sexta-feira, 31 de julho de 2015

Ennio Morricone compõe Missa em homenagem ao Papa Francisco

Ennio Morricone, maestro italiano conhecido pelas trilhas sonoras de diversos filmes, compôs recentemente uma Missa em homenagem ao Papa Francisco e à Ordem dos jesuítas, nos 200 anos de sua reconstituição (1814-2014).

A composição, intitulada "Missa Papae Francisci" foi apresentada pela primeira vez no último dia 10 de junho na Chiesa di Gesù, igreja dos jesuítas em Roma. O próprio Morricone regeu a Orquestra Sinfônica de Roma e os coros da Academia de Santa Cecília e do Teatro dell'Opera.

O maestro Morricone já possuía uma estreita ligação com a Companhia de Jesus desde que compôs a trilha sonora do filme "A Missão" (The Mission), que retrata a atuação dos jesuítas na América do Sul.

A Missa possui sete movimentos:

Intróito

Kyrie

Gloria

Alleluia

Sanctus

Agnus Dei

Final

Ennio Morricone

Milênio da morte de São Vladimir em Moscou

No último dia 28 de julho o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou na Catedral do Cristo Salvador em Moscou a Divina Liturgia por ocasião dos mil anos da morte de São Vladimir de Kiev.

São Vladimir foi o rei que promoveu o Batismo da Rússia e da Ucrânia em 988. É muito venerado em todos os países eslavos.


O Patriarca venera as relíquias de S. Vladimir
Ritos iniciais



Ângelus: XVII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 26 de julho de 2015

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo (Jo 6,1-15) apresenta o grande sinal da multiplicação dos pães, na narração do evangelista João. Jesus está na margem do lago da Galileia, circundado por «uma grande multidão», atraída pelos «sinais que realizava em favor dos doentes» (v. 2). Nele age o poder misericordioso de Deus, que cura todos os males do corpo e do espírito. Mas Jesus não é só alguém que cura, é também mestre: com efeito sobe ao monte e senta-se, na típica atitude do mestre quando ensina: sobe a esta «cátedra» natural criada pelo seu Pai celeste. A este ponto Jesus, que bem sabe o que está para fazer, põe os seus discípulos à prova. Que fazer para matar a fome a toda aquela gente? Filipe, um dos Doze, faz um cálculo rápido: organizando uma coleta, se poderão no máximo recolher duzentos denários para comprar pão, que contudo não seria suficiente para matar a fome a cinco mil pessoas.

Os discípulos raciocinam em termos de «mercado», mas Jesus substitui a lógica do comprar com a outra lógica, a lógica do doar. E eis que André, outro Apóstolo, irmão de Simão Pedro, apresenta um jovem que põe à disposição tudo aquilo que possui: cinco pães e dois peixes; mas - diz André - que é isso para tanta gente (v. 9). Jesus esperava precisamente isto. Ordena aos discípulos que façam sentar aquela multidão, depois tomou aqueles pães e peixes, deu graças ao Pai e distribuiu-os (v. 11). Estes gestos antecipam os da Última Ceia, que conferem ao pão de Jesus o seu significado mais verdadeiro. O pão de Deus é o próprio Jesus. Tomando a Comunhão com Ele, recebemos a sua vida em nós e tornamo-nos filhos do Pai celeste e irmãos entre nós. Recebendo a comunhão encontramo-nos com Jesus realmente vivo e ressuscitado! Participar na Eucaristia significa entrar na lógica de Jesus, a lógica da gratuidade, da partilha. E por mais pobres que sejamos, todos podemos oferecer alguma coisa. «Receber a Comunhão» significa também obter de Cristo a graça que nos torna capazes de partilhar com os outros aquilo que somos e o que possuímos.

A multidão fica admirada com o prodígio da multiplicação dos pães; mas o dom que Jesus oferece é a plenitude de vida para o homem faminto. Jesus sacia não só a fome material, mas aquela mais profunda, a fome do sentido da vida, a fome de Deus. Perante o sofrimento, a solidão, a pobreza e as dificuldades de tantas pessoas, o que podemos fazer? Lamentar-nos nada resolve, mas podemos oferecer aquele pouco que temos, como o jovem do Evangelho. Certamente temos algumas horas à disposição, algum talento, competência... Quem não tem os seus «cinco pães e dois peixes»? Todos os temos! Se estivermos dispostos a pô-los nas mãos do Senhor, serão suficientes para que no mundo haja um pouco mais de amor, paz, justiça e sobretudo alegria. Como é necessária a alegria no mundo! Deus é capaz de multiplicar os nossos pequenos gestos de solidariedade e tornar-nos participantes do seu dom.

Que a nossa oração ampare o compromisso comum para que nunca falte a ninguém o Pão do céu que dá vida eterna e o necessário para uma vida digna, e se afirme a lógica da partilha e do amor. A Virgem Maria nos acompanhe com a sua materna intercessão.


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Imposição do pálio ao Arcebispo de Sydney

No último dia 25 de julho, Festa de São Tiago Maior, Apóstolo, o Núncio Apostólico na Austrália, Dom Adolfo Tito Yllana, impôs o pálio a Dom Anthony Fisher, O.P., Arcebispo de Sydney durante a Santa Missa na Catedral Arquidiocesana de Santa Maria.

Como prescreve o Cerimonial dos Bispos, o Núncio presidiu os ritos iniciais da celebração, até a imposição do pálio, quando então o Arcebispo assumiu a presidência, prosseguindo a Missa a partir do Glória.

O pálio com os tradicionais cravos
Procissão de entrada
Saudação
Imposição do pálio
O cerimoniário e o diácono impõem os cravos

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Eleito novo Patriarca Armênio

No último dia 24 de julho, o Sínodo da Igreja Católica Armênia elegeu seu novo Patriarca, após a morte do Patriarca Nerses Bedros XIX Tarmouni no dia 25 de junho. O eleito foi o Bispo Grégoire Ghabroyan, Bispo Emérito da Eparquia de Santa Cruz dos Armênios na França, assumindo o nome de Grégoire Pierre XX Ghabroyan .


Grégoire Ghabroyan nasceu em Aleppo (Síria) no dia 15 de novembro de 1934. Estudou no Seminário de Bzommar (Líbano) e na Pontifícia Universidade Gregoriana. Foi ordenado sacerdote em 28 de março de 1959, para o Instituto do Clero Patriarcal de Bzommar.

Em 03 de janeiro de 1977 foi nomeado Exarca Apostólico para os Armênios Católicos na França, recebendo a ordenação episcopal no dia 13 de fevereiro do mesmo ano. Em 30 de junho de 1986, o Exarcado Apostólico foi elevado à Eparquia.


No dia 02 de fevereiro de 2013, apresentou sua renúncia ao governo da Eparquia. No último mês de junho, com a morte do Patriarca Tarmouni, assumiu como Administrador do Patriarcado de Cilícia dos Armênios.

No dia seguinte à sua eleição pelo Sínodo, o Papa Francisco concedeu-lhe a “ecclesiastica communio” (Comunhão eclesiástica).

Informações do site da Santa Sé.

Fotos da Festa do Redentor em Veneza

No último dia 19 de julho Dom Francesco Moraglia, Patriarca de Veneza, celebrou a Festa do Redentor.

Esta festa acontece no terceiro domingo de julho na Igreja do Redentor em Veneza em agradecimento a Deus pelo fim da peste que matou um terço dos habitantes da cidade em 1577.

Procissão de entrada
Homilia
Oração Eucarística
Bênção do Santíssimo

Imagens: Patriarcado de Veneza

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Ângelus: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 19 de julho de 2015

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje recorda-nos que, depois da experiência da missão, os Apóstolos voltaram felizes mas também cansados. E Jesus, cheio de compreensão, deseja dar-lhes um pouco de alívio; então, retira-se com eles para um lugar deserto, a fim de que possam descansar um pouco (cf. Mc 6,31). «Mas viram-nos partir e perceberam para onde iam... e assim precederam-nos» (v. 32). E nesta altura o evangelista oferece-nos uma imagem singularmente intensa de Jesus, «fotografando» por assim dizer os seus olhos e captando os sentimentos do seu Coração; assim diz o evangelista: «Ao descer da barca, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas» (v. 34).

Retomemos os três verbos deste fotograma sugestivo: ver, sentir compaixão, ensinar. Podemos denominá-los os verbos do Pastor. Ver, sentir compaixão, ensinar. O primeiro e o segundo, ver e sentir compaixão, estão sempre associados na atitude de Jesus: com efeito, o seu olhar não é de um sociólogo, nem de um repórter fotográfico, porque ele vê sempre com «os olhos do coração». Estes dois verbos, ver e sentir compaixão, configuram Jesus como Bom Pastor. Também a sua compaixão não é apenas um sentimento humano, mas constitui a comoção do Messias, em quem se fez carne a ternura de Deus. É desta compaixão que nasce o desejo de Jesus, de alimentar a multidão com o pão da sua Palavra, ou seja, de ensinar a Palavra de Deus ao povo. Jesus vê, Jesus sente compaixão, Jesus ensina-nos. Isto é bonito!

E pedi ao Senhor que o Espírito de Jesus, Bom Pastor, que este Espírito me guiasse durante a Viagem apostólica que nos dias passados realizei à América Latina, e que me permitiu visitar o Equador, a Bolívia e o Paraguai. Dou graças a Deus de todo o coração por esta dádiva, Agradeço aos povos destes três países a sua carinhosa e calorosa hospitalidade e entusiasmo. Renovo o meu reconhecimento às Autoridades daqueles países pelo seu acolhimento e pela sua colaboração. É com profundo afecto que agradeço aos meus irmãos Bispos, aos sacerdotes, às pessoas consagradas e a todas as populações, o entusiasmo com que participaram. Juntamente com estes irmãos e irmãs louvei ao Senhor pelas maravilhas que Ele realizou no Povo de Deus a caminho naquelas terras, pela fé que animou e anima a sua vida e a sua cultura. E pudemos louvá-lo inclusive pelas belezas naturais com as quais enriqueceu aqueles países. O Continente latino-americano possui enormes capacidades humanas e espirituais, preserva valores cristãos profundamente arraigados, mas vive também graves problemas sociais e económicos. A fim de contribuir para a sua solução, a Igreja está comprometida em mobilizar as forças espirituais e morais das suas comunidades, colaborando com todos os componentes da sociedade. Perante os grandes desafios que o anúncio do Evangelho deve enfrentar, convidei a haurir de Cristo Senhor a graça que salva e que confere força ao compromisso do testemunho cristão, a promover a propagação da Palavra de Deus, a fim de que a acentuada religiosidade daquelas populações possa constituir sempre um testemunho fiel do Evangelho.

À intercessão maternal da Virgem Maria, que toda a América Latina venera como padroeira com o título de Nossa Senhora de Guadalupe, confio os frutos desta inesquecível Viagem Apostólica.


Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Fotos da Missa do Papa em Assunção (Paraguai)

No último dia 12 de julho o Papa Francisco celebrou a Santa Missa do XV Domingo do Tempo Comum no Campo de Ñu Guazú em Assunção (Asunción), durante sua Viagem Apostólica ao Paraguai.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli. O texto da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, p. 183-218.

Procissão de entrada


Ósculo do altar
Incensação do altar

Homilia do Papa: Missa em Assunção (Paraguai)

Viagem Apostólica ao Equador, Bolívia e Paraguai
Santa Missa do XVI Domingo do Tempo Comum (Ano B)
Homilia do Papa Francisco
Campo Grande de Ñu Guazú, Assunção (Paraguai)
Domingo, 12 de julho de 2015

«O Senhor nos dará chuva e dará fruto a nossa terra»: assim diz o Salmo. Com isto, somos convidados a celebrar a misteriosa comunhão entre Deus e o seu Povo, entre Deus e nós. A chuva é sinal da sua presença, na terra trabalhada pelas nossas mãos. Uma comunhão que sempre dá fruto, que sempre dá vida. Esta confiança brota da fé, de saber que contamos com a sua graça que sempre transformará e regará a nossa terra.
Uma confiança que se aprende, que se educa. Uma confiança que se vai gerando no seio duma comunidade, na vida de uma família. Uma confiança que se transforma em testemunho no rosto de tantos que nos encorajam a seguir Jesus, a ser discípulos d’Aquele que nunca desilude. O discípulo sente-se convidado a confiar, sente-se convidado por Jesus a ser amigo, a compartilhar a sua sorte, a partilhar a sua vida. «A vós, não vos chamo servos, chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que sabia do meu Pai». Os discípulos são aqueles que aprendem a viver na confiança da amizade de Jesus.
E o Evangelho fala-nos deste discipulado. Apresenta-nos a cédula de identidade do cristão; a sua carta de apresentação, a sua credencial.
Jesus chama os seus discípulos e envia-os, dando-lhes regras claras e precisas. Desafia-os a um conjunto de atitudes, comportamentos que devem ter. Sucede, e não raras vezes, que nos poderão parecer atitudes exageradas ou absurdas; seria mais fácil lê-las simbolica ou «espiritualmente». Mas Jesus é muito claro. Não lhes diz: fazei de conta, ou fazei o que puderdes.
Recordemos juntos estas recomendações: «Não leveis nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem alforje, nem dinheiro (...) Permanecei na casa onde vos derem alojamento». Parece uma coisa impossível.
Poderíamos concentrar-nos em palavras como «pão», «dinheiro», «alforje», «cajado», sandálias», «túnica». E seria lícito. Mas parece-me que há aqui uma palavra-chave, que poderia passar despercebida diante da contundência daquelas que acabo de enumerar. Uma palavra central na espiritualidade cristã, na experiência do discipulado: hospitalidade. Como bom mestre, Jesus envia-os a viver a hospitalidade. Diz-lhes: «Permanecei na casa onde vos derem alojamento». Envia-os a aprender uma das características fundamentais da comunidade crente. Poderíamos dizer que é cristão aquele que aprendeu a hospedar, que aprendeu a alojar.
Jesus não os envia como poderosos, como proprietários, chefes ou carregados de leis, normas. Ao contrário, mostra-lhes que o caminho do cristão é simplesmente transformar o coração. O próprio coração e ajudar a transformar o dos outros. Aprender a viver de forma diferente, com outra lei, sob outra norma. É passar da lógica do egoísmo, do fechamento, da luta, da divisão, da superioridade para a lógica da vida, da gratuidade, do amor. Passar da lógica do dominar, esmagar, manipular para a lógica do acolher, receber, cuidar.
São duas as lógicas que estão em jogo, duas maneiras de enfrentar a vida e de enfrentar a missão.
Quantas vezes concebemos a missão com base em projectos ou programas. Quantas vezes idealizamos a evangelização, pondo de pé milhares de estratégias, tácticas, manobras, truques, procurando que as pessoas se convertam com base nos nossos argumentos. Hoje o Senhor diz-nos muito claramente: na lógica do Evangelho, não se convence com os argumentos, as estratégias, as tácticas, mas simplesmente aprendendo a alojar, a hospedar.
A Igreja é uma mãe de coração aberto que sabe acolher, receber, especialmente a quem precisa de maior cuidado, que está em maior dificuldade. A Igreja, como a queria Jesus, é a casa da hospitalidade. E quanto bem se pode fazer, se nos animarmos a aprender esta linguagem da hospitalidade, esta linguagem de receber, de acolher! Quantas feridas, quanto desespero se pode curar numa casa onde alguém se sente bem-vindo! Para isto, é preciso ter as portas abertas, sobretudo as portas do coração.
Praticar hospitalidade com o faminto, o sedento, o forasteiro, o nu, o enfermo, o encarcerado (cf. Mt 25,34-37), com o leproso, o paralítico. Hospitalidade com aquele que não pensa como nós, com a pessoa que não têm fé ou a perdeu. E, às vezes, por nossa culpa. Hospitalidade com o perseguido, o desempregado. Hospitalidade com as culturas diferentes, de que esta terra paraguaia é tão rica. Hospitalidade com o pecador, porque cada um de nós também o é.
Muitas vezes esquecemo-nos de que há um mal que precede os nossos pecados, que tem lugar antes. Há uma raiz que causa muito, muito dano e que destrói silenciosamente tantas vidas. Há um mal que, pouco a pouco, vai fazendo ninho no nosso coração e «corroendo» a nossa vitalidade: a solidão. Solidão que pode ter muitas causas, muitos motivos. Como destrói a vida e nos faz tão mal! Vai-nos afastando dos outros, de Deus, da comunidade. Vai-nos encerrando em nós mesmos. Por isso, o que é próprio da Igreja, desta mãe, não é principalmente gerir coisas, projectos, mas aprender a fraternidade com os outros. A fraternidade acolhedora é o melhor testemunho de que Deus é Pai, porque «é por isto que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13,35).
Desta maneira, Jesus abre-nos a uma lógica nova; a um horizonte cheio de vida, beleza, verdade, plenitude.
Deus nunca fecha horizontes, Deus nunca é passivo face à vida, nunca é passivo face ao sofrimento dos seus filhos. Deus nunca Se deixa vencer em generosidade. Foi para isto que nos enviou seu Filho, no-Lo oferece, entrega, compartilha: para aprendermos o caminho da fraternidade, o caminho do dom. Em definitivo, é um novo horizonte, uma nova palavra para tantas situações de exclusão, desagregação, confinamento, isolamento. É uma palavra que quebra o silêncio da solidão.
E quando estivermos cansados ou se tornar pesada a tarefa de evangelizar, é bom recordar que a vida proposta por Jesus corresponde às necessidades mais profundas das pessoas, porque todos fomos criados para a amizade com Jesus e para o amor fraterno (Evangelii Gaudium, n. 265).
Uma coisa é certa! Não podemos obrigar ninguém a receber-nos, a hospedar-nos; isto é certo e faz parte da nossa pobreza e da nossa liberdade. Mas é certo também que ninguém nos pode obrigar a não sermos acolhedores, hospedeiros da vida do nosso Povo. Ninguém nos pode pedir que não recebamos e abracemos a vida dos nossos irmãos, especialmente a vida daqueles que perderam a esperança e o gosto pela vida. Como é belo imaginar as nossas paróquias, comunidades, capelas, lugares onde estão os cristãos, não com as portas fechadas, mas como verdadeiros centros de encontro tanto entre nós como com Deus. Como lugares de hospitalidade e acolhimento.
A Igreja é mãe, como Maria. ela, temos um modelo. Alojar como Maria, que não dominou nem se apoderou da Palavra de Deus; pelo contrário, hospedou-a, gerou-a e entregou-a.
Alojar como a terra que não domina a semente, mas que a recebe, nutre e faz germinar.
Assim queremos ser nós, os cristãos, assim queremos viver a fé neste solo paraguaio: como Maria, alojando a vida de Deus em nossos irmãos com a confiança, com a certeza de que «o Senhor nos dará chuva e dará fruto a nossa terra». Que assim seja.


Fonte: Santa Sé.

sábado, 18 de julho de 2015

Fotos das Vésperas celebradas pelo Papa na Catedral de Assunción

No último dia 11 de julho o Papa Francisco celebrou as I Vésperas do XV Domingo do Tempo Comum na Catedral de Assunción com os Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Seminaristas por ocasião de sua Viagem Apostólica ao Paraguai.

Assistiram ao Santo Padre os Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O texto da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, p. 165-182.

Salmodia


Papa dirige-se ao ambão para a homilia
Homilia

Homilia do Papa nas Vésperas na Catedral de Assunción

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI

(5-13 DE JULHO DE 2015)
VÉSPERAS COM BISPOS, SACERDOTES, DIÁCONOS,
RELIGIOSOS, RELIGIOSAS, SEMINARISTAS E MOVIMENTOS CATÓLICOS
MEDITAÇÃO DO SANTO PADRE
Catedral Metropolitana de Assunção
Sábado, 11 de Julho de 2015

Como é belo rezarmos as Vésperas todos juntos! Como não sonhar com uma Igreja que espelhe e repita, na vida quotidiana, a harmonia das vozes e do canto! Fazemo-lo nesta catedral que tantas vezes teve de ser começada de novo; esta catedral é sinal da Igreja e de cada um de nós: às vezes, as tempestades de fora e de dentro obrigam-nos a pôr de lado o que se construiu e começar de novo. Sempre, porém, com a esperança em Deus; e, se olharmos para este edifício, sem dúvida Ele não decepcionou os paraguaios. Porque Deus nunca desilude! E por isso O louvamos agradecidos.
A oração litúrgica, com a sua estrutura e ritmo pausado, quer dar voz à Igreja inteira, esposa de Cristo, que procura configurar-se com o seu Senhor. Na oração, cada um de nós quer tornar-se cada vez mais parecido com Jesus.
A oração traz à superfície aquilo que vivemos ou deveríamos viver na existência diária; pelo menos uma oração que não queira ser alienante ou apenas preciosista. A oração dá-nos impulso para pôr em acção ou examinar-nos sobre o que rezamos nos Salmos: nós somos as mãos de «Deus, que levanta o pobre da miséria» e somos quem trabalha para que esterilidade com a sua tristeza se transforme na alegria do campo fértil. Cantando que «muito vale aos olhos do Senhor a vida dos seus fiéis», somos os que lutam, pelejam, defendem o valor de toda a vida humana, desde a concepção até os anos serem muitos e poucas as forças. A oração é reflexo do amor que sentimos por Deus, pelos outros, pelo mundo criado; o mandamento do amor é a melhor configuração do discípulo missionário com Jesus. Estar agarrados a Jesus dá profundidade à vocação cristã, que – interessada no «agir» de Jesus, que engloba muito mais do que as actividades – procura assemelhar-se a Ele em tudo o que realiza. A beleza da comunidade eclesial nasce da adesão de cada um dos seus membros à pessoa de Jesus, formando um «conjunto vocacional» na riqueza da diversidade harmónica.
As antífonas dos Cânticos Evangélicos deste domingo recordam-nos o envio dos Doze por Jesus. É sempre bom crescer nesta consciência de trabalho apostólico em comunhão! É belo ver-vos a colaborar pastoralmente, partindo sempre da natureza e função eclesial de cada uma das vocações e carismas. Quero exortar-vos a todos – sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e seminaristas, bispos – a que vos empenheis nesta colaboração eclesial, especialmente a partir dos planos de pastoral das dioceses e da Missão Continental, cooperando com toda a disponibilidade possível para o bem comum. Se a divisão entre nós provoca esterilidade (cf. Evangelii gaudium, 98-101), não há dúvida que, da comunhão e da harmonia, surge a fecundidade, porque estão em profunda consonância com o Espírito Santo.
Todos temos limitações; ninguém pode reproduzir totalmente Jesus Cristo. E, embora cada vocação se conforme de maneira mais saliente com este ou aquele traço da vida e obra de Jesus, há alguns elementos comuns e indispensáveis a todas. Ainda agora louvámos o Senhor porque «não fez alarde da sua condição divina» (Fil 2,6), sendo isto uma característica de toda a vocação cristã, «não fez alarde da sua condição divina». Quem foi chamado por Deus não se pavoneia, nem corre atrás de reconhecimentos ou aplausos efémeros; não sente ter subido de categoria nem trata os outros como se estivesse num degrau superior.
A supremacia de Cristo aparece claramente descrita na liturgia da Carta aos Hebreus; acabámos de ler quase o final dessa carta: Deus «nos faça perfeitos como o grande Pastor das ovelhas» (13,20), e isto supõe que todo o consagrado esteja configurado com Aquele que, na sua vida terrena, «por entre orações e súplicas, com grande clamor e lágrimas» alcançou a perfeição quando aprendeu, sofrendo, o que significava obedecer. E isto também é parte da vocação.
E agora acabemos de rezar as nossas Vésperas; o campanil desta catedral foi reconstruído várias vezes; o som dos sinos antecede e acompanha vários momentos da nossa oração litúrgica. Sempre que rezamos, somos feitos de novo por Deus, firmes como um campanário, felizes por pregar as maravilhas de Deus. Partilhemos o Magnificat e deixemos o Senhor fazer – que Ele faça-, através da nossa vida consagrada, grandes coisas no Paraguai.


Fonte: Santa Sé

Fotos da Missa do Papa no Santuário de Caacupé

No último dia 11 de julho o Papa Francisco celebrou a Santa Missa votiva de Nossa Senhora no Santuário Mariano de Caacupé, durante sua Viagem Apostólica ao Paraguai.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O texto da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, p. 133-164.

No final da celebração o Santuário de Caacupé foi elevado pelo Santo Padre a Basílica Menor.

Procissão de entrada

Ósculo do altar
Incensação do altar

Homilia do Papa na Missa no Santuário de Caacupé

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI

(5-13 DE JULHO DE 2015)
SANTA MISSA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Praça do Santuário Mariano de Caacupé, Assunção, Paraguai
Sábado, 11 de Julho de 2015

Estar aqui convosco é sentir-me em casa, aos pés da nossa Mãe, a Virgem dos Milagres de Caacupé. Num santuário, nós, filhos, encontramo-nos com a nossa Mãe e lembramo-nos de que somos irmãos uns dos outros. É um lugar de festa, de encontro, de família. Vimos apresentar as nossas necessidades, vimos agradecer, pedir perdão e recomeçar. Muitos baptismos, muitas vocações sacerdotais e religiosas, muitos namoros e matrimónios nasceram aos pés da nossa Mãe. Muitas lágrimas e despedidas. Vimos sempre com a nossa vida, porque aqui estamos em casa e o melhor de tudo é saber que há alguém que nos espera.
Como tantas outras vezes, viemos porque queremos renovar a paixão de viver a alegria do Evangelho.
Como não reconhecer que este santuário é parte vital do povo paraguaio, parte da vossa vida. Assim o sentis, assim o rezais, assim o cantais: «No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé». E estamos hoje, como Povo de Deus, aos pés da nossa Mãe para Lhe dar o nosso amor e fé.
No Evangelho, acabámos de ouvir o anúncio do Anjo a Maria com estas palavras: Alegra-Te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo. Alegra-Te, Maria; alegra-Te! Perante esta saudação, Ela ficou perplexa e interrogava-Se acerca do seu significado. Não entende grande coisa do que estava a acontecer; mas soube que vinha de Deus e disse: Sim. Maria é a Mãe do Sim. Sim ao sonho de Deus, sim ao projecto de Deus, sim à vontade de Deus.
Um sim que não foi nada fácil de viver, como sabemos. Um sim, que não a cumulou de privilégios nem distinções; antes, como Lhe dirá Simeão na sua profecia, «uma espada [Lhe] trespassará a alma» (Lc 2, 35) E sabemos que a trespassou... Por isso A amamos tanto, encontrando n’Ela uma verdadeira Mãe que nos ajuda a manter viva a fé e a esperança no meio das situações mais complicadas. Seguindo a profecia de Simeão, far-nos-á bem rever brevemente três momentos difíceis na vida de Maria.
1. Primeiro: o nascimento de Jesus. Não havia lugar para eles. Não tinham uma casa, uma morada para receber o seu filho. Não havia lugar, onde pudesse dar à luz. Nem família por perto, estavam sozinhos. O único lugar disponível era um curral de animais. E, na sua memória, ecoavam certamente as palavras do Anjo: Alegra-Te, Maria, o Senhor está contigo. E poderia ter-Se perguntado: Onde está Ele agora?
2. Segundo momento: a fuga para o Egipto. Tiveram de partir, exilar-Se. Em Belém, não só não havia lugar nem família, mas até mesmo as suas vidas corriam perigo. Tiveram que sair, partindo para uma terra estrangeira. Foram emigrantes perseguidos pela cobiça e a ganância do Rei Herodes. E lá ela também poderia ter-se perguntado: Onde está aquilo que o Anjo Me disse?
3. Terceiro momento: a morte na cruz. Não deve haver uma situação mais difícil para uma mãe do que acompanhar a morte do seu filho. São momentos lancinantes. Lá, ao pé da cruz, vemos Maria, como qualquer mãe, firme, sem abandonar, mas acompanhando seu filho até ao momento extremo da morte e morte de cruz. E lá também poderia ter-se perguntado: Onde está aquilo que o Anjo Me disse? Em seguida, a vemos contendo e sustentando os discípulos.
Contemplamos a sua vida e sentimo-nos compreendidos, entendidos. Podemos sentar-nos a rezar e usar uma linguagem comum a tantas situações que vivemos diariamente. Podemo-nos identificar com muitas situações da sua vida. Contar-Lhe as nossas coisas, porque Ela entende-as.
Ela é mulher de fé, é a Mãe da Igreja, Ela acreditou. A sua vida é testemunha de que Deus não decepciona, que Deus não abandona o seu Povo, embora existam momentos ou situações onde parece que Ele não está. Ela foi a primeira discípula que acompanhou seu Filho e sustentou a esperança dos apóstolos nos momentos difíceis. Estavam trancados com não sei quantas chaves, com medo, no cenáculo. Foi a mulher que esteve atenta e soube dizer – quando parecia ser o fim da festa e da alegria –: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). Foi a mulher que soube ir e ficar com a sua prima «cerca de três meses» (Lc 1, 56), para esta não estar sozinha no parto. Esta é nossa mãe, tão boa, tão generosa, tão presente acompanhando-nos na nossa vida.
Sabemos tudo isto pelo Evangelho; mas também sabemos que, nesta terra, é a Mãe que esteve ao nosso lado em muitas situações difíceis. Este santuário guarda como um tesouro a memória de um Povo que sabe que Maria é Mãe, que esteve e está ao lado dos seus filhos.
Esteve e está nos nossos hospitais, nas nossas escolas, nas nossas casas. Esteve e está nos nossos trabalhos e nos nossos caminhos. Esteve e está à mesa de cada lar. Esteve e está na formação da Pátria, fazendo-nos uma Nação. Sempre com uma presença discreta e silenciosa. Quando olhamos uma imagem, um santinho ou uma medalha, o sinal dum terço, sabemos que não andamos sozinhos, porque ela nos acompanha.
E por que motivo? Porque Maria simplesmente quis estar no meio de seu Povo, com os seus filhos, com a sua família. Seguindo sempre Jesus, no meio da multidão. Como boa mãe, não abandonou os seus; antes pelo contrário, sempre apareceu onde um filho podia ter necessidade d’Ela. E isto, só porque é Mãe.
Uma Mãe que aprendeu a ouvir e a viver, no meio de tantas dificuldades, aquele «não temas, o Senhor está contigo». Uma Mãe que continua a dizer-nos: «Fazei o que Ele vos disser». Este é o seu convite constante e contínuo: «Fazei o que Ele vos disser». Não tem um programa próprio, não vem dizer-nos nada de novo; antes, ela gosta de ficar calada, apenas a sua fé acompanha a nossa fé.
Vós sabeis isto, experimentastes o que estamos a partilhar convosco. Todos vós, todos os paraguaios têm a memória viva de um Povo que encarnou estas palavras do Evangelho. E quero referir-me de modo especial a vós, mulheres e mães paraguaias, que, com grande coragem e dedicação, soubestes levantar um país derrotado, afundado, submerso por uma guerra iníqua.
Vós tendes a memória, vós tendes o DNA daquelas que reconstruíram a vida, a fé, a dignidade do seu povo, junto com Maria. Vivestes situações muito, muito difíceis, que, vistas sob uma lógica comum, poriam em causa toda a fé. Pelo contrário vós impelidas e sustentadas pela Virgem Maria, continuastes crentes, inclusive «com uma esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18). E quando tudo parecia desmoronar-se, dizíeis juntamente com Maria: Não temamos! O Senhor está connosco, está com o nosso povo, com as nossas famílias; façamos o que Ele nos disser. E assim encontrastes ontem e encontrais hoje força para não deixar que esta terra caia no caos. Deus abençoe esta tenacidade, Deus vos abençoe e anime, Deus abençoe a mulher paraguaia, a mais gloriosa da América.
Como povo, viemos à nossa casa, à casa da Pátria paraguaia, para ouvir mais uma vez estas palavras que nos fazem muito bem: «Alegra-te, o Senhor está contigo». São um apelo a não perder a memória, a não perder as raízes, os inúmeros testemunhos que receberam de povo crente, comprovado pelas suas lutas. Uma fé que se fez vida, uma vida que se fez esperança e uma esperança que vos leva a «primeirear» na caridade. Sim, como Jesus, continuem a «primeirear» no amor. Sede vós os portadores desta fé, desta vida, desta esperança. Vós, paraguaios, sede forjadores deste hoje e do amanhã.
Voltando o olhar para a imagem de Maria, convido-vos a dizer juntos: «No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé». Todos juntos: «No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé». Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos de alcançar as promessas e graças de nosso Senhor Jesus Cristo. Amen.


Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Fotos da Missa do Papa na Bolívia

No último dia 09 de julho o Papa Francisco celebrou a Santa Missa votiva da Santíssima Eucaristia por ocasião da abertura do V Congresso Eucarístico Nacional da Bolívia na Praça do Cristo Redentor em Santa Cruz de La Sierra, durante sua visita ao país.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli. O texto da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, p. 89-122.

Ao invés da férula feita com oliveira da Terra Santa que o Papa usou nas demais celebrações da viagem, nesta Missa usou uma espécie de báculo com a imagem do Cristo Bom Pastor.

Procissão de entrada


Ósculo do altar
Incensação do altar

Homilia do Papa na Missa na Bolívia

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI

(5-13 DE JULHO DE 2015)
SANTA MISSA NA PRAÇA CRISTO REDENTOR
HOMILIA DO SANTO PADRE
Santa Cruz de la Sierra, Bolívia
Quinta-feira, 9 de Julho de 2015

Viemos de lugares, regiões, povoados distintos, para celebrar a presença viva de Deus entre nós. Há horas que saímos de nossas casas e comunidades, para podermos estar juntos como Povo Santo de Deus. A cruz e a imagem da missão trazem-nos à memória todas as comunidades que nasceram sob o nome de Jesus nestas terras e das quais somos herdeiros.
No Evangelho que acabámos de ouvir, descrevia-se uma situação muito semelhante à que estamos a viver agora. Como aquelas quatro mil pessoas, também nós estamos desejosos de ouvir a Palavra de Jesus e receber a sua vida. Eles ontem e nós hoje, ao pé do Mestre, Pão de vida.
Comovo-me ao ver muitas mães que carregavam seus filhos às costas, como aliás muitas de vós o fazem aqui. Carregando sobre si a vida e o futuro do seu povo. Carregando os motivos da sua alegria, as suas esperanças. Carregando a bênção da terra nos frutos. Carregando o trabalho feito com as suas mãos. Mãos, que moldaram o presente e tecerão os sonhos do amanhã. Mas carregando também sobre os seus ombros decepções, tristezas e amarguras, a injustiça que parece não ter fim e as cicatrizes duma justiça não realizada. Carregando sobre si mesmas a alegria e a dor duma terra. Carregais sobre vós a memória do vosso povo. Porque os povos têm memória, uma memória que passa de geração em geração, os povos têm uma memória em caminho.
E não são poucas as vezes que experimentamos o cansaço deste caminho. Não são poucas as vezes que nos faltam as forças para manter viva a esperança. Quantas vezes vivemos situações que pretendem anestesiar-nos a memória e, deste modo, debilita-se a esperança e, pouco a pouco, perdem-se os motivos de alegria. E começa a apoderar-se de nós uma tristeza que nos torna individualistas, que nos faz perder a memória de povo amado, de povo escolhido. E esta perda desagrega-nos, faz com que nos fechemos aos outros, especialmente aos mais pobres.
Pode suceder a nós o mesmo que aos discípulos de ontem, quando viram essa quantidade de pessoas que estava lá. Pedem a Jesus que a mande embora – «Manda-lhes de volta à casa» –, já que é impossível alimentar tanta gente. Perante muitas situações de fome no mundo, podemos dizer: «Perdão, mas os números não batem certo; não podemos resolver a conta». É impossível enfrentar estas situações; então o desespero acaba por apoderar-se do coração.
Num coração desesperado, é muito fácil ganhar espaço a lógica que pretende impor-se no mundo, em todo o mundo, nos nossos dias. Uma lógica que procura transformar tudo em objecto de troca, tudo em objecto de consumo: vê tudo negociável. Uma lógica que pretende deixar espaço para muito poucos, descartando todos aqueles que não «produzem», que não são considerados aptos ou dignos porque, aparentemente, «os números não batem certo». E Jesus retoma a palavra para nos dizer: «Não, não é necessário excluí-los, não é necessário irem embora; dai-lhes vós mesmos de comer».
É um convite que hoje ressoa fortemente para nós: «Não é necessário excluir a ninguém. Não é necessário mandar ninguém embora, basta de descartes; dai-lhes vós mesmos de comer». Jesus continua a dizer-nos nesta praça: Sim, basta de descartes; dai-lhes vós mesmos de comer. O olhar de Jesus não aceita uma lógica, uma perspectiva que sempre «corta o fio» pelo ponto mais frágil, mais necessitado. Tomando «o pedaço», Ele mesmo nos dá o exemplo, nos mostra o caminho. Uma atitude em três palavras: toma um pouco de pão e alguns peixes, bendiz a Deus por eles, divide-os e entrega para que os discípulos os partilhem com os outros. E este é o caminho do milagre. Por certo, não é magia nem idolatria. Por meio destas três acções, Jesus consegue transformar a lógica do descarte numa lógica de comunhão, numa lógica de comunidade. Gostaria de destacar brevemente cada uma destas acções.
Toma. O ponto de partida é tomar muito a sério a vida dos seus. Fixa-os nos olhos e, nestes, conhece a sua vida, os seus sentimentos. Vê, naquele olhar, o que pulsa e o que deixou de pulsar na memória e no coração do seu povo. Considera-o e valoriza-o. Valoriza todo o bem que possam oferecer, todo o bem a partir do qual se possa construir. Mas não fala dos objectos, dos bens culturais ou das ideias; fala das pessoas. A riqueza maior duma sociedade mede-se na vida do seu povo, mede-se nos seus idosos que conseguem transmitir aos mais novos a sua sabedoria e a memória do seu povo. Jesus nunca ignora a dignidade de pessoa alguma, por maior que seja a aparência de não ter nada para oferecer ou partilhar. Tomo tudo assim como lhe chega.
Bendiz. Jesus toma em suas mãos o dom, e bendiz o Pai que está nos céus. Sabe que estes dons são um presente de Deus. Por isso, não os trata como «uma coisa qualquer», dado que toda a vida, toda esta vida é fruto do amor misericordioso. Ele reconhece-o. Vai além da simples aparência e, neste gesto de bendizer e louvar, pede a seu Pai o dom do Espírito Santo. Aquele acto de bendizer tem esta dupla perspectiva: por um lado, agradecer e, por outro, transformar. É reconhecer que a vida é sempre um dom, um presente que, colocado nas mãos de Deus, adquire uma força de multiplicação. O nosso Pai não nos tira nada, multiplica tudo.
Entrega. Em Jesus, não existe um tomar que não seja bênção, nem uma bênção que não seja uma entrega. A bênção é sempre missão, tem um destino: repartir, partilhar o que se recebeu, uma vez que só na entrega, no com-partilhar é que as pessoas encontram a fonte da alegria e a experiência de salvação. Uma entrega que quer reconstruir a memória de povo santo, de povo convidado a ser e a levar a alegria da salvação. As mãos, que Jesus ergue para bendizer o Deus do céu, são as mesmas que distribuem o pão à multidão que tem fome. E podemos imaginar agora como os pães e os peixes iam passando de mão em mão até chegar aos mais afastados. Jesus consegue gerar uma corrente entre os seus: todos estavam compartilhando o seu, transformando-o em dom para os outros, e foi assim que comeram até ficarem saciados. E, incrivelmente, sobrou: recolheram sete cestos de sobras. Uma memória tomada, uma memória abençoada, uma memória entregue sempre sacia o povo.
A Eucaristia é o «Pão repartido para a vida do mundo», como diz o lema do V Congresso Eucarístico que hoje inauguramos e vai realizar-se em Tarija. É sacramento de comunhão, que nos faz sair do individualismo para vivermos juntos o seguimento de Jesus e nos dá a certeza de que aquilo que temos e somos, se tomado, abençoado e entregue, pelo poder de Deus, pelo poder do seu amor, transforma-se em pão de vida para os outros.
E a Igreja celebra a Eucaristia, celebra a memória do Senhor, o sacrifício do Senhor. Porque a Igreja é uma comunidade memoriosa. Por isso, fiel ao mandato do Senhor, repete incansavelmente: «Fazei isto em memória de Mim» (Lc 22, 19). Geração após geração actualiza, torna real, nos distintos cantos da nossa terra, o mistério do Pão da Vida. No-lo faz presente e entrega. Jesus quer que participemos desta sua vida e, por nosso intermédio, se vá multiplicando na nossa sociedade. Não somos pessoas isoladas, separadas, mas somos o Povo da memória actualizada e sempre entregue.
Uma vida memoriosa precisa dos outros, do intercâmbio, do encontro, duma solidariedade real que seja capaz de entrar na lógica do tomar, bendizer e entregar; na lógica do amor.

Maria, igual a muitas de vós, carregou sobre si a memória do seu povo, a vida do seu Filho, e experimentou em Si própria a grandeza de Deus, proclamando com alegria que Ele «encheu de bens os famintos» ( Lc 1, 53), que Ela seja hoje o nosso exemplo para confiarmos na bondade do Senhor, que faz obras grandes com pouca coisa, com a humildade dos seus servos. Que assim seja.


Fonte: Santa Sé

Fotos da Missa do Papa em Quito

No último dia 07 de julho o Papa Francisco celebrou a Santa Missa pela Evangelização dos Povos no Parque do Bicentenário em Quito, durante sua Viagem Apostólica ao Equador.

Assistiram ao Santo Padre os Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O texto da celebração encontra-se no Missal para a Viagem Apostólica, p. 39-70.

O Papa usou uma casula muito curiosa, confeccionada segundo a tradição indígena equatoriana.

Procissão de entrada


Incensação do altar