sábado, 30 de outubro de 2021

Homilia: XXXI Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Gregório Magno
Sermão 38 sobre os Evangelhos
Dois preceitos de uma mesma caridade

Tenhamos presente que a caridade se fundamenta em dois preceitos, a saber: no amor de Deus e do próximo... Devemos observar que, ao tratar sobre o amor que devemos ter ao próximo, põe-se regra e medida, visto que se diz: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo; mas tratando-se do amor que se deve professar a Deus não se assinala limite algum, posto que nos diz: Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças.

Com todo... Pois somente aquele que ama de verdade a Deus não se lembra de si mesmo... por esta mesma razão se ordenou no Êxodo que se tingissem duas vezes de cor escarlate as cortinas que se destinavam ao tabernáculo. Vós sois, irmãos, as cortinas do tabernáculo, que em razão da fé ocultais em vossos corações os mistérios celestiais. Porém, as cortinas do tabernáculo deveriam ser tingidas duas vezes de cor escarlate...

Portanto, para que a vossa caridade esteja duas vezes tingida, é preciso que esteja abrasada pelo amor de Deus e pelo do próximo, e de tal forma que não abandone a contemplação de Deus pela compaixão do próximo, nem, por ocupar-se excessivamente na contemplação de Deus, descuide a compaixão que deve ao próximo. Assim, todo homem que vive entre os homens busque Aquele a quem ama, de modo que não abandone aquele com quem caminha, e preste-lhe auxílio de tal maneira que, de modo algum, separe-se d’Aquele a quem se conduz.

O amor que se deve ao próximo se subdivide em dois preceitos, pois lemos na Escritura: O que não queres para ti, não faças a ninguém. E o próprio Jesus disse: O que quiseres que os outros vos façam, fazei-o vós a eles. Portanto, se fazemos com o nosso próximo o que queremos que façam a nós, e evitamos fazer aos demais o que não queremos que nos façam, conservaremos incólumes os direitos da caridade.

Mas ninguém, pelo mero fato de amar o seu próximo, pense que já tem a caridade, mas primeiro examine a força de seu amor. Pois se alguém ama aos outros, mas não os ama por Deus, não tem a caridade, mesmo que pense o contrário. Existe a caridade verdadeira quando se ama ao amigo em Deus e ao inimigo por Deus. Ama por Deus aos seus próximos aquele que os ama, se sabe amar aos que não lhe amam. Pois a caridade costuma-se provar somente por ser contrária ao ódio. Por isso diz o Senhor: Amai aos vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam. Assim, pois, ama com segurança aquele que ama por Deus aquele por quem sabe que não é amado.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 497-498. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Visita Ad Limina Apostolorum dos Bispos poloneses (2)

Como vimos em nossa postagem anterior, durante o mês de outubro de 2021 os Bispos da Polônia realizaram sua visita Ad Limina Apostolorum (aos túmulos dos Apóstolos).

Essa visita é realizada pelos Bispos de todo o mundo aproximadamente a cada cinco anos para renovar sua comunhão com o Sucessor de Pedro através da celebração nas quatro Basílicas Maiores de Roma, da visita aos Dicastérios da Cúria Romana e,do encontro com o Papa.

Os Bispos poloneses realizaram a visita divididos em quatro grupos, cada um dos quais celebrou a Missa:
- na Basílica de São Pedro no Vaticano, junto ao túmulo do Apóstolo;
- no altar principal da Basílica do Latrão, Catedral de Roma;
- na "Capela Paulina” ou “Capela Borghese” da Basílica de Santa Maria Maior (onde encontra-se o célebre ícone da Salus populi romani);
- no altar de São Sebastião da Basílica de São Pedro, sob o qual está sepultado São João Paulo II;
- na Basílica de São Paulo fora-dos-muros, junto à abside.

Após apresentarmos as atividades dos grupos 1 e 2 dos Bispos poloneses na postagem anterior, confira a seguir algumas imagens das celebrações presididas pelos Bispos dos grupos 3 e 4:

Grupo 3 (18 a 22 de outubro):
Províncias de Varsóvia, Gniezno, Łódź, Częstochowa e Igreja Greco-Católica Ucraniana

Cruz sobre o altar da Basílica do Latrão, Catedral de Roma

18 de outubro: Missa presidida por Dom Wojciech Polak, Arcebispo de Gniezno




19 de outubro: Missa presidida por Dom Grzegorz Ryś, Arcebispo de Łódź


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Visita Ad Limina Apostolorum dos Bispos poloneses (1)

Durante o mês de outubro de 2021 os Bispos da Polônia realizaram sua visita Ad Limina Apostolorum (aos túmulos dos Apóstolos), que os Bispos de todo o mundo realizam aproximadamente a cada cinco anos para renovar sua comunhão com o Sucessor de Pedro.

A visita Ad Limina prevê três atividades principais: a celebração nas quatro Basílicas Maiores de Roma, o encontro com o Papa e a visita aos Dicastérios da Cúria Romana.

Os Bispos poloneses realizaram a visita divididos em quatro grupos, cada um dos quais celebrou em cinco ocasiões:
- na Basílica de São Pedro no Vaticano, junto ao túmulo do Apóstolo;
- no altar principal da Basílica do Latrão, Catedral de Roma;
- na "Capela Paulina” ou “Capela Borghese” da Basílica de Santa Maria Maior (onde encontra-se o célebre ícone da Salus populi romani);
- no altar de São Sebastião da Basílica de São Pedro, sob o qual está sepultado São João Paulo II;
- na Basílica de São Paulo fora-dos-muros, junto à abside.

Nesta postagem divulgamos algumas imagens das celebrações presididas pelos grupos 1 e 2:

Grupo 1 (dias 04 a 08 de outubro):
Províncias de Warmia, Białystok, Lublin e Przemyśl

Imagem de São Pedro na Basílica Vaticana

04 de outubro: Missa presidida por Dom Krzysztof Nitkiewicz, Bispo de Sandomierz




05 de outubro: Missa presidida por Dom Stanisław Budzik, Arcebispo de Lublin


Artigos sobre Liturgia: Revista de Cultura Teológica 2013-2015

Na última terça-feira destacamos aqui em nosso blog seis artigos sobre Liturgia publicados pela Revista de Cultura Teológica, ligada ao Programa de Estudos Pós Graduados em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), entre os anos de 2016 e 2018.

Aqui gostaríamos de dar sequência à essa “retrospectiva”, elencando outros cinco artigos publicados na Revista de Cultura Teológica entre os anos de 2013 e 2015.

Seguem os resumos de cada artigo, os quais podem ser acessados na íntegra no site da Revista:

O Ano Litúrgico, locus privilegiado da formação cristã e do amadurecimento na fé
Vanderson de Sousa Silva

O presente artigo intenta perquirir a temática do Ano Litúrgico, assumindo que o mesmo não é somente um calendário religioso, mas antes uma pessoa, Jesus Cristo. Portanto, o Ano Litúrgico é o encontro com Cristo no Espírito Santo. Nesta perspectiva cristológico-pneumática, propõe-se o Ano Litúrgico como o lugar privilegiado de formação e do amadurecimento da comunidade cristã, que em torno do Mistério de Cristo celebrado nos mistérios litúrgicos ao longo do ano, vislumbra o encontro pessoal com o Senhor. Buscando na teologia mistérica de Odo Casel uma interpretação da relação entre Mistério único de Cristo e os mistérios litúrgicos, busca-se aprofundar os aspectos teológicos do Ano Litúrgico, destacando o ligame entre Liturgia e pastoral.


O v. 82 da Revista traz também um artigo sobre o Sacramento da Ordem, visto desde a perspectiva do Direito Canônico: “O sacramento da Ordem na legislação canônica”.


Lex orandi, fonte da espiritualidade cristã: Aspectos de teologia litúrgico-espiritual
Vanderson de Sousa Silva

O presente artigo intenta perquirir a temática da espiritualidade cristã que encontra na lex orandi sua fonte mais genuína. A questão central é esta: a Liturgia é a espiritualidade da Igreja como assevera Neunheuser; assim, nosso estudo gravita em torno da Liturgia como locus privilegiado da espiritualidade eclesial. Para isso, serão perqueridos aspectos lexicais, históricos e teológicos do binômio espiritualidade-Liturgia.


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Catequeses sobre os Salmos (40): II Vésperas do domingo da II semana

Os salmos e cânticos das II Vésperas do domingo da II semana do Saltério foram o conteúdo das Catequeses do Papa João Paulo II nos dias 18 de agosto (Sl 109), 01 de setembro (Sl 113B), 15 de setembro (Ap 19,1-2.5-7) e 22 de setembro de 2004 (1Pd 2,21-24).

Vale recordar que o cântico da 1ª Carta de Pedro é entoado apenas na Quaresma, uma vez que neste tempo se o omite o Aleluia, central no cântico de Ap 19.

115. O Messias, Rei e Sacerdote: Sl 109(110),1-5.7
18 de agosto de 2004

1. Em continuidade com uma antiga tradição, o Salmo 109, que agora foi proclamado, constitui a componente primária das II Vésperas dominicais. Ele é reproposto nas quatro semanas em que se desenvolve a Liturgia das Horas (cf. Catequese n. 93). A sua brevidade, ulteriormente acentuada pela exclusão no uso litúrgico cristão do v. 6, de tipo imprecatório, não significa ausência de dificuldades exegéticas e interpretativas. O texto apresenta-se como um salmo real, ligado à dinastia davídica, e provavelmente remete para o rito de entronização do soberano. Contudo, a tradição judaica e cristã viu no rei consagrado o perfil do Consagrado por excelência, o Messias, Cristo.
Precisamente sob esta luz o Salmo torna-se um cântico luminoso elevado pela Liturgia cristã ao Ressuscitado no dia festivo, memória da Páscoa do Senhor.

2. São duas as partes do Salmo 109, ambas caracterizadas pela presença de um oráculo divino. O primeiro oráculo (vv. 1-3) dirige-se ao soberano no dia da sua solene entronização “à direita” de Deus, ou seja, ao lado da Arca da Aliança no templo de Jerusalém. A memória da “geração” divina do rei fazia parte do protocolo oficial da sua coroação e assumia para Israel um valor simbólico de investidura e de tutela, sendo o rei o representante de Deus na defesa da justiça (v. 3).
Naturalmente, na releitura cristã, aquela “geração” torna-se real e apresenta Jesus Cristo como verdadeiro Filho de Deus. Acontecera assim na leitura cristã de outro célebre salmo real-messiânico, o segundo do Saltério, onde se lê este oráculo divino: “Tu és o meu filho, Eu hoje te gerei” (Sl 2,7).

"Aleluia! Eis que as núpcias do Cordeiro se aproximam! Aleluia!" (Ap 19,7)

3. Ao contrário, o segundo oráculo do Salmo 109 tem um conteúdo sacerdotal (v. 4). Antigamente o rei desempenhava também funções cultuais, não segundo a linha do sacerdócio levítico, mas segundo outra conexão: a do sacerdócio de Melquisedec, o soberano-sacerdote de Salém, a Jerusalém pré-israelita (cf. Gn 14,17-20).
Na perspectiva cristã, o Messias torna-se o modelo de um sacerdócio perfeito e supremo. Será a Carta aos Hebreus, na sua parte central, a exaltar este ministério sacerdotal “segundo a ordem de Melquisedec” (Hb 5,10), vendo-o encarnado em plenitude na pessoa de Cristo.

Catequese do Papa: Carta aos Gálatas 13

Em sua 13ª Catequese sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco refletiu, à luz de Gl 5,22-24, sobre “os frutos do Espírito Santo”:

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 27 de outubro de 2021
Carta aos Gálatas (13): O fruto do Espírito

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
A pregação de São Paulo é totalmente centrada em Jesus e no seu Mistério Pascal. De fato, o Apóstolo apresenta-se como anunciador de Cristo, e de Cristo Crucificado (cf. 1Cor 2,2). Aos gálatas, tentados a basear a sua religiosidade na observância de preceitos e tradições, ele recorda o centro da salvação e da fé: a Morte e a Ressurreição do Senhor. O faz colocando diante deles o realismo da cruz de Jesus. Escreve: «Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, vós, perante cujos olhos foi apresentado Jesus Cristo Crucificado?» (Gl 3,1). Quem vos fascinou para vos afastar de Cristo Crucificado? Trata-se de um momento terrível para os gálatas...
Ainda hoje, muitos procuram a certeza religiosa em vez do Deus vivo e verdadeiro, concentrando-se em rituais e preceitos em vez de abraçar o Deus do amor com todo o seu ser. E esta é a tentação dos novos fundamentalistas, daqueles aos quais parece que a estrada a percorrer provoque temor e não vão em frente, mas voltam para trás, pois se sentem mais seguros: procuram a segurança de Deus e não o Deus da segurança. É por isso que Paulo pede aos gálatas que voltem ao essencial, a Deus que nos dá a vida em Cristo Crucificado. Ele testemunha isto em primeira pessoa: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2,20). E no final da Carta, afirma: «Quanto a mim, Deus me livre de me gloriar a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo» (Gl 6,14).
Se nós perdermos o fio da nossa vida espiritual, se mil problemas e pensamentos nos assolarem, façamos nossos os conselhos de Paulo: coloquemo-nos diante de Cristo Crucificado, comecemos de novo a partir d’Ele. Peguemos o crucifixo nas mãos, tenhamo-lo perto do nosso coração. Ou façamos uma pausa em adoração antes da Eucaristia, onde Jesus é Pão partido para nós, o Crucificado Ressuscitado, o poder de Deus que derrama o seu amor nos nossos corações.
E agora, novamente guiados por São Paulo, demos um ulterior passo. Perguntemo-nos: o que acontece quando encontramos Jesus Crucificado na oração? Verifica-se o que aconteceu sob a cruz: Jesus entrega o Espírito (cf. Jo 19,30), ou seja, doa a sua própria vida. E o Espírito, que flui da Páscoa de Jesus, é o princípio da vida espiritual. É Ele que muda o coração: não as nossas obras. É Ele que muda o coração, não as coisas que nós fazemos, mas a ação do Espírito Santo em nós muda o coração! É Ele quem guia a Igreja, e nós somos chamados a obedecer à sua ação, que vai para onde e como Ele quiser. Além disso, foi precisamente a constatação de que o Espírito Santo descia sobre todos e que a sua graça agia sem exclusão que convenceu também os mais relutantes dos Apóstolos de que o Evangelho de Jesus era destinado a todos e não a uns poucos privilegiados. E aqueles que procuram a segurança, o pequeno grupo, as coisas claras como outrora, afastam-se do Espírito, não deixam que a liberdade do Espírito entre neles. Assim, a vida da comunidade regenera-se no Espírito Santo; e é sempre graças a Ele que alimentamos a nossa vida cristã e continuamos a nossa luta espiritual.
Precisamente o combate espiritual é outro grande ensinamento da Carta aos Gálatas. O Apóstolo apresenta duas frentes opostas: por um lado as «obras da carne», por outro o «fruto do Espírito». Quais são as obras da carne? São comportamentos contrários ao Espírito de Deus. O Apóstolo chama-lhes obras da carne não porque há algo de errado ou mau na nossa carne humana; pelo contrário, vimos como ele insiste no realismo da carne humana suportada por Cristo na cruz! Carne aqui é uma palavra que indica o homem na sua dimensão terrena, fechado em si mesmo, numa vida horizontal, onde os instintos mundanos são seguidos e a porta se fecha ao Espírito, que nos eleva e nos abre a Deus e aos outros. Mas a carne também nos lembra que tudo isto envelhece, que tudo isto passa, apodrece, enquanto o Espírito dá vida. Paulo enumera assim as obras da carne, que se referem ao uso egoísta da sexualidade, a práticas mágicas que são idolatrias e ao que mina as relações interpessoais, como «contendas, ciúmes, iras, rixas, discórdias, partidos...» (cf. Gl 5,19-21). Tudo isto é o fruto - digamos assim - da carne, de um comportamento apenas humano, “doentiamente” humano, pois o humano tem os seus valores, mas tudo isto é “doentiamente” humano.
O fruto do Espírito, ao contrário, é «caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança» (Gl 5,22): assim diz Paulo. Os cristãos, que no Batismo se revestiram «de Cristo» (cf. Gl 3,27), são chamados a viver deste modo. Pode ser um bom exercício espiritual, por exemplo, ler a lista de São Paulo e observar a própria conduta, para verificar se corresponde, se a nossa vida está verdadeiramente de acordo com o Espírito Santo, se dá estes frutos. A minha vida produz estes frutos de caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança? Por exemplo, os três primeiros são caridade, paz e alegria: por isto se reconhece se uma pessoa é habitada pelo Espírito Santo. Uma pessoa que está em paz, que rejubila e que ama: com estas três características vê-se a ação do Espírito.
Este ensinamento do Apóstolo representa também um grande desafio para as nossas comunidades. Por vezes, aqueles que se aproximam da Igreja têm a impressão de estar perante uma grande quantidade de comandos e preceitos: mas não, esta não é a Igreja!  Esta pode ser qualquer associação. Na realidade, porém, a beleza da fé em Jesus Cristo não pode ser apreendida com base em demasiados mandamentos e numa visão moral que, desenvolvendo-se em muitas correntes, pode fazer-nos esquecer a fecundidade original do amor, alimentado pela oração que doa a paz e pelo testemunho jubiloso. Da mesma forma, a vida do Espírito expressa nos sacramentos não pode ser abafada por uma burocracia que impede o acesso à graça do Espírito, autor da conversão do coração. E quantas vezes nós mesmos, sacerdotes ou Bispos, temos tanta burocracia para dar um Sacramento, para acolher as pessoas, que consequentemente dizem: “Não, não gosto disto”, e vão embora, e não veem em nós, muitas vezes, a força do Espírito que regenera, que nos faz novos. Por conseguinte, temos a grande responsabilidade de anunciar Cristo Crucificado e Ressuscitado, animados pelo sopro do Espírito de amor. Pois só este Amor tem o poder de atrair e mudar o coração do homem.


Fonte: Santa Sé.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Aniversário da dedicação da Catedral de Lisboa: Fotos

Na segunda-feira, dia 25 de outubro de 2021, o Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente, celebrou a Santa Missa na Catedral Patriarcal de Santa Maria Maior, a Sé de Lisboa, por ocasião da Solenidade do aniversário da sua Dedicação.

Na celebração também teve início em Lisboa a etapa diocesana do processo rumo à XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão", a ser celebrada em outubro de 2023.

No Ato Penitencial foi realizada a bênção e aspersão da água em recordação do Batismo que, embora seja prevista apenas para os domingos (Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª edição, n. 51), se adequa bem à celebração do aniversário da dedicação da igreja.

Para ler a homilia proferida pelo Patriarca na ocasião, clique aqui.

Incensação do altar
Aspersão
Ritos iniciais
Evangelho
Homilia

Aniversário da dedicação da Catedral de Lisboa: Homilia

No último dia 25 de outubro o Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel Clemente, celebrou a Santa Missa na Catedral Patriarcal de Santa Maria Maior, a Sé de Lisboa, na Solenidade do aniversário da sua Dedicação, dando início à etapa diocesana do próximo Sínodo dos Bispos:
 
Homilia na Solenidade da Dedicação da Sé
Um templo vivo, comunitário e expansivo 

Irmãos caríssimos
Celebramos a Dedicação da nossa Sé Patriarcal de Lisboa com renovados sentimentos de unidade e missão.
Unidade para a missão, como sequência inevitável e recíproca, pois não há missão que não seja conjunta, mesmo quando pessoalmente efetivada, e porque nada nos une mais e melhor do que uma tarefa comum.
Nisso mesmo se reconhece sinodalmente a Igreja, como aquela “caravana” (synodía) em que o jovem Jesus foi a Jerusalém com Maria e José (cf. Lc 2,44). Ou como aquele grupo dos Doze e algumas mulheres que com ele seguiram mais tarde, de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus (cf. Lc 8,1-2).
Fixemos estes dois pontos absolutamente inseparáveis: caminhavam juntos e transmitiam o Evangelho vivo que consigo levavam e era o próprio Cristo. Todo o caminho sinodal que estamos a fazer, do nosso Sínodo Diocesano (2014-2021) para o Sínodo dos Bispos (2023), é muito mais do que mera reforma de estruturas, em que aliás continuaremos a insistir, para todos sermos mais corresponsáveis em ministérios e serviços. Define-se e concretiza-se como caminho com Cristo, necessariamente comunitário e teologicamente orientado.
Necessariamente comunitário, não só para evitar subjetivismos e protagonismos desenquadrados, mas sobretudo porque a comunidade é o lugar por excelência do encontro de Cristo vivo entre os seus: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18,20). E teologicamente orientado, por ser caminho para Deus Pai, realizado e celebrado «por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo». Também a própria vida divina se poderá considerar “sinodal”, em si mesma e no que faz, como Jesus esclareceu: «O meu Pai continua a realizar obras até aqui, e eu também continuo!» (Jo 5,17).
São muito sugestivas estas imagens evangélicas, para nos entendermos como Igreja na cidade e no mundo. É de um grupo em movimento que se trata, mesmo que com pausas e lugares certos de encontro e celebração. Sem esquecer que a celebração se conclui sempre com um “Ide...”. Esta própria Sé tem inscrito no pórtico um versículo missionário: «Por toda a terra se expandiu o som...» (Sl 18,5), lembrando as Igrejas que diretamente ou indiretamente tiveram origem em Lisboa.

Pórtico da Sé de Lisboa com a inscrição do Sl 18,5:
"In omnem terram exivit sonus..."

Hoje em dia, com imigrantes e residentes de mais de uma centena de povos e variadas religiões e culturas, temos ao pé da porta uma missão de torna-viagem, que nem nos dispensa de olhar para mais longe nem nos exime de trabalhar bem perto. Mais uma vez relembro e aplico à nossa diocese o número 46 da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Europa, de São João Paulo II: «A Europa faz parte já daqueles espaços tradicionalmente cristãos, onde, para além de uma nova evangelização, se requer em determinados casos a primeira evangelização. (...) Mesmo no “velho” continente existem extensas áreas sociais e culturais onde se torna necessária uma verdadeira e própria missio ad gentes».
Somos Igreja sinodal, porque assim nos redescobrimos e com maior urgência, em comunhão e missão. E aqui mesmo, na cidade e seus arredores, onde se concentra tanta variedade de povos e culturas. Temos de colaborar com a sociedade em geral, tecendo uma interculturalidade que nos aproxime, com mútuo respeito e partilha, e não ficando por uma mera pluriculturalidade que nos tornasse indiferentes ao melhor do que cada um transporta e criasse guetos impermeáveis e desconfiados entre si. 
Aliás, é altura de redescobrirmos o essencial do que o Evangelho nos oferece, precisamente quando o oferecemos a quem não o conheça nem nunca tenha ouvido falar dele. Neste sentido, podemos dizer que nos reencontraremos para além de nós e com o que oferecermos aos outros; e também com o que deles pudermos receber, em sinodalidade mais alargada.
Já temos na Igreja de Lisboa várias comunidades católicas nacionais, que se encontram e celebram nas suas próprias línguas, além da nossa que já sabem ou vão aprendendo e enriquecendo. Contamos com elas para serem parte muito especial e integrante do nosso caminho sinodal e missionário.

O Evangelho que escutamos (Jo 2,13-22) fala-nos da indignação de Jesus quando viu o templo transformado no que não devia ser: «Tirai isto daqui! - bradou Ele aos vendedores e cambistas - Não façais da Casa de Meu Pai casa de comércio». Isto no relato de São João. Os paralelos dos outros evangelistas acentuam que o templo era e devia ser “casa de oração”.
É um ponto a reter, pastoralmente também. Há muito a fazer, com criatividade e empenho, para que os nossos templos sejam isso mesmo e ofereçam à cidade espaços de celebração comunitária e também de silêncio meditativo e orante. Dignos espaços, onde a lembrança de Deus proporcione a cada um a lembrança de si mesmo, no que tem de mais profundo e tantas vezes escondido aos próprios olhos, pela vida que muito corre e dispersa.
A purificação do templo antigo, como Jesus a fez naquele dia, também passa hoje por aqui. Esta Sé, como outros templos da cidade, é de fato um monumento, culturalmente atrativo e relevante. Mas, se monumento significa a lembrança de algo, importa esclarecer que é essencialmente lugar de anamnese da vida que Jesus entregou por todos nós, para nos reencontrarmos também como filhos de Deus e verdadeiramente irmãos. Se assim não for, a cultura desliga-se do culto e esvazia-se de si mesma. 
Ouvimos também no Evangelho há pouco proclamado: «Jesus respondeu-lhes: “Arrasai este Templo, e eu o levantarei em três dias.” (...) Jesus falava do templo do seu corpo». Sim, irmãos, esta nossa Catedral de pedra é muito mais do que um monumento entre outros da cidade. É, pela sua própria arquitetura, pelas palavras e os ritos litúrgicos, pelo espaço que entra no íntimo de quem realmente a compreende, como que um sacramental de Cristo, que em si nos incorpora, como templo vivo, comunitário e expansivo. Não é por acaso que a fase diocesana do Sínodo dos Bispos se inicia aqui: a primeira igreja da diocese é sinal da ampla casa de nós todos.
Também assim se começará a cumprir a profecia que ouvimos, falando por Deus e dirigida a todos: «A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos» (Is 56,7). Da nossa parte, requer-se autenticidade eclesial, litúrgica e missionária, acolhendo, celebrando e propondo em conjunto. Deus só espera que o façamos, para realizar tudo o mais, sendo Ele próprio a operar em nós o querer e o agir (cf. Fl 2,13).
Avancemos pois, para que a dedicação desta Sé relembre e ative a dedicação de todos, em convicta sinodalidade missionária!

Sé de Lisboa, 25 de outubro de 2021.


+ Manuel, Cardeal-Patriarca


Dissertações sobre Liturgia: PUC-SP 2017-2019

Em nossa última postagem destacamos alguns artigos sobre Liturgia publicados pela Revista de Cultura Teológica, ligada ao Programa de Estudos Pós Graduados em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), entre os anos de 2016 e 2018.

Na edição n. 87 da Revista, referente aos meses de janeiro a junho de 2016, foi publicado o artigo Liturgia em tempos líquidos, de autoria do Padre Valeriano dos Santos Costa, Doutor em Teologia pelo Pontifício Instituto Santo Anselmo (Roma).

O artigo propõe um diálogo entre a Liturgia e o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (†2017), o qual descreve a sociedade atual como “modernidade líquida”, onde tudo é efêmero, relativo, subjetivo... Assim, o Padre Valeriano dos Santos Costa interroga-se: “Até onde o contexto líquido afetou a celebração da fé?”.

Zygmunt Bauman (1925-2017)

Sua reflexão continuaria entre os anos de 2017 e 2019 com cinco Dissertações de Mestrado por ele orientadas no Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia da PUC-SP. 

Seguem os resumos de cada Dissertação, as quais podem ser acessadas na íntegra no site da PUC-SP, conforme os links abaixo:

A escuta da Palavra de Deus proclamada na Liturgia: Um desafio em “tempos líquidos”
Ademilson Tadeu Quirino
2017, 143 páginas

A presente pesquisa objetiva apresentar alguns elementos de profunda relevância para melhor compreender a importância da escuta da Palavra de Deus proclamada na Liturgia “em tempos líquidos”. Esta expressão, conceituada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman nas obras “Modernidade líquida” e “Tempos líquidos”, traduz um dos grandes desafios atuais para tornar satisfatória tal escuta. Numa perspectiva pedagógica, reflete-se, primeiramente, sobre a escuta como princípio litúrgico-operativo na pessoa humana, no sentido fisiológico e metafórico, até chegar ao Shemá Israel (Dt 4,6) e ao Fides ex auditu (Rm 10,17) paulino. Daí se abre caminho para ponderações acerca da Palavra de Deus escutada na Liturgia, com fundamentação bíblico-teológica da escuta da Palavra de Deus na Lei, em algumas assembleias do povo de Israel, até chegar à compreensão da escuta da Palavra de Deus nas assembleias litúrgicas hoje, como incentiva o Concílio Ecumênico Vaticano II nas Constituições Sacrosanctum Concilium e Dei Verbum, sem perder de vista alguns Padres da Igreja e o Magistério. Com base nisso, alguns desafios e luzes são apontados sobre a necessidade de uma cultura do ouvir, para que, no silêncio das palavras, a Palavra de Deus, proclamada na Liturgia, tenha primazia e seja vivenciada de forma prática. Para isso, na sociedade moderna, em que se vive a cultura dos ruídos, deve-se privilegiar o espaço celebrativo como ambiente do silêncio e da escuta. Visa assim despertar no coração do ouvinte, por meio de gestos e palavras, a dimensão sacramental das Sagradas Escrituras na Liturgia, numa perspectiva dinâmica, ritual, pedagógica, mistagógica e vivencial da Palavra, levando à sua plena eficácia.

Capítulos:
1. A escuta como princípio litúrgico-operativo
2. A escuta da Palavra de Deus proclamada na Liturgia
3. Os “tempos líquidos” como desafio para a escuta da Palavra de Deus na Liturgia


O encontro com Cristo nas ações litúrgicas no contexto da modernidade líquida
Marcos Vieira das Neves
2018, 129 páginas

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Visita do Ministro Geral dos Franciscanos à Terra Santa

Desde o ano de 1342 a Igreja confia o cuidado da Terra Santa à Ordem dos Frades Menores (franciscanos). Para saber mais, confira nossas postagens sobre os santuários da Terra Santa.

Assim, após sua eleição, o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, sucessor de São Francisco de Assis como responsável pelos franciscanos em todo o mundo, deve realizar uma visita oficial à Custódia da Terra Santa.

Foi o caso do Padre Massimo Fusarelli, O.F.M., eleito 121º Ministro Geral no dia 13 de julho de 2021, que visitou a Terra Santa entre os dias 20 e 24 de outubro.

A visita centrou-se nos três principais Santuários, cuja primeira construção remonta ao século IV: a Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, a Basílica da Natividade em Belém e a Basílica da Anunciação em Nazaré.

Dia 20 de outubro: Acolhida solene na Basílica do Santo Sepulcro (Jerusalém)

Procissão até a Basílica
Veneração da Pedra da Unção
Ministro Geral dos franciscanos, Padre Massimo Fusarelli
Oração dentro da Edícula do Santo Sepulcro
O Ministro Geral é acolhido pelo Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton

Artigos sobre Liturgia: Revista de Cultura Teológica 2016-2018

No final do ano de 2020 destacamos aqui em nosso blog três artigos sobre Liturgia publicados na Revista de Cultura Teológica (n. 96, maio a agosto de 2020), ligada ao Programa de Estudos Pós Graduados em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Nesta postagem gostaríamos de destacar, de maneira retrospectiva, outros seis artigos sobre Liturgia publicados na Revista de Cultura Teológica entre os anos de 2016 e 2018, período no qual essa era de periodicidade semestral.

Divulgamos a seguir os resumos dos artigos, que podem ser acessados na íntegra no site da Revista:

Liturgia em tempos líquidos
Valeriano dos Santos Costa

Este artigo aborda a questão hermenêutica dos sinais sacramentais com que a Liturgia significa e opera a salvação. Porém leva-se em consideração o contexto da “modernidade líquida”, em que “nenhuma das formas consecutivas de vida social é capaz de manter seu aspecto por muito tempo” (Zygmunt Bauman). Nessa situação levanta-se a pergunta: neste contexto os símbolos conseguem manter-se? Sendo a comunicação litúrgica essencialmente simbólica, coloca-se em pauta uma questão que a Cátedra João Paulo II para a Nova Evangelização, da PUC-SP, pretende discutir: Como celebrar per ritus et preces se a base simbólica estiver arruinada? Até onde o contexto líquido afetou a celebração da fé? O artigo não responde todas as questões, mas intui que uma Liturgia em tempos líquidos deve ser teófora, lúdico-artístico-filial e se pautar por uma sacramentalidade humanística, a qual tem o ser humano como sinal sacramental primordial de Cristo.



A experiência da misericórdia nos sacramentos de Iniciação à vida Cristã
Luís Felipe Carneiro Marques; Marcos Vieira das Neves

A justiça do discípulo de Jesus deve superar a justiça dos escribas e fariseus, e sua autocompreensão deve estar em relação com a própria pessoa de Jesus, que possui sempre um olhar de misericórdia e que manifesta a vontade do Pai expressa na sua aliança. Toda a iniciação deve ter caráter pascal e o Mistério Pascal é o ponto máximo da revelação e atuação da misericórdia, capaz de restabelecer a justiça como realização do desígnio salvífico de Deus. O objetivo do sacramento da Reconciliação é nos tornar dignos do amor de Deus e da sua presença anunciando e realizando novamente o reconciliar-se de Deus com o homem. É necessário encontrar meios para que os sacramentos da Iniciação Cristã e o sacramento da Penitência sejam vividos como encontro relacional com o Pai amoroso, que perdoa sempre. Para uma decisão de participação na comunhão, o cristão deveria recordar sempre o seu Batismo. A Eucaristia não exige uma genérica dignidade ritual, mas sim a dignidade batismal, que não é de tipo ritual e sim existencial. Visto isso, investiga-se aqui a experiência da misericórdia nos sacramentos de Iniciação à vida cristã, fazendo uso, para tal, de uma análise de documentos do Magistério e autores que investigam o tema em questão. Constatando, enfim, que a salvação do cristão é caracterizada no encontro com o Deus de misericórdia na livre comunicação que Ele mesmo faz de si.


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Ângelus: XXX Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 24 de outubro de 2021

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje narra sobre Jesus que, saindo de Jericó, restitui a vista a Bartimeu, um cego que mendiga à beira da estrada (Mc 10,46-52). É um encontro importante, o último antes da entrada do Senhor em Jerusalém para a Páscoa. Bartimeu tinha perdido a vista, mas não a voz! De fato, quando soube que Jesus estava prestes a passar, começou a gritar: «Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!» (v. 47). E grita, grita mesmo. Os discípulos e a multidão irritaram-se com os seus gritos e repreenderam-no para que se calasse. Mas ele grita ainda mais alto: «Filho de Davi, tem piedade de mim!» (v. 48). Jesus ouve, e para imediatamente. Deus ouve sempre o grito dos pobres, e não ficou absolutamente perturbado pela voz de Bartimeu, aliás, dá-se conta de que está cheio de fé, uma fé que não tem medo de insistir, de bater à porta do coração de Deus, apesar da incompreensão e das repreensões. E aqui reside a raiz do milagre. Com efeito, Jesus diz-lhe: «A tua fé te salvou» (v. 52).

A fé de Bartimeu transparece da sua oração. Não se trata de uma oração tímida, convencional. Antes de tudo, chama ao Senhor “Filho de Davi”: ou seja, reconhece-o como Messias, Rei que vem ao mundo. Depois o chama pelo nome, com confiança: “Jesus”. Não tem medo d’Ele, não se distancia. E assim, do coração, grita ao Deus amigo todo o seu drama: “Tem piedade de mim”. Apenas aquela oração: “Tem piedade de mim”. Não lhe pede algumas moedas, como faz com os transeuntes. Não. Àquele que tudo pode, pede tudo. Às pessoas pede moedas, a Jesus que pode fazer tudo, pede tudo: “Tem piedade de mim, tem piedade de tudo o que eu sou”. Não pede uma graça, mas apresenta-se: pede misericórdia para a sua pessoa, para a sua vida. Não é um pedido insignificante, mas é muito bonito, pois invoca a piedade, isto é, a compaixão, a misericórdia de Deus, a sua ternura.

Bartimeu não usa muitas palavras. Diz o essencial e confia-se ao amor de Deus, que pode fazer a sua vida florescer novamente, realizando o que é impossível aos homens. Por isso ele não pede esmola ao Senhor, mas manifesta tudo, a sua cegueira e o seu sofrimento, que superava o fato de não poder ver. A cegueira era a ponta do iceberg, mas no seu coração deve ter havido feridas, humilhações, sonhos despedaçados, erros, remorsos. Ele rezava com o coração. E nós? Quando pedimos uma graça a Deus, será que colocamos na oração a nossa história, feridas, humilhações, sonhos desfeitos, erros, remorsos?

Filho de Davi, Jesus, tem piedade de mim!”. Façamos hoje esta oração. E perguntemo-nos: “Como está a minha oração?”. Cada um de nós se pergunte: “Como vai a minha oração?”. É corajosa, tem a boa insistência de Bartimeu, sabe “alcançar” o Senhor que passa, ou contenta-se em dar-lhe uma saudação formal de vez em quando, quando me lembro? Essas orações tíbias não ajudam minimamente. Ou então: a minha oração é “substanciosa”, expõe o meu coração diante do Senhor? Apresento-lhe a história e os rostos da minha vida? Ou é anêmica, superficial, constituída por rituais sem afeto nem coração? Quando a fé está viva, a oração é sentida: não mendiga tostões, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, deve ser pedido tudo. Não vos esqueçais disto. A Jesus que tudo pode, deve-se pedir tudo, com a minha insistência perante Ele. Ele não vê a hora de derramar a sua graça e alegria nos nossos corações, mas infelizmente somos nós que mantemos a distância, talvez por timidez, ou preguiça ou incredulidade.

Muitos de nós, quando rezamos, não acreditamos que o Senhor possa fazer um milagre. Lembro-me da história - que constatei - daquele pai a quem os médicos disseram que a sua filha de nove anos não superaria aquela noite; estava no hospital. Ele, de ônibus, percorreu setenta quilômetros até ao santuário de Nossa Senhora. Estava fechado e ele, agarrado ao portão, passou a noite inteira a rezar: “Senhor, salva-a! Senhor, dá-lhe a vida!”. Rezava a Nossa Senhora, toda a noite, gritando a Deus, gritando do coração. Depois, de manhã, quando regressou ao hospital, encontrou a sua esposa a chorar. E pensou: “Morreu”. E a esposa disse: “Não se entende, não se entende, os médicos dizem que é uma coisa estranha, parece que sarou”. O grito daquele homem que pedia tudo foi ouvido pelo Senhor que lhe deu tudo. Isto não é uma história: eu mesmo presenciei isto, na outra Diocese. Temos esta coragem na oração? Àquele que nos pode dar tudo, peçamos tudo, como Bartimeu, que foi um grande mestre, um grande mestre de oração. Ele, Bartimeu, seja para nós um exemplo com a sua fé concreta, insistente e corajosa. E que Nossa Senhora, Virgem orante, nos ensine a dirigirmo-nos a Deus de todo o coração, na confiança de que Ele ouve atentamente cada oração.

Cura do cego de Jericó
(Codex Egberti, séc. X)

Fonte: Santa Sé.

Redditio Symboli e Vigília Missionária em Milão

No último sábado, dia 23 de outubro de 2021, tiveram lugar na Arquidiocese de Milão (Itália) a Redditio Symboli e a Vigília Missionária, ambas presididas pelo Arcebispo, Dom Mario Enrico Delpini:

Redditio Symboli ("devolução" do Símbolo, isto é, do Creio) teve lugar na Basílica de Santo Ambrósio, no contexto da oração das Vésperas. Na Traditio Symboli, os catecúmenos recebem a oração do Creio; na Redditio, por sua vez, os jovens confiam ao Arcebispo seu propósito de vida cristã:

Procissão de entrada
Vésperas (oração da tarde)

Bênção da água
Aspersão dos jovens em recordação do Batismo

domingo, 24 de outubro de 2021

Mensagem do Papa Francisco: Dia Mundial das Missões 2021

Papa Francisco
Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2021
24 de outubro de 2021
«Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4,20)

Queridos irmãos e irmãs!

Quando experimentamos a força do amor de Deus, quando reconhecemos a sua presença de Pai na nossa vida pessoal e comunitária, não podemos deixar de anunciar e partilhar o que vimos e ouvimos. A relação de Jesus com os seus discípulos, a sua humanidade que nos é revelada no mistério da Encarnação, no seu Evangelho e na sua Páscoa mostram-nos até que ponto Deus ama a nossa humanidade e assume as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos anseios e angústias (cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes, n. 22). Tudo, em Cristo, nos lembra que o mundo em que vivemos e a sua necessidade de redenção não Lhe são estranhos e também nos chama a sentirmo-nos parte ativa desta missão: «Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes» (cf. Mt 22,9). Ninguém é estranho, ninguém pode sentir-se estranho ou afastado deste amor de compaixão.

Pedro e João curam o paralítico - Nicolas Poussin
Episódio que precede o testemunho dos Apóstolos diante do Sinédrio em At 4

A experiência dos Apóstolos

A história da evangelização tem início com uma busca apaixonada do Senhor, que chama e quer estabelecer com cada pessoa, onde quer que esteja, um diálogo de amizade (cf. Jo 15,12-17). Os Apóstolos são os primeiros que nos referem isso, lembrando inclusive a hora do dia em que O encontraram: «Eram as quatro da tarde» (Jo 1,39). A amizade com o Senhor, vê-Lo curar os doentes, comer com os pecadores, alimentar os famintos, aproximar-Se dos excluídos, tocar os impuros, identificar-Se com os necessitados, fazer apelo às bem-aventuranças, ensinar de maneira nova e cheia de autoridade, deixa uma marca indelével, capaz de suscitar admiração e uma alegria expansiva e gratuita que não se pode conter. Como dizia o profeta Jeremias, esta experiência é o fogo ardente da sua presença ativa no nosso coração que nos impele à missão, mesmo que às vezes implique sacrifícios e incompreensões (cf. Jr 20,7-9). O amor está sempre em movimento e põe-nos em movimento, para partilhar o anúncio mais belo e promissor: «Encontramos o Messias» (Jo 1,41).

Divina Liturgia pelos 30 anos da entronização do Patriarca Bartolomeu

No último dia 22 de outubro o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla celebrou a Divina Liturgia na Catedral Patriarcal de São Jorge em Istambul por ocasião dos 30 anos da sua entronização como "Patriarca Ecumênico".

Com efeito, no dia 22 de outubro de 1991, após a morte do Patriarca Demétrio (ou Dimitrios), o então Metropolita de Calcedônia, Bartolomeu, foi eleito 270º Patriarca de Constantinopla, sendo entronizado na Catedral Patriarcal no dia 02 de novembro do mesmo ano.

O Patriarca Bartolomeu, que nasceu em 29 de fevereiro de 1940 na ilha de Imbros (ou Imvros, na Turquia), já havia recordado em agosto os 60 anos da sua ordenação diaconal (13 de agosto de 1961).

Como Patriarca, tem se destacado por sua preocupação com questões ambientais e por seu empenho no diálogo ecumênico. Eἰς πολλὰ ἔτη, Δέσποτα! Ad multos annos!


Entrada do Patriarca: Veneração dos ícones

Divina Liturgia: Anáfora (Oração Eucarística)

sábado, 23 de outubro de 2021

Homilia: XXX Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santo Agostinho
Sermão 349
Amai a Cristo; desejai a luz que é Cristo

Amai a Deus, visto que nada encontrais melhor que Ele. Amais a prata porque é melhor que o ferro e o bronze; amais o ouro mais ainda, porque é melhor que a prata; amais ainda mais as pedras preciosas, porque superam até mesmo o preço do ouro; amais, por fim, esta luz que teme perder todo homem que teme a morte; amais, repito, esta mesma luz que desejava com grande amor quem gritava atrás de Jesus: Filho de Davi, tem compaixão de mim!

Gritava o cego quando Jesus passava. Temia que Ele passasse e não o curasse. Como gritava? Até o ponto de não calar, ainda que a multidão lhe ordenasse o silêncio. Venceu opondo-se a ela, e alcançou o Salvador. Ao bradar a multidão e ao proibir-lhe de gritar, Jesus parou, o chamou e lhe disse: - Que queres que Eu te faça? - Senhor, lhe disse, que eu veja. - Vai, a tua fé te salvou.

Amai a Cristo; desejai a luz que é Cristo. Se aquele desejou a luz corporal, quanto mais vós deveis desejar a luz do coração! Gritemos diante d’Ele não com a voz, mas com os costumes. Vivamos santamente, desprezemos o mundo; consideremos como nulo tudo o que é passageiro. Se vivermos assim, nos repreenderão, como se o fizessem por nosso amor, os homens mundanos, amantes da terra, saboreadores do pó, que nada trazem do céu, que não possuem mais alento vital que aquele que respiram pelo nariz, sem outro no coração.

Sem dúvida, quando nos virem desprezar estas coisas humanas e terrenas, nos recriminarão e dirão: “Por que tu sofres? Ficastes louco?” É a multidão que trata de impedir que o cego grite. E até são cristãos alguns dos que impedem de viver cristãmente. De fato, também aquela multidão caminhava ao lado de Cristo e colocava obstáculos ao homem que bradava junto a Ele e desejava a luz como dádiva do próprio Cristo.

Existem cristão assim; porém vençamo-los, vivamos santamente; seja a nossa vida nosso grito para Cristo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 496-497. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Gregório Magno para este domingo, clique aqui.

Solenidade de São João Paulo II em Cracóvia

No último dia 22 de outubro, Memória litúrgica de São João Paulo II, o Arcebispo Emérito de Cracóvia, Cardeal Stanisław Dziwisz, que foi o secretário do Papa polonês, celebrou a Santa Missa no Santuário de São João Paulo II por ocasião da Solenidade do seu titular.

Procissão de entrada

Ritos iniciais

Evangelho