terça-feira, 31 de agosto de 2021

Missa pelos Bispos falecidos em Milão

No dia 30 de agosto a Arquidiocese de Milão (Itália) celebra a memória do Beato Cardeal Alfredo Ildefonso Schuster (†1954), Arcebispo da igreja ambrosiana de 1929 a 1954, beatificado em 1996 pelo Papa João Paulo II, autor do célebre Liber Sacramentorum, obra que sempre utilizamos como referência em nossas postagens sobre a História da Liturgia.

Assim, o atual Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, celebrou a Santa Missa da Memória do Beato Cardeal Schuster na Catedral de Santa Maria Nascente, o Duomo de Milão, na segunda-feira, 30 de agosto de 2021.

Na ocasião fez-se memória dos outros Arcebispos milaneses falecidos recentemente: os Cardeais Giovanni Colombo (1992), Carlo Maria Martini  (2012) e Dionigi Tettamanzi (2017).

Procissão de entrada

Evangelho
Homilia
Aspersão do túmulo do Cardeal Martini

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Ângelus: XXII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 29 de agosto de 2021

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje mostra alguns escribas e fariseus surpreendidos com a atitude de Jesus. Ficam escandalizados porque os seus discípulos comem sem executarem as abluções rituais tradicionais. Pensam consigo mesmos: “Este modo de fazer é contrário à prática religiosa” (Mc 7,2-5).

Também nós poderíamos perguntar: por que Jesus e os seus discípulos negligenciam estas tradições? Afinal de contas, não são más, são bons hábitos rituais, simples lavagens antes de comer. Por que Jesus não presta atenção a isso? Porque para ele é importante reconduzir a fé ao seu centro. No Evangelho vemos isto continuamente: este reconduzir a fé ao centro. E evitar um risco, que se aplica tanto àqueles escribas como a nós: observar formalidades externas, colocando o coração da fé em segundo plano. Com demasiada frequência, também nós “maquiamos” a alma. A formalidade externa e não o coração da fé: isto é um risco. É o risco de uma religiosidade da aparência: parecer bons por fora, negligenciando a purificação do coração. Há sempre a tentação de “agradar a Deus” com alguma devoção externa, mas Jesus não se contenta com este culto. Jesus não quer exterioridade, ele quer uma fé que chegue ao coração.

De fato, imediatamente a seguir, chama de novo a multidão para lhe dizer uma grande verdade: «Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro» (v. 15). Ao contrário, é «do interior do coração» (v. 21) que nascem as coisas más. Estas palavras são revolucionárias, pois na mentalidade daquela época pensava-se que certos alimentos ou contatos exteriores tornassem impuros. Jesus inverte a perspectiva: não faz mal o que vem de fora, mas o que nasce dentro.

Amados irmãos e irmãs, isto também nos diz respeito. Muitas vezes pensamos que o mal vem sobretudo de fora: do comportamento dos outros, daqueles que pensam mal de nós, da sociedade. Quantas vezes culpamos os outros, a sociedade, o mundo, por tudo o que nos acontece! É sempre culpa dos “outros”: é culpa das pessoas, dos que governam, da má sorte, e assim por diante. Parece que os problemas vêm sempre de fora. E passamos o tempo a distribuir culpas; mas passar o tempo a culpar os outros é perder tempo. Fica-se zangado, azedo, e mantém-se Deus longe do coração. Como aquelas pessoas do Evangelho, que se queixam, se escandalizam, fazem polêmicas e não acolhem Jesus. Não se pode ser verdadeiramente religioso na lamentação: ela envenena, leva à raiva, ao ressentimento e à tristeza, a tristeza do coração, que fecha as portas a Deus.

Peçamos hoje ao Senhor que nos liberte de culpar os outros - como fazem as crianças: “Não fui eu! Foi ele, aquele...”. Peçamos na oração a graça de não perder tempo poluindo o mundo com queixas, porque isto não é cristão. Pelo contrário, Jesus convida-nos a olhar para a vida e para o mundo a partir do nosso coração. Se olharmos para dentro, encontraremos quase tudo o que odiamos fora. E se pedirmos sinceramente a Deus para purificar os nossos corações, então começaremos a tornar o mundo mais limpo. Pois há uma forma infalível de vencer o mal: começar por vencê-lo dentro de si mesmo. Os primeiros Padres da Igreja, os monges, quando lhes perguntavam: “Qual é o caminho para a santidade? Como devo começar?”, diziam, o primeiro passo é acusar-se a si mesmo: acusa-te a ti mesmo. A acusação a nós mesmos. Quantos de nós, em algum momento do dia ou durante a semana, somos capazes de nos acusarmos a nós mesmos? “Sim, aquele fez-me isto, aquilo... aquele uma barbaridade...”. Mas eu? Faço o mesmo, ou faço-o de outro modo... É sabedoria: aprender a acusar-se a si mesmo. Experimentai a fazê-lo, vos fará bem. A mim faz bem, quando consigo fazê-lo, mas faz bem, a todos fará bem.

A Virgem Maria, que mudou a história através da pureza do seu coração, nos ajude a purificar o nosso, superando sobretudo o vício de culpar os outros e de nos queixarmos de tudo.

"Pois é de dentro do coração humano..." (Mc 7,21)

Fonte: Santa Sé.

Festa da Dormição da Mãe de Deus em Moscou

O Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa presidiu no último dia 28 de agosto a Divina Liturgia da Festa da Dormição da Mãe de Deus na Catedral Patriarcal do Cristo Salvador em Moscou.

Vale lembrar que a maioria das igrejas orientais - católicas e ortodoxas - seguem o calendário juliano, com 13 dias de diferença em relação ao calendário gregoriano. Portanto, o dia 15 de agosto, Festa da Dormição da Mãe de Deus, do calendário juliano corresponde ao dia 28 de agosto no calendário gregoriano.

Para conhecer o simbolismo do ícone dessa festa, clique aqui.

Imagem da Dormição da Mãe de Deus na Catedral de Moscou
Início da Divina Liturgia
O Patriarca abençoa os fiéis

Evangelho

domingo, 29 de agosto de 2021

Sequência do Martírio de João Batista: Psallite regi nostro

"Diante dos reis falo da vossa aliança, sem temer a vergonha" (cf. Sl 118,46)
(Antífona de entrada da Memória do Martírio de São João Batista)

Na Idade Média, a partir dos séculos IX e X, as “sequências”, composições poéticas a serem entoadas antes da aclamação do Evangelho na Missa, se tornaram muito populares no Rito Romano.

Nesse período, praticamente todas as grandes celebrações do Ano Litúrgico possuíam uma sequência. Infelizmente a reforma litúrgica do Concílio de Trento, no século XVI, as reduziu a apenas quatro [1].

Já apresentamos aqui em nosso blog a sequência Sancti Baptistae, Christi praeconis, composta no século X para a Solenidade da Natividade de São João Batista (24 de junho) e atribuída ao monge beneditino Notker Balbulus.

No século XI, por sua vez, teria sido composta a sequência Psallite regi nostro (Cantai louvores ao nosso Rei), para a Memória do Martírio de São João Batista (In decollatione Sancti Iohannis Baptistae), celebrada no dia 29 de agosto.

Esta sequência é atribuída a Gottschalk de Aachen, também chamado de Gottschalk de Limburg (Godescalcus Lintpurgensis, em latim), sacerdote que viveu no século XI e que teria sido chanceler do Imperador Romano-Germânico Henrique IV.

A dança de Salomé e o martírio de João Batista
(Benozzo Gozzoli - séc. XV)

A seguir apresentamos a sequência em seu texto original (em latim), seguida de uma tradução nossa bastante livre, além de alguns comentários sobre sua teologia.

A composição está dividida em 12 estrofes de dois versos cada, exceto a primeira e a última, com apenas um verso.

Psallite regi nostro
(Sequentia: In decollatione Sancti Iohannis Baptistae)

Psallite regi nostro, psallite, psallite, psallite prudenter.

Nam psalterium est iucundum cum cithara,
Nato virginis quo psallens natus sterilis

Citharam carnis percussit in domo Domini,
Dum, quod sonabat clamando, docuit vivendo;

Mortificando quae super terram sunt membra, et hoc alios docendo;
Praeparans Christo plebem perfectam Iohannes, vox clamantis in deserto.

Homilia: Memória do Martírio de São João Batista

São Beda, o Venerável
Homilia 23
Precursor de Cristo no nascimento e na morte

O santo precursor do nascimento, da pregação e da morte do Senhor mostrou o vigor de seu combate, digno dos olhos divinos, como diz a Escritura: E se diante dos homens sofreu tormentos, sua esperança está repleta de imortalidade (cf. Sb 3,4). Temos razão de celebrar a festa do dia do nascimento daquele que o tornou solene para nós por sua morte, e o ornou com o róseo fulgor de seu sangue. É justo venerarmos com alegria espiritual a memória de quem selou com o martírio o testemunho que deu em favor do Senhor.

Não há que duvidar, se São João suportou o cárcere e as cadeias, foi por nosso Redentor, de quem dera testemunho como precursor. Também por ele deu a vida. O perseguidor não lhe disse que negasse a Cristo, mas que calasse a verdade. No entanto morreu por Cristo.

Porque Cristo mesmo disse: Eu sou a verdade (Jo 14,6); por conseguinte, morreu por Cristo, já que derramou o sangue pela verdade. Antes, quando nasceu, pregou e batizou, dava testemunho de quem iria nascer, pregar, ser batizado. Também apontou para aquele que iria sofrer, sofrendo primeiro.

Um homem de tanto valor terminou a vida terrena pela efusão do sangue, depois do longo sofrimento da prisão. Aquele que proclamava o Evangelho da liberdade da paz celeste, foi lançado por ímpios às cadeias; foi fechado na escuridão do cárcere quem veio dar testemunho da luz e por esta mesma luz, que é Cristo, tinha merecido ser chamado de lâmpada ardente e luminosa. Foi batizado no próprio sangue aquele a quem tinha sido dado batizar o Redentor do mundo, ouvir sobre ele a voz do Pai, ver descer a graça do Espírito Santo. Contudo, para quem tinha conhecimento de que seria recompensado pelas alegrias perpétuas não era insuportável sofrer tais tormentos pela verdade, mas, pelo contrário, fácil e desejável.

Considerava desejável aceitar a morte, impossível de evitar por força da natureza, junto com a palma da vida perene, por ter confessado o nome de Cristo. Assim disse bem o Apóstolo: Porque vos foi dado por Cristo não apenas crer nele, mas ainda sofrer por ele (Fl 1,29). Diz ser dom de Cristo que os eleitos sofram por ele, conforme diz também: Os sofrimentos desta vida não se comparam à futura glória que se revelará em nós (Rm 8,18).

São Beda, o Venerável (séc. VIII)

Responsório (Mc 6,17.27)

Herodes ordenara prender a João Batista e acorrentá-lo na prisão
R. Por causa de Herodíades, mulher de seu irmão, que tomara por esposa.

Ele mandou o executor decapitá-lo na prisão.
R. Por causa de Herodíades, mulher de seu irmão, que tomara por esposa.

Oração

Ó Deus, quisestes que São João Batista fosse o precursor do nascimento e da morte do vosso Filho; como ele tombou na luta pela justiça e a verdade, fazei-nos também lutar corajosamente para testemunhar a vossa palavra. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, v. IV, pp. 1237-1239.

Para conhecer o hino dessa Memória, também de autoria de São Beda, clique aqui.

Monsenhor Guido Marini nomeado Bispo de Tortona

Na manhã deste domingo, 29 de agosto de 2021, o Papa Francisco nomeou o Monsenhor Guido Marini, até então Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, como novo Bispo de Tortona (Itália).


Guido Marini nasceu em 31 de janeiro de 1965 em Gênova (Itália) e foi ordenado sacerdote em 04 de fevereiro de 1989, incardinado na Arquidiocese de Gênova.

Após obter o Doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, exerceu os ofícios de secretário do Arcebispo de Gênova e Mestre de Cerimônias da Arquidiocese, além de professor de Direito Canônico na Faculdade de Teologia da Itália Setentrional.

Em 2002 foi nomeado Cônego da Catedral de São Lourenço e no ano seguinte Reitor da mesma Catedral, além de Diretor Espiritual do Seminário de Gênova (a partir de 2004) e Chanceler da Arquidiocese (a partir de 2005).

No dia 01 de outubro de 2007 o Papa Bento XVI nomeou Guido Marini como novo Mestre de Celebrações Litúrgicas Pontifícias, concedendo-lhe, ao mesmo tempo, o título de Monsenhor Prelado de Honra. Monsenhor Guido substituía nesse ofício Dom Piero Marini, nomeado Presidente do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais.


Como Mestre de Cerimônias, Monsenhor Guido Marini realizou pequenas modificações em alguns ritos presididos pelo Papa, como a imposição do pálio, os Consistórios para criação de Cardeais e as canonizações. Destacam-se ainda, durante seu “mandato”, a eleição do Papa Francisco (2013) e o Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015-2016).

O Papa Francisco confirmou Monsenhor Marini em seu ofício no dia 12 de abril de 2014, além de nomeá-lo Consultor da Congregação para as Igrejas Orientais (19 de fevereiro de 2014).

A partir de 17 de janeiro de 2019 o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias se torna também responsável pela Capela Musical Pontifícia, isto é, o Coro da Capela Sistina.

Como Bispo de Tortona, uma das Dioceses sufragâneas de Gênova, sua cidade natal, Monsenhor Guido Marini sucede Dom Vittorio Francesco Viola, O.F.M., nomeado Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos no dia 27 de maio de 2021.

Monsenhor Marini com o Papa Francisco na Missa de Páscoa (2021)

Gratidão ao Monsenhor Guido Marini por seu serviço discreto e orante à Liturgia junto aos Papas Bento XVI e Francisco. Que o Senhor lhe conceda um frutuoso ministério episcopal. Ad multos annos!

No momento não foi indicado seu sucessor como Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice. O Papa poderá nomear um dos Cerimoniários Pontifícios, seus colaboradores, ou indicar outro sacerdote para esse ofício.


Para saber mais sobre os Mestres das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, clique aqui.

Com informações do site da Santa Sé.

sábado, 28 de agosto de 2021

Homilia: XXII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santo Irineu de Lião
Tratado contra as heresias
Tanto na Lei como no Evangelho, o primeiro e principal mandamento é amar a Deus

A tradição dos seus maiores que eles fingiam observar como derivada da Lei era contrária à Lei dada por Moisés. Por isso disse Isaías: Teus taverneiros colocam água no vinho, indicando que ao austero preceito de Deus os maiores tinham misturado uma tradição aguada, isto é, uma lei adulterada e contrária à Lei, como o manifestou o Senhor, dizendo-lhes: Por que vós anulais o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?

E não só anularam a Lei de Deus por suas transgressões, colocando água no vinho, mas erguendo contra ela sua própria lei, lei que ainda hoje se chama “farisaica”. Nesta lei tiram algumas coisas, acrescentam outras e interpretam não poucas ao seu bem-querer. De tudo isto se servem particularmente os seus próprios mestres.

Querendo reivindicar tais tradições, não quiseram submeter-se à Lei de Deus que os orientava para a vinda de Cristo; antes, recriminavam ao Senhor porque curava em sábado, coisa que certamente - como já vimos - a Lei não proibia, já que, de certo modo, ela também curava, prescrevendo a circuncisão naquele dia; porém, cuidavam-se muito bem de acusarem a si mesmos por transgredir o preceito em nome de sua tradição e da mencionada “lei farisaica”, não levando em conta o principal mandamento da Lei, que é o amor a Deus.

Sendo este o primeiro e principal preceito e o segundo o amor ao próximo, o Senhor ensinou que toda a Lei e os profetas dependem destes dois mandamentos. E Ele mesmo não nos deu nenhum mandamento maior do que este, mas o renovou, ordenando aos seus discípulos amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmos.

E Paulo diz que o amor é o cumprimento perfeito da Lei, e quando desaparecem os demais carismas, permanecerão a fé, a esperança e o amor, porém o maior dos três é o amor; e que o conhecimento sem o amor de Deus não tem valor nenhum, nem  conhecer todos os segredos, nem a fé, nem a profecia, visto que tudo é tolice e vaidade sem o amor; que o amor torna o homem perfeito, e quem ama a Deus é um homem perfeito neste mundo e no futuro: porque jamais deixaremos de amar a Deus, mas quanto mais o contemplemos, mais o amaremos.

Sendo, portanto, na Lei e no Evangelho o primeiro e maior mandamento é o mesmo, isto é, amar o Senhor Deus de todo o coração, e o segundo, semelhante a ele, amar o próximo como a si mesmo, é evidente que um só e o mesmo é o Autor tanto da Lei como do Evangelho. Assim, sendo os mesmos, em ambos os Testamentos, os mandamentos fundamentais da vida, apontam para um mesmo Senhor, o qual deu, é verdade, preceitos particulares adaptados a cada Testamento, porém propôs em ambos alguns mandamentos comuns, os mais importantes e sublimes, sem os quais não é possível salvar-se.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 458-459. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Cromácio de Aquileia para este domingo, clique aqui.

Hino do Martírio de São João Batista: Praecéssor almus grátiae

Em preparação para a Solenidade da Natividade de São João Batista, no dia 24 de junho, publicamos em nosso blog as três partes do célebre hino Ut queant laxis (Doce, sonoro, ressoe o canto) entoadas na Liturgia das Horas dessa Solenidade:
I e II Vésperas: Estrofes 1-4 (Ut queant laxis...);
Ofício das Leituras: Estrofes 5-8 (Antra desérti...);
Laudes: Estrofes 9-12 (O nimis felix...).

A última parte do hino, O nimis felix, é entoada também nas Laudes (oração da manhã) da Memória do Martírio de São João Batista, celebrada no dia 29 de agosto. Para conhecer um pouco da história dessa celebração, clique aqui.

Ícone de São João Batista com sua cabeça e com asas de anjo (mensageiro)

Para o Ofício das Leituras e para as Vésperas (oração da tarde) dessa Memória, por sua vez, é proposto o hino Praecéssor almus grátiae (Predecessor fiel da graça), de autoria de São Beda, o Venerável (†735), autor também da 2ª leitura do Ofício do dia 29 de agosto.

Na sequência reproduzimos esse hino em latim e na tradução oficial para o Brasil, além de alguns comentários sobre a sua mensagem e a sua teologia.

Ofício das Leituras e Vésperas: Praecéssor almus grátiae

Praecéssor almus grátiae
et veritátis ángelus,
lucérna Christi et pérpetis
evangelísta lúminis,

Prophetíae praecónia,
quae voce, vita et áctibus
cantáverat, haec ástruit
mortis sacrae signáculo.

Nam nascitúrum saeculis,
nascéndo quem praevénerat,
sed et datórem próprii
monstráverat baptísmatis,

Huiúsce mortem innóxiam,
qua vita mundo est réddita,
signat sui praeságio
baptísta martyr sánguinis.

Praesta, Pater piíssime,
sequi Ioánnis sémitas,
metámus ut pleníssime
aetérna Christi múnera. Amen [1].

São Beda, o Venerável, autor do hino

Ofício das Leituras e Vésperas: Predecessor fiel da graça

Predecessor fiel da graça,
bondoso anjo da verdade,
clarão de Cristo, ele anuncia
a Luz da eterna claridade.

Das profecias o precônio
que ele cantara, austero e forte,
com vida e atos confirmou
pelo sinal da santa morte.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Catequeses sobre os Salmos (31): Introdução às Vésperas

Dando início à segunda parte das Catequeses do Papa João Paulo II sobre os salmos e cânticos da Liturgia das Horas, dedicada às Vésperas (oração da tarde), propomos hoje as duas Catequeses introdutórias, proferidas nos dias 08 e 15 de outubro de 2003.

88. Introdução à Liturgia das Vésperas
08 de outubro de 2003

1. Dado que “peregrinos neste mundo (...) recebemos, todos os dias, as provas do amor do Pai” (Prefácio dos Domingos do Tempo Comum VI), a Igreja sentiu sempre a exigência de dedicar ao louvor divino os dias e as horas da existência humana. Assim, a aurora e o pôr-do-sol, típicos momentos religiosos de todos os povos, que já se tornaram sagrados na tradição bíblica da oferta matutina e vespertina do holocausto (cf. Ex 29,38-39) e do incenso (cf. Ex 30,6-8), representam para os cristãos, desde os primeiros séculos, dois momentos particulares de oração.
O surgir e o pôr-do-sol não são momentos insignificantes do dia. Assumem uma fisionomia inconfundível: a beleza radiante de um alvorecer e o esplendor triunfal de um pôr-do-sol marcam os ritmos do universo, nos quais está profundamente envolvida a vida do homem. Além disso, o mistério da salvação, que se realiza na história, tem os seus momentos relacionados com diversas fases do tempo. Por isso, juntamente com a celebração das Laudes no começo do dia, foi-se consolidando na Igreja a celebração das Vésperas ao cair da tarde. As duas horas litúrgicas possuem uma carga evocativa que recorda os dois aspectos fundamentais do Mistério Pascal: “À noite o Senhor está na Cruz, de manhã ressuscita... À noite eu narro os sofrimentos por Ele suportados na morte; de manhã anuncio a sua vida que ressuscita” (Santo Agostinho, Exposições sobre os Salmos, XXVI, Roma, 1971, p. 109).
Precisamente porque estão relacionadas com a memória da Morte e da Ressurreição de Cristo, as duas Horas, das Laudes e das Vésperas, devem considerar-se “como os dois polos do Ofício quotidiano” (Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 89).


2. Na antiguidade, depois do pôr-do-sol, com o acender da lâmpada levava-se às casas uma característica de alegria e de comunhão. Também a comunidade cristã, acendendo a lâmpada ao anoitecer, invocava com o coração agradecido o dom da luz espiritual. Era o chamado “lucernário”, isto é, o acender ritual da lâmpada, cuja chama é símbolo de Cristo, “Sol que não conhece ocaso”.
De fato, ao cair das trevas os cristãos sabem que Deus ilumina também a noite obscura com o esplendor da sua presença e com a luz dos seus ensinamentos. Devemos recordar, a este propósito, o antiquíssimo hino lucernal Phôs hilarón, acolhido nas Liturgias bizantina, armênia e etíope: “Luz jubilosa da santa glória do Pai imortal, celeste, santo, bem-aventurado, ó Jesus Cristo! Tendo chegado o pôr-do-sol e, vendo a luz vespertina, cantamos hinos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Deus. É digno cantar-te em todos os tempos com vozes harmoniosas, ó Filho de Deus, tu que nos deste a vida: por isso o universo proclama a tua glória”. Também o Ocidente criou muitos hinos para celebrar Cristo-luz.
Inspirando-se no simbolismo da luz, a oração das Vésperas desenvolveu-se como um sacrifício vespertino de louvor e de reconhecimento pelo dom da luz física e espiritual e pelos demais dons da criação e da redenção. São Cipriano escreve: “Tendo-se posto o sol e tendo desaparecido o dia, devemos necessariamente rezar de novo. De fato, dado que Cristo é o sol verdadeiro, ao ocaso do sol e do dia deste mundo nós rezamos e pedimos que venha de novo sobre nós a luz e invocamos a vinda de Cristo que nos trará a graça da luz eterna” (De oratione dominica, 35:  PL 4, 560).

Catequese do Papa: Carta aos Gálatas 6

Dando continuidade ao seu ciclo de Catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco refletiu sobre “os perigos da hipocrisia” à luz de Gl 2,11-14:

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Carta aos Gálatas (6): Os perigos da hipocrisia

Irmãos e irmãs, bom dia!
A Carta aos Gálatas relata um acontecimento bastante surpreendente. Como ouvimos, Paulo diz que repreendeu Cefas, ou seja, Pedro, perante a comunidade de Antioquia, porque o seu comportamento não era bom. O que aconteceu de tão grave para que Paulo se dirigisse a Pedro em termos tão severos? Será que Paulo exagerou dando demasiado espaço ao seu caráter sem saber como se conter? Veremos que este não é o caso, mas que mais uma vez está em questão a relação entre a Lei e a liberdade. E devemos insistir sobre isto muitas vezes.
Escrevendo aos gálatas, Paulo menciona deliberadamente este episódio que tinha acontecido em Antioquia anos antes. Ele pretende recordar aos cristãos dessas comunidades que eles não devem absolutamente escutar aqueles que pregam a necessidade de serem circuncidados para ficar “sob a Lei” com todas as suas prescrições. Recordemos que foram estes pregadores fundamentalistas que chegaram lá e criaram confusão, privando aquela comunidade da paz. Pedro foi criticado pelo seu comportamento à mesa. A Lei proibia que um judeu partilhasse refeições com não judeus. Mas o próprio Pedro, em outra ocasião, tinha ido a Cesareia, à casa do centurião Cornélio, apesar de saber que estava a transgredir a Lei. Então afirmara: «Deus mostrou-me que nenhum homem deve ser chamado profano ou impuro» (At 10,28). Quando regressou a Jerusalém, os cristãos circuncidados que eram fiéis à Lei mosaica repreenderam Pedro pelo seu comportamento, mas ele justificou-se dizendo: «Recordei-me então da palavra do Senhor, quando Ele dizia: “João batizou em água; vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo”. Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para opor-me a Deus?» (At 11,16-17). Recordemos que o Espírito Santo veio naquele momento à casa de Cornélio quando lá estava Pedro.
Um fato semelhante também tinha acontecido em Antioquia, na presença de Paulo. Antes, Pedro estava à mesa sem qualquer dificuldade com os cristãos que tinham vindo do paganismo, mas quando alguns cristãos de Jerusalém - aqueles que provinham do Judaísmo - circuncidados, chegaram à cidade, ele já não o fez, para não incorrer nas críticas deles. É este o erro: era mais atento às críticas, a dar uma boa impressão. Isto é grave aos olhos de Paulo, até porque Pedro estava sendo imitado por outros discípulos, inclusive por Barnabé, que com Paulo tinha evangelizado os gálatas (cf. Gl 2,13). Sem querer, o comportamento de Pedro - um pouco assim, aproximativo, nem claro nem transparente - criava uma divisão injusta na comunidade: “Eu sou puro... sigo por esta linha, faço assim, isto não se pode...”.
Na sua repreensão - eis o núcleo do problema - Paulo usa um termo que permite entrar nos méritos da sua reação: hipocrisia (cfGl 2,13). Esta é uma palavra que se repete muitas vezes: hipocrisia. Penso que todos nós compreendemos o que significa. A observância da Lei por parte dos cristãos levou a este comportamento hipócrita, que o Apóstolo pretende combater com força e convicção. Paulo era reto, tinha os seus defeitos - muitos, o seu caráter era terrível - mas era reto. O que é a hipocrisia? Quando dizemos: estai atentos que aquele é um hipócrita: o que queremos dizer? O que é hipocrisia? Pode-se dizer que é o medo da verdade.  A hipocrisia tem medo da verdade. As pessoas preferem fingir do que ser elas mesmas. É como pintar a alma, como pintar as atitudes, o modo de proceder: não é a verdade. “Tenho medo de proceder como sou e disfarço-me com estas atitudes”. Fingir impede a coragem de dizer a verdade abertamente, e assim facilmente se evita a obrigação de dizê-la sempre, em todo o lado e apesar de tudo. Fingir leva-te a isto: às meias-verdades. E as meias-verdades são uma ficção: pois a verdade ou é verdade ou não é verdade. Mas as meias-verdades são este modo de agir não verdadeiro. Prefere-se, como disse, fingir em vez de ser como se é, e a ficção impede aquela coragem, de dizer abertamente a verdade. E assim, não cumprimos a obrigação - e isto é um mandamento - de dizer sempre a verdade, em todos os lugares e apesar de tudo.  Num ambiente em que as relações interpessoais são vividas sob a bandeira do formalismo, o vírus da hipocrisia propaga-se facilmente. Aquele sorriso que não vem do coração, aquele procurar estar bem com todos, mas com ninguém...
Há vários exemplos na Bíblia onde a hipocrisia é combatida. Um bom testemunho para combater a hipocrisia é o do velho Eleazar, a quem foi pedido que fingisse que comia carne sacrificada a divindades pagãs para salvar a sua vida: fingir que a comia, mas não a comia.  Fingir que comia a carne suína, mas os amigos tinham-lhe preparado outra.  Mas o homem temente a Deus respondeu: «Não é próprio da minha idade usar de tal fingimento, não suceda que muitos jovens, julgando que Eleazar, aos noventa anos, se tenha passado à vida dos gentios, pelo meu gesto de hipócrita e por amor a um pouco de vida, se deixem arrastar por minha causa; isto seria a desonra e a vergonha da minha velhice» (2Mc 6,24-25). Honesto: não entra no caminho da hipocrisia. Que bela página sobre a qual refletir para se afastar da hipocrisia! Os Evangelhos também registram várias situações em que Jesus repreende fortemente aqueles que parecem justos no exterior, mas no interior estão cheios de falsidade e iniquidade (cfMt 23,13-29). Se tiverdes um pouco de tempo hoje lede o capítulo 23 do Evangelho de São Mateus e vede quantas vezes Jesus diz: “hipócritas, hipócritas, hipócritas”, e revela o que é a hipocrisia.
O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente - um hipócrita não sabe amar - limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência. Há muitas situações em que a hipocrisia pode ocorrer. Muitas vezes esconde-se no local de trabalho, onde se procura parecer amigo dos colegas enquanto a competição leva a golpeá-los pelas costas. Na política não é raro encontrar hipócritas que vivem uma vida dupla entre a esfera pública e a privada. A hipocrisia na Igreja é particularmente detestável, e infelizmente existe a hipocrisia na Igreja, há muitos cristãos e ministros hipócritas. Nunca devemos esquecer as palavras do Senhor: «Seja este o vosso modo de falar: sim, sim, não, não; tudo o que for além disto procede do espírito do mal» (Mt 5,37). Irmãos e irmãs, pensemos hoje no que Paulo condena e que Jesus condena: a hipocrisia. E não tenhamos medo de ser verdadeiros, de dizer a verdade, de ouvir a verdade, de nos conformarmos com a verdade. Assim poderemos amar. Um hipócrita não sabe amar. Agir de outra forma que não seja a verdade significa pôr em perigo a unidade na Igreja, aquela pela qual o próprio Senhor rezou.


Fonte: Santa Sé.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Mensagem do Papa à 71ª Semana Litúrgica Nacional

Na última segunda-feira, 23 de agosto de 2021, foi divulgada a mensagem do Papa Francisco, assinada pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, à 71ª Semana Litúrgica Nacional italiana.

O evento, promovido anualmente pelo Centro di Azione Liturgica (Centro de Ação Litúrgica), havia sido interrompido no ano de 2020 devido à pandemia de Covid-19.

A 71ª Semana Litúrgica Nacional, que acontece de 23 a 26 de agosto de 2021 na cidade de Cremona, tem como tema “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome... (Mt 18,20): Comunidades, liturgias e territórios”.

Logotipo da 71ª Semana Litúrgica Nacional italiana

Segue abaixo a íntegra da mensagem, endereçada ao Presidente do Centro de Ação Litúrgica, Dom Claudio Maniago, Bispo de Castellaneta:

Mensagem do Papa Francisco assinada pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, por ocasião da 71ª Semana Litúrgica Nacional
Cremona, 23-26 de agosto de 2021

Excelência Reverendíssima [Dom Claudio Maniago],

Na feliz circunstância da 71ª Semana Litúrgica Nacional, que acontecerá na cidade de Cremona de 23 a 26 de agosto próximo, o Santo Padre Francisco deseja enviar sua saudação a ti, aos colaboradores do Centro de Ação Litúrgica, à Diocese de Cremona e ao seu Pastor [Dom Antonio Napolioni] e a quantos tomarão parte nas significativas jornadas de estudo.

O Sumo Pontífice se une à comum ação de graças ao Senhor, uma vez que este ano foi possível realizar o evento, depois do triste momento do ano passado, quando, diante da notável propagação da pandemia, o evento já programado teve de ser adiado. A sofrida decisão permitiu, porém, confirmar com uma luz nova o tema escolhido, que busca aprofundar aspectos e situações do celebrar, posto à prova pela disseminação do Covid-19 e das necessárias limitações para contê-la.

O tema que tratareis, com efeito, diz respeito ao convenire in unum dos discípulos do Senhor para responde ao seu mandamento: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19): “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome... (Mt 18,20): Comunidades, liturgias e territórios”. O semanal reunir-se em “nome do Senhor”, que desde as origens foi vivido pelos cristãos como uma realidade irrenunciável e indissoluvelmente ligada à própria identidade, foi severamente afetado durante a fase mais aguda da propagação da pandemia. Mas o amor pelo Senhor e a criatividade pastoral impeliram pastores e fiéis leigos a explorarem outros caminhos para nutrir a comunhão de fé e amor com o Senhor e com os irmãos, na esperança de poder retornar à plenitude da Celebração Eucarística em tranquilidade e segurança. Tem sido uma espera dura e sofrida, iluminada pelo mistério da Cruz do Senhor e fecunda de tantas obras de cuidado, de amor fraterno e de serviço às pessoas que mais sofreram com as consequências da emergência sanitária.

O Papa Francisco com Dom Claudio Maniago e o Cardeal Bassetti
(Apresentação da nova tradução italiana do Missal)

A triste experiência do “jejum” litúrgico do ano passado, em contrapartida, ressaltou a bondade do longo caminho percorrido desde o Concílio Vaticano II, na estrada traçada pela Constituição Sacrosanctum Concilium. O tempo de privação pode mostrar “a importância da Liturgia divina para a vida dos cristãos, que nela encontram a mediação objetiva exigida pelo fato de Jesus Cristo não ser uma ideia nem um sentimento, mas uma Pessoa viva, e o seu Mistério um acontecimento histórico. A oração dos cristãos passa por mediações concretas: a Sagrada Escritura, os Sacramentos, os ritos litúrgicos, a comunidade. Na vida cristã não prescindimos da esfera corpórea e material, porque em Jesus Cristo ela tornou-se o caminho da salvação. Poderíamos dizer que devemos rezar inclusive com o corpo: o corpo entra na oração” (Papa Francisco, Audiência Geral, 03 de fevereiro de 2021).

A Liturgia “suspensa” durante o longo período de confinamento e as dificuldades da sucessiva retomada confirmam o que já se via nas assembleias dominicais da península italiana, indicação alarmante da fase avançada da mudança de época. Observamos como na vida real das pessoas mudou a própria percepção do tempo e, consequentemente, do domingo, do espaço, com repercussões no modo de ser e de sentir-se comunidade, povo, família e da relação com um território. A assembleia dominical encontra-se assim desequilibrada, seja pela presença geracional, seja pela falta de homogeneidade cultural, seja pela dificuldade de encontrar uma integração harmoniosa na vida paroquial, para ser o verdadeiro ápice de todas as suas atividades e a fonte do dinamismo missionário para levar o Evangelho da misericórdia às periferias geográficas e existenciais.

O Santo Padre espera que a Semana Litúrgica Nacional, com suas propostas de reflexão e momentos de celebração, mesmo na modalidade integrada, presencial e on-line, possa identificar e sugerir algumas linhas de pastoral litúrgica a propor às paróquias, para que o domingo, a assembleia eucarística, os ministérios, o rito emerjam daquela marginalidade na qual parecem ter caído e recuperem a centralidade na fé e na espiritualidade dos fiéis. A recente publicação da terceira edição do Missal Romano e a vontade dos Bispos italianos de acompanhá-la com uma sólida retomada da formação litúrgica do povo santo de Deus são bons sinais nessa direção.

Sua Santidade saúda com alegria a celebração da 71ª Semana Litúrgica Nacional, que acontece em um território que sofreu muito por causa da pandemia e que, ao mesmo tempo, viu florescer tanto bem para aliviar esse imenso sofrimento. Ele assegura a sua oração e de coração concede a Bênção Apostólica a Vossa Excelência [Dom Claudio Maniago], ao Bispo da Diocese de Cremona, Dom Antonio Napolioni, aos outros Bispos, aos sacerdotes, aos diáconos, às pessoas consagradas, assim como aos relatores e a todos os participantes.

Ao unir a minha pessoal saudação, aproveito a ocasião para confirmar-me com distinto obséquio devotíssimo de Vossa Excelência Reverendíssima,

Cardeal Pietro Parolin
Secretário de Estado


Tradução livre nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé.

Confira também:

Patriarca Bartolomeu celebra a Divina Liturgia na Ucrânia

No último dia 13 de agosto o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla celebrou 60 anos da sua ordenação diaconal, com a presença do Patriarca Theodoros II de Alexandria e do Metropolita Epifânio de Kiev.

Retribuindo a visita do Metropolita Epifânio, o Patriarca Bartolomeu presidiu no domingo, 22 de agosto de 2021, a Divina Liturgia junto à Catedral de Santa Sofia (Собор Святої Софії), em Kiev (Ucrânia), igreja histórica do século XI que atualmente funciona como um museu.

Essa igreja guarda o célebre ícone da Sabedoria com múltiplos simbolismos ligados ao número "sete", sobre o qual falamos nesta postagem.

A celebração, com a presença de cerca de 15 mil fiéis, fez parte das comemorações dos 30 anos da independência da Ucrânia (24 de agosto de 1991).

O Patriarca Bartolomeu concedeu a "autocefalia" (autonomia) à Igreja Ortodoxa Ucraniana, sob a guia do Metropolita Epifânio de Kiev, em janeiro de 2019. Tal gesto, porém, ainda não foi reconhecido por todas as Igrejas Ortodoxas (para saber mais sobre essas Igrejas, clique aqui).

Entrada do Patriarca Bartolomeu e do Metropolita Epifânio

As mitras dos dois hierarcas sobre o altar
O Patriarca Bartolomeu abençoa os fiéis
Início da Divina Liturgia: Os hierarcas abençoam os fiéis

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Leitura litúrgica do Livro de Jó

“Eu sei que meu Redentor está vivo” (Jó 19,25)

Na última postagem da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura analisamos o Eclesiastes, um dos escritos sapienciais que traz a autocrítica da sabedoria, demonstrando seus limites.

Esta crítica prossegue no Livro de Jó, ao qual dedicaremos esta postagem, buscando identificar sua presença nas atuais celebrações litúrgicas do Rito Romano.

1. Breve introdução ao Livro de Jó

“O que o sábio não sabe? Ele não sabe por que o justo sofre”. Esta é a grande questão que permeia o Livro de Jó, obra-prima da literatura sapiencial.

"Jó" (Léon Bonnat - séc. XIX-XX)

O nome do livro remete ao seu protagonista, um personagem simbólico, que representa o homem justo diante do mistério do sofrimento e do mal (mysterium iniquitatis). Jó expressa a universalidade do tema, presente em todos os tempos e lugares, sendo retratado como um estrangeiro: “da terra de Hus” (Jó 1,1)

Não obstante, como vimos em nossas postagens sobre o culto aos Santos do Antigo Testamento, Jó é comemorado pelo Martirológio Romano no dia 10 de maio.

O livro se situa na "época pós-exílica (entre os séculos VI e III a. C.). Após a experiência do exílio da Babilônia, com efeito, predominava em Israel a chamada “teologia da retribuição”: se eu fiz o bem, Deus necessariamente vai me abençoar; se eu fiz o mal, Deus necessariamente vai me castigar. É esta lógica "fechada" que critica: se o mal é sempre castigo pelo pecado, por que o justo também sofre?

O Livro de Jó divide-se primeiramente em duas grandes partes: uma moldura em prosa (1–2; 42,7-17) e um corpo poético (3,1–42,6). Porém, uma divisão mais detalhada da obra identifica oito partes, conforme os diversos diálogos e monólogos:
a) Prólogo em prosa: cap. 1–2;
b) 1º monólogo (lamentação) de Jó: cap. 3;
c) Debate entre Jó e os “três amigos” (Elifaz, Baldad e Sofar): cap. 4–27;
d) Elogio da sabedoria: cap. 28;
e) 2º monólogo (lamentação) de Jó: cap. 29–31;
f) Discurso de Eliú: cap. 32–37;
g) Diálogo entre Deus e Jó: cap. 38,1–42,6;
h) Epílogo em prosa: 42,7-17.

A moldura em prosa da obra é sua parte mais conhecida e também a mais antiga, talvez baseada em lendas mais antigas. Esta parte está mais conforme com a “teologia da retribuição”, sendo Jó “modelo de paciência” que no final é recompensada.

O corpo da obra, infelizmente menos conhecido - mas de maior riqueza teológica e poética -, nos mostra outra face do protagonista: não o “Jó da paciência”, mas sim o “Jó da resistência”. Enquanto sua esposa e seus “amigos” insistem que confesse seu pecado (pois, para eles, presos à "teologia da retribuição", se Jó está sofrendo é porque pecou), Jó se revolta e critica a teologia estabelecida, “abrindo um processo” contra Deus.

Os amigos não conseguem convencê-lo, apenas Eliú avança um pouco, deixando entrever a dimensão “pedagógica” do sofrimento (no sentido de que podemos aprender algo com ele), mas permanece no horizonte da “teologia da retribuição”. No final, Deus mesmo intervém, sem dar uma “resposta pronta” ao problema, demonstrando que a sabedoria humana é limitada e abrindo-nos para o mistério.

Festa de Nossa Senhora de Kalwaria

O Santuário de Nossa Senhora de Kalwaria, na Arquidiocese de Cracóvia (Polônia), celebra a festa da sua padroeira sempre na sexta-feira e no domingo seguintes à Solenidade da Assunção de Maria (15 de agosto).

A celebração tem a forma de uma "Páscoa mariana": na sexta-feira recorda-se a morte de Maria com uma procissão e a Santa Missa, enquanto no domingo celebra-se a sua Assunção aos céus.

A procissão na sexta-feira, 20 de agosto de 2021, foi presidida por Dom Jonas Ivanauskas, Bispo de Kaišiadorys (Lituânia), enquanto a Missa foi presidida pelo Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski.

No domingo, 22 de agosto, por sua vez, a Missa foi presidida por Dom Mieczysław Mokrzycki, Arcebispo de Lviv dos Latinos (Ucrânia).

Sexta-feira, 20 de agosto:
Procissão e Missa em honra da Morte de Maria


Dom Jonas Ivanauskas
Homilia de Dom Jonas
Incensação da imagem de Nossa Senhora
Procissão

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Ângelus: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 22 de agosto de 2021

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje (Jo 6,60-69) mostra-nos a reação da multidão e dos discípulos ao discurso de Jesus após o milagre dos pães. Jesus convidou a interpretar esse sinal e a acreditarem nele, que é o verdadeiro pão que desce do céu, o pão da vida; e revelou que o pão que ele dará é a sua carne e o seu sangue. Estas palavras soaram duras e incompreensíveis aos ouvidos do povo, a ponto que, a partir daquele momento - diz o Evangelho - muitos dos seus discípulos voltaram atrás, ou seja, deixaram de seguir o Mestre (vv. 60.66). Então Jesus interpela os Doze: «Também vós quereis retirar-vos?» (v. 67), e Pedro, em nome de todo o grupo, confirma a decisão de permanecer com Ele: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna, e nós acreditamos e sabemos que és o Santo de Deus» (Jo 6,68-69). E é uma bonita confissão de fé.

Detenhamo-nos brevemente na atitude daqueles que se retiram, decidindo não seguir mais Jesus. Onde tem origem esta incredulidade? Qual é o motivo desta recusa?

As palavras de Jesus suscitam grande escândalo: Ele está dizendo que Deus escolheu manifestar-se e trazer a salvação na fraqueza da carne humana. É o mistério da Encarnação. E a Encarnação de Deus é o que dá origem ao escândalo e representa para aquelas pessoas - mas muitas vezes também para nós - um obstáculo. De fato, Jesus afirma que o verdadeiro pão da salvação, que transmite a vida eterna, é a sua própria carne; que para entrar em comunhão com Deus, antes de observar as leis ou cumprir os preceitos religiosos, é preciso viver uma relação real e concreta com Ele. Pois a salvação veio d'Ele, na sua Encarnação. Isto significa que não devemos perseguir Deus em sonhos e imagens de grandeza e poder, mas devemos reconhecê-lo na humanidade de Jesus e, consequentemente, na dos irmãos e irmãs que encontramos no caminho da vida. Deus fez-se carne. E quando dizemos isto, no Credo, no dia de Natal, no dia da Anunciação, ajoelhamo-nos para adorar este mistério da Encarnação. Deus fez-se carne e sangue: humilhou-se para se tornar homem como nós, humilhou-se ao ponto de assumir o nosso sofrimento e o nosso pecado, e, por conseguinte, pede-nos que o procuremos não fora da vida e da história, mas na relação com Cristo e com os irmãos. Procurá-lo na vida, na história, na nossa vida quotidiana. E este, irmãos e irmãs, é o caminho para o encontro com Deus: a relação com Cristo e os irmãos.

Também hoje, a revelação de Deus na humanidade de Jesus pode causar escândalo e não é fácil de aceitar. É aquilo a que São Paulo chama “loucura” do Evangelho perante quantos procuram milagres ou sabedoria mundana (cf1Cor 1,18-25). E esta “escandalosidade” é bem representada pelo sacramento da Eucaristia: que sentido pode ter, aos olhos do mundo, ajoelhar-se diante de um pedaço de pão? Por que alimentar-se assiduamente deste pão? O mundo escandaliza-se.

Face ao gesto prodigioso de Jesus que com cinco pães e dois peixes alimenta milhares de pessoas, todos o aclamam e querem levá-lo em triunfo, para fazê-lo rei. Mas quando Ele próprio explica que aquele gesto é um sinal do seu sacrifício, ou seja, do dom da sua vida, da sua carne e do seu sangue, e que aqueles que O quiserem seguir devem assemelhar-se a Ele, à sua humanidade doada a Deus e aos outros, então isto não agrada, este Jesus põe-nos em crise. Aliás, preocupemo-nos se ele não nos põe em crise, porque talvez tenhamos adulterado a sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixarmos provocar e converter pelas suas “palavras de vida eterna”. E Maria Santíssima, que trouxe na carne o Filho Jesus e se uniu ao seu sacrifício, nos ajude sempre a testemunhar a nossa fé com a vida concreta.

Promessa da Eucaristia
(Cristóbal de Villalpando)

Fonte: Santa Sé.

sábado, 21 de agosto de 2021

Homilia: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Teodoro de Mopsuéstia
Sermão 15 sobre a Missa
Para dar-nos a conhecer esses dons, chamou a si mesmo de pão

É notável que, ao dar o pão, Ele não dissesse: “Isto é a figura de meu Corpo”, mas: Este é o meu Corpo; e da mesma maneira sobre o cálice, não diz: “Isto é a figura do meu Sangue”, mas: Este é o meu Sangue; porque Ele quis que tendo o pão e o vinho recebido a graça e a vinda do Espírito Santo, não apreciemos mais a sua natureza, mas o recebamos como são: o Corpo e o Sangue de nosso Senhor. Pois o Corpo de nosso Senhor também não teve, por sua própria natureza, a imortalidade e o poder de dar a imortalidade, mas foi o Espírito Santo que a deu, e pela Ressurreição dentre os mortos recebeu a conjunção com a natureza divina, veio a ser imortal e causa de imortalidade para os demais.

Portanto, tendo dito nosso Senhor: Aquele que come o meu Corpo e bebe o meu Sangue viverá eternamente, quando viu aos judeus murmurarem e duvidarem desta palavra - pensando que por meio de uma carne mortal não é possível receber a imortalidade -, acrescentou para prontamente resolver a dúvida: Se virdes ao Filho do homem subir para onde estava antes, como se dissesse: “Agora não vos parece certo porque disse isto de meu Corpo; porém, quando me vires ressuscitado dentre os mortos e subir ao céu, certamente não se poderá mais ter por dura e estranha esta palavra; porque pelos próprios fatos vos convencereis de que passei para uma natureza imortal; se Eu não estivesse nela, não subiria ao céu”.

E para indicar de onde lhe virá isto, acrescenta em seguida: O Espírito vivifica, porém o corpo de nada serve. Isto, Ele diz, lhe virá pela natureza do Espírito vivificante, pela qual Ele será transformado para este estado, no qual Ele é imortal e concede a imortalidade aos demais - aquilo que Ele não tinha e que não podia dar aos demais como proveniente de sua natureza, porque a natureza da carne é impotente para um dom e um auxílio deste gênero.

Porém, se a natureza do Espírito vivificante fez o Corpo de nosso Senhor desta natureza, da qual Ele não era antes, é preciso que tampouco nós, que recebemos a graça do Espírito Santo pelas figuras sacramentais, ainda vejamos como pão e como vinho o que nos é apresentado, mas consideremos que é o Corpo e o Sangue de Cristo, nos quais são transformados pela descida da graça do Espírito Santo; ela, que obtém para os que dela participam o mesmo que por meio do Corpo e Sangue de nosso Senhor nós pensamos que recebem os fiéis.

Por isso Ele diz: Eu sou o pão vivo descido do céu; e Eu sou o pão da vida. E para mostrar que Ele é aquilo que chama de pão, diz: E o pão que vos darei é meu Corpo para a vida do mundo. Já que, de fato, nós subsistimos nesta vida por meio do pão e do alimento, Ele chama a si mesmo pão vivo descido do céu, significando isto: “Verdadeiramente Eu sou o pão da vida, que dá a imortalidade aos que creem em mim, mediante este Corpo visível, pelo qual Eu desci e ao qual conferi a imortalidade, e por meio do qual dou a vida aos que creem em mim”. Podendo dizer: “Eu sou Aquele que dá a vida”, se abstém e, no lugar, diz: Eu sou o pão da vida.

De fato, já que a imortalidade esperada, cuja promessa nos foi dada aqui, a vamos receber nas figuras sacramentais por meio do pão e do cálice, Ele devia chamar “pão” a si mesmo e ao seu Corpo, de modo que pela própria figura venerássemos Aquele que reivindicou esta denominação; para dar-nos a conhecer esses dons, chamou a si mesmo de “pão”, mas quis também, por estas coisas terrenas, fazer-nos receber sem duvidar estes bens demasiado elevados para as palavras.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 455-456. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Santo Agostinho para este domingo, clique aqui.