terça-feira, 30 de julho de 2019

A dimensão litúrgica da missão

No último dia 25 de julho, durante o 45º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, com o tema "Liturgia e Missão", o Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel Clemente, proferiu uma palestra sobre "A dimensão litúrgica da missão". Segue o texto da Conferência:

A dimensão litúrgica da missão

A conclusão da Oração Eucarística resume e projeta a realidade inteira do que havemos de ser, missionariamente ser: «Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós Deus Pai Todo Poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre! Amém!»
Dizemo-lo muitas vezes e outras tantas nos devemos converter ao que dizemos. Parecendo fácil, é realmente difícil e demora. Quando for inteiramente verdade, ficará esclarecida e ativada a “dimensão missão da Liturgia”. Perceberemos que, por Cristo, com Cristo e em Cristo, o missionário do Pai, somos impelidos pelo Espírito para nos remetermos filialmente a Deus Pai, assinalando a todos o mesmo destino. É essa, precisamente, a essência da missão. O “Amém!” que responde à doxologia, compromete-nos na sua efetivação universal. É belo como desígnio. É mais difícil a concretização.
Lendo a esta luz os Evangelhos, podemos tomar liturgicamente a vida de Cristo. Unindo em si mesmo o sacerdócio e a oferta, sumamente no altar da Cruz, assim realizou a sua vida. Com doze anos, já no templo, identificava aí o seu lugar, na “casa do Pai”. Nos anos que viveu em Nazaré, não faltava à sinagoga em cada sábado, assimilando a espera da promessa e dizendo-a finalmente em si cumprida. Demonstrou-o depois na vida pública, recuperando as vidas à sua volta, para que também se retribuíssem ao Pai. Só assim as garantindo, na medida em que se oferecessem. 
Este último passo foi custoso. A certa altura curou dez duma vez. Só um regressou para agradecer e só esse, além de curado, ficou salvo. Passou da cura à salvação, naquele movimento já litúrgico. Não aconteceu assim com a maioria, que se contentou com as curas, prolongando um pouco mais as breves vidas e anestesiando um tanto os velhos medos. Os que entenderam a cura como graça, tornaram-se eles próprios missionários. Foi o caso de Maria de Magdala, que Jesus curou de muitos males e o seguiu até ao altar da Cruz, sendo depois missionária da Ressurreição.     
Somos espontaneamente religiosos e dificilmente seríamos outra coisa. Cedo ou tarde, já não há lugar para a distração. Fragilidades próprias e alheias impõem-se e forçam-nos a ligações mais fortes, a garantias mais seguras. Como criaturas apelamos ao Criador, por nós e pelos nossos. Não é isto um mal, antes a realidade da nossa condição. Condição humana, que faz da chamada religiosidade natural a base primeiríssima e comum de todos os povos, diversamente tratada depois nos diversos ritos e culturas.
Assim nos projetamos em súplica e assim entrevemos algo mais, ou Alguém mais. Na base é realmente muito igual e subjacente aos tempos e aos espaços. Mas não se desprende de si mesma, enredada na terra, no sangue e nos mortos de cada um - ou de cada grupo, sempre reduzido e bairrista. É localizada e consanguínea demais, para se tornar missão. Benze indivíduos, coisas e lugares, mas procura antes garantir-se a si própria do que agradecer a Deus.
Não se incluindo no movimento litúrgico de Cristo, nem atinge a Páscoa nem anuncia o que desconhece. A religiosidade natural agarra-se a ritmos do mundo ou da vida, aos ciclos do tempo e aos chamados ritos de passagem e dá algum colorido às comunidades. Mas não se desamarra de tempos e de espaços, descai facilmente para a magia e dificilmente se torna missionária. Quer garantir o que tem e não vai além de si.
Digo isto da religiosidade natural, que se fica por si mesma. Outra coisa é a “piedade popular”, que é religiosidade evangelicamente convertida e expansiva, traduzida na cultura de cada povo. Desta diz o Papa Francisco: «Na piedade popular, por ser fruto do Evangelho inculturado, subjaz uma força ativamente evangelizadora que não podemos subestimar: seria ignorar a obra do Espírito Santo. Ao contrário, somos chamados a encorajá-la e fortalecê-la para aprofundar o processo de inculturação, que é uma realidade nunca acabada. As expressões da piedade popular têm muito que nos ensinar e, para quem as sabe ler, são um lugar teológico a que devemos prestar atenção particularmente na hora de pensar a nova evangelização» (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nº 126).
Temos em Fátima a melhor demonstração do que isto seja. Nossa Senhora transmitiu a sua mensagem com palavras e gestos que os Pastorinhos basicamente entendiam, por corresponderem à sua linguagem e cultura, evangelizadas já. Mais viriam a perceber depois, sendo desde logo missionários da mensagem recebida. A cultura local em que foi acolhida não lhe tirou a universalidade que sabemos. Bem pelo contrário, reforçou-lhe a credibilidade e a consistência. As liturgias e paraliturgias de Fátima estão aí a demonstrar-lhe a força conversora e missionária.

Insistamos na projeção missionária da Liturgia. Trata-se, afinal, de viver e expandir a oração que Cristo nos ensinou – o Pai Nosso, perpassado todo ele de impulso missionário. É rezado no plural e endereça-se ao Pai, abrindo a todos. 
Enaltece o Pai, que o é de nós todos; pede-lhe que a sua vontade se faça e o seu Reino aconteça; pede-lhe o pão, pede-lhe o perdão; pede-lhe a vitória sobre as tentações e que nos livre do maligno, que não nos quer filhos de Deus nem irmãos uns dos outros. Diz tudo isto e nisto mesmo pede tudo o que realmente importa. Pede o Reino de Deus e a sua justiça, que depois virá com o acréscimo. Vejamos se é assim conosco, se louvamos a Deus como convém, pessoal e liturgicamente assim.
Do Pai para o Pai, unidos à retribuição filial que Cristo fez por nós e para nós, no mesmo movimento do Espírito, assim celebraremos a nossa vida e seremos missionários do Pai Nosso. Porque, com Cristo, partilharemos a misericórdia de Deus em relação a todos. Correspondendo à sua vontade salvadora que, já cumprida no céu, tarda demais em cumprir-se na terra.
Todo o Pai Nosso se reza no plural, ainda aqui verdadeira regra da oração. Com a certeza que Cristo nos deu: «Digo-vos ainda: Se dois de entre vós se unirem, na Terra, para pedir qualquer coisa, hão de obtê-la de meu Pai que está no Céu. Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18,19-20). 
É a presença do Ressuscitado, especialmente sentida quando nos reunimos em seu nome, que nos impulsiona à missão. Aconteceu com a Madalena, aconteceu com os primeiros discípulos e acontece conosco, ou nem estaríamos aqui.
Lemos nos Atos dos Apóstolos esta passagem esclarecedora: «Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores […]. Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: “Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.” Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir» (At 13,1-3).
Nunca foi nem será doutro modo, para ser realmente cristão: A comunidade orante é a base da missão. Num passo evangélico Cristo diz-nos para pedirmos ao Senhor da messe que envie muitos trabalhadores para sua messe. Sendo tão clara a indicação por parte de Cristo, o facto de os trabalhadores serem poucos só pode dever-se à nossa falta de correspondência…

Liturgia e Missão: Encontro de Pastoral Litúrgica 2019

Entre os dias 22 e 26 de julho de 2019 aconteceu no Santuário de Fátima em Portugal o 45º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, promovido pelo Secretariado Nacional de Liturgia, com o tema: “Liturgia e Missão”.

O tema foi escolhido em sintonia com o Ano Missionário celebrado em Portugal em preparação ao Mês Missionário Extraordinário, convocado pelo Papa Francisco para o mês de outubro de 2019.

Confira os áudios das palestras que foram divulgados no site do Secretariado Nacional:

Dia 22/07:
O desafio missionário da Iniciação Cristã
Pe. Carlos Aquino, Diocese do Algarve
Infelizmente, devido a problemas técnicos, não foi divulgado o áudio desta Conferência.

Dia 23/07:
Pe. Jorge Vilaça, Arquidiocese de Braga

Pe. Paulo Malícia, Patriarcado de Lisboa

Dia 24/07:
Dom José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda

Dia 25/07:
Côn. Luís Manuel P. da Silva, Patriarcado de Lisboa

Pe. António Cartageno, Serviço Nacional de Música Sacra

Dom Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa

Além dos áudios das palestras, foi divulgado também um arquivo com um resumo de algumas reflexões, que pode ser acessado aqui.

Para ler o texto da Conferência do Cardeal Clemente, divulgado pelo Patriarcado de Lisboa, clique aqui.


segunda-feira, 29 de julho de 2019

Festa de São Vladimir em Moscou

No último dia 28 de julho o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou a Divina Liturgia na da Catedral da Assunção no Kremlin em Moscou, por ocasião da Festa de São Vladimir.

Depois da Divina Liturgia todos se dirigiram em procissão até a estátua de São Vladimir para um momento de oração.

Entrada do Patriarca
Veneração das relíquias de São Vladimir

O Patriarca abençoa os fiéis

Ângelus: XVII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 28 de julho de 2019 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho de hoje (Lc 11,1-13), São Lucas relata as circunstâncias nas quais Jesus ensina o “Pai nosso”. Os discípulos já sabiam rezar, recitando as fórmulas da tradição judaica, mas queriam poder viver também eles a mesma “qualidade” da oração de Jesus. Porque puderam constatar que a oração era uma dimensão essencial na vida do seu Mestre, com efeito cada uma das suas ações importante é caraterizada por prolongadas pausas de oração. Além disso, ficavam fascinados porque viam que Ele não orava como os outros mestres da época, mas que a sua oração era um vínculo íntimo com o Pai, a ponto que desejavam participar destes momentos de união com Deus, a fim de saborear plenamente a sua doçura.

Assim, um dia, esperam que Jesus termine a sua oração, em um lugar isolado, e depois pedem-lhe: «Senhor, ensina-nos a rezar» (v. 1).

Ao responder ao pedido explícito dos discípulos, Jesus não dá uma definição abstrata de oração, nem ensina uma técnica eficaz para orar e “obter” algo. Ao contrário, convida os seus seguidores a experimentar a oração, colocando-os diretamente em comunicação com o Pai, suscitando neles a nostalgia por uma relação pessoal com Deus, com o Pai. Eis a novidade da oração cristã! É um diálogo entre pessoas que se amam, um diálogo baseado na confiança, sustentado pela escuta e aberto ao compromisso solidário. É um diálogo do Filho com o Pai, um diálogo entre filhos e Pai. Esta é a oração cristã.

Portanto, Ele confia-lhes a oração do “Pai nosso”, talvez o dom mais precioso que o Mestre divino nos tenha deixado na sua missão terrena. Depois de nos ter revelado o seu mistério de Filho e irmão, com aquela oração Jesus faz-nos penetrar na paternidade de Deus; gostaria de frisar que quando Jesus nos ensina o Pai-Nosso faz-nos entrar na paternidade de Deus e indica-nos o caminho para entrarmos em diálogo orante e direto com Ele, através da vereda da confiança filial. Um diálogo entre o pai e o seu filho, do filho com o pai. O que pedimos para nós no “Pai nosso” já está totalmente realizado no Filho Unigénito: a santificação do Nome, a vinda do Reino, o dom do pão, do perdão e da libertação do mal. Enquanto pedimos, abrimos as mãos para receber. Recebemos os dons que o Pai nos mostrou no Filho. A oração que o Senhor nos ensinou é a síntese de todas as orações, e nós dirigimo-la ao Pai sempre em comunhão com os irmãos. Pode acontecer que na oração haja distrações, mas muitas vezes sentimos o desejo de nos determos na primeira palavra: “Pai” e sentir esta paternidade no nosso coração.

Então Jesus narra a parábola do amigo inoportuno e diz: “devemos insistir na oração”. Penso no que as crianças fazem quando têm cerca de três, três anos e meio: começam a perguntar o que não compreendem. Na minha terra chama-se “a idade dos porquês”, penso que aqui também é a mesma coisa. As crianças começam a olhar para o pai e dizem: “Pai, por quê? Pai, por quê?”. Pedem explicações. Mas devemos estar atentos: quando o pai começa a explicar o porquê, eles fazem outra pergunta sem ouvir toda a explicação. O que acontece? Sucede que as crianças se sentem inseguras em relação a tantas coisas que começam a compreender parcialmente. Elas só querem atrair o olhar do pai para si e por esta razão insistem: “Por quê, por quê, por quê, por quê?”. No Pai nosso, se pararmos na primeira palavra, faremos o que fazíamos éramos crianças, para atrair sobre nós o olhar do pai. Dizer: “Pai, Pai” e também: “Por quê?” e Ele olhará para nós.

Peçamos a Maria, mulher orante, que nos ajude a rezar o Pai nosso com Jesus para viver o Evangelho, guiados pelo Espírito Santo.


Fonte: Santa Sé.

sábado, 27 de julho de 2019

Homilia: XVII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Orígenes
Sobre a oração
Em nenhuma parte Deus foi invocado como Pai desta forma

Seria digno de observar se no Antigo Testamento se encontra uma oração na qual alguém invoca a Deus como Pai, porque nós, até o presente, não a temos encontrado, apesar de tê-la buscado com interesse. E não dizemos que Deus não foi chamado com o título de Pai, ou que aqueles que nele têm crido não foram chamados filhos de Deus; mas que em nenhuma parte encontramos em uma oração essa confiança proclamada pelo Salvador de invocar Deus como Pai.
Além disso, que Deus é chamado de Pai e filhos os que se ativeram à palavra divina, pode-se constatar em muitas passagens veterotestamentárias. Assim: Deixaste ao Deus que te gerou, e deste ouvido ao Deus que te alimentou? E ainda na mesma passagem: São filhos sem fidelidade alguma. E em Isaías: Eu criei filhos e os tenho enaltecido, porém eles me têm desprezado; e em Malaquias: O filho honrará ao seu pai e o servo ao seu Senhor. Porque se eu sou pai, onde está a minha honra?
Ainda que em todos estes textos Deus seja chamado Pai, e filhos aqueles que foram gerados pela palavra da fé nele, não se encontra, contudo, na Antiguidade uma afirmação clara e infalível desta filiação. Desta forma os mesmos lugares citados mostram que eram realmente súditos aqueles que se chamavam filhos. Já que, segundo o Apóstolo, enquanto o herdeiro é menor, sendo o Senhor de tudo, não difere do servo; mas está sob tutores e encarregados até a data assinalada pelo pai.
Mas a plenitude dos tempos chegou com a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, quando pode se receber livremente a adoção, como ensina São Paulo, afirmando que tendes recebido o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Abbá, Pai! E no Evangelho de São João lemos: Mas a todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; aos que creem em seu nome. E por este espírito de adoção de filhos sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca, porque a semente de Deus está nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus.
Por tudo isto, se entendêssemos o que escreve São Lucas ao dizer: Quando oreis, dizei: “Pai”, nos envergonharíamos de invocá-lo sob esse título se não somos filhos legítimos. Porque seria triste que, junto aos nossos outros pecados, acrescentássemos o crime da impiedade.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 685-686. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Pedro Crisólogo para este domingo clicando aqui.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

A relação entre fotografia e Liturgia

No último dia 24 de julho o site Vatican News publicou este texto sobre a relação entre fotografia e a Liturgia:

Fotografia e Liturgia: O Sagrado rompe as barreiras da visão
Fernando Nunes - Londrina

“A Liturgia é uma ação sagrada, através da qual, com ritos, na Igreja e pela Igreja, se exerce e prolonga a obra sacerdotal de Cristo, que tem por objetivos a santificação dos homens e a glorificação de Deus (SC 7)”.
Quando fotografamos uma celebração litúrgica (casamento, batismo, Missa), buscamos “capturar” dos sinais e símbolos litúrgicos aquilo que os olhos não podem ver. As lentes da câmera ajudam romper as barreiras impostas pelas limitações humanas e fazer uma experiência do céu.
O sentido da visão humana unida ao sentido da fé é algo essencial para enxergar as realidades sobrenaturais que não vemos, mas que estão implícitas em toda a criação. Devemos, portanto, “treinar os olhos da alma”, deixar que a fé venha, por suplemento, os sentidos completar, como diz São Tomás de Aquino. 
“A Liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana, conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Cristo Jesus” (CIC, n. 1149).
Para criar imagens que reflitam verdadeiras experiências de fé, primeiro, é preciso vivenciar pessoalmente essas experiências, pois, corre-se o risco de obter uma imagem qualquer, vazia de significado.
Portanto, o fotógrafo que se dispõe a registrar uma ação litúrgica, precisa conhecê-la e, conhecendo-a, verdadeiramente a amará. Assim nos diz Santo Agostinho: “Só se ama aquilo que se conhece”. O tema “fotografia e Liturgia” está entre as dúvidas mais frequentes dos fotógrafos. Obter orientações para sanar as dúvidas e realizar um bom trabalho como fotógrafo é de suma importância, sem esquecer, é claro, a maior de todas as regras: o amor.

Conhecer e amar
Para sanar as muitas dúvidas sobre a fotografia no âmbito litúrgico, é preciso saber que a Liturgia precede a fotografia. Antes de nos preocupar com o “clique”, devemos estudar, conhecer profundamente a Liturgia. Esse é o primeiro passo, o remédio para muitas de nossas dúvidas.
Preocupar-se somente com o que fazer, com a regência do “posso ou não posso” demonstra o quanto podemos ser superficiais. Quando “mergulho” com profundidade naquilo que estou fotografando (rito, espaço, etc.) acontece uma mudança, não somente da postura, como de toda a escrita da fotografia: a imagem torna-se religiosa, ou seja, uma imagem que nos religa ao sagrado.
Cristo é o centro da Liturgia e não podemos, com nosso descuido e indiscrição - também chamados de “ruídos litúrgicos” -, nos antepor a Ele. Assim como na Liturgia, também na fotografia, quando algo de indesejado aparece em sua composição visual, chamamos de “ruído fotográfico”. Será que em muitos casos, não estamos nós, durante nosso trabalho, sendo “ruídos litúrgicos”?
O fotógrafo deve “desaparecer” durante a ação litúrgica, fazendo com que durante o seu trabalho, brilhe Aquele que é o centro da nossa existência: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).

Regras quanto a fotografia no espaço litúrgico 
Acredito que este seja o tema mais esperado nesta matéria. Entretanto, devemos respeitar a hierarquia da Igreja, cada diocese e/ou paróquia tem suas regras sobre o assunto. A responsabilidade primeira é dos Bispos e párocos, conforme nos ensina o Código de Direito Canônico:
“Exercem o múnus de santificar, primeiramente os Bispos, que são os grandes sacerdotes, principais dispensadores dos mistérios de Deus e dirigentes, promotores e guardiães de toda a vida litúrgica na Igreja que lhes foi confiada (cân. 835 §1); [...] Sob a autoridade do Bispo diocesano, o pároco deve dirigir a liturgia em sua paróquia e é obrigado a cuidar que nela não se introduzam abusos (cân. 528 §2)”.
Para saber sobre as orientações para fotógrafos durante as celebrações litúrgicas numa paróquia orientamos procurar, antecipadamente, o pároco ou o coordenador da PASCOM.
Nesse sentido, apresentamos alguns conselhos importantes sobre a fotografia no espaço litúrgico:

1. Sentido do Sagrado
Nisto se diferencia o bom fotógrafo: ter consciência que nas celebrações litúrgicas o Senhor está presente! Fotografar no ambiente sacro não é a mesma coisa que fotografar em qualquer outro local, onde o objeto do clique são as pessoas, valendo-se tudo por um clique. O objetivo da fotografia religiosa no espaço litúrgico é deixar Cristo resplandecer.

2. Respeito e empatia
Ter respeito com os irmãos que estão ali celebrando, vivendo sua intimidade com Deus e não para serem fotografados. Um momento que muitas vezes pode parecer bonito aos nossos olhos, como por exemplo, uma pessoa chorando, pode ser, para aquele que está sendo fotografado um momento de dor. Naquele momento a fotografia torna-se algo inconveniente.

Uma dica respeitosa que damos é a de colocar um aviso no Datashow, discreto, mas que diga que a PASCOM estará registrando durante aquela celebração dando a liberdade para aqueles que não querem ser fotografados que procurem os agentes da pastoral para informá-los. Também é importante informar onde serão disponibilizadas as imagens.
Os fotógrafos também devem vestir-se de maneira discreta, evitando bermudas, roupas decotadas, e cores chamativas. Pode-se usar o uniforme da PASCOM ou roupas brancas.

3. Escondimento
O fotógrafo deve ser o mais discreto possível, movimentos modestos, evitar cruzar o corredor de um lado para o outro sem reverência ou bruscamente. Estabeleça pontos para que possa fazer um bom registro sem chamar atenção; caso estejam trabalhando em equipe, dividam-se em pontos laterais. Movimente-se quando a assembleia estiver em pé.

4. Lugares celebrativos
Toda a área do presbitério (lugar onde se encontram o altar, o ambão, a sede e o sacrário), deve ser evitada. No presbitério, procure formas de fotografar que não sejam invasivas, para não nos transformarmos em “ruídos litúrgicos”.

5. As partes mais sagradas do rito
Evitar excessos ao fotografar a proclamação das leituras e do Evangelho; durante a Oração Eucarística, especialmente na consagração e elevação das espécies eucarísticas e durante a distribuição da Comunhão.
Nestes momentos devemos nos concentrar com máxima sacralidade e silêncio, devemos ser objetivos, com poucos cliques e com muito discernimento. Outro ponto importante: durante a homilia devemos sentar e ouvir. Fotografar neste momento pode desviar a atenção do sacerdote e das pessoas.

Com essas palavras de São Paulo VI convido os meus irmãos fotógrafos a meditar diante da grandeza em que estamos ao fotografar a Santa Missa: 
“Talvez vos possa parecer que a Liturgia está feita de coisas pequenas: atitudes do corpo, genuflexões, inclinações de cabeça, movimentos do incensório, do Missal, das galhetas. É então que se devem recordar aquelas palavras do Cristo no Evangelho: ‘Quem é fiel no pouco sê-lo-á no muito’ (Lc 16, 16). Por outro lado, nada é pequeno na Santa Liturgia, quando se pensa na grandeza d’Aquele a quem se dirige”.


Fernando Nunes é criador e professor da Técnica de Fotografia Religiosa.

Fonte: Vatican News

Annibale Bugnini e a atualidade da reforma litúrgica

Textos publicados pelo site Vatican News no início deste mês de julho:

03 de julho de 2019

No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar hoje sobre a contribuição de Annibale Bugnini à Liturgia.
Damos continuidade a nossa série de programas dedicados à Liturgia. E, naturalmente, damos espaço aos grandes nomes que de forma ou outra contribuíram para seu enriquecimento, entre os quais, o Arcebispo italiano Annibale Bugnini, que teve um papel decisivo na reforma litúrgica seguida ao Concílio Vaticano II.
De 1948 a 1960, foi secretário da Comissão para a reforma geral da Liturgia, instituída pelo Papa Pio XII. Em 1957 foi nomeado professor de Liturgia da Pontifícia Universidade Lateranense e de 1959 a 1962 foi, em vista do Concílio Vaticano II, secretário da Comissão preparatória para a Liturgia.
A partir de 1964, foi secretário da Comissão para a Liturgia instituída por Paulo VI, que tinha por objetivo estabelecer e sucessivamente aplicar as mudanças da Liturgia. Do trabalho de tal Comissão, surgiu o que hoje é conhecida como a reforma litúrgica, sancionada pela adoção do Missal Romano de 1969.
De 1969 a 1975, Annibale Bugnini também foi secretário da Congregação para o Culto Divino, até esta ser unida à Congregação dos Sacramentos na Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Quem nos traz mais detalhes, é o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, padre Gerson Schmidt:

Um dos grandes expoentes para a reforma litúrgica, já bem antes do Concílio e na sua efetiva aplicação, foi o Mons. Annibale Bugnini, que aqui merece referência à parte. Está à disposição no mercado bibliográfico brasileiro uma grande obra sobre a Liturgia, agora já na segunda edição do livro magnifico editado por três livrarias católicas brasileiras (Paulus, Paulinas e Loyola), de mais de 800 páginas, traduzida para o português de autoria Annibale Bugnini, “A reforma Litúrgica (1948-1975)”, traduzida por Paulo Valério, que aqui vamos referendar inúmeras vezes em nosso resgate histórico.
Monsenhor Annibale Bugnini foi um dos peritos do Concilio Vaticano II, que teve acesso em suas pesquisas litúrgicas à Biblioteca e ao Arquivo do Vaticano. Já oferecia à Igreja, nos seus estudos, uma tese sobre a Liturgia no Concílio de Trento que lhe proporcionou contato com os bastidores do Concilio de Trento, através das santas Liturgias [1]. Foi aluno no Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, que era considerada a ciência litúrgica antes do Concílio Vaticano II. Nesse ambiente Bugnini trava conhecimento dos grandes nomes de arqueólogos como Enrico Josi, Antônio Ferrua e Engelbert Kirschbaum, que desenterraram a Necrópole Vaticana e encontraram o túmulo de São Pedro. Na sua formação lazarista, entra em contato com a revista de Liturgia Ephemerides Liturgicae, onde se encontra com editores como o monge beneditino de Maria Laach, D. Cunibert Mohlberg (1878-1963), um dos maiores estudiosos dos textos antigos de Liturgia. Também conhece D. Alfredo Ildefondo Schuster (1880-1954), Abade de São Paulo Fora dos Muros - que chama de “seu primeiro professor de Liturgia” - que publicou a obra impactante Liber Sacramentorum sobre a importância fundamental da Liturgia [2].
Posteriormente, assume a cátedra de Liturgia, como Mestre, na Pontifícia Universidade Urbaniana e posteriormente é professor no Pontifício Instituto de Música Sacra, onde permanece até 1965, no ano de encerramento do Concílio. Já em 1948, por convite de Pio XII, Bugnini foi nomeado secretário da Comissão Piana, um organismo criado por Pio XII que estava encarregada de pensar a reforma litúrgica, que já se pretendia antes mesmo do Concílio. Com a convocação do Concílio Vaticano II, em 1959, Bugnini foi nomeado para ser secretário da Comissão Litúrgica preparatória para o Concílio.
Só não foi secretário da Sacrosanctum Concilium porque foi perseguido e caluniado, que lhe custou uma cruz muito pesada por muitos anos. Posteriormente foi secretário da Comissão Consilium, com “s”, a partir de 1969, organismo encarregado de aplicar a reforma da Sacrosanctum Concilium, que oficialmente é chamada de Consilium ad Exsequandam Constitutionem de Sacra Liturgia. A partir de 1969, torna-se secretário da recém-criada Congregação para o Culto Divino que posteriormente é extinta para ser anexada à Congregação dos Sacramentos e do Culto divino.  É nessa transição que fica de fora das comissões. Em 1972 recebe a ordenação episcopal de Paulo VI. Depois, em 1976, recebeu o encargo de Núncio Apostólico no Irã, contra a sua vontade, saindo do cenário das grandes decisões sobre as reformas litúrgicas. Nesses anos do que ele chamou de “exílio”, se dedica a reunir tudo o que tinha participado nos bastidores das reformas na Liturgia, compendiando nesse livro que mencionamos, “A reforma Litúrgica (1948-1975)”. Uma obra, sem sombra de dúvida, que vale a pena ser aprofundada, que aqui em nosso estudo vamos referendar com abundância.

10 de julho de 2019

Liturgia, um tema sempre apaixonante. Por ela, “especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção», contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos. A Liturgia, ao mesmo tempo em que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor” [3].
No programa de hoje, padre Gerson Schmidt nos fala sobre “A atualidade da reforma litúrgica”:
Falamos na ocasião anterior da importância fundamental de Monsenhor Annibale Bugnini, que foi um dos peritos do Concilio Vaticano II. Há quem afirme que sem ele não teria acontecido a Reforma Litúrgica e há quem arisque dizer que sem Bugnini, e lógico sem o Papa Paulo VI, não teria havido nem mesmo a Constituição Sacrosanctum Concilium nos moldes que ela foi proclamada. No seu túmulo, depois de ter sofrido muita perseguição e sido caluniado, foi escrito assim: “Annibale Bugnini, bispo, cultivador e amante da Liturgia, serviu a Igreja”.
A reforma litúrgica realmente sofreu muitos ataques desde seus inícios, mas, apesar disso, mostrou-se cada vez mais como um dos legados do Concilio Vaticano II, que fez recentemente o Papa Francisco dizer assim: “O Vaticano II foi uma releitura do Evangelho à luz da cultura contemporânea. Produziu um movimento de renovação que simplesmente vem do próprio Evangelho. Os frutos são enormes. Basta recordar a Liturgia. O trabalho da reforma litúrgica foi um serviço ao povo como releitura do Evangelho a partir de uma situação histórica concreta. Sim, há linha de hermenêutica de continuidade e descontinuidade, todavia, uma coisa é clara: a dinâmica de leitura do Evangelho atualizada no hoje, e que é própria do Concílio, é absolutamente irreversível” [4].
O Papa Francisco disse que a Reforma da Liturgia não pode retroceder [5]. No seu discurso na 68ª Semana Litúrgica Nacional, por ocasião do aniversário de 50 anos da Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, ao grupo de Liturgia da Conferência Episcopal da Itália, na Sala Paulo VI, o Papa Francisco foi bem claro, usando novamente a palavra “irreversível”:
“E hoje ainda é preciso trabalhar neste sentido, em particular redescobrindo os motivos das decisões tomadas com a reforma litúrgica, superando leituras infundadas e superficiais, recepções parciais e práticas que a desfiguram. Não se trata de reconsiderar a reforma revendo as suas escolhas, mas de conhecer melhor as razões subjacentes, inclusive através da documentação histórica, assim como interiorizar os seus princípios inspiradores e de observar a disciplina que a regula”.
Conclui dizendo ainda: “Depois deste Magistério e, após este longo caminho podemos afirmar com certeza e com autoridade magisterial que a reforma litúrgica é irreversível”. Portanto, se há grupos que querem retroceder e engessar a Liturgia, é preciso saber que o Magistério da Igreja pensa diferente.
Há uma irreversibilidade na reforma da Liturgia, o que fazia Dom Clemente Isnard, Bispo brasileiro, falar da atualidade e necessidade da reforma usando a imagem de um pé na porta daqueles que querem impedir a reforma litúrgica. Muitos desejariam voltar atrás e trancar a porta aberta pelo Concílio, mas não se pode mais fechar a porta. Doravante essa só poderá ser aberta sempre mais, mas claro, respeitando a índole própria da liturgia [6].

[1] Gabriel Frade, Prefácio à edição brasileira de: Annibale Bugnini, A reforma Litúrgica (1948-1975). Tradução de Paulo F. Valério. 2ª edição. Editoras Paulus, Paulinas e Loyola: SP, 2018, p.17.
[2] ibid., pp. 18-19.
[3] Proêmio da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, n. 2.
[4] Papa Francisco. Entrevista ao Diretor da Revista La Cività Cattolica, n.3918 (19.09.2013), p. 467.
[5] Discurso do Papa Francisco na 68ª Semana Litúrgica Nacional, por ocasião do aniversário de 50 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium, ao grupo de Liturgia da Conferência Episcopal da Itália, na Sala Paulo VI, 24 de agosto de 2017.
[6] Essa imagem foi usada originalmente pelo Pe. Josef Andreas Jungmann. in:  Gabriel Frade, Prefácio à edição brasileira de: Annibale Bugnini, A reforma Litúrgica (1948-1975). Tradução de Paulo F. Valério. 2ª edição. Editoras Paulus, Paulinas e Loyola: SP, 2018, p. 21.

Dom Annibale Bugnini

quinta-feira, 25 de julho de 2019

O sacerdote nos Ritos Finais da Missa

Prosseguindo com a série de textos sobre o papel do sacerdote nas várias partes da Missa publicados pela Santa Sé por ocasião do Ano Sacerdotal (2009-2010), confira o sétimo artigo, que trata dos Ritos Finais, com ênfase na teologia da bênção:

Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
O sacerdote nos Ritos Finais da Santa Missa

1. Os Ritos Finais nas duas formas da Missa do Rito Romano

1.1 Os Ritos Finais da Santa Missa se desenvolvem, nas duas formas do Rito Romano - a Ordinária e a Extraordinária - uma vez terminada a oração após a Comunhão. Para a Forma Ordinária (ou de Paulo VI), a Institutio Generalis Missalis Romani (IGMR) no n. 90 se exprime nestes termos:

«Os Ritos Finais compreendem: a) Breves avisos, se necessário; b) A saudação e a bênção do sacerdote, que em alguns dias e em certas circunstâncias se podem enriquecer e desenvolver com a oração sobre o povo ou com outra fórmula mais solene; c) A despedida do povo da parte do diácono ou do sacerdote, para que cada um retorne às suas boas obras louvando e bendizendo a Deus; d) o beijo do altar por parte do sacerdote e do diácono e depois a inclinação profunda ao altar por parte do sacerdote, do diácono e dos outros ministros» [1].

O papel do sacerdote, portanto, consiste em dar breves avisos aos fiéis, em saudá-los com a fórmula litúrgica «Dominus vobiscum» e em abençoá-los com a fórmula simples ou solene. O sacerdote, se falta o diácono, pronuncia também a fórmula de despedida «Ite, missa est» [2]. Os ritos terminam com o beijo do altar e com uma inclinação profunda a ele, como no início da Missa.


1.2 Podemos comparar esta estrutura com aquela estabelecida pelas rubricas do Missal da Forma Extraordinária (ou de São Pio V, na revisão realizada por João XXIII). Os elementos fundamentais são comuns às duas formas do Rito, mas se notam também algumas diferenças. A despedida, «Ite, Missa est», aqui é anteposta à bênção [3]. Recebida a resposta, «Deo gratias», o sacerdote se volta novamente ao altar e, profundamente inclinado, com as mãos juntas e apoiadas nele, diz a oração Placeat, que São Pio V fez acrescentar ao seu Missal (1570). Se trata de uma bela oração com a qual o ministro ordenado pede à Trindade para aceitar o sacrifício eucarístico em seu favor e de todos aqueles pelos quais o sacerdote o ofereceu. Eis o texto:

Placeat tibi, sancta Trinitas, obsequium servitutis meæ: et praesta, ut sacrificium quod oculis tuae maiestatis indignus obtuli, tibi sit acceptabile; mihique et omnibus pro quibus illud obtuli, sit, te miserante, propitiabile. Per Christum Dominum nostrum. Amen” [4].

Festa do Ícone da Mãe de Deus de Kazan na Rússia

O ícone da Mãe de Deus de Kazan, um dos principais da tradição bizantina russa, é celebrado duas vezes por ano pelo Patriarcado de Moscou: no dia 22 de outubro (04 de novembro no calendário juliano), a festa propriamente dita, e no dia 21 de julho (08 de julho no calendário juliano) a descoberta considerada milagrosa do ícone após um incêndio na cidade de Kazan em 1579.

O Patriarca Kiril da Igreja Ortodoxa Russa celebrou no último dia 20 de julho a Vigília da festa na Catedral da Epifania em Moscou e no dia 21 a Divina Liturgia na cidade de Torzhok, pertencente à Metropolia de Tver.

Dia 20: Vigília em Moscou

Ícone da Mãe de Deus de Kazan
Patriarca entroniza o ícone
 
Incensação
Evangelho

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Festa do Redentor em Veneza

No terceiro domingo de julho acontece em Veneza a Festa do Redentor. Esta celebração, que remonta ao ano de 1577, recorda a ação de graças a Deus pelo fim de uma peste que havia assolado a população da cidade.

Portanto, no último domingo, 21 de julho, o Patriarca de Veneza, Dom Francesco Moraglia, celebrou a Santa Missa na igreja do Redentor e concedeu a Bênção Eucarística na porta da igreja em direção à cidade.

Procissão de entrada

Ritos iniciais
Doxologia da Oração Eucarística
Exposição do Santíssimo Sacramento

Conferência sobre a Nova Evangelização nas Filipinas

Entre os dias 19 e 21 de julho aconteceu em Manila (Filipinas) uma Conferência sobre a Nova Evangelização, com o tema “Juventude filipina caminhando com Jesus”, inspirado no relato dos discípulos de Emaús e no recente Sínodo da Juventude.

Seguem as fotos das celebrações que aconteceram durante os três dias do evento, no Pavilhão da Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino em Manila

Dia 19 (sexta-feira):

Missa de abertura
Presidida por Dom Andrew Alarcon, Bispo de Daet

Imagem de Nossa Senhora de Piat
Ritos iniciais
Evangelho
Bênção com o Livro dos Evangelhos
Homilia

Ângelus: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 21 de julho de 2019

Queridos irmãos e irmãs bom dia!
No trecho deste domingo, o evangelista Lucas narra a visita de Jesus à casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro (Lc 10,38-42). Elas recebem-no e Maria senta-se aos seus pés para ouvi-lo; deixa o que estava a fazer, para estar perto de Jesus: não quer perder nenhuma das suas palavras. Tudo deve ser posto de lado porque, quando Ele nos vem visitar na nossa vida, a sua presença e a sua palavra vêm antes de tudo. O Senhor surpreende-nos sempre: quando realmente nos pomos à sua escuta, as nuvens dissipam-se, as dúvidas cedem lugar à verdade, os receios à serenidade e as diferentes situações da vida encontram a posição certa. Quando vem, o Senhor resolve sempre as coisas, também as nossas.

Nesta cena de Maria de Betânia aos pés de Jesus, São Lucas mostra a atitude orante do crente, que sabe estar na presença do Mestre para ouvi-lo e para se pôr em sintonia com Ele. Trata-se de fazer uma pausa durante o dia, de se recolher em silêncio, por alguns minutos, para dar espaço ao Senhor que “passa” e para encontrar a coragem de permanecer um pouco “à parte” com Ele, para depois voltar, com serenidade e eficácia, às situações da vida de todos os dias. Elogiando o comportamento de Maria, que “escolheu a melhor parte” (v. 42), Jesus parece repetir a cada um de nós: “Não te deixes dominar pelas coisas a fazer, mas antes de tudo ouve a voz do Senhor, para cumprir bem as tarefas que a vida te confiar”.

Depois há a outra irmã, Marta. São Lucas diz que foi ela quem acolheu Jesus (v. 38). Talvez Marta fosse a mais velha das duas irmãs, não sabemos, mas certamente esta mulher tinha o carisma da hospitalidade. Com efeito, enquanto Maria ouve Jesus, ela está totalmente ocupada com os numerosos serviços. Por isso, Jesus diz-lhe: “Marta, Marta, estás inquieta e perturbada com muitas coisas” (v. 41). Com estas palavras, Ele certamente não tenciona condenar a atitude de serviço, mas sobretudo a ansiedade com que às vezes ele é vivido. Também nós compartilhamos a preocupação de Santa Marta e, seguindo o seu exemplo, propomo-nos fazer com que, nas nossas famílias e comunidades, se viva o sentido de hospitalidade e fraternidade, para que todos possam sentir-se “em casa”, especialmente os pequeninos e os pobres quando batem à porta.

Portanto, o Evangelho de hoje recorda-nos que a sabedoria do coração consiste precisamente em saber conjugar estes dois elementos: contemplação e ação. Marta e Maria indicam-nos o caminho. Se quisermos saborear a vida com alegria, devemos associar estas duas atitudes: por um lado, “estar aos pés” de Jesus, para ouvi-lo enquanto Ele nos revela o segredo de tudo; por outro, estar atentos e prontos na hospitalidade, quando Ele passa e bate à nossa porta, com o rosto do amigo que tem necessidade de um momento de conforto e fraternidade. É necessária esta hospitalidade!

Maria Santíssima, Mãe da Igreja, nos conceda a graça de amar e servir a Deus e aos nossos irmãos com as mãos de Marta e o coração de Maria para sermos artífices de paz e de esperança, permanecendo sempre à escuta de Cristo. E isto é interessante: com estas duas atitudes, seremos artífices de paz e de esperança.


Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Conferência do Cardeal Robert Sarah em Paris

No último dia 25 de maio o Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, pronunciou uma Conferência na igreja de Saint-François-Xavier em Paris, por ocasião do lançamento do seu livro “Le soir approche et déjà le jour baisse” (“A tarde cai e o dia já declina”, ainda sem tradução para o português).

Ao refletir sobre a crise de fé do Ocidente, o Cardeal Sarah, com extraordinária lucidez e coragem, diz também algumas palavras a respeito do valor da Liturgia. Segue, portanto, o texto da Conferência na íntegra:

Caros amigos, permitam-me, antes de tudo, agradecer a Dom Michel Aupetit, Arcebispo de Paris, e ao pároco desta paróquia de São Francisco Xavier, o padre Lefèvre-Pontalis, pelas boas-vindas tão fraternas.
Devo apresentar-lhes meu mais recente livro: “A tarde cai e o dia já declina”. Nele, analiso a profunda crise que vive o Ocidente, crise da fé, crise da Igreja, crise sacerdotal, crise de identidade, crise do sentido do homem e da vida humana, o colapso espiritual e suas consequências.
Esta noite, gostaria de lhes reafirmar estas profundas convicções que vivem em mim, pondo-as em perspectiva com a comovente visita que fiz ontem. Algumas horas atrás estive na Catedral de Notre-Dame de Paris. Ao entrar naquela igreja mutilada, contemplando suas abóbadas desmoronadas, não pude deixar de vê-la como um símbolo da situação em que se encontra a civilização ocidental e a Igreja na Europa.
Sim, hoje, em todos os cantos, a Igreja parece estar em chamas. Parece devastada por um incêndio muito mais destrutivo que o da catedral de Notre-Dame. Qual é esse fogo? É preciso coragem para dizer seu nome. Porque “não nomear fielmente as coisas é aumentar a infelicidade do mundo” [1].
Esse fogo, esse incêndio que assola a Igreja, particularmente na Europa, é a confusão intelectual, doutrinal e moral; é a covardia de proclamar a verdade sobre Deus e sobre o homem, e de defender e transmitir os valores morais e éticos da tradição cristã; é a perda da fé, do espírito da fé, a perda do sentido da objetividade da fé e, portanto, a perda do sentido de Deus. Como João Paulo II escreveu em Evangelium Vitae: “Quando se procuram as raízes mais profundas da luta entre a ‘cultura da vida’ e a ‘cultura da morte’… É necessário chegar ao coração do drama vivido pelo homem contemporâneo: o eclipse do sentido de Deus e do homem, típico de um contexto social e cultural dominado pelo secularismo que, com os seus tentáculos invasivos, não deixa às vezes de pôr à prova as próprias comunidades cristãs (…) produz uma espécie de ofuscamento progressivo da capacidade de enxergar a presença vivificante e salvífica de Deus” [2].
Caros amigos, a Catedral de Notre-Dame tinha um pináculo que parecia um dedo apontando o céu. Ele parecia nos orientar para Deus. No coração de Paris, este pináculo parecia dizer a cada um de nós todos o sentido último de toda a vida.
Esse pináculo simbolizava a única razão de ser da Igreja: conduzir-nos a Deus, orientar-nos para Deus. Uma igreja que não é orientada para Deus é uma Igreja que morre e entra em colapso. O pináculo da Catedral de Paris entrou em colapso: não é uma coincidência! Notre-Dame de Paris simboliza todo o Ocidente. Ao se afastar de Deus, o Ocidente está entrando em colapso.
Ela simboliza a grande tentação dos cristãos no Ocidente: ao não mais se voltarem para Deus, ao se voltarem para si mesmos, eles morrem.
Estou convencido de que esta civilização está vivendo uma crise mortal. Como na época da queda de Roma, as elites de hoje se preocupam tão somente em aumentar o luxo de sua vida cotidiana; as pessoas estão anestesiadas por um entretenimento cada vez mais vulgar.
Como Bispo, devo avisar o Ocidente! O fogo da barbárie ameaça-vos! E quem são os bárbaros?
Bárbaros são aqueles que odeiam a natureza humana. Os bárbaros são aqueles que desprezam o significado do sagrado. Os bárbaros são aqueles que desprezam e manipulam a vida e querem “aumentar o homem”!
Quando um país se prontificar a deixar um homem morrer de fome e sede, um homem em estado de grande debilidade e dependência, esse país avança pela senda da barbárie! O mundo inteiro viu a França hesitar em alimentar Vincent Lambert, um de seus filhos mais fracos. Meus caros amigos, como, depois disso, o vosso país pode dar ao mundo lições da civilização?
Quando um país arroga para si o direito de viver e de morrer sobre os menores e os mais fracos, quando um país mata crianças não nascidas, ainda no seio de suas mães, ele avança em direção à barbárie!
O Ocidente está cego pela sua sede de riquezas! O engodo do dinheiro que o liberalismo dissemina nos corações entorpece os povos! Enquanto isso, a tragédia silenciosa do aborto e da eutanásia continua. Enquanto isso, a pornografia e a ideologia de gênero mutilam e destroem crianças e adolescentes.
Nós estamos acostumados à barbárie, isso nem nos surpreende mais!
A civilização ocidental está em profunda decadência e ruína, apesar de seus fantásticos sucessos científicos e tecnológicos e das aparências de prosperidade! Como a Catedral de Notre-Dame: a civilização ocidental está vacilante. Ela perdeu sua razão de ser: mostrar Deus e conduzir a Deus. Sem o pináculo que coroa o edifício, as abóbadas desmoronam.