quinta-feira, 30 de junho de 2016

Fotos da Divina Liturgia Armênia com a presença do Papa

No último dia 26 de junho o Papa Francisco participou da Divina Liturgia em rito armênio presidida pelo Catholicos Karekin II na praça junto à Catedral Armênia Apostólica de Etchmiadzin, no contexto de sua Viagem Apostólica à Armênia.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni.

O Papa e o Catholicos entram sob uma espécie de pálio

Orações iniciais


Discurso do Papa na Divina Liturgia Armênia

Viagem Apostólica do Papa Francisco à Armênia
(24-26 de junho de 2016)
Participação à Divina Liturgia na Catedral Apostólica Armênia
Discurso do Santo Padre
Praça São Tiridate de Etchmiadzin
Domingo, 26 de junho de 2016

Santidade, caríssimos Bispos,
Queridos irmãos e irmãs!
No ponto culminante desta visita tão desejada e, para mim, já inesquecível, desejo elevar ao Senhor a minha gratidão, que uno ao grande hino de louvor e agradecimento que sobe deste altar. Vossa Santidade, nestes dias, abriu-me as portas da sua casa e experimentamos «como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos» (Sal 133, 1). Encontramo-nos, abraçamo-nos fraternalmente, rezamos juntos, partilhamos os dons, as esperanças e as preocupações da Igreja de Cristo, da qual notamos em uníssono as pulsações do coração, e que acreditamos e sentimos ser una. «Há um só Corpo e um só Espírito, assim como (…) uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos» (Ef 4, 4-6): verdadeiramente podemos, com alegria, fazer nossas estas palavras do apóstolo Paulo. Foi precisamente sob o signo dos Santos Apóstolos que nos encontramos. Os Santos Bartolomeu e Tadeu, que proclamaram pela primeira vez o Evangelho nestas terras, e os Santos Pedro e Paulo, que deram a vida pelo Senhor em Roma, ao mesmo tempo que reinam com Cristo no céu, certamente se alegram ao ver o nosso afeto e a nossa aspiração concreta à plena comunhão. Por tudo isto agradeço ao Senhor, por vós e convosco: Glória a Deus!
Nesta Divina Liturgia, elevou-se ao céu o canto solene do triságio, louvando a santidade de Deus; desça, abundante, a bênção do Altíssimo sobre a terra, pela intercessão da Mãe de Deus, dos grandes Santos e Doutores, dos Mártires, especialmente da multidão de mártires que aqui canonizastes no ano passado. «O Unigénito que aqui desceu» abençoe o nosso caminho. O Espírito Santo faça dos crentes um só coração e uma só alma: venha refundar-nos na unidade. Por isso, gostaria de invocá-Lo novamente, fazendo minhas algumas palavras esplêndidas que entraram na vossa Liturgia: Vinde, ó Espírito! Vós «que sois, com gemidos incessantes, o nosso intercessor junto do Pai misericordioso, Vós que guardais os santos e purificais os pecadores»; derramai sobre nós o vosso fogo de amor e unidade, e «sejam desfeitos por este fogo os motivos do nosso escândalo» (Gregório de Narek,Livro das Lamentações, 33, 5), a começar pela falta de unidade entre os discípulos de Cristo.
Que a Igreja arménia caminhe em paz, e a comunhão entre nós seja plena. Surja em todos um forte anseio de unidade, uma unidade que não deve ser «submissão de um ao outro, nem absorção, mas sim acolhimento de todos os dons que Deus deu a cada um para manifestar ao mundo inteiro o grande mistério da salvação realizado por Cristo Senhor através do Espírito Santo» (Palavras no fim da Divina Liturgia, Igreja Patriarcal de São Jorge, Istambul, 30 de novembro de 2014).
Acolhamos o apelo dos Santos, ouçamos a voz dos humildes e dos pobres, das inúmeras vítimas do ódio que sofreram e sacrificaram a vida pela fé; prestemos ouvidos às gerações mais jovens, que pedem um futuro livre das divisões do passado. Que, deste lugar santo, se difunda novamente uma luz radiosa; e à luz da fé, que desde São Gregório, vosso pai segundo o Evangelho, iluminou estas terras, una-se a luz do amor que perdoa e reconcilia.
Tal como os Apóstolos na manhã de Páscoa, apesar das dúvidas e incertezas, correram até ao lugar da ressurreição, atraídos pela aurora feliz duma esperança nova (cf. Jo 20, 3-4) assim também nós, neste domingo santo, sigamos a chamada de Deus à plena comunhão e aceleremos o passo rumo a ela.
E agora, Santidade, em nome de Deus, peço-vos que me abençoeis, que abençoeis a mim e à Igreja Católica, que abençoeis esta nossa corrida rumo à plena unidade.


Fonte: Santa Sé

Fotos do Encontro pela Paz em Ierevan

Na tarde do último dia 25 de junho o Papa Francisco, juntamente com o Catholicos Karekin II da Igreja Apostólica Armênia, presidiu uma Celebração Ecumênica de Oração pela paz na Praça da República na cidade de Ierevan, durante sua Viagem Apostólica à Armênia.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Marco Agostini. O rito da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, p. 67-77.

Entrada do Papa e do Catholicos





Discurso do Papa no Encontro pela Paz em Ierevan

Viagem Apostólica do Papa Francisco à Armênia
(24-26 de Junho de 2016)
Encontro Ecumênico e Oração pela Paz
Discurso do Santo Padre
Ierevan, Praça da República
Sábado, 25 de junho de 2016

Venerado e caríssimo Irmão, Patriarca Supremo e Catholicos de Todos os Arménios,
Senhor Presidente,
Queridos irmãos e irmãs!
A bênção e a paz de Deus estejam com todos vós!
Desejei ardentemente visitar esta amada terra, o vosso país, o primeiro que abraçou a fé cristã. É uma graça para mim poder encontrar-me nestas alturas, onde, sob a vista do Monte Ararat, o próprio silêncio parece falar-nos; onde os khatchkar – as cruzes de pedra – narram uma história única, permeada de fé rochosa e de sofrimento imenso; uma história rica de magníficas testemunhas do Evangelho, de quem vós sois os herdeiros. Vim peregrino de Roma para vos encontrar e exprimir um sentimento que me vem do fundo do coração: é o afeto do vosso irmão, é o abraço fraterno da Igreja Católica inteira, que vos ama e está solidária convosco.
Nos anos passados, graças a Deus, foram-se intensificando as visitas e os encontros entre as nossas Igrejas, sempre muito cordiais e frequentemente memoráveis; quis a Providência que, precisamente no dia em que aqui se recordam os santos Apóstolos de Cristo, estejamos de novo juntos para reforçar a comunhão apostólica entre nós. Estou muito grato a Deus pela «real e íntima unidade» entre as nossas Igrejas [cf. João Paulo II, Homilia na Celebração Ecuménica, Ierevan, 26 de setembro de 2001:Insegnamenti, XXIV/2 (2001), 466) e agradeço-vos pela vossa fidelidade ao Evangelho, muitas vezes heroica, que é um dom inestimável para todos os cristãos. Ao encontrarmo-nos, não temos uma troca de ideias, mas uma troca de dons (cf. Idem, Carta enc. Ut unum sint, 28): recolhemos aquilo que o Espírito semeou em nós, como um dom para cada um (cf. Francisco, Exort. ap.Evangelii gaudium, 246). Partilhamos com grande alegria os numerosos passos dum caminho comum já muito adiantado, e olhamos verdadeiramente com confiança para o dia em que, com a ajuda de Deus, estaremos unidos junto do altar do sacrifício de Cristo, na plenitude da comunhão eucarística. Rumo a esta meta tão desejada «somos peregrinos, e peregrinamos juntos (...) abrindo o coração ao companheiro de estrada sem medos, nem desconfianças» (ibid., 244).
Neste trajeto, precedem-nos e acompanham-nos muitas testemunhas, nomeadamente tantos mártires que selaram com o sangue a fé comum em Cristo: são as nossas estrelas no céu, que brilham sobre nós e indicam o caminho que nos falta percorrer na terra, rumo à plena comunhão. Dentre os grandes Padres, gostaria de referir o santo Catholicos Nerses Shnorhali. Nutria um amor grande e extraordinário pelo seu povo e as suas tradições e, ao mesmo tempo, sentia-se inclinado para as outras Igrejas, incansável na busca da unidade, desejoso de atuar a vontade de Cristo: que os crentes «sejam um só» (Jo 17, 21). Realmente a unidade não é uma espécie de vantagem estratégica que se deve procurar por interesse mútuo, mas aquilo que Jesus nos pede, sendo nossa obrigação cumpri-lo com boa vontade e todas as nossas forças para se realizar a nossa missão: oferecer ao mundo, com coerência, o Evangelho.
Para realizar a unidade necessária, não basta, segundo São Nerses, a boa vontade de alguém na Igreja: é indispensável a oração de todos. É bom estar aqui reunidos para rezarmos uns pelos outros, uns com os outros. E o que vim pedir-vos nesta tarde é, antes de tudo, o dom da oração. Pela minha parte, asseguro-vos que, ao oferecer o Pão e o Cálice no altar, não deixo de apresentar ao Senhor a Igreja da Arménia e o vosso querido povo.
São Nerses sentia a necessidade de aumentar o amor mútuo, porque só a caridade é capaz de sanar a memória e curar as feridas do passado: só o amor cancela os preconceitos e permite reconhecer que a abertura ao irmão purifica e melhora as convicções próprias. Para este santo Catholicos, no caminho rumo à unidade, é essencial imitar o estilo do amor de Cristo, que, «sendo rico» (2 Cor 8, 9), «humilhou-Se a Si próprio» (Flp 2, 8). Seguindo o seu exemplo, somos chamados a ter a coragem de deixar as convicções rígidas e os interesses próprios, em nome do amor que se humilha e entrega, em nome do amor humilde: este é o óleo abençoado da vida cristã, o unguento espiritual precioso que cura, fortalece e santifica. «Às faltas, suprimos com uma caridade unânime», escrevia São Nerses (Cartas do senhor Nerses Shnorhali, Catholicos dos Arménios, Veneza 1873, 316), e mesmo – dava a entender – com uma particular doçura de amor, que abranda a dureza dos corações dos cristãos, também eles não raro fechados sobre si mesmos e os seus próprios interesses. Não são os cálculos nem as vantagens mas o amor humilde e generoso que atrai a misericórdia do Pai, a bênção de Cristo e a abundância do Espírito Santo. Rezando e «amando-nos intensamente uns aos outros do fundo do coração» (cf. 1 Ped 1, 22), com humildade e abertura de espírito, disponhamo-nos a receber o dom divino da unidade. Continuemos, decididos, o nosso caminho, ou melhor, corramos para a plena comunhão entre nós!
«Dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo que Eu vo-la dou» (Jo 14, 27). Ouvimos estas palavras do Evangelho, que nos predispõem a implorar de Deus aquela paz que o mundo sente tanta dificuldade em encontrar. Como são grandes, hoje, os obstáculos no caminho da paz, e trágicas as consequências das guerras! Penso nas populações forçadas a abandonar tudo, especialmente no Médio Oriente onde muitos dos nossos irmãos e irmãs sofrem violências e perseguição por causa do ódio e de conflitos sempre fomentados pelo flagelo da proliferação e do comércio de armas, pela tentação de recorrer à força e pela falta de respeito pela pessoa humana, especialmente os vulneráveis, os pobres e aqueles que pedem apenas uma vida digna.
Não consigo deixar de pensar nas provações terríveis que o vosso povo experimentou: completou-se há pouco um século do «Grande Mal» que se abateu sobre vós. Este «enorme e louco extermínio» (Francisco, Saudação no início da Santa Missa para os fiéis de rito arménio, 12 de abril de 2015), este trágico mistério de iniquidade que o vosso povo provou na própria carne, permanece impresso na memória e queima no coração. Quero reiterar que os vossos sofrimentos são nossos: «são os sofrimentos dos membros do Corpo místico de Cristo» (João Paulo II, Carta Apostólica por ocasião do 1700° aniversário do Batismo do povo arménio, 4: Insegnamenti, XXIV/1 (2001), 275); recordá-los é não só oportuno, mas também forçoso: são uma advertência em todo o tempo, para que o mundo não volte jamais a cair na espiral de tais horrores.
Ao mesmo tempo desejo lembrar, com admiração, como a fé cristã, «também nos momentos mais trágicos da história arménia, foi a mola propulsora que assinalou o início do renascimento do povo provado» (ibid., 276). A fé é a vossa verdadeira força, que permite abrir-se à via misteriosa e salvífica da Páscoa: as feridas ainda abertas, causadas pelo ódio feroz e insensato, podem de algum modo assemelhar-se às de Cristo ressuscitado, as feridas que Lhe foram infligidas e que traz ainda impressas na sua carne. Mostrou-as, gloriosas, aos discípulos na tarde de Páscoa (cf. Jo 20, 20): aquelas chagas terrivelmente dolorosas recebidas na cruz, transfiguradas pelo amor, tornaram-se fontes de perdão e paz. Assim, mesmo a dor maior, transformada pela força salvífica da Cruz de que os Arménios são arautos e testemunhas, pode tornar-se uma semente da paz para o futuro.
Realmente a memória, permeada pelo amor, torna-se capaz de encaminhar-se por sendas novas e surpreendentes, onde as tramas de ódio se transformam em projetos de reconciliação, onde se pode esperar num futuro melhor para todos, onde são «felizes os obreiros da paz» (Mt 5, 9). Fará bem a todos comprometer-se por colocar as bases dum futuro que não se deixe absorver pela força ilusória da vingança; um futuro, onde nunca nos cansemos de criar as condições para a paz: um trabalho digno para todos, a solicitude pelos mais necessitados e a luta sem tréguas contra a corrupção que deve ser extirpada.
Queridos jovens, este futuro pertence-vos, mas valorizando a grande sabedoria dos vossos idosos. Aspirai a tornar-vos construtores de paz: não notários do status quo, mas ativos promotores duma cultura do encontro e da reconciliação. Deus abençoe o vosso futuro e «conceda que se retome o caminho de reconciliação entre o povo arménio e o povo turco, e possa a paz surgir também no Nagorno Karabakh» (Mensagem aos Arménios, 12 de abril de 2015).
Nesta perspetiva, gostaria enfim de evocar outra grande testemunha e artífice da paz de Cristo, São Gregório de Narek, que proclamei Doutor da Igreja. E poderia ser chamado também «Doutor da paz». Assim escrevia ele naquele Livro extraordinário, que me apraz pensar como a «constituição espiritual do povo arménio»: «Recordai-Vos [Senhor] daqueles que, na estirpe humana, são nossos inimigos, mas para seu bem: cumpri neles perdão e misericórdia. (...) Não extermineis aqueles que me mordem: transformai-os! Extirpai a conduta terrena viciosa, e enraizai a boa em mim e neles» (Livro das Lamentações, 83, 1-2). Narek, «fazendo-se participante profundamente consciente de cada necessidade» (ibid., 3, 2), quis mesmo identificar-se com os vulneráveis e os pecadores de todo o tempo e lugar, para interceder em favor de todos (cf. ibid., 31, 3; 32, 1; 47, 2): fez-se «o “oferece-oração” de todo o mundo» (ibid., 28, 2). Esta sua solidariedade universal com a humanidade é uma grande mensagem cristã de paz, um grito ardente que implora misericórdia para todos. Os arménios, presentes em muitos países e que daqui desejo abraçar fraternalmente, sejam mensageiros deste anseio de comunhão. O mundo inteiro precisa deste vosso anúncio, precisa desta vossa presença, precisa do vosso testemunho mais puro. A paz esteja convosco!


Fonte: Santa Sé

Fotos da Missa do Papa em Gyumri

Na manhã do último dia 25 de junho o Papa Francisco celebrou a Santa Missa votiva da Divina Misericórdia na Praça Vartanants na cidade de Gyumri, no contexto de sua Viagem Apostólica à Armênia.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Marco Agostini. O rito da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, p. 27-56.

Procissão de entrada


Incensação

Homilia do Papa na Missa em Gyumri

Viagem Apostólica do Papa Francisco à Armênia
(24-26 de Junho de 2016)
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Praça Vartanants em Gyumri
Sábado, 25 de junho de 2016

«Levantarão os antigos escombros, restaurarão as cidades destruídas» (Is 61, 4). Nestes lugares, amados irmãos e irmãs, podemos dizer que se realizaram as palavras do profeta Isaías, que ouvimos. Depois das devastações terríveis do terremoto, estamos aqui hoje para dar graças a Deus por tudo o que foi reconstruído.
Mas poderíamos também questionar-nos: Que nos convida o Senhor a construir hoje na vida? E sobretudo: Sobre que alicerce nos chama a construir a nossa vida? Procurando responder a esta pergunta, gostaria de propor-vos três alicerces estáveis sobre os quais podemos, incansavelmente, edificar e reedificar a vida cristã.
O primeiro alicerce é a memória. Uma graça que devemos pedir é a de saber recuperar a memória, a memória daquilo que o Senhor realizou em nós e por nós: trazer à mente que Ele, como diz o Evangelho de hoje, não nos esqueceu, mas «recordou-Se» (Lc 1, 72) de nós: escolheu-nos, amou-nos, chamou-nos e perdoou-nos; na nossa história pessoal de amor com ele, houve grandes acontecimentos que se devem reavivar com a mente e o coração. Mas há também outra memória a salvaguardar: a memória do povo. De facto, os povos têm uma memória, como as pessoas. E a memória do vosso povo é muito antiga e preciosa. Nas vossas vozes, ressoam as dos Santos sábios do passado; nas vossas palavras, há o eco de quem criou o vosso alfabeto, com a finalidade de anunciar a Palavra de Deus; nos vossos cânticos, misturam-se os gemidos e as alegrias da vossa história. Pensando em tudo isto, certamente podereis reconhecer a presença de Deus: Ele não vos deixou sozinhos. Mesmo no meio de adversidades tremendas, poderemos dizer, com o Evangelho de hoje, que o Senhor visitou o vosso povo (cf. Lc 1, 68): recordou-Se da vossa fidelidade ao Evangelho, das primícias da vossa fé, de todos aqueles que testemunharam, mesmo à custa do sangue, que o amor de Deus vale mais que a vida (cf. Sal 63, 4). É bom para vós poderdes lembrar, com gratidão, que a fé cristã se tornou a respiração do vosso povo e o coração da sua memória.
a fé constitui também a esperança para o vosso futuro, a luz no caminho da vida, sendo ela o segundo alicerce de que gostaria de vos falar. Há sempre um perigo que pode fazer esmorecer a luz da fé: é a tentação de a reduzir a algo do passado, algo importante mas próprio de outros tempos, como se a fé fosse um belo livro de miniaturas que se deve conservar num museu. Mas ela, se for encerrada nos arquivos da história, perde a sua força transformadora, a sua vivacidade, a sua abertura positiva aos outros. Ao contrário, a fé nasce e renasce do encontro vivificante com Jesus, da experiência da sua misericórdia que ilumina todas as situações da vida. Far-nos-á bem reavivar cada dia este encontro vivo com o Senhor. Far-nos-á bem ler a Palavra de Deus e abrir-nos, em silenciosa oração, ao seu amor. Far-nos-á bem deixar que o encontro com a ternura do Senhor acenda a alegria no coração: uma alegria maior do que a tristeza, uma alegria que perdura mesmo no meio da dor, transformando-se em paz. Tudo isto renova a vida, torna-a livre e dócil às surpresas, pronta e disponível para o Senhor e para os outros. E pode acontecer também que Jesus nos chame a segui-Lo mais de perto, a entregar a vida a Ele e aos irmãos: se vos convidar, especialmente a vós jovens, não tenhais medo, dizei-Lhe «sim». Ele conhece-nos, ama-nos de verdade, e deseja libertar o coração dos fardos do medo e do orgulho. Abrindo espaço a Ele, tornamo-nos capazes de irradiar amor. Desta forma, podereis dar continuidade à vossa grande história de evangelização, de que a Igreja e o mundo precisam nestes tempos conturbados, mas que são também os tempos da misericórdia.
O terceiro alicerce, depois da memória e da fé, é precisamente o amor misericordioso: é sobre esta rocha, a rocha do amor recebido de Deus e oferecido ao próximo, que se baseia a vida do discípulo de Jesus. E é vivendo a caridade que rejuvenesce e se torna atraente o rosto da Igreja. O amor concreto é o cartão-de-visita do cristão: outras maneiras de se apresentar podem ser enganadoras e até inúteis, pois todos saberão que somos seus discípulos por isto: se nos amarmos uns aos outros (cf. Jo 13, 35). Somos chamados, antes de mais nada, a construir e reconstruir incansavelmente vias de comunhão, a edificar pontes de união e a superar as barreiras de separação. Que os crentes deem sempre o exemplo, colaborando entre si no respeito recíproco e no diálogo, sabendo que «a única competição possível entre os discípulos do Senhor é a de verificar quem é capaz de oferecer o amor maior» [João Paulo II, Homilia, 27 de setembro de 2001Insegnamenti, XXIV/2 (2001), 478].
Na primeira leitura, o profeta Isaías recordou-nos que o espírito do Senhor repousa sobre quem leva a boa-nova aos miseráveis, cura as chagas dos corações despedaçados e consola os aflitos (cf. 61, 1-2). Deus habita no coração de quem ama; Deus habita onde se ama, especialmente onde se cuida, com coragem e compaixão, dos frágeis e dos pobres. Há tanta necessidade disto: há necessidade de cristãos que não se deixem abater pelas fadigas nem desanimem com as adversidades, mas estejam disponíveis e abertos, prontos a servir; há necessidade de homens de boa vontade que efetivamente, e não apenas em palavras, ajudem os irmãos e as irmãs em dificuldade; há necessidade de sociedades mais justas, onde cada um possa gozar de vida digna a começar por um trabalho justamente remunerado.
Entretanto poderíamos questionar-nos: Como é possível tornar-se misericordioso, com todos os defeitos e misérias que cada um vê dentro de si e ao seu redor? Gostaria aqui de me inspirar num exemplo concreto, num grande arauto da misericórdia divina, que propus à atenção de todos ao incluí-lo entre os Doutores da Igreja universal: São Gregório de Narek, palavra e voz da Arménia. É difícil encontrar alguém como ele, capaz de medir as misérias abissais que se podem esconder no coração do ser humano. Mas ele sempre colocou em diálogo as misérias humanas e a misericórdia de Deus, elevando uma ardente súplica feita de lágrimas e confiança no Senhor, «dador dos dons, a bondade por natureza (...), voz de consolação, anúncio de conforto, impulso de alegria, (...) ternura incomparável, misericórdia transbordante, (...) beijo de salvação» (Livro das lamentações, 3,1), na certeza de que «jamais é ofuscada pelas trevas da ira a luz da [sua] misericórdia» (ibid., 16, 1). Gregório de Narek é um mestre de vida, porque nos ensina que é importante, em primeiro lugar, reconhecermo-nos necessitados de misericórdia e depois, perante as misérias e as feridas que individuarmos, não nos fecharmos em nós mesmos mas abrir-nos, com sinceridade e confiança, ao Senhor, «Deus vizinho, ternura de Bondade» (ibid., 17, 2), «cheio de amor pelo homem, (...) fogo que queima o restolho do pecado» (ibid., 16, 2).
Por fim gostaria de invocar, com as suas palavras, a misericórdia divina e o dom de nunca nos cansarmos de amar: Espírito Santo, «poderoso protetor, intercessor e pacificador, nós Vos dirigimos as nossas súplicas (...). Concedei-nos a graça de nos estimularmos à caridade e às boas obras (...). Espírito de doçura, de compaixão, de amor pelo ser humano e de misericórdia, (...) Vós que nada mais sois senão misericórdia, (...) tende piedade de nós, Senhor nosso Deus, segundo a vossa grande misericórdia» (Hino de Pentecostes).

Palavras do Papa no final da celebração:
No final desta Celebração, desejo expressar viva gratidão ao Catholicos Karekin II e ao Arcebispo Minassian pelas amáveis palavras que me dirigiram, bem como ao Patriarca Ghabroyan e aos Bispos presentes, aos sacerdotes e às Autoridades que nos acolheram.
Agradeço a todos vós que viestes participar, chegando a Gyumri de diferentes regiões e mesmo da vizinha Geórgia. Quero, de modo particular, saudar aqueles que, com tanta generosidade e amor concreto, ajudam os necessitados. Penso sobretudo no hospital de Ashotsk, inaugurado há vinte e cinco anos e conhecido como o «Hospital do Papa»: nascido do coração de São João Paulo II, é ainda uma presença muito importante e próxima de quem sofre; penso nas obras animadas pela comunidade católica local, pelas Irmãs Arménias da Imaculada Conceição e pelas Missionárias da Caridade da Beata Madre Teresa de Calcutá.
Que a Virgem Maria, nossa Mãe, sempre vos acompanhe e guie os passos de todos pelo caminho da fraternidade e da paz.


Fonte: Santa Sé

Fotos da visita do Papa à Catedral de Etchmiadzin

No último dia 24 de junho o Papa Francisco fez uma visita de oração à Catedral de Etchmiadzin, sede da Igreja Armênia Apostólica, acompanhado do Catholicos Karekin II, no contexto de sua Viagem Apostólica à Armênia.

Após venerarem a Cruz e o Evangelho, o Papa e o Catholicos saudaram-se e recitaram alternadamente o Salmo 122. Seguiram-se algumas orações próprias da tradição armênia e os discursos dos dois primazes. A celebração encerrou-se com a oração do Pai Nosso e a bênção.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Marco Agostini. O rito da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, p. 5-14.

Procissão até a Catedral



Veneração do Evangelho e da Cruz

Discurso do Papa na visita à Catedral de Etchmiadzin

Viagem Apostólica do Papa Francisco à Armênia
(24-26 de junho de 2016)
Momento de Oração na Catedral Apostólica
Discurso do Santo Padre
Etchmiadzin
Sexta-feira, 24 de junho de 2016

Santidade, Venerado Irmão, Patriarca Supremo e Catholicos de Todos os Arménios,
Queridos irmãos e irmãs em Cristo!
Atravessei, comovido, o limiar deste lugar sagrado, testemunha da história do vosso povo, centro irradiador da sua espiritualidade; e considero um dom precioso de Deus poder-me aproximar do santo altar donde refulgiu a luz de Cristo na Arménia. Saúdo o Catholicos de Todos os Arménios, Sua Santidade Karekin II, a quem agradeço cordialmente o grato convite para visitar a Santa Etchmiadzin, os Arcebispos e Bispos da Igreja Apostólica Arménia, reconhecido pela receção cordial e jubilosa que todos vós me proporcionastes. Obrigado, Santidade, por me ter acolhido na sua casa; este sinal de amor exprime, de maneira muito mais eloquente que as palavras, o que significam a amizade e a caridade fraterna.
Nesta ocasião solene, dou graças ao Senhor pela luz da fé acesa na vossa terra, fé que conferiu à Arménia a sua identidade peculiar e a tornou mensageira de Cristo entre as nações. Cristo é a vossa glória, a vossa luz, o sol que vos iluminou e deu uma nova vida, que vos acompanhou e amparou, especialmente nos momentos de maior provação. Curvo-me diante da misericórdia do Senhor, que quis que a Arménia se tornasse a primeira nação, desde o ano de 301, a acolher o cristianismo como sua religião, numa época em que grassavam ainda as perseguições no Império Romano.
Para a Arménia, a fé em Cristo não foi uma espécie de vestido que se põe ou tira segundo as circunstâncias e conveniências, mas um elemento constitutivo da sua própria identidade, um dom de enorme valor que se há de acolher com alegria e guardar com empenho e fortaleza, à custa da própria vida. Como escreveu São João Paulo II, «com o “Batismo” da comunidade arménia, (...) nasce uma identidade nova do povo, que se tornará parte constitutiva e inseparável do próprio ser arménio. Desde então já não foi mais possível pensar que, entre os componentes dessa identidade, não esteja a fé em Cristo como elemento essencial» (Carta Apostólica no 1700º aniversário do Batismo do Povo Arménio, 2 de fevereiro de 2001, 2). Queira o Senhor abençoar-vos por este luminoso testemunho de fé, que demonstra de maneira exemplar, com o sinal eloquente e sagrado do martírio, a poderosa eficácia e fecundidade do Batismo recebido há mais de mil e setecentos anos, que se manteve um elemento constante da história do vosso povo.
Agradeço ao Senhor também pelo caminho que a Igreja Católica e a Igreja Apostólica Arménia realizaram, através dum diálogo sincero e fraterno, para chegar à plena partilha da Mesa Eucarística. Que o Espírito Santo nos ajude a realizar a unidade pela qual rezou nosso Senhor, pedindo que todos os seus discípulos sejam um só e o mundo creia. Apraz-me lembrar aqui o impulso decisivo dado à intensificação das relações e ao fortalecimento do diálogo entre as nossas duas Igrejas nos últimos tempos por Suas Santidades Vasken I e Karekin I, por São João Paulo II e por Bento XVI. Dentre as etapas particularmente significativas deste empenho ecuménico, lembro a comemoração das Testemunhas da fé do século XX, no contexto do Grande Jubileu do ano 2000; a entrega a Vossa Santidade da relíquia do Pai da Arménia cristã, São Gregório o Iluminador, para a nova catedral de Ierevan; a Declaração conjunta de Sua Santidade João Paulo II e de Vossa Santidade, assinada aqui mesmo na Santa Etchmiadzin; e as visitas que Vossa Santidade fez ao Vaticano por ocasião de importantes acontecimentos e comemorações.
O mundo está, infelizmente, marcado por divisões e conflitos, bem como por graves formas de pobreza material e espiritual, incluindo a exploração das pessoas, mesmo de crianças e idosos, e espera dos cristãos um testemunho de estima mútua e colaboração fraterna, que faça resplandecer diante de cada consciência o poder e a verdade da Ressurreição de Cristo. O esforço paciente e renovado rumo à unidade plena, a intensificação das iniciativas comuns e a colaboração entre todos os discípulos do Senhor tendo em vista o bem comum são como que uma luz refulgente na noite escura e um apelo a viver, na caridade e compreensão mútua, as próprias diferenças. O espírito ecuménico adquire valor exemplar mesmo fora das fronteiras visíveis da comunidade eclesial, constituindo para todos uma forte chamada a compor as divergências através do diálogo e valorização de tudo aquilo que une. Além disso impede a instrumentalização e manipulação da fé, porque obriga a redescobrir as suas raízes genuínas, a comunicar, defender e difundir a verdade no respeito pela dignidade de cada ser humano e segundo modalidades em que transpareça a presença daquele amor e daquela salvação que se quer espalhar. Deste modo, oferece-se ao mundo – extremamente necessitado – um testemunho convincente de que Cristo está vivo e ativo, capaz de abrir caminhos de reconciliação sempre novos entre as nações, as civilizações e as religiões. Atesta-se e torna-se credível que Deus é amor e misericórdia.
Queridos irmãos, quando a nossa atividade é inspirada e movida pela força do amor de Cristo, crescem o conhecimento e a estima recíprocas, criam-se melhores condições para um caminho ecuménico frutuoso e, ao mesmo tempo, mostra-se a todas as pessoas de boa vontade e à sociedade inteira um caminho concreto que se pode percorrer para harmonizar os conflitos que dilaceram a vida civil e cavam divisões difíceis de curar. Deus Todo-Poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, por intercessão de Maria Santíssima, de São Gregório o Iluminador, «coluna de luz da Santa Igreja dos Arménios», e de São Gregório de Narek, Doutor da Igreja, abençoe a vós todos e à Nação Arménia inteira e a guarde sempre na fé que recebeu dos pais e testemunhou gloriosamente no decurso dos séculos.


Fonte: Santa Sé

A Viagem do Papa à Armênia

Dos dias 24 a 26 de junho de 2016 o Papa Francisco realizou uma Viagem Apostólica à Armênia. Esta foi sua décima quarta Viagem Apostólica fora da Itália.


A viagem do Papa foi feita a convite do Catholicos Karekin II, Primaz da Igreja Apostólica Armênia. O Catholicos já havia seencontrado com o Papa em abril de 2015 no Vaticano.

O último Papa a visitar a Armênia foi São João Paulo II em setembro de 2001, por ocasião dos 1700 anos do Batismo da Armênia (a Armênia converteu-se ao cristianismo em 301, sendo portanto o “primeiro país cristão”).

João Paulo II com Karekin II em 2001
A programação da viagem do Papa Francisco foi a seguinte:

Dia 24 (sexta-feira): Chegada ao aeroporto de Ierevan, visita à Catedral Armênia Apostólica de Etchmiadzin e encontro com autoridades civis.

Dia 25 (sábado): Visita ao Memorial de Tzitzernakaberd, Santa Missa em Gyumri, Visita às Catedrais Armênia Apostólica e Armênia Católica de Gyumri, Encontro Ecumênico de Oração pela paz em Ierevan.

Dia 26 (domingo): Encontro com os Bispos Armênios Católicos, participação da Divina Liturgia Armênia Apostólica, almoço com o Catholicos e assinatura de uma declaração conjunta e visita ao Mosteiro de Khor Virap.

* * *
Alguns dados da Igreja na Armênia:

Número de católicos: 280.000 (9,6% da população)
Circunscrições eclesiásticas: 1
Paróquias: 20
Bispos: 3
Presbíteros: 27
Religiosos não sacerdotes: 22
Seminaristas: 69
Escolas católicas: 1
Hospitais e ambulatórios: 21
Casas para anciãos e deficientes: 5
Outras instituições: 3

Na sequência postaremos as homilias e discursos do Papa e as fotos das celebrações litúrgicas ao longo da viagem.
Francisco e Karekin II soltam duas pombas no final da viagem
Confira também nossa postagem sobre as Igrejas Ortodoxas Orientais, onde falamos da Igreja Armênia, clicando aqui.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Catequese do Papa: A cura do leproso

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 22 de junho de 2016
Jubileu (24): A cura do leproso

Bom dia, amados irmãos e irmãs!
«Senhor, se quiseres, podes purificar-me!» (Lc 5,12): é o pedido que ouvimos dirigir por um leproso a Jesus. Este homem não pede somente para ser curado, mas para ser «purificado», ou seja, sarado integralmente, no corpo e no coração. Com efeito, a lepra era considerada uma forma de maldição de Deus, de profunda impureza. O leproso devia permanecer distante de todos; não podia entrar no templo, nem participar no serviço divino. Longe de Deus, afastado dos homens. Estas pessoas levavam uma vida triste!
Não obstante, aquele leproso não se resigna à enfermidade, nem sequer às disposições que faziam dele um excluído. Para alcançar Jesus, não teve medo de violar a lei e entrou na cidade - o que não podia fazer, dado que lhe era proibido - e quando o encontrou, «lançou-se com o rosto por terra, suplicando-lhe: Senhor, se quiseres, podes purificar-me!» (v. 12). Tudo o que faz e diz este homem, considerado impuro, é a expressão da sua fé! Reconhece o poder de Jesus: está convicto de que Ele tem o poder de o curar, e que tudo depende da sua vontade. Esta fé foi a força que lhe permitiu violar todas as convenções e procurar ir ao encontro com Jesus; assim, ajoelhando-se diante dele, chama-lhe «Senhor». A súplica do leproso demonstra que quando nos apresentamos a Jesus não é necessário fazer longos discursos. São suficientes poucas palavras, contanto que sejam acompanhadas pela plena confiança no seu poder absoluto e na sua bondade. Efetivamente, confiar na vontade de Deus significa entregar-se à sua misericórdia infinita. Também eu vos contarei um segredo pessoal. À noite, antes de ir para a cama, recito esta breve oração: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!». E rezo cinco vezes o «Pai-Nosso», um para cada chaga de Jesus, porque Jesus nos purificou com as suas chagas. Mas se eu o faço, também vós o podeis fazer, em casa, dizendo: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!»; e, pensando nas chagas de Jesus, receitai um «Pai-Nosso» para cada uma delas. E Jesus ouve-nos sempre!
Jesus sente-se profundamente comovido por este homem. O Evangelho de Marcos realça que «Jesus se compadeceu dele, estendeu a mão, lhe tocou e lhe disse: “Eu quero, fica curado!”» (1,41). O gesto de Jesus acompanha as suas palavras, tornando mais explícito o seu ensinamento. Contra as disposições da Lei de Moisés, que proibia a aproximação de um leproso (cf. Lv 13,45-46), Jesus estende a mão e chega a tocá-lo. Quantas vezes nós encontramos um pobre que vem ao nosso encontro! Podemos até ser generosos, podemos ter compaixão dele, mas geralmente não o tocamos. Oferecemos-lhe uma moeda, lançamo-la mas evitamos de tocar a sua mão. E esquecemos que se trata do corpo de Cristo! Jesus ensina-nos a não ter medo de tocar o pobre e o excluído, pois é Ele que está neles. Tocar o pobre pode purificar-nos da hipocrisia, tornando-nos inquietos diante da sua condição. Tocai os excluídos. Hoje acompanham-me aqui estes jovens. Muitos pensam que seria melhor que eles permanecessem na sua terra, mas ali sofriam muito. São os nossos refugiados, mas por tantos são considerados excluídos. Por favor, eles são nossos irmãos! O cristão não exclui ninguém, deixa um lugar para todos, permite que todos venham!
Depois de ter curado o leproso, Jesus pediu-lhe que não falasse sobre isto com ninguém, e contudo disse-lhe: «Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés prescreveu, para lhes servir de testemunho» (v. 14). Esta disposição de Jesus indica pelo menos três aspetos. O primeiro: a graça que age em nós não busca o sensacionalismo. Em geral, ela move-se com discrição, sem clamores. Para curar as feridas e para nos guiar pelo caminho da santidade, ela trabalha modelando pacientemente o nosso coração segundo o Coração do Senhor, de maneira a assumir cada vez mais os seus pensamentos e sentimentos. O segundo: fazendo com que a cura ocorrida fosse averiguada oficialmente pelos sacerdotes e oferecendo um sacrifício de expiação, o leproso volta a ser admitido no seio da comunidade dos fiéis e na vida social. A sua reintegração completa é a cura. Como ele mesmo tinha suplicado, agora está completamente purificado! Enfim, apresentando-se aos sacerdotes o leproso presta-lhes testemunho acerca de Jesus e da sua autoridade messiânica. A força da compaixão com a qual Jesus curou o leproso levou a fé daquele homem a abrir-se à missão. Era um excluído e agora é um de nós.
Pensemos em nós, nas nossas misérias... Cada um tem as suas. Pensemos com sinceridade. Quantas vezes as encobrimos com a hipocrisia das «boas maneiras». E precisamente agora é necessário que fiquemos sozinhos, que nos ajoelhemos diante de Deus e rezemos: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!». Fazei-o, fazei-o antes de ir dormir, todas as noites. E agora recitemos juntos esta bonita oração: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!».


Fonte: Santa Sé

Mudanças no Colégio Cardinalício

Durante o Consistório Ordinário Público presidido pelo Papa Francisco no último dia 20 de junho quatro cardeais fizeram a Optatio (opção) de passar da Ordem Diaconal à Ordem Presbiteral, como prescreve o Código de Direito Canônico (CIC cân. 350 §5-6):

Mediante opção manifestada em Consistório e aprovada pelo Romano Pontífice, os Cardeais da ordem diaconal, se tiverem permanecido por um decênio completo nesta ordem, podem passar à ordem presbiteral. Neste caso, obtêm a precedência sobre todos os Cardeais Presbíteros criados depois deles.


Os novos Cardeais Presbíteros mantêm seus títulos, que são elevados temporariamente de diaconias a títulos presbiterais. São denominados títulos pro hac vice (por enquanto).

Os quatro novos Cardeais Presbíteros foram criados Cardeais no primeiro Consistório presidido por Bento XVI (24 de março de 2006). Nenhum é eleitor.

Cardeal Wiiliam Joseph Levada
Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé
Nascimento: 15/06/1936 - Estados Unidos
Título: Santa Maria in Domnicapro hac vice”
 

Cardeal Franc Rodé, C.M.
Prefeito Emérito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica
Nascimento: 23/09/1934 - Eslovênia
Título: São Francisco Xavier alla Garbatellapro hac vice”

Cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo
Arcipreste Emérito da Basílica de São Paulo fora-dos-muros
Nascimento: 27/08/1925 - Itália
Título: Santa Maria in Porticopro hac vice”

 Cardeal Albert Vanhoye, S.J.
Secretário Emérito da Pontifícia Comissão Bíblica
Nascimento: 23/07/1923 - França
Título: Santa Maria das Mercês e Santo Adriano a Villa Albanipro hac vice”

Atualmente o Colégio Cardinalício conta com 213 membros, sendo 101 não eleitores e 112 eleitores em um eventual Conclave. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

Papa canonizará cinco novos santos

No último dia 20 de junho o Papa Francisco presidiu no Palácio Apostólico um Consistório Ordinário Público para tratar das causas de canonização de cinco novos santos:

Salomon Leclercq (1745-1792, França)
Presbítero e mártir da Revolução Francesa

 Manuel González García (1877-1940, Espanha)
Bispo e fundador da União Eucarística Reparadora e da Congregação das Irmãs Missionárias Eucarísticas de Nazaré

 Ludovico Pavoni (1784-1849, Itália)
Presbítero e fundador da Congregação dos Filhos de Maria Imaculada

Alfonso Maria Fusco (1839-1910, Itália)
Presbítero e fundador da Congregação das Irmãs de São João Batista
 

Elisabeth da Santíssima Trindade (1880-1906, França)
Religiosa da Ordem das Carmelitas Descalças

Os cinco novos santos serão canonizados pelo Papa no próximo dia 16 de outubro.

Domingo de Pentecostes em Moscou

No último dia 19 de junho o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou a Divina Liturgia da Festa de Pentecostes (segundo o calendário juliano) no Mosteiro da Santíssima Trindade em Moscou.

Entrada
Patriarca abençoa os fieis



sexta-feira, 24 de junho de 2016

Homilia: XIII Domingo do Tempo Comum – Ano C

 Santo Agostinho
Sermão 100
A renúncia”

Escutai o que Deus me inspirou sobre este capítulo do Evangelho: nele se lê como o Senhor se comportou distintamente com três homens. A um que se ofereceu para segui-lo o rejeitou; a outro que não se atrevia o animou; por fim a um terceiro que o retardava o censurou.
Quem mais disposto, mais resoluto, mais decidido diante de um bem excelente como é seguir ao Senhor aonde quer que vá do que aquele que disse: Senhor, te seguirei aonde quer que vá? Cheio de admiração tu perguntas: Como isto? Como desagradou ao bom mestre, nosso Senhor Jesus Cristo, que vai em busca de discípulos para dar-lhes o Reino dos Céus, homem tão bem disposto? Como se tratava de um mestre que previa o futuro, entendemos que este homem, meus irmãos, se tivesse seguido a Cristo, teria buscado o próprio interesse e não o de Jesus Cristo. Pois o próprio Senhor disse: Nem todo o que me diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus.
Este era um deles; não se conhecia a si mesmo como o conhecia o médico que o examinava. Porque sabendo-se mentiroso, reconhecendo-se falaz e simulado, não conhecia a quem falava. Pois ele é de quem diz o evangelista: Não necessitava que ninguém lhe informasse a respeito deles, pois ele sabia o que há no interior do homem. E o que lhe respondeu? As raposas têm tocas e os pássaros do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Mas onde não tem? Em tua fé. As raposas têm esconderijos em teu coração: és falaz. As aves têm ninhos em teu coração: és soberbo. Sendo mentiroso e soberbo não podes me seguir. Como pode a duplicidade seguir a simplicidade?
Porém, ao outro que está sempre calado, que não diz nada e nada promete, lhe diz: Segue-me. Quanto era o mal que via no outro, tanto era o bem que via neste. Ao que não quer lhe diz: Segue-me. Tens um homem disposto – te seguirei aonde quer que vá – e dizes segue-me a quem não quer seguir-te. “A este, ele diz, o excluo porque vejo nele tocas, vejo nele ninhos”. Mas por que incomodas a este que convidas e se desculpa? Veja que o estimulas e não vem, lhe rogas e não te segue, pois o que diz? Irei primeiro enterrar o meu pai. Mostrava ao Senhor a fé de seu coração, mas lhe retinha a piedade. Quando nosso Senhor Jesus Cristo destina os homens ao Evangelho, não quer que se interponha desculpa alguma de piedade carnal e temporal. Certamente a lei ordena esta ação piedosa, e o próprio Senhor acusou os judeus de desprezar este mandamento de Deus. Também São Paulo diz em sua carta: Este é o primeiro mandamento acompanhado de promessa. Qual? Honra o teu pai e a tua mãe. Não existe dúvida de que é mandamento de Deus.
Este jovem queria, portanto, obedecer a Deus sepultando ao seu pai. Mas existem lugares, tempos e assuntos apropriados a este assunto e a este lugar. Há de honrar-se ao pai, mas deve-se obedecer a Deus; deve-se amar ao progenitor, mas deve-se dar preferência ao Criador. “Eu, diz Jesus, te chamo ao Evangelho; chamo-te para outra obra mais importante do que aquela que tu queres fazer”.
Deixa que os mortos enterrem os seus mortos. Teu pai está morto. Existem outros mortos que podem enterrar os mortos. Quem são os mortos que sepultam os mortos? Pode ser enterrado um morto por outros mortos? Como lhe amortalhão se estão mortos? Como transportarão o cadáver se estão mortos? Como chorarão por ele se estão mortos?  Amortalham, o levam para enterrar e o choram apesar de estarem mortos, porque aqui se trata dos infiéis.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 669-670. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.