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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Liturgia, encontro com Cristo: 49º ENPL (2025)

De 28 a 31 de julho de 2025 teve lugar junto ao Santuário de Fátima (Portugal) o 49º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica (ENPL), promovido pelo Secretariado Nacional de Liturgia.

O tema do encontro foi “A Liturgia, encontro com Jesus Cristo”, em sintonia com o Jubileu Ordinário: “[Que o Ano Santo] possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, ‘porta’ de salvação” (Bula Spes non confundit, n. 1; cf. nn. 5.19.22).


Confira os áudios das quatro conferências, divulgados no site do Secretariado Nacional, clicando nos títulos a seguir:

Cardeal Manuel Clemente, Patriarca Emérito de Lisboa


Cônego Manuel Joaquim F. da Costa, Arquidiocese de Braga


Padre Renato Filipe Oliveira, Diocese de Viana do Castelo


Cônego João da Silva Peixoto, Diocese do Porto


Além das quatro conferências também ocorreram formações por grupos (sacerdotes, acólitos, leitores, músicos...), além das celebrações e outros momentos de oração no Santuário de Fátima: Missas, Liturgia das Horas (Laudes e Vésperas), celebração penitencial e oração do rosário.

Para acessar os conteúdos dos encontros anteriores (1997-2024) basta conferir o arquivo do blog, através do marcador “Secretariado de Liturgia”.

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Missa pelo cuidado da criação

No dia 03 de julho de 2025 foi divulgado um Decreto do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos inserindo a Missa pelo cuidado da criação (Missa pro custodia creationis) entre as Missas para diversas circunstâncias (Missae pro variis necessitatibus).

Ícone da criação do céu e da terra

A 3ª edição típica do Missal Romano, com efeito, promulgada em 2002 e revista em 2008, possui 49 formulários de Missas para diversas circunstâncias, com orações e leituras através dos quais rezamos pelas necessidades da Igreja e do mundo.

A Missa pelo cuidado da criação, que passa a ser o 50º formulário, é fruto sobretudo da reflexão ecológica realizada no pontificado do Papa Francisco (†2025), sintetizada na Encíclica Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum (2015).

Na Conferência de apresentação do novo formulário, o Secretário do Dicastério para o Culto Divino, Dom Vittorio Francesco Viola, recordou a ampla presença do mistério da criação na Liturgia:
- na Vigília Pascal, particularmente na 1ª leitura e na respectiva oração;
- no domingo, o primeiro dia da semana, no qual celebramos tanto a criação como a “nova criação” em Cristo (cf. Carta Apostólica Dies Domini);
- em cada Missa, sobretudo na apresentação das oferendas, “frutos da terra e do trabalho humano”;
- nas Quatro Têmporas, celebrações no início das quatro estações do ano;
- nos sacramentos, particularmente no uso de elementos da criação (água, óleo...);
- na Liturgia das Horas, oração oficial da Igreja para santificar as horas do dia.

Na sequência Dom Vittorio Viola passou a apresentar o formulário da Missa pelo cuidado da criação, que conta com orações e antífonas próprias e opções de leituras à escolha.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Mensagem do Papa a um curso do Pontifício Instituto Litúrgico (2025)

No dia 28 de fevereiro de 2025 foi divulgada a mensagem do Papa Francisco aos participantes da segunda edição do Curso “Viver plenamente a ação litúrgica”, promovido pelo Pontifício Instituto Litúrgico (Pontifício Ateneu Santo Anselmo).

O curso, cuja primeira edição foi realizada em 2023, é voltado aos responsáveis pelas celebrações litúrgicas episcopais, particularmente aos “mestres das celebrações litúrgicas”.

Papa Francisco
Mensagem por ocasião do curso para os responsáveis pelas celebrações litúrgicas episcopais do Pontifício Ateneu Santo Anselmo
24-28 de fevereiro de 2025

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Saúdo o Abade Primaz e o Diretor do Pontifício Instituto Litúrgico [1], com os professores e os alunos que participaram desta segunda edição do curso para os responsáveis pelas celebrações litúrgicas episcopais. Alegra-me constatar que aceitastes novamente o convite formulado na Carta Apostólica Desiderio desideravi, continuando a estudar a Liturgia, não só na perspectiva teológica, mas também no âmbito da práxis celebrativa.

Esta dimensão toca a vida do Povo de Deus e revela-lhe sua verdadeira natureza espiritual (cf. Constituição Dogmática Lumen gentium, n. 9). Por isso o responsável pelas celebrações litúrgicas não é apenas um professor de teologia; não é um rubricista, que aplica as normas; não é um sacristão, que prepara o que é necessário para a celebração. Ele é um mestre colocado a serviço da oração da comunidade. Enquanto ensina humildemente a arte litúrgica, deve guiar todos os que celebram, marcando o ritmo ritual e acompanhando os fiéis no acontecimento sacramental.

Abside da igreja de Santo Anselmo no Aventino
(Sede do Pontifício Instituto Litúrgico)

Como mistagogo, prepara cada celebração com sabedoria para o bem da assembleia; traduz em práxis celebrativa os princípios teológicos expressos nos livros litúrgicos; acompanha e apoia o Bispo na sua função de promotor e guardião da vida litúrgica (Cerimonial dos Bispos, n. 9). Assim assistido, o pastor pode conduzir suavemente toda a comunidade diocesana na oferta de si ao Pai, à imitação de Cristo Senhor.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Retrospectiva 2024

Breve retrospectiva do blog “Pílulas Litúrgicas” no ano civil de 2024, destacando algumas das principais postagens.

Ao longo do ano foram realizadas 384 postagens, sendo janeiro o mês com mais publicações (49). O mês com mais visualizações, porém, foi dezembro, com mais de 64 mil visitas.


Janeiro

De janeiro vale destacar nossas postagens sobre a sequência Festa Christi omnis (Epifania do Senhor) e sobre os hinos da Festa da Conversão de São Paulo (Ofício e Vésperas).

Nesse mês ocorreu a eleição do novo Arcebispo-Maior da Igreja Sírio-Malabar, Dom Raphael Thattil, e a Ordenação Episcopal do Metropolita da Igreja Greco-Católica Eslovaca, Dom Jonáš Jozef Maxim.

Fevereiro

Fevereiro foi o mês no qual realizamos mais postagens de formação litúrgica: sobre a sequência Concentu parili hic te (Apresentação do Senhor), sobre os sete salmos penitenciais, sobre a Ladainha para a Quaresma e sobre os hinos da Festa da Cátedra de São Pedro (Laudes e Vésperas).

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Sequência do Natal: Eia recolamus

“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador” (Lc 2,11).

Há um ano, em dezembro de 2023, publicamos aqui em nosso blog um artigo sobre a sequência Grates nunc omnes para a Missa da Noite da Solenidade do Natal do Senhor.

Durante a Idade Média, com efeito, as principais celebrações do Ano Litúrgico contavam geralmente com uma ou mais sequências, composições poéticas entoadas antes do Evangelho da Missa, até que a reforma do Concílio de Trento (século XVI) infelizmente as reduziu a apenas quatro [1].

Era o caso da Solenidade do Natal do Senhor, que contava com ao menos três sequências, em alusão às três Missas (da Noite, da Aurora e do Dia): Grates nunc omnes, Eia recolamus e Natus ante saecula.

Adoração dos pastores
(Gerard van Honthorst) 

Essas composições foram elencadas pelo célebre Notker Balbulus (†912), monge da Abadia beneditina de São Galo (Sankt Gallen), na Suíça, em seu Liber Sequentiarum, no qual compila 38 sequências.

Após apresentamos a sequência Grates nunc omnes em 2023, nesta postagem damos continuidade à proposta com Eia recolamus laudibus piis digna, geralmente indicada para a Missa da Aurora (In aurora, In primo mane).

Contudo, uma vez que essa sequência era bastante popular em toda a Europa, às vezes aparecia indicada para a “Missa principal” do Natal (In summa Missa Nativitatis Domini, In magna Missa), isto é, a Missa com maior concurso de povo, ou então para a Missa da Noite (In galli cantu).

No Missal de Sarum, utilizado na Inglaterra durante a Idade Média, por sua vez, essa sequência era indicada para o dia 01 de janeiro, Oitava do Natal e Festa da Circuncisão do Senhor (In Octava Nativitatis Domini, In die Circumcisionis Domini).

Não está claro se Notker foi o autor do texto ou apenas o compilou. Alguns estudiosos sugerem que se trata de uma composição anônima realizada na Alemanha entre os séculos X e XI.

Não obstante, assim como outras sequências atribuídas a Notker, sua divisão em estrofes não é clara. Propomos aqui uma divisão em nove estrofes de dois versos de métrica desigual, exceto a primeira e a última estrofes, com três versos.

A composição, ademais, se caracteriza por uma espécie de “assonância”: várias palavras terminam em “a” ou em variantes (“am”, “at”), o que dá grande musicalidade ao texto.

Segue, pois, o texto da sequência no original (em latim) e em uma tradução nossa bastante livre (mais uma adaptação do que uma tradução), seguidos de um breve comentário sobre a sua teologia.


Sequentia in Nativitate Domini: Eia recolamus

1. Eia recolamus laudibus piis digna,
Hujus diei gaudia, in qua nobis lux oritur gratissima.
Noctis inter nebulosa pereunt nostri criminis umbracula.

2. Hodie saeculo maris stella est enixa novae salutis gaudia,
Quem tremunt barathra, mors cruenta pavet ipsa, a quo peribit mortua.

3. Gemit capta pestis antiqua, coluber lividus perdit spolia.
Homo lapsus, ovis abducta, revocatur ad aeterna gaudia.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Abertura do Grande Jubileu do Ano 2000 nas Dioceses

“Jesus Cristo ontem e hoje e por toda a eternidade” (Hb 13,8).

Dentro de alguns dias terá início o Jubileu Ordinário de 2025 com a Abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro na Missa da Noite de Natal. No domingo seguinte, por sua vez, terá início o Jubileu nas Dioceses (cf. Bula Spes non confundit).

Já recordamos aqui em nosso blog o Rito de Abertura da Porta Santa Basílica de São Pedro presidido pelo Papa São João Paulo II no dia 24 de dezembro de 1999. Nesta postagem, por sua vez, recordaremos o Rito de Abertura do Grande Jubileu do Ano 2000 nas Igrejas Particulares (Dioceses e outras circunscrições eclesiásticas).


Como estabelecido na Bula Incarnationis mysterium essa celebração teve lugar no dia 25 de dezembro de 1999, com a Missa do Dia de Natal presidida pelo Bispo Diocesano na Catedral:

“Estabeleço que a inauguração do Jubileu nas Igrejas Particulares seja celebrada no dia santíssimo do Natal do Senhor Jesus, com uma solene Liturgia Eucarística presidida pelo Bispo Diocesano na Catedral e também na concatedral... Uma vez que o rito de abertura da Porta Santa é próprio da Basílica Vaticana e das Basílicas Patriarcais, será conveniente que, na inauguração do período jubilar em cada uma das Dioceses, tenha preferência a statio em outra igreja de onde partirá a peregrinação para a Catedral, a valorização litúrgica do Livro dos Evangelhos, a leitura de alguns parágrafos desta Bula...” (Incarnationis mysterium, n. 6).

Apresentamos a seguir as linhas gerais do rito, publicado no subsídio “Bendito seja Deus para sempre: Celebrações e orações para o Ano Santo”, publicado pela Comissão Central do Grande Jubileu do Ano 2000 e traduzido para o Brasil pela Editora Paulinas.

Vale lembrar que esses textos foram aprovados especificamente para o Grande Jubileu do Ano 2000. Sua publicação aqui serve à memória histórica e ao estudo da Liturgia. Para o rito a ser utilizado neste ano de 2024, confira o subsídio publicado pela CNBB, “Jubileu 2025: Textos litúrgicos”.

Rito de Abertura do Grande Jubileu do Ano 2000 nas Igrejas Particulares
25 de dezembro de 1999

A celebração teve início em uma igreja ou outro lugar adequado fora da Catedral, de onde partiu a procissão. Se a Missa foi celebrada no fim da tarde, os fiéis podiam levar velas acesas.

Quando o Bispo, acompanhado dos ministros, chegou ao local onde os fiéis estão reunidos, podia ser entoado um refrão ou um canto adequado. O Bispo, ao invés da casula, podia revestir o pluvial.

O celebrante principal (CP), isto é, o Bispo, iniciou a celebração com o sinal da cruz, a aclamação à Trindade e a saudação:

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (5)

“Entoai juntos salmos, hinos e cânticos inspirados; cantai e celebrai o Senhor de todo o vosso coração” (Ef 5,19).

Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte / 4ª parte.

Agora nos cabe contemplar outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Pregação de Paulo em Éfeso (At 19)
(Eustache Le Sueur)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Leitura semicontínua

Conforme o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas sob esse critério tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

Primeiramente a Carta aos Efésios é lida de maneira semicontínua como 2ª leitura da Missa em sete domingos, do XV ao XXI Domingo do Tempo Comum do Ano B, entre a Segunda Carta aos Coríntios e a Carta de Tiago:
XV Domingo: Ef 1,3-14 (forma breve: Ef 1,3-10);
XVI Domingo: Ef 2,13-18;
XVII Domingo: Ef 4,1-6;
XVIII Domingo: Ef 4,17.20-24;
XIX Domingo: Ef 4,30–5,2;
XX Domingo: Ef 5,15-20;
XXI Domingo: Ef 5,21-32 [3].

Nos dias de semana do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida por duas semanas: da quinta-feira da XXVIII semana à quinta-feira da XXX semana do Tempo Comum no ano par, entre outros dois escritos paulinos: a Carta aos Gálatas e a Carta aos Filipenses.

Nessas duas semanas a Carta aos Efésios é lida praticamente na íntegra, sendo omitidas apenas algumas partes da seção parenética que já foram lidas nos domingos ou em outras celebrações. A leitura está organizada da seguinte forma:

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (4)

“Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus” (Ef 4,24).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica), como indicado no Elenco das Leituras da Missa (n. 66) [1], na Celebração Eucarística, nos demais Sacramentos e nos Sacramentais.  Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Nesta postagem concluiremos esse percurso com a Liturgia das Horas (LH).

Ruínas da cidade de Éfeso

2. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Composição harmônica

d) Liturgia das Horas

Em relação à leitura de Efésios em composição harmônica na Liturgia das Horas, é preciso distinguir entre leituras longas, proferidas no Ofício das Leituras, e leituras breves, proferidas nas outras horas (Laudes, Hora Média e Vésperas).

Iniciamos com as leituras longas do nosso escrito, que são seis:

- Ofício das Leituras da Festa da Sagrada Família (Domingo após o Natal): Ef 5,21–6,4 [2]. Enquanto na Missa da Festa se lê o “código doméstico” de Colossenses, como vimos em postagens anteriores, na LH se lê o “código doméstico” de Efésios.

- Ofício das Leituras da Solenidade da Ascensão do Senhor: Ef 4,1-24 [3], recordando o “duplo movimento” de Cristo: “Ele subiu! Que significa isso, senão que Ele desceu também às profundezas da terra! Aquele que desceu é o mesmo que subiu mais alto do que todos os céus, a fim de encher o universo” (vv. 9-10).

- Ofício das Leituras da Solenidade da Assunção da Virgem Maria (15 de agosto): Ef 1,16–2,10 [4], sobre a obra salvífica do Senhor: “Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus em virtude de nossa união com Jesus Cristo” (v. 6).

- Ofício das Leituras das Festas dos Evangelistas São Marcos (25 de abril) e São Mateus, Apóstolo (21 de setembro): Ef 4,1-16 [5], perícope que atesta a diversidade de ministérios, incluindo os “apóstolos” e “evangelistas”.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (3)

“Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo” (Ef 4,5).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica), como indicado pelo Elenco das Leituras da Missa (n. 66) [1], na Celebração Eucarística. Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte.

Agora prosseguiremos com os demais Sacramentos e os Sacramentais.


2. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Composição harmônica

b) Sacramentos

Além da Eucaristia, a Carta aos Efésios consta entre as opções de leitura ad libitum (à escolha) de todos os outros seis Sacramentos.

Primeiramente, em relação à Iniciação Cristã de Adultos, vale destacar o Rito da eleição ou inscrição do nome, que tradicionalmente se celebra no I Domingo da Quaresma e com o qual tem início o “Tempo da Purificação e Iluminação”. Quando esse rito se celebra na Missa, entoa-se a antífona da Comunhão da sexta-feira da IV semana da Quaresma, como vimos anteriormente: “Temos a redenção em Cristo pelo seu sangue e a remissão dos pecados segundo as riquezas de sua graça” (Ef 1,7) [2].

No IV Domingo da Quaresma, por sua vez, celebra-se o II Escrutínio, com uma leitura de Efésios, que é proclamada mesmo quando os Escrutínios são celebrados em outro tempo: Ef 5,8-14 [3], sobre o tema da “iluminação”.

Para a celebração do sacramento do Batismo há três leituras ad libitum (à escolha) da nossa Carta:
- Ef 1,3-10.13-14: o “hino”, que como o Batismo possui uma dinâmica trinitária, destacando-se aqui também o tema da adoção filial (vv. 5-6);
- Ef 4,1-6: a afirmação de que há “um só Senhor, uma só fé, um só Batismo”;
- Ef 5,8-14: esta leitura, sobre o tema da “iluminação” é prevista apenas para o Batismo de crianças, uma vez que os adultos já a ouviram no II Escrutínio [4].

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (2)

“Cristo é a nossa paz: do que era dividido, Ele fez uma unidade” (Ef 2,24).

Na postagem anterior desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1], ao longo do Ano Litúrgico e nas Missas dos Santos. Para acessar a 1ª parte, clique aqui.

Agora prosseguiremos com as Missas para diversas necessidades e votivas.

Representação do Concílio de Éfeso (431):
Epifania da Igreja

2. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Composição harmônica

a) Celebração Eucarística

Começamos esta segunda parte do nosso estudo com as Missas para diversas necessidades, formulários com várias opções de leituras ad libitum (à escolha), com textos de Efésios em dez formulários:

Na Missa pela Igreja, dada a importância da eclesiologia na Carta, são propostas duas leituras:
Ef 1,3-14: o “hino” em ação de graças, todo no plural (Deus “nos abençoou... nos escolheu...”), uma vez que a Igreja é a destinatária das bênçãos;
Ef 2,19-22: sobre a Igreja como “edifício que tem como fundamento os Apóstolos e os Profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal” (v. 20) [2].

Do “hino” da Carta é tomada também a antífona de entrada do 1º formulário de Missa pela Igreja: “Deus revelou-nos o mistério da sua vontade: restaurar todas as coisas que estão nos céus e na terra no Cristo Jesus” (cf. Ef 1,9a.10) [3].

Na Missa para a eleição do Papa ou Bispo é sugerido o texto de Ef 4,11-16 [4], sobre os diversos ministérios, destacando-se os “pastores e mestres” (v. 11), e recordando que Cristo é a Cabeça da Igreja: unido a Ele, o Corpo cresce na verdade e na caridade.

Para a Missa pelos sacerdotes propõe-se a leitura de Ef 4,1-7.11-13 [5], com a recordação dos diversos ministérios unida à exortação a praticar as virtudes: “humildade, mansidão, paciência...” (vv. 1-7). A mesma perícope é proposta na Missa pelos ministros da Igreja [6].

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (1)

“Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os Apóstolos e os Profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal” (Ef 2,20).

Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar as “Cartas do cativeiro” atribuídas a São Paulo, com importantes reflexões sobre Cristo e a Igreja.

Após a análise das Cartas aos Filipenses e aos Colossenses, concluiremos esse “bloco” com a Carta aos Efésios (Ef), Πρὸς Ἐφεσίους.

São Paulo escrevendo suas Cartas
(Rembrandt)

1. Breve introdução à Carta aos Efésios

Após uma breve passagem por Éfeso (na atual Turquia) no final da sua “segunda viagem missionária” (At 18,19-21), o Apóstolo Paulo visitou novamente a cidade na sua “terceira viagem” (At 19), permanecendo por um longo período, talvez como prisioneiro por um tempo (Ef 3,1; 4,1; 6,20).

A grande maioria dos estudiosos considera a Carta aos Efésiosdêutero-paulina”, isto é, escrita por um discípulo do Apóstolo, devido às diferenças de linguagem e de teologia em relação às Cartas proto-paulinas. Efésios é a maior das Cartas dêutero-paulinas, com seis capítulos.

O autor de Efésios baseia-se amplamente em Colossenses, de modo que se discute se as duas Cartas têm o mesmo autor ou se são autores distintos. De toda forma, Efésios teria sido escrita provavelmente entre os anos 80 e 90 do século I.

Embora use boa parte do material de Colossenses, a Carta possui textos próprios, como a “ação de graças” em estilo hínico (Ef 1,3-14) e parte da seção parenética (Ef 4,1-14). Além disso, o problema do “falso ensinamento” de Cl 2 não aparece aqui.

Não obstante, a estrutura de Efésios é a mesma, com uma seção teológica (doutrinal) e uma seção parenética (exortativa) “emolduradas” por uma introdução e uma conclusão:
a) Ef 1,1-23: Introdução, com a saudação (vv. 1-2) e a ação de graças (vv. 3-23);
b) Ef 2,1–3,20: Seção teológica;
c) Ef 4,1–6,20: Seção parenética;
d) Ef 6,21-24: Conclusão.

Assim como Filipenses e Colossenses, Efésios contém um “hino cristológico”, embora alguns estudiosos não o considerem como tal, preferindo falar de “ação de graças” em estilo hínico.

Em sua forma a composição possui elementos da tradição judaica, embora seu conteúdo seja autenticamente cristão. Podemos dividi-la em três estrofes, conforme as três Pessoas Divinas: nossa eleição por Deus Pai (vv. 3-6), a redenção operada por Cristo (vv. 7-12) e a obra do Espírito Santo (vv. 13-14). Cada uma das três estrofes conclui-se com um refrão: “Para louvor da sua glória” (vv. 6.12.14).

Outra divisão do cântico é conforme as seis bênçãos mencionadas após o v. 3, que serve de introdução: a eleição (v. 4), a adoção filial (vv. 5-6), a redenção (vv. 7-8), a revelação (vv. 9-10), novamente a eleição (vv. 11-12) e, por fim, os dons da Palavra de Deus e do Espírito Santo, aos quais respondemos com a fé (vv. 13-14).

Esse hino serve, com efeito, de “resumo” da Carta. Sua seção teológica está centrada na obra de Cristo já delineada no hino: a salvação, a unificação de judeus e gentios em um só povo (a Igreja) e a revelação do mistério de Deus (Ef 2,1–3,13), concluindo com uma “oração” (Ef 3,14-21).

Na seção parenética esses temas são retomados: o autor exorta à unidade, a colocar os próprios dons a serviço da Igreja (Ef 4,1-16) e a andar como “filhos da luz”, abandonando as “obras das trevas” (Ef 4,17–5,20), retomando a célebre metáfora dos “dois caminhos”. Por fim, conclui com um “código doméstico” (Ef 5,21–6,9), como em Colossenses, e uma exortação à oração (Ef 6,10-20).

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

São Paulo em Éfeso (At 19)
(Eustache Le Sueur)

2. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Composição harmônica

Como todos os livros estudados nesta série, analisaremos a leitura litúrgica da Carta aos Efésios a partir dos dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Iniciamos com o critério da composição harmônica: a escolha do texto por sua sintonia com o tempo ou a festa litúrgica.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Encíclica Ecclesia de Eucharistia (2)

“Ecclesia de Eucharistia vivit” - “A Igreja vive da Eucaristia”.

Recordando os 20 anos do início do Ano da Eucaristia (17 de outubro de 2004), convocado por São João Paulo II, repropomos sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia, promulgada na Quinta-feira Santa de 2003.

Por sua importância e extensão, dividimos o documento em duas partes. Após a 1ª parte com os nn. 1-33, confira a seguir os Capítulos 4-6 e a Conclusão (nn. 34-62):

Papa João Paulo II
Encíclica Ecclesia de Eucharistia
Sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja

Capítulo IV: A Eucaristia e a comunhão eclesial

34. Em 1985 a Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos reconheceu a «eclesiologia da comunhão» como a ideia central e fundamental dos documentos do Concílio Vaticano II (cf. Relação final, II-C.1). Enquanto durar a sua peregrinação aqui na terra, a Igreja é chamada a conservar e promover tanto a comunhão com a Trindade divina como a comunhão entre os fiéis. Para isso, possui a Palavra e os sacramentos, sobretudo a Eucaristia; desta «vive e cresce» (Constituição Dogmática Lumen gentium, n. 26), e ao mesmo tempo exprime-se nela. Não foi sem razão que o termo Comunhão se tornou um dos nomes específicos deste sacramento excelso.
Daí que a Eucaristia se apresente como o sacramento culminante para levar à perfeição a comunhão com Deus Pai através da identificação com o seu Filho Unigênito por obra do Espírito Santo. Com grande intuição de fé, um insigne escritor de tradição bizantina assim exprimia esta verdade: na Eucaristia, «mais do que em qualquer outro sacramento, o mistério [da comunhão] é tão perfeito que conduz ao apogeu de todos os bens: nela está o termo último de todo o desejo humano, porque nela alcançamos Deus e Deus se une conosco pela união mais perfeita» (Nicolau Cabasilas, A vida em Cristo IV, 10). Por isso mesmo, é conveniente cultivar continuamente na alma o desejo do sacramento da Eucaristia. Daqui nasceu a prática da «Comunhão espiritual» em uso na Igreja há séculos, recomendada por santos mestres de vida espiritual. Escrevia Santa Teresa de Jesus: «Quando não comungais e não participais na Missa, comungai espiritualmente, porque é muito vantajoso... Deste modo, imprime-se em vós muito do amor de nosso Senhor» (Caminho de perfeição, 35).

São João Paulo II celebra a Eucaristia
(Corpus Christi de 2001)

35. Entretanto, a celebração da Eucaristia não pode ser o ponto de partida da comunhão, cuja existência pressupõe, visando a sua consolidação e perfeição. O sacramento exprime esse vínculo de comunhão quer na dimensão invisível que em Cristo, pela ação do Espírito Santo, nos une ao Pai e entre nós, quer na dimensão visível que implica a comunhão com a doutrina dos Apóstolos, os sacramentos e a ordem hierárquica. A relação íntima entre os elementos invisíveis e os elementos visíveis da comunhão eclesial é constitutiva da Igreja enquanto sacramento de salvação (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta Communionis notio sobre alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão, n. 4). Somente neste contexto tem lugar a celebração legítima da Eucaristia e a autêntica participação nela. Por isso, uma exigência intrínseca da Eucaristia é que seja celebrada na comunhão e, concretamente, na integridade dos seus vínculos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Encíclica Ecclesia de Eucharistia (1)

“Ecclesia de Eucharistia vivit” - “A Igreja vive da Eucaristia”.

Recordando a eleição de São João Paulo II como Bispo de Roma (16 de outubro de 1978) e os 20 anos do início do Ano da Eucaristia (17 de outubro de 2004), uma das últimas iniciativas do Papa polonês, repropomos sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia, promulgada na Quinta-feira Santa de 2003.

Por sua importância e extensão, publicaremos o documento dividido em duas partes. Confira a seguir a Introdução e os Capítulos 1-3 (nn. 1-33):

Papa João Paulo II
Encíclica Ecclesia de Eucharistia
Sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja

Introdução

1. A Igreja vive da Eucaristia [Ecclesia de Eucharistia vivit]. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: «Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28,20); mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. Desde o Pentecostes, quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de consoladora esperança.

O Concílio Vaticano II justamente afirmou que o sacrifício eucarístico é «fonte e centro de toda a vida cristã» (Constituição Dogmática Lumen gentium, n. 11). Com efeito, «na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo» (Decreto Presbyterorum ordinis, n. 5). Por isso, o olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor.

São João Paulo II celebra a Eucaristia
(Corpus Christi de 2001)

2. Durante o Grande Jubileu do Ano 2000 pude celebrar a Eucaristia no Cenáculo de Jerusalém, onde, segundo a tradição, o próprio Cristo a realizou pela primeira vez. O Cenáculo é o lugar da instituição deste santíssimo sacramento. Foi lá que Jesus tomou nas suas mãos o pão, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: «Tomai todos e comei: Isto é o meu Corpo que será entregue por vós» (cf. Mt 26,26; Lc 22,19; 1Cor 11,24). Depois, tomou nas suas mãos o cálice com vinho e disse-lhes: «Tomai todos e bebei: Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para remissão dos pecados» (cf. Mc 14,24; Lc 22,20; 1Cor 11,25). Dou graças ao Senhor Jesus por me ter permitido repetir no mesmo lugar, obedecendo ao seu mandato: «Fazei isto em memória de mim» (Lc 22,19), as palavras pronunciadas por Ele há dois mil anos.
Teriam os Apóstolos, que tomaram parte na Última Ceia, entendido o significado das palavras saídas dos lábios de Cristo? Talvez não. Aquelas palavras seriam esclarecidas plenamente só no fim do Triduum Sacrum, ou seja, aquele período de tempo que vai da tarde de Quinta-feira Santa até à manhã do Domingo de Páscoa. Nestes dias, está contido o mysterium paschale; neles está incluído também o mysterium eucharisticum.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (4)

“Cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças” (Cl 3,16).

Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Agora cabe contemplar o outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Jesus Cristo, Rei dos Anjos
(Jan Henryk de Rosen)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Leitura semicontínua

De acordo com o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas de maneira semicontínua tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

Nos domingos a Carta aos Colossenses é a 2ª leitura da Missa do XV ao XVIII Domingo do Tempo Comum do Ano C, entre a leitura semicontínua da Carta aos Gálatas e da Carta aos Hebreus (cap. 11–12).

As quatro perícopes escolhidas do nosso livro aqui são:
XV Domingo: Cl 1,15-20;
XVI Domingo: Cl 1,24-28;
XVII Domingo: Cl 2,12-14;
XVIII Domingo: Cl 3,1-5.9-11 [3]

Nos dias de semana do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida por oito dias: da quarta-feira da XXII semana à quinta-feira da XXIII semana do Tempo Comum no ano ímpar, entre a leitura da Primeira Carta aos Tessalonicenses e da Primeira Carta a Timóteo.

XXII semana do Tempo Comum (Ano ímpar):
Quarta-feira: Cl 1,1-8;
Quinta-feira: Cl 1,9-14;
Sexta-feira: Cl 1,15-20;
Sábado: Cl 1,21-23.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (3)

“Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós” (Cl 3,16).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1] na Celebração Eucarística e nos demais Sacramentos. Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte.

Agora concluiremos a análise sob esse critério com os Sacramentais e a Liturgia das Horas.

Jesus Cristo, Senhor dos Anjos
(Edward Burne-Jones)

2. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Composição harmônica

c) Sacramentais

Quanto aos Sacramentais, consideremos primeiramente aqueles que implicam a consagração de pessoas.

Na Bênção de abade ou abadessa consta dentre as leituras ad libitum (à escolha) o texto de Cl 3,12-17 [2], com a exortação à prática das virtudes. Destaca-se aqui o v. 16: “Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria”, recordando a função do abade ou abadessa como guia da comunidade.

Dessa mesma perícope é tomada uma das opções de aclamação ao Evangelho para essa celebração: “A paz de Cristo reine em vossos corações, para a qual fostes chamados num só corpo!” (Cl 3,15) [3].

Uma versão ligeiramente mais longa desse texto conta como 2ª opção de antífona de entrada para a Missa ritual: “Acima de tudo tende a caridade, que é laço da perfeição; e exulte em vossos corações a paz do Cristo” (Cl 3,14-15) [4].

Para a Consagração das virgens e a Profissão religiosa, que compartilham as mesmas opções de leituras, propõem-se dois textos à escolha: Cl 3,12-17, como acima, e Cl 3,1-4 [5], com a exortação a buscar “as coisas do alto, onde está Cristo”.

Na sequência contemplemos as bênçãos de pessoas, lugares e objetos, nas quais identificamos sete leituras do nosso escrito à escolha:

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (2)

“Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto” (Cl 3,1).

Em nossa postagem anterior desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1] na Celebração Eucarística. Para acessar a 1ª parte, clique aqui.

Agora prosseguiremos com as Missas para diversas necessidades e votivas e os demais Sacramentos.

“A paz de Cristo exulte em vossos corações” (Cl 3,15)
O Ressuscitado comunica a paz aos Apóstolos

2. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Composição harmônica

Começamos esta segunda parte do nosso estudo contemplando as Missas para diversas necessidades, com várias opções de leituras ad libitum (à escolha), das quais são tomadas também algumas antífonas para essas Missas.

Primeiramente, a antífona de entrada da Missa por um Concílio ou Sínodo é uma exortação à caridade e à paz: “Tende acima de tudo a caridade, que é o vínculo da perfeição; e a paz de Cristo exulte em vossos corações” (Cl 3,14-15) [2].

Na sequência, nas Missas pelos sacerdotes e pelos ministros da Igreja é possível ler Cl 1,24-29 [3]. Aqui, como vimos na postagem anterior, o autor da Carta recorda seu ministério, destacando o anúncio da Palavra.

Dessa perícope é tomada a antífona de entrada do 1ª formulário da Missa pelo próprio sacerdote: “Eu me tornei ministro da Igreja por disposição divina que me foi confiada em relação a vós: anunciar-vos o Cristo...” (cf. Cl 1,25.28) [4].

Para a Missa pela unidade dos cristãos propõe-se a leitura de Cl 3,9b-17 [5], um trecho da seção parenética da Carta, exortando à prática das virtudes e concluindo com uma “bênção” evocando a paz e a unidade.

Dessa mesma perícope é tomada uma das opções de aclamação ao Evangelho (Cl 3,15) [6] e a antífona da Comunhão do 2ª formulário dessa Missa: “Tende acima de tudo a caridade, que é vínculo de perfeição; e exulte em vossos corações a paz do Cristo na qual sois chamados a ser um só corpo” (Cl 3,14-15) [7].

O mesmo texto de Cl 3,14-15 é proposto ainda como 2ª opção de antífona de entrada para a Missa para uma reunião espiritual ou pastoral [8].

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (1)

“Amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14).

Em nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar as “Cartas do cativeiro” atribuídas ao Apóstolo Paulo, com importantes reflexões sobre Cristo e a Igreja: Filipenses, Colossenses e Efésios. Nesta postagem começaremos um percurso pela Carta aos Colossenses (Cl), Πρὸς Κολοσσαεῖς.

São Paulo escrevendo suas Cartas
(Rembrandt)

1. Breve introdução à Carta aos Colossenses

Diferentemente de Filipos, a comunidade de Colossas, na Frígia (na atual Turquia), não foi fundada por Paulo, mas provavelmente por Epafras, um discípulo do Apóstolo (Cl 1,7-8).

Enquanto há consenso acerca da autoria paulina de Filipenses, o mesmo não pode ser dito desta Carta. Para a maioria dos autores, dadas as diferenças de linguagem e teologia, Colossenses não foi escrita por Paulo, mas sim por um discípulo, provavelmente nos anos 80 do século I (antes de Efésios, que se baseará nesta Carta).

Esta é, portanto, uma “Carta dêutero-paulina”, embora também seja enquadrada no grupo das “Cartas do cativeiro”, uma vez que o autor “veste o manto” de Paulo na prisão (cf. Cl 4,3.10.18).

A Carta possui uma divisão semelhante a Romanos, com uma seção teológica (doutrinal) e uma seção parenética (exortativa ou moral), “emolduradas” por uma introdução e uma conclusão:
a) Cl 1,1-8: Introdução, com a saudação (vv. 1-2) e a ação de graças (vv. 3-8);
b) Cl 1,9–2,23: Seção teológica, centrada no tema da soberania de Cristo;
c) Cl 3,1–4,6: Seção parenética;
d) Cl 4,7-18: Conclusão, com as saudações finais.

Assim como em Filipenses, temos em Cl 1,15-20 um “hino cristológico”, provavelmente tomado da Liturgia da comunidade primitiva, que sintetiza a reflexão teológica da Carta. Podemos chamá-lo de “hino à soberania de Cristo”, sob dois aspectos: na ordem da criação (vv. 15-17) e na ordem da salvação (vv. 18-20).

O hino é marcado por paralelos: Cristo é o “primogênito de toda criatura (v. 15) e o “primogênito dentre os mortos” (v. 18). A composição relaciona-se assim com a “sabedoria criadora” do Antigo Testamento (cf. Pv 8,22-31), embora Cristo seja não só a origem da criação, mas também seu fim: “Tudo foi criado por Ele e para Ele” (v. 16).

Destaca-se também a relação Cristo-Igreja: “Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo” (v. 18). Embora a metáfora do corpo já estivesse presente na Primeira Carta aos Coríntios e na Carta aos Romanos, ela é aqui ampliada, adquirindo um sentido mais universal.

O hino ajuda ainda a esclarecer os “falsos ensinamentos” (Cl 2,8-23). Trata-se aqui do perigo do sincretismo, isto é, da absorção de elementos de várias religiões. Por exemplo, se mencionam exageros no “culto dos anjos” (Cl 2,18), contra o qual o hino ressalta a soberania de Cristo (tema presente também em Hb 1,5–2,18).

Provavelmente esse culto tinha uma característica “dualista” (fenômeno ampliado pelo gnosticismo no século II): havia anjos bons e maus. A Carta afirma que Cristo é superior aos anjos bons por tê-los criado (Cl 1,16; 2,10) e que subjugou os anjos maus pelo seu sacrifício na cruz (Cl 1,20; 2,14-15).

Além do “culto aos anjos” parece que haviam práticas ascéticas, talvez relacionadas a proibições alimentares (Cl 2,16) e mortificações corporais (Cl 2,23), além de elementos dos “cultos de mistérios”, uma vez que o autor afirma que em Cristo o mistério de Deus foi revelado (Cl 1,25-29).

A seção parenética da Carta, além de catálogos de vícios e virtudes (Cl 3,5-17), traz um dos “códigos domésticos” do Novo Testamento (Cl 3,18-25), com exortações a esposos, pais e filhos, servos...

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

Sagrada Família
(Catedral de Westminster)

2. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Composição harmônica

Como fizemos com as Cartas Paulinas e os demais livros nesta série, analisaremos a leitura litúrgica de Colossenses a partir dos dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Iniciamos nosso percurso pelo critério da composição harmônica: a escolha do texto por sua sintonia com o tempo ou a festa litúrgica.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Filipenses (4)

“Para mim, o viver é Cristo” (Fl 1,21).

Nas últimas postagens da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Agora nos cabe contemplar o outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Escultura de Jesus Cristo na Alemanha
(Na base está escrito o texto de Fl 1,21)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Filipenses: Leitura semicontínua

Segundo o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas de maneira semicontínua tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

No ciclo dominical, a Carta aos Filipenses é proclamada como 2ª leitura do XXV ao XXVIII Domingo do Tempo Comum no Ano A, entre a Carta aos Romanos e a Primeira Carta aos Tessalonicenses:
XXV Domingo: Fl 1,20c-24.27a;
XXVI Domingo: Fl 2,1-11 (Forma breve: Fl 2,1-5);
XXVII Domingo: Fl 4,6-9;
XXVIII Domingo: Fl 4,12-14.19-20 [3].

Nos dias feriais do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida da sexta-feira da XXX semana ao sábado da XXXI semana do Tempo Comum no ano par, após a leitura da Carta aos Efésios e antes das Cartas a Tito e a Filêmon.

Trata-se aqui de uma leitura substancial da Carta, sendo omitidos poucos textos, como podemos ver a seguir:

XXX semana do Tempo Comum (Ano par):
Sexta-feira: Fl 1,1-11;
Sábado: Fl 1,18b-26.

XXXI semana do Tempo Comum (Ano par):
Segunda-feira: Fl 2,1-4;
Terça-feira: Fl 2,5-11;
Quarta-feira: Fl 2,12-18;
Quinta-feira: Fl 3,3-8a;
Sexta-feira: Fl 3,17–4,1;
Sábado: Fl 4,10-19 [4].

Vale destacar ainda os dois textos da Carta propostos como versículos de aclamação ao Evangelho no Tempo Comum:

- “Como astros no mundo vós resplandeceis, mensagem de vida ao mundo anunciando...” (Fl 2,15d.16a): XXIX Domingo (Ano A), VIII Domingo (Ano C), sexta-feira da X semana e segunda-feira da XXXII semana [5];

- “Em tudo considero como perda e lixo, a fim de ganhar Cristo e ser achado n’Ele” (Fl 3,8-9): Quarta-feira da XXVI semana e quinta-feira da XXIX semana [6].

Papiro com um trecho da Carta aos Filipenses

b) Liturgia das Horas

Na Liturgia das Horas a Carta aos Filipenses é lida na íntegra no Ofício das Leituras da XXVI semana do Tempo Comum, entre a leitura do Livro de Ezequiel e da Primeira Carta a Timóteo.