segunda-feira, 31 de março de 2014

Catequese do Papa sobre a Ordem

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 26 de Março de 2014

Estimados irmãos e irmãs
Já tivemos a ocasião de recordar que os três Sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Eucaristia, juntos, constituem o mistério da «iniciação cristã», um único e grande acontecimento de graça que nos regenera em Cristo. Esta é a vocação fundamental que irmana todos na Igreja, como discípulos do Senhor Jesus. Além disso, há dois Sacramentos que correspondem a duas vocações específicas: eles são o da Ordem e do Matrimónio. Eles constituem dois caminhos grandiosos através dos quais o cristão pode fazer da própria vida um dom de amor, a exemplo e no nome de Cristo, cooperando assim para a edificação da Igreja.
Cadenciada nos três graus de episcopado, presbiterado e diaconado, a Ordem é o Sacramento que habilita para o exercício do ministério, confiado pelo Senhor Jesus aos Apóstolos, de apascentar a sua grei, no poder do Espírito e segundo o seu coração. Apascentar o rebanho de Jesus não com o poder da força humana, nem com o próprio poder, mas com o poder do Espírito, e segundo o seu coração, o coração de Jesus, que é um coração de amor. O sacerdote, o bispo e o diácono devem apascentar a grei do Senhor com amor. Se não o fizerem com amor é inútil. E neste sentido, os ministros que são escolhidos e consagrados para este serviço prolongam no tempo a presença de Jesus, se o fizerem com o poder do Espírito Santo, em nome de Deus e com amor.
Um primeiro aspecto. Quem é ordenado é posto como chefe da comunidade. No entanto, é «chefe», mas para Jesus significa pôr a própria autoridade ao serviço, como Ele mesmo demonstrou e ensinou aos seus discípulos com estas palavras: «Vós sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja vosso servo. E quem quiser tornar-se o primeiro entre vós, seja vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos» (Mt 20, 25-28; Mc 10, 42-45). O bispo que não está ao serviço da comunidade não pratica o bem; o sacerdote, o presbítero que não está ao serviço da sua comunidade não faz bem, erra.
Outra característica que deriva sempre desta união sacramental com Cristo é o amor apaixonado pela Igreja. Pensemos naquele trecho da Carta aos Efésios, onde são Paulo diz que Cristo «amou a Igreja e se entregou por ela, para a santificar, purificando-a pela água do baptismo com a palavra, e para a apresentar a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante» (5, 25-27). Em virtude da Ordem, o ministro dedica-se inteiramente à própria comunidade, amando-a com todo o seu coração: é a sua família. O bispo e o sacerdote amam a Igreja na sua comunidade, amam-na fortemente. Como? Como o próprio Cristo ama a Igreja. São Paulo dirá a mesma coisa acerca do matrimónio: o esposo ama a sua esposa como Cristo ama a Igreja. Trata-se de um grande mistério de amor: do ministério sacerdotal e do matrimónio, dois Sacramentos que constituem a vereda pela qual, habitualmente, as pessoas se encaminham rumo ao Senhor.
Um último aspecto. O apóstolo Paulo recomenda ao discípulo Timóteo que não descuide, aliás, que reavive sempre o seu dom. A dádiva que lhe foi confiada mediante a imposição das mãos (cf. 1 Tm 4, 14; 2 Tm 1, 6). Quando não se alimenta o ministério, o ministério do bispo, o ministério do sacerdote com a oração, com a escuta da Palavra de Deus e com a celebração quotidiana da Eucaristia, mas também com uma frequentação do Sacramento da Penitência, acaba-se inevitavelmente por perder de vista o sentido autêntico do próprio serviço e a alegria que deriva de uma profunda comunhão com Jesus.
O bispo que não reza, o prelado que não escuta a Palavra de Deus, que não celebra todos os dias, que não se confessa regularmente e, do mesmo modo, o sacerdote que não age assim, a longo prazo perdem a união com Jesus, adquirindo uma mediocridade que não é positiva para a Igreja. Por isso, devemos ajudar os bispos e os sacerdotes a rezar, a ouvir a Palavra de Deus, que é pão quotidiano, a celebrar todos os dias a Eucaristia e a confessar-se de maneira habitual. Isto é muito importante porque diz respeito precisamente à santificação dos bispos e dos presbíteros.
Gostaria de concluir com um pensamento que me vem à mente: mas como se deve fazer para ser sacerdote, onde se vende o acesso ao sacerdócio? Não, não se vende! Trata-se de uma iniciativa que o Senhor toma. É o Senhor que chama. E chama cada um daqueles que Ele deseja como presbíteros. Talvez aqui haja alguns jovens que sentiram no seu coração este apelo, o desejo de se tornar sacerdotes, a vontade de servir os outros em tudo aquilo que vem de Deus, o desejo de estar durante a vida inteira ao serviço para catequizar, baptizar, perdoar, celebrar a Eucaristia, curar os enfermos... e assim durante a vida inteira! Se algum de vós sentiu isto no seu coração, foi Jesus que o pôs ali. Esmerai-vos por este convite e rezai a fim de que ele prospere e dê frutos na Igreja inteira.


Fonte: Santa Sé 

terça-feira, 25 de março de 2014

Ângelus do Papa: III Domingo da Quaresma - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
III Domingo da Quaresma, 23 de março de 2014

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje apresenta-nos o encontro de Jesus com a mulher samaritana, que aconteceu em Sicar, junto de um antigo poço onde a mulher ia todos os dias buscar água. Naquele dia, encontrou lá Jesus, sentado, «cansado devido à viagem» (Jo 4,6). Ele diz-lhe imediatamente: «Dá-me de beber» (v. 7). Deste modo supera as barreiras de hostilidade que existiam entre judeus e samaritanos e rompe os esquemas do preconceito em relação às mulheres. O pedido simples de Jesus é o início de um diálogo genuíno, mediante o qual Ele, com grande delicadeza, entra no mundo interior de uma pessoa à qual, segundo os esquemas sociais, não deveria nem sequer ter dirigido a palavra. Mas Jesus fá-lo! Jesus não tem medo. Jesus quando vê uma pessoa vai em frente, porque ama. Ama-nos a todos. Nunca se detém diante de uma pessoa por preconceitos. Jesus coloca-a diante da sua situação, sem julgá-la, mas fazendo-a sentir-se considerada, reconhecida, e deste modo suscitando nela o desejo de ir além da rotina diária.

A sede de Jesus não era tanto de água, quanto de encontrar a Samaritana para lhe abrir o coração: pede-lhe de beber para evidenciar a sede que havia nela mesma. A mulher comove-se com este encontro: dirige a Jesus aquelas perguntas profundas que todos temos dentro, mas que muitas vezes ignoramos. Também nós temos tantas perguntas para fazer, mas não encontramos a coragem de as dirigir a Jesus! A Quaresma, queridos irmãos e irmãs, é o tempo oportuno para olhar para dentro de nós, para fazer emergir as nossas necessidades espirituais mais verdadeiras, e pedir a ajuda do Senhor na oração. O exemplo da Samaritana convida-nos a expressar-nos do seguinte modo: «Jesus, dá-me aquela água que me saciará eternamente».

O Evangelho diz que os discípulos ficaram surpreendidos que o seu Mestre falasse com aquela mulher. Mas o Senhor é superior aos preconceitos, e por isso não receou falar com a Samaritana: a misericórdia é maior do que o preconceito. Devemos aprender bem isto! A misericórdia é maior do que o preconceito, e Jesus é muito misericordioso, tanto! O resultado daquele encontro junto do poço foi que a mulher se transformou: «deixou a sua ânfora» (v. 28), com a qual ia buscar água, e foi depressa à cidade contar a sua experiência extraordinária. «Encontrei um homem que me disse todas as coisas que eu fiz. Será o Messias?». Estava entusiasmada. Tinha ido buscar água ao poço, e encontrou outra água, a água viva que jorra para a vida eterna. Encontrou a água que procurava desde sempre! Corre à aldeia, àquela aldeia que a julgava, a condenava e a rejeitava, e anuncia que encontrou o Messias: alguém que lhe mudou a vida. Porque cada encontro com Jesus nos muda a vida, sempre. É um passo em frente, um passo mais próximo de Deus. E assim cada encontro com Jesus nos muda a vida. É sempre assim.

Também nós encontramos neste Evangelho o estímulo para «deixar a nossa ânfora», símbolo de tudo o que aparentemente é importante, mas que perde valor diante do «amor de Deus». Todos temos uma, ou mais que uma! Pergunto a vós, e também a mim: «Qual é a tua ânfora, a que te pesa, a que te afasta de Deus?». Deixemo-la um pouco de lado e com o coração ouçamos a voz de Jesus que nos oferece outra água, outra água que aproxima do Senhor. Somos chamados a redescobrir a importância e o sentido da nossa vida cristã, que começou com o batismo e, como a Samaritana, a testemunhar aos nossos irmãos. O quê? A alegria! Testemunhar a alegria do encontro com Jesus, porque disse que cada encontro com Jesus muda a nossa vida, e também cada encontro com Jesus enche de alegria, aquela alegria que vem de dentro. E o Senhor é assim. E contar quantas coisas maravilhosas o Senhor faz no nosso coração, quando temos a coragem de pôr de lado a nossa ânfora.


Fonte: Santa Sé.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Solenidade de São José na Forma Extraordinária

No último dia 19 de março, Solenidade de São José, Esposo da Virgem Maria, Sua Excelência Revma. Dom Fernando Areas Rifan, Bispo da Administação Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, celebrou a Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano na igreja reitorial de São José em Campos (RJ).

Seguem algumas fotos, da página da Administração Apostólica:

Imagem de São José
Entrada do Bispo

Procissão de entrada

Catequese do Papa Francisco sobre São José (2014)

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 19 de março de 2014
São José, educador

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, 19 de março, celebramos a Solenidade de São José, Esposo de Maria e Padroeiro da Igreja Universal. Por conseguinte, dedicamos esta Catequese a ele, que merece todo o nosso reconhecimento e a nossa devoção, pelo modo como soube proteger a Virgem Santa e o Filho Jesus. O ser guardião é a característica de São José: é a sua grande missão, ser guardião, como eu recordava precisamente há um ano (Homilia na Missa de início do Ministério Petrino, 19 de março de 2013).

Hoje, gostaria de retomar o tema da proteção, a partir de uma perspectiva particular: a perspectiva da educação. Olhemos para José como modelo do educador, que protege e acompanha Jesus no seu caminho de crescimento, «em sabedoria, idade e graça», como reza o Evangelho de Lucas (Lc 2,52). Ele era o pai de Jesus: o pai de Jesus era Deus, mas José desempenhava o papel de pai de Jesus, era pai de Jesus para fazê-lo crescer. E como o fez crescer? Em sabedoria, idade e graça. E podemos procurar utilizar precisamente estas três palavras - sabedoria, idade e graça - como uma base para a nossa reflexão.

Comecemos pela idade, que constitui a dimensão mais natural, o crescimento físico e psicológico. Juntamente com Maria, José cuidava de Jesus antes de tudo a partir deste ponto de vista, ou seja, «criou-o», preocupando-se de que não lhe faltasse o necessário para um desenvolvimento sadio. Não esqueçamos que a tutela cheia de esmero da vida do Menino comportou também a fuga para o Egito, a dura experiência de viver como refugiados - José foi um refugiado, juntamente com Maria e Jesus - para fugir da ameaça de Herodes. Depois, quando voltaram para a pátria, estabelecendo-se em Nazaré, há outro período da vida escondida de Jesus na sua família, no seio da Sagrada Família. Naqueles anos, José ensinou a Jesus também o seu trabalho, e Jesus aprendeu a profissão de carpinteiro, juntamente com o seu pai José. Foi assim que José educou Jesus, a tal ponto que, quando era adulto, lhe chamavam «o filho do carpinteiro» (Mt 13,55).

Passemos à segunda dimensão da educação de Jesus, a da «sabedoria». Diz a Escritura que o princípio da sabedoria é o temor do Senhor (cf. Pr 1,7; Eclo 1,14). Temor não tanto no sentido de medo, mas de respeito sagrado, de adoração e de obediência à sua vontade, que procura sempre o nosso bem. José foi para Jesus exemplo e mestre desta sabedoria, que se alimenta da Palavra de Deus. Podemos pensar no modo como José educou o pequeno Jesus a ouvir as Sagradas Escrituras, principalmente acompanhando-o aos sábados à sinagoga de Nazaré. E José acompanhava-o para que Jesus ouvisse a Palavra de Deus na sinagoga. E a prova da escuta profunda de Jesus em relação a Deus, José e Maria tiveram-na - de uma maneira que os surpreendeu - quando Ele, com doze anos, permaneceu no templo de Jerusalém sem que eles o soubessem; e encontraram-no depois de três dias, enquanto dialogava com os doutores da lei, os quais ficaram admirados com a sua sabedoria. Eis: Jesus está repleto de sabedoria, porque é o Filho de Deus, mas o Pai celeste valeu-se da colaboração de São José, a fim de que o seu Filho pudesse crescer «cheio de sabedoria» (Lc 2,40).

E por fim, a dimensão da «graça». Diz ainda São Lucas, referindo-se a Jesus: «A graça de Deus estava sobre Ele» (Lc 2,40). Aqui certamente a parte reservada a São José é mais limitada do que aos âmbitos da idade e da sabedoria. Todavia, seria um erro grave pensar que um pai e uma mãe nada podem fazer para educar os filhos a crescer na graça de Deus. Crescer em idade, crescer em sabedoria, crescer em graça: este é o trabalho que José levou a cabo em relação a Jesus: fazê-lo crescer nestas três dimensões, ajudá-lo a crescer. José fê-lo de um modo verdadeiramente único, insuperável. Com efeito, ele tinha desposado a mulher «cheia de graça» (Lc 1,28), e sabia bem que Jesus tinha sido concebido por obra do Espírito Santo. Portanto, neste campo da graça, a sua obra educativa consistia em secundar a obra do Espírito no coração e na vida de Jesus, em sintonia com a Virgem Maria. Este âmbito educativo é o mais específico da fé, da oração, da adoração e da aceitação da vontade de Deus e do seu desígnio. Também e sobretudo nesta dimensão da graça, José educou Jesus primariamente com o exemplo: o exemplo de um «homem justo» (Mt 1,19), que se deixa sempre guiar pela fé, e sabe que a salvação não deriva da observância da lei, mas da graça de Deus, do seu amor e da sua fidelidade.

Queridos irmãos e irmãs, a missão de São José é sem dúvida única e irrepetível, porque Jesus é absolutamente único. E todavia, protegendo Jesus, educando-o a crescer em idade, sabedoria e graça, ele constitui um modelo para cada educador, em especial para cada pai. São José é o modelo do educador e do pai. Portanto, confio à sua proteção todos os pais, os sacerdotes - que são pais - e aqueles que desempenham uma tarefa educativa na Igreja e na sociedade. De modo especial, gostaria de saudar hoje, dia dos pais, todos os pais: saúdo-vos de coração! (*). Vejamos: há pais na praça? Pais, erguei a mão! Mas quantos pais! Parabéns, parabéns a vós neste vosso dia! Peço para vós a graça de permanecer sempre muito próximos dos vossos filhos, deixando-os crescer, mas próximos, próximos! Eles têm necessidade de vós, da vossa presença, da vossa proximidade e do vosso amor. Sede para eles como São José: guardiões do seu crescimento em idade, sabedoria e graça. Guardiões do seu caminho, educadores; e caminhai com eles. E com esta proximidade, sereis verdadeiros educadores. Obrigado por tudo aquilo que vós fazeis pelos vossos filhos: obrigado! Muitas felicitações a vós, e boa festa dos pais a todos os pais que estão aqui presentes, a todos os pais. Que São José vos abençoe e vos acompanhe. E alguns de nós perderam o pai, que já partiu porque o Senhor o chamou; muitas pessoas que estão na praça não têm pai. Podemos rezar por todos os pais do mundo, pelos pais vivos e também por aqueles defuntos, e pelos nossos pais; e podemos fazê-lo juntos, cada qual recordando o seu próprio pai, quer esteja vivo quer já tenha falecido. E oremos ao grande Pai de todos nós, o Pai. Um «Pai nosso» pelos nossos pais: Pai nosso...


(*) Na Itália e em outros países católicos o «dia dos pais» é celebrado justamente na Solenidade de São José, no dia 19 de março.

Fonte: Santa Sé

sexta-feira, 21 de março de 2014

Dom Henrique Soares preside Procissão do Encontro

No último dia 16 de março, Sua Excelência Reverendíssima Dom Henrique Soares da Costa, então Bispo Auxiliar de Aracaju e agora Bispo nomeado de Palmares (PE), presidiu a tradicional Procissão do Encontro na cidade de São Cristóvão (Sergipe).

Destacamos a presença de uma relíquia da Santa Cruz, com a qual o Bispo concedeu a bênção aos fieis presentes.

Seguem algumas fotos, do perfil do Bispo no Facebook:

Procissão

Sermão do Encontro


Fotos da Missa do Papa no II Domingo da Quaresma

No último dia 16 de março, Sua Santidade o Papa Francisco celebrou a Santa Missa do II Domingo da Quaresma durante sua visita à Paróquia Santa Maria della Orazione (Santa Maria da Oração) em Roma.

No final da Missa, o Papa abençoou uma imagem de São José exposta à veneração dos fieis da paróquia.

Seguem algumas fotos:

Procissão de entrada

Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Homilia

Homilia do Papa: II Domingo da Quaresma - Ano A

Visita Pastoral à Paróquia romana de Santa Maria da Oração
Homilia do Papa Francisco
Domingo, 16 de março de 2014

Na oração no início da Missa pedimos ao Senhor duas graças: «ouvir o teu Filho amado», para que a nossa fé seja alimentada pela Palavra de Deus, e - a outra graça - «purificar os olhos do nosso espírito, para que um dia possamos gozar da visão da glória». Ouvir, a graça de ouvir, e a graça de purificar os olhos. Isto está precisamente em relação com o Evangelho que ouvimos. Quando o Senhor se transfigura diante de Pedro, Tiago e João, eles ouvem a voz de Deus Pai, que diz: «Este é o Meu Filho! Escutai-O!». A graça de ouvir Jesus. Por quê? Para alimentar a nossa fé com a Palavra de Deus. E esta é uma tarefa do cristão. Quais são as tarefas do cristão? Talvez me digais: ir à Missa aos domingos; fazer jejum e abstinência na Semana Santa; fazer isto... Mas a primeira tarefa do cristão é ouvir a Palavra de Deus, ouvir Jesus, porque Ele nos fala e nos salva com a sua Palavra. E Ele torna mais firme, mais forte a nossa fé, com esta Palavra. Escutai Jesus! «Mas, padre, eu escuto Jesus, escuto-o tanto!». Sim? O que escutas?», «Ouço o rádio, a televisão, as conversas das pessoas...». Ouvimos tantas coisas durante o dia, tantas coisas... Mas faço-vos uma pergunta: dedicamos um pouco de tempo, todos os dias, a ouvir Jesus, a ouvir a Palavra de Jesus? Em casa, temos o Evangelho? E ouvimos todos os dias Jesus no Evangelho, lemos um trecho do Evangelho? Ou temos medo disto, ou não estamos habituados? Escutar a Palavra de Jesus, para nos alimentar! Isto significa que a Palavra de Jesus é o alimento mais forte para a alma: alimenta a nossa alma, alimenta a nossa fé! Eu vos sugiro, que dediqueis todos os dias alguns minutos a ler um lindo trecho do Evangelho e a ouvir o que ele descreve. Ouvir Jesus, e aquela Palavra de Jesus todos os dias entra no nosso coração e torna-nos mais fortes na fé. Sugiro também que tenhais um pequeno Evangelho, pequenino, para levar no bolso, na carteira e quando temos um pouco de tempo, talvez no autocarro... quando é possível, porque muitas vezes no autocarro somos um pouco obrigados a manter o equilíbrio e também a defender os bolsos, não?... Mas quando estás sentado, aqui ou ali, podes ler, também durante o dia, pegar no Evangelho e ler duas palavrinhas. O Evangelho sempre connosco! Dizia-se de alguns mártires dos primeiros tempos - por exemplo de santa Cecília - que levavam sempre o Evangelho com eles: levavam-no, o Evangelho; ela, Cecília levava o Evangelho. Porque é precisamente o nosso primeiro passo, é a Palavra de Jesus, aquilo que alimenta a nossa fé.

E depois a segunda graça que pedimos foi a da purificação dos olhos, dos olhos do nosso espírito, para preparar os olhos do espírito para a vida eterna. Purificar os olhos! Eu sou convidado a ouvir Jesus e Jesus manifesta-se e com a sua Transfiguração convida-nos a olhar para ele. E olhar para Jesus purifica os nossos olhos e prepara-os para a vida eterna, para a visão do Céu. Talvez os nossos olhos estejam um pouco doentes porque vemos tantas coisas que não são de Jesus, que são até contra Jesus: coisas mundanas, coisas que não fazem bem à luz da alma. E assim esta luz apaga-se lentamente e sem saber acabamos na escuridão interior, na escuridão espiritual, na escuridão da fé: escuridão porque não estamos habituados a olhar, a imaginar as coisas de Jesus.

É isto que nós hoje pedimos ao Pai, que nos ensine a ouvir Jesus e a olhar para Jesus. Escutar a sua Palavra, e pensai naquilo que vos dizia do Evangelho: é muito importante! E reparai: quando leio o Evangelho imaginar e ver como era Jesus, como fazia as coisas. E assim a nossa inteligência, o nosso coração vão em frente pelo caminho da esperança, no qual o Senhor nos coloca, como ouvimos que fez com o nosso pai Abraão. Recordai-vos sempre: escutar Jesus, para tornar mais forte a nossa fé; olhar para Jesus, para preparar os nossos olhos para a linda visão do seu rosto, onde todos - o Senhor nos conceda a graça - nos encontraremos numa Missa sem fim. Assim seja.


Fonte: Santa Sé.

Ângelus do Papa: II Domingo da Quaresma - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
II Domingo da Quaresma, 16 de março de 2014

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje o Evangelho apresenta-nos o evento da Transfiguração. É a segunda etapa do caminho quaresmal: a primeira, as tentações no deserto, no domingo passado; a segunda, a Transfiguração. Jesus «tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, em particular, a um alto monte» (Mt 17,1). A montanha na Bíblia representa o lugar da proximidade com Deus e do encontro íntimo com Ele; o lugar da oração, no qual estar na presença do Senhor. Lá no monte, Jesus mostra-se aos três discípulos, luminoso, lindíssimo; e depois aparecem Moisés e Elias, que conversam com Ele. O seu rosto é tão esplendoroso e as suas vestes tão cândidas, que Pedro fica fulgurado, a ponto que queria permanecer ali, como que parar aquele momento. Imediatamente ressoa do alto a voz do Pai que proclama Jesus seu Filho predileto, dizendo: «ouvi-O» (v. 5). Esta palavra é importante! O nosso Pai que disse a estes apóstolos, e diz também a nós: «Ouvi Jesus, porque é o meu Filho predileto». Mantenhamos, esta semana, esta palavra na mente e no coração: «Ouvi Jesus!». E isto não é o Papa que o diz, é Deus Pai, a todos: a mim, a vós, a todos, todos! É como uma ajuda para ir em frente pelo caminho da Quaresma. «Ouvi Jesus!». Não esqueçais.

É muito importante este convite do Pai. Nós, discípulos de Jesus, somos chamados a ser pessoas que ouvem a sua voz e levam a sério as suas palavras. Para ouvir Jesus, é preciso estar próximos dele, segui-lo, como faziam as multidões do Evangelho que o seguiam pelas estradas da palestina. Jesus não tinha uma cátedra ou um púlpito fixos, era um mestre itinerante, que propunha os seus ensinamentos, que eram os ensinamentos que o Pai lhe tinha dado, ao longo das estradas, percorrendo trajetos nem sempre previsíveis e por vezes pouco fáceis. Seguir Jesus para o ouvir. Mas também ouvimos Jesus na sua Palavra escrita, no Evangelho. Faço-vos uma pergunta: vós leis todos os dias um trecho do Evangelho? Sim, não... sim, não... Metade e metade... Alguns sim e alguns não. Mas é importante! Leis o Evangelho? É bom; é bom ter um pequeno Evangelho, pequeno, e levá-lo conosco, no bolso, na carteira, e ler um pequeno trecho em qualquer momento do dia. Em qualquer momento do dia tiro do bolso o Evangelho e leio algo, um pequeno trecho. Nele é Jesus que fala, no Evangelho! Pensai nisto. Não é difícil, nem sequer necessário que sejam os quatro: um dos Evangelhos, pequeníssimo, conosco. Sempre o Evangelho conosco, porque é a Palavra de Jesus, para a poder ouvir.

Deste episódio da Transfiguração gostaria de indicar dois elementos significativos, que sintetizo em duas palavras: subida e descida. Precisamos de ir para um lugar apartado, de subir ao monte num espaço de silêncio, para nos reencontrarmos a nós mesmos e ouvir melhor a voz do Senhor. Fazemos isto na oração. Mas não podemos permanecer ali! O encontro com Deus na oração estimula-nos de novo a «descer do monte» e voltar para baixo, para a planície, onde encontramos tantos irmãos sobrecarregados por canseiras, doenças, injustiças, ignorâncias, pobreza material e espiritual. A estes nossos irmãos que estão em dificuldade, estamos chamados a levar os frutos da experiência que fizemos com Deus, partilhando a graça recebida. E isto é curioso. Quando ouvimos a palavra de Jesus, escutamos a Palavra de Jesus e a temos no coração, aquela Palavra cresce. E sabeis como cresce? Oferecendo-a ao próximo! A Palavra de Cristo em nós cresce quando a proclamamos, quando a oferecemos aos outros! É esta a vida cristã. É uma missão para toda a Igreja, para todos os batizados, para todos nós: ouvir Jesus e oferecê-lo aos outros. Não esqueçais: esta semana, ouvi Jesus! E pensai no Evangelho: o fareis? Fareis isto? Depois no próximo domingo me direis se fizestes isto: ter um pequeno Evangelho no bolso ou na carteira para ler um pequeno trecho durante o dia.

E dirijamo-nos agora à nossa Mãe Maria, e recomendemo-nos à sua guia para prosseguir com fé e generosidade este itinerário da Quaresma, aprendendo a «subir» um pouco mais com a oração e a ouvir Jesus, e a «descer» com a caridade fraterna, anunciando Jesus.


Fonte: Santa Sé.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Dom Henrique Soares nomeado Bispo de Palmares (PE)

Na manhã de hoje, 19 de março, Sua Santidade o Papa Francisco nomeou Dom Henrique Soares da Costa, até então Bispo Auxiliar de Aracaju (Sergipe), como Bispo de Palmares (Pernambuco).


Dom Henrique nasceu em 11 de abril de 1963, na cidade de Penedo (Alagoas). Ordenado em 15 de agosto de 1992 na Arquidiocese de Maceió, foi nomeado reitor da igreja de Nossa Senhora do Livramento. Também foi professor no Seminário Arquidiocesano e em outros institutos teológicos, além de Cônego do Cabido Metropolitano, Vigário Episcopal para os Leigos e Coordenador da Comissão Arquidiocesana de Formação Política.

Em 01 de abril de 2009, foi nomeado pelo Papa Bento XVI como Bispo Auxiliar de Aracaju, sendo-lhe confiada a Sé Titular de Acufida. Recebeu a Ordenação Episcopal em 19 de junho do mesmo ano.

Dom Henrique na Quarta-feira de Cinzas (2014)
Dom Henrique é conhecido por sua fidelidade à doutrina, seu zelo pela Liturgia e seu intenso apostolado na internet, onde mantém um site e um blog, além de um perfil no Facebook

Na diocese de Palmares, sucede a Dom Genival Saraiva de França, que solicitou ao Santo Padre sua renúncia por limite de idade. Dom Henrique é o terceiro bispo da diocese, criada em 1962. Sua posse está prevista para o dia 01 de junho, Domingo da Ascensão do Senhor.

D. Henrique no Sermão do Encontro (2014)

Informações: Santa Sé e Arquidiocese de Aracaju.

terça-feira, 18 de março de 2014

Fotos da Solenidade de São José no Seminário de Curitiba

No dia 19 de março, a Igreja celebra a Solenidade de São José, Esposo da Virgem Maria. Por ocasião desta data, gostaríamos de publicar aqui as fotos da Santa Missa desta Solenidade, celebrada no Seminário Menor São José da Arquidiocese de Curitiba no ano de 2009.

Nesta data comemoravam-se os 113 anos de fundação do Seminário e os 50 anos de sua instalação na atual casa, no bairro de Orleans. A Missa foi presidida por Sua Eminência Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, ex-aluno do Seminário.

Seguem algumas fotos, do arquivo do Seminário:

Procissão de entrada
Incensação do altar
Incensação da imagem de São José
Ritos iniciais
Oração do dia

segunda-feira, 17 de março de 2014

Sinaxe das igrejas ortodoxas

Entre os dias 06 e 09 de março deste ano, ocorreu na igreja patriarcal de São Jorge em Constantinopla (Istambul) a Sinaxe (reunião) dos Patriarcas das Igrejas Ortodoxas.

Estiveram presentes os patriarcas de 12 das 14 igrejas da Comunhão Ortodoxa que, a convite do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, reuniram-se em preparação ao Sínodo da Igreja Ortodoxa, a realizar-se no ano de 2016.

Este Sínodo, o primeiro a realizar-se desde o Grande Cisma do Oriente, tratará de importantes temas para a Ortodoxia: o diálogo com a igreja de Roma, a concessão de autonomia às igrejas ortodoxas nacionais e a ordem de precedência das igrejas.

Estiveram presentes os Patriarcas de Constantinopla, Alexandria, Jerusalém, Rússia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Geórgia, Chipre, Atenas, Polônia e Albânia. Ausentes os Patriarcas de Antioquia e da República Tcheca e Eslováquia.

A Sinaxe encerrou-se no domingo, dia 09, com a celebração da Divina Liturgia do I Domingo da Grande Quaresma, chamado de "Domingo da Ortodoxia".

Seguem algumas fotos, divulgadas pelo Patriarcado Ecumênico:

Oração inicial

Discurso do Patriarca Bartolomeu I

Patriarcas ortodoxos durante os trabalhos da Sinaxe

sexta-feira, 14 de março de 2014

Fotos do Retiro Quaresmal do Papa

No último dia 09 de março, I Domingo da Quaresma, Sua Santidade o Papa Francisco dirigiu-se com todos os Prefeitos e Secretários dos Dicastérios da Cúria Romana para a cidade de Ariccia, pequena localidade próxima a Roma, onde participaram na Casa Divino Mestre dos exercícios espirituais de Quaresma.

O pregador do retiro foi o Monsenhor Angelo De Donatis, pároco da igreja de São Marcos "al Campidoglio" em Roma. O tema de suas meditações foi a "purificação do coração".

O retiro iniciou-se na tarde do domingo e encerrou-se na manhã desta sexta-feira, dia 14.

Seguem algumas fotos do primeiro dia:

Chegada do Santo Padre


Primeira meditação

Oração das Vésperas

Ângelus do Papa: I Domingo da Quaresma - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
I Domingo da Quaresma, 09 de março de 2014

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho do I Domingo da Quaresma apresenta cada ano o episódio das tentações de Jesus, quando o Espírito Santo, que desceu sobre Ele depois do batismo no Jordão, o levou a enfrentar abertamente Satanás no deserto, por quarenta dias, antes de iniciar a sua missão pública.

O tentador procura desencorajar Jesus do projeto do Pai, isto é, do caminho do sacrifício, do amor que oferece a si mesmo em expiação, para lhe fazer empreender um caminho fácil, de sucesso e poder. O duelo entre Jesus e Satanás dá-se com uma troca de citações da Sagrada Escritura. Com efeito, para desencorajar Jesus do caminho da cruz, o diabo recorda-lhe as falsas esperanças messiânicas: o bem estar econômico, indicado pela possibilidade de transformar as pedras em pão; o estilo espetacular e milagroso, com a ideia de se lançar do ponto mais alto do templo de Jerusalém e de se fazer salvar pelos anjos; e por fim o atalho do poder e do domínio, em troca de um ato de adoração a Satanás. São os três grupos de tentações: também nós os conhecemos bem!

Jesus rejeita com decisão todas estas tentações e reafirma a vontade decidida de seguir o percurso estabelecido pelo Pai, sem qualquer compromisso com o pecado e com a lógica do mundo. Observai bem como Jesus responde. Ele não dialoga com Satanás, como tinha feito Eva no paraíso terrestre. Jesus sabe bem que com Satanás não se pode dialogar, porque é muito astuto. Por isso Jesus, em vez de dialogar como tinha feito Eva, escolhe refugiar-se na Palavra de Deus e responde com a força desta Palavra. Recordemo-nos disto: no momento da tentação, das nossas tentações, nenhum diálogo com Satanás, mas defendidos sempre pela Palavra de Deus! E isto nos salvará. Nas suas respostas a Satanás, o Senhor, usando a Palavra de Deus, recorda-nos antes de tudo que «não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4,4; cf. Dt 8,3); e isto dá-nos a força, ampara-nos na luta contra a mentalidade mundana que abaixa o homem ao nível das necessidades primárias, fazendo-lhe perder a fome do que é verdadeiro, bom e belo, a fome de Deus e do seu amor. Recorda ainda que «está escrito também: “Não porás à prova o Senhor teu Deus” (v. 7), porque o caminho da fé passa também pela escuridão, pela dúvida, e alimenta-se de paciência e expectativa perseverante. Por fim, Jesus recorda que «está escrito: “Adorarás ao Senhor, teu Deus: a Ele unicamente prestarás culto”» (v. 10); ou seja, devemos abandonar os ídolos, as coisas vãs, e construir a nossa vida sobre o essencial.

Depois estas palavras de Jesus encontrarão confirmação concreta nas suas ações. A sua fidelidade total ao desígnio de amor do Pai conduzi-lo-á após cerca de três anos à prestação de contas final com o «príncipe deste mundo» (Jo 16,11), na hora da paixão e da cruz, e ali Jesus alcançará a sua vitória definitiva, a vitória do amor!

Queridos irmãos, o tempo da Quaresma é ocasião propícia para todos nós cumprirmos um caminho de conversão, confrontando-nos sinceramente com esta página do Evangelho. Renovemos as promessas do nosso Batismo: renunciemos a Satanás e a todas as suas obras e seduções - porque ele é um sedutor - para caminhar pelas veredas de Deus e chegar à Páscoa na alegria do Espírito.


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Discurso do Papa aos párocos de Roma sobre a Misericórdia

No último dia 06 de Março, Quinta-feira após as Cinzas, Sua Santidade o Papa Francisco encontrou-se com os párocos de Roma por ocasião do início da Quaresma. Em seu discurso, centrado no tema da Misericórdia, o Santo Padre destaca o valor do Sacramento da Confissão:

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PÁROCOS DA DIOCESE DE ROMA
Sala Paulo VI, 6 de Março de 2014
  
Quando, juntamente com o Cardeal Vigário, pensamos neste encontro, eu disse-lhe que poderia preparar-vos uma meditação acerca do tema da misericórdia. No início da Quaresma far-nos-á bem meditar juntos, como sacerdotes, a propósito da misericórdia. E também para os fiéis, porque como pastores devemos ter muita misericórdia, muita!
O trecho do Evangelho de Mateus que ouvimos faz-nos dirigir o olhar para Jesus que caminha pelas estradas das cidades e dos povoados. E isto é curioso! Qual é o lugar onde se via Jesus mais frequentemente, onde era possível encontrá-lo com maior facilidade? Pelas estradas. Podia dar a impressão de ser um desabrigado, porque estava sempre a caminhar pelas estradas. A vida de Jesus era nas estradas. Isto ajuda-nos, sobretudo, a compreender a profundidade do seu coração, aquilo que Ele sente pelas multidões, pelas pessoas que encontra: aquela atitude interior de «compaixão»; vendo as multidões, sentiu compaixão. E isto porque Ele vê as pessoas «cansadas e extenuadas, como ovelhas sem pastor». Ouvimos muitas vezes estas palavras, que talvez não transmitam uma grande força. Contudo, são fortes! Um pouco como muitas das pessoas que vós encontrais hoje pelas ruas dos vossos bairros... Depois, o horizonte amplia-se e vemos que estas cidades e estas aldeias não são só Roma e a Itália, mas o mundo inteiro... e aquelas multidões exaustas são populações de numerosos países que continuam a sofrer devido a situações ainda mais difíceis...
Então, compreendemos que nós não estamos aqui para fazer um bonito exercício espiritual no início da Quaresma, mas para ouvir a voz do Espírito que fala à Igreja inteira nesta nossa época, que é precisamente o tempo da misericórdia. Disto estou persuadido! Não se trata apenas da Quaresma; nós vivemos num tempo de misericórdia, desde há trinta anos ou mais, até aos dias de hoje.
Na Igreja inteira é o tempo da misericórdia.
Esta foi uma intuição do beato João Paulo II. Ele teve a «perspicácia» de que este era o tempo da misericórdia. Pensemos na beatificação e canonização da Irmã Faustina Kowalska; em seguida, introduziu a festa da Divina Misericórdia. Gradualmente progrediu, foi em frente neste campo.
Na homilia para a canonização, que teve lugar em 2000, João Paulo II realçou que a mensagem de Jesus Cristo à Irmã Faustina se situa temporalmente entre as duas guerras mundiais, e está muito ligada à história do século XX. E, olhando para o futuro, afirmou: «O que nos trarão os anos que estão diante de nós? Como será o futuro do homem sobre a terra? A nós não é dado sabê-lo. Contudo, sem dúvida, ao lado de novos progressos infelizmente não faltarão experiências dolorosas. Mas a luz da Misericórdia Divina, que o Senhor quis como que entregar de novo ao mundo através do carisma da Irmã Faustina, iluminará o caminho dos homens do terceiro milénio». É claro! Em 2000 tornou-se explícito, mas era algo que no seu coração já ia amadurecendo havia muito tempo. Na sua oração, ele teve esta intuição.
Hoje nós esquecemos tudo depressa demais, e até o Magistério da Igreja! Em parte isto é inevitável, não podemos esquecer os grandes conteúdos, as intuições excelsas e as exortações transmitidas ao Povo de Deus. E a da Divina Misericórdia é uma delas. É uma herança que ele nos deixou, mas que provém do alto. Compete a nós, como ministros da Igreja, manter viva esta mensagem, principalmente na pregação e nos gestos, nos sinais e nas escolhas pastorais, por exemplo na escolha de voltar a dar prioridade ao sacramento da Reconciliação e, ao mesmo tempo, às obras de misericórdia. Reconciliar, fazer as pazes através do Sacramento, mas também mediante as palavras e as obras de misericórdia.
O que significa misericórdia para os sacerdotes?
Vem ao meu pensamento a constatação de que alguns de vós me telefonaram, me escreveram uma carta, e depois eu falei ao telefone... «Mas Padre, por que motivo te zangas com os sacerdotes?». Pois diziam que eu agredia os sacerdotes! Não vos quero espancar aqui...
Interroguemo-nos sobre o que significa misericórdia para um presbítero; permiti-me dizê-lo para nós, sacerdotes. Para nós, para todos nós! Os presbíteros comovem-se diante das ovelhas, como Jesus, quando via as pessoas cansadas e exaustas, como ovelhas sem pastor. Jesus tem as «vísceras» de Deus, e Isaías fala muito sobre isto: vive cheio de ternura pelas pessoas, especialmente por quantos são excluídos, ou seja os pecadores, os doentes dos quais ninguém se ocupa... Deste modo, à imagem do Bom Pastor, o presbítero é um homem de misericórdia e de compaixão, está perto do seu povo e é servidor de todos. Este é um critério pastoral que gostaria de pôr em grande evidência: a proximidade! A proximidade e o serviço, mas a proximidade, a afinidade! ... Quem quer que se encontre ferido na própria vida, de qualquer maneira, pode encontrar nele atenção e escuta... Em particular, o sacerdote demonstra vísceras de misericórdia na administração do sacramento da Reconciliação; demonstra-o em todas as suas atitudes, no seu modo de acolher, de ouvir, de aconselhar e de absolver... Todavia, isto deriva do seu modo de viver o Sacramento em primeira pessoa, da forma como ele se deixa abraçar por Deus Pai na Confissão, permanecendo no interior deste abraço... Se vivermos isto em nós mesmos, no nosso próprio coração, poderemos também oferecê-lo aos outros no ministério. E agora faço-vos esta pergunta: como me confesso? Deixo-me abraçar? Vem-me ao pensamento um grande sacerdote de Buenos Aires, é mais jovem do que eu, talvez tenha 72 anos... Uma vez ele veio visitar-me. É um grande confessor: para ele há sempre fila... A maioria dos sacerdotes vão à sua procura para se confessar... É um grande confessor! E uma vez ele veio ter comigo: «Mas Padre...», «Diz-me», «Eu tenho um pouco de escrúpulo, porque sei que perdoo demais!»; «Reza... se tu perdoas demais...». E falamos sobre a misericórdia. A uma certa altura ele disse-me: «Sabes, quando sinto que este escrúpulo é forte vou à capela, diante do Tabernáculo, digo-lhe: perdoa-me, a culpa é tua, porque Tu me deste o mau exemplo! E vou embora tranquilo...». É uma bonita prece de misericórdia! Se na Confissão vivermos isto em nós mesmos, no nosso próprio coração, também o poderemos oferecer aos outros.
O sacerdote é chamado a aprender isto, a ter um coração que se comove. Os presbíteros - permiti que use esta palavra - «assépticos», aqueles «de laboratório», completamente limpos e bonitos, não ajudam a Igreja. Hoje podemos pensar a Igreja como um «hospital de campo». Isto, perdoai-me se repito, porque o vejo assim, porque o sinto assim: um «hospital de campo». É necessário curar as feridas, e elas são numerosas. Há tantas chagas! Existem muitas pessoas feridas por problemas materiais, por escândalos, até na Igreja... Pessoas feridas pelas ilusões do mundo... Nós, sacerdotes, devemos estar ali, próximos destas pessoas. Misericórdia significa, antes de tudo, curar as feridas. Quando alguém está ferido, tem necessidade imediata disto, não de análises, como os valores do colesterol, da glicemia... Mas quando há uma ferida, curemo-la e depois vejamos as análises. Em seguida, façam-se os tratamentos com um especialista, mas antes é necessário curar as chagas abertas. Para mim, neste momento, isto é mais importante. E existem também feridas escondidas, porque há pessoas que se afastam, para que não se lhes vejam as feridas... Vem-me ao pensamento o hábito, para a lei mosaica na época de Jesus de afastar sempre os leprosos para que não contagiassem... Há pessoas que se distanciam porque sentem vergonha, aquela vergonha que lhes impede de mostrar as chagas... E afastam-se talvez um pouco melindradas com a Igreja, mas no fundo, lá dentro, há uma ferida... O que elas querem é um afago! E vós, amados irmãos - pergunto-vos - conheceis as feridas dos vossos paroquianos? Conseguis intuí-las? Permaneceis próximos deles? É a única pergunta...
Misericórdia significa nem mãos-largas nem rigor.
Voltemos ao sacramento da Reconciliação. Nós, sacerdotes, ouvimos muitas vezes a experiência dos nossos fiéis, que nos descrevem como encontraram na Confissão um presbítero muito «rigoroso», ou então muito «largo»,rigorista ou laxista. E isto não deve ser assim. Que entre os confessores haja diferenças de estilo, é normal, mas tais diferenças não podem referir-se à substância, ou seja, à sã doutrina moral e à misericórdia. Nem o laxista nem o rigorista dão testemunho de Jesus Cristo, porque nem um nem outro faz bem à pessoa com a qual se encontra. O rigorista lava as próprias mãos: com efeito, fixa-se na lei entendida de modo insensível e rígido; também o laxista lava as próprias mãos: só aparentemente é misericordioso, mas na realidade não leva a sério o problema daquela consciência, minimizando assim o pecado. A verdadeira misericórdia interessa-se pela pessoa, ouve-a atentamente, aproxima-se com respeito e com verdade da sua situação, acompanhando-a no caminho da reconciliação. Sim, não há dúvida, isto é cansativo. O sacerdote verdadeiramente misericordioso comporta-se como o Bom Samaritano... mas porque motivo age assim? Porque o seu coração é capaz de compaixão, é o Coração de Cristo!
Sabemos bem que nem o laxismo nem o rigorismo fazem crescer a santidade. Talvez alguns rigoristas possam parecer santos, santos... Contudo, pensai em Pelágio, e depois poderemos falar... Eles não santificam o sacerdote, nem santificam o fiel; nem o laxismo, nem o rigorismo! Ao contrário, a misericórdia acompanha o caminho da santidade, acompanha-a e fá-la desenvolver-se... É demasiado trabalho para um pároco? É verdade, é demasiado trabalho! E de que modo ele acompanha e faz progredir o caminho da santidade? Através do sofrimento pastoral, que é uma forma de misericórdia. O que significa sofrimento pastoral? Quer dizer sofrer pelas pessoas e com as pessoas. E isto não é fácil! Sofrer como um pai e como uma mãe sofrem pelos seus próprios filhos; permiti que diga, até com ansiedade...
Para me explicar, também eu vos dirijo algumas interrogações, que me ajudam, quando um sacerdote vem ter comigo. Ajudam-me também quando me encontro a sós com o Senhor!
Diz-me: tu choras? Ou perdemos as lágrimas? Recordo que os Missais antigos, aqueles de outrora, contêm uma oração extremamente bonita para pedir o dom das lágrimas. A oração encetava assim: «Senhor, Vós que confiastes a Moisés o mandato de bater na pedra para que dela brotasse a água, batei na pedra do meu coração, para que eu verta lágrimas...»: aquela oração era assim, mais ou menos assim. Era muito bonita! Contudo, quantos de nós choram diante do sofrimento de uma criança, perante a destruição de uma família, diante de tantas pessoas que não encontram o seu caminho? ... O pranto do sacerdote... Tu choras? Ou neste presbitério nós perdemos as lágrimas?
Tu choras pelo teu povo? Diz-me, tu recitas a prece de intercessão diante do Tabernáculo?
Tu lutas com o Senhor pelo teu povo, como Abraão lutou: «E se houver menos? E se houver só 25? E se houver só 20?...» (cf. Gn 18, 22-33). Aquela prece de intercessão cheia de coragem... Nós falamos de parrésia, de intrepidez apostólica, e pensamos nos planos pastorais, o que é bom, mas também a própria parrésia é necessária na oração. Tu lutas com o Senhor? Debates com o Senhor como fez Moisés? Quando o Senhor estava farto, cansado do seu povo, disse-lhe: «Fica tranquilo... Eu... destruirei todos, e far-te-ei chefe de um outro povo». «Não, não! Se Vós destruirdes o povo, destruireis também a mim!». Mas eles eram intrépidos! E eu faço-vos uma pergunta: também nós somos intrépidos, para lutar com Deus pelo nosso povo?
Dirijo-vos mais uma pergunta: à noite, como terminais o vosso dia? Com o Senhor, ou com a televisão?
Como é o teu relacionamento com aqueles que te ajudam a tornar-te mais misericordioso? Ou seja, como é o teu relacionamento com as crianças, com as pessoas idosas, com os enfermos? Tu sabes acariciá-los, ou tens vergonha de afagar um idoso?
Não tenhas vergonha da carne do teu irmão (cf. Reflexiones en esperanza, I cap.). No final, seremos julgados segundo o modo como soubemos aproximar-nos de «cada carne» — como se diz em Isaías. Não te envergonhes da carne do teu irmão! «Aproximemo-nos»: proximidade, afinidade; aproximemo-nos da carne do nosso irmão. O sacerdote e o levita que passaram antes do Bom Samaritano não souberam aproximar-se daquela pessoa maltratada pelos bandidos. O seu coração estava fechado. Talvez o sacerdote tenha visto o relógio, dizendo: «Devo ir à Missa, não posso chegar atrasado para a Missa», e foi embora. Justificações! Quantas vezes nós encontramos justificações, a fim de evitar um problema, uma pessoa. O outro, o levita, ou o doutor da lei, o advogado, disse: «Não, não posso, porque se eu fizer isto, amanhã terei que prestar testemunho e perderei tempo...». Desculpas! ... Eles tinham o coração fechado. Mas o coração fechado justifica-se sempre por aquilo que não leva a cabo. Mas o samaritano, ao contrário, abre o seu coração, deixa-se comover nas suas vísceras, e este movimento interior traduz-se em obra prática, numa intervenção concreta para ajudar aquela pessoa.
No fim dos tempos, só serão admitidos à contemplação da carne glorificada de Cristo aqueles que não se tiverem envergonhado da carne do seu irmão ferido e excluído.
Confesso-vos - e isto faz-me bem - que às vezes leio o elenco sobre o qual eu serei julgado, faz-me bem: ele encontra-se no cap. 25 de Mateus.
Foram estas as coisas que vieram ao meu pensamento, para as compartilhar convosco. Elas são um pouco assim, são como me vieram... [O cardeal Vallini: «Um bom exame de consciência»] Isto far-nos-á bem. [aplauso].
Em Buenos Aires - falo-vos agora de outro presbítero - havia um confessor famoso: ele era sacramentino. Praticamente todo o clero ia confessar-se com ele. Quando João Paulo II pediu um confessor à Nunciatura, numa das duas vezes que veio, ele foi escolhido. É idoso, muito idoso... Foi o provincial da sua Ordem, foi professor... mas sempre confessor, sempre. E na igreja do Santíssimo Sacramento havia sempre fila. Naquela época, eu era vigário-geral e residia na sede da Cúria. Todos os dias de manhã cedo eu descia à sala do fax para ver se tinha chegado algo. E na manhã de Páscoa li um fax enviado pelo superior da comunidade: «Ontem, meia hora antes da Vigília pascal, faleceu o padre Aristi, com 94 - ou 96? - anos. O funeral terá lugar em tal dia...». E na manhã de Páscoa eu tinha que ir almoçar com os presbíteros da casa de repouso - como de costume eu fazia na Páscoa - e então - disse comigo mesmo - depois do almoço irei à igreja. Era uma igreja grande, muito grande, com uma cripta particularmente bonita. Desci à cripta e lá estava o féretro; só estavam presentes duas velhinhas que rezavam, e não havia flores. Pensei: mas este homem, que perdoou os pecados a todo o clero de Buenos Aires, e também a mim, nem sequer uma flor... Subi e fui a um florista - porque em Buenos Aires há floristas nas esquinas, ao longo das ruas, nos lugares onde passam as pessoas - e então comprei algumas flores, rosas... Depois, voltei e comecei a preparar bem o caixão, com as flores... Olhei para o Rosário que ele tinha nas mãos... Veio-me algo imediatamente ao pensamento - aquele ladrão que todos temos dentro de nós, não? - e enquanto eu arranjava as flores, peguei na cruz do Rosário e, com um pouco de força, arranquei-a. Naquele momento olhei para ele e disse: «Concede-me metade da tua misericórdia». Senti uma força que me incutiu a coragem de fazer isto e de recitar aquela oração! Em seguida, coloquei aquela cruz aqui, no bolso. As camisas do Papa não têm bolsos, mas eu trago-a sempre comigo num saquinho de pano e, desde aquele dia até hoje, aquela cruz está comigo. E quando me vem um pensamento mau contra uma pessoa qualquer, a minha mão vem sempre para o peito, sempre. E sinto a graça! Sinto que me faz bem. [aplauso]. Como faz bem o exemplo de um sacerdote misericordioso, de um presbítero que se aproxima das feridas...
Se pensardes, também vós indubitavelmente conhecestes tantos, muitos, porque os sacerdotes da Itália são bons. São bons! Na minha opinião, se a Itália ainda é tão forte, não é tanto por causa dos seus Bispos, quanto dos párocos, dos presbíteros! É verdade, isto é verdade! Não vos incenso um pouco para vos confortar, mas sinto que é assim!
Misericórdia. Pensai nos numerosos sacerdotes que se encontram no Céu e pedi-lhes esta graça! Que vos concedam aquela misericórdia que eles mesmos tiveram para com os seus fiéis. Isto faz bem!
Muito obrigado pela escuta e por terdes vindo aqui!


Fonte: Santa Sé