sábado, 30 de janeiro de 2016

Homilia: IV Domingo do Tempo Comum - Ano C

Santo Ambrósio
Do Tratado sobre o Evangelho de Lucas
“Nenhum profeta é aceito em sua pátria”

Em verdade vos digo que nenhum profeta é aceito em sua pátria. A inveja nunca se manifesta moderadamente: esquecendo o amor, converte em ódios cruéis as causas do amor. Tu esperas em vão o bem da misericórdia celestial, se não queres os frutos da virtude nos outros; pois Deus despreza aos invejosos e retira as maravilhas de seu poder aos que maltratam noutros os benefícios divinos. Os atos do Senhor em sua carne são a expressão de sua divindade, e o que nele é invisível se revela a nós pelas coisas visíveis.
O Senhor se desculpa de não ter realizado milagres em sua pátria, para que ninguém pense que o amor á pátria deva ser pouco estimado por nós. Ele, amando a todos os homens, não podia deixar de amar aos seus compatriotas. Porém, foram eles os que, por inveja, renunciaram ao amor de sua pátria. Realmente, o amor não é invejoso, nem orgulhoso. Contudo, este país não é privado dos benefícios de Deus. De fato, qual milagre maior ocorreu nela além do nascimento de Cristo? Veja, então, quais os danos que o ódio causa: por causa dele a pátria é julgada indigna, na qual ele poderia agir como cidadão, depois de ter sido achada digna de vê-lo nascer no seu seio como Filho de Deus...
Ao ouvir estas palavras, todos os que estavam na sinagoga se enfureceram e, levantando-se, o levaram para fora da cidade... Quando Jesus distribuía seus benefícios entre os homens, eles o enchiam de injúrias. Não é surpreendente que, tendo eles perdido a salvação, quisessem desterrar de seu território o Salvador. O Senhor modera-se em sua conduta: com seu exemplo ensinou aos apóstolos ser tudo para todos: não despreza aos de boa vontade nem constrange os recalcitrantes; quando é expulso não resiste, nem está ausente de quem o invoca. Da mesma forma, em outra ocasião, aos gerasenos, não podendo suportar os seus milagres, os deixa como enfermos e ingratos.
Entende ao mesmo tempo em que sua paixão em seu corpo não foi imposta, mas voluntária; não foi aprisionado pelos judeus, mas livremente se ofereceu. Quando quer é preso; quando quer, cai; quando quer, é crucificado; quando quer, ninguém o retém. Nesta ocasião subiu ao alto da montanha para ser precipitado; porém desceu no meio deles, e aqueles espíritos furiosos mudaram repentinamente, ficando estupefatos, porque ainda não tinha chegado a hora de sua paixão.
Ele queria mais salvar aos judeus do que perdê-los, a fim de que o resultado ineficaz de seu furor os fizesse renunciar a querer o que não podiam realizar. Observa, portanto, que aqui ele opera por sua divindade e ali se entrega voluntariamente. De fato, como pode ser preso por um punhado de homens se antes uma multidão não pode fazê-lo? Porém, ele não quis que o sacrilégio fosse obra de muitos, para que o ódio da cruz recaísse sobre alguns: foi crucificado por alguns, mas morreu por todo o mundo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, p. 627-629. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cirilo de Alexandria para este domingo clicando aqui.

Fotos das Vésperas da Conversão de São Paulo em Roma

No último dia 25 de janeiro o Papa Francisco celebrou as II Vésperas da Solenidade da Conversão de São Paulo na Basílica de São Paulo fora dos muros, por ocasião do encerramento da XLIX Semana de Oração pela Unidades dos Cristãos.

Foi a primeira vez neste Jubileu da Misericórdia que o Papa atravessa a Porta Santa da Basílica de São Paulo, a única que não foi aberta por ele. O Santo Padre, em um gesto ecumênico, atravessou a Porta juntamente com representantes da Igreja Ortodoxa e da Igreja Anglicana.

O Papa foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vicenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Papa atravessa a Porta Santa

Oração diante do túmulo de São Paulo

Procissão de entrada

Homilia do Papa na Festa da Conversão de São Paulo

Celebração das Vésperas na Solenidade da Conversão de São Paulo Apóstolo

Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Paulo Extramuros
Segunda-feira, 25 de Janeiro de 2016

«Eu sou o menor dos Apóstolos [...] pois persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que Ele me deu não foi inútil» (1 Cor 15, 9-10). O apóstolo Paulo resume assim o significado da sua conversão. Ela, que aconteceu depois do fulgurante encontro com Jesus Ressuscitado (cf. 1 Cor 9, 1) no caminho de Jerusalém para Damasco, não é a primeira de toda uma mudança moral, mas uma experiência transformadora da graça de Cristo, e ao mesmo tempo a chamada a uma nova missão, a de anunciar a todos o Jesus que antes perseguia nos seus discípulos. De facto, naquele momento Paulo compreende que entre Cristo vivo e eterno e os seus seguidores existe uma união real e transcendente: Jesus vive e está presente nos mesmos e eles vivem n’Ele. A vocação para ser apóstolo funda-se não nos méritos humanos de Paulo, que se considera «último» e «indigno», mas na bondade infinita de Deus, que o escolheu e lhe confiou o ministério.
Uma tal compreensão de quanto aconteceu no caminho de Damasco é testemunhada por são Paulo também na Primeira Carta a Timóteo: «Dou graças Àquele que me confortou, a Jesus Cristo, Nosso Senhor, porque me julgou digno de confiança, chamando-me ao ministério, embora eu fosse outrora blasfemo, perseguidor e injuriador. Mas alcancei misericórdia porque, não tendo ainda a fé, procedia por ignorância. E a graça de Nosso Senhor superabundou com a fé e a caridade que está em Cristo» (1, 12-14). A misericórdia superabundante de Deus é a única razão sobre a qual se funda o ministério de Paulo, e é ao mesmo tempo aquilo que o Apóstolo deve anunciar a todos.
A experiência de são Paulo é semelhante à das comunidades às quais o apóstolo Pedro dirige a sua Primeira Carta. São Pedro dirige-se aos membros de comunidades pequenas e frágeis, expostas à ameaça da perseguição, e indicando-os com títulos gloriosos atribuídos ao povo de Deus: «raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus» (1 Pd 2, 9). Para aqueles primeiros cristãos, como hoje para todos nós baptizados, é motivo de alívio e de admiração constante saber que fomos escolhidos para fazer parte do desígnio de salvação de Deus, realizado em Jesus Cristo e na Igreja. «Porquê, Senhor, precisamente eu?»; «porquê precisamente nós?». Alcançamos aqui o mistério da misericórdia e da escolha de Deus: o Pai ama todos e quer salvar todos, e por isso chama alguns, «conquistando-os» com a sua graça, para que através deles o seu amor possa alcançar todos. A missão de todo o povo de Deus é anunciar as obras maravilhosas do Senhor, primeira entre todas o Mistério pascal de Cristo, por meio do qual passamos das trevas do pecado e da morte para o esplendor da sua vida, nova e eterna (cf. 1 Pd 2, 10).
À luz da Palavra de Deus que ouvimos, e que nos guiou durante esta Semana de oração pela unidade dos cristãos, podemos dizer deveras que todos nós crentes em Cristo somos «chamados a anunciar as obras maravilhosas de Deus» (cf. 1 Pd 2, 9). Além das diferenças que ainda nos separam, reconhecemos com alegria que na origem da vida cristã há sempre uma chamada cujo autor é o próprio Deus. Podemos progredir pelo caminho da comunhão plena e visível entre os cristãos não só quando nos aproximamos uns dos outros, mas sobretudo na medida em que nos convertemos ao Senhor, que pela sua graça nos escolhe e chama a ser seus discípulos. E converter-se significa deixar que o Senhor viva e actue em nós. Por este motivo, quando os cristãos de diversas Igrejas ouvem juntos a Palavra de Deus e procuram pô-la em prática, dão deveras passos importantes rumo à unidade. E não é só a chamada que nos une; irmana-nos também a mesma missão: anunciar a todos as obras maravilhosas de Deus. Como são Paulo, e como os fiéis aos quais ele escreve, também nós não podemos deixar de anunciar o amor misericordioso que nos conquistou e nos transformou. Enquanto estamos a caminho rumo à plena comunhão entre nós, já podemos desenvolver múltiplas formas de colaboração, caminhar juntos e colaborar a fim de favorecer a difusão do Evangelho. E caminhando e trabalhando, damo-nos conta de que já estamos unidos em nome do Senhor. A unidade faz-se a caminho.
Neste Ano jubilar extraordinário da Misericórdia, tenhamos bem presente que não pode haver busca autêntica da unidade dos cristãos sem confiar totalmente na misericórdia do Pai. Antes de tudo peçamos perdão pelo pecado das nossas divisões, que são uma ferida aberta no Corpo de Cristo. Como Bispo de Roma e Pastor da Igreja católica, desejo invocar misericórdia e perdão pelos comportamentos não evangélicos que alguns católicos tiveram em relação a cristãos de outras Igrejas. Ao mesmo tempo, convido todos os irmãos e irmãs católicos a perdoar se, hoje ou no passado, sofreram ofensas de outros cristãos. Não podemos cancelar o que aconteceu, mas não queremos permitir que o peso das culpas do passado continue a corromper as nossas relações. A misericórdia de Deus renovará as nossas relações.
Neste clima de intensa oração, saúdo fraternalmente Sua Eminência o Metropolita Gennadios, representante do Patriarcado ecuménico, Sua Graça David Moxon, representante pessoal em Roma do Arcebispo de Canterbury, e todos os representantes das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais de Roma, aqui reunidos esta tarde. Com eles atravessamos a Porta Santa desta Basílica, para recordar que a única porta que nos conduz à salvação é Nosso Senhor Jesus Cristo, o rosto misericordioso do Pai. Dirijo uma saudação cordial também aos jovens ortodoxos e ortodoxos orientais que estudam aqui em Roma com o apoio da Comissão de Colaboração Cultural com as Igrejas Ortodoxas, que trabalha no Conselho para a promoção da unidade dos cristãos, assim como aos estudantes do Ecumenical Institute of Bossey, em visita aqui a Roma para aprofundar o seu conhecimento da Igreja católica.
Amados irmãos e irmãs, unamo-nos hoje na oração que Jesus Cristo dirigiu ao Pai: «que todos sejam um [...] para que o mundo creia» (Jo 17, 21). A unidade é dom da misericórdia de Deus Pai. Aqui diante do túmulo de são Paulo, apóstolo e mártir, conservado nesta maravilhosa Basílica, sentimos que o nosso pedido humilde está amparado pela intercessão da multidão dos mártires cristãos de ontem e de hoje. Eles responderam com generosidade à chamada do Senhor, deram testemunho fiel, com a sua vida das obras maravilhosas que Deus realizou para nós, e já experimentam a plena comunhão na presença de Deus Pai. Amparados pelo seu exemplo - este exemplo que realiza precisamente o ecumenismo do sangue - e confortados pela sua intercessão, dirijamos a Deus a nossa humilde oração.


Fonte: Santa Sé

Ângelus: III Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 24 de janeiro de 2016

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho de hoje (Lc 1,1-4; 4,14-21), antes de apresentar o discurso programático de Jesus em Nazaré, o evangelista Lucas sintetiza brevemente a sua atividade evangelizadora. É uma atividade que Ele cumpre com a força do Espírito Santo: a sua palavra é original, porque revela o sentido das Escrituras; é uma palavra influente, porque comanda até aos espíritos impuros e eles obedecem (cf. Mc 1,27). Jesus é diferente dos mestres do seu tempo: por exemplo, não abriu uma escola para o estudo da Lei, mas andava por toda parte pregando e ensinando: nas sinagogas, pelas estradas, nas casas, sempre a caminho! Jesus é diferente também em comparação com João Batista, o qual proclama o julgamento iminente de Deus, ao passo que Jesus anuncia o seu perdão de Pai.

E agora imaginemos que entramos também nós na sinagoga de Nazaré, a aldeia onde Jesus cresceu até cerca de trinta anos. O que ali acontece é um evento importante, que delineia a missão de Jesus. Ele levanta-se para ler a Sagrada Escritura. Abre o rolo do profeta Isaías e lê o trecho onde está escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres» (Lc 4,18). Em seguida, após um momento de silêncio cheio de expectativa por parte de todos, diz, entre a estupefação geral: «Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir» (v. 21).

Evangelizar os pobres: esta é a missão de Jesus, segundo quanto Ele diz; esta é inclusive a missão da Igreja, e de cada batizado na Igreja. Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa. Anunciar o Evangelho, com a palavra e, antes ainda, com a vida, é a finalidade principal da comunidade cristã e de cada seu membro. Observa-se aqui que Jesus dirige a Boa Nova a todos, sem excluir ninguém, aliás privilegiando os mais distantes, os sofredores, os doentes, os descartados da sociedade.

Questionamo-nos: o que significa evangelizar os pobres? Significa em primeiro lugar aproximar-nos deles, significa ter a alegria de servi-los, de libertá-los da opressão, e tudo isto em nome e com o Espírito de Cristo, porque Ele é o Evangelho de Deus, Ele é a Misericórdia de Deus, Ele é a libertação de Deus, Ele se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. O texto de Isaías, enriquecido com pequenos ajustes introduzidos por Jesus, indica que o anúncio messiânico do Reino de Deus que veio entre nós se destina de maneira preferencial aos marginalizados, aos prisioneiros, aos oprimidos.

Provavelmente no tempo de Jesus estas pessoas não estavam no centro da comunidade de fé. Podemos perguntar-nos: hoje, nas nossas comunidades paroquiais, nas associações, nos movimentos, somos fiéis ao programa de Cristo? A evangelização dos pobres, levar-lhes a boa nova, é a prioridade? Atenção: não se trata só de fazer assistência social, tampouco atividade política. Trata-se de oferecer a força do Evangelho de Deus, que converte o coração, sara as feridas, transforma as relações humanas e sociais segundo a lógica do amor. Com efeito, os pobres estão no centro do Evangelho.

A Virgem Maria, Mãe dos evangelizadores, nos ajude a sentir fortemente a fome e a sede do Evangelho que existe no mundo, especialmente no coração e na carne dos pobres. E conceda a cada um de nós e a cada comunidade cristã de testemunhar concretamente a misericórdia, a grande misericórdia que Cristo nos doou.


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Congregação para o Culto Divino comenta a mudança no Rito do Lava Pés

No último dia 21 de janeiro foi publicado um Decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, a pedido do Papa Francisco, modificando o rito do Lava Pés na Quinta-feira Santa, permitindo que mulheres possam tomar parte neste rito.

O Secretário da Congregação, Dom Arthur Roche, publicou um texto comentando esta mudança e explicando um pouco da história deste rito:

CONCONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS
COMENTÁRIO AO DECRETO IN MISSA IN CENA DOMINI
 DEI-VOS O EXEMPLO

Com o decreto In Missa in cena Domini a Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, por disposição do Santo Padre, retocou a rubrica do Missale Romanum no que diz respeito ao Lava-pés (p. 300, n.11) que, sob múltiplas formas ao longo dos séculos, está unida à Quinta-Feira Santa e que, depois da reforma da Semana Santa em 1955, pode ser realizada na Missa Vespertina que inaugura o Sagrado Tríduo Pascal.
À luz do Evangelho Joanino, o rito é revestido, tradicionalmente, de uma dupla vertente: imitava aquilo que Jesus fez no Cenáculo lavando os pés aos apóstolos e expressava o dom de si mesmo neste gesto servil. Este gesto era chamado Mandatum, nome tirado do incipit da primeira antífona que o acompanhava: “Mandatum novum do vobis, ut diligatis invicem, sicut dilexi vos, dicit Dominus” (Jo 13,14). De facto, este mandamento de amor fraterno compromete todos os discípulos de Jesus sem alguma distinção ou excepção.
Um antigo ordo do séc. VII dizia: “Pontifex suis cubicularibus pedes lavat et unusquisque clericorum in domo sua”. Aplicado de modo diverso nas várias dioceses e abadias, é também atestado no Pontifical Romano do séc XII depois das Vésperas de Quinta-Feira Santa e nos usos da Curia Romana no séc. XIII (“facit mandatum duodecim subdiaconos”). O Mandatum é descrito da seguinte forma no Missale Romanum de São Pio V (1570): “Post denudationem altarium, hora competenti, facto signo cum tabula, conveniunt clerici ad faciendum mandatum. Maior abluit pedes minoribus: tergit et osculatur”. O rito era acompanhado de diversas antífonas, das quais a última é Ubi caritas; concluindo-se com o Pater noster e uma oração que une o mandamento do serviço à purificação dos pecados: “Adesto Domine, quaesumus, officio servitutis nostrae: et quia tu discipulis tuis pedes lavare dignatus es, ne despicias opera manuum tuarum, quae nobis retinenda mandasti: ut sicut hic nobis, et a nobis exteriora abluuntur inquinamenta; sic a te omnium nostrum interiora laventur peccata. Quod ipse praestare digneris, qui vivis et regnas, Deus, per omnia saecula saeculorum”. Esta acção litúrgica era reservada ao clero (“conveniunt clerici”) à luz do Evangelho escutado na Missa da manhã. Não são mencionados “doze”, o que parece fazer pensar que o que conta não é somente fazer uma imitação daquilo que fez Jesus no Cenáculo mas colocar em prática o seu valor exemplar, e sempre actual em favor dos seus discípulos.
A descrição do “De Mandato seu lotione pedum” no Caeremoniale Episcoporum de 1600 é mais detalhada. Menciona-se o uso (depois das Vésperas ou ao almoço, na igreja ou na sala capitular, ou num lugar idóneo) do Bispo lavar, enxugar e beijar os pés a “treze” pobres, depois de os ter vestido e saciado e, por último, acrescenta ainda a doação de uma esmola; ou então a treze canónicos, segundo a tradição local e a vontade do Bispo, que pode preferir os pobres aos canónicos mesmo se o hábito seria a estes: “videtur enim eo pacto maiorem humilitatem, et charitatem prae se ferre, quam lavare pedes Canonicis”. Reservado, pois, ao clero, sem excluir os usos locais que contemplavam os pobres e os jovens (por ex. no Missale Parisiense), o Lava-pés é, deste modo, um gesto significativo mas não era para todo o povo de Deus. O Caeremoniale Episcoporumprescrevia-o unicamente para as catedrais e as colegiadas.
Com a reforma de Pio XII, que colocou a Missa in cena Domini à tarde, o Lava-pés, por motivos pastorais, pode ser realizado nesta Missa, depois da homilia, com “duodecim viros selectos”, dispostos “in medio presbyterii vel in ipsa aula ecclesiae”: a esses o celebrante lava e enxuga os pés (não se menciona mais o beijo). Superou-se assim, o sentido bastante clerical e reservado, pois faz-se na assembleia, e a indicação de “doze homens” manifesta, de forma explícita, que se trata de um sinal imitativo, quase de uma representação sagrada, o que ajuda a imprimir na memória aquilo que Jesus realizou na primeira Quinta-feira Santa.
O Missale Romanum de 1970 retomou o rito, que tinha sido recentemente reformado, simplificando alguns elementos: omite-se o número “doze”, diz-se que se faça num “loco apto”, perde-se uma antífona e outras são simplificadas; indica-se o Ubi caritas para a procissão dos dons e exclui-se a parte conclusiva (Pater noster, versículos e oração) - herança de um acto que era privado, fora da Missa. Permanecia a reserva a que se fizesse somente aos “viri” em razão de um certo mimetismo.
A mudança actual prevê que sejam designadas pessoas escolhidas entre todos os membros do povo de Deus. Este novo modo refere-se não tanto à imitação exterior daquilo que Jesus fez, mas sim ao significado daquilo que realizou com dimensão universal, isto é, o dar-se “até ao fim” pela salvação do género humano, naquela caridade que abraça a todos e os torna irmãos na prática do seu exemplo. O exemplum que Jesus nos deu - para que também nós façamos como Ele (cf. Jo 13, 14-15), vai mais além do que lavar fisicamente os pés aos outros; faz compreender que num tal gesto se exprime o serviço de um amor tangível pelos outros. Todas as antífonas propostas no Missale durante o Lava-pés recordam e ilustram este significado de tal gesto, seja para quem o faz como para quem o recebe, ou seja ainda, para quem o segue com o olhar e o interioriza através do canto.
O Lava-pés não é obrigatório na Missa in cena Domini. São os pastores a avaliarem a conveniência, segundo as circunstâncias e razões pastorais, de modo a que não se torne quase automático ou artificial, privado de significado e reduzido a um elemento cénico. Por outro lado, não pode tornar-se tão importante que centralize toda a atenção da Missa da Ceia do Senhor, celebrada no “dia santíssimo em que Nosso Senhor Jesus Cristo Se entregou por nós” (Communicantes próprio do Cânone Romano). Nas indicações para a homilia, recorda-se a peculiaridade desta Missa, comemorativa da instituição da Eucaristia, do sacramento da Ordem e do mandamento novo do amor fraterno, e na Igreja é lei suprema que a todos compromete e a todos se dirige.
Compete aos pastores escolher um pequeno grupo de pessoas diversas representativas do inteiro povo de Deus – leigos, ministros ordenados, cônjuges, celibatários, religiosos, sãos e doentes, crianças, jovens e idosos – e não de uma só categoria ou condição. Por fim, compete a quem prepara as celebrações litúrgicas dispor cada coisa da melhor forma de tal modo que ajude a todos e cada um a participar frutuosamente neste momento: é a vida de cada discípulo do Senhor, a anamnesi do “mandamento novo” escutado no Evangelho.

+ Arthur Roche
Arcebispo Secretário da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos


Fonte: Santa Sé

Jubileu dos Operadores de Santuários: Audiência com o Papa

No último dia 21 de janeiro concluiu-se o Jubileu dos Operadores dos Santuários em Roma, por ocasião do Ano Santo da Misericórdia. Os sacerdotes e leigos participantes da peregrinação dirigiram-se à Basílica de São Pedro, onde atravessaram a Porta Santa. Em seguida, participaram de uma audiência com o Papa Francisco na Sala Paulo VI.

Segue o discurso do Santo Padre:

Jubileu Extraordinário da Misericórdia
Jubileu dos Agentes de Peregrinações e Reitores de Santuários
Discurso do Papa Francisco
Sala Paulo VI
Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2016

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Recebo cordialmente todos vós, agentes de peregrinações aos santuários. Ir em peregrinação aos santuários é uma das expressões mais eloquentes da fé do povo de Deus, e manifesta a piedade de gerações de pessoas, que com simplicidade acreditaram e se entregaram à intercessão da Virgem Maria e dos Santos. Esta religiosidade popular é uma forma genuína de evangelização, que deve ser promovida e valorizada, sem minimizar a sua importância. É curioso: o beato Paulo VI, na Evangellii nuntiandi, fala da religiosidade popular, mas afirma que é melhor chamá-la «piedade popular»; também o Episcopado latino-americano no documento de Aparecida, dá um passo mais além e fala de «espiritualidade popular». Os três conceitos são válidos, mas juntos. Com efeito, nos santuários, a nossa gente vive a sua profunda espiritualidade, aquela piedade que desde há séculos plasmou a fé com devoções simples, mas muito significativas. Pensemos em como se torna intensa, nalguns destes lugares, a oração a Cristo Crucificado, ou aquela do Rosário, ou a Via-Sacra...
Seria um erro pensar que quem vai em peregrinação vive uma espiritualidade não pessoal, mas «de massa». Na realidade, o peregrino leva consigo a própria história, a própria fé, luzes e sombras da própria vida. Cada um traz no coração um desejo especial e uma oração particular. Quem entra no santuário sente imediatamente que se encontra na própria casa, acolhido, compreendido, e apoiado. Gosto muito da figura bíblica de Ana, a mãe do profeta Samuel. Ela, no templo de Silo, com o coração cheio de amargura rezava ao Senhor para ter um filho. O sacerdote Eli, ao contrário, pensava que ela estivesse embriagada e queria afastá-la (cf. 1Sm 1,12-14). Ana representa bem muitas pessoas que se podem encontrar nos santuários. Os olhos fixos no Crucifixo o na imagem de Nossa Senhora, uma oração feita com as lágrimas nos olhos, repletos de confiança. O santuário é realmente um espaço privilegiado para encontrar o Senhor e experimentar concretamente a sua misericórdia. Confessar num santuário, é fazer a experiência de tocar concretamente a misericórdia de Deus.
Por esta razão, a palavra-chave que desejo realçar hoje juntamente convosco é acolhimento: acolher os peregrinos. Com o acolhimento, por assim dizer, «pomos tudo em jogo». Um acolhimento afetuoso, festivo, cordial e paciente. É necessário também paciência! Os Evangelhos apresentam-nos Jesus sempre acolhedor em relação a quantos se aproximam d’Ele, especialmente os doentes, os pecadores, os marginalizados. E recordemos aquela sua expressão: «Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou» (Mt 10,40). Jesus falou de acolhimento, mas sobretudo praticou-o. Quando nos dizem que os pecadores - por exemplo Mateus, ou Zaqueu - acolhiam Jesus na sua casa e na sua mesa, é porque em primeiro lugar se tinham sentido acolhidos por Jesus, e isto tinha mudado a sua vida. É interessante que o Livro dos Atos dos Apóstolo se conclui com a cena de são Paulo que, aqui em Roma, «recebia a todos os que iam vê-lo» (At 28,30). A sua casa, onde morava como prisioneiro, era o lugar onde anunciava o Evangelho. O acolhimento é deveras determinante para a evangelização. Por vezes, é suficiente simplesmente uma palavra, um sorriso, para fazer sentir uma pessoa acolhida e querida.
O peregrino que chega ao santuário muitas vezes está cansado, esfomeado, sedento... E frequentemente esta condição física reflete também a interior. Por isso, esta pessoa necessita de ser bem acolhida quer no plano material quer espiritual. É importante que o peregrino que atravessa o limiar do santuário se sinta tratado mais do que um hóspede, como um familiar. Deve sentir-se em sua casa, esperado, amado e fitado com olhos de misericórdia. Quem quer que seja, jovem ou idoso, rico ou pobre, doente ou atormentado ou turista curioso, possa encontrar o devido acolhimento, porque em cada um de nós há um coração que procura Deus, por vezes sem se dar conta plenamente. Façamos com que cada peregrino tenha a alegria de se sentir finalmente compreendido e amado. Deste modo, voltando para casa sentirá nostalgia por quanto experimentou e terá o desejo de regressar, mas sobretudo desejará continuar o caminho de fé na sua vida ordinária.
Um acolhimento especial é o que oferecem os ministros do perdão de Deus. O santuário é a casa do perdão, onde cada um se encontra com a ternura do Pai que tem misericórdia de todos, sem excluir ninguém. Quem se aproxima do confessionário fá-lo porque está arrependido, está arrependido do próprio pecado. Sente a necessidade de se aproximar dele. Percebe claramente que Deus não o condena, mas o acolhe e abraça, como o pai do filho pródigo, para lhe restituir a dignidade filial (cf. Lc 15,20-24). Os sacerdotes que desempenham um ministério nos santuários devem ter o coração impregnado de misericórdia; a sua atitude deve ser a de um pai.
Queridos irmãos e irmãs, vivamos com fé e alegria este Jubileu: vivamo-lo, como uma única grande peregrinação. Vós, de maneira especial, viveis o vosso serviço como uma obra de misericórdia corporal e espiritual. Garanto-vos por isso a minha oração, por intercessão de Maria nossa Mãe. E vós, por favor, com a vossa oração, acompanhai também a mim na minha peregrinação. Obrigado.


Fonte: Santa Sé

Bênção das ovelhas no dia de Santa Inês

No último dia 21 de janeiro, Memória litúrgica de Santa Inês, o Papa Francisco abençoou duas ovelhas na Capela Urbano VIII do Palácio Apostólico.

Com a lã destas ovelhas serão tecidos os pálios, que serão abençoados pelo Santo Padre no dia 29 de junho, Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, e posteriormente impostos aos Arcebispos Metropolitanos pelos Núncios Apostólicos.

Como de costume, uma das ovelhas foi ornada com flores brancas (símbolo da virgindade de Santa Inês) e a outra com flores vermelhas (recordação do seu martírio).





quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Catequese do Papa: A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 20 de Janeiro de 2016
Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Ouvimos o texto bíblico que este ano orienta a reflexão durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que vai de 18 a 25 de Janeiro: esta semana. Este trecho tirado da primeira Carta de São Pedro foi escolhido por um grupo ecumênico da Letônia, encarregado pelo Conselho Ecumênico das Igrejas e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
No centro da catedral luterana de Riga existe uma pia baptismal que remonta ao século XII, à época em que a Letônia foi evangelizada por são Mainardo. Aquela pia constitui o sinal eloquente de uma origem de fé reconhecida por todos os cristãos da Letónia: católicos, luteranos e ortodoxos. Esta origem é o nosso Batismo comum. O Concílio Vaticano II afirma que «o Batismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade que une todos os que foram regenerados por ele» (Unitatis redintegratio22). A primeira Carta de São Pedro é dirigida à primeira geração de cristãos, para os tornar conscientes do dom recebido mediante o Batismo e das exigências que ele comporta. Também nós, durante esta Semana de Oração, somos convidados a descobrir de novo tudo isto, e a fazê-lo em conjunto, indo mais além das nossas divisões.
Antes de tudo, compartilhar o Batismo significa que todos somos pecadores e temos necessidade de ser salvos, redimidos, libertados do mal. Este é o aspecto negativo, que a primeira Carta de São Pedro denomina «trevas», quando diz: «Das trevas [Deus] chamou-vos para a sua luz maravilhosa». Esta é a experiência da morte, que Cristo fez sua, e que é simbolizada no Batismo pela nossa imersão na água, e à qual se segue uma nova emersão, símbolo da ressurreição para a vida nova em Cristo. Quando nós cristãos dizemos que compartilhamos um único Batismo, afirmamos que todos nós - católicos, protestantes e ortodoxos - vivemos juntos a experiência de ser chamados das trevas impiedosas e alienantes para o encontro com o Deus vivo, repleto de misericórdia. Com efeito, infelizmente todos nós fazemos a experiência do egoísmo, que gera divisão, fechamento e desprezo. Recomeçar a partir do Batismo quer dizer encontrar a fonte da misericórdia, manancial de esperança para todos, porque ninguém está excluído da misericórdia de Deus.
A partilha desta graça cria um vínculo indissolúvel entre nós cristãos, de tal forma que em virtude do Batismo podemos considerar-nos todos realmente irmãos. Somos verdadeiramente o povo santo de Deus, não obstante, por causa dos nossos pecados, ainda não somos um povo completamente unido. A misericórdia de Deus, que age no Batismo, é mais forte do que as nossas divisões. Na medida em que recebemos a graça da misericórdia, tornamo-nos cada vez mais plenamente povo de Deus, e também somos capazes de anunciar a todos as suas obras maravilhosas, precisamente a partir de um testemunho de unidade simples e fraternal. Nós, cristãos, podemos anunciar a todos a força do Evangelho, comprometendo-nos a partilhar as obras de misericórdia corporais e espirituais. E este é um testemunho concreto de unidade entre nós cristãos: protestantes, ortodoxos e católicos.
Caros irmãos e irmãs, em conclusão todos nós cristãos, mediante a graça do Batismo, recebemos a misericórdia de Deus e fomos inseridos no seu povo. Todos nós, católicos, ortodoxos e protestantes, formamos um sacerdócio real e uma nação santa. Isto significa que temos uma missão comum, que consiste em transmitir aos outros a misericórdia recebida, a começar pelos mais pobres e abandonados. Durante esta Semana de Oração, oremos a fim de que todos nós, discípulos de Cristo, encontremos o modo de colaborar juntos para levar a misericórdia do Pai a todos os recantos da terra.


Fonte: Santa Sé

Missa no Jubileu dos Operadores dos Santuários

No último dia 19 de janeiro, Dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção para a Nova Evangelização e Responsável pelo Jubileu da Misericórdia, celebrou na Basílica do Latrão a Santa Missa por ocasião do Jubileu dos Operadores de Santuários.

No dia seguinte, dia 20, além de conferências, os sacerdotes e leigos participantes da peregrinação tiveram um momento para a Adoração Eucarística em diversas igrejas de Roma.

A peregrinação encerrou-se no dia 21 com a audiência com o Santo Padre, cujo discurso publicaremos em breve.

Procissão de entrada

Incensação do altar
Sacerdotes concelebrantes e assembleia
Liturgia da Palavra

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Festa da Teofania em Moscou

No último dia 19 de janeiro o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou na Catedral da Epifania do Senhor em Moscou a Divina Liturgia da Festa da Teofania do Senhor, segundo o calendário juliano, durante a qual presidiu a Grande Bênção das Águas.

Na véspera, dia 18, o Patriarca Kirill celebrou a Divina Liturgia da Festa na Capela da Transfiguração da Catedral Patriarcal de Cristo Salvador.

Divina Liturgia na Catedral de Cristo Salvador (dia 18):





Incensação dos dons

Festa da Teofania na Ucrânia

No último dia 19 de janeiro Sua Beatitude Dom Sviatoslav Shevshuk, Arcebispo Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, celebrou na Catedral Patriarcal da Ressurreição em Kiev a Divina Liturgia da Festa da Teofania, segundo o calendário juliano.

Após a Divina Liturgia, o Arcebispo abençoou as águas do rio Dnipró.

Litania da paz


Homilia

domingo, 24 de janeiro de 2016

Homilia: III Domingo do Tempo Comum - Ano C

Orígenes
Sermão 32 sobre o Evangelho de São Lucas
“Hoje, nesta assembleia, fala o Senhor”

Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama se estendeu por toda a região. Ensinava nas sinagogas e todos o louvavam.
Quando lês: Ensinava nas sinagogas e todos o louvavam, cuida para não julgar ditosos somente a eles, crendo-te privado de doutrina. Porque se é verdade o que está escrito, o Senhor não falava somente naquela ocasião, nas sinagogas dos judeus, mas também hoje, nesta assembleia, fala o Senhor. E não somente nesta, mas também em qualquer outra assembleia e em toda a terra ensina Jesus, buscando os meios adequados para transmitir o seu ensinamento. Orai para que também a mim me encontre disposto e apto para engrandecê-lo!
Depois foi a Nazaré, onde se tinha criado, entrou na sinagoga, como era seu costume aos sábados, e colocou-se em pé para fazer a leitura. Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, encontrou a passagem em que está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu”. Não foi por mera casualidade, mas providência de Deus que, desenrolando o livro, encontra-se o capítulo de Isaías que falava profeticamente dele. Pois se, como está escrito, nem um só pardal cai na armadilha sem que o disponha vosso Pai e, se os cabelos da cabeça dos Apóstolos estão contados, possivelmente tampouco o fato de encontrar-se precisamente com o livro do profeta Isaías, e concretamente não com outra passagem, mas com esta, que sobressai o mistério de Cristo: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu - não duvidemos que é o mesmo Cristo quem proclama este texto -, há que pensar que não aconteceu porque realmente tenha sido produto do jogo da causalidade, mas porque ocorreu de acordo com a economia e a providência divina.
Terminada a leitura, Jesus, enrolando o livro, o devolveu ao auxiliar e se sentou. Toda a sinagoga tinha os olhos fixos nele. Também agora, nesta sinagoga, nesta assembleia, podeis - se assim o desejais - fixar os olhos no Salvador. Desde o momento em que tu dirijas o mais profundo olhar de teu coração para a Sabedoria, para a Verdade e ao Unigênito de Deus, para mergulhar em sua contemplação, teus olhos estão fixados em Jesus. Ditosa a assembleia, da qual a Escritura testifica que os olhos de todos estavam fixos nele! O que eu não daria para que esta assembleia merecesse semelhante testemunho, de maneira que os olhos de todos: catecúmenos e fieis, homens, mulheres e crianças, tivessem os seus olhos fixos em Jesus! E não os olhos do corpo, mas os da alma. De fato, quando os vossos olhos estiverem fixos nele, sua luz e seu olhar farão vossos rostos mais luminosos, e podereis dizer: A luz da tua face nos assinalou, Senhor.
A ele corresponde a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 623-625. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Damasceno para este domingo clicando aqui.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Fotos do Jubileu dos Migrantes em Roma

No último dia 17 de janeiro foi celebrado em Roma o Jubileu dos Migrantes no contexto do Ano da Misericórdia. Neste mesmo dia se celebra o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.

A Santa Missa do Jubileu dos Migrantes foi celebrada no altar da Cátedra da Basílica de São Pedro pelo Cardeal Antonio Maria Vegliò, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes.

Peregrinação pela Porta Santa

Incensação do altar
Cardeal Vegliò
Liturgia Ecarística

Ângelus: II Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 17 de janeiro de 2016

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste Domingo (Jo 2,1-11) apresenta o evento prodigioso que aconteceu em Caná, uma aldeia da Galileia, durante uma festa de núpcias na qual participam também Maria e Jesus, com os seus primeiros discípulos. A mãe faz notar ao Filho que o vinho acabou e Jesus, depois de lhe ter respondido que ainda não chegou a sua hora, aceita contudo a sua solicitação e dá aos esposos o melhor vinho de toda a festa. O evangelista frisa que «este foi o início dos sinais realizados por Jesus; Ele manifestou a sua glória e os seus discípulos creram n’Ele» (v. 11).

Por conseguinte, os milagres são sinais extraordinários que acompanham a pregação da Boa Nova e têm a finalidade de suscitar ou reforçar a fé em Jesus. No milagre realizado em Caná, podemos entrever um ato de benevolência da parte de Jesus para com os esposos, um sinal da bênção de Deus sobre o matrimônio. Portanto, o amor entre o homem e a mulher é um bom caminho para viver o Evangelho, isto é, para se encaminhar com alegria pela via da santidade.

Mas o milagre de Caná não diz respeito só aos esposos. Cada pessoa humana está chamada a encontrar o Senhor na sua vida. A fé cristã é um dom que recebemos com o Batismo e que nos permite encontrar Deus. A fé atravessa tempos de alegria e de sofrimento, de luz e de obscuridade, como em qualquer experiência de amor autêntico. A narração das bodas de Caná convida-nos a redescobrir que Jesus não se apresenta a nós como um juiz pronto para condenar as nossas culpas, nem como um comandante que nos impõe que sigamos cegamente as suas ordens; manifesta-se como Salvador da humanidade, como irmão, como o nosso irmão maior, Filho do Pai: apresenta-se como Aquele que responde às expectativas e promessas de alegria que habitam o coração de cada um de nós.

Então podemos questionar-nos: conheço deveras o Senhor assim? Sinto-o próximo de mim, da minha vida? Estou respondendo-lhe em sintonia com aquele amor esponsal que Ele manifesta cada dia a todos, a cada ser humano? Trata-se de nos darmos conta de que Jesus nos procura e nos convida a dedicar-lhe espaço no íntimo do nosso coração. E neste caminho de fé com Ele não somos deixados sozinhos: recebemos o dom do Sangue de Cristo. As grandes ânforas de pedra que Jesus manda encher de água para transformar em vinho (v. 7) são sinal da passagem da antiga para a nova aliança: no lugar da água usada para a purificação ritual, recebemos o Sangue de Jesus, derramado de modo sacramental na Eucaristia e de maneira cruenta na Paixão e na Cruz. Os Sacramentos, que brotam do Mistério Pascal, infundem em nós a força sobrenatural e permite saborear a misericórdia infinita de Deus.

A Virgem Maria, modelo de meditação das palavras e dos gestos do Senhor, nos ajude a redescobrir com fé a beleza e a riqueza da Eucaristia e dos demais Sacramentos, que tornam presente o amor fiel de Deus por nós. Assim poderemos apaixonar-nos cada vez mais do Senhor Jesus, nosso Esposo, e ir ao seu encontro com as lâmpadas acesas da nossa fé jubilosa, tornando-nos deste modo suas testemunhas no mundo.


Fonte: Santa Sé.

Modificado o Rito do Lava Pés

Foi divulgado hoje, 21 de janeiro de 2016, um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicado a pedido do Papa Francisco, alterando as rubricas do rito do Lava Pés na Missa da Ceia do Senhor.

Até então, as rubricas do Missal Romano e do Cerimonial dos Bispos eram claras em afirmar que somente homens poderiam participar do Lava Pés, em clara referência aos doze Apóstolos do Senhor, que eram todos homens. Agora, fica permitido que também mulheres possam participar deste rito.

Confira o decreto na íntegra:

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS
DECRETO
IN MISSA IN CENA DOMINI

A reforma da Semana Santa, realizada através do decreto Maxima Redemptionis nostrae mysterio (30 de Novembro de 1955), determinou que por motivos pastorais, se fizesse o Lava-pés a doze homens durante a Missa da Ceia do Senhor, depois da leitura do Evangelho segundo São João, manifestando a humildade e o amor de Cristo para com os seus discípulos.
Na liturgia romana, tal rito era conhecido com o nome de Mandatum do Senhor sobre a caridade fraterna segundo as palavras de Jesus (cf. Jo 13, 34) cantadas numa das antífonas durante esta celebração.
No exercício de tal rito, os Bispos e os sacerdotes são convidados a conformarem-se intimamente a Cristo “que não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28), e que, com amor infinito - “até ao fim” (Jo 13, 1) - deu a vida para salvar todos os homens.
Para manifestar plenamente este significado do rito a todos os que nele participam, pareceu adequado ao Sumo Pontífice Francisco mudar a regra que se lê no Missale Romanum (p. 300, n° 11) que diz: “Os homens designados, conduzidos pelos ministros…” na forma seguinte: “As pessoas escolhidas entre o povo de Deus, conduzidas pelos ministros,…” (e, consequentemente, no Caeremoniale Episcoporum, n° 301 e n° 299b: “assentos para as pessoas designadas”). Deste modo os pastores poderão escolher um pequeno grupo de fiéis que sejam representantes da variedade e da unidade de cada porção do povo de Deus. Tal grupo poderá ser constituído por homens e mulheres, e de modo conveniente, por jovens e idosos, pessoas sãs ou doentes, clero, consagrados ou leigos.
Esta Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, em virtude das faculdades concedidas pelo Sumo Pontífice, introduz tal inovação nos livros litúrgicos do Rito Romano, recordando aos pastores a sua função de instruir adequadamente quer sejam os fiéis escolhidos, como também todos os outros, de modo a que participem neste rito de modo consciente, activo e frutuoso.
Nada obste em contrário.
Sede da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dois Sacramentos, 6 de Janeiro de 2016, solenidade da Epifania do Senhor.

Robert Card. Sarah
Prefeito

+ Arthur ROCHE
Arcebispo Secretário

Papa Francisco no Lava Pés em 2015

Fonte: Santa Sé

sábado, 16 de janeiro de 2016

Homilia: II Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Romanos, o Melode
Hino sobre as Bodas de Caná

Queremos narrar agora o primeiro milagre realizado em Caná por aquele que outrora tinha demonstrado o poder de seus prodígios aos egípcios e aos hebreus. Naquela ocasião, a natureza das águas foi mudada milagrosamente em sangue. Ele tinha castigado os egípcios com a maldição das dez pragas e tinha tornado o mar inofensivo aos hebreus, a tal ponto que o atravessaram como em terra firme. No deserto, lhes proveu da água que prodigiosamente manou da rocha. Hoje, durante a festa das bodas, realiza uma nova transformação da natureza, aquele que tudo cumpriu com sabedoria.
Enquanto Cristo participa das bodas e a multidão dos convidados banqueteava, faltou o vinho e a alegria pareceu mudar-se em melancolia. E o esposo estava envergonhado, os servidores murmuravam e aflorava em todas as partes o descontentamento por tal escassez, erguendo-se o tumulto na sala. Frente a tal espetáculo, Maria, a plenamente pura, mandou advertir apressadamente ao seu Filho: “Não têm mais vinho. Filhinho, eu te peço, demonstra o teu poder absoluto, tu, que tudo cumpriste com sabedoria...” Cristo, respondendo à mãe que lhe dizia “concede-me esta graça”, contestou prontamente: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”.
Alguns procuraram entrever nestas palavras um significado qu justifique sua impiedade. São aqueles que sustentam a submissão de Cristo às leis naturais, ou o consideram, até mesmo a ele, vinculado às horas. Mas isto é porque não compreendem o significado da palavra. A boca dos ímpios, que meditam o mal, é obrigada a silenciar pelo milagre imediatamente realizado por aquele que tudo cumpriu com sabedoria.
“Meu filho, responde agora”, disse a Mãe a Jesus, a plenamente pura, “Tu que impões às horas o freio da medida, como podes esperar a hora, meu Filho e meu Senhor? Como podes esperar o tempo, se tu mesmo estabeleceste a carreira dos anos em seus ciclos perfeitamente regulados: como podes esperar o tempo propício para o prodígio que te peço, tu que cumpriste tudo com sabedoria?”
“Antes que tu notasses, Virgem venerada, eu já sabia que faltava o vinho”, respondeu, então, o Inefável, o Misericordioso, à Mãe veneradíssima. “Conheço todos os pensamentos que habitam em teu coração. Refletis-te no teu interior: ‘A necessidade incitará, agora, o meu Filho ao milagre, porém, com a desculpa de que as horas o esão atrasando’. Ó Mãe pura, aprende agora o motivo do atraso, e quando o tenhas compreendido, certamente te concederei esta graça, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Eleva teu espírito à altura de minhas palavras e compreende, ó incorrupta, o que estou para pronunciar. No mesmo instante em que do nada criava o céu, a terra e a totalidade do universo, podia instantaneamente a ordem em tudo o que eu estava formando. Contudo, estabeleci certa ordem bem subdividida; a criação feita em seis dias. E certamente não porque me faltasse o poder de realizar, mas para que o coro dos anjos, ao comprovar que fazia cada coisa ao seu tempo, pudesse reconhecer em mim a divindade, celebrando-a com o seguinte canto: ‘Glória a ti, Rei poderoso, que cumpriste tudo com sabedoria’”.
“Escuta bem isso, ó santa: Eu poderia resgatar de outra maneira aos caídos, sem assumir a condição de pobre e de escravo. Aceitei, contudo, minha concepção, meu nascimento como homem, o leite de seu seio, ó Virgem, e assim tudo cresceu em mim segundo a ordem, porque em mim nada existe que não seja deste modo. Com a mesma ordem quero agora realizar o milagre, ao qual consinto pela salvação do homem, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Entende o que estou dizendo, ó santa; quis começar pelo anúncio aos israelitas, por ensinar-lhes a esperança da fé, para que, antes dos milagres, saibam quem ordenou e conheçam com certeza a glória de meu Pai e sua vontade, já que ele quer firmemente que eu seja glorificado por todos. Realmente, quanto realiza aquele que me gerou, eu também posso realizá-lo, por ser consubstancial a Ele e ao Espírito, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Se somente houvesse manifestado isso nos prodígios admiráveis, eles teriam compreendido que sou Deus desde antes de todos os séculos, mesmo que me tenha feito homem. Mas agora, contrariamente à ordem e até mesmo antes da pregação, tu me pedes prodígios. Eis aqui o porquê de meu delongo. Pedia-te que esperasse a hora de realizar milagres, por este único motivo. Mas como os pais devem ser honrados pelos filhos, terei consideração para contigo, ó Mãe, visto que tudo posso fazê-lo, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Diz, pois, aos habitantes da casa que se coloquem a meu serviço seguindo as ordens: que eles em breve serão, para si mesmos e para os demais, as testemunhas do prodígio. Não quero que seja Pedro o que me sirva, nem tampouco João, nem André, nem nenhum dos apóstolos, por temor que depois, por sua causa, surja entre os homens a suspeita de fraude. Quero que sejam os próprios criados que me sirvam, porque eles mesmos se converterão em testemunhas daquilo que me é possível, a mim que tudo cumpri com sabedoria”.
Dócil a estas palavras, a Mãe de Cristo se apressou a dizer aos servidores das bodas: “Fazei o que ele vos disser”. Havia na casa seis talhas, como nos ensina a Escritura. Cristo ordena aos servidores: “Enchei-as de água”. E prontamente foi feito. Encheram de água fresca as talhas e ali permaneceram, esperando o que tentava fazer aquele que tudo cumpriu com sabedoria.
Agora, quero referir-me às talhas e descrever como foram enchidas por aquele vinho, que procedia da água. Como está escrito, o Mestre tinha dito em alta voz aos servidores: “Tirai este vinho que não provém da vindima, o ofereça aos convidados, enchei as taças vazias, para que todo mundo o desfrute e também o próprio esposo; porque a todos dei a alegria de forma imprevista, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
Sendo que Cristo mudou publicamente a água em vinho graças ao seu próprio poder, todo mundo se encheu de alegria considerando muito agradável o sabor daquele vinho. Hoje podemos sentar-nos ao banquete da Igreja, porque o vinho se transformou no sangue de Cristo, e nós o assumimos em santa alegria, glorificando ao grande Esposo. Porque o autêntico Esposo é o Filho de Maria, o Verbo que existe desde a eternidade, que assumiu a condição de escravo e que tudo cumpriu com sabedoria.
Altíssimo, Santo, Salvador de todos, mantém inalterado o vinho que existe em nós, tu que presides todas as coisas. Precipita daqui aos que pensam mal e, em sua perversidade, adulteram com a água teu vinho santíssimo: porque diluindo sempre teu dogma em água, condenam-se a si mesmos ao fogo do inferno. Porém, preserva-nos, ó Imaculado, dos lamentos que seguirão ao teu juízo, tu que és misericordioso, pelas orações da Santa Virgem Mãe de Deus, tu que tudo cumpriste com sabedoria.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 619-622. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Fausto de Riez para este domingo clicando aqui.