quarta-feira, 30 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 13-14

“Mas eles gritavam: Crucifica-O! Crucifica-O!” (Lc 23,21).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

Para acessar o índice, com os links para todas as meditações, clique aqui.

Paixão segundo Lucas XIII: Lc 23,8-12

Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-Lo. Já ouvira falar a Seu respeito e esperava vê-Lo fazer algum milagre. Ele interrogou-O com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondeu. Os sumos sacerdotes e os escribas estavam presentes e O acusavam com insistência. Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo, zombou Dele, vestiu-O com uma roupa vistosa e mandou-O de volta a Pilatos. Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos (Lc 23,8-12).

Herodes desejava conhecer Jesus, ver um milagre Seu, presenciar um show, um espetáculo, talvez um show da fé... Trata-se de um conhecimento exterior, sem amor, sem adesão. Um conhecimento assim não tem serventia alguma para o Reino de Deus e para a salvação.

Conhece Jesus quem crê n’Ele, conhece Jesus quem a Ele adere com toda a vida, conhece Jesus quem O ama e se dispõe a segui-Lo! Qualquer outro conhecimento, o de Herodes, o do filósofo descrente, o do teólogo racionalista e soberbo, o do ministro sagrado sem devoção e relativista, à procura de aprovação e aplauso do mundo, o do estudante de teologia sem unção, o do cristão sem piedade, é um conhecimento exterior, insuficiente, distorcido, falso; não passa de despiste, de fraude, de embuste!

Pilatos condena Jesus à morte - Duccio di Buoninsegna

Por isso mesmo, para Herodes não haverá milagre algum - não se pode encomendar milagre, não se pode fazer do milagre um show ou um circo! O nosso Senhor não Se presta a isto! Herodes não terá milagre e nem mesmo uma única palavra de Cristo, uma única resposta! O Senhor não responde a quem o indaga de modo soberbo e ímpio: para esses, Deus Se cala, Deus a esses lhe esconde o Rosto...

Herodes dispensa Jesus com uma roupa lustrosa, ridícula, de rei-palhaço... O Senhor mantém-Se silencioso. Quanta dignidade ante a superficialidade e a vulgaridade de Herodes e do mundo atual, que brinca com Deus e ridiculariza a fé cristã.

A sequência pascal Zyma vetus expurgetur

“O Cristo, nossa Páscoa, foi imolado: celebremos a festa com pão sem fermento, o pão da retidão e da verdade. Aleluia!” [1].

A Páscoa (do hebraico “pessach”, salto), remonta a duas celebrações ligadas ao início da primavera no hemisfério norte: uma de caráter pastoril, marcada pela imolação do cordeiro, e outra de caráter agrícola: a “festa dos ázimos” (Ex 12–13). Posteriormente, ambas fora unidas em uma grande comemoração do êxodo, isto é, da saída do povo de Israel do Egito.

Confira nossa postagem sobre a história da celebração da Páscoa clicando aqui.

Os pães ázimos (do grego ἄζυμος, em latim azymus, sem fermento; matzá em hebraico) simbolizam a “pressa” dos judeus no contexto da fuga do Egito e também a humildade diante de Deus, uma vez que o fermento (hametz, em hebraico) “incha” o pão.

Cristo, "nossa Páscoa", parte o pão ázimo

Com efeito, o pão que se utiliza na Celebração Eucarística do Rito Romano, chamado comumente de “hóstia” (“vítima” em latim), deve sempre ser ázimo (cf. Código de Direito Canônico, cân. 926; Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 48).

Nesse sentido, em sua Primeira Carta aos Coríntios São Paulo exorta-nos a lançar fora o “velho fermento” para celebrar a Páscoa “com os pães ázimos da pureza e da verdade” (1Cor 5,6b-8).

Confira nossas postagens sobre a leitura litúrgica da Primeira Carta aos Coríntios clicando aqui.

Esse simbolismo é evocado no início de uma das antigas sequências propostas para a Páscoa da Ressurreição: “Zyma vetus expurgetur”, expressão que poderia ser traduzida como “Expurgado o velho fermento”.

As sequências são composições que se popularizaram no Rito Romano a partir do século X. Eram entoadas antes do Evangelho na Missa, exprimindo poeticamente o mistério da festa celebrada.

A reforma do Concílio de Trento (séc. XVI) infelizmente reduziu as sequências do Rito Romano a apenas quatro, conservando para a Missa do Domingo de Páscoa a composição “Victimae paschali laudes”, do século XI, atribuída a Wippo de Borgonha.

A sequência “Zyma vetus expurgetur”, por sua vez, remonta ao século XII, sendo atribuída a Adão de São Vítor (†1146), monge da Abadia de São Vítor em Paris (França).

Essa “sequência pascal” (Sequentia paschalis) era entoada tanto no Domingo da Ressurreição quanto durante o Tempo Pascal. Por exemplo, no Missal de Sarum (utilizado na Inglaterra durante a Idade Média, particularmente na Diocese de Salisbury), que prescreve uma sequência para cada dia da Oitava Pascal, “Zyma vetus” era entoada na segunda-feira [2].

A sequência é composta por 13 estrofes: as estrofes 1-10 com seis versos, as estrofes 11-12 com oito versos e a última com dez versos. Todas as estrofes possuem tanto rimas emparelhadas quanto alternadas: A-A, C, B-B, C.

O “tema” da composição, por sua vez, é a “leitura tipológica da Sagrada Escritura”, tão querida pelos Padres da Igreja: através desse “método” os acontecimentos do Antigo Testamento são lidos como “profecias” ou “modelos” (em grego, τύπος, typos) do mistério de Cristo realizado no Novo Testamento.

O recente Diretório para a Catequese recorda em seu n. 170 que: “A catequese e a Liturgia jamais se limitaram a ler separadamente os livros do Antigo e do Novo Testamento, mas lendo-os juntos demonstraram como somente uma leitura tipológica da Sagrada Escritura permite colher plenamente o significado dos eventos e dos textos que narram a única história da salvação” [3].

Para acessar nossa série de postagens sobre a Liturgia no Diretório para a Catequese, clique aqui.

O próprio Senhor nos Evangelhos faz uso dessa leitura tipológica, particularmente em relação ao Mistério Pascal da sua Morte-Ressurreição (cf. Jo 3,14; Mt 12,40).

Vale destacar que a sequência contempla o Mistério Pascal em sua totalidade, pois, como bem sintetiza o Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia: “a Morte e a Ressurreição de Cristo são inseparáveis na narrativa evangélica e no projeto salvífico de Deus” (n. 128) [4].

Alegoria do Antigo e do Novo Testamento
(Hans Holbein o Jovem)

Confira a seguir, pois, a sequência Zyma vetus expurgetur em seu texto original em latim, seguida de uma tradução nossa bastante livre e de alguns comentários sobre a sua teologia, indicando as “profecias” mencionadas em cada estrofe. Vale recordar, porém, que a ordem de alguns versos pode variar conforme a versão do poema.

Sequentia paschalis: Zyma vetus expurgetur

1. Zyma vetus expurgetur,
Ut sincere celebretur
Nova resurrectio:
Haec est dies nostrae spei,
Huius mira vis diei
Legis testimonio.

2. Haec Aegyptum spoliavit
Et Hebraeos liberavit
De fornace ferrea;
His in agro constitutis
Opus erat servitutis
Lutum, later, palea.

terça-feira, 29 de março de 2022

Meditações da Via Sacra no Coliseu 2002

Há vinte anos, no dia 29 de março de 2002, Sexta-feira Santa, o Papa João Paulo II (†2005) presidia, como de costume, o piedoso exercício da Via Sacra (ou Via Crucis) junto ao Coliseu, no Monte Palatino em Roma.

Para a ocasião, o Papa polonês confiou as meditações a um grupo de 14 jornalistas provenientes de dez países, seguindo o esquema da chamada “Via Sacra Bíblica”.


Confira a seguir as meditações dos jornalistas, que ilustramos com a “Via Crucis” da artista britânica Caroline Waterlow.

Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via-Sacra no Coliseu presidida pelo Santo Padre João Paulo II
Sexta-feira Santa, 29 de março de 2006

Meditações preparadas por:
John M. Thavis (EUA); Alexej Bukalov (Rússia); Henri Tincq (França); Greg Burke (EUA); Angel Gómez Fuentes (Espanha); Erich Kusch (Alemanha); Hiroshi Miyahira (Japão); Jacek Moskwa (Polônia); Marina Ricci (Itália); Aura Miguel (Portugal); Luigi Accattoli (Itália); Sophie de Ravinel (França); Valentina Alazraki (México); Marie Czernin (Alemanha)


Apresentação
A cada ano, ao anoitecer de Sexta-feira Santa, memória litúrgica da Paixão do Senhor, a comunidade cristã de Roma, juntamente com numerosos peregrinos vindos de todo o mundo, reúne-se à volta do Sucessor de Pedro, ao pé do Coliseu, para a piedosa devoção da Via-Sacra.
Através da televisão, milhões de fiéis participam neste momento de contemplação e oração. De certo modo, a «Urbe» e o «Orbe» [a cidade e o mundo] estão reunidos para comemorar o mistério da Paixão e Morte do Senhor, aqui apresentado através de leituras bíblicas, orações, comentários e cânticos. O caminho da cruz estende-se do interior do Coliseu até à colina do Palatino.
Como já tem acontecido nos últimos anos, as quatorze estações seguem um esquema inteiramente bíblico, com textos tirados prevalentemente do Evangelho segundo Marcos.
Todos os anos, o Santo Padre convida pessoas de várias nacionalidades e de diversas Igrejas ou Comunidades eclesiais para comentarem as estações da Via-Sacra. A novidade dos comentários da Via-Sacra 2002 está na multiplicidade dos autores: quatorze jornalistas e agentes da comunicação social, homens e mulheres, todos leigos, acreditados junto à Sala de Imprensa da Santa Sé, de várias nações, representantes de renomados jornais e redes televisivas, atentos aos fatos da crônica diária, mas também sensíveis ao mundo do espírito, formados na linguagem clara e essencial dos mass-media [meios de comunicação social], habituados à transmissão das notícias quotidianas. Eles souberam associar o mistério de Jesus Nazareno com os fatos da história contemporânea: pessoas e rostos, circunstâncias e lugares do nosso mundo também constituem uma Via-Sacra diária, continuando Cristo a viver e sofrer em tantos nossos irmãos e irmãs: nos humildes e nos pobres, nos deserdados e nos doentes, nos presos e nos perseguidos, nos sem abrigo e sem pátria. A meditação das diversas estações une frequentemente a vida de Jesus de Nazaré com a dos homens e mulheres do nosso tempo, vítimas da violência, da guerra, da perseguição, do terrorismo.
Às mulheres jornalistas foi confiado o comentário das estações onde as mulheres - Maria, a Mãe de Jesus; as discípulas que seguiram o Mestre até ao Calvário; as filhas de Jerusalém - são protagonistas e testemunhas de vários episódios da Paixão do Senhor.
Como bem o exprimiram os comentadores desta Via-Sacra 2002, também hoje resplandece o rosto de Deus no rosto de Cristo. Na sua Paixão, leem-se os sofrimentos da humanidade. Nos rostos martirizados de homens e mulheres do nosso tempo, entrevê-se o rosto de Cristo acusado, escarnecido, crucificado. Mas a sua vitória pascal, o seu triunfo sobre o mal e a morte é esperança para a humanidade inteira, promessa e antecipação de uma vida nova.

Domingo da Santa Cruz em Jerusalém

Neste ano de 2022, como vimos em nossa última postagem, as Igrejas Orientais - tanto Católicas quanto Ortodoxas - celebrarão a Páscoa no dia 24 de abril, uma semana após o Rito Romano.

Assim, nos dias 26 e 27 de março o Patriarca Greco-Ortodoxo de Jerusalém, Theophilos III, presidiu na Basílica do Santo Sepulcro as celebrações do III Domingo da Quaresma, conhecido na tradição bizantina como “Domingo da Santa Cruz”.

O uso dos paramentos verdes exprime o caráter “vivificante” da Cruz [1].

26 de março: Vésperas com o rito da Artoklasia

Entrada do Patriarca Theophilos III
Ícone da Exaltação da Santa Cruz
Para conhecer o simbolismo desse ícone, clique aqui.

Rito da Artoklasia
(Bênção do pão, vinho e azeite na véspera das grandes festas)

27 de março: Divina Liturgia

Entrada do Patriarca

Domingo da Santa Cruz em Kiev

Neste ano de 2022 as Igrejas Orientais, tanto Católicas quanto Ortodoxas, celebrarão a Páscoa no dia 24 de abril, uma semana após o Rito Romano.

Assim, no último dia 27 de março o Arcebispo-Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), celebrou a Divina Liturgia do III Domingo da Grande Quaresma, o Domingo da Santa Cruz, na Catedral da Ressurreição em Kiev.

Esta foi a primeira celebração presidida pelo Arcebispo-Maior na Catedral de Kiev desde o início da invasão russa à Ucrânia no mês de fevereiro, razão pela qual contou com um número reduzido de fiéis.

Relíquia da Santa Cruz exposta à veneração
Início da Divina Liturgia
O Arcebispo abençoa com o dikirion e o trikirion
Incensação
Evangelho

segunda-feira, 28 de março de 2022

Ângelus: IV Domingo da Quaresma - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 27 de março de 2022

Prezados irmãos e irmãs, bom domingo, bom dia!
O Evangelho da Liturgia deste domingo narra a chamada “parábola do filho pródigo” (Lc 15,11-32). Ela leva-nos ao coração de Deus, que perdoa sempre com compaixão e ternura, sempre! Deus perdoa sempre; somos nós que nos cansamos de pedir perdão, mas Ele perdoa sempre. Diz-nos que Deus é Pai, que não só volta a receber, mas também se alegra e faz festa pelo seu filho, que voltou para casa depois de ter esbanjado todos os bens. Nós somos esse filho, e comove pensar como o Pai nos ama sempre e espera por nós.

Mas na mesma parábola há também o filho mais velho, que entra em crise diante deste Pai. E que nos pode colocar em crise também a nós. Com efeito, dentro de nós há também este filho mais velho e, pelo menos em parte, somos tentados a concordar com ele: sempre cumpriu o seu dever, não saiu de casa, por isso indigna-se ao ver o Pai abraçar de novo o seu irmão que se tinha comportado mal. Protesta, dizendo: «Sirvo-te há tantos anos, sem nunca transgredir as tuas ordens», mas por «este teu filho» até festejas! (vv. 29-30). “Não te compreendo”. Eis a indignação do filho mais velho.

O problema do filho mais velho sobressai destas palavras. Na relação com o Pai, ele baseia tudo sobre a pura observância das ordens, no sentido do dever. Pode ser também o nosso problema, o nosso problema, entre nós e com Deus: perder de vista que Ele é Pai e viver uma religião distante, feita de proibições e deveres. E a consequência desta distância é a rigidez em relação ao próximo, que já não se vê a si próprio como irmão. Com efeito, na parábola o filho mais velho não diz ao Pai meu irmão, não, diz o teu filho, como se dissesse: não é meu irmão. E no final ele mesmo corre o risco de ficar fora de casa. Sim - diz o texto - «não queria entrar» (v. 28). Porque lá estava o outro.

Vendo isto, o Pai sai para lhe suplicar: «Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu» (v. 31). Procura fazê-lo compreender que para ele cada filho é toda a sua vida. Sabem-no bem os pais, que se aproximam muito do sentimento de Deus. É bonito o que um pai diz em um romance: «Quando me tornei pai, compreendi Deus» (Honoré de Balzac, O pai Goriot, Milão, 2004, 112). Neste ponto da parábola, o Pai abre o coração ao filho mais velho, manifestando-lhe duas necessidades, que não são ordens, mas necessidades do coração: «Era necessário fazer festa e alegrar-se, pois este teu irmão estava morto e reviveu» (v. 32). Vejamos se também nós temos no coração as duas necessidades do Pai: festejar e alegrar-se.

Em primeiro lugar, festejar, ou seja, manifestar a nossa proximidade a quem se arrepende ou está a caminho, a quem está em crise ou distante. Por que devemos agir assim? Porque isto ajudará a superar o medo e o desânimo que podem advir da recordação dos próprios pecados. Quem errou, sente-se muitas vezes censurado pelo próprio coração; distância, indiferença e palavras duras não ajudam. Portanto, segundo o Pai, é preciso oferecer-lhe um acolhimento caloroso, que encoraje a continuar. “Mas pai, ele cometeu muitos erros!”: acolhimento caloroso. Quanto a nós, agimos assim? Procuramos quem está distante, será que desejamos festejar com ele? Quanto bem pode fazer um coração aberto, uma escuta verdadeira, um sorriso transparente; festejar, não fazer sentir-se constrangido! O pai podia dizer: muito bem, filho, volta para casa, volta para o trabalho, volta para o teu quarto, instala-te e vai trabalhar! E isso teria sido um bom perdão. Mas não! Deus não sabe perdoar sem festejar! E o pai festeja, alegra-se porque o filho regressou.

E depois, de acordo com o Pai, é preciso alegrar-se. Quem tem um coração sintonizado com Deus, quando vê o arrependimento de uma pessoa, por mais graves que tenham sido os seus erros, alegra-se. Não fica parado nos erros, não aponta o dedo contra o mal, mas alegra-se com o bem, pois o bem do outro é também meu! Quanto a nós, sabemos ver os outros assim?

Permito-me contar-vos uma história, fictícia, mas que mostra o coração do pai. Há três ou quatro anos houve uma ópera pop sobre o tema do filho pródigo, com toda a história. E no final, quando aquele filho decide voltar para a casa do pai, confronta-se com um amigo e diz: “Sabes, tenho medo que o meu pai me rejeite, que ele não me perdoe”. E o amigo aconselha-o: “Envia uma cartinha ao teu pai e diz: ‘Pai, arrependi-me, quero voltar para casa, mas não tenho a certeza se serás feliz. Se quiseres receber-me, por favor, põe um lenço branco na janela”. E depois começou a percorrer o caminho. E quando estava perto de casa, na última curva da estrada, a casa estava à sua frente. E o que viu? Não um lenço: estava cheio de lenços brancos, nas janelas, tudo! É assim que o Pai nos recebe, com plenitude, com alegria. Este é o nosso Pai!

Será que sabemos alegrar-nos pelos outros? Que a Virgem Maria nos ensine a acolher a misericórdia de Deus, para que se torne a luz na qual olhar para o nosso próximo.

O retorno do filho pródigo
(Michel Martin Drolling)

Fonte: Santa Sé.

Faleceu o Cardeal Antonios Naguib

Faleceu nesta segunda-feira, 28 de março de 2022, aos 87 anos, o Cardeal Antonios Naguib, Patriarca Emérito da Igreja Católica Copta, uma das 23 Igrejas Católicas Orientais.


Antonios Naguib nasceu em 18 de março de 1935 em Samalut (Egito). Após completar seus estudos no Seminário de Maadi (Cairo) e no Pontifício Colégio Urbaniano (Roma), foi ordenado sacerdote em 30 de outubro de 1960, incardinado na Eparquia de Minya (ou Minieh).

Após a ordenação retornou a Roma para obter o Mestrado em Sagrada Escritura (1964). De volta ao Egito, tornou-se professor no Seminário de Maadi e trabalhou junto com um grupo de especialistas ortodoxos e protestantes em uma tradução da Bíblia em árabe.

Em 26 de julho de 1977 foi nomeado Bispo da Eparquia de Minya, recebendo a ordenação episcopal em 09 de setembro do mesmo ano, pela imposição das mãos do então Patriarca Copta, Cardeal Stephanos Sidarouss. Em 29 de setembro de 2002, com 67 anos, apresentou sua renúncia ao governo da Eparquia.


Com a renúncia do Cardeal Stéphanos Ghattas, Antonios Naguib foi eleito Patriarca de Alexandria dos Coptas em 30 de março de 2006. O Papa Bento XVI confirmou sua eleição no dia 07 de abril, concedendo-lhe a ecclesiastica communio (comunhão eclesiástica).

O mesmo Bento XVI o criaria Cardeal no Consistório de 20 de novembro de 2010, com o título de Cardeal Bispo de Alexandria dos Coptas.

A partir de dezembro de 2011, ao sofrer um derrame, sua saúde deteriorou. Assim, em 15 de janeiro de 2013, aos 77 anos, renunciou ao ofício de Patriarca, sendo sucedido por Ibrahim Isaac Sidrak. Não obstante, participou dois meses depois do Conclave que elegeu o Papa Francisco.


Com sua morte, o Colégio Cardinalício passa a contar com 211 membros, sendo 119 eleitores em um eventual Conclave e 92 não-eleitores (Cardeais com mais de 80 anos).

Dedicação de igreja em Manila

Na tarde do último dia 26 de março, sábado da III semana da Quaresma, o  Arcebispo de Manila (Filipinas), Cardeal Jose Fuerte Advincula, celebrou a Santa Missa para a dedicação da igreja da Santíssima Trindade no distrito de Malate em Manila:

Procissão de entrada
Ritos iniciais
Bênção da água
Aspersão da igreja
Entronização do livro da Palavra de Deus

Postagens sobre a Semana Santa

Se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com Ele” (Rm 6,8).

Ao longo dos últimos dez anos, desde o início deste blog em dezembro de 2011, foram diversas as postagens publicadas sobre cada um dos tempos do Ano Litúrgico: sobre o Advento e o Natal, sobre o Tempo da Quaresma...

Nesta postagem, por sua vez, propomos os links para nossas principais postagens sobre a Semana Santa e o Tríduo Pascal do Senhor Crucificado, Sepultado e Ressuscitado, centro de todo o Ano Litúrgico, algumas das quais foram recentemente revistas e ampliadas.

À medida que realizarmos novas postagens atualizaremos os links neste índice.

No futuro publicaremos também os índices para os demais tempos litúrgicos:

SEMANA SANTA


Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

A história do Domingo de Ramos (2012; atualizada em 2022)
A celebração do Domingo de Ramos (2012; atualizada em 2022)




Crucificação - Catedral de Castanhal (PA)

1º DIA DO TRÍDUO PASCAL: O DIA DO CRUCIFICADO

Missa da Ceia do Senhor

A história da Missa da Ceia do Senhor (2012; atualizada em 2022)


Celebração da Paixão do Senhor

A Celebração da Paixão do Senhor (2012; atualizada em 2022)


2º DIA DO TRÍDUO PASCAL: O DIA DO CRISTO SEPULTADO

Piedade popular

A Via Sacra (2012, atualizada em 2021)


Lamentação - Catedral de Castanhal (PA)


3º DIA DO TRÍDUO PASCAL: O DIA DO RESSUSCITADO

Vigília Pascal na Noite Santa

A celebração da Vigília Pascal (2012; atualizada em 2022)



Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor

A celebração do Domingo de Páscoa (2012; atualizada em 2022)




Ressurreição - Catedral de Castanhal (PA)

Postagem publicada em 28 de março de 2022. Última atualização: 20 de março de 2024.

domingo, 27 de março de 2022

Solenidade da Anunciação em Cracóvia, Londres e Milão

Em comunhão com o Papa Francisco, os Bispos do mundo realizaram no último dia 25 de março, Solenidade da Anunciação do Senhor, um ato de consagração ao Imaculado Coração de Maria, confiando-lhe particularmente o povo ucraniano e o povo russo.

Após registrarmos as celebrações que tiveram lugar na Basílica da Anunciação em Nazaré e na Catedral de Manila (Filipinas), destacamos nesta postagem as celebrações em três importantes Arquidioceses europeias, cujas celebrações sempre registramos em nosso blog: Cracóvia (Polônia), Westminster (Inglaterra) e Milão (Itália).

Arquidiocese de Cracóvia (Polônia)
Missa na Catedral de Wawel presidida pelo Arcebispo, Dom Marek Jędraszewski:

Imagem de Nossa Senhora no altar-mor da Catedral
Procissão de entrada
Evangelho

Homilia

Solenidade da Anunciação em Manila

No último dia 25 de março, Solenidade da Anunciação do Senhor, o Arcebispo de Manila (Filipinas), Cardeal Jose Fuerte Advincula, celebrou a Santa Missa na Catedral Metropolitana da Imaculada Conceição em Manila (Filipinas), durante a qual realizou o Ato de consagração ao Imaculado Coração de Maria, em sintonia com o Papa Francisco.

Após a Missa teve lugar uma procissão luminosa com a oração do rosário pela paz ao redor da Catedral.

Santa Missa:

Imagem de Nossa Senhora de Fátima
Procissão de entrada
Incensação
Ritos iniciais
Evangelho

Solenidade da Anunciação em Nazaré

O Patriarca de Jerusalém, Dom Pierbattista Pizzaballa, presidiu nos dias 24 e 25 de março de 2022 as celebrações da Solenidade da Anunciação do Senhor na Basílica da Anunciação em Nazaré.

No final da Missa no dia 25 foi realizado o Ato de consagração ao Imaculado Coração de Maria em sintonia com o Papa Francisco.

Para saber mais sobre a história da Basílica e sobre as Missas votivas a ela associadas, clique aqui.

24 de março: I Vésperas da Solenidade da Anunciação

O Patriarca reza na gruta da Anunciação
Oração das I Vésperas na Basílica Superior

Salmodia

sábado, 26 de março de 2022

Fotos da Celebração Penitencial no Vaticano

No último dia 25 de março, Solenidade da Anunciação do Senhor, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro uma Celebração Penitencial com confissões individuais. Essa celebração, que tradicionalmente tinha lugar na sexta-feira da III semana da Quaresma, foi retomada após ter sido omitida nos últimos dois anos devido à pandemia de Covid-19.

Após a celebração o Papa recitou um Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria, confiando à Virgem Maria particularmente o povo ucraniano e o povo russo.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Diego Giovanni Ravelli e Ľubomír Welnitz. Para ver o livreto da celebração, clique aqui.

Procissão de entrada
Incensação da cruz

Evangelho

Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria

Papa Francisco
Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria
Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 25 de março de 2022

Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, recorremos a Vós nesta hora de tribulação. Vós sois Mãe, amais-nos e conheceis-nos: de quanto temos no coração, nada Vos é oculto. Mãe de misericórdia, muitas vezes experimentamos a vossa ternura providente, a vossa presença que faz voltar a paz, porque sempre nos guiais para Jesus, Príncipe da paz.

Mas perdemos o caminho da paz. Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais. Descuidamos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens. Adoecemos de ganância, fechamo-nos em interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e paralisar pelo egoísmo. Preferimos ignorar Deus, conviver com as nossas falsidades, alimentar a agressividade, suprimir vidas e acumular armas, esquecendo-nos que somos guardiões do nosso próximo e da própria casa comum. Dilaceramos com a guerra o jardim da Terra, ferimos com o pecado o coração do nosso Pai, que nos quer irmãos e irmãs. Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, exceto a nós mesmos. E, com vergonha, dizemos: perdoai-nos, Senhor!

Na miséria do pecado, das nossas fadigas e fragilidades, no mistério de iniquidade do mal e da guerra, Vós, Mãe Santa, lembrai-nos que Deus não nos abandona, mas continua a olhar-nos com amor, desejoso de nos perdoar e levantar novamente. Foi Ele que Vos deu a nós e colocou no vosso Imaculado Coração um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Por bondade divina, estais conosco e conduzis-nos com ternura mesmo nos transes mais apertados da história.

Por isso recorremos a Vós, batemos à porta do vosso Coração, nós os vossos queridos filhos que não Vos cansais de visitar em todo o tempo e convidar à conversão. Nesta hora escura, vinde socorrer-nos e consolar-nos. Repeti a cada um de nós: «Não estou porventura aqui Eu, que sou tua mãe?» Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração e desatar os nós do nosso tempo. Repomos a nossa confiança em Vós. Temos a certeza de que Vós, especialmente no momento da prova, não desprezais as nossas súplicas e vindes em nosso auxílio.

Assim fizestes em Caná da Galileia, quando apressastes a hora da intervenção de Jesus e introduzistes no mundo o seu primeiro sinal. Quando a festa se mudara em tristeza, dissestes-Lhe: «Não têm vinho!» (Jo 2,3). Ó Mãe, repeti-o mais uma vez a Deus, porque hoje esgotamos o vinho da esperança, desvaneceu-se a alegria, diluiu-se a fraternidade. Perdemos a humanidade, malbaratamos a paz. Tornamo-nos capazes de toda a violência e destruição. Temos necessidade urgente da vossa intervenção materna.

Por isso acolhei, ó Mãe, esta nossa súplica:
Vós, estrela do mar, não nos deixeis naufragar na tempestade da guerra;
Vós, arca da nova aliança, inspirai projetos e caminhos de reconciliação;
Vós, «terra do Céu», trazei de volta ao mundo a concórdia de Deus;
Apagai o ódio, acalmai a vingança, ensinai-nos o perdão;
Libertai-nos da guerra, preservai o mundo da ameaça nuclear;
Rainha do Rosário, despertai em nós a necessidade de rezar e amar;
Rainha da família humana, mostrai aos povos o caminho da fraternidade;
Rainha da paz, alcançai a paz para o mundo.

O vosso pranto, ó Mãe, comova os nossos corações endurecidos. As lágrimas, que por nós derramastes, façam reflorescer este vale que o nosso ódio secou. E, enquanto o rumor das armas não se cala, que a vossa oração nos predisponha para a paz. As vossas mãos maternas acariciem quantos sofrem e fogem sob o peso das bombas. O vosso abraço materno console quantos são obrigados a deixar as suas casas e o seu país. Que o vosso doloroso Coração nos mova à compaixão e estimule a abrir as portas e cuidar da humanidade ferida e descartada.

Santa Mãe de Deus, enquanto estáveis ao pé da cruz, Jesus, ao ver o discípulo junto de Vós, disse-Vos: «Eis o teu filho!» (Jo 19,26). Assim Vos confiou cada um de nós. Depois disse ao discípulo, a cada um de nós: «Eis a tua mãe!» (v. 27). Mãe, agora queremos acolher-Vos na nossa vida e na nossa história. Nesta hora, a humanidade, exausta e transtornada, está ao pé da cruz convosco. E tem necessidade de se confiar a Vós, de se consagrar a Cristo por vosso intermédio. O povo ucraniano e o povo russo, que Vos veneram com amor, recorrem a Vós, enquanto o vosso Coração palpita por eles e por todos os povos ceifados pela guerra, a fome, a injustiça e a miséria.

Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao vosso Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e a humanidade inteira, de modo especial a Rússia e a Ucrânia. Acolhei este nosso ato que realizamos com confiança e amor, fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz. O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz. Assim a Vós consagramos o futuro da família humana inteira, as necessidades e os anseios dos povos, as angústias e as esperanças do mundo.

Por vosso intermédio, derrame-se sobre a Terra a Misericórdia divina e o doce palpitar da paz volte a marcar as nossas jornadas. Mulher do sim, sobre Quem desceu o Espírito Santo, trazei de volta ao nosso meio a harmonia de Deus. Dessedentai a aridez do nosso coração, Vós que «sois fonte viva de esperança». Tecestes a humanidade para Jesus, fazei de nós artesãos de comunhão. Caminhastes pelas nossas estradas, guiai-nos pelas sendas da paz. Amém.


Fonte: Santa Sé.

Homilia do Papa: Celebração Penitencial

Celebração da Penitência e Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 25 de março de 2022

No Evangelho da Solenidade de hoje, o Anjo Gabriel toma a palavra por três vezes para se dirigir à Virgem Maria.

A primeira vez, quando a saúda com estas palavras: «Alegra-te, ó cheia de graça: o Senhor está contigo» (Lc 1,28). O motivo para rejubilar, o motivo da alegria, é desvendado em poucas palavras: o Senhor está contigo. Irmão, irmã, hoje podes ouvir estas palavras dirigidas a ti, dirigidas a cada um de nós; podes fazê-las tuas sempre que te abeiras do perdão de Deus, porque nessa ocasião te diz o Senhor: «Eu estou contigo». Muitas vezes pensamos que a Confissão consiste em ir de cabeça inclinada ao encontro de Deus. Mas voltar para o Senhor não é primariamente obra nossa; é Ele que nos vem visitar, cumular da sua graça, alegrar com o seu júbilo. Confessar-se é dar ao Pai a alegria de nos levantar de novo. No centro daquilo que vamos viver, não estão os nossos pecados; estarão, mas não estão no centro. O seu perdão: este é o centro. Tentemos imaginar se, no centro do Sacramento, estivessem os nossos pecados: então dependeria quase tudo de nós, do nosso arrependimento, dos nossos esforços, do nosso empenhamento. Mas não, no centro está Ele, que nos liberta e põe de pé.


Restituamos o primado à graça e peçamos o dom de compreender que a Reconciliação consiste antes de tudo, não num passo nosso para Deus, mas no seu abraço que nos envolve, deslumbra, comove. É o Senhor que entra em nossa casa, como na de Maria em Nazaré, e traz um deslumbramento e uma alegria antes desconhecidos: a alegria do perdão. Como primeiro plano foquemos a perspectiva em Deus: voltaremos a gostar da Confissão. Precisamos dela, porque cada renascimento interior, cada viragem espiritual começa daqui, do perdão de Deus. Não negligenciemos a Reconciliação, mas voltemos a descobri-la como o Sacramento da alegria. Sim, o Sacramento da alegria, onde o mal que nos faz envergonhar se torna ocasião para experimentar o abraço caloroso do Pai, a força suave de Jesus que nos cura, a «ternura materna» do Espírito Santo. Aqui está o coração da Confissão.

Cardeal Cantalamessa: III Pregação de Quaresma 2022

Confira a terceira meditação de Quaresma do Cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, Pregador da Casa Pontifícia, proferida no dia 25 de março de 2022 e dedicada à Comunhão Eucarística:

Cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap
III pregação de Quaresma
25 de março de 2022

Uma catequese mistagógica sobre a Eucaristia:
A Comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo

Em nossa catequese mistagógica sobre a Eucaristia, após a Liturgia da Palavra e a Consagração, chegamos ao terceiro momento, o da Comunhão. Este é o momento da Missa que mais claramente expressa a unidade e a igualdade fundamental de todos os membros do povo de Deus, abaixo de qualquer distinção de posição e ministério. Até então, a distinção dos ministérios é visível: na Liturgia da Palavra, a distinção entre a Igreja que ensina e a Igreja que aprende; na Consagração, a distinção entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio universal. Na Comunhão não há distinção. A Comunhão recebida pelo simples batizado é idêntica à recebida pelo sacerdote ou pelo Bispo. A Comunhão eucarística é a proclamação sacramental de que a koinonia vem em primeiro lugar na Igreja e é mais importante que a hierarquia.
Reflitamos sobre a Comunhão eucarística a partir de um texto de São Paulo:
“O cálice da bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17).
A palavra “corpo” recorre duas vezes nos dois versículos, mas com um significado diverso. No primeiro caso (“o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo?”), indica o Corpo real de Cristo, nascido de Maria, morto e ressuscitado; no segundo (“somos um só corpo”), indica o Corpo místico, a Igreja. Não se podia dizer de maneira mais sucinta e mais clara que a Comunhão eucarística é sempre comunhão com Deus e comunhão com os irmãos; que nela há, por assim dizer, uma dimensão vertical e uma dimensão horizontal. Partamos da primeira.


A Eucaristia, comunhão com Cristo

Busquemos aprofundar qual gênero de comunhão se estabelece entre nós e Cristo na Eucaristia. Em João 6,57, Jesus diz: “Como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também o que comer de mim viverá por mim”. A preposição “por” (em grego, dià) tem aqui valor causal e final; indica tanto um movimento de proveniência e um movimento de destinação. Significa que quem come o corpo de Cristo vive “d’Ele”, isto é, por causa d’Ele, em virtude da vida que provém d’Ele, e vive “em vista d’Ele”, isto é, para sua glória, seu amor, seu Reino. Como Jesus vive do Pai e para o Pai, assim, comungando do santo mistério do seu Corpo e do seu Sangue, nós vivemos de Jesus e para Jesus.