quarta-feira, 26 de julho de 2023

Leitura litúrgica da Carta aos Romanos (4)

“Eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1).

Dentro da série sobre a presença dos livros da Sagrada Escritura nas celebrações do Rito Romano, estamos realizando um estudo sobre a leitura litúrgica da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm).

Já dedicamos três postagens à sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1]:
1ª parte: Breve introdução à Carta e análise da leitura nos diversos tempos do Ano Litúrgico;
2ª parte: Missas dos santos, para diversas necessidades e votivas e sacramentos da Iniciação Cristã;
3ª parte: Sacramentos, sacramentais e Liturgia das Horas.

Nesta postagem concluiremos a análise da sua leitura em composição harmônica na Liturgia das Horas, além de considerarmos as antífonas da nossa Carta propostas para as diversas celebrações.

São Paulo escrevendo (Guercino)

2. Leitura litúrgica da Carta aos Romanos: Composição harmônica

d) Liturgia das Horas

Prosseguimos nosso percurso pelas leituras breves de Romanos na Liturgia das Horas com as Solenidades do Senhor no Tempo Comum, celebradas como “ecos” do Tempo Pascal:

- I Vésperas da Solenidade da Santíssima Trindade: Rm 11,33-36 [2], uma doxologia em louvor à sabedoria de Deus;

- Hora Média (15h) da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus: Rm 5,8-9 [3], recordando que a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu para nos salvar.

Passando às celebrações dos santos, começamos pelo Próprio, com textos específicos para as celebrações dos principais santos, incluindo aqui também algumas celebrações do Senhor com data fixa no calendário:

- Vésperas da Festa da Transfiguração do Senhor (06 de agosto): Rm 8,16-17 [4], com a promessa de que se sofremos com Cristo, seremos glorificados com Ele.

- I Vésperas da Solenidade da Assunção de Maria (15 de agosto): Rm 8,30 [5], sobre a eleição e a glorificação de Maria: “Aqueles que Deus chamou... também os glorificou”.

- Vésperas da Festa da Natividade de Maria (08 de setembro): Rm 9,4-5 [6], recordando que, através de Maria, Cristo pertence à descendência de Israel.

- Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria (08 de dezembro):
I Vésperas: Rm 8,29a.30a - Como na Assunção;
II Vésperas: Rm 5,20b-21 - “Onde se multiplicou o pecado [Eva], aí superabundou a graça [Maria]” [7].

- Hora Média (9h) das Festas de São Marcos (25 de abril) e de São Lucas (18 de outubro) e da Memória de São Barnabé (11 de junho): Rm 1,16-17 [8]. Nas celebrações desses três companheiros de Paulo lê-se o “núcleo” da Carta aos Romanos: o Evangelho é justiça de Deus que se revela na fé.

- I Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo (29 de junho): Rm 1,1-3a.7 [9], o início da Carta, com a saudação do Apóstolo aos romanos. Pedro e Paulo, segundo a tradição, foram martirizados nessa cidade durante a perseguição de Nero.

- Festa de Santa Maria Madalena (22 de julho):
Laudes: Rm 12,1-2 - Exortação a oferecer-se a Deus “em sacrifício vivo”;
Vésperas: Rm 8,28-30 - “Aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses Ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho” [10].

- Vésperas da Memória de São Joaquim e Santa Ana (26 de julho): Rm 9,4-5 [11], como na Festa da Natividade de Maria, sua filha: através dela, Cristo pertence à descendência de Israel.

“Oferecei-vos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus...” (cf. Rm 12,1)

Nos Comuns dos Santos, por fim, ocorrem três perícopes da Carta:

I Vésperas do Comum dos Mártires fora do Tempo PascalRm 8,35.37-39 [12], proclamando que nem a perseguição e a morte poderão nos separar do amor de Deus;

Comuns dos Santos Homens e das Santas Mulheres:
LaudesRm 12,1-2 - Exortação a buscar o que é da vontade de Deus;
VésperasRm 8,28-30 - A eleição e a glorificação dos santos por Deus [13].

e) Antífonas

Antes de entrarmos no critério da leitura semicontínua, consideremos aqui os textos da Carta aos Romanos propostos como antífona de entrada, da Comunhão ou aclamação ao Evangelho nas diversas celebrações.

Primeiramente temos um texto da nossa Carta já no Ordinário da Missa: trata-se de Rm 15,13, uma das opções de saudação inicial: “O Deus da esperança, que nos cumula de toda alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja convosco” [14].

Segue-se a antífona da Comunhão para as terças-feiras do Tempo do Natal, que une dois textos paulinos sobre o mistério da Encarnação, sendo um da nossa Carta: “Pela grande caridade com que nos amou, Deus nos mandou o seu Filho numa carne semelhante à do pecado” (Ef 2,4; Rm 8,3) [15].

No Tempo da Quaresma, por sua vez, o texto de Rm 8,32 serve de antífona da Comunhão em duas ocasiões: na quinta-feira da V semana da Quaresma e na terça-feira da Semana Santa: “Deus não quis poupar seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” [16].

Para o Tempo Pascal são propostas três antífonas da Carta aos Romanos na Missa:

- Segunda-feira da Oitava Pascal: o texto de Rm 6,9 serve aqui de antífona da Comunhão: “O Cristo, ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não tem mais poder sobre Ele. Aleluia!”. O mesmo versículo consta como antífona de entrada nas segundas-feiras da Páscoa (semanas II, IV e VI) [17].

Sextas-feiras da Páscoa (semanas II, IV e VI): o versículo de Rm 4,25 é indicado como antífona de Comunhão: “O Cristo Senhor foi entregue por nossos pecados, e ressuscitou para nossa justificação. Aleluia!” [18].

Terças-feiras da Páscoa (semanas III e V): a antífona da Comunhão aqui é Rm 6,8: “Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com Cristo. Aleluia!” [19].

“O Cristo, ressuscitado dos mortos, já não morre...” (Rm 6,9)
(Descida de Cristo ao Hades - Mikhail Nesterov)

No Pentecostes e em outras celebrações pneumatológicas é proposta uma antífona da nossa Carta: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que habita em nós. Aleluia!” (cf. Rm 5,5; 8,11). Trata-se da antífona de entrada tanto na Missa da Vigília quanto na Missa do Dia (2ª opção) do Pentecostes, assim como no 2º formulário de Missa na Confirmação e no 1ª formulário de Missa votiva ao Espírito Santo [20].

No Tempo Comum há um texto da Carta entoado como versículo de aclamação ao Evangelho no XVII Domingo do Tempo Comum (Ano C): “Recebestes o Espírito de adoção; é por Ele que clamamos: Abbá, Pai!” (Rm 8,15bc) [21]. O texto está em composição harmônica com o Evangelho do dia, sobre a importância da oração (Lc 11,1-13).

O mesmo versículo é proposto como aclamação ao Evangelho na quinta-feira da XI semana e na quarta-feira da XXVII semana do Tempo Comum, igualmente precedendo textos sobre a oração (Mt 6,7-15 e Lc 11,1-4) [22].

Nas Missas dos santos temos dois versículos indicados para a Memória facultativa de São Cornélio, o centurião batizado por São Pedro (At 10), celebrada no Patriarcado Latino de Jerusalém no dia 20 de outubro:
- Aclamação ao Evangelho: “Todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo” (Rm 10,13);
- Antífona da Comunhão: “Não importa a diferença entre judeu e grego; todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam” (Rm 10,12) [23].
Para saber mais, confira nossa postagem sobre a celebração dos santos do Novo Testamento.

Para a Comemoração dos Fiéis Defuntos e as Exéquias, por sua vez, há duas antífonas da Carta aos Romanos:

- “Deus, que ressuscitou Jesus dentre os mortos, também dará vida aos nossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em nós” (cf. Rm 8,11) - Antífona de entrada do 3ª formulário de Missa na Comemoração dos Fiéis Defuntos e da Missa pelos defuntos no Tempo Pascal [24];

- “Sepultados com Cristo na morte pelo Batismo, cremos que viveremos igualmente com Ele” (cf. Rm 6,4.8) - Antífona da Comunhão da Missa das Exéquias de uma criança batizada [25].

Nos Comuns dos Santos temos a antífona da Comunhão do 5º formulário do Comum dos Mártires: Para vários mártires (fora do Tempo Pascal): “Nem a morte, nem a vida, nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Cristo” (cf. Rm 8,38-39) [26].

Nas Missas para diversas necessidades, por sua vez, encontramos outras duas antífonas:

- Missa pela Igreja (3º formulário): como 2ª opção de antífona de entrada temos aqui o texto de Rm 12,5 com a metáfora do corpo: “Embora muitos, em Cristo somos um só corpo, membros uns dos outros” [27].

- Missa para pedir uma boa morte: como 1ª opção de antífona da Comunhão propõe-se o texto de Rm 14,7-8, que conclui: “Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor”. O mesmo texto é indicado como 1ª opção de antífona de entrada para a Missa pelos agonizantes [28].

Nas Missas votivas próprias dos santuários da Terra Santa, o texto de Rm 8,32 é indicado como antífona da Comunhão em duas ocasiões: na Missa votiva de Cristo, Servo sofredor (própria do Santuário de São Pedro in Gallicantu) e na Missa votiva da Paixão do Senhor (própria da Basílica do Santo Sepulcro) [29]. Para saber mais, confira nossas postagens sobre as Missas votivas da Terra Santa.

Essa antífona já havia sido proposta durante o Tempo da Quaresma, como vimos acima: “Deus não quis poupar seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós”.

Por fim, para o rito da Entrega do Pai nosso temos como versículo de aclamação ao Evangelho o texto de Rm 8,15: “(...) Recebestes o espírito de filhos adotivos, pelo qual nós clamamos: Abbá, ó Pai” [30].

“A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu para nós” (Rm 5,8)
(Crucificação - Mikhail Neterov)

Concluímos assim a quarta parte do nosso estudo sobre a leitura litúrgica da Carta aos Romanos e com ela a análise sob o critério da composição harmônica. A extensão e importância da obra demandam uma quinta parte, dedicada à sua leitura semicontínua na Celebração Eucarística e na Liturgia das Horas.

Notas:
[1] cf. ALDAZÁBAL, José. A Mesa da Palavra I: Elenco das Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] OFÍCIO DIVINO. Liturgia das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus, 1999, v. III, p. 522.
[3] ibid., v. III, p. 576.
[4] ibid., v. IV, p. 1168.
[5] ibid., v. IV, p. 1193. No Brasil, esta solenidade é transferida para o domingo seguinte.
[6] ibid., v. IV, p. 1256.
[7] ibid., v. I, pp. 1038.1048.
[8] ibid., v. II, p. 1545; v. III, p. 1354; v. IV, p. 1396.
[9] ibid., v. III, p. 1388. No Brasil, esta solenidade é celebrada no domingo entre os dias 28 de junho e 04 de julho.
[10] ibid., v. III, pp. 1438.1440.
[11] ibid., v. III, p. 1453.
[12] ibid., v. I, pp. 1190.1212; v. II, pp. 1718.1748; v. III, pp. 1566.1589; v. IV, pp. 1578.1601. As I Vésperas só são rezadas quando a celebração tem o grau de solenidade (por exemplo, onde o mártir é o titular da igreja e/ou o padroeiro do lugar). No Tempo Pascal, por sua vez, a leitura dessa celebração é tomada do Livro do Apocalipse.
[13] ibid., v. I, pp. 1318.1325.1342.13449; v. II, pp. 1871.1878.1896.1903; v. III, pp. 1695.1702.1720.1727; v. IV, pp. 1707.1714.1732.1739.
[14] MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, p. 390.
[15] ibid., p. 169.
[16] ibid., pp. 217.233.
[17] ibid., pp. 297.321.
[18] ibid., p. 328.
[19] ibid., p. 333.
[20] ibid., pp. 317-318.797.947. A outra opção de antífona de entrada para a Missa do Dia de Pentecostes é Sb 1,7.
[21] LECIONÁRIO I: Dominical A-B-C. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1994.
[22] LECIONÁRIO II, Semanal. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1995.
[23] Fonte: Patriarcado Latino de Jerusalém.
[24] MISSAL ROMANO, pp. 695.971. Na Comemoração dos Fiéis Defuntos o sacerdote pode presidir até três Missas, cada uma com suas orações e antífonas.
[25] ibid., p. 992.
[26] ibid., p. 744.
[27] ibid., p. 878. A outra opção de antífona de entrada para este formulário é Mt 18,19-20.
[28] ibid., pp. 925.938. A outra opção de antífona da Comunhão da Missa para pedir uma boa morte é Lc 21,36. A outra opção de antífona de entrada para a Missa pelos agonizantes é Is 53,4.
[29] Fonte: Custódia Franciscana da Terra Santa.
Cada santuário da Terra Santa possui uma ou mais “Missas votivas do lugar”, nas quais os peregrinos contemplam os eventos da história da salvação a ele associados. Para saber mais, confira nossa série de postagens sobre as Missas votivas da Terra Santa.
[30] RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS. Tradução portuguesa para o Brasil da edição típica. São Paulo: Paulus, 2001, p. 60.

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