segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Homilia: Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus

São Cirilo de Alexandria
Sermão 38 sobre a Natividade
“Ó intercâmbio inaudito! Ó misteriosa união!”

De muitas formas foi o homem admoestado por causa da multidão de pecados que, por diversos motivos e circunstâncias, beberam da raiz do mal. Ele foi advertido pela Palavra de Deus, pelos profetas, através de benefícios, com ameaças, com desgraças, inundações, incêndios, guerras, vitórias, derrotas, com sinais procedentes do céu, do ar, da terra, do mar, dos homens, das batalhas, com inesperada migração de povos. O que por meio de tudo isto se pretendia era destruir o mal. Finalmente, teve o homem necessidade de um remédio mais eficaz, pois suas enfermidades se tornaram mais graves, ou seja, homicídios, adultérios, perjúrios e idolatria, que é o primeiro e pior de todos os males, pois translada às criaturas a adoração que é devida ao Criador.
Como tais males requeriam um remédio mais eficaz, eficaz o receberam. Tal remédio foi o próprio Filho de Deus, que é eterno, invisível, insondável, incorpóreo, princípio que provém do princípio, luz que da luz provém, fonte da vida e da imortalidade, expressão do protótipo de beleza, selo imóvel, imagem imutável, fim e Palavra do Pai. Este se inclina a quem é sua imagem, toma sobre si carne por causa de minha carne, por causa de minha alma se une a uma alma inteligente, para purificar o semelhante por meio do semelhante. Fez-se homem em todos os aspectos, menos no pecado. Nasceu da Virgem, primeiro purificada na alma e no corpo pelo Espírito, pois era necessário que fosse honrada a geração humana e, sobretudo, a virgindade. Sendo Deus, se apresentou com uma natureza humana, um só ser formado de duas naturezas opostas, carne e espírito, das quais uma era divina e a outra estava divinizada. Ó intercâmbio inaudito! Ó misteriosa união!
Aquele que é, nasce; faz-se criado quem não o é; o infinito se faz extensa mercê à alma racional, tornando-a mediadora entre a divindade e a gravidade da carne. O que enriquece mendiga. Empobrece-se tomando minha carne para que eu me enriqueça com sua natureza divina. Esvaziou-se quem está repleto de todas as coisas, pois, verdadeiramente, durante um breve tempo esvaziou-se de sua glória para que eu participasse de sua plenitude.
Qual é a riqueza de sua bondade? Que mistério é este que me rodeia? Eu participei da imagem de Deus e não a guardei. Ele participou de minha carne para salvar a imagem e tornar a carne imortal. Ele tomou parte de uma segunda união com o homem, mais extraordinária que a primeira, porque então me fez participar de uma natureza superior, e agora é ele quem toma parte em uma natureza inferior. Isto é muito mais divino que a primeira. Isto, para os sensatos, é muito mais sublime.
E aos poucos poderás também ver que Jesus se purifica no rio Jordão por minha expiação; ou, para ser mais preciso, santifica as águas com sua purificação, porque não estava necessitado de purificação quem tira o pecado do mundo. Verás que se abrem os céus e que o Espírito, que é de sua mesma natureza, dá testemunho dele. O verás tentado e vitorioso, servido pelos anjos, curando toda enfermidade e debilidade, devolvendo a vida aos mortos – oxalá fizesse outro tanto contigo, que estás morto por tua falsa crença! O verás expulsando aos demônios, a uns ele em pessoa, a outros por meio de seus discípulos. Alimenta com poucos pães uma multidão. Anda sobre o mar. É atraiçoado, crucificado: ele crucificado e com ele crucificada minha culpa. Conduzido como cordeiro, como sacerdote oferece o sacrifício. Sepultado como homem, ressuscita como Deus, depois sobe ao céu e retornará com toda a sua glória. Quantas festas se necessitariam para celebrar cada um dos mistérios de Cristo! Ponto fundamental de todas elas será somente um: minha perfeição e restauração, e o regresso à primitiva condição de Adão.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 550-552. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Efrém para esta solenidade clicando aqui.

domingo, 30 de dezembro de 2018

II Catequese do Papa João Paulo II sobre o Natal

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 3 de janeiro de 1979
Natal (2): Amor e respeito pela vida nascente

1. A última noite de expectativa da humanidade, que nos é recordada todos os anos pela liturgia da Igreja com a vigília e a festa da Natividade do Senhor, é ao mesmo tempo a noite em que a Promessa se cumpriu. Nasce Aquele que era esperado, que era o fim do Advento e não cessa de o ser. Nasce Cristo. Aconteceu uma vez, na noite de Belém, mas na liturgia repete-se cada ano, «realiza-se» em certo modo cada ano. E também cada ano é rico dos mesmos conteúdos, divinos e humanos, que superabundam a ponto de o homem não ser capaz de abrangê-los a todos com um só olhar; e é difícil encontrar palavras para exprimi-los todos juntos. Até o período litúrgico do Natal nos parece demasiado breve para nos determos neste acontecimento, que apresenta mais as características de «mysterium fascinosum» que as de «mysterium tremendum». Período demasiado breve para «gozarmos» plenamente a vinda de Cristo, o nascimento de Deus na natureza humana. Demasiado breve para evidenciarmos todos os fios deste acontecimento e deste mistério.
2. A liturgia centra a nossa atenção sobre um daqueles fios e coloca-o em especial relevo. O nascimento do Menino na noite de Belém deu início à Família. Por isso, o domingo durante a oitava do Natal é a festa da Família de Nazaré. É a Santa Família, porque foi plasmada pelo nascimento d'Aquele que até o seu «Adversário» será obrigado a proclamar um dia Santo de Deus (Mc 1,24). Família Santa, porque a santidade d'Aquele que nasceu se tornou a fonte duma singular santificação, tanto da sua Virgem-Mãe como do Esposo dela, que diante dos homens, como legítimo consorte, era considerado pai do Menino nascido durante o recenseamento em Belém.
Esta Família é, ao mesmo tempo, Família humana, e por isso a Igreja, no período natalício, dirige-se, por meio da Sagrada Família, a todas as famílias humanas. A santidade imprime nesta Família, em que veio ao mundo o Filho de Deus, um carácter único, excepcional, sem repetição e sobrenatural. E, ao mesmo tempo, tudo o que podemos dizer de cada família humana, da sua natureza, dos seus deveres e das suas dificuldades, podemos dizê-lo também desta Família Sagrada. Na verdade, esta Santa Família é verdadeiramente pobre; na altura do nascimento de Jesus, está sem teto, depois será obrigada a exilar-se e, quando o perigo tiver passado, continuará a ser uma família que vive modestamente, na pobreza, com o trabalho das próprias mãos.
A sua condição é semelhante à de tantas outras famílias humanas. É o lugar de encontro da nossa solidariedade com todas as famílias, com todas as comunidades de homem e mulher, em que nasce um novo ser humano. É uma Família que não fica unicamente sobre os altares, como objeto de louvor e veneração, mas, graças a tantos episódios que nos são conhecidos pelos Evangelhos de S. Lucas e S. Mateus, se aproxima, em certo modo, de toda a família humana. Toma sobre si aqueles problemas profundos, belos e ao mesmo tempo difíceis que a vida conjugal e familiar traz consigo. Quando lemos com atenção o que os Evangelistas (sobretudo Mateus) escreveram sobre os acontecimentos vividos por José e Maria antes do nascimento de Jesus, estes problemas, a que aludi, tornam-se ainda mais evidentes.
3. A solenidade do Natal e, no seu contexto, a festa da Sagrada Família, são-nos particularmente próximas e queridas, exatamente porque nelas se encontra a dimensão fundamental da nossa fé, quer dizer, o mistério da Encarnação, com a dimensão não menos fundamental das alternativas próprias do homem. Todos devem reconhecer que esta dimensão essencial das vicissitudes do homem é precisamente a família. E na família é-o a procriação: concebe-se e nasce um novo homem, e, por meio da concepção e do nascimento, o homem e a mulher, na qualidade de marido e mulher, tornam-se pai e mãe, atingindo uma dignidade nova e assumindo deveres novos. A importância destes deveres fundamentais é grandíssima sob múltiplos pontos de vista. Não só do ponto de vista desta comunidade concreta que é a família de ambos, mas também do ponto de vista de toda a comunidade humana, de toda a sociedade, nação, estado, escola, profissão e ambiente. Tudo depende, em princípio, do modo como os pais e a família vierem a cumprir os seus primeiros e fundamentais deveres, do modo e da medida como ensinarem a «ser homem» àquela criatura que, devido a eles se tornou um ser humano, obteve «a humanidade». Nisto é a família insubstituível. É necessário fazer tudo para que a família não tenha de ser substituída. É o que requer não só o bem «privado» de cada pessoa, mas também o bem comum de cada sociedade, nação e estado, de qualquer dos continentes. A família está colocada no centro mesmo do bem comum nas suas várias dimensões, exatamente porque nela é concebido e nasce o homem.
É necessário fazer todo o possível para que este ser humano - desde o princípio, desde o momento de ser concebido - seja querido, esperado e vivido como um valor particular, único e irrepetível. Ele deve sentir que é importante, útil, caro e de grande valor, mesmo que seja inválido ou diminuído; mais: por isto mais amado deve ser ainda.
Assim nos ensina o mistério da Encarnação. Esta é a lógica da nossa fé. Esta é também a lógica de todo o humanismo autêntico; penso de facto, que não pode ser doutro modo. Não procuramos pontos de encontro, que são a simples consequência da verdade plena sobre o homem. A fé não afasta os crentes desta verdade, mas introdu-los precisamente no coração dela.
4. Uma coisa mais. Na noite de Natal, a Mãe que ia dar à luz (Virgo Paritura) não encontrou para si um teto. Não encontrou as condições em que normalmente se realiza aquele divino e ao mesmo tempo humano Mistério de dar à luz um homem.
Permiti-me que me sirva da lógica da fé e da lógica dum humanismo consequente. Este facto, de que falo, é um clamoroso brado, é um permanente desafio a cada um e a todos, especialmente na nossa época, em que à mãe que anda de esperança é muitas vezes exigida uma grande prova de coerência moral. Com efeito, o que é eufemisticamente definido como «interrupção da gravidez» (aborto) não pode ser apreciado com outras categorias autenticamente humanas que não sejam as da lei moral, isto é, da consciência. Muito poderiam a tal propósito dizer, se não as confidências feitas nos confessionários, sem dúvida as apresentadas nos consultórios para a maternidade responsável.
Não se pode, por conseguinte, deixar sozinha a mãe que vai dar à luz, deixá-la com as suas dúvidas, dificuldades e tentações. Devemos estar ao lado dela, para que tenha suficiente coragem e confiança, para que não sobrecarregue a sua consciência, e para que não seja destruído o mais fundamental vínculo de respeito do homem pelo homem. De facto, tal é o vínculo que tem início no momento da concepção, em virtude do qual todos devemos, em certo modo, estar com cada uma das mães que vão dar à luz; e devemos oferecer-lhe todo o auxílio possível.
Olhemos para Maria: Virgo Paritura (Virgem que dará à luz). Olhemos para ela, nós Igreja, nós homens, e procuremos compreender melhor a responsabilidade que traz consigo o Natal do Senhor para com todos os homens que devem nascer na terra. Por agora, detemo-nos neste ponto e interrompemos estas considerações: certamente haveremos, e não uma só vez, de voltar a elas.


Fonte: Santa Sé

O culto dos santos na Igreja: Encontro de Pastoral Litúrgica 2014

Continuando nossa série de postagens sobre os Encontros de Pastoral Litúrgica (ENPL) que acontecem anualmente no Santuário de Fátima em Portugal, disponibilizamos hoje os áudios do 40º ENPL, que aconteceu em julho de 2014, com o tema: "Creio na comunhão dos santos - O culto dos santos na Igreja".

O Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal disponibilizou o áudio de 4 conferências:

Dom José Manuel Garcia Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda

Pe. Dr. Carlos Manuel P. de Aquino

Pe. Dr. José da Silva Lima

Pe. Dr. António Pedro Boto de Oliveira


sábado, 29 de dezembro de 2018

Homilia: Festa da Sagrada Família - Ano C

São Gregório de Nissa
Comentário sobre o Cântico dos Cânticos - Sermão 3
“O Menino Jesus que nos nasceu é a verdadeira luz, a verdadeira vida e a justiça verdadeira”

O Menino Jesus que nos nasceu e que, nos que o recebem, cresce diversamente em sabedoria, idade e graça, não é idêntico em todos, mas se adapta à capacidade e idoneidade de cada um, e, na medida em que é acolhido, assim aparece ou como menino, ou como adolescente, ou como homem perfeito. É o que ocorre com o cacho de uvas: nem sempre ele se mostra idêntico na vide, mas vai mudando ao ritmo das estações: germina, floresce, frutifica, amadurece e se torna finalmente em vinho.
Assim, pois, a vinha, no fruto ainda não maduro nem apto para converter-se em vinho, contém já a promessa, porém deve esperar a plenitude dos tempos. Enquanto isso, o fruto não está de modo algum desprovido de atrativo: em vez de lisonjear ao gosto, lisonjeia ao olfato; na espera da vindima, conforta os sentidos da alma com a fragrância da esperança. A fé certa e segura da graça que espera é motivo de alegria para quem espera pacientemente alcançar o objeto da esperança. É exatamente o que acontece com o cacho de Chipre: promete vinho, não o sendo ainda; mas, mediante a flor - a flor da esperança -, garante a graça futura.
E uma vez que quem adere à lei do Senhor plenamente e a medita dia e noite se torna árvore perene, fértil com o frescor de águas vivas e frutificando a seu tempo, por esta razão a vinha do Esposo - que afunda suas raízes no fertilíssimo oásis de Engadi, isto é, na profunda meditação regada e alimentada pela Sagrada Escritura, produziu este cacho abundante de flor e de vitalidade - fixa a morada em quem o plantou e cultivou. Que belo cultivo, cujo fruto reflete a beleza do Esposo!
Ele é em verdade a verdadeira luz, a verdadeira vida e a justiça verdadeira, como se lê na Sabedoria e em outros trechos paralelos. E quando alguém, com suas obras, converte-se no que ele é, ao contemplar o “cacho” de sua consciência, vê nele ao mesmo Esposo, pois intui a luz da verdade no esplendor e na pureza de sua vida. Por isso diz aquela fértil videira: Meu é o cacho que floresce e germina. Ele é o verdadeiro cacho, que a si mesmo se exibe no madeiro e cujo sangue é alimento e salvação para quantos o bebem e se alegram em Cristo Jesus, nosso Senhor, ao qual a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 547-548. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Orígenes para esta festa clicando aqui.

Ângelus: Festa de Santo Estêvão (2018)

Festa de Santo Estêvão, Protomártir
Papa Francisco
Ângelus
Quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
A alegria do Natal ainda inunda os nossos corações: continua a ressoar o maravilhoso anúncio de que Cristo nasceu para nós e traz a paz ao mundo. Neste clima de júbilo, hoje celebramos a festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir. Poderia parecer estranho relacionar a memória de Santo Estêvão com o nascimento de Jesus, porque sobressai o contraste entre a alegria de Belém e o drama de Estêvão, apedrejado em Jerusalém na primeira perseguição contra a Igreja nascente. Na realidade não é assim, porque o Menino Jesus é o Filho de Deus que se fez homem, que salvará a humanidade morrendo na cruz. Agora contemplamo-lo envolvido em faixas no Presépio; depois da sua crucificação será novamente envolto em panos e colocado em um sepulcro.

Santo Estêvão foi o primeiro que seguiu os passos do Mestre divino mediante o martírio; morreu como Jesus, confiando a própria vida a Deus e perdoando os seus perseguidores. Duas atitudes: confiou a sua vida a Deus e perdoou. Enquanto o apedrejavam, disse: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito!» (At 7,59). São palavras totalmente semelhantes às pronunciadas por Cristo na cruz: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!» (Lc 23,46). A atitude de Estêvão, que imita fielmente o gesto de Jesus, é um convite a cada um de nós, a receber com fé das mãos do Senhor aquilo que a vida nos reserva de positivo e também de negativo. A nossa existência é marcada não apenas por circunstâncias felizes - sabemo-lo - mas inclusive por momentos de dificuldade e de desorientação. Mas a confiança em Deus ajuda-nos a aceitar os momentos difíceis e a vivê-los como ocasião de crescimento na fé e de construção de novas relações com os irmãos. Trata-se de nos abandonarmos nas mãos do Senhor que, como sabemos, é um Pai rico de bondade para com os seus filhos.

A segunda atitude, com a qual Estêvão imitou Jesus no momento extremo da cruz, é o perdão. Ele não amaldiçoa os seus perseguidores, mas reza por eles: «Posto de joelhos, exclamou em voz alta: “Senhor, não lhes imputes este pecado”» (At 7,60). Somos chamados a aprender dele a perdoar, a perdoar sempre, e não é fácil fazê-lo, todos o sabemos. O perdão dilata o coração, gera partilha, proporciona serenidade e paz. O protomártir Estêvão indica-nos o caminho a percorrer nos relacionamentos interpessoais, em família, nos lugares de escola e de trabalho, na paróquia e nas várias comunidades. Sempre abertos ao perdão! A lógica do perdão e da misericórdia é sempre vencedora e abre horizontes de esperança. Mas o perdão cultiva-se com a oração, que nos permite manter o olhar fixo em Jesus. Estêvão foi capaz de perdoar os seus assassinos porque, cheio de Espírito Santo, fitou o céu conservando os olhos abertos para Deus (cf. At 7,55). Da oração ele recebeu a força para padecer o martírio. Temos que rezar com insistência ao Espírito Santo para que derrame sobre nós o dom da fortaleza que cura os nossos temores, as nossas debilidades, a nossa pequenez, dilatando o coração para perdoar. Perdoar sempre!

Invoquemos a intercessão de Nossa Senhora e de Santo Estêvão: que a sua oração nos ajude a confiar-nos sempre a Deus, especialmente nos momentos difíceis, e nos ampare no propósito de sermos homens e mulheres capazes de perdoar.


Fonte: Santa Sé.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Homilias do Patriarca de Lisboa: Natal 2018

Publicamos aqui as homilias de Natal (Missa da Noite e Missa do Dia) do Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente neste ano de 2018:

Homilia: Missa da Noite de Natal
"É urgente o Natal, na grande hospedaria do mundo"

Em cada Natal algo de novo acontece, começando em nós próprios e antes de mais como expectativa. Seja o que for a vida, mais fácil ou mais sofrida, há como que um suplemento de alma para o que possa acontecer de bom e de belo. Em nós, à nossa volta e no mundo inteiro.
Impressiona verificar isto mesmo, entre tanta notícia que se dá e recebe, entre tantas palavras que se dizem, entre tantas mensagens que se trocam. Como se nunca conseguíssemos esgotar o anseio mais profundo, que não só mantemos, mas sobretudo nos mantém a nós. Ser realmente humano é não desistir do divino e o destino da terra é finalmente o céu.
Os antigos cristãos colocaram nesta altura a celebração do nascimento de Jesus, certamente por coincidir com o solstício do Inverno, quando os dias recomeçam a crescer. Mas a razão do que sentimos e esperamos é bem maior do que o simples calendário. Ou, se quisermos, resulta da absorção do calendário, que passou a marcar um tempo interior e definitivo. O de um solstício absoluto, que não decresce nunca.    
Terá sombras, certamente, como as que nos podem obscurecer o mundo ou a alma. E não faltaram nem faltam, físicas ou morais, no pequeno mundo de cada um e no grande mundo de nós todos, pessoas, países e a terra inteira. Aí mesmo, onde tanto contrastam promessas e desenganos, opulências de uns tantos e misérias de multidões, infidelidades próprias e alheias, graves contradições do que devíamos ser. 
Sombras sim e muitas. E, no entanto, o Natal persiste como promessa, como possibilidade de ser doutra maneira, da melhor maneira. Nas sociedades a que o anúncio chegou, o seu bom espírito manifesta-se e muito para além dos próprios crentes e entre crentes de vários credos.
O nascimento de Cristo suscita-nos o renascimento do mundo, como uma criança que nasce, para crescer sempre e se projetar muito além. As famílias reencontram-se, cresce a atenção aos outros, os gestos solidários aumentam. Por isso se diz que “o Natal havia de ser todos os dias”. Como realmente pode ser.
Pode ser, desde que lhe demos o lugar devido, como acontecimento e significado. O Evangelho refere que Jesus nasceu numa manjedoura, porque não havia lugar na hospedaria. Continua a ser este o verdadeiro problema, o de não haver lugar. Não há lugar para Jesus quando não há lugar para os outros, com quem Ele se identifica. Se quisermos uma linguagem mais “teológica”, diremos que os outros ganham, no Natal de Jesus que em cada um se alarga, uma densidade absoluta, indispensável e irrepetível. Diremos que só dá pelo Natal quem o acolhe nos outros, muito especialmente quando são pobres e frágeis, como o foi Jesus menino.
Não precisamos de enfeitar muito os presépios que fazemos, pois o encontramos no leito de quem está enfermo, no lar de quem está só, na rua dos que não têm abrigo, nas fronteiras dos procuram melhor vida, nas prisões físicas ou morais em que a vida encerra a tantos.
Há dois mil anos o presépio era aquela manjedoura... Infelizmente, muito infelizmente mesmo, continua a não haver lugar para todos na grande hospedaria que o mundo podia realmente ser. Se o espírito natalício nos é dado, se a esperança renasce nestes dias, se desejamos um Natal continuado, façamos então doutra maneira e demos-lhe agora mais lugar. Lugar nas nossas cidades, para melhores condições dos que as habitam, com casas apropriadas para viverem famílias e conviverem gerações. Cidades certamente enriquecidas pelos que as visitam, mas sem dispensar os que nelas moram e são afinal o que têm de melhor para oferecer.
Se aquela criança tivesse nascido na hospedaria, onde tanta gente se albergava por aqueles dias, o acontecimento seria decerto mais notório. Assim o adivinharam os construtores de presépios, que foram juntando mais e mais figuras às de Jesus, Maria e José, às dos pastores que acorreram ou dos magos que chegaram depois. Essas inúmeras figuras acrescentadas indicam-nos o que o Natal podia ter sido então e sobretudo o que ele deve ser agora, como acontecimento total e para todos. 
É urgente que o Natal aconteça na grande hospedaria do mundo. Ainda que continue a ser humilde, pois esse é o modo habitual de Deus acontecer entre nós.  
Só assim o encontraremos de vez. De tudo quanto é imponente, mesmo que por momentos nos ofusque, acabamos por fugir. Submissão não é conversão. Os crentes pressentem o poder criador de Deus como algo que vem de dentro, um infinitamente pequeno que faz crescer a vida em tudo e em todos, de cada um para todos. Por isso escreveu Santo Agostinho que «Deus nos é mais íntimo do que o nosso próprio íntimo», ainda que nos seja infinitamente superior. Revemos isso mesmo naquele Jesus que nasceu tão pequeno, cresceu tão periférico, morreu entre outros condenados e desde há dois mil anos não deixa de nos atrair, religiosa e culturalmente também. 
O Natal enternece e comove porque acontece como semente lançada no lugar a que chamamos “coração”. E assim se faz coração do mundo, melhor sentido entre os pequenos – os que têm espírito de pobre e são os primeiros no Reino anunciado. Porque Deus é humilde, ao ponto de crescer entre nós como Jesus nasceu e cresceu.
Esta é a verdade que cada Natal nos propõe de dentro. Não a procuremos por fora, em festas sem encontro dos outros, em presentes que disfarçam a nossa ausência e decorações vazias de sentido. Não deixemos que o Menino continue a nascer numa manjedoura por não haver lugar na hospedaria. Na única hospedaria que pode conter a sua incomensurável pequenez – e que é o nosso coração. 
A grandeza das coisas pequenas é afinal a de cada ser humano, de quem Deus se abeira e onde Deus nos espera, na atenção concreta que lhe dermos, no gesto que agora mais urja, na companhia realmente feita. Façamo-lo já, na celebração em que todos estamos. Façamo-lo logo, onde ela há de continuar, no testemunho que dermos. Exercitemos hoje o Natal de todos os dias.

Sé de Lisboa, 24 de dezembro de 2018
+ Manuel, Cardeal-Patriarca


Homilia: Missa do Dia de Natal 
"Para haver Natal no mundo inteiro"

De tudo o que acabamos de escutar – sendo certo que a Palavra de Deus nunca acabará – um trecho em especial ressoa, de Natal para Natal, sucessivamente luminoso, triste e promissor. É este do prólogo do Quarto Evangelho: «O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo, e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filho de Deus».
Encontramos neste trecho tudo o que devíamos ser, da parte de Deus; tudo o que ainda não somos, por resistência nossa; tudo o que poderemos ser, pois não desaparece o desígnio. E tudo concentrado na aceitação ou não do que nos é oferecido em Cristo, cujo Natal celebramos.
«O Verbo era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem». O Verbo é Cristo, em quem Deus totalmente se diz e ao seu desígnio sobre nós, esclarecendo o que Lhe pressentimos como criaturas e Lhe poderemos herdar como filhos. Precisamente como “filhos no Filho”, em Cristo, a sua Palavra que nos cumpre.
É impressionante verificar como de há dois mil anos para cá, tantos homens e mulheres, das mais diversas geografias e credos, ficaram e ficam tão deslumbrados com Jesus Cristo, sempre que acedem realmente ao seu Evangelho, sem as contrafações que outros, ou nós mesmos, lhe inflijamos. Concordemos que, sem Cristo, a história e a literatura, a música e as artes, a própria solidariedade humana, não teriam o mesmo brilho e motivação. E muito mais assim seria – e muito mais assim será! – se nos transfigurarmos com tanta luz.
«Mas o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu», continua o trecho. Impressiona também, e agora negativamente, o que lemos em tanta página evangélica. Em Nazaré, onde cresceu e viveu até aos trinta anos; na vida pública, onde tanto o seguiam por momentos como o abandonavam depois; e onde mantinham a cegueira da alma mesmo quando curava a cegueira dos olhos; em Jerusalém, onde passaram tão depressa do alvoroço dos ramos às trevas do Gólgota…
Somemos dois milênios e continua o drama, quando não é tragédia. Mas temos na vida de Jesus Cristo a verdade que nos fez e refaz, num deslumbramento pascal que passa necessariamente pela cruz. Do presépio ao Tabor e do Tabor a Jerusalém, onde a morte se tornou ressurreição.
No seu Evangelho, Lucas narra assim o nascimento de Jesus, como ouvimos na Missa desta noite: «Quando eles ali se encontravam [José e Maria em Belém], completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7). Maria “deu à luz” o seu Menino, mas os panos em que o envolveu anunciavam já os da sepultura, como aconteceu trinta e poucos anos depois; e o lugar que não teve na hospedaria continua a não encontrá-lo também hoje, tantas vezes e porventura entre nós, mesmo quando lhe fazemos presépios… 
O Natal não é fácil e a transfiguração exige tudo, como foi dito aos três discípulos no Tabor: Ficaram deslumbrados com aquela luz nunca vista, mas ficaram perplexos com o que aconteceria em Jerusalém. É de novo Evangelho de Lucas a precisá-lo: «Enquanto [Jesus] orava, o aspeto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais aparecendo, rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém» (Lc 9,29-31).A luz do Natal quase cega, para nos revermos depois na luz pascal, na verdade inteira de Jesus, se a recebermos inteiramente também. Se assim não for, se a quisermos reduzir a meras iluminações da quadra, ou a distrações que por vezes a contradizem em absoluto, continuarão a ressoar, graves e pesadas, aquelas palavras do prólogo de João, há pouco ouvidas, que devemos reter como séria advertência, para nós agora: «Estava no mundo, e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não O receberam».
Há Natal de Cristo a cumprir em muito lado e aqui bem perto. Sabemos bem onde havemos de O receber, acolhendo todos aqueles com quem especialmente se identifica: os mais pobres, os mais sós, os mais frágeis, tenham o nome que tiverem e venham donde vierem, na vasta geografia do mundo.
Mas sejamos felizes hoje, como Cristo nos quer e nos merece. Como continuava o trecho evangélico: «Àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus».
Reparemos na sequência, tão promissora como obrigatória, passo a passo. Primeiro receber a Cristo, depois acreditar nele, só assim podendo alcançar a filiação divina.
Receber a Cristo e como Ele se oferece, em continuado Natal. Tão simples e desprovido como na manjedoura que lhe sobrou apenas. Como em cada pessoa que nos cerque ou procuremos, simples naquilo que é – ou ainda não é – e desprovida do que não tem e devia ter, no que respeita à vida, à companhia e ao bem-estar. Como no Evangelho se apresenta, tal e qual, e sem o truncarmos no que propõe e exige.   
Acreditar em Cristo, acreditar mesmo quando parece demasiado o que diz e grande demais o que nos pede. Repetir, sobretudo nessas alturas, o que Pedro lhe respondeu em bom momento, por si e pelos outros: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! Por isso nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!» (Jo 6,68-69).

E assim mesmo, apenas assim, alcançando o que Cristo veio compartilhar connosco, da noite de Natal à alvorada de Páscoa: nada menos do que a filiação divina, cumprindo-se o desígnio de Deus, que para si nos criou e em Cristo nos recupera.  É o que desejamos mais profundamente e é o que Deus totalmente nos oferece no Natal de Cristo – em que podemos descobrir o anúncio da sua e nossa Páscoa. Como diria depois: «Saí do Pai e vim ao mundo, agora deixo o mundo e vou para o Pai» (Jo 16,28). Vamos então com Ele, único modo de nos realizarmos plenamente em Deus, como seus filhos também (cf. Jo 14,6). 
Do Natal à Páscoa está o caminho aberto. Importa que o percorramos, porque tudo espera que o Evangelho de Cristo finalmente aconteça, convincente e pleno, e já nas nossas vidas. Como São Paulo divisou e escreveu: «A criação encontra-se em expetativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus» (Rm 8, 19).
Respondamos a tal expetativa. Façamo-lo já hoje, aqui e onde formos, filhos de Deus em Cristo, pela atenção aos outros, pelo cuidado de cada um, pela caridade ativa. É uma altura de muitos “presentes”, no sentido corrente do termo. Seja altura, isso sim, para acolhermos o presente absoluto de Deus, que quer nascer nas nossa vidas, para haver Natal no mundo inteiro!

Sé de Lisboa, 25 de dezembro de 2018
+ Manuel, Cardeal-Patriarca


Fonte: Patriarcado de Lisboa

Fotos das Missas de Natal em Milão

Na Arquidiocese de Milão as celebrações da Solenidade do Natal do Senhor segundo o Rito Ambrosiano foram presididas pelo Arcebispo, Dom Mário Enrico Delpini, na Catedral de Santa Maria Nascente, o Duomo de Milão:

Dia 24 de dezembro: Missa da Noite

Procissão de entrada

Incensação
Ritos iniciais
 

Fotos das Missas de Natal em Cracóvia

Dom Marek Jędraszewski, Arcebispo de Cracóvia, presidiu no último dia 24 de dezembro a Santa Missa da Noite na Solenidade do Natal do Senhor na Catedral de Wawel:

Presépio da Catedral
Procissão de entrada
 
O Arcebispo depõe a imagem do Menino Jesus na manjedoura
Incensação do altar

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Missa da Noite de Natal em Belém: Fotos

O Administrador Apostólico do Patriarcado de Jerusalém, Dom Pierbatista Pizzaballa, presidiu no último dia 24 de dezembro as celebrações da Solenidade do Natal do Senhor na igreja de Santa Catarina, junto à Basílica da Natividade.

À tarde foram celebradas as I Vésperas da Solenidade e, à meia-noite, a Santa Missa da Noite. No final da celebração, a imagem do Menino Jesus foi levada em procissão até o altar onde, segundo a tradição, era a gruta da Natividade.

Para ler a homilia da Missa, clique aqui.

I Vésperas:

Chegada na Basílica da Natividade
Oração diante do Santíssimo Sacramento
Procissão de entrada
Oração das Vésperas
Incensação durante o Magnificat

Missa da Noite de Natal em Belém: Homilia

“Jesus vem habitar a nossa cidade”

Senhor Presidente,
Caros representantes das autoridades,
Veneráveis Irmão no episcopado e no sacerdócio,
Caros irmãos e irmãs, caros fiéis da nossa diocese de Jerusalém, caros peregrinos vindos do mundo inteiro e todos vós que, no coração da noite, estais conosco através dos diferentes meios de comunicação: acorremos todos aqui porque nos sentimos todos convocados por este lugar, Belém, a cidade na qual nasceu o nosso Salvador que é Cristo Nosso Senhor!
“Jesus nasceu em Belém” (Mt 2,1). Não é apenas uma indicação histórica e geográfica, mas uma escolha divina. Nascer aqui, neste preciso lugar, numa cidade desta terra é o que Deus sempre quis porque Ele gosta das cidades dos homens. Se a Bíblia começa num jardim, em contrapartida termina numa cidade, Jerusalém Celeste. E mesmo a vida de Cristo que começa aqui será, desde o seu nascimento até à sua morte, um constante caminhar entre cidades e aldeias. O deserto não foi para Ele mais do que um parênteses necessário, mas não definitivo.
Belém, Nazaré, Caná, Cafarnaum, Jerusalém: nomes que nos são queridos uma vez que foram cidades amadas por Jesus. Depois dele, os Apóstolos continuarem a percorrer tantas outras: Corinto, Éfeso, Tessalônica, Antioquia, Roma…é um caminho que continua pelas nossas cidades de hoje. É um caminho mantido e animado pela sua presença. “E eu estarei convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,20)
O nosso Deus é um Deus da cidade. Ele habita as cidades porque Ele é um Deus que está junto dos homens, Emanuel. A sua palavra não se esgota numa proposta religiosa privada ou unicamente pessoal. Pelo contrário, ela procura e deseja uma estrada, uma casa, uma cidade para habitar e transformar. Aquele que quer fechar o Evangelho ou a presença dos cristãos no interior de fronteiras privadas ou num contexto intimista não compreendeu o desejo de Deus. A Encarnação do Filho de Deus é uma levedura, um fermento destinado a aumentar toda a massa, ou seja, toda a realidade do homem, cosmos e história, vida e cidade.
O Natal de Jesus Cristo em Belém é um passo de Deus em direção da nossa terra e das nossas cidades. É um convite feito aos pastores e aos magos que se repete hoje e nos convida a que nos dirijamos a Belém e, a partir de lá, até aos confins da terra. O nascimento do Senhor nas nossas cidades pretende fazer nascer em nós uma forma de “paixão política”, suscitar a responsabilidade do cuidado da cidade e da terra em que habitamos. Não se trata de a dominar ou ocupar, mas de a transformar.  É preciso transformá-lo de um simples aglomerado urbano ao serviço de um só, num espaço e um lugar onde a experiência de comunhão e de paz, de relação e de partilha seja possível.
Permiti-me hoje, a partir deste mesmo lugar, dirigir um olhar preocupado e atento às nossas cidades e ao nosso o mundo para verdadeiramente os habitarmos. Na luz do Verbo de Deus, que vem habitar entre nós, gostaria de me deter com todos vós e contemplar esta “morada de Deus” para a acolher e converte-la na “morada do homem”.
Cristo morar entre nós foi, antes de mais, um ato de amor. Ele partilhou a nossa vida em tudo exceto no pecado (cf. Hb 4,15). Por onde Ele passava fazia o bem e curava” (At 10,38) Entrou nas nossas casas, comeu à nossa mesa, bebeu o nosso vinho, caminhou ao longo das nossas estradas, brincou com as nossas crianças, alegrou-se com as nossas festas e chorou pelos nossos mortos. Ele não escolheu a separação e a distância, ele não gostou do isolamento e do afastamento. Ele escolheu o estilo da partilha e da comunhão, da participação e da presença. Os seus discípulos – nós os cristãos – não podemos deixar de seguir os seus traços. Se é verdade que não temos uma cidade definitiva aqui em baixo, mas que nos encaminhamos para a cidade futura (cf. Hb 13,14), é também verdade que nos foi pedido que “continuássemos na cidade” (cf. Lc 24,49) para nela abrir os caminhos do Reino.
Nesta noite, em que celebramos o nascimento de Cristo em Belém, proclamamos com os anjos, o amor por esta terra, por estas cidades; queremos responder à vocação recebida de sermos aqui os artesãos da paz, os profetas da esperança, as testemunhas convencidas e convincentes da partilha e do diálogo.
Queremos, com Jesus, habitar esta terra, não a abandonar para partilharmos as suas dores e angústias, as alegrias e as esperanças e juntos percorrermos o caminho da salvação. Estamos dispostos a qualquer esforço, a qualquer compromisso e a qualquer iniciativa que que possam tornar as nossas cidades abertas e hospitaleiras, lugares em que se possa encontrar uma casa e um trabalho, uma vida digna e boa. Pedimos ao menino de Belém e aos seus pais, que vieram aqui à procura de um alojamento, que dos ajudem a continuarmos nesta cidade. Pedimos ajuda para continuarmos a ser, como eles, presença de paz nesta terra. Porque as nossas cidades ficariam mais pobres sem cristãos, e os cristãos arriscariam a perder-se sem as nossas cidades.
Reconhecemos que, nesta cidade, a Sagrada Família ouviu recusas, viu portas fechadas e a violência cega de Herodes. É sempre possível que os seus não reconheçam o Salvador que chega e não o acolham (cf. 1,11). Vindo morar entre nós, o Senhor revela igualmente a contradição (cf. Lc 2,34) na sua forma, muitas vezes conflituosa, de habitar nestes lugares. A cidade bem-amada é também a que o faz chorar (cf. 19,41), quando os caminhos triunfais se tornam rapidamente numa via sacra, numa estrada de dor. As cidades dos homens podem rapidamente transformar-se em campos de batalha, em lugares de confronto e opressão, de injustiça e de violência. Então a voz do Senhor e, ainda mais, a sua vida pedem e oferecem hoje uma possibilidade de transformação que não passa pela via do protesto estéril ou da oposição violenta, mas propõe-nos e dá-nos testemunho da via do serviço humilde e concreto. Quereríamos então que nas nossas praças e nas nossas casas pela nossa palavra e pelo nosso testemunho, o Evangelho possa continuar a transformar a nossa maneira de vivermos juntos, as nossas relações e as nossas escolhas. Pedimos que a sua palavra e a nossa oração encontrem corações que escutem, principalmente os daqueles que detêm autoridade política e social. Queríamos não ter de chorar mais pela recusa, pela pobreza extrema e pelos inúmeros sofrimentos que afligem o nosso povo. Gostaríamos que, graças à boa vontade de todos, Deus possa continuar a habitar nas nossas cidades.
Assim esperamos que as nossas cidades sejam verdadeiramente santas, não somente e não tanto em razão das preciosas memórias guardadas nas sua pedras, mas muito mais pela vida que aí se encontra. O Senhor, ao nascer entre nós, trouxe à terra o começo do seu Reino. E ele prometeu o seu cumprimento em Jerusalém celeste. A nossa celebração do Natal não é uma simples comemoração, mas o anúncio que o que germinou com o nascimento de Cristo terá o seu pleno cumprimento quando Ele voltar.
Enquanto esperamos a sua vinda, construímos as nossas cidades. Seria infinitamente melhor se elas não fossem a expressão do poder ou de reivindicações como o foi Babel, mas sim casas de oração e de encontro para todos os povos (Is 56,7). Queremos então zelar com os nossos pastores para que a promessa de Salvação chegue até nós e guie os nossos passos nos caminhos do bem. Como os Magos, queremos olhar para a Estrela de Belém e acolher a graça e o humilde amor do nosso Deus para voltarmos para as nossas cidades “por um outro caminho” (Mt 2,12), por uma estrada nova que renove a nossa maneira de habitar e permanecer. Pedimos esta noite ao Cristo Nosso Senhor nascido em Belém que Ele nos dê a graça e a força de transformarmos as nossas cidades no seu Reino. Queremos percorrer com ele a antiga e sempre renovada via da fé, do amor e da esperança até que chegue do céu a cidade nova onde Deus habitará conosco e nós com Ele para sempre. Amém!


+ Pierbattista Pizzaballa

Fonte: Patriarcado Latino de Jerusalém

Fotos da Bênção Urbi et Orbi de Natal

No último dia 25 de dezembro, como de costume, o Papa Francisco concedeu a Bênção Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo) por ocasião da Solenidade do Natal do Senhor.do balcão central da Basílica de São Pedro.

Assistiram ao Santo Padre os Monsenhores Guido Marini e Massimiliano Matteo Boiardi, além dos Cardeais Diáconos Renato Raffaele Martino (Protodiácono) e Prosper Grech.

Para ler a mensagem de Natal do Papa, clique aqui.

Entrada do Santo Padre
O Papa saúda os fiéis

Execução do Hino Pontifício


Mensagem Urbi et Orbi do Papa: Natal 2018

Mensagem «Urbi et Orbi» do Papa Francisco
Natal 2018
Sacada Central da Basílica Vaticana
Terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
A vós, fiéis de Roma, a vós, peregrinos, e a todos vós que, das mais variadas partes do mundo, estais sintonizados conosco, renovo o jubiloso anúncio de Belém: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado» (Lc 2,14).
Como os pastores, os primeiros que acorreram à gruta, ficamos maravilhados com o sinal que Deus nos deu: «Um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 2). Em silêncio, ajoelhamo-nos e adoramos.
E que nos diz aquele Menino, nascido, para nós, da Virgem Maria? Qual é a mensagem universal do Natal? Diz-nos que Deus é um Pai bom, e nós somos todos irmãos.
Esta verdade está na base da visão cristã da humanidade. Sem a fraternidade que Jesus Cristo nos concedeu, os nossos esforços por um mundo mais justo ficam sem fôlego, e mesmo os melhores projetos correm o risco de se tornar estruturas sem alma.
Por isso, as minhas boas-festas natalícias são votos de fraternidade.
Fraternidade entre pessoas de todas as nações e culturas.
Fraternidade entre pessoas de ideias diferentes, mas capazes de se respeitar e ouvir umas às outras.
Fraternidade entre pessoas de distintas religiões. Jesus veio revelar o rosto de Deus a todos aqueles que o procuram.
E o rosto de Deus manifestou-se num rosto humano concreto. Apareceu, não sob a forma dum anjo, mas dum homem, nascido num tempo e lugar concretos. E assim, com a sua encarnação, o Filho de Deus indica-nos que a salvação passa através do amor, da hospitalidade, do respeito por esta nossa pobre humanidade que todos compartilhamos numa grande variedade de etnias, línguas, culturas... mas todos irmãos em humanidade!
Então, as nossas diferenças não constituem um dano nem um perigo; são uma riqueza. Como no caso dum artista que queira fazer um mosaico: é melhor ter à sua disposição ladrilhos de muitas cores, que de poucas.
A experiência da família no-lo ensina: irmãos e irmãs são diferentes um do outro e nem sempre estão de acordo, mas há um laço indissolúvel que os une, e o amor dos pais ajuda-os a quererem-se bem. O mesmo se passa com a família humana, mas, nesta, é Deus o «pai», o fundamento e a força da nossa fraternidade.
Que este Natal nos faça redescobrir os laços de fraternidade que nos unem como seres humanos, interligando todos os povos. Permita a Israelitas e Palestinenses retomar o diálogo e embocar um caminho de paz que ponha fim a um conflito que, há mais de setenta anos, dilacera a Terra escolhida pelo Senhor para nos mostrar o seu rosto de amor.
O Menino Jesus permita, à amada e atormentada Síria, reencontrar a fraternidade depois destes longos anos de guerra. Que a Comunidade Internacional trabalhe com decisão para uma solução política que anule as divisões e os interesses de parte, de modo que o povo sírio, especialmente aqueles que tiveram de deixar as suas terras e buscar refúgio noutro lugar, possa voltar a viver em paz na sua pátria.
Penso no Iémen com a esperança de que a trégua mediada pela Comunidade Internacional possa, finalmente, levar alívio a tantas crianças e às populações exaustas pela guerra e a carestia.
Penso depois na África, onde há milhões de pessoas refugiadas ou deslocadas e precisam de assistência humanitária e segurança alimentar. O Deus Menino, Rei da paz, faça calar as armas e surgir uma nova aurora de fraternidade em todo o Continente, abençoando os esforços de quantos trabalham para favorecer percursos de reconciliação a nível político e social.
O Natal robusteça os vínculos fraternos que unem a península coreana e consinta de prosseguir no caminho de aproximação empreendido para se chegar a soluções compartilhadas que a todos assegurem progresso e bem-estar.
Este tempo de bênção permita à Venezuela reencontrar a concórdia e, a todos os componentes da sociedade, trabalhar fraternalmente para o desenvolvimento do país e prestar assistência aos setores mais vulneráveis da população.
O Senhor recém-nascido leve alívio à amada Ucrânia, ansiosa por reaver uma paz duradoura, que tarda a chegar. Só com a paz, respeitadora dos direitos de cada nação, é que o país poderá recuperar das tribulações sofridas e restabelecer condições de vida dignas para os seus cidadãos. Solidário com as comunidades cristãs daquela Região, rezo para que possam tecer relações de fraternidade e amizade.
Que, diante do Menino Jesus, se redescubram irmãos os habitantes da querida Nicarágua, para que não prevaleçam as divisões e discórdias, mas todos trabalhem para favorecer a reconciliação e, juntos, construir o futuro do país.
Desejo lembrar os povos que sofrem colonizações ideológicas, culturais e econômicas, vendo dilaceradas a sua liberdade e identidade, e que sofrem por causa da fome e da carência de serviços educativos e sanitários.
Penso de modo particular nos nossos irmãos e irmãs que celebram a Natividade do Senhor em contextos difíceis, para não dizer hostis, especialmente onde a comunidade cristã é uma minoria, por vezes frágil ou desconsiderada. Que o Senhor lhes conceda, a eles e a todas as minorias, viver em paz e ver reconhecidos os seus direitos, sobretudo a liberdade religiosa.
O Menino pequenino e com frio, que hoje contemplamos na manjedoura, proteja todas as crianças da terra e todas as pessoas frágeis, indefesas e descartadas. Possamos todos nós receber paz e conforto do nascimento do Salvador e, sentindo-nos amados pelo único Pai celeste, reencontrarmo-nos e vivermos como irmãos!


Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Fotos da Missa da Noite de Natal no Vaticano

No último dia 24 de dezembro, como de costume, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro a Santa Missa da Noite na Solenidade do Natal do Senhor.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli. Para ver o livreto da celebração, clique aqui.

Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

O Papa ouve a proclamação da kalenda
O Papa descobre a imagem do Menino Jesus

Incensação

Homilia do Papa: Missa da Noite de Natal 2018

Missa da Noite de Natal
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Juntamente com Maria sua esposa, José subiu «à cidade de Davi, chamada Belém» (Lc 2,4). Nesta noite, também nós subimos a Belém, para lá descobrir o mistério do Natal.
1. Belém: o nome significa casa do pão. Hoje, nesta «casa», o Senhor marca encontro com a humanidade. Sabe que precisamos de alimento para viver. Mas sabe também que os alimentos do mundo não saciam o coração. Na Sagrada Escritura, o pecado original da humanidade aparece associado precisamente com o ato de tomar alimento: «tomou o fruto, comeu», diz o Livro do Gênesis (Gn 3,6). Tomou e comeu. O homem tornou-se ávido e voraz. Para muitos, o sentido da vida parece ser possuir, estar cheio de coisas. Uma ganância insaciável atravessa a história humana, chegando ao paradoxo de hoje em que alguns se banqueteiam lautamente enquanto muitos não têm pão para viver.
Belém é o ponto de viragem no curso da história. Lá Deus, na casa do pão, nasce numa manjedoura; como se quisesse dizer-nos: Estou aqui ao vosso dispor, como vosso alimento. Não agarra, oferece de comer; não dá uma coisa, mas dá-Se a Si mesmo. Em Belém, descobrimos que Deus não é alguém que agarra a vida, mas Aquele que dá a vida. Ao homem, habituado desde os primórdios a agarrar e comer, Jesus começa a dizer: «Tomai, comei. Este é o meu corpo» (Mt 26,26). O corpo pequenino do Menino de Belém lança um novo modelo de vida: não devorar e acumular, mas partilhar e dar. Deus faz-Se pequeno, para ser nosso alimento. Nutrindo-nos d’Ele, Pão de vida, podemos renascer no amor e romper a espiral da avidez e da ganância. A partir da «casa do pão», Jesus traz o homem de regresso a casa, para que se torne familiar do seu Deus e irmão do seu próximo. Diante da manjedoura, compreendemos que não são os bens que alimentam a vida, mas o amor; não a voracidade, mas a caridade; não a abundância ostentada, mas a simplicidade que devemos preservar.
O Senhor sabe que precisamos de nos alimentar todos os dias. Por isso, ofereceu-nos todos os dias da sua vida, desde a manjedoura de Belém até ao cenáculo de Jerusalém. E ainda hoje, no altar, faz-Se pão partido para nós: bate à porta, para entrar e cear conosco (cf. Ap 3,20). No Natal, recebemos Jesus, Pão do céu na terra: trata-se de um alimento cuja validade é ilimitada, fazendo-nos saborear já agora a vida eterna.
Em Belém, descobrimos que a vida de Deus corre nas veias da humanidade. Se a acolhermos, a história muda a partir de cada um de nós; com efeito, quando Jesus muda o coração, o centro da vida já não é o meu «eu» faminto e egoísta, mas Ele, que nasce e vive por amor. Nesta noite, chamados a ir até Belém, casa do pão, interroguemo-nos: Qual é o alimento de que não posso prescindir na minha vida? É o Senhor ou outra coisa qualquer? Depois, entrando na gruta, ao vislumbrar na terna pobreza do Menino uma nova fragrância de vida, a da simplicidade, perguntemo-nos: Será verdade que preciso de tantas coisas, de receitas complicadas para viver? Quais são os contornos supérfluos de que consigo prescindir para abraçar uma vida mais simples? Em Belém, ao pé de Jesus, vemos pessoas que caminharam, como Maria, José e os pastores. Jesus é o Pão do caminho. Não Se compraz com as digestões lentas, longas e sedentárias, mas pede que nos levantemos rapidamente da mesa a fim de servir como pães partidos para os outros. Perguntemo-nos: No Natal, reparto o meu pão com aqueles que estão sem ele?

2. Depois de Belém, casa do pão, reflitamos sobre Belém, cidade de Davi. Lá Davi, na sua adolescência, era pastor e, como tal, foi escolhido por Deus, para ser pastor e guia do seu povo. No Natal, na cidade de Davi, são precisamente os pastores que acolhem Jesus. Naquela noite, quando «a glória do Senhor refulgiu em volta deles - diz o Evangelho -, tiveram muito medo» (Lc 2,9), mas o anjo disse-lhes: «Não tenhais medo!» (v. 10). Reaparece muitas vezes no Evangelho esta frase «Não tenhais medo»: parece o refrão de Deus à procura do homem. Porque o homem desde o princípio, por causa do pecado, tem medo de Deus: «cheio de medo, escondi-me» (Gn 3,10), diz Adão, depois do pecado. Belém é o remédio para o medo, porque lá, não obstante os «nãos» do homem, Deus diz para sempre «sim»: será para sempre Deus conosco. E, para que a sua presença não provoque medo, faz-Se um terno menino. A frase «não tenhais medo» não é dirigida a santos, mas a pastores, pessoas simples que então não primavam por garbo nem devoção. O Filho de Davi nasceu no meio dos pastores, para nos dizer que doravante ninguém estará sozinho; temos um Pastor que vence os nossos medos e nos ama a todos, sem exceção.
Os pastores de Belém mostram-nos também como ir ao encontro do Senhor. Velam durante a noite: não dormem, mas fazem aquilo que Jesus nos pedirá várias vezes: vigiar (cf. Mt 25,13; Mc 13,35; Lc 21,36). Permanecem vigilantes; aguardam, acordados, na escuridão; e a glória de Deus «refulgiu em volta deles» (Lc 2,9). O mesmo vale para nós. A nossa vida pode ser uma expectação, em que a pessoa, mesmo nas noites dos problemas, se confia ao Senhor e O deseja; então receberá a sua luz. Ou então uma pretensão, na qual contam apenas as próprias forças e meios; mas, neste caso, o coração permanece fechado à luz de Deus. O Senhor gosta de ser aguardado e não é possível aguardá-Lo no sofá, dormindo. De fato, os pastores movem-se: «foram apressadamente», diz o texto (v. 16). Não ficam parados como quem sente ter chegado a casa e não precisa de nada; mas partem, deixam o rebanho indefeso, arriscam por Deus. E depois de terem visto Jesus, embora sem grande habilidade para falar, vão anunciá-Lo, de modo que «todos os que ouviram se admiravam do que lhes diziam os pastores» (v. 18).
Esperar acordado, ir, arriscar, contar a beleza são gestos de amor. O Bom Pastor, que vem no Natal para dar a vida às ovelhas, na Páscoa dirigirá a Pedro, e através dele a todos nós, a pergunta determinante: «Tu Me amas?» (Jo 21,15). Da resposta, dependerá o futuro do rebanho. Nesta noite, somos chamados a responder, dizendo-Lhe também nós: «Sou teu amigo». A resposta de cada um é essencial para todo o rebanho.
«Vamos a Belém...» (Lc 2,15): assim disseram e fizeram os pastores. Também nós, Senhor, queremos vir a Belém. O caminho, ainda hoje, é difícil: é preciso superar os cumes do egoísmo, evitar escorregar nos precipícios da mundanidade e do consumismo. Quero chegar a Belém, Senhor, porque é lá que me esperas. E dar-me conta de que Tu, colocado numa manjedoura, és o pão da minha vida. Preciso da terna fragrância do teu amor, a fim de tornar-me, por minha vez, pão repartido para o mundo. Toma-me sobre os teus ombros, bom Pastor: amado por Ti, conseguirei também eu amar tomando pela mão os irmãos. Então será Natal, quando Te puder dizer: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu sou teu amigo!» (Jo 21,17).


Fonte: Santa Sé.