sábado, 30 de setembro de 2017

Homilia: XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano A

São João Crisóstomo
Sermão 67 sobre o Evangelho de São Mateus
Novamente o Senhor disputa com eles por meio de parábolas

Então Jesus lhes disse: Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: “Filho, vai trabalhar hoje na vinha!” O filho respondeu: “Não quero”. Mas depois mudou de opinião e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: “Sim, Senhor, eu vou”. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Eles responderam: “O primeiro”. Novamente o Senhor disputa com eles por meio de parábolas, para dar-lhes a entender, por um lado, a ingratidão deles e, por outro lado, a docilidade daqueles mesmos que condenavam categoricamente.
Porque estes dois filhos manifestam o que aconteceu com os judeus e com os gentios. Porque foi assim que os gentios, que não tinham prometido obedecer e nunca ouviram a lei, em suas obras manifestaram sua obediência; e os judeus, que disseram: Tudo quanto o Senhor disser o faremos e obedeceremos, mas em suas obras lhe desobedeceram. Justamente porque não pensaram que a lei lhes serviria para alguma coisa, Ele lhes faz ver que ela seria motivo de maior condenação. O que vem a ser o mesmo que Paulo afirma quando diz: Nem os que ouvem a lei são justos diante de Deus, mas os que cumprem a lei serão justificados. E notemos que, para que sejam eles que se condenem a si mesmos, o Senhor lhes obriga a responder sua pergunta, que era como pronunciar sua própria sentença. O mesmo faz em seguida na parábola da vinha.
Para consegui-lo, põe a culpa em outra pessoa. Como diretamente não o queriam confessar, vai conduzindo-os para onde quer através da parábola. Mas já que eles mesmos, sem entender o que diziam, pronunciavam sua sentença, o Senhor passa a revelar-lhes aquilo que estava como que na sombra e lhes diz: Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele.
Se lhes houvesse dito simplesmente: “As prostitutas vos precedem”, sua palavra teria parecido dura; agora, porém, quando foram eles mesmos que deram a sua sentença, aquela dureza desaparece. Daí que acrescenta também a causa. E que causa é essa? Veio João, diz, a vós, e não a eles. Ainda mais: Veio num caminho de justiça. Por que não acusais a João de ter sido um homem negligente e inútil? Não, sua vida foi irreprovável, e seu zelo extraordinário; e, contudo, não lhe destes atenção. E juntamente com esta outra culpa: que os publicanos lhe deram atenção. E outra ainda: que mesmo depois deles vós não crestes. Porque o seu dever era ter crido antes; mas o não ter crido, mesmo depois, já é pecado que não tem perdão possível.
Grande louvor dos publicanos e maior condenação dos fariseus: “Veio a vós e não recebestes; não veio aos publicanos e o receberam. E nem mesmo a estes quereis por mestres”. Olhem por quantos modos louva alguns e condena a outros: “Veio a vós e não a eles. Vós não crestes, e isto não lhes escandalizou. Eles creram, e isto não foi de vosso proveito”. De outra forma, diz: Vos precedem, não quer dizer que eles sigam, mas sim que, se querem, têm esperança de segui-los. Realmente, nada como a rivalidade desperta as pessoas rudes. Eis porque o Senhor repita a cada passo: Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 222-223. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Clemente de Alexandria para este domingo clicando aqui.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Exaltação da Santa Cruz no Patriarcado de Moscou

No último dia 27 de setembro o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou a Festa da Exaltação da Santa Cruz segundo o calendário juliano, durante sua visita à Metropolia de Astrakhan.

Na véspera, dia 26, o Patriarca celebrou a Vigília da Festa, com o rito da veneração da cruz, na igreja da Mãe de Deus de Kazan:

O Patriarca abençoa os fiéis
Incensação

Evangelho

XXXIV Catequese do Papa sobre a esperança

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 27 de setembro de 2017
Esperança (34): Os inimigos da esperança

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!
Neste tempo falamos sobre a esperança; mas hoje eu gostaria de refletir convosco sobre os inimigos da esperança. Pois a esperança tem os seus inimigos: como cada bem neste mundo, ela tem os seus inimigos.
E veio-me à mente o antigo mito da caixa de Pandora: a abertura da caixa desencadeia muitas desgraças para a história do mundo. No entanto, poucos se recordam da última parte da história, que abre uma espiral de luz: depois que todos os males saíram da caixa, um minúsculo dom parece ter a desforra diante de todo o mal que se propaga. Pandora, a mulher que conservava o jarro, vê-o por último: os gregos chamam-lhe elpís que significa esperança.
Este mito narra-nos por que razão a esperança é tão importante para a humanidade. Não é verdade que “enquanto houver vida, haverá esperança”, como se costuma dizer. Talvez o contrário: é a esperança que mantém em pé a vida, que a protege, que a conserva, que a faz crescer. Se os homens não tivessem cultivado a esperança, se não tivessem sido animados por esta virtude, nunca teriam saído das cavernas, nem teriam deixado vestígios na história do mundo. É o que de mais divino possa existir no coração do homem.
Um poeta francês - Charles Péguy - deixou-nos páginas maravilhosas sobre a esperança (cf. O pórtico do mistério da segunda virtude). Ele diz poeticamente que Deus não se admira tanto com a fé dos seres humanos, e nem sequer com a sua caridade; mas o que realmente o enche de admiração e emoção é a esperança das pessoas: «Que aqueles pobres filhos - escreve - vejam como vão as coisas e que acreditem que será melhor amanhã de manhã». A imagem do poeta evoca o rosto de muitas pessoas que passaram por este mundo - camponeses, pobres operários, migrantes em busca de um futuro melhor - que lutaram tenazmente, não obstante a amargura de um presente difícil, cheio de numerosas provações, mas animada pela confiança de que os filhos teriam uma vida mais justa e mais tranquila. Pelejavam pelos filhos, lutavam na esperança.
A esperança é o impulso no coração de quem parte, deixando a casa, a terra, às vezes familiares e parentes - penso nos migrantes - em busca de uma vida melhor, mais digna para si e para os próprios entes queridos. E é também o ímpeto no coração de quem acolhe: o desejo de se encontrar, de se conhecer, de dialogar... A esperança é o impulso a “compartilhar a viagem”, porque a viagem se faz em dois: aqueles que vêm à nossa terra, e nós que vamos rumo ao seu coração, para os entender, para compreender a sua cultura, a sua língua. É uma viagem em dois, mas sem esperança aquela viagem não se pode realizar. A esperança é o ímpeto a compartilhar a viagem da vida, como nos recorda a Campanha da Cáritas que hoje inauguramos. Irmãos, não tenhamos receio de compartilhar a viagem! Não tenhamos medo! Não temamos compartilhar a esperança!
A esperança não é uma virtude para pessoas de barriga cheia. Eis por que motivo, desde sempre, os pobres são os primeiros portadores de esperança. E neste sentido podemos dizer que os pobres, até os mendigos, são os protagonistas da História. Para entrar no mundo, Deus teve necessidade deles: de José e de Maria, dos pastores de Belém. Na noite do primeiro Natal havia um mundo que dormia, acomodado em tantas certezas adquiridas. Mas em segredo os humildes preparavam a revolução da bondade. Eram totalmente pobres, alguns flutuavam pouco acima do limiar da sobrevivência, mas eram ricos do bem mais precioso que existe no mundo, ou seja, a vontade de mudança.
Por vezes, ter tudo na vida é uma desventura. Pensai num jovem ao qual não foi ensinada a virtude da espera e da paciência, que não teve de suar por nada, que queimou etapas e com vinte anos “já sabe como vai o mundo”; foi destinado à pior condenação: não desejar mais nada. Eis a pior condenação, fechar a porta aos desejos, aos sonhos. Parece um jovem, mas no seu coração o outono já chegou. São os jovens de outono.
Ter uma alma vazia é o pior obstáculo para a esperança. Trata-se de um risco do qual ninguém se pode dizer excluído; porque podemos ser tentados contra a esperança até quando se percorre o caminho da vida cristã. Os monges da antiguidade denunciavam um dos piores inimigos do fervor. Diziam assim: aquele “demônio do meio-dia” que vai debilitar uma vida de compromissos, exatamente quando o sol arde lá no alto. Esta tentação surpreende-nos, quando menos esperamos: os dias tornam-se monótonos e tediosos, quase nenhum valor parece digno de esforço. Esta atitude chama-se preguiça, que corrói a vida a partir de dentro, até a deixar como um invólucro vazio.
Quando isto acontece, o cristão sabe que aquela condição deve ser combatida, nunca aceite passivamente. Deus criou-nos para a alegria e a felicidade, não para nos remoermos em pensamentos melancólicos. Eis por que razão é importante preservar o próprio coração, opondo-nos às tentações de infelicidade, que certamente não derivam de Deus. E quando as nossas forças parecem frágeis e a batalha contra a angústia particularmente árdua, podemos recorrer sempre ao nome de Jesus. Podemos repetir aquela oração simples, da qual encontramos vestígios inclusive nos Evangelhos, e que se tornou o fulcro de muitas tradições espirituais cristãs: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tende piedade de mim, pecador!”. Uma linda oração! “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tende piedade de mim, pecador!”. Trata-se de uma prece de esperança, porque me dirijo Àquele que pode abrir de par em par as portas e resolver o problema e levar-me a fitar o horizonte, o horizonte da esperança.
Irmãos e irmãs, não lutamos sozinhos contra o desespero. Se Jesus venceu o mundo, é capaz de derrotar em nós tudo aquilo que se opõe ao bem. Se Deus estiver conosco, ninguém nos roubará aquela virtude, da qual temos absolutamente necessidade para viver. Ninguém nos furtará a esperança. Vamos em frente!


Fonte: Santa Sé

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Ingresso oficial do Arcebispo de Milão

No último dia 24 de setembro o Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, realizou o ingresso oficial no Duomo de Milão, após haver tomado posse por procuração no último dia 09.

A celebração iniciou-se na Basílica de Santo Eustórgio, onde encontra-se o mais antigo batistério de Milão. O Arcebispo presidiu uma breve celebração da Palavra com os catecúmenos, durante a qual recebeu uma urna contendo terra do cemitério paleo-cristão anexo à Basílica.

Entrada na Basílica
Oração diante do túmulo de Santo Eustórgio 
Entrega da urna com terra das catacumbas
 
Discurso do Arcebispo aos catecúmenos

Ângelus do Papa: XXV Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 24 de setembro de 2017

Bom dia, estimados irmãos e irmãs!
Na página evangélica de hoje (Mt 20,1-16) encontramos a parábola dos operários chamados a trabalhar ao dia, que Jesus narra para comunicar dois aspetos do Reino de Deus: o primeiro, que Deus quer chamar todos a trabalhar para o seu Reino; o segundo, que no final deseja oferecer a todos a mesma recompensa, ou seja, a salvação, a vida eterna.

O senhor da vinha, que representa Deus, sai ao romper da manhã e contrata um grupo de operários, concordando com eles o salário de um denário por dia: era um salário justo. Depois, sai também nas horas seguintes - ele sai cinco vezes naquele dia - até ao cair da tarde, para contratar outros operários que estão desempregados. No final do dia, o senhor ordena que seja dado um denário a todos, até àqueles que tinham trabalhado poucas horas. Naturalmente, os trabalhadores contratados primeiro queixam-se, porque veem que são pagos como aqueles que trabalharam menos. No entanto, o senhor recorda-lhes que receberam quanto tinham concordado; mas, se Ele quiser ser generoso com os demais, não devem sentir inveja.

Na realidade, esta “injustiça” do senhor serve para provocar, em quantos ouvem a parábola, um salto de nível, porque aqui Jesus não quer falar do problema do trabalho, nem do salário justo, mas do Reino de Deus! E a mensagem é esta: no Reino de Deus não existem desempregados, todos são chamados a desempenhar a sua parte; e no final haverá para todos a recompensa que deriva da justiça divina - não humana, por sorte! - ou seja, a salvação que Jesus Cristo nos conquistou com a sua morte e ressurreição. Uma salvação que não é merecida, mas concedida - a salvação é gratuita - e por isso, «os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos» (v. 16).

Com esta parábola, Jesus quer abrir o nosso coração à lógica do amor do Pai, que é gratuito e generoso. Trata-se de nos deixarmos surpreender e fascinar pelos «pensamentos» e pelos «caminhos» de Deus que, como recorda o profeta Isaías, não são os nossos pensamentos, não são os nossos caminhos (cf. Is 55,8). Os pensamentos humanos são muitas vezes marcados por egoísmos e interesses pessoais, e as nossas veredas estreitas e tortuosas não são comparáveis com os caminhos largos e retos do Senhor. Ele é misericordioso - não nos esqueçamos disto: Ele é misericordioso - perdoa amplamente, está cheio de generosidade e de bondade, que derrama sobre cada um de nós, abrindo a todos os territórios ilimitados do seu amor e da sua graça, os únicos que podem conferir ao coração humano a plenitude da alegria.

Jesus quer levar-nos a contemplar o olhar daquele senhor: o olhar com que vê cada um dos operários à espera de um trabalho, chamando-os para a sua vinha. Trata-se de um olhar cheio de atenção e de benevolência; é um olhar que chama, que convida a erguer-se, a pôr-se a caminho, porque deseja a vida para cada um de nós, quer uma vida plena, comprometida, resgatada do vazio e da inércia. Deus não exclui ninguém e quer que cada um alcance a sua plenitude. Este é o amor do nosso Deus, do nosso Deus que é Pai.

Maria Santíssima nos ajude a acolher na nossa vida a lógica do amor, que nos liberta da presunção de merecer a recompensa de Deus e do juízo negativo sobre os outros.


Fonte: Santa Sé

XXXIII Catequese do Papa sobre a esperança

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 20 de setembro de 2017
Esperança (33): Educar para a esperança

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A catequese de hoje tem por tema: “educar para a esperança”. Por isso pronunciá-la-ei diretamente com o “tu”, imaginando que falo como educador, como pai a um jovem ou a qualquer pessoa aberta ao aprendizado.
Pensa, ali onde Deus te semeou, espera! Espera sempre.
Não te rendas à noite: recordas que o primeiro inimigo a vencer não está fora de ti: mas dentro. Por conseguinte, não concedas espaço aos pensamentos amargos, obscuros. Este mundo é o primeiro milagre que Deus realizou, Deus pôs nas nossas mãos a graça de novos prodígios. Fé e esperança procedem juntas. Crê na existência das verdades mais elevadas e bonitas. Confia no Deus Criador, no Espírito Santo que move tudo para o bem, no abraço de Cristo que espera cada homem no final da sua existência; crê, Ele espera-te. O mundo caminha graças ao olhar de tantos homens que abriram frestas, que construíram pontes, que sonharam e acreditaram; até quando ao redor deles ouviam palavras de escárnio.
Nunca penses que a luta que enfrentas na terra seja totalmente inútil. No final da existência não nos espera um naufrágio: em nós palpita uma semente de absoluto. Deus não desilude: se pôs uma esperança nos nossos corações, não a quer esmagar com frustrações contínuas. Tudo nasce para florescer numa primavera eterna. Também Deus nos criou para florescermos. Recordo aquele diálogo, quando o carvalho pediu à amendoeira: “Fala-me de Deus”. E a amendoeira floresceu.
Onde quer que estejas, constrói! Se estás no chão, levanta-te! Nunca permaneças caído, levanta-te, deixa-te ajudar para ficares em pé. Se estás sentado, começa a caminhar! Se o tédio te paralisa, derrota-o com as obras de bem! Se te sentes vazio ou desmoralizado, pede que o Espírito Santo possa encher de novo a tua carência.
Exerce a paz no meio dos homens e não escutes a voz de quem espalha ódio e divisões. Não escutes essas vozes. Os seres humanos, por mais que sejam diversos uns dos outros, foram criados para viver juntos. Nos contrastes, paciência: um dia descobrirás que cada um é depositário de um fragmento de verdade.
Ama as pessoas. Ama-as uma por uma. Respeita o caminho de todos, linear ou complicado que seja, porque cada um tem uma história para contar. Também cada um de nós tem a própria história para contar. Cada criança que nasce é a promessa de uma vida que de novo se demonstra mais forte do que a morte. Cada amor que brota é um poder de transformação que anseia pela felicidade.
Jesus entregou-nos uma luz que brilha nas trevas: defende-a, protege-a. Aquela luz única é a maior riqueza confiada à tua vida.
E sobretudo, sonha! Não tenhas medo de sonhar. Sonha! Sonha um mundo que ainda não se vê mas que certamente chegará. A esperança leva-nos a crer na existência de uma criação que se estende até ao seu cumprimento definitivo, quando Deus será tudo em todos. Os homens capazes de imaginação ofereceram ao homem descobertas científicas e tecnológicas. Sulcaram os oceanos, calcaram terras que ninguém jamais tinha pisado. Os homens que cultivaram esperanças são os mesmos que venceram a escravidão, e proporcionaram condições melhores de vida nesta terra. Pensai nestes homens.
Sê responsável por este mundo e pela vida de cada homem. Pensa que cada injustiça contra um pobre é uma ferida aberta, e diminui a tua dignidade. A vida não cessa com a tua existência, e neste mundo virão outras gerações que sucederão à nossa e muitas outras ainda. E todos os dias pede a Deus o dom da coragem. Recorda-te que Jesus venceu o medo por nós. Ele venceu o medo! O nosso inimigo mais pérfido nada pode contra a fé. E quando te encontrares amedrontado diante de alguma dificuldade da vida, recorda-te que não vives só por ti mesmo. No Batismo a tua vida já foi imersa no mistério da Trindade e tu pertences a Jesus. E se um dia te assustares, ou pensares que o mal é demasiado grande para ser derrotado, pensa simplesmente que Jesus vive em ti. E é Ele que, através de ti, com a sua mansidão quer submeter todos os inimigos do homem: o pecado, o ódio, o crime, a violência; todos os nossos inimigos.
Tem sempre a coragem da verdade, mas recorda-te: não és superior a ninguém. Recorda-te disto: não és superior a ninguém. Se tivesses permanecido o último a crer na verdade, não fujas por causa disso da companhia dos homens.
Mesmo se vivesses no silêncio de uma ermida, conserva no coração os sofrimentos de cada criatura. És cristão; e na oração restituis tudo a Deus.
Cultiva ideais. Vive por algo que supera o homem. E mesmo se um dia estes ideais apresentarem uma conta alta a pagar nunca deixes de os conservar no coração. A fidelidade obtém tudo.
Se erras, levanta-te: nada é mais humano do que cometer erros. E aqueles mesmos erros não se devem tornar para ti uma prisão. Não fiques preso nos teus erros. O Filho de Deus veio não para os sadios, mas para os doentes: portanto, veio também para ti. E se errares ainda no futuro, não temas, levanta-te! Sabes porquê? Porque Deus é teu amigo.
Se a amargura te atinge, crê firmemente em todas as pessoas que ainda trabalham pelo bem: na sua humildade está a semente de um mundo novo. Frequenta pessoas que conservaram o coração como o de uma criança. Aprende da maravilha, cultiva a admiração.
Vive, ama, sonha, crê. E, com a graça de Deus, nunca te desesperes.


Fonte: Santa Sé

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Ângelus do Papa: XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 17 de setembro de 2017

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O trecho evangélico deste domingo (Mt 18,21-35) oferece-nos um ensinamento sobre o perdão, que não nega a ofensa sofrida mas reconhece que o ser humano, criado à imagem de Deus, é sempre maior que o mal que ele comete. São Pedro pergunta a Jesus: «Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? (v. 21). Para Pedro parece ser já o máximo perdoar sete vezes a uma mesma pessoa; e talvez a nós pareça ser já muito perdoar duas vezes. Mas Jesus responde: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (v. 22), isto é, sempre: deves perdoar sempre. E confirma isto narrando a parábola do rei misericordioso e do servo impiedoso, na qual mostra a incoerência daquele que antes foi perdoado e depois se recusa a perdoar.

O rei da parábola é um homem generoso que, movido pela compaixão, perdoou-lhe uma dívida enorme - “dez mil talentos”: enorme - a um servo que o suplica. Mas aquele mesmo servo, ao encontrar logo a seguir outro servo como ele que lhe deve cem denários - ou seja, muito menos -, comporta-se de forma impiedosa, fazendo-o fechar na prisão. A atitude incoerente deste servo é também a nossa quando recusamos o perdão aos nossos irmãos. Enquanto o rei da parábola é a imagem de Deus que nos ama de um amor tão rico de misericórdia a ponto de nos acolher, amar e perdoar constantemente.

Desde o nosso Batismo Deus nos perdoou, condenando-nos a uma dívida insolúvel: o pecado original. Mas, isto acontece a primeira vez. Depois, com uma misericórdia sem limites, Ele perdoa-nos todas as culpas quando mostramos só um pequeno sinal de arrependimento. Deus é assim: misericordioso.
Quando somos tentados a fechar o nosso coração a quem nos ofendeu e nos pede desculpa, lembremo-nos das palavras do Pai celeste ao servo impiedoso: «Eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?» (vv. 32-33). Qualquer pessoa que tenha experimentado a alegria, a paz e a liberdade interior que vem do ser perdoado pode abrir-se por sua vez à possibilidade de perdoar.

Na oração do Pai-Nosso, Jesus quis inserir o mesmo ensinamento desta parábola. Pôs em relação direta o perdão que pedimos a Deus com o perdão que devemos conceder aos nossos irmãos: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam» (Mt 6,12). O perdão de Deus é o sinal do seu amor transbordante para cada um de nós: é o amor que nos deixa livres de nos afastar, como o filho pródigo, mas que espera todos os dias o nosso regresso; é o amor audaz do pastor pela ovelha perdida; é a ternura que acolhe cada pecador que bate à sua porta. O Pai celeste - nosso Pai - está cheio, cheio de amor e quer oferecê-lo a nós, mas não o pode fazer se fecharmos o nosso coração ao amor pelos outros.

A Virgem Maria nos ajude a estar cada vez mais cientes da gratuidade e da grandiosidade do perdão recebido de Deus, para nos tornarmos misericordiosos como Ele, Pai bom, lento para a ira e grande no amor.


Fonte: Santa Sé.

Rito da Nivola em Milão

Como é tradição na Arquidiocese de Milão, no sábado mais próximo à Festa da Exaltação da Santa Cruz, celebra-se o rito da Nivola, isto é, a exposição da relíquia do Santo Chiodo durante a oração das Vésperas no Duomo.

Este ano o rito ocorreu no dia 16 de setembro, presidido pelo Arcipreste do Duomo, Monsenhor Gianantonio Borgonovo.

Exposição do Santo Chiodo





Festa da Exaltação da Santa Cruz em Jerusalém

No último dia 14 de setembro, Festa da Exaltação da Santa Cruz, o Vigário da Custódia da Terra Santa, Padre Dobromir Jasztal, celebrou a Santa Missa na Capela do Calvário na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém.

No final da Missa foi exposta a relíquia da Santa Cruz, que pode ser venerada pelos fiéis.

Procissão de entrada
Incensação
Leitura
Evangelho
Homilia

domingo, 24 de setembro de 2017

Homilia: XXV Domingo do Tempo Comum - Ano A

Santo Efrém
Diatessaron 15
Seja qual for o momento de sua conversão, todo homem é acolhido

Estes homens queriam trabalhar, porém “ninguém os contratou”; eram trabalhadores, mas ociosos por falta de trabalho e de Senhor. Em seguida uma voz lhes contratou, uma palavra os colocou no caminho e, em seu zelo, não combinaram o preço de seu trabalho como fizeram os primeiros. O Senhor avaliou seu trabalho com prudência e lhes pagou tanto como aos demais.
Nosso Senhor pronunciou esta parábola para que ninguém diga: “Visto que não fui chamado quando era jovem, não posso ser recebido”. Ensinou que, seja qual for o momento de sua conversão, todo homem é acolhido. Saiu ao amanhecer, ao meio da manhã, ao meio-dia, no meio da tarde e ao final da tarde: com o que dá a entender desde o início de sua pregação, depois ao longo de sua vida até a cruz porque é “à hora undécima” que o ladrão entrou no paraíso. Para que ninguém reclame do ladrão, nosso Senhor afirma sua boa vontade; se lhe tivessem contratado antes, teria trabalhado: Ninguém nos contratou.
Aquilo que damos a Deus é muito pouco digno dele, e o que Ele nos dá é muito superior a nós. Somos contratados para um trabalho proporcionado às nossas forças, porém nos propõe um salário muito acima do que o nosso trabalho merece... Trata-se da mesma aos primeiros e aos últimos; receberam um denário cada um com a imagem do rei. Tudo isso significa o Pão da vida que é o mesmo para todos; é único o remédio de vida para aqueles que o comem.
No trabalho da vinha não se pode reprovar ao Senhor sua bondade, e nada tem a se dizer de sua retidão. Segundo sua retidão dava como achava justo, e, segundo sua bondade, mostra a sua misericórdia como quer. É para dar-nos este ensinamento que nosso Senhor disse esta parábola, e a resumiu com estas palavras: Eu não tenho liberdade para fazer o que quiser em meus assuntos?


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, p. 221. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Agostinho para este domingo clicando aqui.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Catequese do Papa: A viagem à Colômbia

Papa Francisco
Audiência Geral
Praça São Pedro
Quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Como sabeis, nos dias passados realizei a viagem apostólica à Colômbia. De todo o coração dou graças ao Senhor por este grande dom; e desejo renovar a expressão do meu reconhecimento ao Senhor Presidente da República, que me recebeu com tanta cortesia, aos Bispos colombianos que muito trabalharam - para preparar esta visita, assim como às Autoridades do país, e a quantos colaboraram com a realização desta visita. Transmito um agradecimento especial ao povo colombiano que me acolheu com muito afeto e tanta alegria! Um povo jubiloso entre os muitos sofrimentos, mas alegre; um povo com esperança. Um dos aspetos que mais me impressionaram em todas as cidades, no meio da multidão, foram os pais e as mães com os filhos, que os erguiam para que o Papa os abençoasse, mas também com orgulho mostravam os próprios filhos como se dissessem: “Este é o nosso orgulho! Esta é a nossa esperança”. Pensei: um povo capaz de ter filhos e de os mostrar com orgulho, como esperança: este povo tem futuro. Gostei muito disto.
De modo particular nesta viagem senti a continuidade com os dois Papas que antes de mim visitaram a Colômbia: o beato Paulo VI, em 1968, e São João Paulo II, em 1986. Uma continuidade fortemente animada pelo Espírito, que guia os passos do povo de Deus nos caminhos da história.
O lema da viagem foi “Demos el primer paso”, isto é, “Demos o primeiro passo”, referido ao processo de reconciliação que a Colômbia vive para sair de meio século de conflito interno, que semeou sofrimentos e inimizades, causando tantas feridas, difíceis de cicatrizar. Mas com a ajuda de Deus o caminho já começou. Com a minha visita quis abençoar o esforço daquele povo, confirmá-lo na fé e na esperança, e receber o seu testemunho, que é uma riqueza para o meu ministério e para toda a Igreja. O testemunho deste povo é uma riqueza para toda a Igreja.
A Colômbia - como a maior parte das nações latino-americanas - é um país no qual as raízes cristãs são fortíssimas. E se este fato torna ainda mais aguda a dor pela tragédia da guerra que o dilacerou, ao mesmo tempo constitui a garantia da paz, o firme fundamento da sua reconstrução, a linfa da sua esperança invencível. É evidente que o maligno quis dividir o povo para destruir a obra de Deus, mas também é evidente que o amor de Cristo, a sua infinita Misericórdia é mais forte do que o pecado e a morte.
Esta viagem levou a bênção de Cristo, a bênção da Igreja ao desejo de vida e de paz que transborda do coração daquela nação: pude observar isto nos olhos dos milhares e milhares de crianças, adolescentes e jovens que encheram a praça de Bogotá e que encontrei em toda parte; aquela força de vida que também a própria natureza proclama com a sua exuberância e a sua biodiversidade. A Colômbia é o segundo país do mundo pela biodiversidade. Em Bogotá pude encontrar-me com os Bispos do país e também com o Comité Diretivo da Conferência Episcopal Latino-americana. Dou graças a Deus por os ter podido abraçar e lhes ter dado o meu encorajamento pastoral, para a sua missão ao serviço da Igreja, sacramento de Cristo nossa paz e nossa esperança.
O dia dedicado de modo particular ao tema da reconciliação, momento culminante de toda a viagem, foi realizado em Villavicencio. Na parte da manhã houve a grande celebração eucarística, com a beatificação dos mártires Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, bispo, e Pedro María Ramírez Ramos, sacerdote; à tarde, a especial Liturgia de Reconciliação, simbolicamente orientada para o Cristo de Bocayá, sem braços nem pernas, mutilado como o seu povo.
A beatificação dos dois mártires recordou plasticamente que a paz se funda também e talvez sobretudo, no sangue de tantas testemunhas do amor, da verdade, da justiça, e de mártires verdadeiros, assassinados pela fé, como os dois que acabei de citar. Ouvir as suas biografias foi comovedor até às lágrimas: lágrimas de dor e de alegria ao mesmo tempo. Diante das relíquias e das suas imagens, o santo povo fiel de Deus sentiu com força a própria identidade, com dor, pensando nas muitas, demasiadas vítimas, e com alegria, pela misericórdia de Deus que se estende sobre os que o temem (cf. Lc 1,50).
«Misericórdia e verdade encontrar-se-ão, / justiça e paz beijar-se-ão» (Sl 85,11), escutámos no início. Este versículo do salmo contém a profecia do que aconteceu deveras na última sexta-feira na Colômbia; a profecia e a graça de Deus por aquele povo ferido, a fim de que possa ressurgir e caminhar numa vida nova. Vimos estas palavras proféticas cheias de graça encarnadas nas histórias das testemunhas, que falaram em nome de muitos e muitos que, a partir das suas feridas, com a graça de Cristo, saíram de si mesmos e abriram-se ao encontro, ao perdão, à reconciliação.
Em Medellín a perspectiva foi a da vida cristã como discipulado: a vocação e a missão. Quando os cristãos se esforçam até ao fim no caminho do seguimento de Jesus Cristo, tornam-se deveras sal, luz e fermento no mundo, e veem-se frutos abundantes. Um destes frutos são os Hogares, isto é as casas onde crianças e adolescentes feridos pela vida podem encontrar uma nova família na qual são amados, acolhidos, protegidos e acompanhados. Outros frutos, abundantes como cachos, são as vocações à vida sacerdotal e consagrada, que pude abençoar e encorajar com alegria num encontro inesquecível com os consagrados e os seus familiares.
Por fim, em Cartagena, a cidade de São Pedro Claver, apóstolo dos escravos, o “focus” foi sobre a promoção da pessoa humana e dos seus direitos fundamentais. São Pedro Claver, e também mais recentemente santa Maria Bernarda Bütler, deram a vida pelos mais pobres e marginalizados, mostrando assim a via da verdadeira revolução, a evangélica, não ideológica, que liberta deveras as pessoas e as sociedades das escravidões de ontem e, infelizmente, também de hoje. Neste sentido, “dar o primeiro passo” - o lema da viagem - significa aproximar-se, inclinar-se, tocar a carne do irmão ferido e abandonado. E fazê-lo com Cristo, o Senhor que se tornou escravo por nós. Graças a Ele há esperança, porque Ele é a misericórdia e a paz.
Novamente confio a Colômbia e o seu amado povo à Mãe, Nossa Senhora de Chiquinquirá, que pude venerar na catedral de Bogotá. Com a ajuda de Maria, cada colombiano todos os dias possa dar o primeiro passo em direção do irmão e da irmã, e assim construir juntos, dia após dia, a paz no amor, na justiça e na verdade.


Fonte: Santa Sé

Exéquias do Cardeal Cormac Murphy-O'Connor

No último dia 13 de setembro foi celebrada na Catedral do Preciosíssimo Sangue em Londres a Missa Exequial do Cardeal Cormac Murphy-O'Connor, Arcebispo Emérito de Westminster, falecido no dia 01 de setembro.

Na tarde do dia anterior foram celebradas as Vésperas do Comum dos Defuntos. Tanto a oração das Vésperas quanto a Missa foram presididas pelo atual Arcebispo, Cardeal Vincent Nichols.

Dia 12: Vésperas

Procissão de entrada 
Salmodia
Leitura breve
Homilia: Dom Bernard Longley

Imposição do pálio ao Arcebispo de Milão

No último dia 12 de setembro, Memória do Santíssimo Nome de Maria, o Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, que tomou posse oficialmente no dia 09, recebeu o pálio das mãos do seu antecessor, o Cardeal Angelo Scola, no Santuário de São Pedro.

O Papa Francisco nomeou o Cardeal Scola seu Legado para esta cerimônia, que antecede o ingresso oficial do novo Arcebispo no próximo dia 24, tendo em vista as particularidades do Rito Ambrosiano, do qual o Arcebispo de Milão é o hierarca.

Procissão de entrada 
Palavras do Cardeal Scola, Arcebispo Emérito
Dom Delpini faz a profissão de fé 
Imposição do pálio 
Palavras de Dom Mario Delpini

Imagens: Chiesa di Milano

Motu Proprio Magnum Principium sobre a tradução dos textos litúrgicos

Recentemente o Papa Francisco promulgou o Motu Proprio Magnum Principium ("O grande princípio"), que modifica o cân. 838 do Código de Direito Canônico, um dos mais importantes sobre a Liturgia. Especificamente, o Motu Proprio altera algumas normas referentes à tradução dos textos litúrgicos.

Segue o texto do documento na íntegra e duas notas explicativas que o acompanham, publicadas pela própria Santa Sé:

Sumo Pontífice Francisco
Carta Apostólica em Forma de «Motu Proprio» “Magnum Principium
Com a qual modificou o cân. 838 do Código de Direito Canônico

O importante princípio, confirmado pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, segundo o qual a oração litúrgica, adaptada à compreensão do povo, possa ser assimilada, exigiu uma importante tarefa, confiada aos Bispos, de introduzir a língua vulgar na liturgia e de preparar e aprovar as versões dos livros litúrgicos.
A Igreja Latina estava ciente do enorme sacrifício da perda parcial da própria língua, usada em todo o mundo ao longo dos séculos, mas contudo abriu de bom grado a porta para que as versões, como partes dos próprios ritos, se tornassem voz da Igreja que celebra os mistérios divinos, juntamente com a língua latina.
Ao mesmo tempo, especialmente depois das várias opiniões expressas de modo claro pelos Padres Conciliares relativamente ao uso da língua vulgar na liturgia, a Igreja estava ciente das dificuldades que se poderiam apresentar em relação a esta matéria. Por um lado, era preciso unir o bem dos fiéis de qualquer idade e cultura e o seu direito a uma participação consciente e ativa nas celebrações litúrgicas com a unidade substancial do Rito Romano; por outro, as mesmas línguas vulgares muitas vezes só de maneira progressiva teriam podido tornar-se línguas litúrgicas, esplendorosas não diversamente do latim litúrgico por elegância de estilo e pela gravidade dos conceitos a fim de alimentar a fé.
Era isto que visavam algumas Leis litúrgicas, Instruções, Cartas circulares, indicações e confirmações dos livros nas línguas vernáculas emanadas pela Sé Apostólica já na época do Concílio, e isto tanto antes como depois das leis estabelecidas no Código de Direito Canónico. Os critérios indicados foram e permanecem em linha geral úteis e, na medida do possível, deverão ser seguidos pelas Comissões litúrgicas como instrumentos adequados a fim de que, na grande variedade de línguas, a comunidade litúrgica possa alcançar um estilo expressivo adequado e congruente com cada uma das partes, mantendo a integridade e a fidelidade cuidadosa, sobretudo na tradução de alguns textos de maior importância em cada livro litúrgico.
O texto litúrgico, enquanto sinal ritual, é meio de comunicação oral. Mas para os crentes que celebram os ritos sagrados, também a palavra é um mistério: com efeito, quando são proferidas as palavras, em particular quando se lê a Sagrada Escritura, Deus fala aos homens, o próprio Cristo no Evangelho fala ao seu povo que, por si ou através do celebrante, com a oração responde ao Senhor no Espírito Santo.
A finalidade das traduções dos textos legislativos e dos textos bíblicos, para a liturgia da palavra, é anunciar aos fiéis a palavra de salvação em obediência à fé e exprimir a oração da Igreja ao Senhor. Com este objetivo é preciso comunicar fielmente a um determinado povo, através da sua língua, o que a Igreja pretendeu comunicar a outro por meio da língua latina. Mesmo se a fidelidade nem sempre pode ser julgada por simples palavras mas no contexto de toda a ação da comunicação e segundo o próprio género literário, contudo alguns termos peculiares devem ser considerados também no contexto da íntegra fé católica, dado que cada tradução dos textos litúrgicos deve ser congruente com a sã doutrina.
Não nos devemos admirar que, durante este longo percurso de trabalho, tenham surgido dificuldades entre as Conferências Episcopais e a Sé Apostólica. Para que as decisões do Concílio acerca do uso das línguas vulgares na liturgia possam ser válidas também no futuro, é extremamente necessária uma constante colaboração cheia de confiança recíproca, vigilante e criativa, entre as Conferências Episcopais e o Dicastério da Sé Apostólica que exerce a tarefa de promover a sagrada Liturgia, ou seja, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Por isso, a fim de que a renovação de toda a vida litúrgica continue, pareceu oportuno que alguns princípios transmitidos desde o tempo do Concílio sejam reafirmados e postos em prática de maneira mais clara.
Sem dúvida, deve-se prestar atenção à utilidade e ao bem dos fiéis, e não se deve esquecer o direito e o encargo das Conferências Episcopais que, juntamente com as Conferências Episcopais de regiões que têm a mesma língua e com a Sé Apostólica, devem garantir e estabelecer que, salvaguardada a índole de cada língua, seja dado plena e fielmente o sentido do texto original e que os livros traduzidos, até depois das adaptações, resplandeçam sempre pela unidade ao Rito Romano.
Para tornar mais fácil e frutuosa a colaboração entre a Sé Apostólica e as Conferências Episcopais neste serviço que deve ser prestado aos fiéis, disponho, com a autoridade a mim confiada, que a disciplina canónica atualmente vigente no cân. 838 do C.I.C. seja tornada mais clara, para que, segundo quanto expresso na Constituição Sacrosanctum concilium, em particular nos artigos 36 §§ 3.4, 40 e 63, e na Carta Apostólica Motu Proprio Sacram Liturgiam, n. IX, seja mais clara a competência da Sé Apostólica acerca das traduções dos livros litúrgicos e das adaptações mais profundas, entre as quais se podem incluir também eventuais novos textos a serem inseridos neles, estabelecidos e aprovados pelas Conferências Episcopais.
Neste sentido, no futuro o cân. 838 será lido como segue:
Cân. 838 - § 1. Regular a sagrada liturgia depende unicamente da autoridade da Igreja: isto compete propriamente à Sé Apostólica e, por norma de direito, ao Bispo diocesano.
§ 2. É da competência da Sé Apostólica ordenar a sagrada liturgia da Igreja universal, publicar os livros litúrgicos, rever [1] as adaptações aprovadas segundo a norma do direito da Conferência Episcopal, assim como vigiar para que as normas litúrgicas sejam fielmente observadas em toda a parte.
§ 3. Compete às Conferências Episcopais preparar fielmente as versões dos livros litúrgicos nas línguas correntes, convenientemente adaptadas dentro dos limites definidos, aprová-las e publicar os livros litúrgicos, para as regiões de sua pertinência, depois da confirmação da Sé Apostólica.
§ 4. Ao Bispo diocesano na Igreja a ele confiada compete, dentro dos limites da sua competência, estabelecer normas em matéria litúrgica, as quais todos devem respeitar.
Por consequência devem ser interpretados quer o art. 64 § 3 da Constituição Apostólica Pastor bonus quer as outras leis, em particular as que estão contidas nos livros litúrgicos, acerca das suas versões. De igual modo disponho que a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos modifique o próprio “Regulamento” com base na nova disciplina e ajude as Conferências Episcopais a desempenhar a sua tarefa e se comprometa a promover cada vez mais a vida litúrgica da Igreja Latina.
Quanto deliberado com esta Carta apostólica em forma de “motu proprio”, ordeno que tenha vigor firme e estável, não obstante qualquer coisa contrária mesmo se digna de especial menção, e que seja promulgado através da publicação em L’Osservatore Romano, entrando em vigor a 1 de outubro de 2017, e publicado nas Acta Apostolicae Sedis.
Dado em Roma, junto de São Pedro a 3 de setembro de 2017 quinto do meu Pontificado.

Francisco 

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Missas de Nossa Senhora: Maria, porta do céu

46. Bem-aventurada Virgem Maria, porta do céu
(Para o Tempo Comum)

Introdução
Este último formulário da Coletânea das Missas de Nossa Senhora celebra a Virgem Maria, que acompanha seus filhos em sua caminhada para a pátria definitiva.
Nesta Missa, como em toda Celebração Eucarística, somos chamados a contemplar “a cidade santa, a nova Jerusalém...vestida qual esposa enfeitada para o seu marido” (Ap 21,2). Esta condição futura da Igreja já realizou-se em Maria, esposa virgem, sem ruga e sem mancha (cf. Ef 5,27).
Recordamos primeiramente Cristo, a quem o Pai constituiu “porta da salvação e da vida” (Coleta; cf. Jo 10,7), “porta do perdão sempre aberta” (Prefácio): por Ele se abriram para nós “as portas da cidade celeste” (Coleta).
A Maria é aplicada a imagem da porta em vista de sua função como “nova Eva”: Maria “é a Virgem humilde, que nos abriu pela sua fé a porta da vida eterna, que Eva fechara pela sua incredulidade” (Prefácio). Ainda no Prefácio, a Virgem é comparada à porta do Templo, que só se abriu para acolher o Senhor: uma clara alusão à sua maternidade virginal. Ela é a “excelsa porta da vida”, pela qual nasceu o Salvador (Sobre as oferendas), “porta radiante de luz”, pela qual refulgiu para nós Cristo, luz do mundo (Antífona de Comunhão).
Por fim, se recorda a intercessão de Maria, que continuamente suplica a Deus que se abra para nós “a feliz porta do céu” (Oração após a Comunhão).

Antífona de entrada
Ave Virgem, grávida do Verbo Encarnado!
Porta do paraíso, dando Deus ao mundo,
nos abristes o caminho do céu.

Oração do dia
Ó Deus, que constituístes benignamente vosso Filho porta da salvação e da vida, concedei, nós vos pedimos, que vindo em nosso auxílio a Virgem Maria, permaneçamos fieis ao amor de Cristo, e se nos abram as portas da cidade celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Oração sobre as oferendas*
Nós vos apresentamos, Senhor, o sacramento da unidade e da paz, ao celebrarmos a memória gloriosa da Virgem Maria, excelsa porta da vida, da qual nasceu a salvação do mundo, Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina para sempre.

Prefácio
Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o tempo e lugar, Senhor Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso, e cantar os vossos louvores, ao celebrarmos a memória da Santa Virgem Maria.
Ela é a Virgem Mãe, prefigurada pela porta oriental do templo: por ela passou o Senhor, só para Ele se abriu e permaneceu fechada. Ela é a Virgem humilde, que nos abriu pela sua fé a porta da vida eterna, que Eva fechara pela sua incredulidade. Ela é a Virgem suplicante, que intercede continuamente pelos pecadores, para que se convertam ao seu Filho, fonte perene de graça e porta do perdão sempre aberta.
Por Ele, com a multidão dos anjos que adoram a vossa majestade e se alegram eternamente na vossa presença, proclamamos a vossa glória, cantando (dizendo):

Antífona de Comunhão
Bendita sejais, ó Virgem Maria, porta radiante de luz,
por vós refulgiu Cristo, luz do mundo.

Oração após a Comunhão
Restaurados, Senhor, pelos sacramentos e suas alegrias, nós vos rogamos suplicantes, por intercessão da santa Virgem Maria, da qual nasceu para o mundo o Salvador, desçam sobre nós os dons da graça celeste, e se nos abra a feliz porta do céu. Por Cristo, nosso Senhor.

Leitura: Ap 21,1-5a (“Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu”)
Salmo: Sl 121, 1-2.3-4.8-9 (R: cf. v. 1b)
Evangelho: Mt 25,1-13 (“O noivo está chegando: ide ao seu encontro”)

*Na oração sobre as oferendas a Coletânea apresenta a conclusão “Ele que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo”. Porém, esta conclusão é própria das coletas. Aqui o correto é utilizar “Ele que vive e reina para sempre”, como indica a IGMR, n. 77. A Coletânea apresenta ainda uma segunda conclusão para a oração, “Por Cristo, nosso Senhor”, que nós omitimos aqui. Além disso, a tradução omitiu o pedido da oração, necessitando de uma completa revisão.


Fonte:
Lecionário para Missas de Nossa Senhora. Edições CNBB: Brasília, 2016, pp. 190-192.
Missas de Nossa Senhora. Edições CNBB: Brasília, 2016, pp. 231-234.

Missas de Nossa Senhora: Maria, Rainha da paz

45. Bem-aventurada Virgem Maria, Rainha da paz
(Para o Tempo Comum)

Introdução
Dada a estreita relação da Virgem Maria com seu Filho, “Príncipe da paz” (Is 9,6), ela com razão é invocada em muitos lugares e institutos religiosos como “Rainha da paz”. O Papa Bento XV, em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, acrescentou este título à Ladainha de Nossa Senhora.
Nesta Missa, celebra-se a cooperação de Maria no mistério da reconciliação entre Deus e os homens, realizada por Jesus Cristo. A Virgem coopera neste mistério através da Encarnação, pois ela “concebeu no seio virginal o Príncipe da paz” (Prefácio), aos pés da cruz, na qual Cristo “pacificou com o seu sangue todo o universo” (idem), e na espera do Espírito de unidade e de paz.
Ao mesmo tempo, nesta Missa se pede a intercessão de Maria, a fim de que Deus conceda-nos permanecer “unidos pelo amor fraterno” (Coleta), vivendo em tranquilidade “para na paz formarmos uma só família” (idem).
As orações, a exceção do prefácio, são tomadas do Próprio da Diocese de Savona-Noli (Itália).

Antífona de entrada (Is 9,6)
Um menino nasceu para nós,
um Filho nos foi dado:
será chamado “Príncipe da paz”

Oração do dia
Ó Deus, que por vosso Filho unigênito quisestes dar com abundância a paz aos homens, concedei, por intercessão da sempre Virgem Maria, a desejada tranquilidade aos nossos tempos, para na paz formarmos uma só família e permanecermos sempre unidos pelo amor fraterno. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Oração sobre as oferendas
Nós vos apresentamos, Senhor, o sacrifício da reconciliação, venerando devotamente a sempre Virgem Maria, Rainha da paz, e pedimos que vos digneis conceder à vossa família os dons da unidade e da paz. Por Cristo, nosso Senhor.

Prefácio
Na verdade, Pai santo, é nosso dever dar-vos graças, é nossa salvação dar-vos glória, em todo o tempo e lugar, e nesta celebração da bem-aventurada Virgem Maria engrandecer-vos com dignos louvores.
Ela é a vossa humilde serva, que pelas palavras de Gabriel recebeu o anúncio e concebeu no seio virginal o Príncipe da paz, Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso. Ela é a mãe fiel, que firme esteve de pé junto à cruz, onde seu Filho consumou a nossa salvação, pacificando com o seu sangue todo o universo. Ela é a discípula de Cristo e Rainha da paz, que, em oração com os Apóstolos, esperou o Prometido do Pai, o Espírito da unidade e da paz, do amor e da alegria.
Por isso, com todos os santos e anjos, vos louvamos sem cessar, cantando (dizendo):

Antífona de Comunhão
A Virgem concebe a Cristo, Deus e homem verdadeiro.
Deus trouxe-nos a paz,
reconciliando consigo o céu e a terra.

Oração após a Comunhão*
Dai-nos com largueza, Senhor, o espírito de amor, para que, restaurados pelo Corpo e Sangue de vosso Filho Unigênito, ao celebrarmos a memória da Virgem Maria, Rainha da paz, fomentemos eficazmente entre nós a paz que Ele mesmo nos deixou. Por Cristo, nosso Senhor.

Leitura: Is 9,1-3.5-6 (“O nome que lhe foi dado é... Príncipe da paz”)
Salmo: Sl 84,9ab-10.11-12.13-14 (R: cf. v. 9)
Evangelho: Lc 1,26-38 (Anunciação)

*Na oração após a Comunhão a Coletânea apresenta a conclusão “Por nosso Senhor Jesus Cristo...”. Porém, esta conclusão é própria das coletas. Aqui o correto é utilizar “Por Cristo, nosso Senhor”, como indica a IGMR, n. 89.


Fonte:
Lecionário para Missas de Nossa Senhora. Edições CNBB: Brasília, 2016, pp. 187-189.
Missas de Nossa Senhora. Edições CNBB: Brasília, 2016, pp. 227-229.