sábado, 31 de agosto de 2019

Homilia: XXII Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Jerônimo
Epístola 14
Irmão, senta-te no último lugar

Ai daquele que, sem trajar as vestes de boda, entra no banquete! Não lhe resta senão ouvir naquele instante: Amigo, como entraste aqui? E, emudecido, se ordenará aos servidores: Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Ai daquele que, guardando em um lenço o talento recebido, o manteve escondido enquanto os demais buscaram lucro! Prontamente se erguerá a voz de seu Senhor indignado: Servo inútil, por que não puseste meu dinheiro no banco, e quando eu voltasse, o cobraria com juros?
Ou seja, devias ter deixado junto do altar o que não foste capaz de fazer frutificar. Pois enquanto tu, negociante preguiçoso, ficaste com o denário, ocupaste o lugar de outro que podia duplicar o dinheiro. Por isso, do mesmo modo que aquele que serve bem alcança um posto bom, assim, aquele que se aproxima indignamente do cálice do Senhor, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor.
Nem todos os Bispos são realmente Bispos. Estarás pensando em Pedro, porém pensa também em Judas. Observas Estêvão, porém olha também para Nicolau, a quem o Senhor abomina em seu Apocalipse, porque concebeu coisas tão infames e vergonhosas que daquela raiz brotou a heresia dos nicolaítas.
Que cada um se examine a si mesmo, e somente então se aproxime. A dignidade eclesiástica não faz o cristão. O centurião Cornélio, sendo ainda pagão, é inundado pelo dom do Espírito Santo; Daniel, ainda menino, julga aos anciãos; Amós estava recolhendo amoras, e repentinamente é constituído profeta; Davi, sendo pastor, é eleito rei; ao menor de seus discípulos Jesus o amava mais que a qualquer outro. Irmão, senta-te no último lugar para que, se vier outro inferior a ti, sejas convidado a subir mais acima.
Sobre quem o Senhor descansa senão sobre o humilde e o pacífico, e sobre quem teme por suas próprias palavras? A quem se dá, se lhe exige mais. Os poderosos serão poderosamente atormentados. Que ninguém se vanglorie da simples castidade de um corpo limpo, pois de toda palavra ociosa que falem os homens terão que dar contas no dia do juízo, e somente a injúria a um irmão é crime de homicídio.
Não é fácil ocupar o posto de Paulo ou ter a dignidade daqueles que já reinam com Cristo; pode vir um anjo que rasgue o véu de teu templo e remova o teu candelabro. Estando para edificar uma torre, calcula bem o custo da obra futura. O sal sem sabor não vale mais do que para ser jogado fora, e que os porcos o pisem. Se o monge cai, o sacerdote rogará por ele; pelo sacerdote caído quem rogará?


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 705-706. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Doroteu de Gaza para este domingo clicando aqui.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Gestos e sinais litúrgicos: Encontro de Pastoral Litúrgica 2007

No dia 30 de julho postamos aqui no blog os conteúdos do 45º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica (ENPL), promovido pelo Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal, com o tema: “Liturgia e Missão”.

Neste mês de agosto retomamos o resgate histórico dos encontros anteriores, desta vez recordando o 33º ENPL, que aconteceu em julho de 2007, com o tema: "Como celebrar: Gestos e sinais litúrgicos".

Seguem os áudios de quatro conferências, disponibilizados pelo Secretariado Nacional de Liturgia:

Dr. João Duque

Pe. Dr. Mário Tavares de Oliveira

Pe. Dr. Joaquim Augusto Nunes Ganhão

Pe. Dr. Luís Manuel Pereira da Silva

Imposição das mãos: Um dos gestos litúrgicos

Ordenação Episcopal do Bispo Melquita para o Brasil

No último dia 25 de agosto o Patriarca da Igreja Greco-Católica Melquita, Dom Youssef Absi, celebrou a Divina Liturgia na Paróquia Melquita de São Nicolau em Safita (Síria) para a Ordenação Episcopal de Dom George Khoury, nomeado pelo Papa Francisco como novo Bispo da Eparquia de Nossa Senhora do Paraíso para os Melquitas do Brasil, com sede em São Paulo.

Dom George Khoury, natural de Safita (Síria) foi ordenado sacerdote em 1999. Enviado em missão para o Brasil, trabalhou na Catedral Melquita em São Paulo (2002-2003) e na Paróquia Melquita de São Basílio no Rio de Janeiro (2003-2019).

A Eparquia de Nossa Senhora do Paraíso estava vacante desde fevereiro de 2018, quando o então Eparca, Dom Joseph Gébara, foi transferido para a Arquieparquia de Petra e Filadélfia (Jordânia).

Entrada do eleito

Profissão de fé do eleito
O Bispo eleito beija os quatro cantos do altar
Imposição das mãos

Ângelus: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 25 de agosto de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje (Lc 13,22-30) nos apresenta Jesus que passa ensinando por cidades e povoados, dirigindo-se a Jerusalém, onde sabe que deve morrer na cruz para a salvação de todos nós. Neste quadro, se insere a pergunta de alguém que se dirige a Ele dizendo: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?» (v. 23). A questão era debatida naquele tempo - quantos se salvam, quantos não... - e haviam diversos modos de interpretar a Escritura a respeito, de acordo com os textos que tomavam. Jesus, porém, inverte a pergunta, que aponta mais para a quantidade, isto é, “são poucos?”, e, ao invés, coloca a resposta no plano da responsabilidade, convidando-nos a usar bem o tempo presente. Diz de fato: «Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão» (v. 24).

Com estas palavras, Jesus faz-nos compreender que não é questão de número, não há o “número fechado” no paraíso! Mas se trata de atravessar desde agora a passagem certa, e esta passagem certa é para todos, mas é estreita. Este é o problema. Jesus não quer iludir-nos, dizendo: “Sim, ficai tranquilos, a coisa é fácil, há uma bela autoestrada e no final um grande portão...”. Não nos diz isto: nos fala da porta estreita. Diz-nos as coisas como são: a passagem é estreita. Em que sentido? No sentido de que para salvar-se é preciso amar a Deus e ao próximo, e isto não é cômodo! É uma “porta estreita” porque é exigente, o amor é exigente sempre, requer empenho, ou melhor, “esforço”, isto é, uma vontade decidida e perseverante de viver segundo o Evangelho. São Paulo o chama «o bom combate da fé» (1Tm 6,12). É preciso o esforço de todos os dias, de cada dia para amar a Deus e ao próximo.

E, para explicar-se melhor, Jesus conta uma parábola. Há um dono de casa, que representa o Senhor. A sua casa simboliza a vida eterna, isto é, a salvação. E aqui retorna a imagem da porta. Jesus diz: «Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: “Senhor, abre-nos a porta!” Ele responderá: “Não sei de onde sois”» (v. 25). Estas pessoas agora buscam fazer-se reconhecer, recordando ao dono de casa: “Eu comi contigo, eu bebi contigo... eu escutei os teus conselhos, os teus ensinamentos em público...” (v. 26); “eu estava quando tu deste aquela conferência...”. Mas o Senhor repetirá que não os conhece e os chama de «operadores de injustiça». Eis o problema! O Senhor nos reconhecerá não pelos nossos títulos - “Mas olha, Senhor, eu pertencia àquela associação, eu era amigo de tal monsenhor, de tal Cardeal, de tal padre...”. Não, os títulos não contam, não contam. O Senhor nos reconhecerá apenas por uma vida humilde, uma vida boa, uma vida de fé que se traduz nas obras.

E para nós cristãos, isto significa que somos chamados a instaurar uma verdadeira comunhão com Jesus, rezando, indo à igreja, aproximando-se dos sacramentos e nutrindo-nos da sua Palavra. Isto nos mantém na fé, nutre a nossa esperança, reaviva a caridade. E assim, com a graça de Deus, podemos e devemos dedicar a nossa vida para o bem dos irmãos, lutar contra toda forma de mal e de injustiça.

Ajude-nos nisto a Virgem Maria. Ela passou através da porta estreita que é Jesus, o acolheu com todo o coração e o seguiu todos os dias de sua vida, também quando não entendia, também quando uma espada atravessava a sua alma. Por isto a invocamos como “porta do céu”: Maria, porta do céu; uma porta que reflete exatamente a forma de Jesus: a porta do coração de Deus, coração exigente, mas aberto a todos nós.


Tradução livre do texto italiano divulgado pela Santa Sé.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Observância das normas litúrgicas e ars celebrandi

Com este texto encerramos a série de postagens sobre as reflexões publicadas no site da Santa Sé durante o Ano Sacerdotal (2009-2010), cujos 10 anos celebramos:

Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Observância das normas litúrgicas e “ars celebrandi

1. A situação no pós-Concílio

O Concílio Vaticano II ordenou uma reforma geral na sagrada Liturgia [1]. Esta foi efetuada, após o encerramento do Concílio, por uma comissão chamada abreviadamente de Consilium [2]. É sabido que a reforma litúrgica foi desde o início objeto de críticas, às vezes radicais, como de exaltações, em certos casos excessivas. Não é nossa intenção nos deter neste problema. Podemos dizer em contrapartida que se está geralmente de acordo em observar um forte aumento dos abusos no campo celebrativo depois do Concílio.


Também o Magistério recente tomou nota da situação e em muitos casos chamou à estrita observância das normas e das indicações litúrgicas. Por outro lado, as leis litúrgicas estabelecidas para a forma ordinária (ou de Paulo VI) - que, exceções à parte, celebra-se sempre e em todas as partes na Igreja de hoje - são muito mais “abertas” em relação ao passado. Estas permitem muitas exceções e diversas aplicações, e preveem também múltiplos formulários para os diversos ritos (a pluriformidade inclusive aumenta na passagem da editio typica latina às versões nacionais). Apesar disso, um grande número de sacerdotes considera que têm de ampliar ulteriormente o espaço deixado à “criatividade”, que se expressa sobretudo com a frequente mudança de palavras ou de frases inteiras em relação às fixadas nos livros litúrgicos, com a inserção de “ritos” novos e frequentemente estranhos completamente à tradição litúrgica e teológica da Igreja e inclusive com o uso de vestimentas, utensílios sagrados e adornos nem sempre adequados e, em alguns casos, caindo inclusive no ridículo. O liturgista Cesare Giraudo resumiu a situação com estas palavras:

Ordenação Episcopal em Manila

No último dia 22 de agosto, Memória de Nossa Senhora Rainha, o Arcebispo de Manila (Filipinas), Cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, celebrou a Santa Missa para a Ordenação Episcopal de Dom Roberto Orendain Gaa, nomeado pelo Papa Francisco como novo Bispo de Novaliches.

Antes da Missa o novo Bispo fez a sua profissão de fé diante do Cardeal Tagle na capela do Arcebispado.

Profissão de fé na capela do Arcebispado
 
Santa Missa: Procissão de entrada
Ritos iniciais
Bênção ao Diácono para o Evangelho

VI Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 21 de agosto de 2019
Atos dos Apóstolos (6)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A comunidade cristã nasce da efusão superabundante do Espírito Santo e cresce graças ao fermento da partilha entre os irmãos e irmãs em Cristo. Existe um dinamismo de solidariedade que edifica a Igreja como família de Deus, de onde resulta central a experiência da koinonía. O que quer dizer esta palavra estranha? É uma palavra grega que quer dizer «colocar em comunhão», «colocar em comum», ser como uma comunidade, não isolados. Esta é a experiência da primeira comunidade cristã, ou seja, colocar em comunhão, «compartilhar», «comunicar, participar», não isolar-se. Na Igreja das origens esta koinonía, esta comunidade nos leva sobretudo à participação no Corpo e no Sangue de Cristo. Por isto, quando recebemos a comunhão nós dizemos “comungamos”, entramos em comunhão com Jesus e esta comunhão com o Corpo e Sangue de Cristo, que se realiza na Santa Missa, se traduz em união fraterna e, portanto, também naquilo que é mais difícil para nós: colocar em comum os bens e recolher o dinheiro para a coleta em favor da Igreja mãe de Jerusalém (cf. Rm 12,13; 2Cor 8-9) e das demais Igrejas. Se vocês querem saber se são bons cristãos devem rezar, buscar aproximar-se da comunhão, do sacramento da reconciliação. Porém o sinal que teu coração se converteu é quando a conversão chega aos bolsos, quando toca o próprio interesse: ali é onde se vê se alguém é generoso com os demais, se ajuda aos mais débeis, aos mais pobres: quando a conversão chega ali, fica tranquilo que é uma verdadeira conversão. Se fica só nas palavras não é uma boa conversão.
A vida eucarística, as orações, a pregação dos Apóstolos e a experiência da comunhão (cf. At 2,42) fazem dos crentes uma multidão de pessoas que têm - diz o livro dos Atos dos Apóstolos - «um só coração e uma só alma» e que não consideram de sua propriedade o que possuem, mas que colocam tudo em comum (cf. At 4,32). É um modelo de vida tão forte que nos ajuda a ser generosos e não mesquinhos. Por este motivo, «não havia entre eles nenhum necessitado, porque todos que possuíam - diz o livro - campos ou casas vendiam-nas, levavam o dinheiro e o colocavam aos pés dos apóstolos e se repartia conforme a necessidade de cada um» (At 4,34-35). Sempre a Igreja cumpriu este gesto dos cristãos que se despojavam das coisas que tinham demais, das coisas que não eram necessárias para dá-las àqueles que tinham necessidade. E não era apenas dinheiro: também tempo! Quantos cristãos - vocês, por exemplo, aqui na Itália -, quantos cristãos fazem voluntariado! E isto é belíssimo. É comunhão, compartilhar meu tempo com os demais, para ajudar aqueles que têm necessidade. É assim o voluntariado, as obras de caridade, as visitas aos enfermos; é necessário sempre compartilhar com os demais, e não buscar apenas o próprio interesse.
A comunidade, ou koinonía, se converte deste modo na nova modalidade de relação entre os discípulos do Senhor. Os cristãos experimentam uma nova modalidade de ser entre eles, de comportar-se. E é a modalidade própria do cristão, a tal ponto que os pagãos olhavam os cristãos e exclamavam: “Vede como se amam!”. O amor era a modalidade. Porém não amor apenas de palavra, não amor fingido: amor de obras, de ajudarem-se uns aos outros, amor concreto, o concreto do amor. O vínculo com Cristo estabelece um vínculo entre os irmãos que conflui e se expressa também na comunhão dos bens materiais. Sim, esta modalidade de estar juntos, este amar-se assim chega até os bolsos, chega ao desprender-se também do obstáculo do dinheiro para dá-lo aos demais, indo contra o próprio interesse. Ser membros do corpo de Cristo faz os crentes corresponsáveis uns com os outros. “Mas olha aquele, o problema que tem: a mim não importa, é assunto dele”. Não, entre os cristãos não podemos dizer: “Pobre desta pessoa, tem um problema em sua casa, está passando esta dificuldade de família”. Eu, porém, tenho que rezar, eu tomo como meu, não sou indiferente. Isso é ser cristão. Por isto os fortes sustentam aos fracos (cf. Rm 15,10) e ninguém experimenta a indigência que humilha e desfigura a dignidade humana, porque eles vivem esta comunidade; colocar em comum o coração. Amam-se. Este é o sinal: amor concreto.
Tiago, Pedro e João, que são os três Apóstolos como as “colunas” da Igreja de Jerusalém, estabelecem em comunhão que Paulo e Barnabé evangelizem os pagãos enquanto eles evangelizarão os judeus, e pedem apenas a Paulo e Barnabé, qual é a condição: não esquecer-se dos pobres, recordar os pobres (cf. Gl 2,9-10). Não apenas os pobres materiais, mas também os pobres espirituais, a gente que tem problemas e tem necessidade de nossa proximidade. Um cristão parte sempre de si mesmo, do próprio coração, e se aproxima dos demais como Jesus se aproximou de nós. Esta é a primeira comunidade cristã.
Um exemplo concreto de partilha e de comunhão de bens nos vem do testemunho de Barnabé: ele possui um campo e vende-o para entregar o valor da venda aos Apóstolos (cf. At 4,36-37). Porém junto a seu exemplo positivo aparece outro tristemente negativo: Ananias e sua mulher Safira, vendendo um terreno, decidem entregar apenas uma parte aos Apóstolos e reter para eles uma parte (At 5,1-12). Esta enganação interrompe a cadeia da partilha gratuita, da partilha serena, desinteressada, e as consequências são trágicas, são fatais (At 5,5.10). O Apóstolo Pedro desmascara a falta de Ananias e de sua mulher e lhes diz: «Como é que Satanás encheu teu coração para mentir ao Espírito Santo e ficar com parte do preço do campo? (...) Não mentiste aos homens, mas a Deus» (At 5,3-4). Poderíamos dizer que Ananias mentiu a Deus por meio de uma consciência isolada, de uma consciência hipócrita, com uma pertença eclesial “negociada”, parcial e oportunista. A hipocrisia é o pior inimigo desta comunidade cristã, deste amor cristão: é fingir amar muito mas buscar apenas o próprio interesse.
Trair a sinceridade da partilha, com efeito, ou trair a sinceridade do amor, significa cultivar a hipocrisia, afastar-se da verdade, tornar-se egoísta, apagar o fogo da comunhão e destinar-se ao frio de uma morte interior. Quem se comporta assim caminha na Igreja como um turista. Há tantos turistas na Igreja que estão sempre de passagem, mas que nunca entram na Igreja: é o turismo espiritual que os faz crer que são cristãos, enquanto são apenas turistas das catacumbas. Não, não devemos ser turistas na Igreja, mas irmãos uns dos outros. Uma vida dirigida apenas a tirar proveito e vantagem das situações em detrimento dos demais provoca inevitavelmente a morte interior. E quantas pessoas se dizem próximas da Igreja, amigos de sacerdotes, de Bispos, enquanto buscam apenas o próprio interesse. Estas são as hipocrisias que destroem a Igreja.
O Senhor - peço para todos nós - volte a derramar sobre nós seu Espírito de ternura, que vence a hipocrisia e faz circular esta verdade que nutre a solidariedade cristã, a qual, longe de ser atividade de assistência social, é a expressão irrenunciável da natureza da Igreja, mãe terníssima de todos, especialmente dos mais pobres.


Festa da Transfiguração no calendário juliano

No último dia 19 de agosto as Igrejas que seguem o calendário juliano celebraram a Festa da Transfiguração do Senhor. Neste dia, na tradição bizantina, é costume abençoar as frutas, recordando que Cristo "transfigurou" em si a herança do pecado original (representado pelo fruto do Éden).

Destacamos aqui as celebrações presididas pelos Patriarcas Ortodoxos Teophilos III de Jerusalém no Monte Tabor e Kirill de Moscou na Catedral da Transfiguração em São Petersburgo:

Divina Liturgia no Monte Tabor:

Chegada do Patriarca Theophilos
 
Divina Liturgia
 
Incensação

sábado, 24 de agosto de 2019

Homilia: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

São João Crisóstomo
Catequese Batismal 9
Conservai pura e sem mácula a veste espiritual que Ele vos entregou

Conscientes, portanto, de que, após a graça de Deus, tudo depende de nós e de nosso empenho, respondamos generosamente sobre o que já nos foi confiado, para tornar-nos dignos de dons ainda maiores. Por isso vos exorto: vós, que fostes recentemente considerados dignos do dom divino, demonstrai um grande discernimento, e conservai pura e sem mácula a veste espiritual que Ele vos entregou; nós, os que já faz tempo que recebemos este dom, demonstremos uma boa mudança de vida. Porque existe, sim, um retorno, se queremos, e é possível voltar novamente à antiga beleza e ao esplendor original, contanto, unicamente, que nós contribuamos com nossa parte.
De fato, no que se refere à beleza corporal, é impossível que volte ao seu melhor momento a aparência que, uma vez por todas, tornou-se feia, e que, por velhice, por enfermidade ou por qualquer outra circunstância corporal, perdeu sua primitiva beleza. É, na verdade, um acidente da natureza, e por essa razão é impossível regressar ao esplendor da primitiva beleza. Porém, a respeito da alma, se nós queremos, sim, é possível, graças à inefável bondade de Deus, e desta forma a alma que uma vez se manchou, e pela multidão dos pecados tornou-se feia e envelheceu, pode rapidamente regressar a sua primitiva beleza, contanto que nós demonstremos uma intensa e rigorosa conversão.
Contudo, isto o digo para mim mesmo e para aqueles que já foram dignos do Batismo anteriormente. Vós, porém, os novos soldados de Cristo, deem-me atenção, e empenhai-vos por todos os meios em conservar pura vossa veste. Realmente, é muito melhor ter agora a preocupação e o cuidado de seu brilho, de modo que possais permanecer continuamente na pureza e não adquirir mácula alguma, do que, por ter-vos descuidado, chorar depois e golpear vosso peito para poder limpar a mácula sobrevinda. Não passeis o que nós passamos, vo-lo suplico, antes, que a negligência daqueles que vos precederam vos sirva de exemplo.
E como soldado espiritual, nobre e vigilante, limpe cada dia vossas armas espirituais, para que o inimigo, ao ver o fulgor das armas, afaste-se e não pense que pode aproximar-se. Efetivamente, quando veja, não só que as armas brilham, mas também que vós estais protegidos por todos os lados, e que o tesouro de vosso espírito está bem guardado com todo rigor, como em uma casa, ele se ocultará e irá partir, sabedor que nada mais alcançará, ainda que tente o ataque mil vezes. Porque ele pode ser descarado e atrevido em alto grau, e mais cruel que uma fera, porém, quando vê completamente vossa armadura espiritual e a força que o Espírito vos concedeu, percebe com maior clareza sua própria debilidade e se retira com grande vergonha e grande desprezo de si mesmo, porque sabe que tenta o impossível.
Portanto, vo-lo suplico, vivamos todos sobriamente: nós que anteriormente fomos considerados dignos deste dom, para que possamos regressar à primitiva beleza e purificar-nos da mácula sobrevinda; e aqueles que acabais de degustar a generosidade do rei, demonstrai vigilância e grande firmeza, de modo que possais permanecer em contínua pureza e não recebais a mais leve mancha ou ruga por insídia do diabo. Ao contrário, como se este se apresentasse, se colocasse próximo e disparasse os dardos da maldade, fortifiquemo-nos bem por todos os flancos e resistamos-lhe com muito esforço e com grande preocupação por nossa própria salvação, para que possamos evitar as insídias dele, e por nossa fidelidade consigamos atrair o auxílio do alto, pela graça e bondade de nosso Senhor Jesus Cristo, com o qual se dê ao Pai, juntamente com o Espírito Santo, a glória, a força, a honra, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 703-705. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

O encontro do sacerdote com Maria na Missa

Continuando com os textos sobre o sacerdote e a Celebração Eucarística divulgados pela Santa Sé no contexto do Ano Sacerdotal (2009-2010), segue a reflexão sobre o encontro do sacerdote com Maria na Missa:

Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
O encontro do sacerdote com Maria na Celebração Eucarística

1. Eucaristia, Igreja e Maria em relação ao sacerdote

«Se quisermos redescobrir em toda a sua riqueza a relação íntima entre a Igreja e a Eucaristia, não podemos esquecer Maria, Mãe e modelo da Igreja» [1]. Estas palavras do Venerável João Paulo II constituem um caminho adequado para introduzir-nos no tema que vamos tentar desenvolver brevemente com este artigo: O encontro do sacerdote com Maria na Celebração Eucarística.

Bento XVI celebra a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe

Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da Morte e Ressurreição do Senhor, «se realiza a obra da nossa redenção» [2] e por isso se pode afirmar que «existe um influxo causal da Eucaristia nas próprias origens da Igreja» [3]. Na Eucaristia, Cristo se entrega a nós, edificando-nos continuamente como seu Corpo. «Portanto, na sugestiva circularidade entre a Eucaristia que edifica a Igreja e a própria Igreja que faz a Eucaristia, a causalidade primária está expressa na primeira fórmula: a Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» [4]. A Eucaristia precede cronologicamente e ontologicamente a Igreja e deste modo se comprova de novo que o Senhor nos «amou por primeiro».

A Eucaristia nos primeiros séculos

No "Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II" do site Vatican News (antiga Rádio Vaticano), depois de abordar vários aspectos da reforma litúrgica conciliar, estão sendo publicados alguns textos sobre a Eucaristia na Igreja primitiva.

Segue, pois, os três primeiros textos, centrados na contribuição de São Justino:

17 de julho de 2019

No nosso Espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar hoje sobre “A essência da Eucaristia nos primeiros séculos.”
 “Caríssimos sacerdotes, vivam com alegria e com amor a Liturgia e o culto: é ação que o Ressuscitado realiza no poder do Espírito Santo em nós, conosco e por (...). E também gostaria de convidar todos os sacerdotes para celebrar e viver com intensidade a Eucaristia, que está no coração da missão de santificar; é Jesus quem quer estar conosco, viver em nós, dar-se a nós, mostrar-nos a infinita misericórdia e ternura de Deus; é o único Sacrifício de amor de Cristo que se torna presente, realiza-se entre nós e chega até o trono da graça, na presença de Deus, abraça a humanidade e nos une a Ele”, disse o Papa emérito Bento XVI no discurso ao clero de Roma em 18 de fevereiro de 2018. “E o sacerdote é chamado a ser ministro deste grande mistério, no Sacramento e na vida.”
O Sacramento da Eucaristia completa a iniciação cristã. “Aqueles que foram elevados à dignidade do sacerdócio real pelo Batismo e configurados mais profundamente com Cristo pela Confirmação, esses, por meio da Eucaristia, participam, com toda a comunidade, no próprio sacrifício do Senhor”. (CIC 1322) “A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã». «Os restantes sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa»” (CIC 1324).
Mas, como os cristãos dos primeiros séculos celebravam a Eucaristia? Padre Gerson Schmidt - incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre - traz uma breve  reflexão sobre este tema:
Falamos aqui em nosso estudo das origens da Eucaristia na Igreja Primitiva. O liturgista Boyer disse que se formos às fontes para descobrir a primeira Eucaristia, as celebrações da Missa na Igreja Primitiva, encontraremos uma verdadeira explosão festiva que é uma árvore viçosa de vida.
A celebração da Eucaristia primitiva é um processo pascal, um caminho aberto para a Páscoa de Cristo, é como uma estrela, uma luz forte e verdadeira que se eleva sobre a história, sobre todo o caminho litúrgico no decorrer dos séculos. Dom Botte, que foi uma alma da renovação litúrgica do Concilio, passou sua vida estudando as fontes. Somente pela tradução de alguns textos primitivos, que narram como a Eucaristia era celebrada pelos primeiros cristãos, Botte pôs fim a muitas discussões interpretativas de muitos teólogos.
Um dos textos belíssimos sobre a Eucaristia dos primeiros séculos que temos a disposição no atual Catecismo da Igreja Católica é o de São Justino, que viveu no ano de 150 e nasceu em Samaria, que, em sua apologia, não escreve na intenção de explicar a Liturgia, mas de defender os cristãos do imperador pagão Antonino Pio (138-161), acusados que foram de fazerem reuniões estranhas.
Diz assim o n. 1345 do Catecismo da Igreja Católica: “Desde o século II temos o testemunho de S. Justino Mártir sobre as grandes linhas do desenrolar da Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para todas as grandes famílias litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que os cristãos fazem: ‘No dia do Sol, como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos campos. Leem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos. A seguir, pomo-nos todos de pé e elevamos nossas preces por nós mesmos (...) e por todos os outros, onde quer que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa vida e por nossas ações, e fiéis aos mandamentos, para assim obtermos a salvação eterna. Quando as orações terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo.
Em seguida, leva-se àquele que preside aos irmãos pão e um cálice de água e de vinho misturados. Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, no nome do Filho e do Espírito Santo e rende graças (em grego: eucharístia, que significa ação de graças) longamente pelo fato de termos sido julgados dignos destes dons. Terminadas as orações e as ações de graças, todo o povo presente prorrompe numa aclamação dizendo: Amém. Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os que entre nós se chamam diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água eucaristizados e levam (também) aos ausentes’” (CIC, 1345).

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Festa de Nossa Senhora de Kalwaria

Nos dias 16 e 18 de agosto, respectivamente a sexta-feira e o domingo após a Solenidade da Assunção de Maria o Santuário de Nossa Senhora de Kalwaria na Arquidiocese de Cracóvia celebrou a festa da sua padroeira.

Na sexta-feira, dia 16, celebrou-se a morte de Maria com Procissão e Missa presididas por Dom Andrzej Dzięga, Arcebispo de Szczecin-Kamień, com a homilia do Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski:

Entronização da imagem de Maria morta
Dom Marek incensa a imagem
Momento de oração antes da procissão
 
Reflexão de Dom Andrzej

Ângelus: XX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 18 de agosto de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na página do Evangelho de hoje (Lc 12,49-53), Jesus adverte os seus discípulos de que chegou o momento de tomar uma decisão. A sua vinda ao mundo coincide com o tempo das escolhas decisivas: a opção pelo Evangelho não pode ser adiada. E para que esta chamada seja compreendida melhor, ele serve-se da imagem do fogo que ele mesmo veio trazer à terra. Ele diz: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» (v. 49). Estas palavras pretendem ajudar os discípulos a abandonar toda atitude de preguiça, apatia, indiferença e fechamento para acolher o fogo do amor de Deus, aquele amor que, como recorda São Paulo, «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5,5). Porque é o Espírito Santo que nos faz amar a Deus e amar o próximo; é o Espírito Santo que todos nós temos dentro de nós.

Jesus revela aos seus amigos, e também a nós, o seu desejo mais ardente: levar à terra o fogo do amor do Pai, que acende a vida e pelo qual o homem é salvo. Jesus chama-nos a espalhar este fogo no mundo, graças ao qual seremos reconhecidos como seus verdadeiros discípulos. O fogo do amor, acendido por Cristo no mundo através do Espírito Santo, é um fogo sem limites, é um fogo universal. É o que se verifica desde os primeiros tempos do cristianismo: o testemunho do Evangelho difundiu-se como um fogo benéfico, superando todas as divisões entre indivíduos, categorias sociais, povos e nações. O testemunho do Evangelho queima, queima todas as formas de particularismo e mantém a caridade aberta a todos, com a preferência pelos mais pobres e pelos excluídos.

A adesão ao fogo do amor que Jesus trouxe à terra envolve toda a nossa existência e requer adoração a Deus e também a disponibilidade para servir o próximo. Adoração a Deus e disponibilidade para servir o próximo. A primeira, adorar a Deus, significa também aprender a oração de adoração, que normalmente esquecemos. É por isso que convido todos a descobrir a beleza da oração de adoração e a praticá-la com frequência. E depois a segunda, a disponibilidade para servir os outros: penso com admiração em muitas comunidades e grupos de jovens que, mesmo durante o verão, se dedicam a este serviço aos doentes, aos pobres, às pessoas com deficiência. Para viver segundo o espírito do Evangelho é necessário que, diante das necessidades sempre novas que surgem no mundo, haja discípulos de Cristo que saibam responder com novas iniciativas de caridade. Por isso, com a adoração a Deus e o serviço ao próximo - juntos, adorando Deus e servindo o próximo - o Evangelho manifesta-se verdadeiramente como o fogo que salva, que transforma o mundo a partir da mudança do coração de cada um.

Nesta perspectiva, compreendemos também a outra afirmação de Jesus no trecho evangélico de hoje, que à primeira vista pode desconcertar: «Pensas que vim trazer paz à terra? Não, eu vos digo, mas divisão» (Lc 12,51). Ele veio para «separar com o fogo». Separar o quê? O bem do mal, o justo do injusto. Neste sentido ele veio para «dividir», para pôr em «crise» - mas de forma saudável - a vida dos seus discípulos, pondo fim às ilusões fáceis daqueles que acreditam que podem combinar vida cristã e mundanidade, vida cristã e compromissos de todos os tipos, práticas religiosas e atitudes contra os outros. Combinar, pensam alguns, a verdadeira religiosidade com práticas supersticiosas: muitos que se consideram cristãos vão ao adivinho ou à adivinha para que lhes leiam as mãos! E isto é superstição, não é de Deus. Trata-se de não viver de forma hipócrita, mas de estar disposto a pagar o preço de escolhas coerentes - é esta a atitude que cada um de nós deve procurar na vida: a coerência - pagar o preço da coerência com o Evangelho. Coerência com o Evangelho. Porque é bom considerar-nos cristãos, mas sobretudo devemos ser cristãos em situações concretas, testemunhando o Evangelho que é essencialmente amor a Deus e aos irmãos.

Maria Santíssima nos ajude a deixar-nos purificar o coração com o fogo que Jesus trouxe, a difundi-lo na nossa vida, através de escolhas decisivas e corajosas.


Fonte: Santa Sé.

Observação: No Brasil celebramos neste domingo a Solenidade da Assunção de Maria, transferida do dia 15.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Solenidade da Assunção de Maria em Cracóvia

O Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, presidiu nos últimos dias 14 e 15 de agosto as celebrações da Solenidade da Assunção da Virgem Maria na Arquidiocese polonesa. 

Primeiramente, na tarde do dia 14, o Arcebispo presidiu a Santa Missa da Vigília desta Solenidade no Santuário da Santa Cruz junto ao Mosteiro Cisterciense no bairro de Mogiła, pertencente ao distrito de Nowa Huta:

Procissão de entrada

Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Evangelho

Solenidade da Assunção de Maria em Jerusalém

A Solenidade da Assunção da Virgem Maria foi comemorada em Jerusalém entre os últimos dias 14 e 15 de agosto através de três celebrações litúrgicas:

14 de agosto: Vigília na Basílica do Getsêmani

Início da Vigília no Jardim das Oliveiras
Incensação da imagem de Maria morta

Leitura
Procissão até a Basílica

Ângelus: Solenidade da Assunção de Maria 2019

Solenidade da Assunção da Virgem Maria
Papa Francisco
Ângelus
Quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho de hoje, Solenidade da Assunção de Maria Santíssima, a Virgem Santa reza assim: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito alegra-se em Deus, meu Salvador» (Lc 1,46-47). Vejamos os verbos desta oração: glorifica alegra-se. Dois verbos: “glorifica” “alegra-se”. Alegramo-nos quando acontece algo tão bonito que não é suficiente rejubilar-nos dentro, na alma, mas queremos expressar a felicidade com todo o corpo: então alegramo-nos. Maria alegra-se por causa de Deus. Quem sabe se também nós nos alegramos pelo Senhor: alegramo-nos por um resultado alcançado, por uma boa notícia, mas hoje Maria ensina-nos a exultar em Deus. Por quê? Porque Ele - Deus - faz «maravilhas» (v. 49).

As maravilhas são evocadas pelo outro verbo: glorificar. «A minha alma glorifica». Glorificar. Com efeito, glorificar significa exaltar uma realidade pela sua grandeza, pela sua beleza... Maria exalta a grandeza do Senhor, louva-o dizendo que Ele é verdadeiramente grande. Na vida é importante procurar grandes coisas, caso contrário perdemo-nos atrás de tantas pequenas coisas. Maria mostra-nos que, se quisermos que a nossa vida seja feliz, temos que colocar Deus em primeiro lugar, porque só Ele é grande. Quantas vezes, ao contrário, vivemos no encalço de coisas de pouca importância: preconceitos, rancores, rivalidades, invejas, ilusões, bens materiais supérfluos... Como sabemos, há muita mesquinhez na vida! Hoje Maria convida-nos a elevar o olhar para as «maravilhas» que o Senhor realizou nela. Também em nós, em cada um de nós, o Senhor realiza muitas maravilhas. Devemos reconhecê-las e alegrar-nos, glorificar a Deus por estas grandes coisas.

São as «maravilhas» que celebramos hoje. Maria é assumida no céu: pequena e humilde, é a primeira que recebe a glória mais excelsa. Ela, que é uma criatura humana, uma de nós, alcança a eternidade de alma e corpo. E ali espera por nós, tal como uma mãe aguarda que os filhos voltem para casa. Com efeito, o povo de Deus invoca-a como a «porta do Céu». Estamos a caminho, peregrinos rumo à casa celestial. Hoje olhamos para Maria e vemos a meta. Vemos que uma criatura foi assumida na glória de Jesus Cristo ressuscitado, e que a criatura só podia ser Ela, a Mãe do Redentor. Vemos que no Paraíso, juntamente com Cristo, o Novo Adão, está também Ela, Maria, a nova Eva, e isto dá-nos conforto e esperança na nossa peregrinação terrena.

A festividade da Assunção de Maria é uma exortação a todos nós, especialmente àqueles que estão aflitos por dúvidas e tristezas, e vivem cabisbaixos, não conseguem erguer os olhos. Olhemos para cima, o céu está aberto; não incute medo, já não está distante, porque no limiar do céu há uma mãe à nossa espera, é a nossa mãe. Ela ama-nos, sorri para nós e socorre-nos com esmero. Como todas as mães, Ela quer o melhor para os seus filhos e diz-nos: «Vós sois preciosos aos olhos de Deus; não sois feitos para as pequenas satisfações do mundo, mas para as grandes alegrias do céu». Sim, porque Deus é alegria, não tédio. Deus é alegria! Deixemo-nos levar pela mão de Nossa Senhora. Cada vez que pegamos no Rosário e rezamos a Ela, damos um passo em frente rumo à grande meta da vida.

Deixemo-nos atrair pela verdadeira beleza, não nos deixemos absorver pelas pequenas coisas da vida, mas escolhamos a grandeza do céu. A Santíssima Virgem, Porta do Céu, nos ajude a olhar com confiança e alegria todos os dias para lá, onde se encontra a nossa verdadeira casa, onde Ela, como mãe, está à nossa espera.

Assunção de Maria (Bartolomé Esteban Murillo)

Fonte: Santa Sé.

sábado, 17 de agosto de 2019

Meditação para a Festa da Dormição de Maria

Neste domingo celebramos no Brasil a Solenidade da Assunção da Virgem Maria, transferida do dia 15 de agosto. Esta celebração, que no Oriente cristão é conhecida como a Festa da Dormição de Maria, é também celebrada pelos luteranos mais tradicionais, ainda que com desdobramentos teológicos distintos.

No ano de 2008, o pastor luterano William Weedon publicou em seu blog uma belíssima meditação para esta festa, traduzida em 2018 pelo blog Teologia Luterana.

Segue pois a meditação, que coloca nos lábios de Maria uma recordação de sua vida na iminência de ir ao encontro do Filho:

Meditação sobre a Dormição
William Weedon

Eu me lembro de quando o anjo veio, falou comigo e meu coração irrompeu de alegria e temor.
Eu me lembro de quando cheguei à porta da casa de Zacarias e Isabel reconheceu meu segredo e meu coração se enterneceu, meus olhos romperam em lágrimas e minha boca profetizou.
Eu me lembro de quando senti Teu primeiro movimento dentro do meu corpo e compreendi que eu era a arca viva do vivo Deus.
Eu me lembro de quando vi o Teu rosto pela primeira vez, toquei Tuas mãos e olhei nos olhos do meu José.
Eu me lembro de quando os pastores da noite humildemente vieram vê-lO, adorá-lO, e me falaram de canções de anjos, glória nas alturas e paz na terra.
Eu me lembro de quando Te levamos ao templo e o ancião O tomou em seus braços e, preparado para a morte, bendisse a Deus e me contou sobre a dor que ainda estava por vir.
Eu me lembro de quando eles (os magos) vieram do Oriente e se curvaram diante de Ti enquanto eu O segurava e deram seus presentes - ouro, incenso e mirra -, enquanto a luz da estrela brilhava sobre nós.
Eu me lembro de quando ele (José) me acordou e nós fugimos naquela noite, diante do pavor da espada de Herodes.
Eu me lembro de quando finalmente chegamos em casa e pessoas observavam e comentavam, mas Tu eras toda a nossa alegria.
Eu me lembro de quando Tu ficaste para trás, quando nos deixou e nós Te encontramos no templo. Meu coração foi tomado de temor ao perceber que tinhas escolhido permanecer no lugar de sacrifício e morte.
Eu me lembro de quando Tu falaste de maneira severa comigo e ainda transformou a água em vinho.
Eu me lembro de quando fomos obrigá-lO a descansar e me ensinaste que todos aqueles necessitados eram queridos para você como sua própria família.
Eu me lembro de quando Te prenderam, torturaram e crucificaram; e diante de meus olhos ressurgiu o ancião no templo - suas palavras ainda me perseguiam - e uma espada me atravessou enquanto eu O via morrer.
Eu me lembro de quando Tu olhaste para mim e o discípulo amado e nos deu um ao outro em cuidado por todos os nossos dias.
Eu me lembro de quando a luz se extinguiu em Teus olhos e meu coração sucumbiu entre lágrimas e palavras.
Eu me lembro de quando no terceiro dia eles vieram e me disseram que Tu estavas vivo novamente. A alegria inundou meu coração e então eu me dei conta do que eu sempre soube - todas as Tuas promessas eram verdadeiras.
Eu me lembro de quando orávamos juntos depois que Tu subiste ao céu e o Espírito desceu com vento e fogo.
Eu me lembro como eles (os Apóstolos) foram e testemunharam as boas-novas por todo o mundo. E eu acolhia cada novo crente como meu filho amado, como um irmão do meu Filho, o Rei sobre todos.
Eu me lembro de tudo agora enquanto estou morrendo, quando deito minha cabeça na morte.
Meu Filho, eu não tenho medo. Eu vou para Ti, para Ti que venceu a morte, para Ti que é o Perdão de todos os pecados. Recebe-me, menino Deus. Recebe-me.
Eu me lembro. Eu me lembro. Eu me lembro.


Fonte: Teologia Luterana / Link original: William Weedon

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O Evangeliário húngaro do Vaticano

Neste dia em que celebramos a memória de Santo Estêvão da Hungria (16 de agosto), gostaríamos de apresentar brevemente um pequeno "pedaço deste país" presente no Vaticano: trata-se do Evangeliário utilizado em algumas celebrações presididas pelo Papa na Basílica de São Pedro.


Este Evangeliário foi doado ao Papa João Paulo II pelos Bispos húngaros em 1991, por ocasião de sua primeira visita ao país. Seu revestimento em metal é obra do ourives húngaro Csaba Ozsvári (1963-2009).

A capa contém a imagem do Cordeiro de Deus no centro de uma cruz, ladeado pelos quatro seres vivos que tradicionalmente representam os quatro evangelistas: o homem (Mateus), o leão (Marcos), o touro (Lucas) e a águia (João).


Na contracapa encontra-se ao centro a imagem da Virgem Maria, padroeira da Hungria e representada sendo coroada por anjos com a coroa deste reino. Ladeando a Domina Hungarorum (Senhora dos húngaros) estão quatro santos deste país: os reis Estêvão (975-1038) e Ladislau (1040-1095), o príncipe Emerico (1000- 1031) e o Bispo e mártir Gerardo (980-1046). Completam a contracapa ainda os brasões da Hungria e do Papa João Paulo II.


Por possuir como figura central a imagem do Cordeiro, este Evangeliário é utilizado geralmente nas celebrações presididas pelo Papa no Tempo Pascal (Vigília Pascal, Missa do Domingo de Páscoa, Domingo de Pentecostes), no qual ocupa um lugar central a imagem deste animal como símbolo de Cristo.

Porém, tanto no pontificado de Bento XVI quanto no de Francisco este Evangeliário foi utilizado também em outras ocasiões (como, por exemplo, na Solenidade de São Pedro e São Paulo), demonstrando, através desta generosa doação da nação húngara, a importância da arte a serviço do anúncio do Evangelho.


Para saber mais sobre o Evangeliário utilizado nas Missas de Natal no Vaticano, clique aqui.