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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 17-18

“Em verdade Eu te digo: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23,43).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas XVII: Lc 23,39-43

Um dos malfeitores crucificados O insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós!” Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, Tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade Eu te digo: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23,39-43).

Ladrão esperto, que rouba até à última hora: rouba o Coração de Cristo, rouba o Reino dos Céus! Primeiro, reconhece-se pecador: não procura mascarar seu crime. Sabe que Jesus é inocente, reconhece que Jesus não fez nada de mal. Depois, confessa seu pecado: “Estamos recebendo o que merecemos!” E, exatamente da consciência do próprio pecado, nasce o bendito e humilde pedido de misericórdia: “Jesus, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reinado”. Escuta, então, as palavras mais consoladoras que alguém poderia ouvir na hora da morte: “Ainda hoje estarás Comigo no Paraíso!” Hoje estarás Comigo e, onde Eu estiver, aí está o teu paraíso, a alegria sem fim! Estar com Jesus, d’Ele não se separar nem na vida nem na morte: eis a maior esperança e a maior honra para o cristão!

Crucificação - Duccio di Buoninsegna

- Senhor, que na hora de minha morte, naquela hora tremenda, de solidão total, eu possa também ouvir estas palavras: “Ainda hoje, estarás Comigo, pois que nem a vida nem a morte podem separar-te do Meu amor!” Mas, para isso, eu Te peço humildemente: “Jesus, lembra-Te de mim quando vieres no Teu Reino!”.

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 15-16

“Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas XV: Lc 23,23-32

Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus. Seguia-O uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por Ele. Jesus, porém, voltou-Se e disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. Então começarão a pedir às montanhas: ‘Cai sobre nós! e às colinas: ‘Escondei-nos!’ Porque, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” Levavam também outros dois malfeitores para serem mortos junto com Jesus (Lc 23,23-32).

Três grupos de personagens aparecem aqui. Cada um com algo a nos dizer...

Caminho do Calvário - Duccio di Buoninsegna

Primeiro, Simão de Cirene, obrigado pelos soldados romanos a carregar a Cruz. Um absurdo, um ato de truculência. Mas Roma permitia que se obrigasse, desde que não fosse a um cidadão romano... E aquele homem de Cirene, sem saber, completava em si as dores do Salvador; sem nem imaginar, tornou-se ícone do que deve ser cada um de nós: aquele que leva com Jesus a Cruz, aquele que vai com Jesus até o Calvário. Esse Cireneu não conhecia Jesus e, ao que parece, ali converteu-se. Não, não é uma suposição piedosa, esta minha! Há um indício precioso, comovente. São Marcos quando fala do Cireneu, afirma que ele era o pai de Alexandre e Rufo (Mc 15,21). Observe, meu irmão, que o evangelista supõe que esses dois irmãos eram conhecidos na Comunidade cristã: eram cristãos. Sim, os filhos do Cireneu tornaram-se discípulos do Condenado, do Homem de dores. Não terá o velho Simão abraçado a fé? Marcos escreveu pelo ano 63 da nossa era, cerca de 34 anos após estes acontecimentos... Eu fico pensando no orgulho de Alexandre e Rufo no meio da Comunidade cristã: “Olha lá aqueles dois! O pai deles ajudou o Senhor a levar a Cruz! O pai deles, o velho Simão, tocou no sangue do Salvador, juntou seu suor ao suor do Filho de Deus, repartiu com Ele o peso da Cruz”.

- Dá-nos, Jesus, a honra que deste ao Cireneu, de levar contigo a Cruz nas cruzes da vida e nas cruzes dos irmãos, nos quais estás presente!

quarta-feira, 30 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 13-14

“Mas eles gritavam: Crucifica-O! Crucifica-O!” (Lc 23,21).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas XIII: Lc 23,8-12

Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-Lo. Já ouvira falar a Seu respeito e esperava vê-Lo fazer algum milagre. Ele interrogou-O com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondeu. Os sumos sacerdotes e os escribas estavam presentes e O acusavam com insistência. Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo, zombou Dele, vestiu-O com uma roupa vistosa e mandou-O de volta a Pilatos. Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos (Lc 23,8-12).

Herodes desejava conhecer Jesus, ver um milagre Seu, presenciar um show, um espetáculo, talvez um show da fé... Trata-se de um conhecimento exterior, sem amor, sem adesão. Um conhecimento assim não tem serventia alguma para o Reino de Deus e para a salvação.

Conhece Jesus quem crê n’Ele, conhece Jesus quem a Ele adere com toda a vida, conhece Jesus quem O ama e se dispõe a segui-Lo! Qualquer outro conhecimento, o de Herodes, o do filósofo descrente, o do teólogo racionalista e soberbo, o do ministro sagrado sem devoção e relativista, à procura de aprovação e aplauso do mundo, o do estudante de teologia sem unção, o do cristão sem piedade, é um conhecimento exterior, insuficiente, distorcido, falso; não passa de despiste, de fraude, de embuste!

Pilatos condena Jesus à morte - Duccio di Buoninsegna

Por isso mesmo, para Herodes não haverá milagre algum - não se pode encomendar milagre, não se pode fazer do milagre um show ou um circo! O nosso Senhor não Se presta a isto! Herodes não terá milagre e nem mesmo uma única palavra de Cristo, uma única resposta! O Senhor não responde a quem o indaga de modo soberbo e ímpio: para esses, Deus Se cala, Deus a esses lhe esconde o Rosto...

Herodes dispensa Jesus com uma roupa lustrosa, ridícula, de rei-palhaço... O Senhor mantém-Se silencioso. Quanta dignidade ante a superficialidade e a vulgaridade de Herodes e do mundo atual, que brinca com Deus e ridiculariza a fé cristã.

sexta-feira, 25 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 11-12

“Tu és o rei dos judeus? Jesus respondeu, declarando: Tu o dizes!” (Lc 23,3).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas XI: Lc 22,66–23,1

Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas reuniram-se em conselho e levaram Jesus ao tribunal deles. E diziam: “Se és o Cristo, dize-nos!” Jesus respondeu: “Se Eu vos disser, não Me acreditareis e, se Eu vos fizer perguntas, não Me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Poderoso”. Então, todos perguntaram: “Tu és, portanto, o Filho de Deus?” Jesus respondeu: “Vós mesmos estais dizendo que Eu Sou!” Eles disseram: “Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de Sua própria boca!” Em seguida, toda a multidão se levantou e levou Jesus a Pilatos (Lc 22,66–23,1).

Por que Jesus foi condenado à morte? As motivações foram políticas ou religiosas? Que fique claro: Jesus foi morto essencialmente por motivo religioso: Ele Se declarou o Messias esperado por Israel e, mais ainda, o Filho do Homem descrito por Daniel, fazendo-Se Filho de Deus de um modo único, nunca imaginado pelos judeus, apresentando-Se, assim, como igual a Deus!

Se Jesus apenas tivesse afirmado ser o Messias não seria condenado à morte pelos judeus; seria, talvez, declarado um falso profeta... Mas, Jesus pretendia mais, dizia ser mais: Ele Se colocava claramente diante do Sumo Sacerdote e do inteiro Sinédrio como o Filho do Homem à direita de Deus, vindo sobre as nuvens; Ele Se colocava acima da Torá, a Lei de Moisés.

Jesus é entregue pelo Sinédrio a Pilatos - Duccio di Buoninsegna

Fique claro, claríssimo: Jesus não cabe no Judaísmo! Ele realiza e ultrapassa as expectativas judaicas! Israel, se aceitasse Jesus como o Messias, teria que dar um enorme salto qualitativo: teria que reconhecer que agora o Senhor Deus selava uma nova e eterna Aliança que incluiria todos os povos da terra. Isto iria mexer com a prática da Lei e com a própria identidade de Israel, seria tirar a ênfase de Israel como Povo eleito, único, escolhido, para colocá-la no Israel servo da salvação e do Reino de Deus para todos os povos da terra... Era um passo grande demais para a grande maioria dos judeus...

quarta-feira, 23 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 9-10

“Então, o Senhor Se voltou e olhou para Pedro” (Lc 22,61).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas IX: Lc 22,54-62

Eles prenderam Jesus e O levaram, conduzindo-O à casa do Sumo Sacerdote. Pedro acompanhava de longe. Eles acenderam uma fogueira no meio do pátio e sentaram-se ao redor. Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo; encarou-o bem e disse: “Este aqui também estava com Ele!” Mas Pedro negou: “Mulher, eu nem O conheço!” Pouco depois um outro viu Pedro e disse: “Tu também és um deles!” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sou”. Passou mais ou menos uma hora, e um outro insistia: “Certamente, este aqui também estava com Ele, porque é galileu!” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sei o que estás dizendo!” Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. Então, o Senhor Se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: “Hoje, antes que o galo cante, três vezes Me negarás”. Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente (Lc 22,54-62).

Prenderam Jesus. O homem pecador prende o Deus Santo, o Justo, o Inocente! Ainda hoje o processo maldito continua - e continua de modo particular no Ocidente, que nasceu do Evangelho, que se nutriu da seiva de Cristo, e, agora, com ódio cego e insano, volta-se contra o Senhor que um dia o iluminara. Nossa cultura neo-pagã prende Jesus: querem reduzi-Lo à vida privada, querem tirá-Lo de nossas escolas e repartições públicas, querem, a força, denegrir e desmoralizar Sua Igreja, querem emporcalhar por atacado todos os ministros do Senhor, desmoralizando o sacerdócio e esvaziando o sentido do celibato... Prenderam Jesus e matarão Jesus! Quanta loucura, quanta treva, quanto cheiro de pecado e de morte!

Cristo diante do Sinédrio e a negação de Pedro - Duccio di Buoninsegna

Levaram o Senhor nosso à casa de Caifás e de Anás, seu sogro, e verdadeiro chefe político de Israel. Não se poderia esperar outra atitude dos inimigos de Jesus, homens endurecidos no coração, homens que tinham tornado a religião um negócio e a Lei de Moisés uma prisão... Aqueles homens já não se comoviam, já não se deixavam questionar, já não sabiam rir com a beleza e simplicidade das coisas, já não procuravam a verdade... Estavam presos nas suas armadilhas ideológicas, nas suas convicções enferrujadas... Como poderiam, então, reconhecer em Jesus o bendito Enviado de Deus, o Santo Messias de Israel? - Cuidado, porque este também pode ser o nosso pecado: acostumar-se com Jesus, já não mais nos surpreendermos com Ele, que é tão surpreendente, e já não mais nos encantar com Ele, que é tão belo!

sexta-feira, 18 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 7-8

“Não seja feita a Minha vontade, mas a Tua!” (Lc 22,42).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas VII: Lc 22,39-46

Jesus saiu e, como de costume, foi para o Monte das Oliveiras. Os discípulos O acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: “Orai para não entrardes em tentação”. Então afastou-Se a uma certa distância e, de joelhos, começou a rezar: “Pai, se queres, afasta de Mim este cálice; contudo, não seja feita a Minha vontade, mas a Tua!” apareceu-Lhe um anjo do céu, que O confortava. Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão. Levantando-Se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza. E perguntou-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação” (Lc 22,39-46).

Quantas vezes Jesus não deve ter rezado durante à noite naquele monte! São Lucas diz: “como de costume, foi para o Monte das Oliveiras”. O Senhor rezou, o Senhor fez de toda a Sua existência uma oração, um estar e caminhar na presença do Pai... Toda a existência humana do Filho bendito de Deus foi um diálogo com o Pai. Por isso, sempre e em tudo, o nosso santíssimo Salvador não fez nada mais que falar o que o Pai mandara, fazer o que o Pai Lhe ordenara, cumprir a missão do Pai recebida... E agora, na Hora suprema, Hora da dor, da escuridão interior, da agonia, fria como aquela noite, fria como aquelas trevas, o Filho amado pode continuar com os olhos fixos no Pai! Só quem reza vê a Deus, só quem reza caminha diante de Deus, só quem reza sabe a vontade de Deus, só quem reza pode discernir os caminhos de Deus!

Agonia no Getsêmani - Duccio di Buoninsegna

Por isso, nesta hora tremenda, a advertência de Jesus à Sua Igreja, a cada um de nós: “Orai para não entrardes em tentação”. Não há outro caminho! “Vigiai, unidos a Mim, Comigo orando, sempre orando! Orai para estardes Comigo, orai para ritmar vosso coração no ritmo do Meu, orai para que vossa luta seja a Minha luta e vosso combate o Meu combate! Orai para sentirdes como Eu, para verdes como Eu vejo!”.

Jesus reza em agonia, Jesus reza com a alma humana em trevas, Jesus reza na angústia que nós sentimos nos momentos de profunda treva da nossa existência! Ele, de verdade, experimentou a nossa agonia - e ainda maior, pois Sua dor era moral e espiritual: ali, naquele horto, Ele sentiu toda a densidade do pecado do mundo, da maldade dos homens, das trevas da história humana! Tudo parecia inútil, tudo sem sentido, tudo sem Deus! “Pai, onde estás? Pai, por que escondes Teu Rosto bendito que ilumina Meus dias?”. Silêncio! Deus Se cala!

quarta-feira, 16 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 5-6

“Eu rezei por ti, para que tua fé não se apague” (Lc 22,32).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas V: Lc 22,31-34

“Simão, Simão! Olha que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Eu, porém, rezei por ti, para que tua fé não se apague. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos”. Mas, Simão disse: “Senhor, eu estou pronto para ir Contigo até mesmo à prisão e à morte!” Jesus, porém, respondeu: “Pedro, Eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes tu negarás que Me conheces!” (Lc 22,31-34).

Quando leio este trecho do Evangelho recordo sempre do Bispo Emérito de Roma, Bento XVI, e das calúnias pesadas contra ele, sobretudo naquele triste 2009, Ano Sacerdotal, ano do escândalo da pedofilia... Jornais internacionais que, metodicamente, acusaram o Papa, caluniaram-no, mentiram contra ele, atribuíram-lhe uma culpa que ele não tinha de modo algum... Refinada obra do Diabo contra o servo de Cristo... Penso na solidão que aquele pobre Papa viveu, com a imprensa toda contra ele, acusando-o pelo gosto de acusar, simplesmente porque o detestava, porque ele colocava o dedo nas verdadeiras feridas de um mundo que virou as costas para Deus e o Seu Cristo... E penso no Salvador que diz, grave e meigo: “Simão, Simão! Olha que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Eu, porém, rezei por ti, para que tua fé não se apague”.

Diálogo de Jesus com os Apóstolos durante a Ceia - Duccio di Buoninsegna

- Senhor Jesus, que chamaste Pedro, que o escolheste, como misteriosamente escolhes os pastores da Tua Igreja, vê o quanto Satanás procura joeirar Tua eira, observa o quanto o Pai da Mentira investe contra aqueles que colocaste à frente da Tua Igreja, simplesmente porque pregam o Teu Evangelho sem desconto, sem falsificações, sem cederem ao mundo, cujo príncipe é o Diabo, Pai da Mentira! Mas, que consolo para cada pastor que Te é fiel, que consolo para nós: “Eu rezei por ti, para que tua fé não se apague!” - eis de onde vem a força dos verdadeiros pastores e a energia da Igreja: da Tua oração, Senhor, nosso Intercessor potente junto ao Pai! “Eu orei por ti, para que a tua fé não desfaleça! O sofrimento te amadurece, o sofrimento joga-te no Meu Coração mais e mais; a solidão faz com que busques refúgio só em Mim! E tu, uma vez convertido, uma vez mais abandonado em Mim e a Mim unido na Cruz, confirma os teus irmãos!”.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 3-4

“Estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27)

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas III: Lc 22,21-23

“Todavia, a mão de quem Me vai entregar está Comigo, nesta mesa. Sim, o Filho do Homem vai morrer, como está determinado. Mas, mas ai daquele homem por meio de quem Ele é entregue”. Então, os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros qual deles haveria de fazer tal coisa (Lc 22,21-23).

Que revelação tão surpreendente: um dos discípulos, um de nós, que comemos à Mesa do Senhor, que a cada Domingo partilhamos a Sua santa Eucaristia...

Caro irmão, quem dentre nós pode dizer que nunca negou o Senhor, que nunca O traiu, que nunca Lhe faltou? Um de nós...

Que o mundo odeie e fustigue o Senhor, nós já o sabemos - basta ver o tanto de maldade contra a Igreja, sua doutrina, sua reta Tradição apostólica, contra a verdade católica que ela traz e trará sempre no seu DNA! Mas, somos nós, Seus discípulos, às vezes mesmo pastores da Sua Igreja, que tanta vez O traímos com nosso pecado, com nossa infidelidade, com nossa incoerência, com nossa pouca generosidade em corresponder ao Seu amor!

Lava pés - Duccio di Buoninsegna

O Filho do Homem (frágil como todo filho de Adão, mas também misterioso e grande como aquele Filho do Homem anunciado por Daniel como Juiz dos últimos tempos), o Filho do Homem vai morrer, pois está misteriosamente determinado pelo Pai. Mas, isto em nada tira a responsabilidade humana: a de Judas, a minha, a sua... Ai daquele por quem o Filho do Homem for entregue! Ai de mim, pelos meus pecados! Ai de mim por minhas infidelidades e omissões! Ai de mim, que a providência do Senhor Deus que tudo dirige em nada fere ou diminui a minha liberdade e minha responsabilidade!

Senhor Jesus, Salvador nosso! Nem preciso Te perguntar! Eu sei que sou eu, sei que Te entrego tantas vezes com meu pecado!

Ajuda-me, ó Redentor, para que eu não Te entregue como Judas, não Te renegue como Pedro, não fuja como os Doze, mas, como o Bom Ladrão, diga: Jesus, lembra-Te de mim quando vieres no Teu Reino!

quarta-feira, 9 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 1-2

“Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal” (Lc 22,15).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas I: Lc 22,14-18

Quando chegou a hora, Jesus pôs-Se à mesa com os apóstolos e disse: “Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de sofrer. Pois Eu vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no Reino de Deus”. Então Jesus tomou um cálice, deu graças e disse: “Tomai este cálice e reparti entre vós; pois Eu vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus” (Lc 22,14-18).

Palavras tremendas, estas de Jesus, na Paixão que escutamos neste Domingo de Ramos...

Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal!” Cada um de nós deveria escutar, de modo grato, comovido, esta revelação tão doce do Coração do nosso Salvador! Estas palavras, ditas naquele Cenáculo de Jerusalém, ecoam de geração em geração de cristãos e, chegam hoje aos nossos ouvidos - quem dera chegassem também ao nosso coração: ardentemente, o Salvador deseja comer Sua Páscoa deste ano conosco; Sua única e eterna Páscoa, tornada verdadeiramente presente e atuante em cada Celebração pascal! Este não é tempo de viagens, de passeios, de casas de praia ou de campo; este é tempo de comer com o Senhor e com os irmãos reunidos em Igreja a Sua Ceia pascal!

Última Ceia - Duccio di Buoninsegna

Jesus sabia que iria morrer, sabia do sacrifício tremendo, do drama horrendo que O esperava e O colocava todo presente nesta Ceia, Ceia comida “antes de sofrer”. Esta Ceia é a Ceia do Seu Sacrifício, a Ceia bendita na qual a Igreja celebrará, até que Seu Esposo volte, o Banquete do Seu Sacrifício pascal! E aí vem a revelação misteriosa, profunda, forte: “Nunca mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus!” É a última refeição pascal do Senhor Jesus neste mundo.

terça-feira, 8 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: A Paixão de Cristo segundo Lucas

“Senhor, és amor! Senhor, és perdão! Senhor, és entrega da própria vida!” (Dom Henrique Soares da Costa)

Dentre as práticas devocionais recomendadas pela Igreja para o Tempo da Quaresma e para a Semana Santa encontra-se a leitura da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo:

“A Igreja exorta os fiéis à leitura frequente, individual e comunitária, da Palavra de Deus. Ora, não há dúvida de que, entre as páginas bíblicas, a narrativa da Paixão do Senhor tem um especial valor pastoral (...). No tempo da Quaresma, o amor para com Cristo Crucificado deverá levar as comunidades cristãs a preferir, sobretudo na quarta e na sexta-feira, a leitura da Paixão do Senhor” (Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 130).

A sexta-feira, com efeito, é o dia da Morte do Senhor, enquanto a quarta-feira, segundo a tradição, teria sido o dia em que Judas tramou entregar Jesus, dando início ao drama da Paixão. Esses dois dias são associados tanto às “estações quaresmais romanas” quanto às Quatro Têmporas do Ano Litúrgico.

Dom Henrique venera a cruz de nosso Senhor

No Rito Romano, lemos a Paixão segundo João sempre na Sexta-feira Santa, durante a Celebração da Paixão do Senhor. Os outros três relatos, por sua vez, são lidos no Domingo de Ramos, seguindo o ciclo trienal: Mateus no ano A, Marcos no ano B e Lucas no ano C.

Assim, ao longo das próximas quartas e sextas-feiras publicaremos aqui em nosso blog uma série de 18 meditações sobre a Paixão segundo Lucas de autoria de Dom Henrique Soares da Costa (†2020), que foi o Bispo de Palmares (PE), publicadas em suas redes sociais durante a Quaresma de 2019.

Cabe recordar que Dom Henrique seguiu nessas meditações a forma longa da Paixão proclamada no Domingo de Ramos do ano C (Lc 22,14–23,56), que começa com a Última Ceia. A forma breve (Lc 23,1-49), por sua vez, começa com o julgamento de Jesus por Pilatos.

Confira abaixo os links para cada uma das meditações, que iremos atualizando à medida que forem publicadas:

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas




Dom Henrique durante a Celebração da Paixão do Senhor



sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 13-14

Há exatos dois meses, no dia 18 de julho de 2020, aos 57 anos, falecia Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE), vítima de Covid-19.

Para honrar a memória deste grande Bispo, desde o último dia 10 estamos divulgando aqui em nosso blog uma série de textos sobre a Eucaristia publicados por Dom Henrique no último mês de junho. 

Seguem, pois, os dois últimos textos, nos quais Dom Henrique reflete sobre a estrutura da Celebração Eucarística e sobre a "presença real":

A Eucaristia XIII
15 de junho de 2020

Apresentamos alguns aspectos teológicos da Eucaristia. Vejamos, agora, a estrutura da Celebração Eucarística, isto é, como se organiza, como se desenvolve a Celebração deste Sacrifício em forma ritual de Banquete.

Já vimos, num dos tópicos anteriores, São Justino descrevendo, no século II, a celebração. Os elementos básicos de então permanecem ainda hoje. Primeiramente, segundo antiga tradição, a Missa divide-se em duas grandes partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Na primeira parte, a Palavra de Deus é proclamada e, na homilia, interpretada à luz do Cristo Jesus, de modo a iluminar a vida dos cristãos na sua situação concreta do dia-a-dia. Após a proclamação da Palavra, pelo Credo e a Oração dos fiéis, respondemos ao Deus que nos falou. Assim termina a primeira parte da Celebração, toda ela centrada no ambão (a estante donde se faz as leituras e a homilia) - é a Mesa da Palavra!

A segunda parte da Eucaristia é a mais importante: a Liturgia Eucarística, cujo centro é o Altar, que simboliza o próprio Cristo Jesus, pedra angular da Igreja. Nesta parte da Missa, a Igreja torna presentes os quatro gestos de Jesus: Ele (1) tomou o pão, (2) deu graças, (3) partiu e (4) distribuiu, mandando que fizéssemos isso em Sua memória. Vejamos como estes quatro gestos se desenrolam na Celebração.

Jesus tomou o pão. Este gesto do Senhor é tornado presente na apresentação das ofertas ao Altar: pão, vinho e água, que simbolizam tudo quanto a criação e o nosso trabalho produzem e que, em nome de toda a criação, unidos ao Filho Jesus, oferecemos ao Pai na força do Espírito Santo. Nesse momento também, segundo antiquíssima tradição da Igreja, os membros da Comunidade dão suas esmolas: o que se trouxe para os pobres e para a manutenção da Casa de Deus e despesas da Comunidade paroquial.

Ele deu graças (quer dizer, Ele fez eucaristia = ação de graças). A Igreja torna presente este gesto do Senhor na grande Oração eucarística, que vai do prefácio da Missa até a doxologia (o “por Cristo, com Cristo, em Cristo”). Aí, ela recorda (faz memorial) ao Pai tudo quanto Cristo fez por nós. O celebrante, em nome de toda a Comunidade eclesial, pede ao Pai que derrame o Espírito do Cristo ressuscitado sobre o pão e o vinho para que eles, pelas palavras da consagração, cheias de Espírito Santo criador e recriador, sejam eucaristizados, transformando-se no Corpo e no Sangue do Ressuscitado - é a consagração. É importante observar que a narração da consagração não é feita à assembleia ali presente, mas ao Pai: é a Ele que a Igreja recorda tudo quanto o Senhor Jesus fez para nossa salvação, é diante Dele, Pai de Jesus e nosso Pai, que a Igreja celebra o memorial da Morte e Ressurreição de Cristo. É como se o celebrante dissesse: “Ó Pai, recorda-Te do Teu Filho Jesus. Ele, na noite em que foi entregue...” Em seguida, ainda na grande Oração Eucarística, o celebrante pede pela Igreja, pelos ministros sagrados e pelo inteiro Povo de Deus, pelos vivos e mortos, pelo mundo inteiro, crentes e descrentes, tudo isso ao Pai, por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo. E a Comunidade responde “Amém!”, deixando claro que a oração do celebrante foi oração de toda a Igreja. Neste “Amém” que encerra a grande Oração exprime-se maravilhosamente o ministério sacerdotal, sacerdócio do Reino, de todo o Povo de Deus! Assim termina a grande Eucaristia (ação de graças), o segundo gesto do Cristo Jesus.

Aí, vem a preparação para a comunhão, com a oração do Pai-nosso. Depois, o celebrante faz memória do terceiro gesto de Cristo: Ele partiu o pão. Só aí - e não antes - é que o Pão consagrado deve ser fragmentado! Este gesto é muito importante, pois recorda o próprio Jesus nosso Senhor: os Seus discípulos o reconheceram ao partir o pão.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 12

Desde o último dia 10 de setembro estamos publicando uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte, ocorrida no dia 18 de julho.

Nos últimos textos Dom Henrique refletiu sobre a Eucaristia como "mistério de comunhão". Na publicação que divulgamos aqui, o grande Bispo destaca outra dimensão: a Eucaristia, fonte e cume da missão da Igreja:

A Eucaristia XII
13 de junho de 2020

Exploremos, agora, mais um tópico, desta riquíssima realidade que é a Eucaristia. Veremos agora como toda a missão da Igreja deriva da Eucaristia.

Um dos nomes dados à Celebração eucarística é o de “Missa”, “porque a Liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o envio (missio) dos fieis para que cumpram a vontade de Deus na sua vida cotidiana” (Catecismo, 1332). “Ide!” - é a última palavra de Missa. Ide para testemunhar o que vivestes, o que celebrastes! Acabastes de escutar o Senhor que vos falou nas Escrituras; acabastes de comer e beber com Ele e O reconhecestes ao partir o pão (cf. Lc 24,35). Agora, deveis levantar-vos e ir adiante, testemunhando que o Senhor está vivo, que Ele caminha conosco! Eis o sentido do termo “missa”. A Missa termina com o envio à missão de testemunhar o Cristo com nossa palavra e com nossa vida. Em certo sentido, ao participarmos da santa Missa e terminarmos a Celebração, os nossos sentimentos e atitudes devem ser os mesmos dos primeiros cristãos dando testemunho do Ressuscitado: “Deus o ressuscitou ao terceiro dia e concedeu-Lhe que Se tornasse visível, não a todo o povo, mas às testemunhas anteriormente designadas por Deus, isto é, a nós, que comemos e bebemos com Ele, após Sua Ressurreição dentre os mortos. E ordenou-nos que proclamássemos ao povo e déssemos testemunho de que Ele é o Juiz dos vivos e dos mortos, como tal constituído por Deus” (At 10,40-42). Ou seja: participar da Eucaristia, ouvindo o Ressuscitado, comendo e bebendo com Ele, faz de cada cristão e de cada comunidade cristã testemunhas e anunciadores do Cristo pascal diante do mundo! É precisamente a convivência com o Senhor no Banquete eucarístico que faz sempre de novo a Igreja uma comunidade de missionários, de testemunhas, de anunciadores!

Mais ainda: encontrar na Eucaristia o Senhor imolado e ressuscitado, como Se encontra na Glória e como a Igreja inteira e cada um de nós irá encontrá-Lo no Dia final, compromete os cristãos a consagrarem todo o mundo ao Senhor para que tudo seja santificado e transfigurado no mundo que há de vir. A Encíclica Ecclesia de Eucharistia afirma: “Consequência significativa da tensão escatológica presente na Eucaristia é o estímulo que dá à nossa caminhada na história, lançando uma semente de ativa esperança na dedicação diária de cada um aos seus próprios deveres. De fato, se a visão cristã leva a olhar para o ‘novo céu’ e a ‘nova terra (Ap 21,1), isso não enfraquece, antes estimula o nosso sentido de responsabilidade pela terra presente. Desejo reafirmá-lo com vigor (...) para que os cristãos se sintam ainda mais decididos a não descurar os seus deveres de cidadãos terrenos. Têm o dever de contribuir com a luz do Evangelho para a edificação de um mundo à medida do homem e plenamente conforme ao desígnio de Deus” (n. 20).

Ao participar do Banquete eucarístico, no qual Cristo entrega-Se pelo mundo inteiro, no qual as realidades deste mundo, pão e vinho, são transfiguradas no Corpo e no Sangue do Senhor, o cristão, como membro do Povo sacerdotal, tem o dever sagrado de consagrar o mundo para o Senhor. Isto se realiza assumindo com amor e responsabilidade as tarefas e desafios de cada dia, procurando, nas realidades temporais, testemunhar e edificar o Reino de Deus que Cristo pregou e inaugurou pela Sua existência humana, até a Morte e Ressurreição.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 10-11

Desde o último dia 10 de setembro estamos publicando uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

Nos últimos textos Dom Henrique refletiu sobre a "presença real" e a Eucaristia como "mistério de comunhão", tema este que continuará aprofundando nos textos que publicamos aqui:

A Eucaristia X
12 de junho de 2020

Continuemos a pensar a Eucaristia como mistério de comunhão...

Estas exigências de comunhão provocadas pela Comunhão eucarística fazem com que aqueles que não estão em comunhão com o Senhor e com a Igreja no âmbito da vida não possam comungar no âmbito sacramental: “Que cada um examine a si mesmo antes de comer desse Pão e beber desse Cálice” (1Cor 11,28).

O que rompe a comunhão? Basicamente, o pecado, pois fratura a união com Cristo e com a Igreja, Seu Corpo.

Assim, quem se encontra em pecado grave contra o Senhor e contra os irmãos, deve, portanto, aproximar-se antes do sacramento da Reconciliação para poder participar do Corpo do Senhor. Nunca esqueçamos de que o pecado, como acabamos de afirmar, é ruptura de comunhão com Deus em Cristo e com o Seu Corpo, que é a Igreja: “Nesta linha, o Catecismo da Igreja Católica estabelece justamente: ‘Aquele que tiver consciência dum pecado grave, deve receber o sacramento da Reconciliação antes de se aproximar da Comunhão’. Desejo, por conseguinte, reafirmar que vigora ainda e sempre há de vigorar na Igreja a norma do Concílio de Trento que concretiza a severa advertência do Apóstolo Paulo, ao afirmar que, para uma digna recepção da Eucaristia, ‘se deve fazer antes a confissão dos pecados, quando alguém está consciente de pecado mortal’. A Eucaristia e a Penitência são dois sacramentos intimamente unidos. Se a Eucaristia torna presente o sacrifício redentor da cruz, perpetuando-o sacramentalmente, isso significa que deriva dela uma contínua exigência de conversão, de resposta pessoal à exortação que São Paulo dirigia aos cristãos de Corinto: ‘Suplicamo-vos em Nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus’ (2Cor 5,20). Se, para além disso, o cristão tem na consciência o peso dum pecado grave, então o itinerário da penitência através do sacramento da Reconciliação torna-se caminho obrigatório para se abeirar e participar plenamente do sacrifício eucarístico” (Ecclesia de Eucharistia, nn. 36-37).

É sempre útil recordar que os pecados graves dizem respeito também à vida da comunidade cristã: quem divide a comunidade, quem não aceita construí-la com seus dons e talentos, quem se fecha sobre si mesmo, desprezando a comunidade, que é corpo do Senhor, torna-se inapto para participar do Corpo do Senhor. Do mesmo modo, aquele que rompe gravemente com o irmão, a ponto de não mais reconhecê-lo como tal, também não deve participar do Corpo eucarístico de Cristo.

Outro nível de comunhão, exigido pela Eucaristia, é o da comunhão na mesma doutrina recebida dos Apóstolos e a comunhão com os legítimos pastores da Igreja, de modo particular com o Bispo de Roma, Sucessor de Pedro e os Bispos em comunhão com ele. A quebra dos vínculos visíveis de comunhão torna impossível a comunhão no mesmo Corpo eucarístico do Senhor. A este propósito, assim se exprime a Encíclica de São João Paulo II: “A Eucaristia, como suprema manifestação sacramental da comunhão na Igreja, exige, para ser celebrada, um contexto de integridade dos laços, inclusive externos, de comunhão. De modo especial, sendo ela como que a perfeição da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos requer que sejam reais os laços de comunhão nos sacramentos, particularmente no Batismo e na Ordem sacerdotal. Não é possível dar a comunhão a uma pessoa que não esteja batizada ou que rejeite a verdade integral de fé sobre o Mistério eucarístico. Cristo é a Verdade, e dá testemunho da verdade (cf. Jo 14,6; 18,37); o sacramento do Seu Corpo e Sangue não consente ficções” (Ecclesia de Eucharistia, n. 38).

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 8-9

Desde o último dia 10 de setembro estamos publicando uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

Nos últimos textos Dom Henrique refletiu sobre a Eucaristia como "sacrifício" e como "banquete" ou "refeição". Nas publicações que divulgamos aqui ele reflete sobre outras duas dimensões desse sacramento: a "presença real" e a "comunhão":

A Eucaristia VIII
11 de junho de 2020

O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Cristo Jesus, Aquele que morreu, ou melhor, ressuscitou, Aquele que está à Direita de Deus e que intercede por nós (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em Sua Igreja: em Sua Palavra, na oração de Sua Igreja, lá onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos presos, em Seus sacramentos, dos quais Ele é o autor, no Sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas sobretudo está presente sob as Espécies eucarísticas (n. 1373).

É verdade que o Senhor Jesus, na força do Seu Espírito, está presente de modos variadíssimos na Sua Igreja, mas, sobretudo, de um modo eminente, Ele Se faz presente no pão e no vinho consagrados na Eucaristia. Ali, Ele está presente do modo mais intenso que se possa encontrá-Lo neste mundo! Ele, que na Última Ceia Se entregou no pão e no vinho, dizendo “isto é o Meu Corpo, isto é o Meu Sangue”, é Aquele mesmo que havia antes prevenido de modo solene: “Em verdade, em verdade, vos digo: ‘Aquele que crê tem a Vida eterna. Eu sou o Pão da vida! A Minha Carne é verdadeiramente uma comida e o Meu Sangue é verdadeiramente uma bebida” (Jo 6,47s.55). Sendo assim, se em todos os sacramentos, Jesus Cristo atua através de sinais sensíveis que, sem mudarem de natureza, adquirem uma capacidade transitória de santificação, como potentes e eficazes instrumentos da graça salvífica do Senhor, na Eucaristia, Ele está presente de modo excelente e pleno com o Seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade, dando ao homem toda a Sua Pessoa e a Sua Vida divina, tudo quanto viveu entre nós amorosamente, até o extremo da entrega na Cruz. Tudo isso está presente no pão e no vinho consagrados.

A Igreja sempre acreditou nesta maravilhosa realidade e insondável mistério da presença real do Senhor Jesus. Com a transformação ocorrida na consagração das Espécies eucarísticas, o Senhor torna-Se presente no seu Corpo e Sangue. Os Santos Padres, doutores da Igreja antiga, para exprimir a mudança do pão e do vinho no Corpo e Sangue do Senhor, falavam de “metabolismo” do pão e do vinho em Corpo e Sangue.

São Tomás de Aquino recordava que a Eucaristia é o sacramento da presença de Cristo. Isso a distingue dos outros sacramentos. O Santo Doutor dizia que ela “re-presenta” Cristo, no sentido de tornar Cristo realmente presente, já que a Eucaristia não é uma devota recordação, mas a presença efetiva, real, verdadeira e eficaz do Senhor morto e ressuscitado, que quer atingir todos os homens. E ele explicava ainda que o significado do Sacramento é tríplice: “O primeiro diz respeito ao passado, enquanto comemora a Paixão do Senhor, que foi um verdadeiro Sacrifício... Por isso, é chamado sacrifício. O segundo diz respeito ao efeito presente, ou seja, à unidade da Igreja, em que os homens são reunidos por meio deste Sacramento. O terceiro significado diz respeito ao futuro: pois este Sacramento é prefigurativo da Bem-aventurança divina, que se realizará na Pátria”. Também São Boaventura contribuiu para a teologia da Eucaristia, insistindo no espírito de piedade necessário para comungar Cristo. Recorda-nos ele que, na Eucaristia, além das palavras da Última Ceia, realiza-se a promessa do Senhor: “Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Portanto, no Sacramento, Ele está real e verdadeiramente presente na Igreja.

Foi o Concílio de Trento que, como Magistério da Igreja, melhor exprimiu esta presença real do Senhor. O Concílio insistiu na presença verdadeira, real e substancial do Senhor Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sob as espécies do pão e do vinho. Afirmou, do mesmo modo, que o Corpo do Senhor está presente não só no pão, mas também no vinho, e que o Seu Sangue está presente não só no vinho, mas também no pão. Em outras palavras: Jesus, nosso Senhor, não está parte no vinho e parte no pão, mas Se encontra real e perfeitamente todo no vinho e todo no pão. Explicou também que, em ambas as espécies, o Senhor Jesus Cristo está presente com a Sua Alma humana e com a Sua Divindade. Portanto, Cristo, Verbo do Pai, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está presente todo inteiro sob as duas espécies e em cada parte delas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 6-7

Iniciamos no último dia 10 de setembro de 2020 a publicação de uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

No último texto Dom Henrique apresentou alguns textos dos primeiros escritores cristãos sobre a Eucaristia. Nos dois textos que publicamos aqui o grande Bispo reflete sobre a Eucaristia como "sacrifício" e como "banquete" ou "refeição":

A Eucaristia VI
11 de junho de 2020

Depois de apresentar alguns tópicos mais gerais sobre o Sacramento da Eucaristia, vejamos agora alguns aspectos específicos deste Mistério tão rico e central para a nossa fé. Vou fazê-lo tendo consciência de que por mais que escreva aqui, muito mais resta por dizer! Minha intenção é tão somente ajudar os irmãos de fé a saborear e viver sempre melhor este inestimável dom que o Senhor concedeu à Sua Igreja para que não vivamos para nós, mas o Cristo que por nós e para nós Se entregou e perpetua entre nós a Sua eterna entrega no Sacramento eucarístico!

Assim diz o Catecismo da Igreja: “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a Páscoa de Cristo, e esta se torna presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na Cruz torna-se sempre atual: Todas as vezes que se celebra no Altar o sacrifício da Cruz, pelo qual Cristo nossa Páscoa foi imolado, efetua-se a obra da nossa redenção. Por ser memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical a Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: ‘Isto é o Meu Corpo que será entregue por vós’, e ‘Este cálice é a nova Aliança em Meu Sangue, que vai ser derramado por vós’ (Lc 22,19s). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo Corpo que entregou por nós na Cruz, o próprio Sangue que ‘derramou por muitos para remissão dos pecados’ (Mt 26,28)” (Catecismo, n. 1365).

A Celebração Eucarística é, portanto, memorial, isto é, o tornar-se presente, no aqui e no agora da vida da Igreja e da vida de cada um de nós, daquele único e irrepetível Sacrifício que Jesus, nosso Salvador, ofereceu na Cruz e que, para sempre, encontra-se no Santuário eterno dos Céus, no seio da Trindade Santa, onde Ele, Sacerdote eterno, oferece-Se como Vítima eterna num eterno Sacrifício, como Cordeiro gloriosamente imolado (cf. Hb 7,20–8,5; Ap 5,6). “O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único Sacrifício: ‘É uma só e mesma Vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que Se ofereceu a Si mesmo então na Cruz. Apenas a maneira de oferecer difere” (Catecismo, n. 1367).

Assim, a Eucaristia torna presente, “presentifica”, o único e irrepetível sacrifício do Cristo salvador; sacrifício que o Senhor Jesus deu à Sua Igreja para que ela o ofereça até que Ele venha em Sua Glória. Por isso mesmo, é chamado de Sacrifício de louvor, Sacrifício espiritual (porque oferecido na força do Espírito Santo), sacrifício puro e santo (porque sacrifício do próprio Cristo Jesus). Este santo sacrifício da Missa leva à plenitude todos os sacrifícios de todas as religiões e, particularmente, aqueles do Antigo Testamento. Podemos até recordar as palavras da profecia de Malaquias, na qual Deus prometia a Israel um sacrifício perfeito ao Seu Nome: “Sim, do levantar do sol ao seu poente o Meu Nome será grande entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao Meu Nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura” (Ml 1,11). Cristo, com Seu Sacrifício único e irrepetível, que entregou à sua Igreja para celebrá-lo até que Ele venha, ofereceu este Sacrifício, cumprindo a profecia.

Quando a Igreja fala em sacrifício de Cristo, ela não pensa simplesmente no que aconteceu no Calvário. Toda a existência humana de Jesus, nosso Salvador, teve um caráter sacrifical. O autor da Carta aos Hebreus, falando do Cristo o momento de Sua Encarnação, afirma: “Ao entrar no mundo, Ele afirmou: ‘Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-Me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do Teu agrado. Por isso Eu digo: Eis-Me aqui, - no rolo do livro está escrito a Meu respeito – Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade’” (Hb 10,5).

sábado, 12 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 5

Iniciamos no último dia 10 de setembro de 2020 a publicar uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

Nos últimos dois textos Dom Henrique refletiu sobre "a Eucaristia na Bíblia". Nesta quinta postagem ele apresenta alguns textos dos primeiros escritores cristãos sobre esse sacramento:

A Eucaristia V
11 de junho de 2020

Nos últimos dois tópicos, vimos textos da Sagrada Escritura que tratam da Eucaristia. Agora, veremos alguns textos da Igreja antiga, que mostram bem o quanto a Comunidade cristã sempre celebrou e viveu o Sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor.

Santo Inácio de Antioquia, mártir de Cristo, lá pelo final dos anos 90 do século I da Era cristã, aconselhava aos efésios: “Procurai, pois, reunir-vos com mais frequência, para dar a Deus a ação de graças (fazer a Eucaristia) e louvor. Porque quando vos congregais com frequência num mesmo lugar, quebram-se as forças de Satanás”. Para o santo Bispo de Antioquia, a Eucaristia, único Corpo do Senhor, é sacramento (isto é, sinal eficaz, operante, que torna presente e atuante o que é celebrado nos símbolos e ritos) da unidade da Igreja.

Aos filadélfios, ele exortava: “Esforçai-vos, portanto, para usar uma só Eucaristia, pois uma só é a Carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só é o cálice que nos une no Seu Sangue, um só altar, como um só Bispo junto com o presbitério e com os diáconos”. É importante observar como a Eucaristia não é uma realidade privada, para simples piedade pessoal e íntima, mas é o Sacramento que nos une a Cristo, como membros do Seu Corpo e, assim, nos une reciprocamente no Senhor, fazendo-nos Igreja Corpo de Cristo. A Eucaristia gera a Igreja e dela é Sacramento!

Sendo conduzido preso para Roma para ser jogado às feras por causa de Cristo, Santo Inácio assim escrevia aos romanos: “Não sinto prazer pela comida corruptível nem pelos deleites desta vida. Quero o pão de Deus, que é a Carne de Jesus Cristo e por bebida, quero o Sangue Dele, o qual é a caridade incorruptível”. Compreendamos: o sangue derramado, isto é, a vida entregue livremente por amor, é a máxima manifestação do amor-caridade do Senhor por nós, caridade incorruptível!

Outro belo testemunho encontra-se na Didaqué, que é praticamente o primeiro catecismo da Igreja, escrito lá pelo final do século I. Com palavras que hoje emocionam qualquer católico, o autor, no início do cristianismo, orienta os cristãos sobre o modo de celebrar o Sacramento da Missa: “No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira: primeiro sobre o cálice, dizendo: ‘Nós Te damos graças (eucharistoumen = Te fazemos Eucaristia), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, Teu Servo (a vinha é a Igreja, Davi é o Cristo, o Ungido do Pai), que Tu revelaste por Jesus, Teu Servo. A Ti a glória pelos séculos! Amém’. Sobre o pão a ser fracionado: ‘Nós Te agradecemos, nosso Pai, pela Vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, Teu Servo. A Ti a glória pelos séculos. Amém. Ó Pai, da mesma maneira como este pão partido fora primeiro semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim, das extremidades da terra seja unida a Tua Igreja em Teu Reino!’ Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em Nome do Senhor. Pois a respeito dela o Senhor disse: ‘Não deis aos cães as coisas santas!’”.

Observemos como neste texto a Eucaristia aparece como ação de graças ao Pai por Jesus, o Messias, e como o Sacramento que reúne a Igreja na unidade. Insisto: a Eucaristia nunca foi concebida pelos cristãos simplesmente como comunhão da hóstia, desvinculada do contexto do Banquete sacrifical e nunca foi pensada como uma realidade a ser recebida para o deleite privado! Não: ela é Sacramento da própria Igreja, Corpo do Senhor! Nós dela participamos como membros desse Corpo e para a edificação e divinização do Corpo! É como membros do Corpo do Senhor, membros do Povo santo de Deus, Povo da nova e eterna Aliança, que participamos do Sacrifício eucarístico e comungamos no Corpo eucarístico para estarmos na comunhão do Corpo eclesial!

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 3-4

Iniciamos ontem, dia 10 de setembro de 2020, a publicar uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

Após apresentar "os nomes da Eucaristia" nos dois primeiros textos, nos dois seguintes este grande Bispo reflete sobre "a Eucaristia na Bíblia":

A Eucaristia III
10 de junho de 2020

Em dois textos pretéritos, já vimos, de modo geral, o que é a Eucaristia. Vimos também os vários nomes que são dados a este Sacramento e seus vários significados. Agora vejamos como ele está presente na Sagrada Escritura.

Já durante os dias da Sua carne, no Seu ministério público, o Senhor Jesus foi dando indicações daquilo que depois seria este santo Sacramento. Vejamos algumas, mais significativas.

Primeiramente dois sinais particularmente importantes, realizados pelo Senhor: Ele transformou água em vinho e multiplicou os pães. Mais ainda: várias vezes comparou o Reino de Deus a um banquete: um banquete que teria como convivas pessoas de todas as nações e que seria pleno e eterno na consumação do Reino de Deus, banquete ao qual seriam chamados os pobres, os afastados, os pecadores, os que não tinham esperança, banquete cuja graça é participar da Vida do próprio Deus.

Sobretudo em Jo 6,51ss, as palavras de Cristo são bem claras: “Eu sou o Pão descido do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. O pão que Eu darei é a Minha Carne para a vida do mundo. Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a Vida em vós. Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a Vida eterna, pois Minha Carne é verdadeiramente comida e Meu Sangue é verdadeiramente bebida. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que come de Mim, viverá por Mim”. O texto não permite pensar em metáforas; trata-se, ao invés, de algo real, concreto: o pão e o vinho eucarísticos são, realmente, o Corpo e o Sangue do Senhor.

E isto aparece ainda mais claro no contexto mesmo da Última Ceia: contexto de entrega da própria existência, feita louvor oblativo ao Pai e serviço de dar a vida pelos irmãos: Corpo dado, Sangue derramado! Por isso mesmo, os Evangelhos, quando narram a multiplicação dos pães, usam sempre as mesmas palavras para indicar os gestos de Jesus na Última Ceia: Ele tomou o pão, deu graças, partiu e distribuiu (cf. Mt 14,13-21; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13; Mc 8,1-10). A Eucaristia, já preparada pelo Cristo, foi por Ele instituída na Última Ceia: aí o Senhor deu à Igreja o mandamento do amor - Ele mesmo, que nos amou até o extremo da Cruz e da Sepultura e colocou-Se como modelo e medida do amor. E para deixar o Sacramento, o penhor desse amor mais forte que a morte, instituiu a Eucaristia como memorial de Sua Morte e Ressurreição, de Sua entrega amorosa, pascal! Assim, no momento de fazer Sua Passagem (isto é, Sua Páscoa) do mundo para o Pai através de Sua entrega de amor na Cruz, o Cristo Jesus deixou para a Sua Igreja o sacramento de Sua Páscoa de amor: o Sacrifício eucarístico! Cumpriu-se, assim, a Páscoa dos judeus, que era memorial da passagem da escravidão de morte no Egito para uma libertação de vida na Terra Prometida. Jesus deu à Páscoa dos judeus o seu significado definitivo: a nova Páscoa, Páscoa do Cristo Jesus, foi antecipada na Ceia, é continuamente celebrada na Eucaristia, que leva a cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja, quando passaremos deste mundo para o Pai com Jesus Senhor e por causa de Jesus Senhor.

É interessante insistir que a instituição da Eucaristia por Cristo dá-se no contexto, no clima, de entrega e sacrifício de Sua vida: “É o Meu Corpo, que será entregue; é o Meu Sangue, que será derramado...”. Finalmente, o Senhor ordena que a Igreja celebre o Seu gesto até que Ele venha (cf. 1Cor 11,26). Foi isto que a Igreja sempre fez ao celebrar a Eucaristia. O Novo Testamento nos dá muitíssimos exemplos disso. Desde o início, a Igreja foi fiel à Fração do Pão (cf. At 2,42.46). Sobretudo no primeiro dia da semana, aquele dia que o Apocalipse chama já de “Dia do Senhor” (Ap 1,10), os cristãos se reuniam para partir o pão: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a Fração do Pão, Paulo entretinha-se com eles...” (At 20,7). Este texto é importante. Aqui aparece a Celebração Eucarística aos domingos, logo no início do cristianismo. Aquilo que a Igreja faz hoje - celebrar dominicalmente a Eucaristia -, sempre fez, desde a época apostólica, por ordem do Senhor Jesus! Assim, como diz o Catecismo da Igreja, “de celebração em celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus, ‘até que Ele venha’ (1Cor 11,26), o Povo de Deus avança, caminhando pela estrada da cruz, rumo ao Banquete celeste, quando todos os eleitos haverão de sentar-se à mesa do Reino” (n. 1344).

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 1-2

Há exatos três meses, no dia 10 de junho de 2020, Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE), iniciou uma série de publicações sobre a Eucaristia em seu blog Visão Cristã. Dom Henrique viria a falecer cerca de um mês depois, no dia 18 de julho, aos 57 anos, vítima de Covid-19.

Para honrar a memória deste grande Bispo, publicaremos aqui em nosso blog suas reflexões sobre a Eucaristia de hoje até o dia 18 de setembro, recordando os dois meses de sua morte.

Seguem, portanto, os primeiros dois textos, nos quais Dom Henrique reflete sobre "os nomes da Eucaristia":

A Eucaristia I
10 de junho de 2020

Aproveitando a Solenidade do Corpo do Senhor, Corpus Christi, vamos tratar de Eucaristia, o último dos sacramentos da Iniciação Cristã, o último dos sacramentos que nos inserem na vida do Cristo Morto e Ressuscitado, fazendo-nos plenamente cristãos. Trata-se do maior e mais sublime de todos os sacramentos, o Sacramento por excelência - o Santíssimo Sacramento!

A Eucaristia é o Sacramento e todos os outros somente podem ser chamados de sacramentos porque preparam para ela ou dela decorrem! O Batismo nos abre a porta para o banquete eucarístico, pois fomos todos batizados num só Espírito para formarmos um só Corpo na Ceia do Senhor (cf. 1Cor 12,13), a Confirmação, ao nos dar o Espírito como força, faz-nos membros vivos que edificam o Corpo do Senhor que é a Igreja, alimentando-nos com o Sacramento do Corpo presente no Altar, de modo que somos sempre, de novo, reunidos e alimentados num só Corpo, assumindo a parte da missão que o Espírito do Senhor nos dá para o bem da Igreja. O Sacramento da Penitência nos reinsere, pelo perdão, na assembleia eucarística, pois, reconciliados no Corpo, participamos do Corpo do Senhor. Depois, os sacramentos da missão, a Ordem e o Matrimônio, deveriam ser celebrados dentro da Eucaristia ou pelo menos, no caso do Matrimônio, com a Comunhão Eucarística, pois são sacramentos que servem à edificação da Igreja, Corpo do Senhor, seja pelo pastoreio, seja pela geração de novos membros e edificação da Igreja doméstica em cada família. Assim, tudo gira em torno da Eucaristia, lugar bendito, celebração sagrada, na qual o Cristo faz-Se Corpo imolado e ressuscitado para alimentar a Igreja e dela fazer o Seu Corpo, unindo a Si cada membro, de modo que todos comunguem no Santo Espírito para a glória do Pai!

Mas, como falar desse sacramento é muito complexo, dada a riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vou seguir o esquema do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e aprofundando-o. E vamos iniciar precisamente citando o Catecismo: “O nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do Seu Corpo e do Seu Sangue, para perpetuar no decorrer dos séculos, até Ele voltar, o sacrifício da Cruz, e para confiar, assim, à Igreja, Sua amada Esposa, o memorial da Sua Morte e Ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da Glória futura” (n. 1323).

Estas palavras resumem de modo admirável o sentido e a riqueza da Eucaristia. Já aqui é interessante observar algo muito importante: quando falamos em Eucaristia não estamos pensando primeiramente na hóstia e no vinho consagrados, mas sim na Celebração Eucarística, isto é, na Missa, sacrifício eucarístico do Corpo e do Sangue do Senhor, para perpetuar no decorrer dos séculos, até que Ele venha, o Sacrifício da Cruz! Então, a Eucaristia é a Missa! Mas, que significa “Missa”? Onde, nas Escrituras Sagradas, se fala nela?

No decorrer da história, este sacramento teve vários nomes, cada um deles sublinhando um aspecto deste mistério tão rico.

Primeiramente chamou-se “Eucaristia”, palavra grega que significa, “ação de graças” (muitos autores medievais traduziram errado como “boa graça”). O termo aparece muitas vezes no Novo Testamento e refere-se à bênção de ação de graças que tantas vezes Jesus, nosso Senhor, pronunciou nas Suas refeições com os discípulos: “E tomou o pão, deu graças (= eucaristizou), partiu e distribuiu-o entre eles, dizendo: ‘Isto é o Meu corpo que é entregue por vós’” (Lc 22,19); “O Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças (= eucaristizar), partiu-o...” (1Cor 11,23s). Na religião dos judeus, o Judaísmo, a bênção de ação de graças era proclamação das obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação. Israel dava graças pelas grandes obras do Senhor em seu favor. A bênção de ação de graças, sempre começando com as palavras “Bendito sejas Tu, Senhor, nosso Deus...”, é a expressão máxima da oração judaica. Foi assim também para o Senhor Jesus. Por isso, os cristãos, cumprindo a ordem do Cristo Senhor, celebram a ação de graças a Deus pela Sua grande obra, a maior de todas, que a toda engloba: ter entregado o Seu Filho desde a Encarnação até a consumação na Cruz, tê-Lo ressuscitado dos mortos e feito assentar-Se à Sua Direita na Glória. Portanto, celebrar a santa Eucaristia é bendizer e agradecer a Deus por tudo que nos fez pelo seu santo Filho Jesus.

sábado, 18 de julho de 2020

Nota de falecimento: Dom Henrique Soares da Costa

Faleceu na noite deste sábado, 18 de julho de 2020, aos 57 anos, Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Diocesano de Palmares (PE), vítima do coronavírus (Covid-19).


Dom Henrique nasceu em 11 de abril de 1963 na cidade de Penedo (AL). Foi ordenado sacerdote a 15 de agosto de 1992 na Arquidiocese de Maceió.

Como sacerdote exerceu os seguintes ofícios: reitor da igreja de Nossa Senhora do Livramento, professor no Seminário Arquidiocesano, Vigário Episcopal para os Leigos e Coordenador da Comissão Arquidiocesana de Formação Política, além de Cônego do Cabido Metropolitano.

Em 01 de abril de 2009 foi nomeado pelo Papa Bento XVI como Bispo Auxiliar de Aracaju (SE), sendo-lhe confiada a Sé Titular de Acufida. Recebeu a Ordenação Episcopal em 19 de junho do mesmo ano.

No dia 19 de março de 2014 o Papa Francisco nomeou Dom Henrique como Bispo de Palmares (PE). Tomou posse do ofício no dia 01 de junho do mesmo ano.

Dom Henrique sempre se destacou por sua fidelidade à doutrina, por seu zelo pela Liturgia e por seu intenso apostolado na internet. Que Deus o receba em sua glória e o recompense por todo o bem que fez!

Ó Deus, que chamastes ao ministério episcopal o vosso servo o Bispo Henrique Soares da Costa, colocando-o entre os sucessores dos Apóstolos, concedei-lhe também associar-se a eles no convívio eterno. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Dom Henrique Soares explica os dogmas marianos

Durante o Ano Mariano nacional em 2017, Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Diocesano de Palmares (PE), publicou uma série de breves vídeos em seu canal no Youtube explicando os quatro dogmas marianos: Maternidade Divina, Virgindade Perpétua, Imaculada Conceição e Assunção.

Seguem os vídeos na ordem em que foram publicados, que segue a ordem da história da salvação:

Imaculada Conceição:

Maternidade Divina:

Virgindade Perpétua:

Assunção: