São João Crisóstomo
Sermão 67 sobre o Evangelho de São Mateus
Novamente
o Senhor disputa com eles por meio de parábolas
Então Jesus lhes
disse: Que vos parece? Um homem tinha
dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: “Filho, vai trabalhar hoje na
vinha!” O filho respondeu: “Não quero”. Mas depois mudou de opinião e foi. O
pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: “Sim,
Senhor, eu vou”. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Eles
responderam: “O primeiro”. Novamente o Senhor disputa com eles por meio de
parábolas, para dar-lhes a entender, por um lado, a ingratidão deles e, por
outro lado, a docilidade daqueles mesmos que condenavam categoricamente.
Porque estes
dois filhos manifestam o que aconteceu com os judeus e com os gentios. Porque
foi assim que os gentios, que não tinham prometido obedecer e nunca ouviram a
lei, em suas obras manifestaram sua obediência; e os judeus, que disseram: Tudo quanto o Senhor disser o faremos e
obedeceremos, mas em suas obras lhe desobedeceram. Justamente porque não
pensaram que a lei lhes serviria para alguma coisa, Ele lhes faz ver que ela
seria motivo de maior condenação. O que vem a ser o mesmo que Paulo afirma
quando diz: Nem os que ouvem a lei são
justos diante de Deus, mas os que cumprem a lei serão justificados. E
notemos que, para que sejam eles que se condenem a si mesmos, o Senhor lhes
obriga a responder sua pergunta, que era como pronunciar sua própria sentença.
O mesmo faz em seguida na parábola da vinha.
Para
consegui-lo, põe a culpa em outra pessoa. Como diretamente não o queriam
confessar, vai conduzindo-os para onde quer através da parábola. Mas já que
eles mesmos, sem entender o que diziam, pronunciavam sua sentença, o Senhor
passa a revelar-lhes aquilo que estava como que na sombra e lhes diz: Em verdade vos digo que os cobradores de
impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até
vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores
de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos
arrependestes para crer nele.
Se lhes houvesse
dito simplesmente: “As prostitutas vos precedem”, sua palavra teria parecido
dura; agora, porém, quando foram eles mesmos que deram a sua sentença, aquela
dureza desaparece. Daí que acrescenta também a causa. E que causa é essa? Veio João, diz, a vós, e não a eles. Ainda mais: Veio num caminho de justiça. Por que não acusais a João de ter sido
um homem negligente e inútil? Não, sua vida foi irreprovável, e seu zelo
extraordinário; e, contudo, não lhe destes atenção. E juntamente com esta outra
culpa: que os publicanos lhe deram atenção. E outra ainda: que mesmo depois
deles vós não crestes. Porque o seu dever era ter crido antes; mas o não ter
crido, mesmo depois, já é pecado que não tem perdão possível.
Grande louvor
dos publicanos e maior condenação dos fariseus: “Veio a vós e não recebestes;
não veio aos publicanos e o receberam. E nem mesmo a estes quereis por
mestres”. Olhem por quantos modos louva alguns e condena a outros: “Veio a vós
e não a eles. Vós não crestes, e isto não lhes escandalizou. Eles creram, e
isto não foi de vosso proveito”. De outra forma, diz: Vos precedem, não quer dizer que eles sigam, mas sim que, se
querem, têm esperança de segui-los. Realmente, nada como a rivalidade desperta
as pessoas rudes. Eis porque o Senhor repita a cada passo: Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos.
Fonte:
Lecionário Patrístico Dominical, pp. 222-223. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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