Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE) publicou via Facebook uma série de perguntas e respostas sobre o Natal:
I. Que significa celebrar o Natal?
Significa celebrar NA
LITURGIA, memorial do culto cristão, instituído por Jesus nosso Senhor, o
mistério e a graça da Sua piedosa Vinda, da Sua graciosa Manifestação na nossa
natureza humana e no nosso mundo, cumprindo as promessas feitas por Deus a
Israel.
II. Que é esse MEMORIAL instituído pelo Senhor?
No Israel da Antiga Aliança,
toda a obra salvífica do Senhor era celebrada anualmente nas festas instituídas
pelo Senhor Deus: a Páscoa, Pentecostes, as Tendas, o Kippur, a Dedicação do
Templo...
Tudo
isto preparava para o Cristo nosso Senhor.
Ele veio, realizou a
salvação e na noite em que foi entregue instituiu o Sacramento do Seu Corpo e
do Seu Sangue, Memorial sagrado de tudo quanto Ele fez por nós, cumprindo tudo
quanto Deus havia prometido.
Assim, no Sacramento da
Ceia, no santo Sacrifício Eucarístico, toda a salvação torna-se presente: a
criação do mundo, a história santa do antigo Israel, os atos e gestos
salvíficos do Senhor, as graças dadas aos cristãos, a vida da Igreja e até
mesmo a Sua Vinda no final dos tempos.
NA LTURGIA, pela força
potente do Santo Espírito do Cristo imolado e ressuscitado, tudo, tudo
absolutamente, em Cristo Senhor, torna-se contemporaneamente, simultaneamente
presente, de modo que, para um cristão, celebrar os santos mistérios litúrgicos
é entrar realmente e verdadeiramente em contato com o Mistério da nossa
salvação e com cada um dos mistérios especificamente.
NA LITURGIA, toda a obra da
salvação é-nos dada realmente: "Fazei isto em memória ( = memorial,
zikaron, isto é, celebração ritual, eficaz e presentificante ) de Mim!"
III. O Natal é, então, celebração do quê?
É real e verdadeira
celebração da Manifestação, da Vinda do Senhor na nossa carne mortal.
Celebrar a Eucaristia no Natal é tornar realmente
presente sobre o Altar como oferta ao Pai no Espírito Santo o Cordeiro imolado
e ressuscitado no Qual tudo, absolutamente tudo da nossa salvação se encontra
presente!
Cristo
é tudo, resume tudo, sintetiza tudo, atrai tudo, realiza tudo! Nele,
eucarístico, está a criação do mundo,
Nele,
toda a história de Israel,
Nele
o Natal,
Nele
a Páscoa,
Nele
a vida da Igreja,
Nele
a Glória dos santos,
Nele
o Dia Final, na consumação de tudo!
Cada mistério da nossa fé
que celebramos na Liturgia coloca-nos realmente, verdadeiramente em contato com
a graça que nos veio daquele mistério.
Quem celebra as Eucaristias do tempo sagrado do Natal entra em contato real com
a graça da Vinda do Salvador!
Este é um luxo, uma graça,
uma elegância de Deus que somente recebe quem participa da Liturgia e só na
Liturgia é dado!
IV. O Natal é aniversário de Jesus?
De modo algum!
Jamais
a Igreja pensou numa coisa dessas!
Na Liturgia não se diz:
Jesus nasceu há 2000 anos! Diz-se: "Hoje nasceu para vós um Salvador:
Cristo, o Senhor!"
A Liturgia, na potência do
Espírito, coloca-nos no HOJE de Deus, coloca-nos em contato direto com a graça
salvífica do acontecimento que, ocorrido uma vez por todas no passado, torna-se
eternamente presente na Glória do Céu, em Cristo, único e eterno sacerdote, que
na Tenda eterna do Céu ministra a Liturgia eterna que torna-se presente sobre o
Altar da Igreja!
No Natal nunca, de modo
algum, por motivo algum, deve-se cantar "Parabéns" para Jesus! Seria
algo totalmente contrário ao significado do Natal cristão!
V. Cristo nasceu no dia 25 de dezembro?
Não, com certeza. E os
cristãos sempre souberam disso!
Desde o início, esta festa é celebrada em datas
diferentes pela Igreja no Oriente e no Ocidente: no Oriente, a 6 de janeiro; no
Ocidente, a 25 de dezembro.
Eis os motivos do 25 de
dezembro:
Segundo antigas tradições, o
mundo teria sido criado no dia 25 de março. Neste dia também se celebrava a
Festa da Anunciação de Gabriel à Virgem Maria, início da recriação de todas as
coisas em Cristo: Ele, vindo ao nosso mundo no seio da Virgem, recriou o mundo
envelhecido e caduco pelo pecado. Assim, o 25 de dezembro ocorre nove meses
após a celebração da concepção.
Mas, há outro motivo. Depois
de o cristianismo já ter se espalhado no Império Romano e os imperadores terem
aceitado a fé cristã, surgiu um que apostatou da fé e quis restaurar o
paganismo em Roma: Juliano, o Apóstata! Ele fez o possível para restaurar a
festa do deus Sol Vencedor em Roma, que ocorria no dia 25 de dezembro,
solstício do inverno. Exatamente a época em que o sol começa a ficar mais forte
e fazer os dias começarem a ficar mais longo, vencendo o frio e as trevas do
inverno. Esta seria a vitória do deus sol sobre as trevas!
Os cristão reagiram
fortemente, celebrando aí não o deus sol, mas o verdadeiro Sol da justiça, Luz
do Alto que nos veio visitar, vencendo as trevas da idolatria, do pecado e da
morte! O verdadeiro Sol Invicto é o Cristo nosso Deus, que vindo à nossa terra,
tudo iluminou com a Sua piedosa Manifestação.
Assim, a data do Natal
estabeleceu-se de vez no século IV para toda a Igreja do Oriente e do Ocidente.
No dia 6 de janeiro, a Igreja passou a celebrar a Epifania do Senhor. Mas, isto
é outra história...
VI. Seria realmente errado ver o Natal como aniversário de
Jesus?
Totalmente.
1. Comemora-se o aniversário contando os dias de
acontecimentos ou pessoas neste tempo. Jesus é o Senhor, entrou na Eternidade,
é Senhor do tempo; não mais está preso ao nosso tempo, mas preenche todos os
tempos: "A Ele o tempo e a eternidade˜!" - diz a Igreja na Vigília
Pascal.
2. Comemora-se o aniversário
de alguém para festejar sua entrada nesta vida. Jesus entrou nesta vida, neste
mundo, por humilhação, por esvaziamento de Si mesmo: sendo rico fez-se pobre,
sendo Deus fez-Se homem, sendo Senhor fez-Se servo para nos salvar. Na verdade
o nascimento de Jesus segundo a carne é um gesto de humildade e humilhação por
amor!
3. O nascimento definitivo
para um cristão é o nascimento para a Glória: dos santos, celebra-se não o dia
do nascimento para este mundo, mas o Die Natalis para o Céu, o dia da morte
para este mundo.
4. E o mais importante:
NENHUMA celebração da Liturgia é de aniversário; nunca é uma recordação do
passado que ficou lá trás, mas é um torna-se realmente presente de um fato ou
evento salvífico que se torna atual e atuante na vida dos que celebram os
santos mistérios na Liturgia. É uma pena que a deficiência de catequese tenha
feito os cristãos perderem isto, que no início da Igreja era claro para todos
os filhos da Igreja!
VII. O que é essencial para um cristão celebrar o Natal?
O que é essencial para
qualquer festa cristã: participar da santa Liturgia eucarística.
É na Eucaristia que todo o mistério da nossa fé, o
mistério da nossa salvação, da criação à Parusia do Senhor, faz-se presente:
"Eis o Mistério da fé!" Isto é: ali, no Cordeiro imolado e
ressuscitado, tudo faz-se contemporâneo na potência do Espírito!
Na Eucaristia tudo é
celebrado na vida cristã e na vida do cristão! Sem a participação na Eucaristia
é impossível ser cristão plenamente!
VIII. A Liturgia para o Natal fala das
"festas que se aproximam". Do que se trata?
O Natal
litúrgico (e este é o que importa) não é um dia, mas um tempo: o tempo no qual
a Igreja celebra a Manifestação, a Vinda, o Aparecimento do Salvador na nossa
carne mortal.
Este tempo é
celebrado com cinco festas:
1. A Natividade
2. A Sagrada
Família
3. Santa Maria
Mãe de Deus
4. A Epifania
5. O Batismo do
Senhor
Todas estas
festas, cada uma com um aspecto próprio, celebram um só Mistério: o Verbo
Eterno, Filho Eterno do Eterno Pai, fez-Se verdadeiramente homem de Maria a
Virgem para que, assumindo o humano salvasse a humanidade e assumindo toda a
criação, salvação todo o universo!
Há ainda mais
uma festa que não pertence ao Tempo do Natal, mas está ligada ao ciclo do
Natal: A Apresentação do Senhor, no dia 2 de fevereiro. É uma festa
importantíssima do ponto de vista teológico! Infelizmente, a nossa catequese
litúrgica é muito fraca e essa festa fica na penumbra...