quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Fotos da Vigília do Papa com os Jovens - JMJ 2019

Na noite de 26 de janeiro o Papa Francisco presidiu a Vigília com os Jovens no Metro Park (Campo São João Paulo II) na Cidade do Panamá por ocasião da 34ª Jornada Mundial da Juventude.

A Vigília, como de costume, contou com alguns testemunhos dos jovens, seguida de uma homilia do Santo Padre e concluiu-se com a Adoração Eucarística e a Bênção do Santíssimo Sacramento.

O Papa Francisco foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina.

Chegada do Santo Padre


O Papa ouve os testemunhos


Homilia do Papa: Vigília com os Jovens - JMJ 2019

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Panamá - 34ª Jornada Mundial da Juventude
(23-28 de janeiro de 2019)
Vigília com os Jovens
Discurso do Santo Padre
Campo São João Paulo II – Metro Park (Panamá)
Sábado, 26 de janeiro de 2019

Queridos jovens, boa noite!
Acabamos de ver este belo espetáculo sobre a Árvore da Vida, que mostra como a vida que Jesus nos dá é uma história de amor, uma história de vida que quer misturar-se com a nossa e criar raízes na terra de cada um. Essa vida não é uma salvação suspensa «na nuvem» – no disco virtual – à espera de ser descarregada, nem uma nova «aplicação» para descobrir ou um exercício mental fruto de técnicas de crescimento pessoal. Nem a vida que Deus nos oferece é um «tutorial» com o qual apreender as últimas novidades. A salvação, que Deus nos dá, é um convite para fazer parte duma história de amor, que está entrelaçada com as nossas histórias; que vive e quer nascer entre nós, para podermos dar fruto onde, como e com quem estivermos. Precisamente aí vem o Senhor plantar e plantar-Se a Si mesmo; Ele é o primeiro a dizer «sim» à nossa vida; Ele é sempre o primeiro. É o primeiro a dizer «sim» à nossa história e quer que também nós digamos «sim» juntamente com Ele. Ele sempre nos antecede, é o primeiro.
E foi assim que surpreendeu Maria, convidando-A para fazer parte desta história de amor. Sem dúvida, a jovem de Nazaré não aparecia nas «redes sociais» de então; Ela não era um «influenciador» (influencer, em sentido digital) mas, sem querer nem procurá-lo, tornou-Se a mulher que maior influência teve na história.
E poderíamos, com confiança de filhos, defini-La: Maria, a influenciadora [às ordens] de Deus. Com poucas palavras, teve a coragem de dizer «sim», confiando no amor, confiando nas promessas de Deus, que é a única força capaz de renovar, de fazer novas todas as coisas. E, hoje, todos temos algo para renovar dentro de nós. Hoje devemos deixar que Deus renove algo no nosso coração. Pensemos um pouco: Que quero que Deus renove no meu coração?
Sempre impressiona a força do «sim» de Maria, jovem. A força daquele «faça-se em Mim», que disse ao anjo. Foi uma coisa distinta duma aceitação passiva ou resignada. Foi qualquer coisa distinta daquele «sim» que por vezes se diz: «Bem; provemos a ver que sucede». Maria não conhecia a frase «provemos a ver que sucede». Era determinada: compreendeu do que se tratava e disse «sim», sem rodeios de palavras. Foi algo mais, qualquer coisa de diferente. Foi o «sim» de quem quer comprometer-se e arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia para além da certeza de saber que é portadora duma promessa. Pergunto a cada um de vós: Sentes-te portador duma promessa? Que promessa trago no meu coração, devendo dar-lhe continuidade? Maria teria, sem dúvida, uma missão difícil, mas as dificuldades não eram motivo para dizer «não». Com certeza teria complicações, mas não haveriam de ser idênticas às que se verificam quando a cobardia nos paralisa por não vermos, antecipadamente, tudo claro ou garantido. Maria não comprou um seguro de vida! Maria embarcou no jogo e, por isso, é forte, é uma «influenciadora», é a «influenciadora» de Deus! O «sim» e o desejo de servir foram mais fortes do que as dúvidas e dificuldades.
Esta noite ouvimos também como o «sim» de Maria ecoa e se multiplica de geração para geração. Seguindo o exemplo de Maria, muitos jovens arriscam e apostam, guiados por uma promessa. Obrigado, Erika e Rogelio, pelo testemunho que nos destes. Foram ambos corajosos! Merecem um aplauso. Obrigado! Compartilhastes os vossos medos, dificuldades, todo o risco que vivestes antes do nascimento da Inês. A dada altura dissestes: «A nós, pais, por várias razões, custa muito aceitar a chegada dum bebé portador de doença ou deficiência». Isso é verdade, é compreensível! O facto surpreendente, porém, encerra-se naquilo que acrescentastes: «Quando nasceu a nossa filha, decidimos amá-la com todo o nosso coração». Antes da sua chegada, perante todas as notícias e dificuldades que surgiram, tomastes uma decisão e dissestes como Maria «faça-se em nós», decidistes amá-la. Face à vida de vossa filha frágil, inerme e necessitada, a vossa resposta, de Erika e Rogelio, foi «sim» e, deste modo, temos a Inês. Tivestes a coragem de acreditar que o mundo não é só para os fortes! Obrigado!
Dizer «sim» ao Senhor é ter a coragem de abraçar a vida como vem, com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias, abraçá-la com o mesmo amor que Erika e Rogelio nos contaram. Receber a vida como vem significa abraçar a nossa pátria, as nossas famílias, os nossos amigos como são, mesmo com as suas fragilidades e mesquinhices. Damos também provas de que se abraça a vida, quando acolhemos tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Pergunto-vos: uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil é digna de amor? [Respondem: Sim!] Não se ouve bem… [Mais forte: Sim!] Compreendestes? Outra pergunta; vejamos como respondeis. Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se encontre doente ou numa prisão, é digna de amor? [Respondem: Sim!] Assim fez Jesus: abraçou o leproso, o cego e o paralítico, abraçou o fariseu e o pecador. Abraçou o ladrão na cruz, abraçou e perdoou até àqueles que O estavam a crucificar.
Porquê? Porque, só o que se ama, pode ser salvo. Tu não podes salvar uma pessoa, não podes salvar uma situação, se não a amas. Só o que se ama pode ser salvo. Vamos repeti-lo? [Juntos] Só o que se ama pode ser salvo. Outra vez! [Os jovens: Só o que se ama pode ser salvo]. Não o esqueçais. É por isso que fomos salvos por Jesus: porque nos ama e não pode deixar de o fazer. Podemos combiná-la de todas as cores, mas Ele continua a amar-nos e salva-nos. Porque só o que se ama pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado. O amor do Senhor é maior que todas as nossas contradições, que todas as nossas fragilidades e que todas as nossas mesquinhices, mas é precisamente através das nossas contradições, fragilidades e mesquinhices que Ele quer escrever esta história de amor. Abraçou o filho pródigo, abraçou Pedro depois de O ter negado e abraça-nos sempre, sempre, sempre, depois das nossas quedas, ajudando-nos a levantar e ficar de pé. Porque a verdadeira queda – atenção a isto! – a verdadeira queda, aquela que nos pode arruinar a vida, é ficar por terra e não se deixar ajudar. Há uma canção alpina muito bonita, que cantam enquanto sobem a montanha: «Na arte de subir, a vitória não está em não cair, mas em não ficar caído». Não ficar caído! Estender a mão, para que te levantem. Não ficar caído.
O primeiro passo é não ter medo de receber a vida como ela vem, não ter medo de abraçar a vida como é! Esta é a árvore da vida que vimos hoje [durante a Vigília].
Obrigado, Alfredo, pelo teu testemunho e a coragem de o partilhares com todos nós. Fiquei muito impressionado quando disseste: «Comecei a trabalhar na construção até quando terminou aquele projeto. Sem emprego, as coisas complicaram-se: sem escola, sem ocupação e sem trabalho». Resumo-o nos quatro «sem» que deixam a nossa vida sem raízes e ela seca: sem trabalho, seminstrução, sem comunidade, sem família. Ou seja: uma vida sem raízes. Sem trabalho, sem instrução, sem comunidade e sem família. Estes quatro «sem» matam.
É impossível uma pessoa crescer, se não possui raízes fortes que a ajudem a estar firme de pé e agarrada à terra. É fácil extraviar-se, quando não temos onde agarrar-nos, onde firmar-nos. Esta é uma questão que nós, adultos, nos devemos colocar, nós adultos que estamos aqui; mais, é uma questão que vós devereis colocar-nos – vós jovens devereis colocar a nós adultos – e nós temos o dever de vos responder: Que raízes estamos a dar-vos? Quais são as bases que estamos a oferecer-vos para vos construirdes como pessoas? É uma pergunta para nós adultos. Como é fácil criticar os jovens e passar o tempo murmurando, se os deixamos sem oportunidades laborais, educativas e comunitárias a que agarrar-se para sonhar o futuro! Sem instrução, é difícil sonhar um futuro; sem trabalho, é muito difícil sonhar o futuro; sem família nem comunidade, é quase impossível sonhar o futuro. Porque sonhar o futuro é aprender a responder não só porque vivo, mas também para quem vivo, por quem vale a pena gastar a minha vida. E isto devemos proporcionar-vo-lo nós adultos, dando-vos trabalho, instrução, comunidade, oportunidades.
Como nos dizia Alfredo, quando alguém se vê despedido e fica sem trabalho, sem instrução, sem comunidade e sem família, no fim do dia sente-se vazio e acaba por preencher aquele vazio com uma coisa qualquer, com qualquer coisa ruim. Porque já não sabemos para quem viver, lutar e amar. Aos adultos que estão aqui e a quantos nos estão a ver, pergunto: Que fazes tu para gerar futuro, vontade de futuro nos jovens de hoje? És capaz de lutar para que tenham instrução, para que tenham trabalho, para que tenham família, para que tenham comunidade? Cada um de nós, adultos, responda no seu coração.
Lembro-me que uma vez, conversando com alguns jovens, me perguntaram: «Porque é que hoje muitos jovens não se interrogam se Deus existe, ou sentem dificuldade em crer n’Ele e evitam comprometer-se na vida?» Respondi: «E vós, que achais?» Dentre as respostas que surgiram na conversa, recordo uma que me tocou o coração e está relacionada com a experiência que Alfredo partilhou: «Padre, é que muitos deles sentem que, para os outros, pouco a pouco deixaram de existir, frequentemente sentem-se invisíveis». Muitos jovens sentem que deixaram de existir para os outros, para a família, para a sociedade, para a comunidade... e assim, muitas vezes, sentem-se invisíveis. É a cultura do abandono e da falta de consideração. Não digo todos, mas muitos sentem que não têm nem muito nem pouco para dar, por falta de espaços reais que a isso os convoquem. Como hão de pensar que Deus existe se eles mesmos – estes jovens –, para seus irmãos e para a sociedade, há muito que deixaram de existir? Assim, estamos forçando-os a não olhar para o futuro e a cair como presa de qualquer droga, de qualquer coisa que os destrói. Podemos perguntar-nos: Que faço pelos jovens que vejo? Critico-os, ou desinteresso-me deles? Ajudo-os, ou desinteresso-me deles? É verdade que, para mim, deixaram de existir há muito?
Bem sabemos que não basta estar conectado o dia inteiro para se sentir reconhecido e amado. Sentir-se considerado e convidado para algo é mais do que permanecer «em rede». Significa encontrar espaços onde possais, com as vossas mãos, com o vosso coração e com a vossa cabeça, sentir-vos parte duma comunidade maior que precisa de vós e, vice-versa, vós, jovens, precisais dela também.
Isto, compreenderam-no bem os santos. Penso, por exemplo, em São João Bosco [Os jovens aplaudem], que não foi procurar os jovens em qualquer lugar distante ou especial. Vê-se que aqui estão os que gostam de São João Bosco: um aplauso! São João Bosco não foi procurar os jovens em qualquer lugar distante ou especial; simplesmente aprendeu a olhar, a ver tudo o que acontecia em redor na cidade e a vê-lo com os olhos de Deus, ficando impressionado com as centenas de crianças e de jovens abandonados, sem escola, sem trabalho e sem a mão amiga duma comunidade. Havia muita gente que vivia naquela mesma cidade, e muitos criticavam aqueles jovens, mas não sabiam vê-los com os olhos de Deus. Os jovens, é preciso vê-los com os olhos de Deus. João Bosco fê-lo e animou-se a dar o primeiro passo: abraçar a vida como ela se apresenta; e, a partir disto, não teve medo de dar o segundo passo: criar com eles uma comunidade, uma família onde se sentissem amados com trabalho e estudo, ou seja, dar-lhes raízes a que agarrar-se para poderem chegar ao céu, para poderem ser alguém na sociedade. Dar-lhes raízes onde se agarrar para não ser derrubados pelo primeiro vento que vem. Isto fez São João Bosco, isto fizeram os santos, isto fazem as comunidades que sabem ver os jovens com os olhos de Deus. Vós, adultos, aceitais ver os jovens com os olhos de Deus?
Penso em muitos lugares da nossa América Latina onde se promove a chamada família grande lar de Cristo, com o mesmo espírito de outros centros, que procuram receber a vida como ela vem na sua totalidade e complexidade, porque sabem que «para a árvore há uma esperança: cortada, pode ainda reverdecer e deitar novos rebentos» ( 14,7).
E sempre é possível «reverdecer e deitar novos rebentos», sempre é possível começar de novo quando há uma comunidade, o calor duma casa onde criar raízes, que oferece a confiança necessária e prepara o coração para descobrir um novo horizonte: horizonte de filho amado, procurado, encontrado e dedicado a uma missão. O Senhor torna-Se presente por meio de rostos concretos. Dizer «sim» como Maria a esta história de amor é dizer «sim» como instrumentos para construir, nos nossos bairros, comunidades eclesiais capazes de percorrer as estradas da cidade, abraçando e tecendo novas relações. Ser um «influenciador» no século XXI significa ser guardião das raízes, guardião de tudo aquilo que impede a nossa vida de se tornar «gasosa», impede que a nossa vida se evapore no nada. Vós, adultos, sede guardiões de tudo o que permite sentir-nos parte uns dos outros, guardiões de tudo aquilo que nos faz sentir que pertencemos uns aos outros.
Isto mesmo viveu Nirmeen na JMJ de Cracóvia. Encontrou uma comunidade viva, alegre, que veio ao encontro dela, deu-lhe um sentido de pertença e, consequentemente, de identidade e permitiu-lhe viver a alegria que comunica a maravilha de ser encontrada por Jesus. Nirmeen evitava Jesus, evitava-O, mantinha-se à distância, até que alguém lhe fez criar raízes, lhe deu uma pertença, e aquela comunidade deu-lhe a coragem para começar este caminho que ela nos contou.
Uma vez, um santo – latino-americano – interrogou-se: «O progresso da sociedade servirá apenas para chegar a possuir o último modelo de carro ou adquirir a última tecnologia do mercado? Nisto se resume toda a grandeza do homem? Não há mais nada que isto para viver?» (Santo Alberto Furtado, Meditación de Semana Santa para jovens, 1946). E, a vós jovens, eu pergunto: É esta grandeza que quereis, ou não? [Respondem: «Não!»] Não tendes a certeza… Aqui não se ouve bem, que acontece?... [«Não!»] A grandeza não é apenas possuir o último modelo de carro ou adquirir a última tecnologia do mercado. Fostes criados para algo maior? Maria compreendeu-o e disse: «Faça-se em Mim». Erika e Rogelio compreenderam-no e disseram: «Faça-se em nós». Alfredo compreendeu-o e disse: «Faça-se em mim». Nirmeen compreendeu-o e disse: «Faça-se em mim». Ouvimo-los dizer isso mesmo aqui. Amigos, pergunto-vos: Estais dispostos a dizer «sim»? [Respondem: «Sim!»] Agora respondestes… gosto mais assim! O Evangelho ensina-nos que o mundo não será melhor por haver menos pessoas doentes, menos pessoas debilitadas, menos pessoas frágeis ou idosas de que ocupar-se, nem por haver menos pecadores. Não! Não será melhor por isso. O mundo será melhor quando forem mais as pessoas que, como estes amigos que nos falaram, estiverem dispostas e tiverem a coragem de levar no ventre o amanhã e acreditar na força transformadora do amor de Deus. A vós, jovens, pergunto: Quereis ser «influenciadores» no estilo de Maria? [Respondem: «Sim!»] Ela teve a coragem de dizer «faça-se em Mim»? Só o amor nos torna mais humanos, não os conflitos, nem meramente o estudo; só o amor nos torna mais humanos, mais plenificados, o resto não passa de remedeio bom, mas vazio.
Dentro de momentos, encontrar-nos-emos com Jesus vivo na Eucaristia. Certamente tereis muitas coisas para Lhe dizer, muitas coisas para Lhe contar sobre várias situações da vossa vida, das vossas famílias e dos vossos países.
Encontrando-vos na presença de Jesus, face a face, sede corajosos, não tenhais medo de Lhe abrir o coração pedindo que renove o fogo do amor d’Ele, que vos induza a abraçar a vida com toda a sua fragilidade, com toda a sua pequenez, mas também com toda a sua grandeza e beleza. Que Jesus vos ajude a descobrir a beleza de estar vivos e acordados. Vivos e acordados.
Não tenhais medo de dizer a Jesus que vós também quereis fazer parte da sua história de amor no mundo, que sois para um «mais»!
Amigos, peço-vos também que, neste face a face com Jesus, tenhais a bondade de rezar por mim, para que também eu não tenha medo de abraçar a vida, para que seja capaz de guardar as raízes e diga como Maria: «Faça-se em mim segundo a tua palavra».


Fonte: Santa Sé

Fotos da Dedicação do altar da Catedral do Panamá

Na manhã do último dia 26 de janeiro o Papa Francisco celebrou a Santa Missa na Catedral Basílica de Santa Maria la Antigua na cidade do Panamá, durante a qual dedicou o novo altar da igreja.

Esta é a primeira vez que o Papa Francisco dedica um altar durante seu pontificado. Nesta celebração foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina. O rito pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica.

O Papa venera a imagem de Santa Maria la Antigua
Procissão de entrada

Ritos iniciais

Homilia do Papa: Dedicação do altar da Catedral do Panamá

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Panamá - 34ª Jornada Mundial da Juventude
(23-28 de janeiro de 2019)
Santa Missa com a Dedicação do Altar da Catedral-Basílica de Santa Maria la Antigua
Homilia do Santo Padre
Panamá
Sábado, 26 de janeiro de 2019

Quero, antes de mais nada, congratular-me com o Senhor Arcebispo, que pela primeira vez, passados quase sete anos, pôde encontrar a sua esposa, esta Igreja, provisoriamente viúva durante todo este tempo. E congratular-me com a viúva, que hoje, ao encontrar o seu esposo, deixa de ser viúva. Depois quero agradecer a quantos tornaram isto possível: às autoridades e a todo o povo de Deus. Agradecer-lhes tudo o que fizeram para que o Senhor Arcebispo pudesse encontrar-se com o seu povo, não numa casa emprestada, mas na sua casa. Obrigado!
Devido às limitações de tempo, previa-se no programa que essa cerimônia tivesse dois significados: a sagração do altar e o encontro com sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos consagrados. Por isso, aquilo que vou dizer obedece a esta linha, pensando nos sacerdotes, nas religiosas, nos religiosos e nos leigos consagrados, especialmente em quantos trabalham nesta Igreja particular.
«Jesus, cansado da caminhada, sentou-Se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia. Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: “Dá-Me de beber” » (Jo 4,6-7).
O Evangelho que ouvimos não hesita em apresentar-nos Jesus cansado de caminhar. Ao meio-dia, quando o sol se faz sentir em toda a sua força e potência, encontramo-Lo junto do poço. Precisava de aplacar e saciar a sede, refrescar seus passos, recuperar as forças para poder continuar a sua missão.
Os discípulos experimentaram em si próprios o que significava a dedicação e disponibilidade do Senhor para levar a Boa-Nova aos pobres, curar os corações feridos, proclamar a libertação aos cativos e dar a liberdade aos prisioneiros, consolar quem estava de luto, proclamar o ano de graça para todos (cf. Is 61,1-3). Todas elas são situações que nos tolhem a vida, nos tolhem a energia; e os discípulos abundaram ao presentear-nos com tantos momentos importantes na vida do Mestre, onde também a nossa humanidade pode encontrar uma palavra de Vida.
Cansado da caminhada
Para a nossa imaginação, sempre em movimento, é relativamente fácil contemplar e entrar em comunhão com a atividade do Senhor, mas nem sempre sabemos ou podemos contemplar e acompanhar as «fadigas do Senhor», como se estas não se apropriassem a Deus. Mas o Senhor cansou-Se e, nesta fadiga, encontra lugar tanto cansaço dos nossos povos e da nossa família, das nossas comunidades e de todos aqueles que estão cansados e oprimidos (cf. Mt 11,28).
Múltiplas são as causas e motivos que nos podem provocar a fadiga da caminhada, a nós sacerdotes, consagrados e consagradas, membros dos movimentos laicais: desde as longas horas de trabalho que deixam pouco tempo para comer, descansar, rezar e estar com a família, até às «tóxicas» condições laborais e afetivas que levam ao esgotamento e desgastam o coração; desde a simples dedicação diária até ao peso rotineiro de quem já não sente gosto ou não encontra reconhecimento e apoio para enfrentar as exigências de cada dia; desde as situações complicadas já habituais e previsíveis até aos momentos urgentes de angustiante pressão... Uma gama completa de pesos a suportar.
Seria impossível tentar abraçar todas as situações que quebrantam a vida dos consagrados, mas, em todas elas, sentimos a necessidade urgente de encontrar um poço onde se possa aplacar e saciar a sede e o cansaço do caminho. Todas elas reclamam, como um grito silencioso, um poço donde começar de novo.
Desde há algum tempo para cá, às vezes parece ter-se instalado nas nossas comunidades uma espécie subtil de cansaço, que nada tem a ver com o cansaço do Senhor. Devemos estar atentos a isso! Trata-se duma tentação que poderíamos chamar o cansaço da esperança. Ou seja, o cansaço que surge quando o sol, no pino – como sugere o Evangelho –, dardeja a pique os seus raios, tornando as horas insuportáveis, e fá-lo com tal intensidade que não deixa avançar nem olhar para diante. Como se tudo ficasse confuso. Não me refiro aqui ao «particular aperto do coração» (São João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris Mater, 17; cf. Francisco, Exort. Ap. Evangelii gaudium, 287) de quem ao fim do dia, apesar de quebrantado pelo trabalho, consegue mostrar um sorriso sereno e agradecido; mas a um outro cansaço que nasce ao olhar o futuro quando a realidade me cai em cima pondo em questão as forças, os recursos e a viabilidade da missão neste mundo, que não cessa de mudar e interpelar.
É um cansaço paralisador. Nasce de olhar para a frente e não saber como reagir face à intensidade e incerteza das mudanças que estamos atravessando como sociedade. Tais mudanças parecem não só pôr em questão as nossas modalidades de expressão e compromisso, os nossos hábitos e atitudes ao enfrentar a realidade, mas frequentemente colocam também em dúvida a própria viabilidade da vida religiosa no mundo atual. E a própria velocidade destas mudanças pode levar a imobilizar opções e opiniões e, aquilo que outrora poderia ser significativo e importante, hoje parece que já não tem lugar.
Irmãs e irmãos, o cansaço da esperança nasce da constatação duma Igreja ferida pelo seu pecado e que, muitas vezes, não soube escutar tantos gritos nos quais se escondia o grito do Mestre: «Meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27,46).
Deste modo, podemos habituar-nos a viver com uma esperança cansada perante o futuro incerto e desconhecido, e isto faz com que se instale um pragmatismo cinzento no coração das nossas comunidades. Aparentemente tudo parece continuar dentro da normalidade, mas na realidade a fé deteriora-se, degenera. Comunidades e presbíteros dececionados com uma realidade que não compreendemos ou na qual pensamos já não haver lugar para a nossa proposta. E, assim, podemos conferir «cidadania» a uma das piores heresias possíveis no nosso tempo: pensar que o Senhor e as nossas comunidades não têm mais nada para dizer nem dar a este mundo novo em gestação (cf. Francisco, Exort. Ap. Evangelii gaudium, 83). Então aquilo que um dia nasceu para ser sal e luz do mundo, acaba por oferecer a sua versão pior.
Dá-Me de beber
A fadiga da viagem sobrevem e faz-se sentir. Quer queiramos quer não, ela existe e será bom termos a mesma coragem que demonstrou o Mestre ao dizer: «Dá-Me de beber». Como aconteceu à Samaritana e pode suceder a cada um de nós, não queremos aplacar a sede com uma água qualquer, mas com aquela «fonte de água que dá a vida eterna» (Jo 4,14). Como bem sabia a Samaritana que, desde há anos, carregava cântaros vazios de amores falidos, também nós sabemos que nem qualquer palavra pode ajudar a recuperar as forças e a profecia na missão. Nem qualquer novidade, por mais sedutora que pareça, pode aliviar a sede. Sabemos, como ela bem sabia, que nem mesmo o conhecimento religioso e a justificação de certas opções e tradições passadas ou novidades presentes, nos tornam sempre fecundos e apaixonados «adoradores (…) em espírito e verdade» (Jo 4,23).
«Dá-Me de beber» é aquilo que pede o Senhor e é o que Ele nos pede para dizer. Ao dizê-lo, abrimos a porta da nossa esperança cansada para voltar, sem medo, ao poço originário do primeiro amor, quando Jesus passou pelo nosso caminho, olhou-nos com misericórdia, escolheu-nos e pediu que O seguíssemos; ao dizê-lo, recuperamos a memória daquele momento em que os seus olhos cruzaram os nossos, o momento em que Ele nos fez sentir que nos amava, que me amava, e não só como indivíduo, mas também como comunidade (cf. Francisco, Homilia na Vigília Pascal, 19/IV/2014). Dizer «dá-me de beber» significa retornar sobre os nossos passos e, na fidelidade criativa, escutar que o Espírito não criou uma obra particular, um plano pastoral ou uma estrutura para ser organizada, mas, através de tantos «santos ao pé da porta» – entre os quais encontramos padres e madres fundadores de Institutos religiosos e seculares, bispos, párocos que souberam colocar bases sólidas nas suas comunidades –, através destes santos ao pé da porta deu vida e respiração a um determinado contexto histórico que parecia sufocar e esmagar toda a esperança e dignidade.
«Dá-me de beber» significa ter a coragem de se deixar purificar, de recuperar a parte mais autêntica dos nossos carismas fundacionais – que não se limitam apenas à vida religiosa, mas a toda a Igreja – e ver as modalidades em que se podem expressar hoje. Trata-se não só de olhar com gratidão o passado, mas também de ir à procura das raízes da sua inspiração e deixar que ressoem novamente com força entre nós (cf. Papa Francisco – Fernando Prado, La fuerza de la vocación, 42).
«Dá-me de beber» significa reconhecer-se necessitado de que o Espírito nos transforme em mulheres e homens memoriosos dum encontro e duma passagem, a passagem salvífica de Deus. E confiantes de que, como fez ontem, assim continuará a fazê-lo amanhã: «ir às raízes ajuda-nos indubitavelmente a viver, sem medo, o presente. Precisamos de viver sem medo, reagindo à vida com a paixão de nos sentirmos comprometidos com a história, imersos nas coisas. Com a paixão dos enamorados» (cf. ibid., 44).
A esperança cansada será curada e gozará daquele «particular aperto do coração» quando não tiver medo de voltar ao lugar do primeiro amor e conseguir encontrar, nas periferias e nos desafios que hoje se nos apresentam, o mesmo cântico, o mesmo olhar que suscitou o cântico e o olhar dos nossos pais. Assim evitaremos o risco de partir de nós mesmos e abandonaremos a autocomiseração cansativa para fixar os olhos com que hoje Cristo continua a procurar-nos, continua a olhar-nos, continua a chamar-nos e a convidar-nos para a missão, como fez naquele primeiro encontro, o encontro do primeiro amor.
E não me parece sem significado um acontecimento como este: uma Catedral que reabre as portas depois dum longo tempo de restauro. Experimentou o transcorrer dos anos, como testemunha fiel da história deste povo e, com a ajuda e o trabalho de muitos, quis presentear-nos de novo com a sua beleza. Mais do que uma reconstrução formal, que sempre tenta voltar a um original passado, procurou resgatar a beleza dos anos abrindo-se para hospedar toda a novidade que o presente lhe podia oferecer. Uma Catedral espanhola, índia e afro-americana torna-se, assim, Catedral panamense, dos panamenses de ontem, mas também dos de hoje que tornaram possível este acontecimento. Já não pertence só ao passado, mas é beleza do presente.
E hoje de novo é regaço que impele a renovar e nutrir a esperança, a descobrir como a beleza de ontem pode tornar-se base para construir a beleza de amanhã.
Assim age o Senhor. Cansaço da esperança, não; mas aquela fadiga peculiar do coração de quem dia-a-dia leva por diante aquilo que lhe foi confiado no olhar do primeiro amor.
Irmãos, não deixemos que nos roubem a esperança que herdamos, a beleza herdada dos nossos pais! Seja ela a raiz viva, a raiz fecunda que nos ajuda a continuar fazendo bela e profética a história da salvação nestas terras.


Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A Liturgia, cume e fonte da vida cristã: Encontro de Liturgia 2013

Continuando nossa série de postagens sobre os Encontros de Pastoral Litúrgica (ENPL) que acontecem anualmente no Santuário de Fátima em Portugal, disponibilizamos hoje os áudios do 39º ENPL, que aconteceu em julho de 2013, com o tema: "A Liturgia, cume e fonte da vida cristã".

Este encontro aconteceu no contexto do Ano da Fé convocado pelo Papa Bento XVI em comemoração aos 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II.

O Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal disponibilizou o áudio de 4 conferências:

Pe. Dr. Bernardino Costa, OSB

D. Julián López Martín, Bispo de León - Espanha (proferida pelo Pe. José de Leão Cordeiro)

Pe. Dr. Paulo Malícia

Côn. Dr. João da Silva Peixoto

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

JMJ 2019: Fotos da Via Sacra com o Papa

No fim da tarde do dia 25 de janeiro de 2019 o Papa Francisco presidiu a oração da Via Sacra na zona costeira da Cidade do Panamá (Campo Santa Maria la Antigua) no contexto da 34ª Jornada Mundial da Juventude.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. Para ler sua homilia, clique aqui.

A Cruz foi conduzida por jovens representando os diversos países da América Latina. Também ficou a cargo dos jovens latino-americanos as leituras e meditações.

Chegada do Santo Padre
Canto inicial



JMJ 2019: Homilia do Papa na Via Sacra

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Panamá
XXXIV Jornada Mundial da Juventude
Via-Sacra com os Jovens
Discurso do Papa Francisco
Campo Santa Maria la Antigua - Faixa Costera (Panamá)
Sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Queridos jovens de todo o mundo!
Caminhar com Jesus será sempre uma graça e um risco.
Uma graça, porque nos compromete a viver na fé e a conhecê-Lo, penetrando nas profundezas do seu coração, compreendendo a força da sua palavra.
Um risco, porque, em Jesus, as suas palavras, os seus gestos, as suas ações contrastam com o espírito do mundo, a ambição humana, as propostas duma cultura do descarte e da falta de amor.
Há uma certeza que enche de esperança esta via-sacra: Jesus percorreu-a com amor; e viveu-a também a Virgem Gloriosa, Ela que, desde o início da Igreja, quis sustentar com a sua ternura o caminho da evangelização.

Senhor, Pai de misericórdia, nesta Faixa Costeira, juntamente com tantos jovens vindos de todo o mundo, acabamos de acompanhar o vosso Filho no caminho da cruz; caminho esse, que Ele quis percorrer por nós, para nos mostrar quanto Vós nos amais e como estais envolvido na nossa vida.
O caminho de Jesus para o Calvário é um caminho de sofrimento e solidão que continua nos nossos dias. Ele caminha e sofre em tantos rostos que padecem a indiferença satisfeita e anestesiante da nossa sociedade, sociedade que consome e que se consome, que ignora e se ignora na dor dos seus irmãos.
Também nós, vossos amigos, Senhor, nos deixamos levar pela apatia e o imobilismo. Tantas vezes nos derrotou e paralisou o conformismo. Foi difícil reconhecer-Vos no irmão sofredor: desviamos o olhar, para não ver; refugiamo-nos no barulho, para não ouvir; tapamos a boca, para não gritar.
Sempre a mesma tentação. É mais fácil e «remunerador» ser amigo nas vitórias e na glória, no sucesso e no aplauso; é mais fácil estar próximo a quem é considerado popular e vencedor.
Como é fácil cair na cultura do bullying, do assédio, da intimidação, do encarniçamento sobre quem é fraco!
Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, identificastes-Vos com todo o sofrimento, com quem se sente esquecido.
Para Vós, Senhor, não é assim, porque quisestes abraçar todos aqueles que muitas vezes consideramos não dignos de um abraço, uma carícia, uma bênção; ou, pior ainda, nem nos damos conta de que precisam disso, ignoramo-los.
Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, unistes-Vos à via-sacra de cada jovem, de cada situação para a transformar numa via de ressurreição.
Pai, hoje a via-sacra do vosso Filho…
prolonga-se no grito sufocado das crianças impedidas de nascer e de tantas outras a quem se nega o direito de ter uma infância, uma família, uma instrução; nas crianças que não podem jogar, cantar, sonhar;
prolonga-se nas mulheres maltratadas, exploradas e abandonadas, despojadas e ignoradas na sua dignidade;
e nos olhos tristes dos jovens que veem ser arrebatadas as suas esperanças de futuro por falta de instrução e trabalho digno;
prolonga-se na angústia de rostos jovens, nossos amigos, que caem nas redes de pessoas sem escrúpulos - entre elas, encontram-se também pessoas que dizem servir-Vos, Senhor -, redes de exploração, criminalidade e abuso, que se alimentam das suas vidas.
A via-sacra do vosso Filho prolonga-se em tantos jovens e famílias que, absorvidos numa espiral de morte por causa da droga, do álcool, da prostituição e do tráfico humano, ficam privados não só do futuro, mas também do presente. E, assim como repartiram as vossas vestes, Senhor, acaba repartida, maltratada a sua dignidade.
A via-sacra do vosso Filho prolonga-se nos jovens com rostos franzidos que perderam a capacidade de sonhar, criar e inventar o amanhã e «passam à aposentação» com o dissabor da resignação e do conformismo, uma das drogas mais consumidas no nosso tempo.
Prolonga-se na dor escondida e indignada de quantos, em vez de solidariedade por parte duma sociedade repleta de abundância, encontram rejeição, sofrimento e miséria, e além disso acabam assinalados e tratados como portadores e responsáveis de todo o mal social.
A paixão do vosso Filho prolonga-se na solidão resignada dos idosos, que deixamos abandonados e descartados.
Prolonga-se nos povos nativos, despojados das suas terras, das suas raízes e da sua cultura, silenciando e apagando toda a sabedoria que têm e nos podem oferecer.
Pai, a via-sacra do vosso Filho prolonga-se no grito da nossa mãe Terra, que é ferida nas suas entranhas pela contaminação da atmosfera, a esterilidade dos seus campos, o lixo das suas águas, e se vê espezinhada pelo desprezo e o consumo enlouquecido que ignora razões.
Prolonga-se numa sociedade que perdeu a capacidade de chorar e comover-se à vista do sofrimento.
Sim, Pai! Jesus continua a caminhar, carregar e padecer em todos estes rostos enquanto o mundo, indiferente e num cómodo cinismo, consuma o drama da sua própria frivolidade.
E nós, Senhor, que fazemos?
Como reagimos à vista de Jesus que sofre, caminha, emigra no rosto de tantos amigos nossos, de tantos desconhecidos que aprendemos a tornar invisíveis?
E nós, Pai de misericórdia…
consolamos e acompanhamos o Senhor, inerme e sofredor, nos mais pequenos e abandonados?
ajudamo-Lo a carregar o peso da cruz, como o Cireneu, fazendo-nos operadores de paz, criadores de alianças, fermento de fraternidade?
Temos a coragem de permanecer ao pé da cruz, como Maria?
Contemplemos Maria, mulher forte. D’Ela, queremos aprender a ficar de pé junto da cruz. Com a sua mesma decisão e coragem, sem evasões nem miragens. Ela soube acompanhar o sofrimento de seu Filho, vosso Filho, ó Pai, apoiá-Lo com o olhar e protegê-Lo com o coração. Que dor sofreu! Mas não A abateu. Foi a mulher forte do «sim», que apoia e acompanha, protege e abraça. É a grande guardiã da esperança.
Pai, também nós queremos ser uma Igreja que apoia e acompanha, que sabe dizer: estou aqui, na vida e nas cruzes de tantos cristos que caminham ao nosso lado.
De Maria, aprendemos a dizer «sim» à resistência forte e constante de tantas mães, tantos pais, avós que não cessam de apoiar e acompanhar os seus filhos e netos quando estão com problemas.
D’Ela, aprendemos a dizer «sim» à paciência obstinada e à criatividade daqueles que não desanimam e recomeçam do princípio nas situações em que tudo parece estar perdido, procurando criar espaços, ambientes familiares, centros de atenção que sejam uma mão estendida nas dificuldades.
Em Maria, aprendemos a força para dizer «sim» àqueles que não se calaram nem calam perante uma cultura dos maus-tratos e abuso, do descrédito e agressão, e trabalham para proporcionar oportunidades e condições de segurança e proteção.
Em Maria, aprendemos a acolher e hospedar todos aqueles que foram abandonados, que tiveram de sair ou perder a sua terra, as raízes, a família, o emprego.
Pai, como Maria, queremos ser Igreja, a Igreja que favoreça uma cultura que saiba acolher, proteger, promover e integrar; que não estigmatize e, menos ainda, generalize com a condenação mais absurda e irresponsável que é ver todo o migrante como portador do mal social.
D’Ela, queremos aprender a estar de pé junto da cruz, não com um coração blindado e fechado, mas com um coração que saiba acompanhar, que conheça a ternura e o devotamento; que se entenda de compaixão para tratar com respeito, delicadeza e compreensão. Queremos ser uma Igreja da memória, que respeite e valorize os idosos e reclame para eles o lugar que lhes é devido, como guardiões das nossas raízes.
Pai, como Maria, queremos aprender a «estar».
Ensinai-nos, Senhor, a estar ao pé da cruz, ao pé das cruzes; despertai nesta noite os nossos olhos, o nosso coração; resgatai-nos da paralisia e da confusão, do medo e do desespero. Pai, ensinai-nos a dizer: estou aqui juntamente com o vosso Filho, juntamente com Maria e juntamente com tantos discípulos amados que desejam acolher o vosso Reino no coração. Amém.


Fonte: Santa Sé.

Fotos da Celebração Penitencial com o Papa

Na manhã do último dia 25 de janeiro o Papa Francisco presidiu uma Celebração Penitencial com confissões individuais no Centro Correcional de Menores Las Garzas na cidade de Pacora, no Panamá, por ocasião de sua viagem ao país para Jornada Mundial da Juventude.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina. Para ler sua homilia, clique aqui.

Chegada do Santo Padre
Canto inicial
Acolhida feita por um jovem detento

Oração inicial

Homilia do Papa: Celebração Penitencial

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Panamá - 34ª Jornada Mundial da Juventude
(23-28 de janeiro de 2019)
Liturgia Penitencial com Jovens Reclusos
Homilia do Santo Padre
Centro Correcional de Menores Las Garzas de Pacora (Panamá)
Sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

«Este acolhe os pecadores e come com eles» (Lc 15,2), acabamos de ouvir no Evangelho. Assim murmuravam alguns fariseus, escribas e doutores da lei, muito escandalizados e incomodados com o modo como Jesus Se comportava.
Pretendiam, com esta afirmação, denegri-Lo, desacreditá-Lo à vista de todos, mas tudo o que conseguiram fazer foi destacar um dos procedimentos de Jesus mais comuns, mais caraterísticos, mais belos: «Este acolhe os pecadores e come com eles». E todos somos pecadores, todos; por isso Jesus acolhe, com carinho, a todos nós que estamos aqui; e se alguém, dentre todos nós que estamos aqui, não se sentir pecador, saiba que Jesus não o receberá, perderá o melhor.
Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos se enriqueciam roubando o seu próprio povo, suscitando muita, mas muita indignação – ou carregavam o peso do ódio social porque cometeram alguns erros na sua vida, erros e enganos, qualquer culpa, e daí chamar-lhes pecadores. Jesus fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só daqueles que erram, dos pecadores convertidos do que por noventa e nove justos que se sentem bem (cf. Lc 15,7).
E enquanto estas pessoas se limitavam a murmurar ou a indignar-se porque Jesus Se encontrava com as pessoas assinaladas por algum erro social, por algum pecado, e fechavam as portas da conversão, do diálogo com Jesus, Este aproxima-Se, compromete-Se, Jesus coloca em risco a sua reputação e sempre convida a fixar um horizonte capaz de renovar a vida, de renovar a história. Todos, todos temos um horizonte. Todos. Alguém pode dizer: «Eu não o tenho». Abre a janela e encontrá-lo-ás. Abre a janela do teu coração, abre a janela do amor que é Jesus, e encontrá-lo-ás. Todos temos um horizonte. São dois olhares muito diferentes, que se contrapõem: o de Jesus e o daqueles doutores da lei. Um olhar estéril e infecundo – o da murmuração e bisbilhotice – que fala sempre mal dos outros e sempre se sente justo, e o outro (que é o do Senhor) que convida à transformação e conversão, a uma vida nova, como tu [dirigindo-se ao jovem que deu o testemunho] disseste há pouco.

O olhar da murmuração e da bisbilhotice
Isto não valia só para aqueles tempos, vale também para hoje! Muitos não suportam nem gostam desta opção de Jesus; antes, manifestam o seu descontentamento, inicialmente por entre dentes mas no final aos gritos, procurando desacreditar este comportamento de Jesus e de quantos estão com Ele. Não aceitam, rejeitam esta opção de estar próximo e oferecer novas oportunidades. Tais pessoas condenam duma vez para sempre, desacreditam duma vez para sempre, esquecendo-se de que, aos olhos de Deus, elas próprias estão desacreditadas e precisam de ternura, precisam de amor e compreensão, mas não querem aceitar. Não o aceitam. Sobre a vida do povo, parece-lhes mais fácil colocar etiquetas e rótulos que congelam e estigmatizam não só o passado, mas também o presente e o futuro das pessoas. Colocam rótulos nas pessoas: este é assim, aquele fez isto e agora está feito e deve carregá-lo pelo resto dos seus dias. São assim as pessoas que murmuram, os bisbilhoteiros, são assim. Rótulos que, no fim de contas, nada mais fazem senão dividir: aqui os bons, além os maus; aqui os justos, além os pecadores. E isto, Jesus não o aceita. Esta é a cultura do adjetivo: gostamos tanto de «adjetivar» as pessoas; gostamos muito! «Tu, como te chamas?» - «Chamo-me bom» - «Não! Isto é um adjetivo. Como te chamas?» Temos de ir ao nome da pessoa: quem és, que fazes, que sonhos tens, que sente o teu coração... Isto, aos bisbilhoteiros, não interessa; procuram imediatamente um rótulo para se livrar dele. É a cultura do adjetivo que desacredita a pessoa. Estai atentos para não cair nesta atitude como tão facilmente nos convida a fazer a sociedade.
Este procedimento contamina tudo, porque levanta um muro invisível que faz pensar que marginalizando, separando e isolando resolver-se-ão, magicamente, todos os problemas. E, quando uma sociedade ou comunidade se decide por isso, limitando-se a criticar, bisbilhotar e murmurar, entra num círculo vicioso de divisões, censuras e condenações. É interessante observar: estas pessoas que não aceitam Jesus nem o que Ele nos ensina, são pessoas que estão sempre a lutar entre si, condenam-se mutuamente, entre aqueles que se chamam justos. Além disso, é uma atitude de marginalização e exclusão, de oposição que leva a dizer irresponsavelmente como Caifás: «Convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira» (Jo 11, 50). É melhor que todos sejam guardados lá, que não nos venham incomodar; queremos viver em paz. Ouvir isto custa! Mas isto, teve que enfrentar Jesus, e isto enfrentamos também nós hoje. Normalmente, a corda quebra pelo ponto mais fraco: o dos pobres e dos indefesos.
Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação!

O olhar da conversão: o outro olhar
Ao invés, todo o Evangelho está marcado pelo outro olhar que nasce precisamente do coração de Deus. Deus nunca te abandona. Deus não abandona ninguém. Deus convida-te: «Vem». Deus espera-te e abraça-te! E, se não conheceres a estrada, sai à tua procura, como fez o pastor com as ovelhas. O outro olhar, pelo contrário, rejeita. O Senhor quer fazer festa quando vê os seus filhos que regressam a casa (Lc 15,11-32). Assim o testemunhou Jesus, levando até ao extremo a manifestação do amor misericordioso do Pai. Temos um Pai. Assim no-lo disseste tu. Gostei desta tua confissão: temos um Pai. Eu tenho um Pai que me ama. É estupendo! Um amor, o de Jesus, que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e asséptica. «Dou-Te graças, Senhor – dizia aquele doutor da lei –, porque não sou como aquele». Não sou como aquele. Pensam ter purificado a alma dez vezes numa ilusão de vida asséptica que não serve para nada. Uma vez ouvi um agricultor dizer algo que me impressionou: «Qual é a água mais limpa? Sim, a água destilada – dizia ele. Sabe, Padre, que, quando a bebo, não sabe a nada». Assim é a vida daqueles que criticam, murmuram e se separam dos outros: sentem-se tão limpos, tão assépticos que não sabem a nada; são incapazes de convidar alguém, vivem para cuidar de si mesmos fazendo-se a cirurgia estética na alma e não para estender a mão aos outros e ajudá-los a crescer, como faz Jesus que aceita a complexidade da vida e de cada situação. O amor de Jesus, o amor de Deus, o amor de Deus Pai – como disseste tu – é um amor que inaugura uma dinâmica capaz de inventar caminhos e oferecer oportunidades de integração e transformação, oportunidades de cura, de perdão, de salvação. E comendo com publicanos e pecadores, Jesus quebra a lógica que separa, que exclui, que isola, que divide falsamente entre «bons e maus». E fá-lo, não por decreto ou só com boas intenções, nem com voluntarismos ou sentimentalismo. Como faz Jesus? Criando vínculos, vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível. Por isso Jesus, quando Mateus se converte – encontrais isso no Evangelho –, não lhe diz: «Combinado! Congratulações; vem comigo». Mas disse-lhe: «Vamos festejar em tua casa» e, para a festa, convida todos os seus amigos que eram, como Mateus, proscritos pela sociedade. O bisbilhoteiro, aquele que divide, não sabe fazer festa porque possui um coração amargo.
Criar vínculos, festejar é o que faz Jesus, E deste modo quebra com outra murmuração difícil de detetar, que «fura os sonhos» pois repete como sussurro contínuo: «Não conseguirás, não conseguirás». Quantas vezes já ouviste isto: «Não conseguirás». Atenção! Cuidado! Isso é como o caruncho que te rói dentro. Quando ouvires «não conseguirás», dá um tabefe em ti mesmo: «Sim que o conseguirei e to demonstrarei». É a murmuração interior, a bisbilhotice interior que brota em quem, tendo chorado o seu pecado e consciente do próprio erro, não crê que possa mudar. Isto acontece quando se está intimamente convencido que aquele que nasceu «publicano» tem que morrer «publicano»; e isto não é verdade! O Evangelho diz-nos o contrário. Onze dos doze apóstolos eram pecadores graves, porque cometeram o pior dos pecados: abandonaram o seu Mestre, uns negaram-No, outros fugiram. Os apóstolos traíram e Jesus foi procurá-los um por um, e foram aqueles que mudaram o mundo. A nenhum veio a vontade de dizer: «Não conseguirei», porque, tendo visto o amor de Jesus depois da traição, exclama para Jesus: «Conseguirei, porque Vós me dareis a força». Cuidado com o caruncho do «não conseguirás» É precisa muita atenção!
Amigos, cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão; é muito mais do que os adjetivos que nos querem atribuir, é muito mais do que a condenação que nos impuseram. Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar. O olhar de Jesus desafia-nos a pedir e procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação. Por vezes a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que impelem a olhar para diante e não aquelas que vos desencorajam. Ouvi as vozes que vos abrem a janela e fazem ver o horizonte. «Mas é longe!» - «Sim, mas conseguirás!» Fixa-o bem e conseguirás! Sempre que vier o caruncho com o «não conseguirás», retorqui-lhe intimamente: «Conseguirei», e fixai o horizonte.
A alegria e a esperança do cristão – de todos nós, também do Papa – nasce de ter experimentado alguma vez este olhar de Deus que nos diz: tu fazes parte da minha família e não posso abandonar-te às intempéries. Isto é o que Deus diz a cada um de nós, porque Deus é Pai (foste tu que o disseste!): «Tu fazes parte da minha família e não te abandonarei às intempéries, não te deixarei caído por terra no caminho, não posso perder-te pelo caminho – diz Deus a cada um de nós, chamando-nos por nome e cognome – Eu estou contigo aqui». Aqui? Sim, aqui. Isto nasce de ter sentido – como partilhaste tu, Luís – que, naqueles momentos em que tudo parecia ter acabado, algo te disse: Não! Não está tudo acabado, porque tens uma finalidade grande que te permite entender que Deus Pai estava e está com todos nós e nos dá pessoas para caminhar connosco e ajudar-nos a alcançar novas metas.
E, assim, Jesus transforma a murmuração em festa e diz-nos: «Alegrai-vos comigo» (Lc 15,6), vamos festejar». Uma vez encontrei uma tradução interessante da parábola do filho pródigo, pois dizia que o pai; quando viu que o filho regressava a casa, exclamou: «Vamos festejar» e ali começou a festa. Mas a tradução dizia: «E ali começou a dança». A alegria, a alegria com que somos acolhidos por Deus com o abraço do Pai. «Começou a dança».
Irmãos, vós fazeis parte da família, tendes muito para partilhar. Ajudai-nos a saber qual é a melhor maneira para viver e acompanhar o processo de transformação de que todos, como família, temos necessidade. Todos.
Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de novo. Todos nos devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar estes caminhos, a tentar uma vez e outra. É uma aliança que temos de nos animar a realizar: vós, rapazes, meninas, os responsáveis pela custódia e as autoridades do Centro e do Ministério, todos, e as vossas famílias, bem como os agentes pastorais. Todos juntos, lutai sem cessar – não entre vós, por favor! Então por que coisa? – por procurar e encontrar caminhos de inserção e transformação. E isto, o Senhor o sustenta; isto, o Senhor o acompanha.
Em breve, continuaremos a Celebração Penitencial, na qual todos poderemos experimentar o olhar do Senhor, que nunca vê um adjetivo: vê um nome, fixa os olhos, olha o coração. Vê, não um rótulo ou uma condenação, mas filhos. Olhar de Deus que desmente as desqualificações e nos dá a força para criar as alianças necessárias que nos ajudem a desmentir as murmurações, aquelas alianças fraternas que permitam à nossa vida ser sempre um convite à alegria da salvação, à alegria de ter um horizonte aberto à nossa frente, a alegria da festa do filho. Caminhemos por este caminho. Obrigado!


Fonte: Santa Sé