imagem, mas quando somos transparentes com Ele e com o próximo. Caros irmãos e irmãs, hoje o Senhor interpela-nos. E a sua pergunta é a mesma: Quem sou Eu para ti? Escava dentro de nós. Através das suas testemunhas, Pedro e Paulo, exorta-nos a abandonar as nossas máscaras, a renunciar às meias-medidas, às desculpas que nos tornam mornos e medíocres. Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos, nos ajude nisto. Acenda em nós o desejo de dar testemunho de Jesus!

Depois do Ângelus:
Prezados irmãos e irmãs!
Hoje, para nós, é um aniversário que toca o coração de todos: há 70 anos, o Papa Bento XVI foi ordenado sacerdote. A ti, Bento, amado pai e irmão, vão o nosso carinho, a nossa gratidão e a nossa proximidade. Ele vive no mosteiro, um lugar desejado para hospedar as comunidades contemplativas aqui no Vaticano, para que orassem pela Igreja. Atualmente, ele é o contemplativo do Vaticano, passa a sua vida em oração pela Igreja e pela diocese de Roma, da qual é bispo emérito. Obrigado, Bento, querido pai e irmão! Obrigado pelo teu testemunho credível. Obrigado pelo teu olhar continuamente voltado para o horizonte de Deus: obrigado!

Os Apóstolos Pedro e Paulo com o Cristo Ressuscitado
(Giovanni Battista Crespi)

Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 29 de junho de 2021

Fotos da Solenidade de São Pedro e São Paulo no Vaticano

No dia 29 de junho de 2021 o Papa Francisco celebrou a Santa Missa da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo no altar da Confissão da Basílica de São Pedro, durante a qual abençoou os pálios destinados aos Arcebispos Metropolitanos nomeados durante o último ano.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina. O livreto da celebração pode ser visto aqui, no qual se encontra a lista dos 34 novos Arcebispos, incluindo 04 brasileiros: Dom Severino Clasen (Maringá - PR), Dom Paulo Cezar Costa (Brasília - DF), Dom Gilberto Pastana de Oliveira (São Luís - MA) e Dom Leomar Antônio Brustolin (Santa Maria - RS). Destacamos também o Cardeal Jose Fuerte Advincula, que no último dia 24 tomou posse como novo Arcebispo de Manila (Filipinas).

A celebração contou também com a presença de uma delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, tradição que havia sido interrompida em 2020 devido à pandemia de Covid-19. A delegação foi presidida pelo Metropolita de Calcedônia, Emmanuel Adamakis, acompanhado do Metropolita Ortodoxo de Buenos Aires (Argentina), Iosif Bosch. Também esteve presente o Patriarca Greco-Ortodoxo de Antioquia, João X.

Procissão de entrada
Incensação do altar
Incensação do ícone da Virgem Maria [1]
Juramento de fidelidade dos Arcebispos
Bênção dos pálios

Homilia do Papa: Solenidade de São Pedro e São Paulo 2021

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Santa Missa e Bênção dos pálios para os novos Arcebispos Metropolitanos
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Terça-feira, 29 de junho de 2021

Dois grandes Apóstolos, Apóstolos do Evangelho, e duas colunas angulares da Igreja: Pedro e Paulo. Hoje celebramos a sua festa. Observemos de perto estas duas testemunhas da fé: no centro da sua história, não está a própria destreza; no centro, está o encontro com Cristo que lhes mudou a vida. Fizeram a experiência de um amor que os curou e libertou e, por isso, tornaram-se apóstolos e ministros de libertação para os outros.
Pedro e Paulo são livres unicamente porque foram libertados. Detenhamo-nos neste ponto central.


Pedro, o pescador da Galileia, foi libertado em primeiro lugar da sensação de ser inadequado e da amargura de ter falido, e isso se verificou graças ao amor incondicional de Jesus. Embora fosse um hábil pescador, várias vezes experimentou, em plena noite, o sabor amargo da derrota por não ter pescado nada (cfLc 5,5; Jo 21,5) e, perante as redes vazias, sentiu a tentação do desânimo; apesar de forte e impetuoso, muitas vezes se deixou tomar pelo medo (cfMt 14,30); embora fosse um discípulo apaixonado do Senhor, continuou a pensar à maneira do mundo, sem conseguir entender e aceitar o significado da Cruz de Cristo (cfMt 16,22); apesar de dizer-se pronto a dar a vida por Ele, bastou sentir-se suspeito de ser um dos Seus para se atemorizar, chegando a negar o Mestre (cfMc 14,66-72).

Sequência de São Pedro e São Paulo: Petre, summe Christi pastor

“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”
(Antífona de entrada da Solenidade de São Pedro e São Paulo, Missa do Dia).

Notker Balbulus (840-912), monge beneditino da Abadia de São Galo (Sankt Gallen), na atual Suíça, compilou em seu Liber Sequentiarum 38 sequências, composições poéticas a serem entoadas antes da aclamação do Evangelho na Missa, que se popularizaram no Rito Romano a partir dos séculos IX-X [1].

A 16ª sequência é indicada para a Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, no dia 29 de junho. Esta é intitulada “Petre, summe Christi pastor” (Pedro, pastor excelso de Cristo), às vezes referida com o início do 3º verso: “Ecclesiam vestris doctrinis illuminatam” (A Igreja, iluminada pela vossa doutrina).

Assim, após revisarmos e ampliarmos nossa postagem sobre a história da Solenidade de São Pedro e São Paulo, e fim de dar a conhecer cada vez mais a riqueza do patrimônio litúrgico e espiritual da Igreja, apresentamos a seguir essa sequência em seu original em latim e com uma tradução nossa bastante livre, destacando em seguida alguns aspectos do texto (como temos feito com os hinos da Liturgia das Horas).

Cabe ressaltar que este texto não deve ser usado na Missa, podendo ser recitado em um momento de devoção em honra dos Apóstolos ou em nossa oração pessoal.

São Pedro e São Paulo, Apóstolos
Note-se as coroas e as palmas, símbolos do martírio
(Igreja de São Miguel - St Albans, Inglaterra)

Petre, summe Christi pastor

Petre, summe Christi pastor, et Paule, gentium doctor,
Ecclesiam vestris doctrinis illuminatam per circulum terrae precatus adiuvet vester.

Nam Dominus, Petre, caelorum claves dono dedit.
Armigerum Benjamin, Christus te scit tuum vasque electum.

Mare planta te, Petre, Christus conculcare tuae dedit charitati;
Umbram tui corporis infirmis debilibusque fecit medicinam.

Doctiloquos philosophos te, Paule, Christus dat vincere sua voce;
Multiplices victorias tu, Paule, Christo per populos acquisisti.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Divina Liturgia nos 20 anos da visita de João Paulo II à Ucrânia

No último domingo, 27 de junho, o Arcebispo Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), presidiu a Divina Liturgia do Domingo de Todos os Santos (segundo o calendário juliano) diante da igreja da Natividade da Virgem Maria no distrito de Sykhiv em Lviv em ação de graças pelos 20 anos da visita de São João Paulo II à Ucrânia (23-27 de junho de 2001).

Há exatos 20 anos, diante dessa mesma igreja, o Papa realizou um encontro com os jovens ucranianos, sendo acolhido na ocasião pelo então Arcebispo-Maior, Cardeal Lubomy Husar, falecido em 2017.

Procissão de entrada


Estátua de São João Paulo II diante da igreja
Pequena Entrada (Procissão com o Livro dos Evangelhos)

Ângelus: XIII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 27 de junho de 2021

Observação: O Papa centrou sua reflexão no episódio da cura da hemorroíssa, proclamado apenas na "forma longa" do Evangelho deste domingo.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho de hoje (Mc 5,21-43) Jesus depara-se com as nossas duas situações mais dramáticas, a morte e a doença. Delas liberta duas pessoas: uma menina, que morre precisamente quando o pai foi pedir ajuda a Jesus; e uma mulher, que tinha fluxo de sangue há muitos anos. Jesus deixa-se tocar pela nossa dor e pela nossa morte, e faz dois sinais de cura para nos dizer que nem a dor nem a morte têm a última palavra. Diz-nos que a morte não é o fim. Ele derrota este inimigo, do qual não nos podemos libertar sozinhos.

Contudo, neste momento em que a doença ainda está no centro das notícias, concentremo-nos no outro sinal, a cura da mulher. Mais do que a sua saúde, eram os seus afetos que estavam comprometidos. Por quê? Tinha fluxo de sangue e por isso, segundo a mentalidade daquela época, era considerada impura. Era uma mulher marginalizada, não podia ter relações estáveis, não podia ter um marido, não podia ter uma família e não podia ter relacionamentos sociais normais, pois era “impura”, sofria de uma doença que a tornava “impura”. Vivia sozinha, com o coração ferido. Qual é a maior doença da vida? O câncer? A tuberculose? A pandemia? Não! A maior doença da vida é a falta de amor, é não conseguir amar. Aquela pobre mulher estava doente, sim, tinha fluxo de sangue, mas, por conseguinte, sofria de carência de amor, pois não podia estar socialmente com os outros. E a cura mais importante é a dos afetos. Mas como encontrá-la? Podemos pensar nos nossos afetos: estão doentes ou são saudáveis? Estão doentes? Jesus é capaz de curá-los!

A história desta mulher sem nome - chamemos-lhe assim, “a mulher sem nome” - na qual todos nos podemos ver, é exemplar. O texto diz que ela tinha feito muitos tratamentos, «gastando tudo o que possuía, sem achar alívio algum; pelo contrário, piorava cada vez mais» (v. 26). Também nós, quantas vezes procuramos remédios errados para saciar a nossa carência de amor? Pensamos que é o sucesso e o dinheiro que nos fazem felizes, mas o amor não se compra, é gratuito. Refugiamo-nos no virtual, mas o amor é concreto. Não nos aceitamos como somos e escondemo-nos por detrás dos truques da exterioridade, mas o amor não é aparência. Procuramos soluções de magos, curandeiros, para depois nos encontrarmos sem dinheiro e sem paz, como aquela mulher. No final ela escolhe Jesus e mistura-se com a multidão para tocar o manto, o manto de Jesus. Ou seja, aquela mulher procura o contato direto, o contato físico com Jesus. Especialmente nesta época, compreendemos como são importantes o contato, as relações. O mesmo é válido para Jesus: às vezes contentamo-nos com a observação de alguns preceitos e com a repetição de orações - muitas vezes como os papagaios - mas o Senhor espera que o encontremos, que lhe abramos o coração, que toquemos o seu manto, como a mulher, para sermos curados. Pois, entrando em intimidade com Jesus, somos curados nos nossos afetos.

É isto que Jesus quer. Com efeito, lemos que, apesar de ser comprimido pela multidão, olhou ao seu redor para procurar quem o tinha tocado. Os discípulos disseram: “Mas olha para a multidão que te comprime...”. Não: “Quem me tocou?”. É o olhar de Jesus: há muitas pessoas, mas Ele vai em busca de um rosto e de um coração cheio de fé. Jesus não olha para o conjunto, como nós, mas olha para a pessoa. Não se detém diante das feridas e dos erros do passado, mas vai além dos pecados e dos preconceitos. Todos nós temos uma história, e cada um de nós, secretamente, conhece bem as coisas más da própria história. Mas Jesus olha para elas a fim de curá-las. Ao contrário, gostamos de olhar para as coisas más dos outros. Quantas vezes, quando falamos, caímos em tagarelices, o que significa falar mal dos outros, “esfolar” os outros. Mas olha: que horizonte de vida é este? Não como Jesus, que olha sempre para o modo de nos salvar, olha para o hoje, para a boa vontade e não para a nossa má história. Jesus vai além dos pecados. Jesus vai além dos preconceitos, não se detém nas aparências, Jesus chega ao coração. E cura precisamente ela, que era rejeitada por todos, uma impura. Chama-lhe com ternura «filha» (v. 34) - o estilo de Jesus era a proximidade, a compaixão e a ternura: “Filha...” - e elogia a sua fé, restituindo-lhe a sua autoconfiança.

Irmã, irmão, estás aqui, deixa que Jesus olhe para ti e cure o teu coração. Também eu o devo fazer: deixar que Jesus olhe para o meu coração e que o cure. E se já experimentaste o seu olhar de ternura sobre ti, imita-o, e faz como Ele. Olha à tua volta: verás que muitas pessoas que vivem perto de ti se sentem feridas e sozinhas, precisam de se sentir amadas: dá o passo. Jesus pede-te que não olhes só para a exterioridade, mas que vás ao coração; um olhar que não julgue - deixemos de julgar os outros - Jesus pede-nos um olhar que não julgue, mas que acolha. Abramos o nosso coração para acolher os outros. Pois só o amor cura a vida, só o amor cura a vida! Que Nossa Senhora, Consoladora dos aflitos, nos ajude a levar uma carícia aos feridos no coração que encontramos no nosso caminho. E não julguemos, não julguemos a realidade pessoal, social, dos outros. Deus ama a todos! Não julgueis, deixai que os outros vivam e procurai aproximar-vos deles com amor.

Cura da hemorroíssa - Catacumbas de Marcelino e Pedro
(Roma, século IV)

Fonte: Santa Sé.

Primeiras celebrações do Cardeal Advincula como Arcebispo de Manila

Após tomar posse como novo Arcebispo de Manila (Filipinas) na quinta-feira, 24 de junho, o Cardeal Jose Fuerte Advincula presidiu duas celebrações solenes nos dias seguintes, igualmente na Catedral Metropolitana da Imaculada Conceição.

Uma vez que a Missa de posse contou com ampla participação do clero, o novo Arcebispo celebrou a Santa Missa no dia 25 de junho com os leigos e as Vésperas na tarde do dia 26 com os religiosos:

Dia 25 de junho: Santa Missa com os leigos

Pelo uso de paramentos com detalhes azuis é razoável supor que foi celebrada uma Missa votiva da Virgem Maria, titular da Catedral:


Imagem da Imaculada Conceição
Paramentos preparados na sacristia
Procissão de entrada
Incensação

sábado, 26 de junho de 2021

Homilia: XIII Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Pedro Crisólogo
Sermão 34
Realmente, para Deus a morte é um sono

Todas as perícopes evangélicas, caríssimos irmãos, nos oferecem os grandes bens da vida presente e da futura. Porém, a leitura de hoje é um compêndio perfeito de esperança e a exclusão de qualquer motivo de desesperação.

Porém, falemos do chefe da sinagoga, que, enquanto conduz Cristo à cabeceira de sua filha, deixa o caminho desimpedido para que a mulher se aproxime dele. A leitura evangélica de hoje começa assim: Aproximou-se um chefe da sinagoga, e ao vê-lo se lançou aos seus pés, rogando-lhe com insistência: Senhor, minha filha está morrendo. Vem, coloca as mãos sobre ela, para que seja curada e viva. Conhecedor do futuro como era, a Cristo não estava oculto que haveria o encontro com a sobredita mulher: dela o chefe dos judeus haveria de aprender que a Deus não há necessidade de mudá-lo de lugar, nem levá-lo pelo caminho, nem exigir-lhe uma presença corporal, mas crer que Deus está presente em todos os lugares, integralmente e sempre; que pode fazê-lo somente com uma ordem, sem esforço; infundir ânimo, não deprimi-lo; afugentar a morte não com a mão, mas com o seu poder; prolongar a vida não com a arte, mas com o mandato.

Minha filha está morrendo. Vem! Que é como se dissesse: Ainda conserva o calor da vida, ainda se percebem sintomas de animação, ainda respira, ainda o senhor da casa tem uma filha, ainda não desceu à região dos mortos; portanto, apressa-te, não deixes que a sua alma se vá. Em sua ignorância, acreditava que Cristo somente podia ressuscitar a morta se a tomasse pela mão. Esta é a razão pela qual Cristo, quando, ao chegar à casa, viu que choravam pela menina como perdida, para mover à fé os pensamentos infiéis, disse que a menina não estava morta, mas adormecida, para infundir-lhes esperança, pensando que era mais fácil despertar do sono que da morte. A menina, disse, não está morta, mas dorme.

E, realmente, para Deus a morte é um sono, pois Deus devolve mais rapidamente à vida um homem que desperta do sono da morte do que a um adormecido; e Deus demora menos em infundir o calor vivificante a alguns membros frios com o frio da morte do que pode tardar um homem em infundir vigor aos corpos sepultados no sono. Escuta ao Apóstolo: Em um instante, num abrir e fechar de olhos, os mortos despertarão. O bem-aventurado Apóstolo, ao não usar palavras capazes de expressar a velocidade da ressurreição, recorreu aos exemplos. Porque como poderia imprimir agilidade ao discurso ali onde a potência divina se adianta inclusive a essa própria agilidade? Ou em que sentido poderia expressar-se em categorias de tempo, ali onde nos é concedido uma realidade eterna, não submetida ao tempo? Assim como o tempo deu lugar para a temporalidade, assim a eternidade excluiu o tempo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 417-419. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Posse do Cardeal Advincula como Arcebispo de Manila

Após receber as insígnias cardinalícias no último dia 18 de junho, o Cardeal Jose Fuerte Advincula tomou posse como novo Arcebispo de Manila (Filipinas) no dia 24 de junho de 2021, Solenidade da Natividade de São Joao Batista, durante a Santa Missa na Catedral Metropolitana da Imaculada Conceição.

A Arquidiocese encontrava-se vacante desde o dia 08 de dezembro de 2019, quando o Cardeal Luis Antonio Tagle foi nomeado Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Nesse período o Bispo Auxiliar, Dom Broderick Pabillo, atuou como Administrador Apostólico.

O brasão do novo Arcebispo na cátedra
Chegada do Cardeal Advincula
Oração diante da imagem de Nossa Senhora na porta da Catedral
Os paramentos e insígnias preparados na sacristia
Procissão de entrada

Natividade de São João Batista na Terra Santa

A Solenidade da Natividade de São João Batista, no dia 24 de junho, foi vivida pela Custódia Franciscana da Terra Santa com duas celebrações nos dois santuários em honra do Precursor na localidade de Ain Karen:

O Vice-Custódio da Terra Santa, Padre Dobromir Jasztal, celebrou na tarde do dia 23 as I Vésperas da Solenidade no Santuário de São João Batista no Deserto e no dia 24 a Santa Missa no Santuário de São João Batista na Montanha, durante a qual dois religiosos receberam o Ministério de Leitores.

Para saber mais sobre essas duas igrejas, clique aqui.

Dia 23 de junho: I Vésperas
Santuário de São João Batista no Deserto

Oração das Vésperas: Homilia
Procissão até a gruta de São João
Incensação do altar da gruta

Evangelho

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Sequência da Natividade de João Batista: Sancti Baptistae, Christi praeconis

A partir dos séculos IX e X popularizaram-se no Rito Romano as “sequências”, composições poéticas a serem entoadas antes da aclamação do Evangelho (o Aleluia) na Missa.

Embora a reforma do Concílio de Trento (1545-1563) as tenha reduzido drasticamente [1], apenas a Notker Balbulus, isto é, Notker, o Gago (840-912), monge beneditino da Abadia de São Galo (Sankt Gallen), na atual Suíça, são atribuídas 50 sequências.

Seu Liber Sequentiarum recolhe na verdade 38 composições. Notker, porém, não foi necessariamente o autor de todas, tendo mais provavelmente compilado textos anteriores [2].

A 15ª dessas sequências é indicada como De Natale Sancti Joannis Baptistae, isto é, para a Natividade de São João Batista, celebrada no dia 24 de junho. A composição é intitulada com seu primeiro verso: “Sancti Baptistae, Christi praeconis” - “Santo Batista, Precursor de Cristo”.

São João Batista com a inscrição "Eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1,29)
(Taddeo di Bartolo - Yale University Art Gallery)

A fim de dar a conhecer cada vez mais a riqueza do patrimônio litúrgico e espiritual da Igreja, apresentamos a seguir essa sequência em seu original em latim e com uma tradução nossa bastante livre, com algumas notas destacando alguns aspectos do texto.

Cabe ressaltar que este texto não deve ser usado na Missa, podendo ser recitado em um momento de devoção em honra de São João Batista ou em nossa oração pessoal:

Sequentia: Sancti Baptistae, Christi praeconis

Sancti Baptistae, Christi praeconis,
Sollemnia celebrantes moribus ipsum sequamur,
Ut ad viam, quam praedixit, asseclas suos perducat.

Devoti te, sanctissime hominum, amice Jesu Christi, flagitamus, ut gaudia percipiamus,
Apparens quae Zachariae Gabriel repromisit, qui tuam celebrarent obsequiis nativitatem,
Ut per haec festa aeterna gaudia adipiscamur
Qua sancti Dei sacris deliciis laeti congaudent.

Catequeses sobre os Salmos (22): Laudes do sábado da III semana

Concluindo suas Catequeses sobre os salmos e cânticos das Laudes da III semana do Saltério, o Papa João Paulo II refletiu sobre os textos do sábado dessa semana nos dias 15 de janeiro (Sl 118,145-152), 29 de janeiro (Sb 9,1-6.9-11) e 05 de fevereiro de 2003 (Sl 116).

63. Meditação sobre a Palavra de Deus na Lei: Sl 118(119),145-152
15 de janeiro de 2003

1. No nosso já longo itinerário à luz dos salmos que a Liturgia das Laudes nos propõe, chegamos a uma estrofe, precisamente a décima nona da maior oração do Saltério, o Salmo 118 (cf. Catequese n. 21). Trata-se de uma parte do grande cântico alfabético: através de um jogo estilístico, o salmista distribui a sua obra em vinte e duas estrofes, que correspondem à sequência das vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Cada estrofe tem oito versículos, sendo o seu início marcado por palavras hebraicas que começam todas com uma mesma letra do alfabeto. A que nós escutamos agora é uma estrofe cadenciada pela letra hebraica qôf, e representa o orante que apresenta a Deus a sua intensa vida de fé e de oração (vv. 145-152).

2. A invocação ao Senhor não conhece repouso porque é uma resposta contínua à proposta permanente da Palavra de Deus. Com efeito, por um lado, multiplicam-se os verbos da oração: Clamo, suplico, imploro: ouvi a minha voz. Por outro, é exaltada a Palavra do Senhor que propõe “os decretos, os ensinamentos, a palavra, as promessas, o juízo, a lei, os preceitos e os testemunhos de Deus. Conjuntamente, formam uma constelação que é como a “estrela polar” da fé e da confiança do salmista. Mas a oração revela-se como um diálogo, que se abre quando já é noite e o alvorecer ainda não despontou (v. 147) e continua durante todo o dia, sobretudo nas dificuldades da vida. De fato, o horizonte é por vezes sombrio e atormentado: “Meus opressores se aproximam com maldade; como estão longe, ó Senhor, de vossa lei!” (v. 150). Mas o orante tem uma certeza inabalável, a proximidade de Deus com a sua Palavra e com a sua graça: “Vós estais perto, ó Senhor, perto de mim” (v. 151). Deus não abandona o justo nas mãos dos perseguidores.

3. Neste ponto, tendo sido delineada a mensagem simples, mas incisiva, da estrofe do Salmo 118 - uma mensagem adequada para o início de um dia - remetemo-nos, para a nossa meditação, a um grande Padre da Igreja, Santo Ambrósio, que no seu Comentário ao Salmo 118 dedica 44 parágrafos para explicar precisamente a estrofe que ouvimos.
Retomando o convite espiritual para cantar o louvor divino desde as primeiras horas da manhã, ele detém-se sobretudo nos versículos 147-148: “Chego antes que a aurora e vos imploro... Os meus olhos antecipam as vigílias”. Nesta declaração do salmista, Ambrósio intui a ideia de uma oração constante, que abrange todos os tempos: “Quem implora ao Senhor, comporte-se como se não conhecesse a existência de qualquer tempo particular a ser dedicado às súplicas do Senhor, mas mantenha sempre aquela atitude de súplica. Tanto quando comemos, como quando bebemos, anunciamos Cristo, rezamos a Cristo, pensamos em Cristo, falamos de Cristo! Cristo esteja sempre no nosso coração e nos nossos lábios!” (Comentário ao Salmo 118/2: Saemo 10, p. 297).

"Chego antes que a aurora e vos imploro,
e espero confiante em vossa lei" (Sl 118,147)

Depois, ao narrar os versículos no momento específico da manhã e aludindo também à expressão do Livro da Sabedoria que prescreve que “se antecipe o sol para dar graças” a Deus (Sb 16,28), Ambrósio comenta: “De fato, seria grave se os raios do sol nascente te surpreendessem a preguiçar na cama em vistoso desaforo e se uma luz mais forte te ferisse os olhos sonolentos, ainda imersos no entorpecimento. Para nós, é uma acusação um espaço tão prolongado de tempo passado sem a mínima prática de piedade e sem a oferta de um sacrifício espiritual, numa noite ociosa” (ibid., op. cit., p. 303).

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Hinos da Natividade de São João Batista: O nimis felix

A Igreja de Rito Romano celebra no dia 24 de junho a Natividade de São João Batista. Na Liturgia das Horas dessa Solenidade entoamos o célebre hino Ut queant laxis, composição poética do século VIII, cuja autoria é atribuída ao beneditino Paulo, o Diácono, da Abadia de Montecassino (Itália).

Como vimos em nossas postagens anteriores, esse hino é dividido na Liturgia das Horas em três partes:
I e II Vésperas: Estrofes 1-4.12 (Ut queant laxis...);
Ofício das Leituras: Estrofes 5-8.12 (Antra desérti...);
Laudes: Estrofes 9-12 (O nimis felix...).

Após apresentarmos as primeiras duas partes, segue abaixo o texto original (em latim) e sua tradução oficial para o Brasil, além de alguns comentários, da terceira parte, a partir do verso O nimis felix (Logo ao nasceres não trazes mancha), indicado tanto para as Laudes do dia 24 de junho quanto do dia 29 de agosto, Memória do Martírio de São Joao Batista:

Laudes: O nimis felix

O nimis felix meritíque celsi,
nésciens labem nívei pudóris,
praepotens martyr eremíque cultor,
máxime vatum.

Nunc potens nostri méritis opímis
péctoris duros lápides repélle,
ásperum planans iter, et refléxos
dírige calles.

Ut pius mundi sator et redémptor,
méntibus pulsa mácula polítis,
rite dignétur véniens sacrátos
pónere gressus.

Láudibus cives célebrant supérni
te, Deus simplex paritérque trine;
súpplices ac nos véniam precámur:
parce redémptis. Amen [1].

São João Batista
(Gaspar de Crayer - Museu do Prado, Madrid)

Laudes: Logo ao nasceres não trazes mancha

Logo ao nasceres não trazes mancha,
João Batista, severo asceta,
Mártir potente, do ermo amigo,
grande profeta.

De trinta frutos uns se coroam;
a fronte de outros o dobro cinge.
Tua coroa, dando três voltas,
os cem atinge.

Catequese do Papa: Carta aos Gálatas 1

Após concluir suas Catequeses sobre a oração à luz do Catecismo da Igreja Católica, o Papa Francisco deu início a um novo ciclo, dedicado à Carta aos Gálatas (que será tema do "Mês da Bíblia" no Brasil neste ano de 2021).

Este será o segundo ciclo de Catequeses de Francisco dedicado a um livro da Sagrada Escritura, após o ciclo de 20 encontros sobre os Atos dos Apóstolos (29 de maio de 2019 a 16 de janeiro de 2020).

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 23 de junho de 2021
Carta aos Gálatas (1): Introdução

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Depois do longo itinerário dedicado à oração, hoje iniciamos um novo ciclo de catequeses.  Espero que com o itinerário da oração, tenhamos aprendido a rezar um pouco melhor, a orar um pouco mais. Hoje desejo refletir sobre alguns temas que o Apóstolo Paulo propõe na sua Carta aos Gálatas. É uma Carta muito importante, diria até decisiva, não só para conhecer melhor o Apóstolo, mas sobretudo para considerar alguns dos temas que ele aborda em profundidade, mostrando a beleza do Evangelho. Nesta Carta, Paulo faz muitas referências biográficas que nos permitem conhecer a sua conversão e a decisão de dedicar a vida ao serviço de Jesus Cristo. Também trata de algumas temáticas muito importantes para a fé, tais como a liberdade, a graça e o modo de vida cristão, que são extremamente relevantes pois tocam muitos aspectos da vida da Igreja de hoje. Esta é uma Carta muito atual. Parece ter sido escrita para os nossos tempos.
A primeira característica que emerge desta Carta é a grande obra de evangelização realizada pelo Apóstolo, que visitou as comunidades da Galácia pelo menos duas vezes durante as suas viagens missionárias. Paulo dirige-se aos cristãos daquele território. Não sabemos exatamente a que área geográfica se refere, nem podemos afirmar com certeza a data em que escreveu esta Carta. Sabemos que os gálatas eram uma antiga população celta que, através de muitas vicissitudes, se estabeleceu naquela extensa região da Anatólia que tinha a sua capital na cidade de Ancira, hoje Ankara, capital da Turquia. Paulo relata apenas que, por causa de uma doença, se viu obrigado a permanecer naquela região (cfGl 4,13). Ao contrário, São Lucas, nos Atos dos Apóstolos, encontra uma motivação mais espiritual. Diz que «atravessando em seguida a Frígia e a província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra de Deus na (província da) Ásia» (At 16,6). Os dois fatos não são contraditórios: pelo contrário, indicam que o caminho da evangelização nem sempre depende da nossa vontade e dos nossos projetos, mas requer a disponibilidade a deixar-nos plasmar e seguir outros caminhos que não estavam previstos. Entre vós está presente uma família que me saudou: contou-me que deve aprender o letão, e não sei quais outras línguas, pois vai como missionária para aquelas terras. O Espírito conduz também hoje muitos missionários que deixam a própria pátria e vão para outra terra em missão. O que verificamos, contudo, é que na sua incansável obra de evangelização o Apóstolo conseguiu fundar várias pequenas comunidades, espalhadas por toda a região da Galácia. Paulo, quando chegava a uma cidade, a uma região, não construía imediatamente uma grande catedral, não. Estabelecia as pequenas comunidades que são o fermento da nossa cultura cristã de hoje. Começava com as pequenas comunidades. E estas pequenas comunidades cresciam, cresciam e iam em frente. Também hoje este método pastoral é realizado em cada região missionária. Recebi uma carta na semana passada de um missionário da Papua-Nova Guiné; disse-me que está a pregar o Evangelho na selva, às pessoas que não sabem nem sequer quem foi Jesus Cristo. Que bonito! Dá-se início a pequenas comunidades. Também hoje o método é aquele evangelizador da primeira evangelização.
O que queremos notar é a preocupação pastoral de Paulo que é toda “fogo”. Ele, após a fundação destas Igrejas, tomou consciência de um grande perigo - o pastor é como o pai ou a mãe que imediatamente se dá conta dos perigos que os filhos correm - para o seu crescimento na fé. Crescem e chegam os perigos. Como dizia alguém: “Chegam os abutres a fazer estragos na comunidade”. De fato, alguns cristãos vindos do judaísmo tinham-se infiltrado nestas igrejas e astutamente começaram a semear teorias contrárias aos ensinamentos do Apóstolo, chegando ao ponto de difamá-lo.  Começam com a doutrina “esta sim, esta não”, e depois difamam o Apóstolo. É o caminho de sempre: tirar a autoridade ao Apóstolo. Como podemos ver, é uma prática antiga apresentar-se em certas ocasiões como os únicos possuidores da verdade - os puros - e procurar menosprezar o trabalho dos outros, até com a calúnia. Estes adversários de Paulo argumentaram que também os gentios tinham de se submeter à circuncisão e viver de acordo com as regras da lei mosaica. Voltam atrás, às observâncias de antes, o que tinha sido superado pelo Evangelho. Portanto, os gálatas teriam de renunciar à sua identidade cultural a fim de se submeterem às normas, prescrições e costumes típicos dos judeus. E não só. Esses opositores argumentaram que Paulo não era um verdadeiro Apóstolo e, por conseguinte, não tinha autoridade para pregar o Evangelho. Muitas vezes vemos isto. Pensemos em alguma comunidade cristã ou diocese: começam as histórias e depois acabam por desacreditar o pároco, o Bispo. É precisamente o caminho do maligno, das pessoas que dividem, que não sabem construir. E nesta Carta aos Gálatas vemos este procedimento.
Os gálatas encontravam-se numa situação de crise. O que deviam fazer? Ouvir e seguir o que Paulo lhes tinha pregado, ou ouvir os novos pregadores que o acusavam? É fácil imaginar o estado de incerteza que animava os seus corações. Para eles, que conheceram Jesus e acreditaram na obra de salvação realizada através da sua Morte e Ressurreição, foi verdadeiramente o início de uma nova vida, uma vida de liberdade.  Tinham enveredado por um caminho que lhes permitia finalmente ser livres, não obstante a sua história estivesse imbuída de muitas formas de escravidão violenta, nomeadamente a que os sujeitou ao Imperador de Roma. Portanto, perante as críticas dos novos pregadores, sentiam-se desorientados e incertos sobre como se comportar: “Mas quem tem razão? Este Paulo, ou aquelas pessoas que agora estão a ensinar outras coisas? A quem devo ouvir?”. Em suma, os riscos eram realmente elevados!
Esta condição não está longe da experiência que muitos cristãos vivem na nossa época. Com efeito, ainda hoje, não faltam pregadores que, especialmente através dos novos meios de comunicação, podem perturbar as comunidades. Apresentam-se não para anunciar o Evangelho de Deus que ama o homem em Jesus Crucificado e Ressuscitado, mas para reiterar com insistência, como verdadeiros “guardiães da verdade” - assim se consideram - qual é a melhor maneira de ser cristão. Afirmam energicamente que o verdadeiro cristianismo é aquele ao qual estão ligados, frequentemente identificado com certas formas do passado, e que a solução para as crises de hoje é voltar atrás para não perder a genuinidade da fé. Também hoje, como outrora, existe a tentação de se fechar em algumas certezas adquiridas em tradições passadas. Mas como podemos reconhecer esta gente? Por exemplo, uma das características do modo de proceder é a rigidez. Face à pregação do Evangelho que nos torna livres, jubilosos, eles são rígidos. Sempre a rigidez: deve-se fazer isto, deve-se fazer aquilo... A rigidez é própria dessas pessoas. Seguir o ensino do Apóstolo Paulo na Carta aos Gálatas nos ajudará a compreender qual caminho seguir. O caminho que o Apóstolo indicou é aquele libertador e sempre novo de Jesus Crucificado e Ressuscitado; é o caminho do anúncio, que se realiza através da humildade e da fraternidade - os novos pregadores não sabem o que é humildade nem fraternidade; é o caminho da confiança mansa e obediente - os novos pregadores não conhecem a mansidão nem a obediência. E este caminho manso e obediente vai em frente, na certeza de que o Espírito Santo age em cada época da Igreja. Em última instância, a fé no Espírito Santo presente na Igreja, leva-nos em frente e nos salvará.


Fonte: Santa Sé

Confira as seguintes Catequeses do Papa Francisco sobre a Carta aos Gálatas:

2 - Paulo, verdadeiro Apóstolo (Gl 1,1-16)- 30 de junho
3 - O Evangelho é um só (Gl 1,6-8) - 04 de agosto
4 - A Lei de Moisés (Gl 3,19-22) - 11 de agosto
5 - O valor propedêutico da Lei (Gl 3,23-25) - 18 de agosto
6 - Os perigos da hipocrisia (Gl 2,11-14) - 25 de agosto
7 - "Gálatas insensatos" (Gl 3,1-3) - 01 de setembro
8 - Somos filhos de Deus (Gl 3,26-29) - 08 de setembro
9 - A vida na fé (Gl 2,19-20) - 29 de setembro
10 - Cristo nos libertou (Gl 4,4-5; 5,1:) - 06 de outubro
13 - O fruto do Espírito (Gl 5,22-24) - 27 de outubro
14 - Caminhar segundo o Espírito (Gl 5,16-17.25) - 03 de novembro
15 - Não nos deixemos tomar pelo cansaço (Gl 6,9-10.18) - 10 de novembro

Confira também nossas postagens sobre a leitura litúrgica da Carta aos Gálatas nas celebrações do Rito Romano:


terça-feira, 22 de junho de 2021

Hinos da Natividade de São João Batista: Antra desérti

Como indicamos em nossa postagem anterior, na Solenidade da Natividade de São João Batista, no dia 24 de junho, a Igreja de Rito Romano entoa o célebre hino Ut queant laxis.

Esta composição do século VIII, atribuída ao beneditino Paulo, o Diácono, da Abadia de Montecassino (Itália), é dividida na Liturgia das Horas em três partes:
I e II Vésperas: Estrofes 1-4.12 (Ut queant laxis...);
Ofício das Leituras: Estrofes 5-8.12 (Antra desérti...);
Laudes: Estrofes 9-12 (O nimis felix...).

Após apresentarmos na postagem anterior a primeira parte, com seu texto original (em latim) e sua tradução oficial para o Brasil, além de alguns comentários, segue abaixo a segunda parte, a partir do verso Antra desérti téneris (Dos tumultos humanos fugiste):

Ofício das Leituras: Antra desérti

Antra desérti téneris sub annis,
cívium turmas fúgiens, petísti,
ne levi saltem maculáre vitam
fámine posses.

Praebuit hirtum tégimen camélus
ártubus sacris, stróphium bidéntes,
cui latex haustum, sociáta pastum
mella locústis.

Céteri tantum cecinére vatum
corde praeságo iubar affutúrum;
tu quidem mundi scelus auferéntem
índice prodis.

Non fuit vasti spátium per orbis
sánctior quisquam génitus Ioánne,
qui nefas saecli méruit lavántem
tíngere lymphis.

Láudibus cives célebrant supérni
te, Deus simplex paritérque trine;
súpplices ac nos véniam precámur:
parce redémptis. Amen [1].

São João Batista
(Alvise Vivarini - Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid)

Ofício das Leituras: Dos tumultos humanos fugiste

Dos tumultos humanos fugiste,
no deserto te foste esconder,
para a vida guardar reservada
da ganância da pose e do ter.

O camelo te deu roupa austera,
das ovelhas com lã te cingiste;
e com leite, bebida modesta,
gafanhotos e mel te nutriste.

Pentecostes no calendário juliano: Jerusalém

Segundo o calendário juliano, utilizado pela maioria das Igrejas Orientais Católicas e Ortodoxas, a festa de Pentecostes teve lugar neste ano de 2021 no domingo, 20 de junho.

Após registrar as celebrações dessa festa na Igreja Greco-Católica Ucraniana e no Patriarcado de Constantinopla, publicamos aqui algumas imagens do Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém.

O Patriarca Theophilos III, com efeito, presidiu a Divina Liturgia na Basílica do Santo Sepulcro, diante da Edícula:

Início da Divina Liturgia

O Patriarca abençoa os fiéis diante da Edícula
Evangelho
Grande Entrada (Procissão com o pão e o vinho)