“Nada poderá nos
separar do amor de Deus” (cf. Rm 8,38-39).
Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença
da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm)
nas celebrações do Rito Romano.
Na 1ª parte, após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1], na
Celebração Eucarística ao longo do Ano Litúrgico.
Na 2ª parte, por sua vez, analisamos as Missas dos santos, para diversas necessidades e votivas e os sacramentos da Iniciação Cristã.
Agora prosseguiremos a análise segundo este critério com os demais
sacramentos, os sacramentais e a Liturgia das Horas.
2. Leitura litúrgica
da Carta aos Romanos: Composição
harmônica
b) Sacramentos
Da Iniciação Cristã passamos aos dois sacramentos de cura,
começando pela Reconciliação ou
Penitência, para a qual são indicados nada menos que dez textos da Carta aos Romanos.
Como leitura facultativa para a confissão individual consta Rm
5,8-9 [2], atestando que Cristo morreu por amor a nós.
Há outros sete textos mais longos indicados no Ritual da
Penitência para a celebração comunitária da Reconciliação com confissões
individuais ou para celebrações penitenciais em preparação ao sacramento:
- Rm 3,22-26: Todos pecaram, mas Deus gratuitamente
nos redimiu em Cristo;
- Rm 5,6-11: Fomos reconciliados com Deus pela morte
de Cristo;
- Rm 6,2b-13: Pelo Batismo morremos para o pecado;
- Rm 6,16-23: O pecado é escravidão e morte, mas Deus
nos liberta para a vida eterna;
- Rm 7,14-25: Oposição entre o pecado e a lei de
Deus, entre carne e espírito;
- Rm 12,1-2.9-19: Série de conselhos para a vida
cristã;
- Rm 13,8-14: Exortação a “despojar-se” das ações das
trevas e “revestir-se” de Cristo [3].
Por fim, o Ritual traz
ainda modelos de celebrações penitenciais com leituras próprias. Para a celebração
penitencial com jovens são indicadas duas opções:
- Rm 7,18-25: Versão mais breve da leitura sobre a oposição
entre o pecado e a lei;
- Rm 8,19-23: O mundo presente aguarda sua libertação
da corrupção [4].
Para a Unção dos
Enfermos, por sua vez, são propostos outros três textos ad libitum (à escolha) do nosso escrito:
- Rm 8,14-17: Se sofremos com Cristo, seremos
glorificados com Ele;- Rm 8,18-27: “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza”, pois os sofrimentos do
tempo presente não se comparam à glória que será revelada;
- Rm 8,31b-35.37-39: As tribulações e angústias não
podem nos separar do amor de Deus [5].
No Matrimônio também
são três as opções de leituras de Romanos:
- Rm 8,31b-35.37-39: Nada pode nos separar do amor de
Deus;
- Rm 12,1-2.9-18 (forma breve: Rm
12,1-2.9-13): Série de conselhos para a vida cristã. Destaca-se aqui o v. 9: “O vosso amor seja sincero”;
- Rm 15,1b-3a.5-7.13: Paulo exorta à harmonia e a não
buscar apenas a própria satisfação: “Cada
um de nós procure agradar ao próximo para o bem” [6].
Por fim, para o Sacramento
da Ordem, em seus três graus (Diaconato, Presbiterado e Episcopado), a
Igreja propõe uma leitura do nosso livro: Rm 12,4-8 [7], sobre o corpo
formado por muitos membros, imagem dos diversos ministérios na Igreja.
“Nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo” (Rm 12,5) Imagem de Cristo formada por fotos dos jovens do mundo todo JMJ 2016 em Cracóvia |
c) Sacramentais
Seguindo nosso percurso pela leitura litúrgica de Romanos
com os sacramentais,
consideremos primeiramente aqueles que se referem à consagração de pessoas.
Para a Consagração das
virgens e a Profissão religiosa
(celebrações que compartilham os mesmos textos bíblicos) há duas opções de
leituras à escolha:
- Rm 6,3-11: Exortação a renascer para uma vida nova em
Cristo;
- Rm 12,1-13: Exortação a oferecer-se a si mesmo “em sacrifício vivo a Deus” [8].
Na sequência contemplemos as bênçãos de pessoas, lugares e
objetos, com leituras à escolha da nossa Carta em seis ocasiões:
- Bênção de famílias:
Rm 12,4-16 [9], uma exortação ao amor fraterno, retomando a imagem dos vários
membros do mesmo corpo;
- Bênção de
catequistas: Rm 10,9-15 [10], sobre a importância do anúncio da
Palavra de Deus, concluindo com a citação de Is 52,7: “Quão belos são os pés dos que anunciam o bem”;
- Bênção de um novo confessionário:
Para esta bênção são indicados os mesmos textos do sacramento da Reconciliação,
como vimos acima. O Ritual de Bênçãos
destaca Rm 5,6-11, sobre nossa reconciliação com Deus pela Morte de
Cristo [11];
- Bênção de objetos e
vestes litúrgicas (forma breve): Rm 12,1 [12], exortando a oferecer-se
a si mesmo a Deus “como hóstia viva”;
- Bênção de objetos
de devoção: Rm 8,26-31 ou, na forma breve da Bênção, Rm
8,26b.27b [13]: o Espírito “vem em
socorro da nossa fraqueza”, ensinando-nos a rezar. Na forma mais longa, recorda-se
ainda a eleição dos santos por Deus;
- Bênção para
diversas circunstâncias: Rm 8,24-28 [14], uma exortação à esperança,
concluindo: “Tudo concorre para o bem
daqueles que amam a Deus”.
d) Liturgia das Horas
O último “locus
liturgicus” (lugar litúrgico) para a leitura de Romanos em composição harmônica é a Liturgia das Horas.
Aqui é preciso distinguir entre dois tipos de leituras: leituras
longas, proferidas no Ofício das Leituras, e leituras breves, proferidas
nas demais horas (Laudes, Hora Média e Vésperas). Começamos nosso percurso
pelas seis leituras longas do
nosso escrito:
- Ofício das Leituras
do Domingo de Páscoa: Este Oficio só é rezado por aqueles que não
participam da Vigília Pascal. Por isso, após duas leituras do Antigo Testamento
(Ex e Ez), como 3ª leitura proclama-se a Epístola da Vigília: Rm
6,3-11 [15], sobre a nossa participação na Morte e Ressurreição de Cristo pelo
Batismo.
- Ofício das Leituras do Domingo de Pentecostes: Rm 8,5-27 [16], sobre a “vida no Espírito”. Alguns trechos desta perícope são lidos nas Missas da Solenidade, como vimos nas postagens anteriores.
- Ofício das Leituras da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus: Rm 8,28-39 [17]. Paulo atesta que nada poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo.
Em sua Páscoa, Cristo resgata Adão da mansão dos mortos (Fra Angelico) |
- Ofício das Leituras
da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria (08 de dezembro): Rm
5,12-21 [18], sobre o paralelo entre Adão e Cristo (desobediência versus
obediência), que aqui se lê como paralelo entre Eva e Maria.
- Ofício das Leituras
do Comum de vários Mártires no Tempo Comum: Rm 8,18-39 [19], sobre o
amor de Deus, do qual nem a perseguição nem a morte podem nos separar.
- Ofício das Leituras
do Comum dos Santos Homens no Tempo Comum (2ª opção): Rm 12,1-21 [20], o início da seção exortativa
da Carta, com uma série de conselhos para
a vida cristã.
Das leituras longas passamos às leituras breves de Romanos
na Liturgia das Horas, bem
mais numerosas, proferidas nas Laudes, na Hora Média e nas Vésperas.
Seguindo o ciclo do Ano Litúrgico, começamos
pelo Tempo do Advento, com duas leituras do nosso livro nos Domingos do Advento e no dia 18 de dezembro:
Laudes: Rm
13,11-12, exortação a “despertar”, pois o “dia” (da vinda do Senhor) está próximo;
Hora Média (9h): Rm
13,13-14a, exortando-nos a “revestir-se” de Cristo [21].
No Tempo do Natal, por sua vez, há uma perícope da Carta
nas Vésperas dos dias 27 de dezembro, 04
de janeiro e da sexta-feira após a Epifania: Rm
8,3b-4 [22]. Aqui Paulo atesta que Deus enviou seu próprio Filho para
libertar-nos do pecado.
Durante o Tempo da
Quaresma são três as leituras de Romanos:
- Vésperas das
segundas-feiras da Quaresma até a IV semana: Rm 12,1-2 [23], exortando:
“Não vos conformeis com o mundo, mas
transformai-vos...”;
- Vésperas das
terças-feiras da V semana da Quaresma e da Semana Santa: Rm 5,8-9 [24]
- A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu para nos salvar;
- Hora Média (12h)
das quartas-feiras da V semana da Quaresma e da Semana Santa: Rm
15,3 [25], uma citação do Sl 69,10 sobre os ultrajes que Cristo sofreu.
A Páscoa é o tempo
litúrgico com mais leituras da Carta,
totalizando dez perícopes:
- Hora Média (15h)
dos domingos do Tempo Pascal: Rm 6,4 [26] - Pelo Batismo morremos
com Cristo, para ressuscitarmos com Ele para uma vida nova.
- Laudes das segundas-feiras
do Tempo Pascal: Rm 10,8b-10 [27] - A fé na Ressurreição de Cristo
nos conduz à salvação.
- Quartas-feiras
do Tempo Pascal:
Laudes: Rm
6,8-11 - Pelo Batismo morremos para o pecado e renascemos para uma vida nova em
Cristo;
Hora Média (9h): Rm
4,24-25 - “Cremos n’Aquele que
ressuscitou Jesus dos mortos... para nossa justificação” [28].
- Laudes das quintas-feiras
do Tempo Pascal: Rm 8,10-11 [29] - Deus, “que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos”, também nos vivificará pelo Espírito.
- Sábados do
Tempo Pascal:
Laudes: Rm
14,7-9 - Cristo Ressuscitado é “Senhor
dos mortos e dos vivos”;
Hora Média (9h): Rm
5,10-11 - Reconciliados com Deus pela Morte de Cristo [30].
- Vésperas da
segunda-feira da VII semana do Tempo Pascal: Rm 8,14-17 [31]. As
leituras das Vésperas da última semana da Páscoa são dedicadas ao Espírito
Santo, em preparação à Solenidade de Pentecostes. Aqui o Apóstolo exorta a
deixarmo-nos conduzir pelo Espírito.
- Vésperas da
terça-feira da VII semana do Tempo Pascal: Rm 8,26-27 [32] - O
Espírito “vem em socorro da nossa
fraqueza”, ensinando-nos a rezar.
- I Vésperas do
Domingo de Pentecostes: Rm 8,11 [33] - Deus nos vivificará pelo
Espírito.
O Espírito, com seus dons, vem em socorro da nossa fraqueza (cf. Rm 8,26) |
Encerramos aqui a terceira parte do nosso estudo sobre a
leitura litúrgica da Carta aos Romanos.
Na próxima parte concluiremos a análise sob o critério da composição harmônica na
Liturgia das Horas, além de considerarmos uma série de antífonas da nossa Carta.
Notas:
[1] cf. ALDAZÁBAL,
José. A Mesa da Palavra I: Elenco das
Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] RITUAL DA PENITÊNCIA. Tradução portuguesa para o Brasil da segunda edição típica. São
Paulo: Paulus: 1999, p. 33.
[3] ibid., pp.
133-139.
[4] ibid., p. 232.
[5] RITUAL DA UNÇÃO
DOS ENFERMOS E SUA ASSISTÊNCIA PASTORAL. Tradução
portuguesa da edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 2000, pp.
103-105.
[6] RITUAL DO MATRIMÔNIO. Tradução portuguesa para o Brasil da 2ª edição típica. São Paulo:
Paulus, 2007, pp. 83-85.
[7] LECIONÁRIO IV: Lecionário
do Pontifical Romano. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil.
São Paulo: Paulus, 2000, p. 41.
[8] ibid., pp.
135-136.
[9] RITUAL DE
BÊNÇÃOS. Tradução portuguesa da edição
típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1990, p. 26.
[10] ibid., p. 130.
[11] ibid., p. 338.
[12] ibid., p. 395.
[13] ibid., pp.
431.434.
[14] ibid., p.
462.
[15] OFÍCIO DIVINO. Liturgia
das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição
típica. São Paulo: Paulus, 1999, v. II, p. 463.
[16] ibid., v. II, p. 924.
[17] ibid., v. III, p. 570.
[18] ibid., v. I, p. 1041.
[19] ibid., v.
III, p. 1572; v. IV, p. 1584. Para os tempos do Advento, Natal, Quaresma e
Páscoa e para o Comum de um mártir são indicadas outras leituras, a fim de oferecer
uma maior diversidade de textos.
[20] ibid., v.
III, p. 1687; v. IV, p. 1699. A 1ª opção de leitura é Cl 3,1-17.
[21] ibid.,
v. I, pp. 116-117.169-171.226-227.271-273.296-297.
[22] ibid., v. I, pp. 392.470.557. A
sexta-feira após a Epifania equivale ao dia 11 de janeiro onde a Epifania é
celebrada no dia 06.
[23] ibid., v. II, pp. 87.144.201.259.
[24] ibid., v. II, pp. 318.380.
[25] ibid., v. II,
pp. 332.396.
[26] ibid., v. II,
pp. 475.630.683.739.790.872. - No Brasil, o VII Domingo é substituído pela
Solenidade da Ascensão do Senhor, transferida da quinta-feira.
[27] ibid., v. II, pp. 496.581.636.689.745.795.878.
[28] ibid., v. II, pp.
524-528.596-597.651-652.704-705.759-760.809-810.891-893.
[29] ibid., v. II, pp.
537.604.657.712.766.813.898.
[30] ibid., v. II, pp. 560-564.619-620.672-673.728-729.780-781.861-863.912-913.
[31] ibid., v. II, p. 880.
[32] ibid., v. II, p. 887.
[33] ibid., v. II, p. 918.
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