quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Leitura litúrgica do Livro da Sabedoria (2)

“A vida dos justos está nas mãos de Deus, nenhum tormento os atingirá” (Sb 3,1)

Dando continuidade à nossa análise da leitura litúrgica do Livro da Sabedoria (Sb), depois de considerar a Missa, passamos aos sacramentos, sacramentais e à Liturgia das Horas.

Prosseguiremos a análise sob o critério da composição harmônica, proposto no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa [1]. A composição harmônica consiste na escolha dos textos em sintonia com a espiritualidade do tempo ou da festa litúrgica.

2. Leitura litúrgica de Sb: Composição harmônica

b) Sacramentos e sacramentais

Além da Celebração Eucarística, há textos de Sabedoria entre as opções de textos bíblicos a ser proferidos ad libitum (à escolha) nos dois sacramentos de Cura: a Reconciliação e a Unção dos Enfermos.

Para a celebração do Sacramento da Reconciliação são propostos dois textos [2]:
Sb 1,1-16: uma exortação a buscar o caminho da sabedoria-justiça;
Sb 5,1-16: o justo é encorajado a não temer o julgamento.

No Sacramento da Unção dos Enfermos, por sua vez, propõe-se o texto de Sb 9,9-11.13-18 [3], um trecho mais longo da oração de Salomão pedindo a sabedoria. Neste contexto, pede-se que a sabedoria guie o enfermo no momento de adversidade.

Mosaico representando o rei Salomão

Passando aos Sacramentais, encontramos perícopes de Sb em cinco Bênçãos. Primeiramente, para a Bênção de pessoas idosas propõe-se o elogio da velhice presente em Sb 4,8-9 ou, na forma breve desta bênção, Sb 4,8 [4].

Na Bênção de novo seminário sugere-se o texto de Sb 9,1-6.10-18 [5], o início e a conclusão da oração de Salomão pedindo a sabedoria. No mesmo sentido esta perícope aparece na Bênção de nova escola, durante a qual se pode ainda ler Sb 7,7-20 [6], um trecho do elogio de Salomão à sabedoria. Tanto o seminário quanto a escola deve ser, pois, locais onde se busca a sabedoria.

Para a Bênção do pão a Liturgia propõe-nos o texto de Sb 16,20-21.24-26 [7], um trecho da releitura do êxodo que recorda o maná, o pão que Deus enviou do céu.

A última das bênçãos com uma leitura do Livro da Sabedoria é também a última do Ritual: a Bênção para diversas circunstâncias. Aqui pode ser lido o texto de Sb 13,1-7 [8], que nos exorta a, através da beleza da criação, contemplar o próprio Criador.

c) Liturgia das Horas

Seguindo nosso percurso com a Liturgia das Horas, começamos pelas leituras longas, que são proferidas durante o Ofício das Leituras (sempre como 1ª leitura, uma vez que a 2ª é tirada dos escritos dos santos).

Como 1ª leitura do Ofício das Leituras do Comum de vários mártires no Advento, Natal e Quaresma lê-se Sb 3,1-15 [9], uma versão mais longa da perícope que apresenta o destino escatológico dos justos.

No Ofício das Leituras do Comum dos Doutores da Igreja no Advento, Natal e Quaresma proclama-se o texto de Sb 7,7-16.22-30 [10], um trecho da busca de Salomão pela sabedoria e o seu elogio.

Por fim, no Ofício das Leituras Comum dos Santos Homens no Advento, Natal e Quaresma temos como 1ª opção de leitura a perícope de Sb 5,1-15 [11]. Esta passagem do livro consiste em uma exortação ao justo a não temer o julgamento.

Passamos agora às leituras breves, proferidas durante as Laudes e a Hora Média do Ofício [12], que são mais numerosas:

Durante o Tempo do Natal, nas Laudes dos dias 05 e 12 de janeiro, lê-se Sb 7,26-27 [13], um trecho do elogio de Salomão à sabedoria. Aqui se proclama a sabedoria como reflexo da luz eterna, sendo a luz um tema recorrente neste tempo litúrgico.

O "sonho de Salomão" (cf. 1Rs 3,4-15)

Durante o Tempo da Quaresma, por sua vez, encontramos na Hora Média (9h) das segundas-feiras da Quaresma até a IV semana a perícope de Sb 11,23-24a [14], um elogio à misericórdia de Deus para com aqueles que se arrependem, texto bastante adequado à índole do tempo quaresmal.

Por fim, na Hora Média (9h) da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi), ouvimos o texto de Sb 16,20 [15]. Este é um trecho da releitura do êxodo feita por Sb, no qual o autor recorda o maná, o pão que Deus enviou do céu.

Passando ao Próprio dos Santos, isto é, às celebrações da Virgem Maria e dos santos com data fixa no calendário, temos outras três ocorrências de Sb:

Primeiramente, na Hora Média (12h) da Solenidade de São José (19 de março), lemos Sb 10,10 [16]. Este texto faz parte da releitura da história da salvação que abre a 3ª parte do livro, recordando a sabedoria que guiou o justo Jacó, antepassado de São José.

Na Hora Média (15h) da Festa da Visitação de Maria (31 de maio), proclama-se o texto de Sb 7,27b-28 [17], mais um trecho do elogio de Salomão à sabedoria, no qual o rei proclama que ela se comunica, de geração em geração, aos amigos de Deus. Tal texto encontra eco no cântico de Maria (Lc 1,46-55), particularmente no v. 50: “Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam”.

Por fim, na Hora Média (15h) da Festa de Santo Estêvão (26 de dezembro), meditamos o texto de Sb 3,1-2b.3b [18]. É um pequeno trecho da já referida perícope que proclama o destino final dos justos.

Concluindo nossa explanação das leituras breves de Sb em composição harmônica, chegamos aos Comuns dos Santos, com quatro textos:

Na Hora Média (15h) dos Comuns de vários Mártires e de um Mártir (exceto no Tempo Pascal), lemos o texto de Sb 3,1-2a.3b [19], como na Festa de Santo Estêvão, que referimos acima.

Nas Laudes do Comum dos Doutores da Igreja proclama-se Sb 7,13-14 [20]. Este é, como já vimos, um trecho do elogio de Salomão à sabedoria, texto recorrentemente associado ao seleto grupo dos Doutores e Doutoras da Igreja.

Para a Hora Média (9h) do Comum das Virgens, por sua vez, está previsto o texto de Sb 8,21a [21]. Trata-se da introdução à oração que Salomão fará no capítulo seguinte pedindo a sabedoria. Aqui se reconhece que esta, assim como a virgindade, só pode ser vivida como dom de Deus.

Por fim, na Hora Média (12h) do Ofício dos Fiéis Defuntos lemos a perícope de Sb 1,13-14a.15 [22], que proclama o poder de Deus sobre a morte.

O julgamento de Salomão
(Nicolas Poussin - séc. XVII)

Encerramos assim a segunda parte do nosso estudo sobre a leitura litúrgica do Livro da Sabedoria e com ela a análise sob o critério da composição harmônica. Na terceira e última parte dessa pesquisa analisaremos sua leitura semicontínua e os textos de Sb entoados como cânticos na Liturgia das Horas.

Para acessar a primeira parte dessa pesquisa, publicada no dia 01 de agosto, clique aqui.

Para acessar a terceira parte dessa pesquisa, publicada no dia 15 de agosto, clique aqui.

Notas:
[1] ALDAZÁBAL, José. A Mesa da Palavra I: Elenco das Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] RITUAL DA PENITÊNCIA. Tradução portuguesa para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus: 1999, pp. 94.96.
[3] RITUAL DA UNÇÃO DOS ENFERMOS E SUA ASSISTÊNCIA PASTORAL. Tradução portuguesa da edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 2000, p. 96.
[4] RITUAL DE BÊNÇÃOS. Tradução portuguesa da edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1990, pp. 95. 102.
[5] ibid., p. 181.
[6] ibid., p. 199.
[7] ibid., p. 422.
[8] ibid., p. 463.
[9] OFÍCIO DIVINO. Liturgia das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus, 1999, v. I, p. 1196; v. II, p. 1726. O Tempo Pascal e o Tempo Comum possuem outras leituras, oferecendo uma maior diversidade de textos.
[10] ibid., v. I, p. 1268; v. II, p. 1815.
[11] ibid., v. I, p. 1308; v. II, p. 1860.
[12] Nas Vésperas a leitura breve é tomada sempre do Novo Testamento (cf. ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 89).
[13] OFÍCIO DIVINO, v. I, pp. 475.562.
[14] ibid., v. II, pp. 86.143.200.258.
[15] ibid., v. III, p. 555.
[16] ibid., v. II, p. 1489.
[17] ibid., v. II, p. 1606; v. III, p. 1327.
[18] ibid., v. I, p. 1087.
[19] ibid., v. I, pp. 1203.1227; v. II, pp. 1737.1769; v. III, pp. 1580.1604; v. IV, pp. 1592.1616.
[20] ibid., v. I, p. 1274; v. II, p. 1823; v. III, p.1650; v. IV, p. 1662.
[21] ibid., v. I, p. 1293; v. II, p. 1844; v. III, p. 1670; v. IV, p. 1682.
[22] ibid., v. I, p. 1401; v. II, p. 1955; v. III, p. 1779; v. IV, p. 1791.

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