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sábado, 23 de agosto de 2025

Homilia: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Sermão anônimo do século IX
“Que ninguém se desespere pela gravidade dos seus pecados”

Irmãos, ouvistes com frequência falar que existem dois homens: Adão e Cristo. Adão é o homem velho, Cristo é o novo. Portanto, aquele que é mau é velho, por imitação daquele que, no paraíso, foi soberbo e desobediente. Porém, aquele que é bom é novo, por sua imitação d’Aquele que disse: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e do qual o Apóstolo disse: Humilhou-se até a morte.

Entretanto, como este tempo em que vivemos é chamado novo, admoestamos aos que são velhos por sua má vida, a que se façam novos por sua boa conduta. Exortamos aos que já são novos por suas boas obras, que tratem de renovar-se, neste tempo novo, por obras cada vez melhores. Por exemplo, aquele que é novo pela castidade abstendo-se de atos impuros, que se renove renunciando ao próprio deleite desses atos. Paralelamente, aquele que é humilde e obediente, misericordioso e paciente, é necessário que se renove rezando todos os dias e progredindo nessas mesmas virtudes, segundo o que está escrito: Caminharão de virtude em virtude.

Caríssimos, que nenhum de vós se creia seguro pelo fato de ter sido batizado, porque assim como nem todos os que estão no estádio correndo levam a coroa, isto é, o prêmio, mas unicamente aquele que chega por primeiro, assim também nem todos os que têm fé se salvam, mas unicamente os que perseveram na boa obra começada. E assim como o que compete com outro se impõe todo tipo de privações, assim também vós deveis abster-vos de todos os vícios, para poder superar o diabo, vosso perseguidor. E visto que o Senhor já vos chamou pela fé para sua vinha, a saber, para a unidade da santa Igreja, vivei e comportai-vos de maneira que possais receber, da liberalidade de Deus, o denário, isto é, a felicidade do Reino.

Que ninguém desespere pela gravidade dos seus pecados, dizendo: são tantos os pecados com os quais me envolvi até a velhice e a idade senil, que já não posso pensar em merecer o perdão, ainda mais tendo em conta que foram os pecados que me abandonaram e não eu a eles. Em absolto, este tal não deve desesperar da misericórdia de Deus, porque alguns são chamados para a vinha de Deus ao amanhecer, outros no meio da manhã, outros ao meio-dia, outros no meio da tarde e outros ao anoitecer, ou seja, alguns são chamados ao serviço de Deus na infância, outros na adolescência, outros na juventude, outros na velhice e outros na idade senil.

E assim como ninguém deve desesperar em razão da idade, se quer se converter a Deus, assim ninguém deve sentir-se seguro baseado somente na fé; antes, deve sentir verdadeiro horror pelo que está escrito: Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos. Que fomos chamados pela fé, o sabemos; porém ignoramos se somos dos escolhidos. Assim, tanto mais humilde há de ser cada um quanto ignore se foi escolhido.

Que Deus todo-poderoso vos conceda não ser do número daqueles que passaram o Mar Vermelho a pé enxuto, comeram o maná do deserto, beberam a bebida espiritual e acabaram morrendo naquele mesmo deserto por causa de suas murmurações; mas sim daqueles outros que entraram na terra prometida e, trabalhando fielmente na vinha da Igreja, mereceram receber o denário da felicidade eterna; assim podereis, junto com Cristo, vossa Cabeça, de cujo Corpo sois membros, reinar por todos os séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 700-702. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo clicando aqui.

sábado, 1 de março de 2025

Homilia: VIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Diádoco de Foticeia
Capítulos sobre a perfeição espiritual
O discernimento dos espíritos se adquire pelo paladar espiritual

O autêntico conhecimento consiste em discernir sem erro o bem do mal; quando se alcança isto, então o caminho da justiça, que conduz a alma para Deus, Sol de justiça, introduz aquela mesma alma na luz infinita do conhecimento, de modo que, doravante, vai segura após a caridade.

Convém que, embora no meio de nossas lutas, conservemos a paz do espírito, para que a mente possa discernir os pensamentos que a atacam, guardando na dispensa da memória aqueles que são bons e possuem sua origem em Deus e lançando desse depósito natural aqueles que são maus e procedem do demônio. O mar, quando está calmo, permite aos pescadores enxergar até o fundo e descobrir onde se encontram os peixes; mas, quando está agitado, fica turvado e impede essa visibilidade, tornando inúteis todos os recursos dos quais os pescadores se utilizam.

Somente o Espírito Santo pode purificar o nosso espírito. Se Ele não entra, como o mais forte do Evangelho, para vencer o ladrão, nunca lhe poderemos arrebatar a presa. Convém, portanto, que em toda ocasião o Espírito Santo se encontre à vontade em nossa alma pacificada, e assim teremos sempre acesa em nós a luz do conhecimento; se ela sempre brilha em nosso interior, não somente serão reveladas as influências nefastas e tenebrosas do demônio, mas também se debilitarão enormemente ao serem surpreendidas por aquela luz santa e gloriosa.

Por isso diz o Apóstolo: Não extingais o Espírito, isto é, não o entristeçais com as vossas más obras e pensamentos, não aconteça que deixe de vos auxiliar com a sua luz. Não é que nós possamos extinguir o que existe de eterno e vivificante no Espírito Santo, mas sim que podemos contristá-lo, ou seja, ao ocasionar este distanciamento entre Ele e nós, nossa alma fica privada de sua luz e envolvida em trevas.

A sensibilidade do espírito consiste em um “paladar apurado”, que nos dá o verdadeiro discernimento. Da mesma forma que, pelo sentido corporal do paladar, quando desfrutamos de boa saúde, apetece-nos aquilo que é agradável, discernindo sem erro o bom do mau, assim também nosso espírito, desde o momento em que começa a possuir plena saúde e a prescindir de preocupações inúteis, torna-se capaz de experimentar a abundância da consolação divina e de reter em sua memória a lembrança de seu sabor, por obra da caridade, para distinguir e ficar com o melhor, conforme o que diz o Apóstolo: Esta é a minha oração: que vosso amor continue crescendo mais e mais em compreensão e em sensibilidade para apreciar os valores.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 646-647. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cirilo de Alexandria para este domingo clicando aqui.

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Homilia: VII Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Cesário de Arles
Sermão 25
Dá ao mendigo o que esperas receber de Cristo

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Doce é o nome da misericórdia, irmãos; e se o nome o é, quanto mais o será a realidade! Ainda que todos os homens queiram possuí-la, por desgraça nem todos agem de maneira que mereçam recebê-la. Todos querem receber misericórdia, mas poucos são os que a querem dar.

Como te atreves a pedir o que não dás? Neste mundo deve dar misericórdia quem deseja recebê-la no céu. Por isso, irmãos, já que todos queremos misericórdia, adotemo-la como protetora nesta vida, para que nos livre do mal no futuro. Com efeito, a misericórdia está no céu e a ela se chega praticando a misericórdia na terra. Assim o afirma a Escritura: Tua misericórdia, Senhor, está no céu.

Portanto, a misericórdia é terrena e celestial, ou seja, humana e divina. Qual é a misericórdia humana? Aquela pela qual socorres as necessidades dos pobres. E qual é a misericórdia divina? Sem dúvida a que concede o perdão dos pecados. Tudo o que a misericórdia humana dá no caminho a misericórdia divina devolve na pátria definitiva.

Deus tem fome e frio em todos os pobres do mundo, como Ele mesmo afirma: Tudo o que fizestes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes. Deus, que se digna dar desde o céu, quer receber na terra.

Que tipo de homens somos que, quando Deus dá, queremos receber e, quando pede, não queremos dar? Quando um pobre tem fome, Cristo padece necessidade. Ele o afirma: Tive fome e me destes de comer. Não desprezes, portanto, a miséria dos pobres, que queres ter a firme esperança de que teus pecados te serão perdoados; Cristo, em todos os pobres, digna-se ter fome e sede, e o que recebe na terra o devolve no céu.

Pergunto-vos, irmãos, o que quereis ou o que buscais quando vindes à igreja? Que outra coisa senão a misericórdia? Dai, portanto, a terrena e recebereis a celestial. O pobre te pede e tu pedes a Deus; ele pede um bocado, tu a vida eterna. Dá ao mendigo o que esperas receber de Cristo; ouve-o quando te diz: Dai e vos será dado. Não sei como te atreves a receber o que não queres dar. Por isso, quando vindes à igreja, dai esmola aos pobres de acordo com vossas possibilidades. O que puder, dê-lhes dinheiro; o que não puder, ofereça-lhes um pouco de vinho. E se nem isto tiver, sempre poderá oferecer-lhes um bocado de pão: se não inteiro, ao menos um pedaço, para que se cumpra o que o Senhor nos exorta pela boca do profeta: Reparte o teu pão com o que tem fome. Não disse que dês tudo, não aconteça que tu mesmo sejas pobre e acabes sem nada.

Se agimos com generosidade, irmãos, Cristo nos dará aquilo do qual carece nos pobres. Por isso Deus permite que existam pobres no mundo, para que todo homem tenha um modo de pagar por seus pecados. Se não houvesse pobres não poderíamos dar esmola e, portanto, não receberíamos o perdão. Deus pode tornar ricos todos os homens, mas quis aproximar-se de nós na miséria dos pobres: assim o pobre com a paciência e o rico pela esmola podem receber a graça de Deus. Pelo nosso bem existe a carência dos pobres.

Observa e contempla: o dinheiro e o Reino. Podem ser comparados? Tu dás dinheiro aos pobres e recebes o Reino de Cristo; doas alimento e recebes de Cristo a vida eterna; doas roupas e recebes de Cristo o perdão dos pecados. Portanto, não desprezemos os pobres, irmãos, mas cuidemos deles e alegremo-nos de seu bem.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 641-643. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Gregório Magno para este domingo clicando aqui.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Homilia: VI Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Leão Magno
Sermão sobre as Bem-aventuranças
Ao justo sua paciência o leva para a glória

Após falar sobre a pobreza, que tanta felicidade proporciona, o Senhor seguiu dizendo: Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Queridíssimos irmãos, o pranto ao qual está vinculado um consolo eterno é distinto da aflição deste mundo. Os lamentos que se escutam neste mundo não tornam ninguém feliz. É muito distinta a razão de ser dos gemidos dos santos, a causa que produz lágrimas felizes.

A santa tristeza lamenta o pecado, o alheio e o próprio. E a amargura não é motivada pela maneira de agir da justiça divina, mas pela maldade humana. E, neste sentido, deve-se lamentar mais a atitude daquele que age mal do que a situação daquele que tem de sofrer por causa do malvado, porque ao injusto sua malícia termina no castigo; ao justo, porém, sua paciência o leva para a glória.

Segue o Senhor: Bem-aventurados os sofredores, porque eles herdarão a terra. Promete-se a posse da terra aos sofredores e aos mansos, aos humildes e simples, e aos que estão dispostos a tolerar todo o tipo de injustiças. Não se deve olhar para esta herança como desprezível e desfragmentada, como se estivesse separada da pátria celestial; do contrário, não se compreende quem poderia entrar no Reino dos Céus.

Porque a terra prometida aos sofredores, em cuja posse os mansos entrarão, é a carne dos santos. Esta carne viveu em humilhação, por isso mereceu uma ressurreição que a transforma e a reveste de imortalidade gloriosa, sem temer nada que possa contrariar ao espírito, sabendo que sempre estarão de comum acordo. Porque, nesse caso, o homem exterior será a possessão pacífica e inamissível do homem interior.

Assim, os sofredores herdarão em paz perpétua e sem prejuízo algum a terra prometida, quando este corruptível se revista de incorruptibilidade e este mortal se revista de imortalidade.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, p. 638. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Hermas para este domingo clicando aqui.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Homilia: Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

São Cirilo de Alexandria, Bispo
Homilia pronunciada no Concílio de Éfeso (431)
Louvor de Maria Mãe de Deus

Contemplo esta assembleia de homens santos, alegres e exultantes, que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente acorreram cá. Embora oprimido por uma grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento, vemos realizarem-se entre nós aquelas doces palavras do salmista Davi: Vede como é bom, como é suave, os irmãos viverem juntos bem unidos! (Sl 132,1).

Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria Mãe de Deus.

Salve, ó Maria Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada d’Aquele que lugar algum pode conter, Virgem e Mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos Evangelhos O que vem em nome do Senhor (Mt 21,9).

Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível; por ti, é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti, se festeja e é adorada no universo a Cruz preciosa; por ti, exultam os céus; por ti, se alegram os Anjos e Arcanjos; por ti, são postos em fuga os demônios; por ti, cai do céu o diabo tentador; por ti, é elevada ao céu a criatura decaída; por ti, todo o gênero humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti, o santo Batismo purifica os que creem; por ti, recebemos o óleo da alegria; por ti, são fundadas igrejas em toda a terra; por ti, as nações são conduzidas à conversão.

E que mais direi? Por Maria, o Filho Unigênito de Deus veio iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte (Lc 1,77); por ela, os Profetas anunciaram as coisas futuras; por ela, os Apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela, os mortos ressuscitam; por ela, reinam os reis em nome da Santíssima Trindade.

Quem dentre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo louvor? Ela é Mãe e Virgem. Que coisa admirável! Este milagre me deixa extasiado. Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser sua própria mãe?

Eis que tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e Esposo imaculado. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.


Responsório (cf. Lc 1,48-49)

Comigo alegrai-vos, todos vós que a Deus temeis, porque sendo pequenina, agradei ao Deus Altíssimo.
R: E gerei o Deus e homem, trazendo-o no meu ventre.

Doravante as gerações hão de chamar-me de bendita, pois olhou o Poderoso para a sua humilde serva.
R: E gerei o Deus e homem, trazendo-o no meu ventre.

Oração
Perdoai, Senhor, os nossos pecados, e como não vos podemos agradar por nossos atos, sejamos salvos pela intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. IV, pp. 1148-1149.

Conheça um pouco da história da Memória facultativa da Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior, celebrada neste dia 05 de agosto, clicando aqui.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Homilia: Festa do Batismo do Senhor

São Gregório Nazianzeno, Bispo
Oratio in Sancta Lumina
O Batismo de Cristo

Cristo é iluminado no Batismo, recebemos com Ele a luz; Cristo é batizado, desçamos com Ele às águas para com Ele subirmos.

João batiza e Jesus se aproxima; talvez para santificar igualmente aquele que o batiza e, sem dúvida, para sepultar nas águas o velho Adão. Antes de nós, e por nossa causa, Ele que é Espírito e carne santificou as águas do Jordão, para assim nos iniciar nos sacramentos mediante o Espírito e a água.

João reluta, Jesus insiste. Eu é que devo ser batizado por ti (cf. Mt 3,14), diz a lâmpada ao Sol, a voz à Palavra, o amigo ao Esposo, diz o maior entre todos os nascidos de mulher ao Primogênito de toda criatura, aquele que estremecera de alegria no seio materno ao que fora adorado no seio de sua Mãe, o que era e seria precursor ao que já tinha vindo e de novo há de vir. Eu é que devo ser batizado por ti. Podia ainda acrescentar: e por causa de ti. Pois sabia que ia receber o batismo de sangue ou que, como Pedro, não lhe seriam apenas lavados os pés.

Jesus sai das águas, elevando consigo o mundo que estava submerso, e vê abrirem-se os céus de par em par, que Adão tinha fechado para si e sua posteridade, assim como o paraíso lhe fora fechado por uma espada de fogo.

O Espírito, acorrendo àquele que lhe é igual, dá testemunho da sua divindade. Vem do céu uma voz, pois também vinha do céu aquele de quem se dava testemunho. E ao mostrar-se na forma corporal de uma pomba, o Espírito glorifica o corpo de Cristo, já que este, por sua união com a divindade, é o corpo de Deus. De modo semelhante, muitos séculos antes, uma pomba anunciara o fim do dilúvio.

Veneremos hoje o Batismo de Cristo e celebremos dignamente esta festa.

Permanecei inteiramente puros e purificai-vos sempre mais. Nada agrada tanto a Deus quanto o arrependimento e a salvação do homem, para quem se destinam todas as suas palavras e mistérios. Sede como luzes no mundo, isto é, como uma força vivificante para os outros homens. Permanecendo como luzes perfeitas diante da grande luz, sereis inundados pelo esplendor dessa luz que brilha no céu e iluminados com maior pureza e fulgor pela Trindade. Dela acabastes de receber, embora não em plenitude, o único raio que procede da única Divindade, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

São Gregório Nazianzeno

Responsório (Sl 113A,5)

Neste dia os céus se abrem, o mar salgado se faz doce, a terra exulta de alegria e as montanhas rejubilam,
R. Porque o Senhor é batizado no Jordão por João Batista.

Ó mar, o que tens tu, para fugir? E tu, Jordão, por que recuas deste modo?
R. Porque o Senhor é batizado no Jordão por João Batista.

Oração

Deus eterno e todo-poderoso que, sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre Ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho, concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo, perseverar constantemente em vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. I, pp. 574-575. 

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Homilias dos Santos Padres: Ano B

Os Padres da Igreja oferecem-nos, ainda hoje, uma teologia de grande valor, porque no centro está o estudo da Sagrada Escritura na sua integridade” (Exortação Apostólica Verbum Domini, n. 37).

Desde o final do século XIX a Igreja tem buscado “redescobrir” o grande tesouro dos Padres da Igreja (ou Pais da Igreja), escritores e teólogos dos primeiros séculos do Cristianismo.

Essa “redescoberta” culminou no Concílio Vaticano II (1962-1965), cujos 60 anos estamos celebrando. A Constituição Dogmática Dei Verbum, com efeito, nos exorta a buscar “uma compreensão sempre mais profunda das Sagradas Escrituras” através do estudo dos Santos Padres e da sagrada Liturgia (n. 23).

Assim, desde o Ano Litúrgico de 2015-2016, temos publicado aqui em nosso blog homilias dos Santos Padres para os domingos e solenidades, buscando ler a Palavra de Deus, ao ritmo da Liturgia, iluminados pelos Padres.

São Marcos, Evangelista
(Catedral do Cristo Salvador, Moscou)

Essas homilias têm sido tomadas em sua maioria do excelente Lecionário Patrístico Dominical compilado pelo Diácono Fernando José Bondan da Diocese de Novo Hamburgo (RS), publicado pela Editora Vozes em 2013.

Outros textos, por sua vez, foram tomados da Liturgia das Horas, particularmente da 2ª leitura do Ofício das Leituras, escolhida entre os textos dos Padres da Igreja e de outros autores eclesiásticos.

Nesta postagem elencaremos os links para as homilias dos Santos Padres para os domingos e solenidades do Ano B, no qual a Igreja nos propõe a leitura do Evangelho segundo Marcos.

Uma vez que esse Evangelho é o mais breve dos quatro, durante cinco domingos do Tempo Comum lê-se o capítulo 6 do Evangelho de João (discurso sobre o pão da vida).

Para conhecer os critérios de escolha das leituras em cada tempo litúrgico, clique aqui.

Recomendamos vivamente aos nossos leitores adquirir o Lecionário Patrístico Dominical no site da Editora Vozes, no qual é possível encontrar também outras obras do Diácono Fernando José Bondan, incluindo o Lecionário Místico Ferial, publicado em 2021, com textos dos Padres e de outros teólogos para os dias de semana

TEMPO DO ADVENTO

I Domingo do Advento
Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7 / Sl 79 / 1Cor 1,3-9 / Mc 13,33-37
II Domingo do Advento
Is 40,1-5.9-11 / Sl 84 / 2Pd 3,8-14 / Mc 1,1-8

III Domingo do Advento
Is 61,1-2a.10-11 / Lc 1,46-50.53-54 / 1Ts 5,16-24 / Jo 1,6-8.19-28

quarta-feira, 15 de março de 2023

Sugestão de leitura: Catequeses pré-batismais (São Cirilo de Jerusalém)

“Bebamos da água viva que jorra para a vida eterna (cf. Jo 4,14; 7,38)” (Cirilo de Jerusalém, Catequese 16,11).

Dentro do itinerário da Iniciação Cristã de Adultos, a Quaresma é o “tempo da purificação e iluminação”, marcado pela preparação próxima dos catecúmenos para a recepção dos Sacramentos na Vigília Pascal.

Assim, como sugestão de leitura deste mês de março de 2023, propomos as Catequeses pré-batismais de São Cirilo de Jerusalém (†386), Bispo e Doutor da Igreja, publicadas em 2022 pela Editora Vozes como parte da Coleção “Clássicos da Iniciação Cristã”.


A obra foi publicada originalmente em 1978, com a tradução do franciscano Frei Frederico Vier a partir do original publicado na célebre coleção organizada por Jacques Paul Migne, Patrologia Graeca (vol. 33).

As notas de rodapé por sua vez, ficaram a cargo do também franciscano Frei Fernando Antônio Figueiredo, Doutor em Patrística e posteriormente Bispo de Santo Amaro (SP).

A edição de 2022 é enriquecida com uma Introdução (pp. 7-44) da Prof.ª Rosemary Fernandes da Costa, Doutora em Teologia pela PUC-RJ, estudiosa da catequese e da mistagogia (palavra que significa “conduzir ao mistério”).

Após uma breve apresentação da vida e da obra de São Cirilo, a Prof.ª Rosemary nos dá cinco “chaves de leitura” para suas homilias catequéticas:
1. A acolhida e o diálogo com a realidade do catecúmeno;
2. A mediação bíblica, centrada na linguagem narrativa e alegórica da história da salvação;
3. A centralidade do Símbolo Apostólico (Creio);
4. A dimensão de conversão das práticas - pessoais, familiares, sociais;
5. A mistagogia como teologia e como pedagogia.

Segue-se a tradução da Catequese preliminar ou Procatequese (Προκατηχήσις) e das 18 Catequeses pré-batismais ou Catequeses aos iluminandos (Κατηχήσεις φωτιζομένων), que teriam sido pronunciadas por Cirilo na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, durante a Quaresma entre 348 e 350.

A obra de Cirilo seria completada com as cinco Catequeses mistagógicas (Κατηχήσεις μυσταγωγικαί) ou “aos neófitos” (Πρὸς τοὺς νεοφωτίστους) sobre os Sacramentos da Iniciação Cristã, proferidas durante o Tempo Pascal, sobre as quais falaremos na próxima postagem desta seção.

Catequese preliminar (pp. 45-60)
Uma exortação aos catecúmenos ou “iluminandos” a participarem das Catequeses.

1ª Catequese: Introdução aos batizandos (pp. 61-66)
Exortação ao arrependimento dos pecados e à penitência em preparação ao Batismo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Homilia: Quarta-feira de Cinzas

São Clemente I, Papa
Carta aos Coríntios
Fazei penitência

Fixemos atentamente o olhar no Sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus, seu Pai, esse Sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.

Percorramos todas as épocas do mundo e verificaremos que em cada geração o Senhor concedeu o tempo favorável da penitência a todos os que a Ele quiseram converter-se. Noé proclamou a penitência, e todos que o escutaram foram salvos. Jonas anunciou a ruína aos ninivitas, mas eles, fazendo penitência de seus pecados, reconciliaram-se com Deus por suas súplicas e alcançaram a salvação, apesar de não pertencerem ao povo de Deus.

Inspirados pelo Espírito Santo, os ministros da graça de Deus pregaram a penitência. O próprio Senhor de todas as coisas também falou da penitência, com juramento: Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta (cf. Ez 33,11); e acrescentou esta sentença cheia de bondade: Deixa de praticar o mal, ó casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: “Ainda que vossos pecados subam da terra até o céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais negros que o cilício, se voltardes para mim de todo o coração e disserdes: ‘Pai’, eu vos tratarei como um povo santo e ouvirei as vossas súplicas” (cf. Is 1,18; 63,16; 64,7; Jr 3,4; 31,9).

Querendo levar à penitência todos aqueles que amava, o Senhor confirmou esta sentença com sua vontade todo-poderosa.

Obedeçamos, portanto, à sua excelsa e gloriosa vontade. Imploremos humildemente sua misericórdia e benignidade. Convertamo-nos sinceramente ao seu amor. Abandonemos as obras más, a discórdia e a inveja que conduzem à morte.

Sejamos humildes de coração, irmãos, evitando toda espécie de vaidade, soberba, insensatez e cólera, para cumprirmos o que está escrito. Pois diz o Espírito Santo: Não se orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte com sua força, nem o rico em sua riqueza; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, procurando-o e praticando o direito e justiça (cf. Jr 9,22-23; 1Cor 1,31).

Antes de tudo, lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus, quando exortava à benevolência e à longanimidade: Sede misericordiosos, e alcançareis misericórdia; perdoai, e sereis perdoados; como tratardes o próximo, do mesmo modo sereis tratados; dai, e vos será dado; não julgueis, e não sereis julgados; fazei o bem, e ele também vos será feito; com a medida com que medirdes, vos será medido (cf. Mt 5,7; 6,14; 7,1.2).

Observemos fielmente este preceito e estes mandamen­tos, a fim de nos conduzirmos sempre, com toda humildade, na obediência às suas santas palavras. Pois eis o que diz o texto sagrado: Para quem hei de olhar, senão para o manso e humilde, que treme ao ouvir minhas palavras? (cf. Is 66,2).

Tendo assim participado de muitas, grandes e gloriosas ações, corramos novamente para a meta que nos foi proposta desde o início: a paz. Fixemos atentamente nosso olhar no Pai e Criador do universo e desejemos com todo ardor seus dons de paz e seus magníficos e incomparáveis benefícios.

São Clemente I, Papa

Responsório (Is 55,7; Jl 2,13; cf. Ez 33,11)

Que o ímpio abandone o seu caminho e desista de seus planos o malvado; que ele volte, e o Senhor terá piedade.
R. Pois o Senhor, o nosso Deus, é compassivo, é clemente, é bondoso, é indulgente; Ele se apressa em desistir de seu castigo.

O Senhor não quer a morte do pecador, mas que ele volte, se converta e tenha a vida.
R. Pois o Senhor, o nosso Deus, é compassivo, é clemente, é bondoso, é indulgente; Ele se apressa em desistir de seu castigo.

Oração
Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. II, pp. 42-44.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Homilia: IV Domingo do Tempo Comum - Ano A

São Gregório de Nissa
Sermão sobre as Bem-aventuranças
Tenha por modelo o Deus que quis fazer-se pobre

Pela pobreza de espírito entendo a humildade da qual Jesus Cristo nos deu o modelo em sua pessoa. Porque o orgulho perdeu ao homem; Jesus Cristo, para repará-lo, fez da humildade a primeira das virtudes e a fonte de suas bem-aventuranças. Para conhecer bem a vaidade do orgulho, basta considerar o homem em si mesmo, e não o que está ao seu redor. Portanto, o que é o homem? Esse, de todos os livros, onde é comentado com todas as pompas da dignidade do homem, faz remontar a sua origem a um pouco de lama. Pois do berço comum do gênero humano desceis ao nascimento dos indivíduos que o compõem...

Mas tentemos desvendar o véu deste mistério: Não revele, diz a Escritura, a vergonha de teu pai e de tua mãe! Argila animada, em seguida poeira contaminada, você não se envergonha de se entregar ao orgulho? Você esqueceu, pois, as duas extremidades da vida humana, o lugar de onde partiste e aquele aonde vais terminar? Isso que vos ensoberbece, a sua juventude, sua beleza, a agilidade de seus músculos, a riqueza ou a elegância de vossos adornos: tudo isso não é vós.

Contemplai-vos no espelho e aprendei a vos conhecer. Não fostes inteirar-se dos segredos da nossa natureza em um desses lugares destinados às sepulturas? Não fostes contemplar esses montões de ossos confusamente dispersos e acumulados uns sobre os outros? Esses crânios desnudos, essas cabeças mutiladas cujo aspecto imprime pavor e repugnância; essas cavidades profundas que substituem os olhos, esses restos de uma boca sem forma, esses pedaços de membros sem laço que os uma ao mesmo corpo... Aí está vossa imagem!

Onde está a flor de uma brilhante juventude, o frescor das cores, os lábios sorridentes, os olhos intensos de onde jorram arrogância e desdém, a cabeleira solta sobre os ombros, as mãos hábeis que lançam as flechas e o dardo, os pés ágeis e vigorosos? Onde está a exuberante púrpura que vos ornamenta? O que aconteceu com tudo isso? Um sonho vão do qual não restou sequer um rastro...

Mas, diga-me ainda, o que te enche de tanto orgulho? É vossa dignidade no mundo, as magistraturas, os cargos que ali ocupais; o brilhante papel que desempenhais no jogo da vida? Máscara de teatro, que reténs fora do espetáculo ao personagem emprestado do qual és encarregado no momento da representação! Acreditam que possuem o poder do próprio Deus, porque dispõem do direito de vida e de morte sobre aqueles que dependem de sua autoridade. Ah! Como se pode ter direito sobre a vida de outro quando não se é senhor da sua própria?

Se és pobre de espírito, tenhas por modelo o Deus que quis fazer-se bem pobre, indigente por amor a nós, que fixa seu olhar sob a comum condição de todos os homens, e banirá de seu coração todo esse fausto emprestado. Essa pobreza de espírito não exclui o outro tipo de pobreza, que serve para adquirir as riquezas do céu. Ambas levam à bem-aventurança. Qual é então o pobre de espírito? É aquele que troca a opulência terrestre pelos bens espirituais, o que se liberta de todo apego humano para tomar um impulso mais livre para a Divindade.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 125-126. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cromácio de Aquileia para este domingo clicando aqui.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Homilia: Festa dos Santos Inocentes, Mártires

São Quodvultdeus, Bispo
Sermão 2 sobre o Símbolo
Ainda não falam e já proclamam Cristo

Nasceu um pequenino que é o grande Rei. Os magos chegam de longe e vêm adorar, ainda deitado no presépio, Aquele que reina no céu e na terra. Ao anunciarem os magos o nascimento de um Rei, Herodes se perturba e, para não perder o seu reino, quer matar o recém-nascido. No entanto, se tivesse acreditado n’Ele, poderia reinar com segurança nesta terra e para sempre na outra vida.

Por que temes, Herodes, ao ouvir que nasceu um Rei? Ele não veio para te destronar, mas para vencer o demônio. Como não compreendes isso, tu te perturbas e te enfureces; e, para que não escape o único menino que procuras, tens a crueldade de matar tantos outros.

Nem as lágrimas das mães nem o lamento dos pais pela morte de seus filhos, nem os gritos e gemidos das crianças te comovem. Matas o corpo das crianças porque o medo matou o teu coração; e julgas que, se conseguires teu propósito, poderás viver muito tempo, quando precisamente é a própria Vida que queres matar.

Aquele que é a fonte da graça, pequenino e grande ao mesmo tempo, reclinado num presépio, apavora o teu trono. Por meio de ti, e sem que saibas, realiza os seus desígnios e liberta as almas do cativeiro do demônio. Recebe como filhos adotivos os filhos dos que eram seus inimigos.

Essas crianças morrem pelo Cristo sem saberem, enquanto seus pais choram os mártires que morrem. Cristo faz suas legítimas testemunhas aqueles que ainda não falam. Eis como reina Aquele que veio para reinar. Eis como já começa a conceder a liberdade Aquele que veio para libertar, e a dar a salvação Aquele que veio para salvar.

Tu, porém, Herodes, ignorando tudo isto, te perturbas e te enfureces; e enquanto te enfureces contra o Menino, já lhe prestas homenagem, sem o saberes. Ó imenso dom da graça! Que méritos tinham aquelas crianças para obterem tal vitória? Ainda não falam e já proclamam o Cristo. Não podem ainda mover os membros para a luta e já ostentam a palma da vitória.

São Quodvultdeus, Bispo de Cartago

Responsório (cf. Ap 5,14; 4,10; 7,11)

Adoraram o que vive pelos séculos dos séculos,
R. Colocando suas coroas ante o trono de Deus.

E prostraram-se com a face por terra ante o trono, bendizendo o que vive pelos séculos dos séculos.
R. Colocando suas coroas ante o trono de Deus.

Oração
Ó Deus, hoje os Santos Inocentes proclamam vossa glória, não por palavras, mas pela própria morte; dai-nos também testemunhar com a nossa vida o que os nossos lábios professam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. I, pp. 1100-1102.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Homilia: Festa de São João, Apóstolo e Evangelista

Santo Agostinho, Bispo
Dos Tratados sobre a Primeira Carta de São João
A vida se manifestou em nossa carne

O que era desde o princípio, o que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida (1Jo 1,1). Quem poderia tocar a Palavra com suas mãos, a não ser porque a Palavra se fez carne e habitou entre nós? (Jo 1,14).

A Palavra que se fez carne para ser tocada com as mãos, começou a ser carne no seio da Virgem Maria; mas não foi então que a Palavra começou a existir porque, diz João, ela era desde o princípio. Vede como sua Carta é confirmada pelas palavras do seu Evangelho, que acabais de escutar: No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus (Jo 1,1).

Alguns talvez julguem que a expressão Palavra da Vida designe de modo geral a Cristo e não o próprio Corpo de Cristo que foi tocado pelas mãos. Reparai no que vem em seguida: E a Vida manifestou-se (1Jo 1,2). Por conseguinte, Cristo é a Palavra da Vida.

E como se manifestou esta Vida? Ela existia desde o início, mas não tinha se manifestado aos homens; manifestara-se aos anjos que a contemplavam e se alimentavam dela como de seu pão. E o que diz a Escritura? O homem se nutriu do pão dos anjos (Sl 77,25).

Portanto, a Vida se manifestou na carne, para que, nesta manifestação, aquilo que só o coração podia ver, fosse visto também com os olhos, e desta forma curasse os corações. De fato, o Verbo só pode ser visto com o coração, ao passo que a carne pode ser vista também com os olhos corporais. Éramos capazes de ver a carne, mas não éramos capazes de ver a Palavra. Por isso, a Palavra se fez carne que nós podemos ver, para curar em nós o que nos torna capazes de vê-la.

E somos testemunhas, diz João, e vos anunciamos a Vida eterna, que estava junto do Pai e que se tornou visível para nós (1Jo 1,2), isto é, que se manifestou entre nós ou, falando mais claramente, nos foi manifestada.

Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos (1Jo 1,3). Prestai atenção: Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos. Eles viram o próprio Senhor presente na carne, ouviram da boca do Senhor suas palavras e no-las anunciaram. E nós ouvimos certamente, mas não vimos.

Somos, por isso, menos felizes do que eles que viram e ouviram? Por que então acrescenta: Para que estejais em comunhão conosco? (1Jo 1,3). Eles viram, nós não vimos e, contudo, estamos em comunhão com eles porque temos uma fé comum.

E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Nós vos escrevemos estas coisas, diz João, para que a vossa alegria fique completa (1Jo 1,4). Essa alegria completa encontra-se na mesma comunhão, na mesma caridade, na mesma unidade.

Santo Agostinho

Responsório:

João, na última Ceia reclinou sua cabeça sobre o peito do Senhor.
R. Quão feliz é este Apóstolo, a quem foram revelados os mistérios celestiais!

Bebeu da própria fonte do lado do Senhor as torrentes do Evangelho.
R. Quão feliz é este Apóstolo, a quem foram revelados os mistérios celestiais!

Oração
Ó Deus, que pelo apóstolo São João nos revelastes os mistérios do vosso Filho, tornai-nos capazes de conhecer e amar o que ele nos ensinou de modo incomparável. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. I, pp. 1092-1094.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Homilia: Festa de Santo Estêvão, Diácono e Protomártir

São Fulgêncio de Ruspe, Bispo
Sermão III
As armas da caridade

Ontem, celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno; hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado.
Ontem o nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da morada de um seio virginal, dignou-se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda de seu corpo, parte vitorioso para o céu.
O nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de mãos vazias. Trouxe para seus soldados um grande dom, que não apenas os enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate: trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.
Ao repartir tão liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais pobre: enriquecendo do modo admirável a pobreza dos seus fiéis, ele conservou a plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estêvão da terra ao céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu no soldado.
Estêvão, para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a caridade e com ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou perante a hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles que o apedrejavam. Por esta caridade, repreendia os que estavam no erro para que se emendassem, por caridade orava pelos que o apedrejavam para que não fossem punidos.
Fortificado pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter como companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na terra. Sua santa e incansável caridade queria conquistar pela oração, a quem não pudera converter pelas admoestações.
E agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo, com Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro, martirizado pelas pedras de Paulo, chegou depois Paulo, ajudado pelas orações de Estêvão.
É esta a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se envergonha mais da morte de Estêvão, mas Estêvão se alegra pela companhia de Paulo, porque em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a crueldade dos perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em ambos, a caridade mereceu a posse do reino dos céus.
A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o caminho que conduz ao céu.  Quem caminha na caridade não pode errar nem temer.  Ela dirige, protege, leva a bom termo.
Portanto, meus irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo cristão pode subir ao céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai-a uns para com os outros e, subindo por ela, progredi sempre mais no caminho da perfeição.

São Fulgêncio de Ruspe

Responsório

Ontem Cristo na terra nasceu, para que Estêvão nascesse nos céus; ontem Cristo entrou neste mundo,
R. Para que Estêvão entrasse nos céus.

Revestido de carne humana, saindo do seio da Virgem, nosso Rei se dignou visitar-nos.
R. Para que Estêvão entrasse nos céus.

Oração
Ensinai-nos, ó Deus, a imitar o que celebramos, amando os nossos próprios inimigos, pois festejamos Santo Estêvão, nosso primeiro mártir, que soube rezar por seus perseguidores. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. I, pp. 1082-1084. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Homilia de São Beda o Venerável sobre o Magnificat

No dia 22 de dezembro, no contexto da preparação próxima para o Natal do Senhor, lemos no Evangelho da Missa o cântico da Virgem Maria, o Magnificat (Lc 1,46-55). Eis a reflexão que a Igreja nos propõe no Ofício das Leituras desse dia:

São Beda, o Venerável, Presbítero
Da Exposição sobre o Evangelho de São Lucas
Magnificat

E Maria disse: A minh’alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador (Lc 1,46-47).
O Senhor, diz ela, elevou-me por um dom tão grande e inaudito, que nenhuma palavra o pode descrever e mesmo no íntimo do coração é difícil compreendê-lo. Por isso dedico todas as forças de meu ser ao louvor e à ação de graças, contemplando a grandeza daquele que é eterno, e ofereço com alegria minha vida, tudo que sinto e penso, porque meu espírito rejubila pela divindade eterna de Jesus, o Salvador, que concebi e é gerado em meu seio.

O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome! (Lc 1,49). 
Estas palavras se relacionam com o início do cântico que diz: A minh’alma engrandece o Senhor. De fato, só a alma em quem o Senhor se dignou fazer maravilhas pode engrandecê-lo e louvá-lo dignamente e dizer, exortando os que compartilham seus desejos e aspirações: Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome (Sl 33,4).
Quem conhece o Senhor e é negligente em proclamar sua grandeza e santificar o seu nome, será considerado o menor no Reino dos Céus (Mt 5,19). Diz-se que santo é o seu nome porque, pelo seu poder ilimitado, transcende toda criatura e está infinitamente separado de todas as coisas criadas.

Acolhe Israel, seu servidor, fiel ao seu amor (Lc 1,54). 
Israel é, com razão, denominado servidor do Senhor, porque, sendo obediente e humilde, foi por ele acolhido para ser salvo, como diz Oséias: Quando Israel era criança, eu já o amava (Os 11,1). Aquele que recusa humilhar-se não pode certamente ser salvo, nem dizer com o Profeta: Quem me protege e me ampara é meu Deus; é o Senhor quem sustenta a minha vida! (Sl 53,6). Mas, quem se fizer humilde como uma criança, esse é o maior no Reino dos Céus (cf. Mt 18,4).

Como havia prometido a nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos para sempre (Lc 1,55).
Trata-se da descendência de Abraão segundo o espírito e não segundo a carne, isto é, não apenas dos filhos segundo a natureza, mas de todos que seguiram o exemplo da sua fé, fossem eles circuncidados ou incircuncisos. Pois o próprio Abraão, ainda incircunciso, acreditou e isto lhe foi imputado como justiça.
A vinda do Salvador foi, portanto, prometida a Abraão e a seus filhos para sempre, isto é, aos filhos da promessa, dos quais se diz: Sendo de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa (Gl 3,29).
É com razão que, antes do nascimento do Senhor e de João, suas mães profetizam, para que, tendo o pecado começado pela mulher, os bens comecem igualmente por ela; e se foi pela sedução de uma só mulher que a morte foi introduzida no mundo, agora é pela profecia de duas mulheres que se anuncia ao mundo a salvação.

São Beda, o Venerável

Responsório (Lc 1,48-50)

As gerações hão de chamar-me de bendita.
R. O Poderoso fez em mim maravilhas, e Santo é o seu nome.

Seu amor para sempre se estende sobre aqueles que o temem.
R. O Poderoso fez em mim maravilhas, e Santo é o seu nome.

Oração

Deus de misericórdia, vendo o homem entregue à morte, quisestes salvá-lo pela vinda do vosso Filho; fazei que, ao proclamar humildemente o mistério da Encarnação, entremos em comunhão com o Redentor. Que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. I, pp. 325-327.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Homilia: Festa de Santo André, Apóstolo

São João Crisóstomo
Das Homilias sobre o Evangelho de João
Encontramos o Messias

André, tendo permanecido com Jesus e aprendido com Ele muitas coisas, não escondeu o tesouro só para si, mas correu depressa à procura de seu irmão para fazê-lo participar da sua descoberta. Repara o que lhe disse: Encontramos o Messias - que quer dizer Cristo (Jo 1,41). Vede como logo revela o que aprendera em pouco tempo! Demonstra assim o valor do Mestre que o persuadira, bem como a aplicação e o zelo daqueles que, desde o princípio, já estavam atentos. Esta expressão, com efeito, é de quem deseja intensamente a sua vinda, espera Aquele que deveria vir do céu, exulta de alegria quando Ele se manifestou, e se apressa em comunicar aos outros a grande notícia.

Repara também a docilidade e a prontidão de espírito de Pedro. Acorre imediatamente. E conduziu-o a Jesus (Jo 1,42), afirma o Evangelho. Mas ninguém condene a facilidade com que, não sem muita reflexão, aceitou a notícia. É provável que o irmão lhe tenha falado pormenorizadamente mais coisas. Na verdade, os evangelistas sempre narram muitas coisas resumidamente, por razões de brevidade. Aliás, não afirma que acreditou logo, mas: E conduziu-o a Jesus, e a Ele o confiou para que aprendesse com Jesus todas as coisas. Estava ali, também, outro discípulo que viera com os mesmos sentimentos.

Se João Batista, quando afirma: Eis o Cordeiro e batiza no Espírito Santo (cf. Jo 1,29.33), deixou mais clara, sobre esta questão, a doutrina que seria dada pelo Cristo, muito mais fez André. Pois, não se julgando capaz de explicar tudo, conduziu o irmão à própria fonte da luz, tão contente e pressuroso, que não duvidou sequer um momento.

São João Crisóstomo

Responsório:

Ao chamado do Senhor, Santo André deixou as redes, com as quais ganhava a vida.
R. E seguiu a quem nos dá de presente a vida eterna.

Foi ele que aceitou o martírio por amor do Senhor e do Evangelho.
R. E seguiu a quem nos dá de presente a vida eterna.

Oração
Nós vos suplicamos, ó Deus onipotente, que o apóstolo Santo André, pregador do Evangelho e pastor da vossa Igreja, não cesse no céu de interceder por nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. I, pp. 1021-1022; vol. IV, pp. 1481-1482. 

sábado, 26 de novembro de 2022

Homilia de São Bernardo: A tríplice vinda do Senhor

São Bernardo, Abade
Sermo V in Adventu Domini
O Verbo de Deus virá a nós

Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma vinda intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta não. Na primeira vinda o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi então, como Ele mesmo declara, que o viram e não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de Deus (Lc 3,6) e olharão para Aquele que transpassaram (Zc 12,10). A vinda intermediária é oculta e nela somente os eleitos o veem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira, o Senhor veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o poder de sua graça; na última, virá com todo o esplendor da sua glória.

Esta vinda intermediária é, portanto, como um caminho que conduz da primeira à última; na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na intermediária, é nosso repouso e consolação.

Mas, para que ninguém pense que é pura invenção o que dissemos sobre esta vinda intermediária, ouvi o próprio Senhor: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele (cf. Jo 14,23). Lê-se também em outro lugar: Quem teme a Deus, faz o bem (Eclo 15,1). Mas vejo que se diz algo mais sobre o que ama a Deus, porque guardará suas palavras. Onde devem ser guardadas? Sem dúvida alguma no coração, como diz o profeta: Conservei no coração vossas palavras, a fim de que eu não peque contra vós (Sl 118,11).

Guarda, pois, a palavra de Deus, porque são felizes os que a guardam; guarda-a de tal modo que ela entre no mais íntimo de tua alma e penetre em todos os teus sentimentos e costumes. Alimenta-te deste bem e tua alma se deleitará na fartura. Não esqueças de comer o teu pão para que teu coração não desfaleça, mas que tua alma se sacie com este alimento saboroso.

Se assim guardares a palavra de Deus, certamente ela te guardará. Virá a ti o Filho em companhia do Pai, virá o grande Profeta que renovará Jerusalém e fará novas todas as coisas. Graças a essa vinda, como já refletimos a imagem do homem terrestre, assim também refletiremos a imagem do homem celeste (1Cor 15,49). Assim como o primeiro Adão contagiou toda a humanidade e atingiu o homem todo, assim agora é preciso que Cristo seja o senhor do homem todo, porque Ele o criou, redimiu e o glorificará.

São Bernardo, Abade

Responsório (cf. Sl 28,11; Is 40,10)

O Senhor vem com força e poder.
R. Visitar com a paz o seu povo e lhe dar uma vida sem fim.

Nosso Deus, com poder, vem a nós.
R. Visitar com a paz o seu povo e lhe dar uma vida sem fim.

Oração

Senhor Deus, preparai os nossos corações com a força da vossa graça, para que, ao chegar o Cristo, vosso Filho, nos encontre dignos do banquete da vida eterna e ele mesmo nos sirva o alimento celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

(Ofício das Leituras da quarta-feira da I semana do Advento; Liturgia das Horas, vol. I, pp. 137-139).

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Homilias dos Santos Padres: Ano A

“A Escritura, os Padres e a Liturgia são as colunas da verdadeira Tradição” (cf. Papa Francisco, Carta Apostólica Desiderio desideravi, n. 14).

A partir do início do século XX, a Igreja “redescobriu” o grande tesouro dos escritos dos Padres (ou Pais) da Igreja, escritores e teólogos dos primeiros séculos do Cristianismo (séc. II a VII-VIII).

Essa redescoberta culminou no Concílio Vaticano II (1962-1965), cujos 60 anos celebramos. A Constituição Dogmática Dei Verbum, com efeito, nos exorta a buscar “uma compreensão sempre mais profunda das Sagradas Escrituras” através do estudo dos Santos Padres e da sagrada Liturgia (n. 23).

Assim, desde o Ano Litúrgico de 2015-2016, temos publicado aqui em nosso blog homilias dos Santos Padres para os domingos e solenidades, buscando ler a Palavra de Deus, ao ritmo da Liturgia, iluminados pelos Padres.

São Mateus, Apóstolo e Evangelista
(Catedral do Cristo Salvador, Moscou)

Essas homilias têm sido tomadas em sua maioria do excelente Lecionário Patrístico Dominical, compilado pelo Diácono Fernando José Bondan da Diocese de Novo Hamburgo (RS), publicado pela Editora Vozes em 2013.

Outros textos, por sua vez, foram tomados da Liturgia das Horas, particularmente da 2ª leitura do Ofício das Leituras, escolhida entre os textos dos Padres da Igreja e de outros autores eclesiásticos.

Nesta postagem elencaremos os links para as homilias dos Santos Padres publicadas neste blog para os domingos e solenidades do Ano A, no qual a Igreja nos propõe a leitura do Evangelho segundo Mateus.

Para conhecer os critérios de escolha das leituras em cada tempo litúrgico, clique aqui.

Recomendamos vivamente aos nossos leitores adquirir o Lecionário Patrístico Dominical no site da Editora Vozes, no qual é possível encontrar também outras obras do Diácono Fernando José Bondan, incluindo o Lecionário Místico Ferial, publicado em 2021, com textos dos Padres e de outros teólogos para os dias de semana.

TEMPO DO ADVENTO

I Domingo do Advento
Is 2,1-5 / Sl 121 / Rm 13,11-14 / Mt 24,37-44
Santo Hilário de Poitiers: O fundamento do nosso edifício é Cristo

II Domingo do Advento
Is 11,1-10 / Sl 71 / Rm 15,4-9 / Mt 3,1-12
Eusébio de Cesareia: Uma voz grita no deserto

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Homilia: Memória da Apresentação de Maria

Santo Agostinho, Bispo
Sermão 25,7-8
Aquela que acreditou em virtude da fé, também pela fé concebeu

Prestai atenção, rogo-vos, naquilo que Cristo Senhor diz, estendendo a mão para seus discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de meu Pai que me enviou, este é meu irmão, irmã e mãe (Mt 12,49-50). Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação e que foi criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Sim! Ela o fez! Santa Maria fez totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. Assim Maria era feliz porque, já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente.

Vede se não é assim como digo. O Senhor passava acompanhado pelas turbas, fazendo milagres divinos, quando certa mulher exclamou: Bem-aventurado o seio que te trouxe. Feliz o ventre que te trouxe! (Lc 11,27) O Senhor, para que não se buscasse a felicidade na carne, que respondeu então? Muito mais felizes os que ouvem a palavra de Deus e a guardam (Lc 11,28). Por conseguinte, também aqui é Maria feliz, porque ouviu a palavra de Deus e a guardou. Guardou a verdade na mente mais do que a carne no seio. Verdade, Cristo; carne, Cristo; a verdade-Cristo na mente de Maria; a carne-Cristo no seio de Maria. É maior o que está na mente do que o trazido no seio.

Santa Maria, feliz Maria! Contudo, a Igreja é maior que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é porção da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas membro do corpo total. Se ela pertence ao corpo total, logo é maior o corpo que o membro. A cabeça é o Senhor; e o Cristo total, é a cabeça e o corpo. Que direi? Temos cabeça divina, temos Deus por cabeça!

Portanto, irmãos, dai atenção a vós mesmos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede de que modo o sois. Diz: Eis minha mãe e meus irmãos (Mt 12,49). Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão e irmã e mãe (cf. Mt 12,50). Pensai: entendo irmão, entendo irmã; é uma só a herança, e é essa a misericórdia de Cristo que, sendo único, não quis ficar sozinho; quis que fôssemos herdeiros do Pai, co-herdeiros seus.

Santo Agostinho, Bispo

Responsório (Is 61,10; Lc 1,46-47)

Eu exulto de alegria no Senhor e minh’alma rejubila no meu Deus,
R. Pois me envolveu de salvação qual uma veste, qual uma noiva que se enfeita com suas joias.

A minh’alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador.
R. Pois me envolveu de salvação qual uma veste, qual uma noiva que se enfeita com suas joias.

Oração

Ao celebrarmos, ó Deus, a gloriosa memória da Santa Virgem Maria, concedei-nos, por sua intercessão, participar da plenitude da vossa graça. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, v. IV, pp. 1466-1467.


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Homilia: Memória da Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo

São Leão Magno, Papa
Sermão 82 na Festa dos Apóstolos Pedro e Paulo
Pedro e Paulo, germes da semente divina

É preciosa aos olhos do Senhor a morte de seus santos (Sl 115,15), e nenhuma crueldade pode destruir a religião fundada no mistério da cruz de Cristo. A Igreja não diminui pelas perseguições; pelo contrário, cresce. O campo do Senhor se reveste de messes sempre mais ricas, porque os grãos, que caem um a um, nascem multiplicados.

Em quantos rebentos estes dois excelentes germes da divina semente brotaram são testemunhas os milhares de santos mártires que, rivais das vitórias apostólicas, envolveram com uma multidão coberta de púrpura nossa Urbe e a coroaram com um diadema de glória, cravejado de muitas pedras preciosas.

Temos de alegrar-nos sumamente, caríssimos, com a comemoração de todos os santos por esta proteção, preparada por Deus, para exemplo e confirmação da fé. Mas, em vista da excelência destes patronos, é justo que glorifiquemos com ainda maior exultação, por que a graça de Deus, dentre todos os membros da Igreja, os elevou ao cume. Por isso, no corpo, cuja cabeça é Cristo, constituem como que os dois olhos.

Não devemos pensar que os seus méritos e virtudes acima de toda a expressão sejam diferentes de algum modo ou tenham algo de peculiar, pois a eleição divina os tornou pares, o trabalho assemelhou-os e o fim da vida os igualou.

Por experiência pessoal e pela afirmação de nossos antepassados, cremos e confiamos que, nas lutas da vida, temos sempre a intercessão destes especiais padroeiros para obter a misericórdia de Deus, e por mais abatidos que estejamos pelos próprios pecados, somos reerguidos pelos méritos apostólicos.

São Leão Magno, Papa

Responsório

Os Apóstolos São Pedro e São Paulo, servindo a Jesus Cristo com ardor, plantaram a Igreja com seu sangue.
R. O cálice de Cristo eles beberam e amigos se tornaram do Senhor.

Como em vida os uniu um grande afeto, assim, na morte, não ficaram separados.
R. O cálice de Cristo eles beberam e amigos se tornaram do Senhor.

Oração

Ó Deus, guardai sob a proteção dos Apóstolos Pedro e Paulo a vossa Igreja, que deles recebeu a primeira semente do Evangelho. e concedei que por eles receba até o fim dos tempos a graça que a faz crescer. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, v. IV, pp. 1460-1461.