“Conosco estarão a
graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho
do Pai, na verdade e no amor” (2Jo 3)
A 2Jo é lida na sexta-feira desta semana, mais especificamente os vv. 4-9 [3].
Trata-se aqui do corpo da Carta, com sua exortação à vivência do mandamento do
amor (vv. 4-6) e parte da exortação contra os “opositores” (vv. 7-9).
Durante o mês de setembro dedicamos três postagens em nosso
blog para analisar a leitura litúrgica da Primeira Carta de João (1Jo), tema do “Mês
da Bíblia” no Brasil neste ano de 2019.
No final da terceira parte propusemo-nos analisar, como complemento,
a Segunda
Carta de João (2Jo) e a Terceira
Carta de João (3Jo). Como
ambos são escritos muito breves, com apenas um capítulo, possuem, como veremos,
poucas ocorrências nas celebrações litúrgicas do Rito Romano.
1. Breve introdução à Segunda e à Terceira Cartas de João
Assim como a 1Jo,
a Segunda e a Terceira Cartas integram
o duplo bloco das Cartas Católicas e dos Escritos Joaninos. Contudo, diferem-se
da Primeira não apenas por sua
brevidade (a 2Jo possui 13 versículos, enquanto a 3Jo possui 15), mas também
por seu gênero literário.
Enquanto na Primeira
Carta faltam os atributos tradicionais do gênero epistolar, como remetente,
destinatário, saudação inicial ou recomendações finais, na 2Jo e na 3Jo estes atributos
estão presentes, podendo ser classificadas seguramente como cartas.
Ambas têm como remetente um personagem que se define como “o
Ancião” ou “o Presbítero” (ὁ πρεσβύτερος). Mais do que um ministério, o título
designa aqui a autoridade que este personagem possuía na comunidade.
A 2Jo é dirigida a
uma comunidade, designada como “a senhora
eleita” (2Jo 1), enquanto a 3Jo é
destinada a um indivíduo, o “caríssimo Gaio”
(3Jo 1), talvez membro da comunidade à qual foi escrita a carta anterior ou de
uma comunidade próxima.
Ambas, sobretudo a 2Jo,
retomam temas já propostos na Primeira
Carta, devendo, portanto, ser datadas depois desta, no início do século II
(entre os anos 100 e 110). O local de redação é provavelmente a Ásia Menor, uma
vez que nesta região era forte a influência da escola joanina.
A 2Jo retoma o
tema do amor (vv. 4-6), presente tanto no Quarto Evangelho quanto na Primeira Carta, exortando os membros da
comunidade a viver segundo este mandamento. Além disso, o autor retoma o tema
dos “opositores” ou “anticristos” da 1Jo, exortando a comunidade a não acolhê-los (vv.
7-11).
A 3Jo, por sua
vez, começa com um elogio do autor a Gaio por este “viver na verdade” (vv.
3-8). O tema da verdade também está presente tanto no Evangelho de João quanto na Primeira
Carta. A segunda parte da Carta,
em contrapartida, é uma reprimenda a Diótrefes, que não acolhia os ensinamentos
do Ancião (vv. 9-11). Por fim, a Carta
conclui com um pedido a acolher Demétrio, provavelmente um missionário ou
pregador itinerante (v. 12).
Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da
postagem [1].
O Apóstolo João escrevendo |
2. Leitura litúrgica
de 2Jo e 3Jo: Leitura semicontínua
Devido à sua brevidade, cada uma das Cartas possui apenas duas ocorrências nas celebrações litúrgicas do
Rito Romano, uma na Missa e outra na Liturgia das Horas, todas a partir do
critério da leitura semicontínua [2].
a) Celebração
Eucarística
Na celebração da Missa, a 2Jo e a 3Jo são lidas no Tempo Comum, mais especificamente na XXXII semana do Tempo Comum do ano par.
Nesta semana leem-se alguns escritos mais breves do Novo Testamento: a Carta a Tito (de segunda a
quarta-feira), a Carta a Filêmon
(quinta-feira) e as duas Cartas
joaninas.
A 3Jo, por sua vez, é proclamada no dia
seguinte, sábado. Desta carta
leem-se os vv. 5-8 [4], parte do elogio a Gaio por sua vivência da verdade e
por ter acolhido os missionários.
b) Liturgia das Horas
Como vimos na última parte da nossa pesquisa sobre a Primeira Carta de João, esta é lida na Liturgia das Horas no Ofício das
Leituras da VI e da VII semanas do Tempo Pascal. Trata-se aqui de leituras
longas, que abrangem a totalidade do escrito, concluindo-se na quinta-feira da
VII semana da Páscoa.
A leitura litúrgica da 2Jo e da 3Jo na Liturgia das Horas se
insere justamente na sequência da Primeira Carta, encerrando o Tempo Pascal [5]:
Ofício das Leituras
da VII semana da Páscoa:
Sexta-feira: 2Jo 1-13 - “Quem
permanece na doutrina, possui o Pai e o Filho”;
Sábado: 3Jo 1-15 - “Vivamos
na verdade”.
No ciclo bienal do Ofício das Leituras, que não foi
traduzido para o Brasil, as três Cartas
de João são lidas nos mesmos dias, porém apenas no ano ímpar.
"Conosco estarão a graça, a misericórdia e a paz..." (2Jo 3) |
Concluímos assim nossa apresentação da leitura litúrgica da
Segunda e da Terceira Cartas de João. Vemos que, embora sejam escritos
brevíssimos, também eles estão presentes nas celebrações litúrgicas do Rito
Romano, contribuindo para aprofundarmos os temas já apresentados no Quarto
Evangelho e na Primeira Carta de João.
Em postagens futuras continuaremos a analisar a leitura
litúrgica dos escritos tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, contribuindo
assim para uma melhor compreensão da Palavra de Deus em sua relação com a
Liturgia.
Notas:
[1] BROWN, Raymond. Segunda
carta de João; Terceira carta de João. in:
Introdução ao Novo Testamento. 2ª ed.
São Paulo: Paulinas, 2012, pp. 535-540.541-546.
TUÑI, Josep-Oriol. As
cartas de São João. in: ALEGRE,
Xavier; TUÑI, Josep-Oriol. Escritos
joaninos e cartas católicas. 2ª ed. São Paulo: Ave Maria, 2007, pp.
155-189. Coleção: Introdução ao Estudo da
Bíblia, v. 8.
ZUMSTEIN, Jean. As
epístolas joaninas. in:
MARGUERAT, Daniel [org.]. Novo
Testamento: História, escritura e teologia. 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2015,
pp. 487-491.
[2] A leitura semicontínua, como indica o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa, consiste
na leitura dos principais textos de um livro na sequência, de modo a oferecer
aos fiéis um contato mais amplo com a Sagrada Escritura (cf. ALDAZÁBAL, José. A Mesa
da Palavra I: Elenco das Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo:
Paulinas, 2007, p. 76).
[3] LECIONÁRIO II: Semanal.
Tradução portuguesa da 2ª edição típica
para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1995, p. 1183.
[4] ibid., p.
1187.
[5] OFÍCIO DIVINO. Liturgia
das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição
típica. São Paulo: Paulus, 1999, v. II, pp. 902.909.
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