sexta-feira, 31 de maio de 2019

A viagem do Papa à Romênia


Entre os dias 31 de maio e 02 de junho de 2019 o Papa Francisco realiza sua 30ª Viagem Apostólica fora da Itália e 12ª viagem na Europa, com destino à Romênia.


A viagem de Francisco acontece 20 anos após a visita de João Paulo II entre 07 e 09 de maio de 1999. Na ocasião, o Papa polonês foi recebido pelo então Patriarca Ortodoxo Romeno, Teoctist, e pelos gritos dos fiéis no final da Missa em Bucareste, que pediam: “Unitate! Unitate!” (Unidade! Unidade!).

Papa João Paulo II e Patriarca Teoctist
A maioria dos romenos (cerca de 86%) pertence à Igreja Ortodoxa Romena, um dos 14 Patriarcados Ortodoxos, atualmente sob a guia do Patriarca Daniel. O lema da visita de Francisco recorda justamente este alcance ecumênico da viagem: “Să mergem împreună” (Caminhemos juntos).

Além disso, há no país uma das mais importantes igrejas católicas orientais, com cerca de 500 mil fiéis: a Igreja Greco-Católica Romena, guiada por seu Arcebispo-Maior, Cardeal Lucian Mureşan.

Programa da viagem:

Dia 31 de maio (sexta-feira):
Pela manhã o Papa chega ao Aeroporto da capital romena, Bucareste, de onde dirige-se ao Palácio Presidencial para o encontro com as autoridades civis e o corpo diplomático.
Na parte da tarde acontece o encontro com o Patriarca Daniel na sede do Patriarcado, seguida da visita à nova Catedral Ortodoxa, para a construção da qual o próprio João Paulo II contribuiu financeiramente (cf. aqui o Discurso do Papa e as Fotos da visita à Catedral).
Os compromissos do dia se concluem com a celebração da Santa Missa da Festa da Visitação da Virgem Maria na Catedral Católica de São José (cf. aqui a Homilia do Papa e as Fotos da Missa).

Dia 01 de junho (sábado):
No segundo dia da viagem o Papa dirige-se à cidade de Miercurea-Ciuc, onde celebra a Santa Missa votiva de Maria Mãe da Igreja no Santuário Mariano de Sumuleu-Ciuc (cf. aqui a Homilia do Papa e as Fotos da Missa).
Na parte da tarde Francisco se desloca à cidade de Iasi, onde visita a Catedral de Santa Maria Rainha e encontra-se com os jovens e as famílias. No fim da tarde, retorna a Bucareste.

Celebração no Santuário de Sumuleu-Ciuc
Dia 02 de junho (domingo):
O último dia da viagem começa com a partida do Papa para a cidade de Blaj, onde presidirá uma Divina Liturgia em Rito Bizantino com o rito da Beatificação de sete Bispos Grego-Católicos Romenos que foram mártires durante a perseguição do regime comunista no país: Valeriu Traian Frențiu, Vasile Aftenie, Ioan Suciu, Tit Liviu Chinezu, Ioan Bălan, Alexandru Rusu e Iuliu Hossu.
Será a primeira vez durante seu pontificado que Francisco preside uma Divina Liturgia em rito oriental. (cf. aqui a Homilia do Papa e as Fotos da Divina Liturgia).
Na parte da tarde deste domingo o Papa encontra-se ainda com a comunidade cigana de Blaj, antes de retornar a Roma.

Alguns dados da Igreja Católica na Romênia:

Número de católicos: 1.445.000 (7,4% da população)
Dioceses: 13
Paróquias: 2.031

Bispos: 18
Sacerdotes diocesanos: 1.792
Sacerdotes religiosos: 265
Diáconos permanentes: 04
Religiosos (as): 1.142
Seminaristas: 2.855

Escolas católicas: 94 (9.894 estudantes)
Universidades católicas: 07 (894 estudantes)

Hospitais e ambulatórios: 57
Asilos: 34
Orfanatos: 35
Outras instituições sociais: 53

Com informações do site da Santa Sé. O Missal para a Viagem Apostólica pode ser visto aqui.

Confira também um vídeo com algumas imagens da viagem de João Paulo II à Romênia:


Solenidade da Ascensão do Senhor em Jerusalém

No último dia 30 de maio, 40 dias após a Páscoa, a igreja de Jerusalém celebrou a Solenidade da Ascensão do Senhor (no Brasil, transferida para o próximo domingo).

A oração das I Vésperas na tarde do dia 29 e a Missa na manhã do dia 30 foram presididas pelo Vigário da Custódia da Terra Santa, Padre Dobromir Jasztal, no Imbomón, a pequena capela da Ascensão no Monte das Oliveiras.

Dia 29 de maio: I Vésperas

Procissão de entrada


Oração das Vésperas

I Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 29 de maio de 2019
Atos dos Apóstolos (1)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Iniciamos hoje um percurso de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos. Este livro bíblico, escrito por São Lucas Evangelista, no fala de viagem - de uma viagem: mas de qual viagem? Da viagem do Evangelho no mundo e nos mostra a maravilhosa união entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangelização. Os protagonistas dos Atos são realmente um «casal» vivo e eficaz: a Palavra e o Espírito.
Deus «envia sobre a terra sua mensagem» e «sua Palavra corre veloz», diz o Salmo (147,4). A Palavra de Deus corre, é dinâmica, irriga cada terreno em que cai. E qual é a sua força? São Lucas nos diz que a palavra humana se torna eficaz não graças à retórica, que é a arte do belo discurso, mas graças ao Espírito Santo, que é a dýnamis de Deus, o dinamismo de Deus, a sua força, que tem o poder de purificar a palavra, de torná-la portadora de vida. Por exemplo, na Bíblia há histórias, palavras humanas; mas qual é a diferença entre a Bíblia e um livro de história? Que as palavras da Bíblia são tomadas do Espírito Santo, o qual dá uma força muito grande, uma força diversa e nos ajuda a fim de que a palavra seja semente de santidade, semente de vida, seja eficaz. Quando o Espírito visita a palavra humana essa se torna dinâmica, como «dinamite», capaz de acender os corações e de fazer saltar esquemas, resistências e muros de divisão, abrindo novos caminhos e expandindo os limites do povo de Deus. E isto veremos no percurso destas catequeses, no livro dos Atos dos Apóstolos.
Aquele que dá vibrante sonoridade e incisividade à nossa frágil palavra humana, capaz inclusive de mentir e escapar das próprias responsabilidades, é somente o Espírito Santo, por meio do qual o Filho de Deus foi gerado; o Espírito que o ungiu e sustentou em sua missão; o Espírito graças ao qual escolheu a seus Apóstolos e que garantiu ao seu anúncio a perseverança e a fecundidade, como as garante também hoje também ao nosso anúncio.
O Evangelho se conclui com a ressurreição e a ascensão de Jesus, e a trama narrativa dos Atos dos Apóstolos parte daqui, da superabundância da vida do Ressuscitado transfundida em sua Igreja. São Lucas nos diz que Jesus «a eles (...) se mostrou vivo, depois da sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus» (At 1,3). O Ressuscitado, Jesus Ressuscitado, realiza gestos humaníssimos, como compartilhar a refeição com os seus, e os convida a viver confiantes a espera do cumprimento da promessa do Pai: «sereis batizados no Espírito Santo» (At 1,5).
O batismo no Espírito Santo, de fato, é a experiência que nos permite entrar em uma comunhão pessoal com Deus e participar em sua vontade salvífica universal, adquirindo o dom da parresía, a coragem, isto é, a capacidade de pronunciar uma palavra «como filhos de Deus», não só como homens, mas como filhos de Deus: uma palavra limpa, livre, eficaz, cheia de amor por Cristo e pelos irmãos.
Não é preciso lutar para ganhar ou merecer o dom de Deus. Tudo é dado gratuitamente e a seu tempo. O Senhor dá tudo gratuitamente. A salvação não se compra, não se paga: é um dom gratuito. Frente à ânsia de conhecer antecipadamente os tempos em que sucederão os eventos anunciados por Ele, Jesus responde aos seus: «Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra» (At 1,7-8).
O Ressuscitado convida os seus a não viver com ansiedade o presente, mas a fazer aliança com o tempo, a saber esperar o desenlace de uma história sagrada que não foi interrompida, mas que avança, vai sempre adiante; a saber esperar os «passos» de Deus, Senhor do tempo e do espaço. O Ressuscitado convida os seus a não «fabricar» a missão por si mesmos, mas a esperar que seja o Pai a dinamizar os seus corações com o seu Espírito, para que possam envolver-se em um testemunho missionário capaz de irradiar-se de Jerusalém à Samaria e ir mais além das fronteiras de Israel para chegar às periferias do mundo.
Esta espera os Apóstolos a vivem juntos, a vivem como a família do Senhor, na sala superior, o Cenáculo, cujas paredes são testemunhas do dom com o qual Jesus se entregou aos seus na Eucaristia. E como aguardam a força, a dýnamis de Deus? Rezando com perseverança, como se não fossem tantos, mas um só. Rezando em unidade e com perseverança. É através da oração, de fato, que se vence a solidão, a tentação, a suspeita e se abre coração à comunhão. A presença das mulheres e de Maria, a mãe de Jesus, intensifica esta experiência: primeiro aprenderam do Mestre a dar testemunho da fidelidade do amor e a força da comunhão que vence todo temor.
Peçamos também nós ao Senhor a paciência de esperar seus passos, de não querer “fabricar” nós mesmos sua obra e de permanecer dóceis rezando, invocando o Espírito e cultivando a arte da comunhão eclesial.


Tradução livre do original italiano.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Música na Liturgia: Encontro de Pastoral Litúrgica 2009

No final de cada mês estamos publicando aqui em nosso blog, de maneira retrospectiva, os conteúdos dos Encontros Nacionais de Pastoral Litúrgica (ENPL), que acontecem  anualmente no Santuário de Fátima, em Portugal, organizados pelo Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal.

Neste mês de maio recordamos o 35º Encontro, que aconteceu em julho de 2009, com o tema: "Cantai ao Senhor com arte e com alma (Sl 32,3) - A música na Liturgia ".

Seguem os áudios de quatro conferências, disponibilizados pelo Secretariado Nacional de Liturgia:

1ª conferência: Como é bom cantar. Liturgia do homem e do universo
Dr. João Duque

2ª Conferência: Cantar por quê? Função da música na Liturgia
Côn. Dr. António Ferreira dos Santos

3ª Conferência: Cantar o quê? Características da música litúrgica
Pe. Dr. Manuel José Dias Amorim

4ª Conferência: Cantar como? Com arte e com alma
Pe. Dr. António Júlio da Silva Cartageno

Anjos com instrumentos musicais saúdam o Ressuscitado

Fonte: Secretariado Nacional de liturgia - Portugal

Profissão religiosa em Jerusalém

No último dia 26 de maio o Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton, celebrou a Santa Missa do VI Domingo da Páscoa na igreja do Santíssimo Salvador, sede da Custódia Franciscana em Jerusalém.

Durante a celebração 19 religiosas realizaram sua profissão perpétua como Filhas de Santa Isabel, Congregação fundada na Itália que atua na Terra Santa e em diversos países do mundo.

Destaque para um pequeno gesto, provavelmente um costume da Congregação: cada professanda conduz na procissão da entrada uma vela, que deposita na mesa da Comunhão (grade que separa o presbitério da nave).
 
Vela com o símbolo da Terra Santa
Procissão de entrada
Irmãs depositam as velas na mesa de Comunhão


Dia Diocesano da Liturgia em Lisboa

Como fruto do Sínodo Diocesano realizado em 2016, o Patriarcado de Lisboa dedicou o Ano Pastoral de 2018-2019 ao tema da Liturgia. Como parte das atividades deste ano, aconteceu no último dia 26 de maio o Dia Diocesano da Liturgia, realizado na igreja da Boa-Nova no Estoril, bairro do município de Cascais.

As atividades começaram pela manhã com a oração das Laudes, presidida pelo Patriarca, Cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente. Seguiu-se uma conferência proferida pelo próprio Patriarca e diversas palestras sobre temas litúrgicos, realizadas em pequenos grupos.

Durante todo o dia foi preparada uma exposição sobre a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, com uma linha do tempo das mudanças na Igreja e em Portugal.

As atividades encerraram-se com a celebração da Santa Missa do VI Domingo da Páscoa, presidida pelo Cardeal Patriarca.

Oração das Laudes
Conferência do Patriarca de Lisboa
Exposição sobre a reforma litúrgica
 

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Regina Coeli: VI Domingo da Páscoa - Ano C

Papa Francisco
Regina Coeli
VI Domingo da Páscoa, 26 de maio de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste VI Domingo de Páscoa nos apresenta uma passagem do discurso que Jesus dirigiu aos Apóstolos na Última Ceia (cf. Jo 14,23-29). Ele fala da obra do Espírito Santo e faz uma promessa: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos lembrará tudo o que vos disse” (v. 26). À medida que a hora da cruz se aproximava, Jesus tranquiliza os Apóstolos e afirma que eles não ficarão sozinhos: com eles sempre estará o Espírito Santo, o Paráclito, que os apoiará na missão de levar o Evangelho ao mundo inteiro. Na língua original grega, o termo "Paráclito" significa aquele que fica ao lado, que dá apoio e consolo. Jesus retorna ao Pai, mas continua a instruir e animar seus discípulos através da ação do Espírito Santo.

Qual é a missão do Espírito Santo que Jesus promete de presente? Ele mesmo responde: “Ele ensinará todas as coisas e vos lembrará de tudo o que eu disse” (v. 26). Durante a sua vida terrena, Jesus transmitiu tudo o que queria confiar aos Apóstolos: cumpriu a Revelação Divina, isto é, tudo aquilo que o Pai queria dizer à humanidade com a encarnação do Filho. A tarefa do Espírito Santo é aquela de recordar, isto é, de fazer compreender em plenitude e induzir a realizar concretamente os ensinamentos de Jesus. Essa é a missão da Igreja, que atua através de um estilo de vida preciso, caracterizado por algumas exigências: a fé no Senhor e o respeito à sua Palavra; a docilidade pela ação do Espírito Santo, que torna continuamente vivo e presente o Senhor Ressuscitado; o acolhimento da sua paz e o testemunho através de um comportamento de abertura e de encontro com o outro.

Para realizar tudo isso que a Igreja não pode ficar estática mas, com a participação ativa de cada batizado, é chamada a agir como uma comunidade em caminho, animada e amparada pela luz e pela força do Espírito Santo que faz novas todas as coisas. Trata-se de se libertar dos laços mundanos representados pelos nossos pontos de vista, pelas nossas estratégias, pelos nossos objetivos, que muitas vezes sobrecarregam o caminho da fé; e nos colocar em dócil escuta da Palavra do Senhor. Assim é o Espírito de Deus que nos guia e guia a Igreja para que através dela brilhe o rosto autêntico, belo e luminoso, desejado por Cristo.

O Senhor hoje nos convida a abrir nossos corações para o dom do Espírito Santo, para nos conduzir pelos caminhos da história. Dia a dia ele nos educa para a lógica do Evangelho, a lógica do amor acolhendo, "ensinando-nos tudo" e "lembrando-nos de tudo o que o Senhor nos disse. Maria, que neste mês de maio nós veneramos e oramos com especial devoção como nossa mãe Celeste, proteja sempre a Igreja e toda a humanidade. Ela que, com fé humilde e corajosa, cooperou plenamente com o Espírito Santo para a encarnação do Filho de Deus, nos ajude também a sermos instruídos e guiados pelo Paráclito, para que possamos aceitar a Palavra de Deus e testemunhá-la com a nossa vida.


Fonte: Acidigital.

Ordenações Presbiterais em Cracóvia

No último dia 25 de maio o Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou a Santa Missa na Catedral de Wawel, durante a qual concedeu a Ordenação Presbiteral a 14 diáconos da Arquidiocese:

Candidatos aguardam a chegada do Bispo
Aspersão dos presentes
Oração diante do Santíssimo Sacramento

Procissão de entrada

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Missa do Papa na Assembleia da Cáritas

No último dia 23 de maio o Papa Francisco celebrou a Santa Missa da Quinta-feira da V semana da Páscoa no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana por ocasião da Abertura da 21ª Assembleia Geral da Cáritas Internationalis.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Pier Enrico Stefanetti. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada
Incensação
Ritos iniciais
Homilia

Homilia do Papa: Missa na Assembleia da Cáritas

Santa Missa para a Abertura da XXI Assembleia Geral da Caritas Internationalis
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana, Altar da Cátedra
Quinta-feira, 23 de maio de 2019

A Palavra de Deus, na leitura de hoje dos Atos dos Apóstolos, conta o primeiro grande encontro da história da Igreja. Uma situação inesperada ocorreu: os pagãos chegaram à fé. E surge uma pergunta: eles têm que se adaptar, como os outros, a todas as normas da lei antiga? Foi uma decisão difícil de tomar e o Senhor não estava mais presente. Alguém poderia perguntar: por que Jesus não deixou uma sugestão para resolver pelo menos esse primeiro “grande debate” (At 15,7)? Uma pequena indicação teria sido suficiente para os Apóstolos, que durante anos estiveram com ele todos os dias. Por que Jesus nem sempre dera regras claras e rápidas de resolução?
Aqui está a tentação da eficiência, pensar que a Igreja está bem se tiver tudo sob controle, se viver sem choques, com a agenda sempre em ordem, tudo regulado… É também a tentação da casuística. Mas o Senhor não prossegue assim; de fato, para seus seguidores, ele não envia uma resposta, ele envia o Espírito Santo. E o Espírito não vem trazendo a agenda, vem como fogo. Jesus não quer que a Igreja seja um modelo perfeito, que acolha sua própria organização e seja capaz de defender seu bom nome. Pobres aquelas Igrejas particulares que estão tão ocupadas na organização, nos planos, tentando ter tudo claro, tudo distribuído. Isso me faz sofrer. Jesus não viveu assim, mas no caminho, sem temer os choques da vida. O Evangelho é o nosso programa de vida, tudo está lá. (At 9,2) para viajar juntos, sempre juntos, com um espírito de confiança. A partir do relato dos Atos, aprendemos três elementos essenciais para a Igreja a caminho: a humildade da escuta, o carisma do todo, a coragem da renúncia.
Vamos começar com o fim: a coragem da renúncia. O resultado dessa grande discussão não foi impor algo novo, mas deixar algo velho. Mas aqueles primeiros cristãos não abandonaram nada do nada: eram importantes tradições e preceitos religiosos, caros ao povo escolhido. A identidade religiosa estava em jogo. No entanto, eles escolheram que o anúncio do Senhor vem em primeiro lugar e vale mais do que tudo. Para o bem da missão, anunciar a alguém, de forma transparente e crível, que Deus é amor, até mesmo aquelas crenças e tradições humanas que são mais um obstáculo do que uma ajuda, podem e devem ser deixadas. A coragem de sair. Nós também precisamos redescobrir juntos a beleza da renúncia acima de tudo para nós mesmos. São Pedro diz que o Senhor “purificou os corações com fé” (cf. At 15,9). Deus purifica, Deus simplifica, muitas vezes nos faz crescer removendo, não acrescentando, como faríamos. A fé verdadeira purifica dos apegos. Para seguir o Senhor, é preciso andar rápido e andar depressa, deve-se aliviar, mesmo que isso custe. Como Igreja, não somos chamados a comprometer negócios, mas a explosões evangélicas. E, ao nos purificarmos, ao nos reformarmos, devemos evitar o leopardismo, isto é, fingir que mudamos alguma coisa, de modo que, na realidade, nada muda. Isso acontece, por exemplo, quando, para tentar acompanhar os tempos, a superfície das coisas é colocada um pouco, mas é apenas maquiagem para parecer jovem. O Senhor não quer ajustes cosméticos, ele quer a conversão do coração, que passa pela renúncia. Sair de si mesmo é a reforma fundamental.
Vamos ver como os primeiros cristãos chegaram lá. Eles chegaram à coragem da renúncia a partir da humildade de ouvir. Eles praticavam abnegação: vemos que cada um deixa o outro falar e está disposto a mudar suas crenças. Ele sabe escutar apenas aqueles que deixam a voz da outra pessoa realmente entrar nele. E quando o interesse pelos outros cresce, o altruísmo aumenta. Tornamo-nos humildes seguindo o caminho da escuta, que nos impede de nos afirmarmos, de buscar resolutamente nossas próprias ideias, de buscar consenso com todos os meios. A humildade nasce quando, em vez de falar, ouvimos; quando você deixa de estar no centro. Então cresce através de humilhações. É o caminho do serviço humilde, aquele que Jesus viajou, é neste caminho de caridade que o Espírito desce e dirige.
Para aqueles que querem seguir os caminhos da caridade, a humildade e a escuta significam que o ouvido é voltado para os pequenos. Vamos olhar novamente para os primeiros cristãos: todos ficam em silêncio para ouvir Barnabé e Paulo. Eles foram os últimos a chegar, mas deixaram que relatassem tudo o que Deus havia feito através deles (cf. v. 12). É sempre importante ouvir a voz de todos, especialmente os pequenos e os últimos. No mundo quem tem mais meios fala mais, mas entre nós não pode ser assim, porque Deus ama se revelar através do pequeno e do último. E todo mundo pede para não olhar para ninguém de cima para baixo. É permitido olhar para uma pessoa de cima para baixo apenas para ajudá-la a se levantar; a única vez, senão você não pode.
E, finalmente, ouvindo a vida: Paulo e Barnabé falam sobre experiências, não ideias. A Igreja faz tal discernimento; não na frente do computador, mas na frente da realidade das pessoas. As ideias são discutidas, mas as situações são discernidas. Pessoas diante dos programas, com o olhar humilde de quem sabe buscar nos outros a presença de Deus, que não vive na grandeza daquilo que fazemos, mas na pequenez dos pobres que encontramos. Se não olharmos diretamente para eles, acabamos sempre olhando para nós mesmos; e para torná-los instrumentos de nossa afirmação, usamos os outros.
Da humildade de ouvir a coragem da renúncia, tudo passa pelo carisma do todo. De fato, na discussão da primeira Igreja, a unidade sempre prevalece sobre as diferenças. Para cada pessoa, em primeiro lugar, não há suas próprias preferências e estratégias, mas sim ser e sentir a Igreja de Jesus, reunida em torno de Pedro, na caridade que não cria uniformidade, mas comunhão. Ninguém sabia de tudo, ninguém tinha todos os carismas, mas cada um se apegou ao carisma do todo. É essencial, porque você não pode realmente fazer o bem sem realmente se importar. Qual foi o segredo daqueles cristãos? Eles tinham sensibilidades e orientações diferentes, também havia personalidades fortes, mas havia a força de amar uns aos outros no Senhor. Nós o vemos em Tiago, que, na hora de tirar conclusões, diz algumas palavras dele e cita grande parte da Palavra de Deus (cf. vv. 16-18). Deixe a palavra falar. Enquanto as vozes do diabo e do mundo levam à divisão, a voz do Bom Pastor forma um só rebanho. E assim a comunidade é baseada na Palavra de Deus e permanece em seu amor.
“Permanece no meu amor” (Jo 15,9): é o que Jesus pede no Evangelho. E como isso é feito? Devemos ficar perto dele, pão partido. Ajuda-nos a estar diante do tabernáculo e diante dos muitos tabernáculos vivos que são os pobres. A Eucaristia e os pobres, um tabernáculo fixo e tabernáculos móveis: ali permanece um amor e absorve a mentalidade do pão partido. Ali se entende o “como” de que Jesus fala: “Como o Pai me amou, eu também te amei” (ibid.). E como o Pai amava a Jesus? Dando tudo, não retendo nada para si. Dizemos isso no Credo: “Deus de Deus, luz da luz”; deu-lhe tudo. Quando, em vez disso, nos retivermos da doação, quando, em primeiro lugar, há os nossos interesses a defender, não agimos semelhante a Deus, não somos uma Igreja livre e libertadora. Jesus pede para permanecer Nele, não em nossas ideias; sair da pretensão de controlar e administrar; ele nos pede para confiar nos outros e nos entregar aos outros. Pedimos ao Senhor que nos liberte da eficiência, do mundanismo, da tentação sutil de adorar a nós mesmos e às nossas habilidades, da organização obsessiva. Pedimos a graça de aceitar o caminho indicado pela Palavra de Deus: humildade, comunhão, renúncia.


Fonte: Cáritas.org

sábado, 25 de maio de 2019

Homilia: VI Domingo da Páscoa - Ano C

Santo Agostinho
Tratado sobre a 1ª Carta de São João
Toda a vida do bom cristão é um santo desejo

Vede que amor o Pai nos tem para chamar-nos filhos de Deus, pois nós o somos! Pois aqueles que se chamam e não são, de que lhes aproveita o nome se não corresponde à realidade? Quantos se chamam “médicos” e não sabem curar! Quantos se chamam “serenos” e passam a noite dormindo! Igualmente sobram os que se chamam “cristãos” e dos quais sua conduta não rima com seu nome, pois não são o que dizem ser: na vida, nos costumes, na fé, na esperança, no amor. Todo o mundo é cristão, e todo o mundo é ímpio; existem ímpios por todo o mundo, e por todo o mundo existem pios: uns e outros não se reconhecem entre si. Por isso o mundo não nos conhece, porque não conheceu a Ele. O próprio Senhor Jesus caminhava, na carne era Deus, oculto na debilidade da carne. E por que não foi reconhecido? Porque reprovava aos homens todos os seus pecados. Eles, amando os deleites do pecado, não reconheciam a Deus; amando o que o ímpeto das paixões lhes sugeria, injuriavam o médico.
E nós, o quê? Nós nascemos d’Ele; porém, como vivemos sob a economia da esperança, disse: Queridos, agora somos filhos de Deus. Desde agora? Então, o que é que esperamos, se já somos filhos de Deus? E ainda, disse, não se manifestou o que seremos. Será que seremos outra coisa além de filhos de Deus? Ouçam o que segue: Sabemos que, quando se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como é. O que é que nos foi prometido? Seremos semelhantes a Ele porque o veremos tal como é. A língua expressou o que pôde; o restante deve ser meditado pelo coração. Em comparação daquele que é, o que pode dizer o próprio João? E o que podemos dizer, nós que estamos tão longe de igualar seus méritos?
Voltemos, pois, àquela unção de Cristo, voltemos àquela unção que nos ensina a partir de dentro o que nós não podemos expressar, e, já que agora vos é impossível a visão, seja vossa tarefa o desejo. O que desejas não o vês ainda, mas por teu desejo tornas-te capaz de ser saciado quando chegar o momento da visão.
Portanto, irmãos, desejemos, já que temos de ser saciados. Vede de que maneira Paulo dilata seu desejo, para tornar-se capaz de receber aquele que há de vir. Diz, de fato: Não é que eu já tenha conseguido o prêmio, ou que já esteja na meta; irmãos, eu não penso ter alcançado o prêmio. Que fazes, então, nesta vida, se ainda não conseguiste o prêmio? Somente busco uma coisa: esquecendo-me do que fica para trás, e lançando-me até o que virá, corro até a meta para ganhar o prêmio ao que Deus desde o alto me chama.
Afirma de si mesmo que se lançou para o que virá, e que vai correndo para a meta final. É porque se sentia demasiado pequeno para captar aquilo que nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem o homem pode imaginar. Esta é nossa vida: exercita-nos no desejo. Contudo, este santo desejo que suscita está em proporção direta com nosso desprendimento dos desejos que suscita o amor do mundo. Dilatemos, então, nosso coração, para que, quando Ele vier, satisfaça os nossos desejos, já que seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como Ele é.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 608-609. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também outra homilia de Santo Agostinho para este domingo clicando aqui.

Liturgia na Exortação Apostólica Christus vivit

Há dois meses, no dia 25 de março de 2019, Solenidade da Anunciação do Senhor, o Papa Francisco assinou no Santuário de Nossa Senhora em Loreto a Exortação Apostólica Christus vivit (Cristo vive), fruto do Sínodo dos Bispos de 2018 com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Como fizemos com o Instrumentum laboris e com o Documento Final do Sínodo, analisaremos nesta postagem a Exortação Apostólica do Papa sob a perspectiva da Liturgia.

Embora boa parte da Exortação retome trechos do Documento Final, há nela também algumas novidades. De seus 299 parágrafos, divididos em 9 capítulos, há 12 que fazem referência à Liturgia, aos Sacramentos e à piedade popular.

Capítulo II: JESUS CRISTO SEMPRE JOVEM

A primeira referência à Liturgia aparece no II capítulo, no qual o Papa Francisco propõe a pessoa de Jesus Cristo como modelo para os jovens e para a Igreja. No parágrafo 35 o Papa pede uma Igreja jovem e indica onde ela pode encontrar esta juventude: “é jovem quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia. É jovem quando consegue voltar continuamente à sua fonte”.
Vemos nesta afirmação um eco das palavras de São João Paulo II, que afirmava: “A Igreja vive da Eucaristia” (Ecclesia de Eucharistia, n. 1). Aqui Francisco continua: “A Igreja descobre sua juventude, encontra sua força na Eucaristia”.

Capítulo V: PERCURSOS DE JUVENTUDE

No capítulo V, durante o qual o Santo Padre reflete sobre a realidade da juventude hoje, há outras duas referências à importância da Eucaristia: primeiramente, no parágrafo 161, refletindo sobre o tema do crescimento e da maturidade, Francisco afirma: “Crescer quer dizer conservar e alimentar as coisas mais preciosas que te oferece a juventude, mas ao mesmo tempo significa estar disponível para purificar o que não é bom e receber novos dons de Deus, que te chama a desenvolver o que tem valor”. Por isso, aconselha, “é melhor deixares-te amar por Deus, que te ama como és, aprecia-te e respeita-te, não cessando, porém, de te cumular cada vez mais da sua amizade, fervor na oração, fome da sua Palavra, anseio de receber Cristo na Eucaristia, vontade de viver o seu Evangelho, força interior, paz e alegria espiritual”.

No n. 173, por sua vez, ao convidar os jovens a assumirem compromissos na Igreja e na sociedade, Francisco mais uma vez afirma que a Eucaristia é a fonte viva onde encontrar a força para a missão: “Como no milagre de Jesus, os pães e os peixes dos jovens podem multiplicar-se (cf. Jo 6,4-13). Como na parábola, as pequenas sementes dos jovens tornam-se árvores e frutos de colheita (cf. Mt 13,23.31-32). Tudo isto se realiza a partir da fonte viva da Eucaristia, na qual o nosso pão e o nosso vinho se transformam para nos dar a Vida eterna”.

Adoração Eucarística na JMJ 2019 (Panamá)
Capítulo VII: A PASTORAL DOS JOVENS

O capítulo VII, no qual o Pontífice apresenta propostas concretas para a Pastoral da Juventude, contém cinco referências ao tema da Liturgia. O número 224 reflete primeiramente sobre a busca dos jovens por momentos de oração, incluindo a adoração eucarística, nos quais se valorize o silêncio:
Muitos jovens são capazes de aprender a amar o silêncio e a intimidade com Deus. Aumentou também o número dos grupos que se reúnem para adorar o Santíssimo Sacramento e rezar com a Palavra de Deus. Não se subestimem os jovens como se fossem incapazes de abrir-se a propostas contemplativas; basta encontrar os estilos e modalidades adequados para os ajudar a entrar nesta experiência de tão alto valor”.

(Recentemente publicamos um texto sobre o valor do silêncio diante da ditadura do ruído)

Neste mesmo parágrafo 224 há uma citação do Documento Final do Sínodo, em seu número 51, no qual os Padre Sinodais expressaram o desejo dos jovens por uma Liturgia viva e cheia de sentido: “Relativamente aos setores do culto e da oração, «em diferentes contextos, os jovens católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de tocar a sua vida diária, numa Liturgia nova, autêntica e jubilosa» (Documento Final, n. 51)”.

Por fim, o parágrafo conclui com um acréscimo do Papa Francisco, no qual este aconselha valorizar a pedagogia própria do Ano Litúrgico: “É importante valorizar os momentos mais fortes do Ano Litúrgico, particularmente a Semana Santa, o Pentecostes e o Natal. Prezam muito também outros encontros de festa, que quebram a rotina e ajudam a experimentar a alegria da fé”.

Continuando nossa análise do capítulo VII, temos no parágrafo 226 uma referência à importância da música para os jovens, inclusive no contexto da Liturgia, retomando o n. 47 do Documento Final do Sínodo: «De importância muito peculiar se reveste a música, que representa um verdadeiro e próprio ambiente onde os jovens estão constantemente imersos, bem como uma cultura e uma linguagem capazes de suscitar emoções e moldar a identidade. A linguagem musical constitui também um recurso pastoral, que interpela de modo particular a Liturgia e a sua renovação» (Documento Final, n. 47)”.
O Papa Francisco acrescentou ainda uma citação de Santo Agostinho sobre a música: “O canto pode ser um grande estímulo no percurso dos jovens. Dizia Santo Agostinho: «Canta, mas caminha; cantando, alivia a fadiga, mas não te dês à preguiça; canta e caminha. (...) Tu, se progrides, caminhas. Mas progride no bem, progride na verdadeira fé, progride na vida santa. Canta e caminha» (Agostinho, Sermão 256)”.

Concluindo a série de propostas pastorais iniciadas no n. 224, no parágrafo 229 o Papa sintetiza recordando a importância da Palavra e dos sacramentos: há dons de Deus que são sempre atuais e contêm uma força que transcende todos os tempos e circunstâncias: a Palavra do Senhor sempre viva e eficaz, a presença de Cristo na Eucaristia que nos alimenta e o Sacramento do Perdão que nos liberta e fortalece”.

Papa Francisco atende confissões durante a JMJ 2019 (Panamá)
No n. 238 da Exortação, Francisco recorda um tema abordado reiteradas vezes em seu pontificado: a piedade popular. Neste parágrafo há inclusive duas citações da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium:
As várias manifestações de piedade popular, especialmente as peregrinações, atraem jovens que não se inserem facilmente nas estruturas eclesiais e são uma expressão concreta da confiança em Deus. Estas formas de busca de Deus, presentes particularmente nos jovens mais pobres mas também nos outros setores da sociedade, não devem ser desprezadas, mas encorajadas e estimuladas. Porque a piedade popular «é uma maneira legítima de viver a fé» (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 124) e é «expressão da atividade missionária espontânea do povo de Deus» (ibid., n. 122)”.

Por fim, o último parágrafo do capítulo VII sobre o tema da Liturgia, versa sobre o tema do sacramento do Matrimônio. Ao falar sobre o acompanhamento dos jovens pelos adultos, o Papa Francisco afirma no n. 242 da Exortação que a Pastoral da Juventude, unida à Pastoral Familiar, deve ajudar os jovens na preparação para o Matrimônio:
A pastoral juvenil propõe um projeto de vida baseado em Cristo: a edificação duma casa, duma família construída sobre a rocha (cf. Mt 7,24-25). Para a maioria deles, esta família, este projeto concretizar-se-á no Matrimônio e na caridade conjugal. Por isso, é necessário que a pastoral juvenil e a pastoral familiar tenham uma continuidade natural, trabalhando de maneira coordenada e integrada para poder acompanhar adequadamente o processo vocacional”.

Capítulo VIII: A VOCAÇÃO

O tema da preparação para o Matrimônio, já referido acima, é retomado no Capítulo VIII, que versa sobre o tema da vocação, especificamente no bloco de parágrafos que trata do amor e da família (nn. 259-267).

Primeiramente no n. 260 o Papa Francisco recorda seu discurso aos jovens durante sua visita à Assis em 2013: “Apraz-me pensar que «dois cristãos que casam reconheceram na sua história de amor a chamada do Senhor, a vocação a formar de duas pessoas, varão e mulher, uma só carne, uma só vida. E o sacramento do Matrimônio corrobora este amor com a graça de Deus, arraigando-o no próprio Deus. Com este dom, com a certeza desta vocação, é possível começar com segurança, sem medo de nada, para juntos enfrentar tudo!»”.

O n. 264, por sua vez, retoma o discurso do Papa aos voluntários da Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro em 2013, quando encoraja os jovens ao Matrimônio em oposição à “cultura do provisório”:
Reina hoje a cultura do provisório, que é uma ilusão. Julgar que nada pode ser definitivo é um engano e uma mentira. Muitas vezes ouvis dizer que «hoje o casamento está ‘fora de moda’ (…). Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas (…). Em vez disso, peço-vos para serdes revolucionários, peço-vos para irdes contracorrente; sim, nisto, peço que vos rebeleis: que vos rebeleis contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vós não sois capazes de assumir responsabilidades, crê que vós não sois capazes de amar de verdade». Ao contrário, eu tenho confiança em vós e, por isso, vos encorajo a optar pelo Matrimônio”.

Por fim, no n. 265, o Papa exorta à preparação para o Matrimônio pela educação para as virtudes: “É necessário preparar-se para o Matrimônio; isto requer educar-se a si mesmo, desenvolver as melhores virtudes, sobretudo o amor, a paciência, a capacidade de diálogo e de serviço. Implica também educar a própria sexualidade, para que seja sempre menos um instrumento para usar os outros, e cada vez mais uma capacidade de se doar plenamente a uma pessoa, de maneira exclusiva e generosa”.

Capítulo IX: O DISCERNIMENTO

A última referência à Liturgia na Exortação é justamente no parágrafo final, n. 299, no qual o Papa retoma um trecho do seu discurso aos jovens italianos durante um encontro de oração em preparação ao Sínodo em agosto de 2018. Neste discurso Francisco menciona mais uma vez a importância da presença de Cristo na Eucaristia, exortando aos jovens: Correi «atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós»”.

Missa de encerramento da JMJ 2019 (Panamá)

Confira a Exortação na íntegra no site da Santa Sé.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Um exame de consciência litúrgico

Toda liturgia deveria ser capaz de expressar a grandeza que é pertencer à Igreja. Tudo nela deveria nos dizer ao coração: “Esta é a tua casa. Este é o teu lugar. Tudo aquilo por que tanto anseia o mais profundo de tua alma… está aqui”.

“Quão amável, ó Senhor, é vossa casa,
quanto a amo, Senhor Deus do universo!
Minha alma desfalece de saudades
e anseia pelos átrios do Senhor!
[...]
Na verdade, um só dia em vosso templo
vale mais do que milhares fora dele!”
(Sl 83(84),2-3.11)

É notório o trabalho pastoral e teológico que Bento XVI, antes mesmo de ser eleito Papa, realizou no âmbito da sagrada Liturgia. Quem não conhece esse trabalho tem agora a oportunidade de adquirir a obra Teologia da Liturgia, lançada recentemente pela CNBB, e que constitui o primeiro volume das obras completas de Ratzinger em português.
Foi desejo do próprio Papa Emérito que no primeiro volume de sua Opera Omnia constassem seus escritos sobre a Liturgia. Ele quis seguir a mesma ordem do Concílio Vaticano II - de cujos documentos o primeiro foi justamente a Sacrosanctum Concilium - e priorizar aquela que foi a “realidade central” de sua vida desde a infância, como ele mesmo escreve em sua autobiografia:
“Cada novo degrau no acesso à Liturgia era, para mim, um grande acontecimento. Cada livro novo me era uma preciosidade, e eu não podia sonhar com nada mais lindo. Foi para mim uma aventura cativante esse lento acesso ao misterioso mundo da Liturgia, que lá no altar, diante de nós e para nós, se realizava. Tornou-se cada vez mais claro para mim que eu me encontrava aí diante de uma realidade que não foi inventada por uma pessoa qualquer, e não havia sido criada por uma autoridade ou grande personagem. Essa misteriosa fusão de textos e ações tinha nascido da fé da Igreja, através dos séculos. Carregava dentro de si o peso de toda a história, mas era, ao mesmo tempo, muito mais do que um produto da história humana. Cada século tinha contribuído com seus vestígios. As introduções nos ensinavam o que tinha vindo da Igreja primitiva, da Idade Média, dos tempos modernos. Nem tudo era lógico. Tudo era bastante complicado; nem sempre era fácil a gente se orientar. Mas exatamente por isso aquela estrutura era maravilhosa, e nos sentíamos em casa” [1].
Detenhamo-nos por um momento nestas últimas palavras do Papa, pois elas descrevem um sentimento que com certeza já perpassou o coração de todo católico diante de uma liturgia bem celebrada: sentirmo-nos em casa.
A expressão tem um sentido bem preciso. O Papa evidentemente não está dizendo que a Liturgia foi feita para as pessoas se sentirem em casa como se se tratasse de algo banal, trivial, profano. Ele fala de nos sentirmos em casa como um sinal de pertença e de familiaridade. Neste sentido preciso, sim, é possível afirmar que a Liturgia foi feita para que nos sintamos em casa.
Mas a casa a que o Papa se refere não é um templo feito por mão de homens, para usar uma expressão do Apóstolo (cf. At 17,24). O que a Liturgia faz é colocar-nos em contato com o mistério da Igreja, o mistério da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da assembleia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição, enfim, de Jesus, o mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel (Hb 12,22-24).
Em uma palavra, a Liturgia existe a fim de nos transportar para o que há além desta vida terrena. No Batismo, todos nós, católicos, recebemos uma nova vida, a vida sobrenatural da graça, isto é, uma vida muito acima dos dados meramente naturais. Por meio desta porta, nós adentramos o edifício espiritual da Igreja, o Corpo místico de Cristo, formado por todos os santos que já passaram por este mundo e agora estão no Céu, por todas as almas justas que estão se purificando no Purgatório e por todos os guerreiros valorosos que militam neste vale de lágrimas.
Esta casa, caro leitor, é a morada de todos os bem-aventurados, dos homens e mulheres que, em todos os tempos e lugares, temeram e amaram a Deus, e cumpriram com a sua santíssima vontade. Por isso, porque é uma casa ornada das mais belas virtudes, nenhuma casa se lhe é capaz de igualar.
A Liturgia deveria ser capaz de expressar esta magnificência que é pertencer à Igreja. Todas as orações que nela existem, todos os cantos que foram compostos e incorporados a ela ao longo dos séculos, todos os gestos sagrados que o sacerdote faz e que o povo acompanha (ou deveria acompanhar) com piedade e devoção, tudo isso deveria falar mui ternamente ao nosso coração e dizer: “Esta é a tua casa. Este é o teu lugar. Tudo aquilo por que tanto anseia o mais profundo de tua alma… está aqui”.
Mas a experiência que, ao pequeno Ratzinger, transmitiu imediatamente a sensação de pertença, pode ser para outros, em um primeiro momento, ocasião de choque e estranhamento. Vejamos o que aconteceu, por exemplo, ao famoso escritor francês Paul Claudel (em suas próprias palavras):
“Assim era a infeliz criança que, a 25 de dezembro de 1886, foi a Notre-Dame de Paris para assistir aos ofícios de Natal. Começava então a escrever, e parecia-me que nas cerimônias católicas, consideradas com um diletantismo superior, encontraria um excitante apropriado e a matéria de alguns exercícios decadentes.
Foi com essas disposições que, acotovelado e empurrado pela multidão, assisti, com um prazer medíocre, à missa cantada. Depois, não tendo nada melhor a fazer, voltei para assistir às vésperas. As crianças do coro, vestidas de branco, e os alunos do Seminário Menor de Saint Nicholas du Chardonnet, que os ajudavam, cantavam o que mais tarde soube ser o Magnificat.
Eu próprio estava de pé entre a multidão, junto do segundo pilar à entrada do coro, à direita da sacristia. E foi então que se produziu o acontecimento que domina toda a minha vida. Em um instante, meu coração foi tocado e acreditei.
Acreditei com tal força de adesão, com tal elevação de todo o meu ser, com tão poderosa convicção, com tal certeza sem deixar lugar a qualquer espécie de dúvida, que, a partir de então, todos os livros, todos os raciocínios e todas as circunstâncias de uma vida agitada não puderam abalar-me a fé, nem mesmo, para ser mais preciso, atingi-la.
Tive de súbito o forte sentimento da inocência, da eterna juventude de Deus, uma revelação inefável. Tentando, como o fiz várias vezes, reconstituir os minutos que se seguiram a esse instante extraordinário, encontro os elementos seguintes que, entretanto, formavam apenas um clarão, uma única arma de que a Providência Divina se servia para atingir e abrir enfim o coração de uma pobre criança desesperada: ‘Como são felizes os que creem! E se fosse verdade? É verdade! Deus existe. Ele está em toda parte. É alguém, é um Ser tão pessoal quanto eu. Ele me ama, Ele me convoca’.
As lágrimas e os soluços vieram… e o canto tão doce do Adeste fideles aumentou ainda mais minha emoção. Emoção bem doce, mas a que se misturava um sentimento de espanto e quase de horror. Pois minhas convicções filosóficas estavam intactas. Deus as deixara desdenhosamente onde estavam, e eu nada via a mudar nelas; a religião católica me parecia continuar o mesmo tesouro de anedotas absurdas, seus padres e fiéis me inspiravam a mesma aversão que ia até o ódio e o desgosto. O edifício de minhas opiniões e de meus conhecimentos permanecia de pé, e não lhe achava qualquer defeito. Tinha apenas me retirado dele. Um novo e formidável ser, com exigências terríveis para o jovem e o artista que eu era, tinha-se revelado, e não sabia como conciliá-lo com coisa alguma que me cercava.
O estado de um homem que fosse arrancado de um golpe de seu corpo, para ser colocado em um corpo estranho, no meio de um mundo desconhecido, é a única comparação que posso encontrar para exprimir este estado de confusão completa. O que mais repugnava a minhas opiniões e a meu gosto era, entretanto, a verdade e o fato de ter de acomodar-se a ela custasse o que custasse. Ah! Isso não aconteceria sem que tentasse tudo que me fosse possível para resistir” [2].
Percebam como, curiosamente, o que para um católico de berço, praticante, foi sentir-se em casa, para esse artista (até então um católico “morno”) foi justamente a experiência do deslocamento: o homem que ele era até aquele momento sentia-se fora de lugar, transportado a uma realidade nova e inesperada.
É que o pequeno Ratzinger tinha fé; Paul Claudel ainda não. E foi só a partir do momento em que lhe caíram as escamas dos olhos, foi só quando ele acreditou, que a Liturgia ganhou, para ele, todo o sentido que realmente possui.
Foi preciso, portanto, uma experiência totalmente alheia a seu mundo para que Paul Claudel se convertesse. Como o peixe que é tirado da água para a terra, Cristo pescou a alma desse homem, tirando-a de um ambiente para colocá-lo em outro completamente diferente. Essa migração - que constitui, no fundo, a essência de toda e qualquer conversão - deveria nos lembrar uma coisa de que muitos em nossa época parecem ter-se esquecido, a saber: que não são as nossas “adaptações”, as nossas “manipulações”, as nossas tentativas de “acomodar” o sagrado à banalidade das nossas vidas o que trará as pessoas de volta à Igreja. Muito pelo contrário, é justamente o estupor diante do sobrenatural, o espanto diante do sagrado, a admiração com o que é nobre e elevado, a isca de que tantos precisam para se livrar da miséria, da baixeza, da lama em que estão afundados.
Lendo o relato da conversão de um homem ao simples ouvir de uma música sacra, deveríamos nos perguntar se a mesma experiência teria acontecido, por exemplo, se aquelas crianças em Notre-Dame (a mesma Notre-Dame que estava em chamas alguns dias atrás) estivessem cantando uma música popular, um “sambinha” para Cristo, um jogral infantil ou um iê-iê-iê festivo para homenagear os fiéis presentes na celebração daquelas Vésperas…
Ora, alguém poderá dizer, “o Espírito sopra onde quer”. E é verdade. Mas será que podemos tão soberbamente pretender que o Espírito Santo se adeque à pobreza de nossos esquemas, à vulgaridade de nossas profanações, à baixeza de nossas invencionices? Que Deus se sirva até das mais insignificantes das coisas para trazer uma pessoa a si, é coisa de que ninguém duvida; agora, que façamos o que quisermos na Liturgia, sob o pretexto de que “o que importa é o coração”, e como se um “batuque” e um “molejo” estivessem no mesmo nível de um coro de crianças cantando um Magnificat ou um Adeste fideles, é no mínimo uma profunda falta de bom senso (para não falar do pecado de irreverência que aqui se esconde sob a aparência de “simplicidade” e “despojamento”). Além do mais, que uma e outra pessoa aja dessa forma por ignorância, é coisa que se pode muito bem admitir; que não haja, no entanto, uma única voz capaz de dizer esse óbvio ululante, é coisa que escapa à nossa compreensão, é coisa que só a expressão “mistério da iniquidade” pode explicar…
É por isso que nós, católicos, precisamos fazer um exame de consciência urgente, perguntando-nos se o modo como celebramos a Liturgia tem revelado aos homens a face de Deus ou a face… do próprio homem. Nossas crianças será que sentem, a respeito da Liturgia de nossas igrejas, o mesmo que sentia o pequeno Ratzinger, a ponto de dizerem: “Estou em casa”? Será que nossas Missas têm favorecido e despertado nas pessoas esse nobre sentimento de pertença que o Papa Bento XVI teve em menino e que foi decisivo para sua vida e vocação cristã? Ou, ao contrário, não estaremos sonegando a nossos filhos, com nossos desrespeitos, nossas bizarrices, nossas danças e piruetas “litúrgicas”, o próprio tesouro da fé da Igreja?
E os que estão de fora - como estava Paul Claudel antes daquela visita a Notre-Dame -, com que impressão ficam ao se aproximar de nossas igrejas? A de um grupo sério de pessoas que temem a Deus e O veneram com respeito e reverência? Ou a de um bando que vive da gritaria e do oba-oba?
Na verdade, ante a dessacralização e as profanações que acontecem em tantas de nossas Missas, ao ver o silêncio e as orações secretas substituídas pela verborragia e pelos “programas de auditório”, diante do sentimentalismo que tomou o lugar da nobreza do canto gregoriano [3], não há como não tomar emprestadas as palavras do salmista ao ver desolada sua terra: “Por que razão vós destruístes sua cerca, para que todos os passantes a vindimem, o javali da mata virgem a devaste, e os animais do descampado nela pastem?” (Sl 79(80),13-14).
Nós nos perguntamos o porquê, mas não é muito difícil chegar a uma resposta satisfatória. Como não enxergar em tudo isso que nos está acontecendo a justa mão de Deus nos castigando por nossos pecados? Não é curioso (para não dizer providencial) que justamente a nossa época, tão dada à sensualidade, seja privada na Liturgia de todos os aspectos sensíveis que a enobreceram em outras épocas? Por que outro motivo nos teria sido negada a beleza e as glórias da Liturgia, senão para que pagássemos o preço (merecido) da feiura dos pecados em que vivemos atolados?
Não estaremos sonegando a nossos filhos, com nossas irreverências na Liturgia, o próprio tesouro da fé da Igreja?
Sim, tudo isso é verdade, mas lembremo-nos sempre: Deus, como Pai amoroso, só nos castiga porque busca a nossa conversão. Ele não permitiria os males que estamos experimentando, se não quisesse deles extrair um bem muito concreto: a purificação da nossa fé.
Portanto, se a Liturgia de sua paróquia está ruim, se na Missa de que você participa o Cristo parece se despojar totalmente, como fez no Calvário, não deixe nunca de adorá-lo sob as espécies eucarísticas e de fazer-lhe companhia em meio aos verdugos que O maltratam… E não, não se trata de “cruzar os braços”. Se você puder fazer algo, mãos à obra, é claro! O que pudermos realizar, o que estiver ao nosso alcance fazer pelo resgate da Liturgia, façamos, não fiquemos inertes.
Só não caiamos na tentação de trair a fé; de deixar a nossa casa, que é a Igreja; de abandonar nosso Senhor justamente quando Ele mais precisa daqueles que O adorem, em espírito e em verdade.

[1] Joseph Ratzinger. Lembranças da minha vida: autobiografia parcial (1927-1977). 2.ª ed. São Paulo: Paulinas, 2007, pp. 20-21.
[2] Jacques Madaule. Paul Claudel (1868-1955)inConvertidos do século XX. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1966, pp. 132-133.
[3] “Halevy, afamado compositor de óperas, discípulo de Cherubini, diz: ‘Como podem os sacerdotes católicos, possuidores do canto gregoriano, a mais linda melodia religiosa que existe no mundo, permitir nas suas igrejas a pobreza da nossa música moderna?’” (Pe. João Batista Reus. Curso de Liturgia. 3.ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1952, p. 65)


Equipe Christo Nihil Praeponere, 15 de maio de 2019.