segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Ângelus: I Domingo do Advento - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 29 de novembro de 2020

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, I Domingo do Advento, começa um novo Ano Litúrgico. Nele a Igreja cadencia o curso do tempo com a celebração dos principais acontecimentos da vida de Jesus e da história da salvação. Ao fazê-lo, como Mãe, ilumina o caminho da nossa existência, ajuda-nos nas ocupações diárias e orienta-nos para o encontro final com Cristo. A Liturgia de hoje convida-nos a viver o primeiro “tempo forte” que é o do Advento, o primeiro do Ano Litúrgico, o Advento, que nos prepara para o Natal, e devido a esta preparação é um tempo de espera, um tempo de esperança. Espera e esperança.

São Paulo indica o objeto da espera (cf. 1Cor 1,3-9). Qual é? A «manifestação do Senhor» (v. 7). O Apóstolo convida os cristãos de Corinto, e nós também, a concentrar a atenção no encontro com a pessoa de Jesus. Para o cristão, o mais importante é o encontro contínuo com o Senhor, estar com o Senhor. E assim, habituados a estar com o Senhor da vida, preparamo-nos para o encontro, para estar com o Senhor na eternidade. E este encontro definitivo virá no fim do mundo. Mas o Senhor vem todos os dias, pois com a sua graça podemos praticar o bem na nossa vida e na dos outros. O nosso Deus é um Deus-que-vem - não vos esqueçais disto: Deus é um Deus que vem, vem continuamente -, Ele não desilude a nossa expectativa! O Senhor nunca desilude! Talvez nos faça esperar, nos faça esperar alguns momentos na escuridão para fazer amadurecer a nossa esperança, mas nunca desilude. O Senhor vem sempre, está sempre ao nosso lado. Às vezes não se manifesta, mas vem sempre. Veio num momento histórico específico e fez-se homem para assumir sobre si os nossos pecados - a festividade do Natal comemora esta primeira vinda de Jesus no momento histórico -; virá no fim dos tempos como juiz universal; e vem também uma terceira vez, de um terceiro modo: vem cada dia para visitar o seu povo, para visitar cada homem e mulher que o acolhe na Palavra, nos Sacramentos, nos irmãos e irmãs. Jesus, diz-nos a Bíblia, está à porta e bate. Cada dia. Está à porta do nosso coração. Bate à porta. Sabes ouvir o Senhor que bate à porta, que veio hoje para te visitar, que bate à porta do teu coração com uma inquietação, com uma ideia, com uma inspiração? Veio a Belém, virá no fim do mundo, mas vem a nós cada dia. Prestai atenção, vede o que sentis no coração quando o Senhor bate à porta.

Sabemos que a vida é feita de altos e baixos, de luzes e sombras. Cada um de nós experimenta momentos de desilusão, de fracasso e de confusão. Além disso, a situação em que vivemos, marcada pela pandemia, gera em muitas pessoas preocupação, medo e desânimo; corremos o risco de cair no pessimismo, o risco de cair no fechamento e na apatia. Como devemos reagir diante de tudo isto? O Salmo de hoje sugere-nos: «A nossa alma espera no Senhor, porque Ele é o nosso amparo e o nosso escudo. É nele que se alegra o nosso coração» (Sl 32,20-21). Ou seja, a alma que espera, uma expectativa confiante no Senhor faz encontrar alívio e coragem nos momentos sombrios da existência. E de onde brotam esta coragem e esta aposta confiante? De onde brotam? Nascem da esperança. E a esperança não desilude, é a virtude que nos leva em frente, em vista do encontro com o Senhor.

O Advento é um apelo incessante à esperança: lembra-nos que Deus está presente na história para levá-la ao seu fim último, para levá-la à sua plenitude, que é o Senhor, o Senhor Jesus Cristo. Deus está presente na história da humanidade, é o «Deus conosco», Deus não está longe, está sempre conosco, a tal ponto que muitas vezes bate à porta do nosso coração. Deus caminha ao nosso lado para nos amparar. O Senhor não nos abandona; acompanha-nos nas nossas vicissitudes existenciais para nos ajudar a descobrir o sentido do caminho, o significado da vida diária, para nos incutir coragem nas provações e na dor. No meio das tempestades da vida, Deus estende-nos sempre a mão e liberta-nos das ameaças. Isto é bom! No Livro do Deuteronômio há um trecho muito bonito, onde o profeta diz ao povo: “Pensai, que povo tem os seus deuses perto de si, como tu me tens perto de ti?”. Nenhum, só nós temos esta graça de ter Deus perto de nós. Aguardamos Deus, esperamos que Ele se manifeste, mas também Ele espera que nos manifestemos a Ele!

Maria Santíssima, Mulher da expetativa, acompanhe os nossos passos neste novo ano litúrgico que começamos, ajudando-nos a cumprir a tarefa dos discípulos de Jesus, indicada pelo Apóstolo Pedro. E em que consiste esta tarefa? Em explicar a razão da nossa esperança (cf1Pd 3,15).

"A Luz do Mundo" (Detalhe)
(William Hunt - séc. XIX)

Fonte: Santa Sé.

Fotos da Missa do Papa no I Domingo do Advento

No último dia 29 de novembro o Papa Francisco celebrou no altar da Cátedra da Basílica Vaticana a Santa Missa do I Domingo do Advento com os novos Cardeais criados no Consistório do sábado, dia 28.

O Santo Padre foi assistido pelo Monsenhor Guido Marini. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada
Incensação
Ritos iniciais

Leituras

Homilia do Papa: I Domingo do Advento - Ano B

Santa Missa com os novos Cardeais
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro, Altar da Cátedra
29 de novembro de 2020

As leituras de hoje sugerem-nos duas palavras-chave para o Tempo de Advento: proximidade e vigilância. Proximidade de Deus e vigilância nossa: enquanto o profeta Isaías diz que Deus está perto de nós, Jesus, no Evangelho, exorta-nos a vigiar à espera d’Ele.

Proximidade. Isaías começa tratando a Deus por «Tu»: «Tu és o nosso Pai» (Is 63,16). E continua: «Nunca nenhum ouvido ouviu (...) que algum deus, exceto Tu, fizesse tanto por quem nele confia» (Is 64,3). Saltam-nos à mente as seguintes palavras do Deuteronômio: quem «está próximo [de nós, como] o Senhor, nossos Deus, sempre que O invocamos?» (Dt 4,7). O Advento é o tempo para nos lembrarmos da proximidade de Deus, que desceu até nós. Mas o profeta vai mais além e pede a Deus que volte a aproximar-Se: «Quem dera que rasgasses os céus e descesses!» (Is 63,19). E pedimo-lo também nós, no Salmo: «Ó Deus do universo, volta, por favor», e «vem salvar-nos!» (cf. Sl 80,15.3). Ó «Deus, vinde em nosso auxílio! Senhor, socorrei-nos e salvai-nos»: assim damos, muitas vezes, início à nossa oração. O primeiro passo da fé é dizer ao Senhor que precisamos d’Ele, da sua proximidade.

E a primeira mensagem do Advento e do Ano Litúrgico é também reconhecer Deus próximo e dizer-Lhe: «Aproximai-Vos de novo!» Ele quer vir para junto de nós, mas… propõe-Se; não Se impõe. Cabe a nós não nos cansarmos de Lhe dizer: «Vinde!». Cabe a nós repetir a oração do Advento: «Vinde!». Jesus - lembra-nos o Advento - veio entre nós e voltará no fim dos tempos. Mas - perguntamo-nos - de que nos servem tais vindas, se não vem hoje à nossa vida? Convidemo-Lo. Façamos nossa esta invocação caraterística do Advento: «Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22,20). Com esta invocação, termina o Livro do Apocalipse: «Vem, Senhor Jesus!» Podemos dizê-la ao princípio de cada dia e repeti-la com frequência, antes das reuniões, do estudo, do trabalho e das decisões a tomar, nos momentos mais importantes e nos de provação: Vem, Senhor Jesus! Uma oração breve, mas vinda do coração. Repitamo-la neste tempo de Advento: «Vem, Senhor Jesus!».

Invocando assim a sua proximidade, treinaremos a nossa vigilância. Hoje o Evangelho de Marcos propôs-nos a parte final do último discurso de Jesus, que se condensa numa única palavra: «Vigiai!» O Senhor repete-a quatro vezes, em cinco versículos (cf. Mc 13, 33-35.37). É importante permanecer vigilantes, porque na vida é um erro perder-se em mil coisas e não se dar conta de Deus. Dizia Santo Agostinho: «Timeo Iesum transeuntem… - tenho medo que Jesus passe sem me dar conta» (Sermones, 88, 14, 13). Arrastados pelos nossos interesses - sentimo-lo todos os dias -, distraídos por tantas vaidades, corremos o risco de perder o essencial. Por isso, hoje, o Senhor repete «a todos: Vigiai!» (Mc 13,37). Vigiai, estai atentos!

Mas, se devemos velar, quer dizer que nos encontramos na noite. É verdade! Agora não vivemos no dia, mas à espera do dia por entre obscuridades e fadigas. O dia chegará, quando estivermos com o Senhor. Chegará, não desfaleçamos! A noite passará, surgirá o Senhor e virá julgar-nos, Ele que morreu na cruz por nós. Vigiar é esperar isto, é não se deixar dominar pelo desânimo: a isto se chama viver na esperança. Como antes de nascer fomos esperados por quem nos amava, assim agora somos esperados pelo Amor em pessoa. E, se somos esperados no Céu, para quê viver de pretensões terrenas? Para que esfalfar-se por um pouco de dinheiro, de fama, de sucesso... coisas todas que passam? Para que perder tempo a lamentar-se da noite, se nos espera a luz do dia? Para que buscar «padrinhos» para se conseguir uma promoção e subir, ser promovido na carreira? Tudo passa. Vigiai: diz o Senhor.

Manter-se acordado não é fácil; antes, é uma coisa muito difícil: é natural dormir de noite. Não o conseguiram os discípulos de Jesus, a quem Ele dissera que vigiassem «à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo, de manhãzinha» (cfMc 13,35). E, precisamente nessas horas, não estiveram vigilantes: à tarde, durante a Última Ceia, traíram Jesus; de noite, adormeceram; ao cantar do galo, renegaram-No; de manhãzinha, deixaram-No condenar à morte. Não velaram. Adormeceram. Mas o mesmo torpor pode descer também sobre nós. Há um sono perigoso: o sono da mediocridade. Sobrevém quando esquecemos o primeiro amor e avançamos apenas por inércia, prestando atenção somente a viver tranquilos. Mas, sem ímpetos de amor a Deus, sem esperar a sua novidade, tornamo-nos medíocres, tíbios, mundanos. E isto corrói a fé, porque a fé é o contrário da mediocridade: é desejo ardente de Deus, audácia contínua em converter-se, coragem de amar, é caminhar sempre para diante. A fé não é água que apaga, mas fogo que queima; não é um calmante para quem está agitado, mas uma história de amor para quem está enamorado! Por isso, Jesus detesta acima de tudo a tibieza (cfAp 3,16). Vê-se o desprezo de Deus pelos tíbios.

E como podemos despertar do sono da mediocridade? Com a vigilância da oração. Rezar é acender uma luz na noite. A oração desperta da tibieza de uma vida horizontal, levanta o olhar para o alto, sintoniza-nos com o Senhor. A oração permite a Deus estar perto de nós; por isso liberta da solidão e dá esperança. A oração oxigena a vida: tal como não se pode viver sem respirar, assim também não se pode ser cristão sem rezar. E há tanta necessidade de cristãos que vigiem por quem dorme, de adoradores, de intercessores que, dia e noite, levem à presença de Jesus, luz do mundo, as trevas da história. Há necessidade de adoradores. Perdemos um pouco o sentido da adoração: permanecer em silêncio diante do Senhor, adorando. Isto é a mediocridade, a tibieza.

Mas existe outro sono interior: o sono da indiferença. Os indiferentes veem tudo igual, como se fosse de noite; e não se interessam por quem está perto deles. Quando orbitamos apenas em torno de nós mesmos e das nossas necessidades, indiferentes às dos outros, a noite desce sobre o coração. O coração torna-se escuro. Rapidamente começamos a lamentar-nos de tudo, sentindo-nos vítima de todos e, por fim, tramamo-los em tudo. Lamentações, sensação de ser vítima e conjuras: é uma corrente... Atualmente, parece que esta noite caiu sobre muitos: reivindicam para si próprios e desinteressam-se dos outros.

Como acordar deste sono da indiferença? Com a vigilância da caridade. Para projetar luz sobre o referido sono da mediocridade, da tibieza, temos a vigilância da oração. Para despertar deste sono da indiferença, temos a vigilância da caridade. A caridade é o coração pulsante do cristão: tal como não se pode viver sem pulsação, assim também não se pode ser cristão sem caridade. Pensam alguns que sentir compaixão, ajudar, servir seja próprio de perdedores, quando, na realidade, é a única coisa vitoriosa, porque já está projetada para o futuro, para o dia do Senhor, quando há de passar tudo ficando apenas o amor. É com as obras de misericórdia que nos aproximamos do Senhor. Pedimo-lo hoje na oração da coleta: «Despertai, Senhor, nos vossos fiéis a vontade firme de se preparem, pela prática das boas obras, para ir ao encontro de Cristo». A vontade de ir ao encontro de Cristo com as boas obras. Jesus vem e o caminho para ir ao seu encontro está assinalado: são as obras de caridade.

Queridos irmãos e irmãs, rezar e amar: aqui está a vigilância. Quando a Igreja adora a Deus e serve o próximo, não vive na noite. Ainda que esteja cansada e provada, caminha rumo ao Senhor. Invoquemo-Lo: Vinde, Senhor Jesus! Precisamos de Vós. Vinde para junto de nós. Vós sois a luz: despertai-nos do sono da mediocridade; despertai-nos das trevas da indiferença. Vinde, Senhor Jesus! Tornai vigilantes os nossos corações que agora vivem distraídos: fazei-nos sentir o desejo de rezar e a necessidade de amar.


Fonte: Santa Sé.

domingo, 29 de novembro de 2020

Títulos e Diaconias dos novos Cardeais - 2020

No início da Igreja a eleição do Papa era feita pelos Bispos das dioceses vizinhas e pelos presbíteros e diáconos da Diocese de Roma.

Atualmente, como a eleição do Papa compete ao Colégio Cardinalício, este se divide em três ordens: os Cardeais Bispos, os Cardeais Presbíteros e os Cardeais Diáconos.

A cada Cardeal é confiado o cuidado espiritual de uma das igrejas de Roma, como sinal de seu vínculo com o Papa. Geralmente os Cardeais que são Bispos diocesanos recebem um título presbiteral e os Cardeais da Cúria Romana recebem uma diaconia.

Eis, pois, as igrejas confiadas aos Cardeais criados no último Consistório, no dia 28 de novembro de 2020:

Cardeal Mario Grech
Cardeal Diácono dos Santos Cosme e Damião
Esta Diaconia pertencia ao Cardeal Stella, promovido a Cardeal Bispo em 2020.

Cardeal Marcello Semeraro
Cardeal Diácono de Santa Maria in Domnica
Esta Diaconia pertencia ao Cardeal Levada, falecido em 2019.

Cardeal Antoine Kambanda
Cardeal Presbítero do Título de São Sisto
Este Título pertencia ao Cardeal Jaworski, falecido em 2020.

Cardeal Wilton Daniel Gregory
Cardeal Presbítero do Título da Imaculada Conceição de Maria a Grottarossa
Este Título pertencia ao Cardeal Gulbinowicz, falecido em 2020.

Cardeal Jose Fuerte Advincula
Cardeal Presbítero do Título de São Vigílio
Este é um Título novo.

Cardeal Celestino Aós Braco
Cardeal Presbítero do Título dos Santos Nereu e Aquiles
Este Título pertencia ao Cardeal McCarrick, que renunciou em 2018.

Cardeal Cornelius Sim
Cardeal Presbítero do Título de São Judas Tadeu Apóstolo
Este é um Título novo.

Cardeal Augusto Paolo Lojudice
Cardeal Presbítero do Título de Santa Maria do Bom Conselho
Este é um Título novo.

Cardeal Mauro Gambetti
Cardeal Diácono do Santíssimo Nome de Maria al Foro Traiano
Esta Diaconia pertencia ao Cardeal Castrillón Hoyos, falecido em 2018.

Cardeal Felipe Arizmendi Esquivel
Cardeal Presbítero do Título de São Luís Maria Grignion de Montfort
Este Título pertencia ao Cardeal Serafim Fernandes de Araújo, falecido em 2019.

Cardeal Silvano Maria Tomasi
Cardeal Diácono de São Nicolau in Carcere
Esta Diaconia pertencia ao Cardeal Grocholewski, falecido em 2020.

Cardeal Raniero Cantalamessa
Cardeal Diácono de Santo Apolinário alle Terme Neroniane-Alessandrine
Esta Diaconia pertencia ao Cardeal Tauran, falecido em 2018.

Cardeal Enrico Feroci
Cardeal Diácono de Santa Maria do Divino Amor a Castel di Leva
Esta é uma Diaconia nova.

Com o Consistório do dia 28 de novembro de 2020, o sétimo do pontificado do Papa Francisco, o Colégio Cardinalício passa a contar com 229 membros, sendo 128 Cardeais eleitores em um eventual conclave e 101 Cardeais não-eleitores (com mais de 80 anos).


Com informações do site da Santa Sé.

Papa Francisco e os novos Cardeais visitam Bento XVI

Como nos anos anteriores, após o Consistório para criação de Cardeais do último dia 28 de novembro, o Papa Francisco e os novos Cardeais dirigiram-se ao Mosteiro Mater Eclesiae nos Jardins Vaticanos para uma visita ao Papa Emérito Bento XVI.

O Papa Emérito, já bastante debilitado fisicamente, saudou cada um dos Cardeais e, após a oração da Salve Regina (Salve Rainha), concedeu a sua bênção.






Fotos do Consistório para criação de novos Cardeais

No último dia 28 de novembro o Papa Francisco presidiu no altar da Cátedra da Basílica Vaticana o 7º Consistório para criação de Cardeais do seu pontificado.

Foram criados 13 novos Cardeais, sendo 09 eleitores em um eventual conclave, conforme anunciado no último dia 25 de outubro.

Estiveram ausentes os Cardeais Jose Advincula (Filipinas) e Cornelius Sim (Brunei), que receberão as insígnias posteriormente por um legado do Papa.

O Santo Padre foi assistido pelo Monsenhor Guido Marini. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Para ler a homilia do Papa na ocasião, clique aqui.

Barretes, anéis e bulas a serem entregues aos novos Cardeais
Entrada dos novos Cardeais
Procissão de entrada
Saudação do Cardeal Grech

Homilia do Papa: Consistório para criação de novos Cardeais

Consistório Ordinário Público para a criação de 13 novos Cardeais
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Sábado, 28 de novembro de 2020

Jesus e os discípulos «iam a caminho...». A cena descrita pelo evangelista Marcos (Mc 10,32-45) passa-se no caminho. E, no mesmo ambiente, se desenrola o percurso da Igreja: o caminho da vida, da história, que é história de salvação na medida em que o percorrermos com Cristo, rumo ao seu Mistério Pascal. À nossa frente, sempre temos Jerusalém. A Cruz e a Ressurreição pertencem à nossa história: são o nosso hoje, mas constituem sempre também a meta do nosso caminho.
Este texto do Evangelho já várias vezes acompanhou os Consistórios para a criação de novos Cardeais. Não é apenas o «pano de fundo», mas uma «indicação de percurso» para nós, que hoje estamos a caminho juntos com Jesus. Ele avança à nossa frente; é a força e o sentido da nossa vida e do nosso ministério.
Assim, amados irmãos, hoje cabe a nós medir-nos com esta Palavra evangélica.
Marcos destaca que, ao longo do caminho, os discípulos «estavam espantados (...) estavam cheios de medo» (v. 32). Mas por quê? Porque sabiam aquilo que os esperava em Jerusalém; intuíam-no; melhor, sabiam-no porque Jesus já lhes falara disso, abertamente, mais do que uma vez. O Senhor conhece o estado de ânimo daqueles que O seguem, e isso não O deixa indiferente. Jesus nunca abandona os seus amigos; jamais os transcura. Mesmo quando parece cortar a direito pelo seu caminho, sempre o faz por nós: tudo o que faz, fá-lo por nós, pela nossa salvação. E, neste caso específico dos Doze, fá-lo para prepará-los para a provação, a fim de conseguirem estar com Ele agora e sobretudo depois, quando Jesus já não estiver no meio deles. Para que estejam sempre com Ele e sigam pelo seu caminho.
Sabendo que o coração dos discípulos está turbado, Jesus chama à parte os Doze e diz-lhes «de novo (...) o que Lhe ia acontecer» (v. 32). Foi o que ouvimos: é o terceiro anúncio da sua Paixão, Morte e Ressurreição. Este é o caminho do Filho de Deus, o caminho do Servo do Senhor. E Jesus identifica-Se de tal modo com esse caminho, que Ele próprio é este caminho: «Eu sou o caminho» (Jo 14,6). Este caminho; e não outro.
E, neste ponto, sucede um imprevisto que agita a situação, permitindo a Jesus revelar a Tiago e a João - na realidade, porém, a todos os Apóstolos e a nós todos - o destino que os espera. Imaginemos a cena: depois de voltar a explicar o que Lhe deve acontecer em Jerusalém, Jesus fixa bem os Doze, olhos nos olhos, como se dissesse: «Está claro?» Em seguida, retoma o caminho à cabeça do grupo. Mas, do grupo, separam-se dois: Tiago e João. Aproximam-se de Jesus e exprimem-Lhe um desejo: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda» (Mc 10,37). E este é outro caminho. Não é o caminho de Jesus; é outro. É o caminho de quem, talvez sem se dar conta sequer, se aproveita do Senhor para se promover a si mesmo; o caminho de quem - como diz São Paulo - procura os próprios interesses, e não os de Cristo (cfFl 2,21). A propósito disto compôs Santo Agostinho aquele Discurso estupendo sobre os pastores (n. 46), que sempre nos faz bem reler no Ofício das Leituras.
Depois de ter ouvido Tiago e João, Jesus não Se descompõe, nem Se zanga; a sua paciência é verdadeiramente infinita! Também conosco, teve paciência, tem e terá... E responde: vós «não sabeis o que pedis» (Mc 10,38). De certo modo desculpa-os, mas ao mesmo tempo censura-os: «Não vos dais conta de que estais fora do caminho». Com efeito, imediatamente depois serão os outros dez Apóstolos a demonstrar, com a sua reação indignada contra os filhos de Zebedeu, como todos estivessem tentados a seguir fora do caminho.
Queridos irmãos, todos nós amamos Jesus, todos queremos segui-Lo, mas devemos estar sempre vigilantes para permanecer no seu caminho. Pois com os pés, com o corpo, podemos estar com Ele, mas o nosso coração pode estar longe e levar-nos para fora do caminho. Pensemos em tantos gêneros de corrupção na vida sacerdotal. Assim, por exemplo, o vermelho purpúreo das vestes cardinalícias, que é a cor do sangue, pode tornar-se, para o espírito mundano, a cor de uma distinção eminente. E deixarás de ser o pastor próximo do povo, te sentirás apenas «a eminência». Quando sentires isto, estás fora do caminho.
Nesta narração evangélica, sempre impressiona o contraste nítido entre Jesus e os discípulos. Jesus sabe-o, conhece-o e suporta-o. Mas o contraste permanece: Ele, no caminho; os discípulos, fora do caminho. Dois percursos inconciliáveis. Na realidade, só o Senhor pode salvar os seus amigos desvairados, em risco de se perderem. Só a sua Cruz e a sua Ressurreição... Por eles, e por todos, Jesus sobe a Jerusalém. Por eles, e por todos, dividirá em pedaços o seu Corpo e derramará o seu Sangue. Por eles, e por todos, ressuscitará dos mortos e, com o dom do Espírito, lhe perdoará e transformará. Enfim os encaminhará pelo seu caminho.
São Marcos - como aliás São Mateus e São Lucas - inseriram esta narração no próprio Evangelho, porque é uma Palavra que salva, uma Palavra necessária à Igreja de todos os tempos. Apesar da má figura que nela fazem os Doze, a mesma entrou no cânon, porque mostra a verdade acerca de Jesus e de nós mesmos. É uma palavra salutar também para nós hoje. Também nós, Papa e Cardeais, devemos espelhar-nos sempre nesta Palavra de verdade. É uma espada afiada: corta, é dolorosa, mas ao mesmo tempo cura-nos, liberta-nos, converte-nos. A conversão é precisamente isto: sair de fora do caminho, ir para o caminho de Deus.
Que o Espírito Santo nos dê, hoje e sempre, esta graça!


Fonte: Santa Sé

sábado, 28 de novembro de 2020

Homilia: I Domingo do Advento - Ano B

Santo Agostinho
Sermão 18
Guardou silêncio quando era julgado, porém não guardará quando vier para julgar

Vem o nosso Deus e não se calará. Cristo, o Senhor, Deus nosso e Filho de Deus, em sua primeira vinda se apresentou de forma velada, porém em sua segunda vinda aparecerá publicamente. Quando se apresentou de forma velada, somente se deu a conhecer aos seus servos; quando aparecer publicamente, se dará a conhecer aos bons e aos maus. Apresentando-se veladamente, veio para ser julgado; quando aparecer publicamente, virá para julgar. Por fim, quando foi julgado guardou o silêncio, e deste silêncio havia predito o profeta: Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha ante o tosquiador, emudeceu e não abriu a boca.

Porém, vem o nosso Deus e não se calará. Guardou silêncio quando era julgado, porém não guardará quando vier para julgar. Na realidade, nem mesmo agora Ele guarda silêncio se houver quem o escute; porém se disse: então Ele não se calará, quando reconhecerão a sua voz inclusive os que agora a desprezam. Atualmente, quando os mandamentos de Deus são recitados, há aqueles que se põem a rir. E como, por enquanto, o que Deus prometeu não é visível, nem é comprovável o cumprimento de suas ameaças, faz-se burla de seus preceitos. Por enquanto, até mesmo os maus desfrutam do que o mundo chama de felicidade; enquanto que a nomeada infelicidade deste mundo, sofrem-na até mesmo os bons.
Os homens que acreditam nas realidades presentes, porém não nas futuras, observam que os bens e os males da vida presente são vividos indistintamente por bons e maus. Anseiam-se pelas riquezas, e veem que entre os ricos há homens maldosos e homens de bem. E se sentem pânico ante a pobreza e as misérias deste mundo, observam igualmente que nestas misérias se debatem não somente os bons, mas também os maus. E dizem para si mesmos que Deus não se ocupa nem governa as coisas humanas, mas as têm abandonado completamente à má sorte no profundo abismo deste mundo, e não se preocupa em absoluto conosco. E passam então a desdenhar dos mandamentos, pois não veem manifestação alguma do juízo.

Porém, também agora cada um deve refletir que, quando Deus quer, observa e condena sem demora, e, quando quer, usa de paciência. E por que age assim? Porque se no presente Ele nunca exercesse seu poder judicial, se chegaria à conclusão de que Deus não existe; e se julgar tudo agora, não reservaria nada para o juízo final. A razão de diferir muitas coisas até o juízo final, e de julgar outras em seguida, é para que aqueles aos quais seja concedida uma trégua, temam e se convertam. Pois Deus não tem prazer em condenar, mas em salvar; por isso usa de paciência com os maus, para convertê-los em bons. Diz o Apóstolo que Deus revela sua reprovação de toda a impiedade, e pagará a cada um conforme as suas obras. E ao pejorativo o admoesta, o corrige e lhe diz: Como desprezas o tesouro de sua bondade, tolerância e paciência? Porque Deus é bom contigo, porque é tolerante, porque te concede a mercê de sua paciência, porque te concede tempo e não te retira do teu ambiente, desprezas e fazes pouco caso do juízo de Deus, ignorando que essa mesma bondade tem por finalidade te levar à conversão. Com a dureza do teu coração impenitente estás armazenando para ti os castigos do dia do castigo, quando então se revelará o justo juízo de Deus, pagando a cada um conforme as suas obras.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 274-275. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também outra homilia de Santo Agostinho para este domingo clicando aqui.

Feliz Ano Novo (Litúrgico)!

“Através do ciclo anual, a Igreja comemora todo o mistério de Cristo, da Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor”
 (Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, n. 17).

Ao pôr-do-sol deste sábado, 28 de novembro de 2020, com a oração das I Vésperas do I Domingo do Advento, a Igreja de Rito Romano inicia um novo Ano Litúrgico.

Seguindo o ciclo trienal para os domingos e festas, neste novo ano de 2020-2021 celebramos o Ano Litúrgico B, durante o qual somos convidados a meditar o Evangelho de Marcos, o primeiro dos quatro Evangelhos a ser escrito.

Ao longo deste Ano Litúrgico, como temos feito desde 2015-2016, publicaremos uma homilia dos Padres da Igreja para cada domingo e solenidade, as quais nos ajudarão a aprofundar a mensagem do Evangelho.

Também completaremos a série de postagens em memória dos 20 anos do Grande Jubileu do ano 2000, cuja conclusão recordaremos no próximo dia 06 de janeiro, Solenidade da Epifania do Senhor.

Na sequência, começaremos a apresentar as Catequeses do Papa João Paulo II sobre os salmos e cânticos das Laudes e das Vésperas da Liturgia das Horas, proferidas desde março de 2001 até o final do seu pontificado (e continuadas por Bento XVI até fevereiro de 2006).

Também no mês de janeiro daremos início a uma série de postagens sobre as Missas votivas dos santuários da Terra Santa.

Ao longo do ano, daremos continuidade ainda a outros projetos aqui do blog, como, por exemplo, as postagens sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura.

Christus heri et hodie, finis et principium; Christus Alpha et Omega, ipsi gloria in saecula!
Cristo, ontem e hoje, fim e princípio; Cristo Alfa e Ômega, a Ele a glória pelos séculos!

Cristo Pantocrator (Abadia de Maria Laach - Alemanha)
(Os signos do zodíaco ao redor de Cristo simbolizam que Ele é o senhor do tempo)

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Os Apóstolos, os Profetas e o Creio

“Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os Apóstolos e os Profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal” (Ef 2,20)

O Símbolo Apostólico

Conforme testemunha a Traditio Apostolica, importante documento litúrgico do início do século III, atribuído a Hipólito de Roma [1], a recepção do sacramento do Batismo era acompanhada da tríplice pergunta a respeito da fé. A cada resposta afirmativa (“Creio”), o fiel recebia a infusão da água sobre a cabeça:

“Crês em Deus Pai onipotente?
Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus, que nasceu do Espírito Santo, do seio da Virgem Maria, e foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e morreu, e foi sepultado, e ao terceiro dia ressuscitou vivo dos mortos, e subiu aos céus, e estado sentado à direita do Pai, e virá para julgar os vivos e os mortos?
Crês no Espírito Santo e na santa Igreja e na ressurreição da carne?” [2].

Temos aqui o primeiro testemunho do chamado “Símbolo Apostólico” ou “Símbolo dos Apóstolos”, uma das duas profissões de fé utilizadas pela Igreja de Rito Romano (junto com o Símbolo Niceno-Constantinopolitano).

“A palavra grega «symbolon» significava a metade dum objeto partido (por exemplo, um selo), que se apresentava como um sinal de identificação. As duas partes eram justapostas para verificar a identidade do portador. O «símbolo da fé» é, pois, um sinal de identificação e de comunhão entre os crentes. «Symbolon» também significa resumo, coletânea ou sumário. O «símbolo da fé» é o sumário das principais verdades da fé. Por isso, serve de ponto de referência primário e fundamental da catequese” [3].

Doze Apóstolos no teto do Batistério de Ravenna (Itália)

Os Apóstolos e o Creio

Embora sua origem seja muito provavelmente o rito batismal, como vimos acima, a partir do século IV surge a lenda de que, no dia de Pentecostes, antes de partirem em missão, os doze Apóstolos elaboraram essa profissão de fé, como testemunha Santo Ambrósio em sua Explanatio Symboli: “Os santos Apóstolos reunidos juntos fizeram um resumo da fé, a fim de que pudéssemos compreender brevemente o elenco de toda a nossa fé” [4].

Posteriormente, provavelmente no século V, foi acrescido à lenda o dado de que cada um dos doze Apóstolos teria contribuído com um dos artigos do Creio, como testemunha Joseph Ratzinger em sua magnífica Introdução ao Cristianismo [5].

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Jubileu do Apostolado dos Leigos no ano 2000

No dia 26 de novembro do ano 2000, durante o Grande Jubileu, o Papa João Paulo II celebrou a Santa Missa na Praça de São Pedro por ocasião do Jubileu do Apostolado dos Leigos no contexto do Ano Santo, concluindo o Congresso Mundial do Laicato Católico, com o tema: "Testemunhas de Cristo no novo milênio".

Foi celebrada a Missa da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo (ano B).

Jubileu do Apostolado dos Leigos
Homilia do Papa João Paulo II
26 de novembro de 2000

1. Tu o dizes: sou rei (Jo 18,37).
Assim respondeu Jesus a Pilatos num diálogo dramático, que o Evangelho nos faz ouvir novamente na hodierna solenidade de Cristo, Rei do universo. Nessa ocorrência, colocada na conclusão do Ano Litúrgico, Jesus, Verbo eterno do Pai, é apresentado como princípio e fim de toda a criação, como Redentor do homem e Senhor da história. Na 1ª leitura, o profeta Daniel afirma: “O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu Reino é tal que jamais será destruído” (7,14).
Paradoxalmente, a vossa realeza manifesta-se na cruz, na obediência ao desígnio do Pai “que - como escreve o Apóstolo Paulo - nos arrancou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino do seu Filho amado, no Qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1,13-14). Primogênito daqueles que ressuscitaram dos mortos, Vós, Jesus, sois o Rei da nova humanidade, restituída à sua dignidade primitiva.
Vós sois Rei! Porém, o vosso reino não é deste mundo (cf. Jo 18,36); não é o fruto de conquistas bélicas, de dominações políticas, de impérios econômicos, de hegemonias culturais. O vosso é um “reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz” (cf. Prefácio da solenidade de Cristo Rei), que se manifestará na sua plenitude no fim dos tempos, quando Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28). A Igreja, que já pode saborear na terra as primícias que se hão de realizar no futuro, não cessa de repetir: “Venha o vosso reino”, Adveniat regnum tuum (Mt 6,10).

2. Venha o vosso reino! Rezam assim, em toda a parte do mundo, os fiéis que se reúnem hoje à volta dos seus Pastores para o Jubileu do Apostolado dos Leigos. Uno-me a eles com alegria neste coro universal de louvor e súplica, celebrando juntamente convosco, caros fiéis, a Santa Missa junto do Túmulo do Apóstolo Pedro.
Agradeço ao Cardeal James Francis Stafford, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, e aos vossos dois representantes, que no início da Santa Missa se fizeram intérpretes dos comuns sentimentos. Saúdo os venerados irmãos no Episcopado, assim como os sacerdotes, religiosos e religiosas presentes. Estendo a minha saudação em especial a vós, irmãos e irmãs leigos, christifideles laici, ativamente dedicados à causa do Evangelho: olhando para vós, penso também em todos os membros de comunidades, associações e movimentos de ação apostólica; penso nos pais e mães que, com generosidade e espírito de sacrifício, se consagram à educação dos seus filhos na prática das virtudes humanas e cristãs; penso em quantos oferecem à evangelização o contributo dos seus próprios sofrimentos, aceites e vividos em união com Cristo.

3. Saúdo-vos de modo particular, caros participantes no Congresso do Laicato católico, que bem se insere no contexto do Jubileu do Apostolado dos Leigos. O vosso encontro tem como tema Testemunhas de Cristo no novo Milênio. Ele retoma a tradição dos Congressos Mundiais do Apostolado dos Leigos, iniciada há 50 anos sob o impulso fecundo de uma consciência mais profunda que a Igreja tinha adquirido, quer da própria natureza do mistério de comunhão, quer da sua intrínseca responsabilidade missionária no mundo.
No amadurecimento desta consciência, o Concílio Ecumênico Vaticano II assinalou uma mudança decisiva. Com o Concílio, na Igreja chegou verdadeiramente a hora do laicato e tantos fiéis leigos, homens e mulheres, compreenderam com maior clareza a própria vocação cristã que, por sua própria natureza, é vocação ao apostolado (cf. Apostolicam actuositatem, n. 2). A 35 anos da sua conclusão, digo: é preciso voltar ao Concílio. É preciso retomar nas mãos os documentos do Vaticano II para redescobrir a grande riqueza dos estímulos doutrinais e pastorais.
Deveis retomar nas mãos aqueles documentos, em particular vós, leigos, a quem o Concílio abriu extraordinárias perspectivas de envolvimento e de compromisso na missão da Igreja. O Concílio não recordou acaso a vossa participação na função sacerdotal, profética e real de Cristo? Os Padres conciliares confiaram-vos, de modo especial, a missão de “procurar o reino de Deus, tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus” (Lumen gentium, n. 31).
A partir de então, floresceu uma vivaz época agregativa, em que ao lado do associativismo tradicional surgiram novos movimentos, sodalícios e comunidades (cf. Christifideles laici, n. 29). Hoje, mais do que nunca, caríssimos irmãos e irmãs, o vosso apostolado é indispensável para que o Evangelho seja luz, sal e fermento de uma nova humanidade.

4. Mas o que comporta esta missão? Que significa ser cristão hoje, aqui e agora?
Ser cristão nunca foi fácil e tampouco o é hoje. Seguir Cristo exige a coragem de opções radicais, frequentemente contra a corrente. “Nós somos Cristo!”, exclamava Santo Agostinho. Os mártires e as testemunhas da fé de ontem e de hoje, entre os quais tantos fiéis leigos, demonstram que, se for necessário, por Jesus Cristo não se deve hesitar nem sequer em dar a própria vida.
A este propósito, o Jubileu convida todos a um sério exame de consciência e a uma duradoura renovação espiritual, para uma ação missionária cada vez mais ativa. Agora quero retomar aquilo que, há 25 anos, quase no encerramento do Ano Santo de 1975, o meu venerado predecessor Papa Paulo VI escrevia na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres... ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (n. 41).
São palavras válidas ainda nestes dias, diante de uma humanidade rica de potencialidades e de expectativas, porém ameaçada por múltiplas insídias e perigos. Basta pensar, entre outras coisas, nas conquistas sociais e na revolução no campo genético; no progresso econômico e no subdesenvolvimento existente em vastas áreas do planeta; no drama da fome no mundo e nas dificuldades existentes para assegurar a paz; nas minuciosas redes das comunicações e nos dramas da solidão e da violência difundidos pela crónica diária. Caríssimos irmãos e irmãs, como testemunhas de Cristo, sois chamados especialmente vós a levar a luz do Evangelho aos centros vitais da sociedade. Sois interpelados a ser profetas da esperança cristã e apóstolos “d'Aquele que é, que era e que vem, o Onipotente!” (Ap 1,4).

5. “A santidade é o adorno da tua casa! (Sl 92,5). No Salmo Responsorial, voltamo-nos para Deus com estas palavras. A santidade continua a ser o maior desafio para os fiéis. Devemos estar gratos ao Concílio Vaticano II que nos recordou que todos os cristãos são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade.
Caríssimos, não tenhais medo de enfrentar este desafio: ser homens e mulheres santos! Não esqueçais que os frutos do apostolado dependem da profundidade da vida espiritual, da intensidade da oração, de uma formação constante e de uma adesão sincera às diretrizes da Igreja. Repito-vos hoje, como fiz aos jovens durante a recente Jornada Mundial da Juventude, que se fordes o que deveis ser - isto é, se viverdes o cristianismo sem comprometimentos - podereis incendiar o mundo.
Esperam-vos deveres e metas que podem parecer desproporcionados às forças humanas. Não percais a coragem! “Aquele que em vós iniciou esse bom trabalho, vai continuá-lo até que seja concluído” (Fl 1,6). Conservai sempre fixo o olhar em Jesus. Fazei d'Ele o coração do mundo.
E tu, Maria, Mãe do Redentor, sua primeira e perfeita discípula, ajuda-nos a ser as suas testemunhas no novo milénio. Faz que o teu Filho, Rei do universo e da história, reine na nossa vida, nas nossas comunidades e no mundo inteiro!
“Louvor e honra a Vós, ó Cristo!”. Com a vossa Cruz redimistes o mundo. A Vós confiamos, no início do novo milênio, o nosso compromisso ao serviço deste mundo que Vós e nós amamos. Sustentai-nos com a força da vossa graça! Amém.


Fonte: Santa Sé

XVI Catequese do Papa sobre a oração

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 25 de novembro de 2020
A oração (16): A oração da Igreja nascente

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Os primeiros passos da Igreja no mundo foram cadenciados pela oração. Os escritos apostólicos e a grande narração dos Atos dos Apóstolos restituem-nos a imagem de uma Igreja a caminho, de uma Igreja ativa, mas que encontra nas reuniões de oração a base e o ímpeto para a ação missionária. A imagem da comunidade primitiva de Jerusalém é um ponto de referência para todas as outras experiências cristãs. No Livro dos Atos, Lucas escreve: «Eles perseveravam na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações» (At 2, 42). A comunidade persevera na oração.
Aqui encontramos quatro características essenciais da vida eclesial: primeira, a escuta do ensinamento dos Apóstolos; segunda, a salvaguarda da comunhão recíproca; terceira, a fração do pão; e quarta, a oração. Elas lembram-nos que a existência da Igreja tem sentido, se permanecer firmemente unida a Cristo, isto é, na comunidade, na sua Palavra, na Eucaristia e na oração. É o modo de nos unirmos a Cristo. A pregação e a catequese dão testemunho das palavras e dos gestos do Mestre; a busca constante da comunhão fraterna preserva dos egoísmos e dos particularismos; a fração do pão realiza o sacramento da presença de Jesus no meio de nós: Ele nunca estará ausente, na Eucaristia é precisamente Ele, Ele vive e caminha conosco. E por fim, a oração, que é o espaço do diálogo com o Pai, através de Cristo no Espírito Santo.
Na Igreja, tudo o que cresce fora destas “coordenadas” está desprovido de fundamento. Para discernir uma situação devemos perguntar-nos como, nesta situação, existem estas quatro coordenadas: a pregação, a busca constante da comunhão fraterna - a caridade -, a fração do pão - ou seja, a vida eucarística - e a oração. Cada situação deve ser avaliada à luz destas quatro coordenadas. O que não entrar nestas coordenadas está desprovido de eclesialidade, não é eclesial. É Deus quem faz a Igreja, não o clamor das obras. A Igreja não é um mercado; a Igreja não é um grupo de empresários que vai em frente com este novo empreendimento. A Igreja é obra do Espírito Santo, que Jesus nos enviou para nos congregar. A Igreja é precisamente a obra do Espírito na comunidade cristã, na vida comunitária, na Eucaristia, na oração, sempre. E tudo o que cresce fora destas coordenadas está sem fundamento, é como uma casa construída sobre a areia (cfMt 7,24-27). É Deus quem faz a Igreja, não o clamor das obras. É a palavra de Jesus que enche os nossos esforços de significado. É na humildade que se constrói o futuro do mundo.
Às vezes, sinto grande tristeza quando vejo alguma comunidade que, com boa vontade, comete um erro porque pensa em fazer a Igreja com reuniões, como se fosse um partido político: a maioria, a minoria, o que pensa este, ele, o outro... “É como um Sínodo, um caminho sinodal que devemos percorrer”. Pergunto-me: onde está  o Espírito Santo? Onde está a oração? Onde está o amor comunitário? Onde está a Eucaristia? Sem estas quatro coordenadas a Igreja torna-se uma sociedade humana, um partido político - maioritário, minoritário - as mudanças são feitas como se fosse uma empresa, pela maioria ou minoria... Mas não há Espírito Santo. E a presença do Espírito Santo é garantida precisamente por estas quatro coordenadas. Para avaliar uma situação, se é eclesial ou não, perguntemo-nos se existem estas quatro coordenadas: a vida comunitária, a oração, a Eucaristia, a pregação... como se desenvolve a vida com estas quatro coordenadas. Se faltar isto, faltará o Espírito, e se faltar o Espírito, seremos uma bonita associação humanitária, de beneficência, muito bem, até um partido, digamos assim, eclesial, mas não há Igreja. E é por isso que a Igreja não pode crescer através destas coisas: não cresce por proselitismo, como qualquer empresa, cresce por atração. E quem move a atração? O Espírito Santo. Nunca esqueçamos esta expressão  de Bento XVI: “A Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atração”. Se faltar o Espírito Santo, que atrai para Jesus, ali não haverá Igreja alguma. Bem, haverá um bom clube de amigos, com boas intenções, mas não haverá Igreja, não haverá sinodalidade.
Lendo os Atos dos Apóstolos, descobrimos que o poderoso motor da evangelização são as reuniões de oração, onde aqueles que participam experimentam diretamente a presença de Jesus e são tocados pelo Espírito. Os membros da primeira comunidade - mas isto é sempre verdade, também para nós, hoje - compreendem que a história do encontro com Jesus não parou no momento da Ascensão, mas continua na sua vida. Narrando o que o Senhor disse e fez - a escuta da Palavra - rezando para entrar em comunhão com Ele, tudo se torna vivo. A oração infunde luz e calor: o dom do Espírito faz nascer neles o fervor.
A este respeito, o Catecismo tem uma expressão muito densa. Diz assim: «O Espírito Santo (...)  recorda Cristo à sua Igreja orante, também a conduz para a verdade integral e suscita formulações novas que exprimirão o insondável mistério de Cristo operante na vida, sacramentos e missão da Igreja» (n. 2625). Eis a obra do Espírito na Igreja: recordar Jesus. O próprio Jesus disse-o: Ele vos ensinará e vos recordará. A missão consiste em recordar Jesus, mas não como exercício mnemónico. Percorrendo os caminhos da missão, os cristãos recordam Jesus quando o tornam novamente presente; e d’Ele, do seu Espírito, recebem o “impulso” para ir, proclamar e servir. Na oração, o cristão mergulha no mistério de Deus que ama cada homem, aquele Deus que deseja que o Evangelho seja pregado a todos. Deus é Deus para todos, e em Jesus todos os muros de separação foram definitivamente abatidos: como diz São Paulo, Ele é a nossa paz, ou seja, «Ele, que de dois povos fez um só» (Ef 2,14). Jesus realizou a unidade.
Assim, a vida da Igreja primitiva é ritmada por uma sucessão contínua de celebrações, convocações, tempos de oração, quer comunitária quer  pessoal. E é o Espírito que dá força aos pregadores que se põem a caminho, e que por amor a Jesus sulcam os mares e enfrentam perigos, submetendo-se a humilhações.
Deus doa amor, Deus pede amor. Esta é a raiz mística de toda a vida crente. Os primeiros cristãos em oração, mas também nós que viemos muitos séculos mais tarde, todos vivemos a mesma experiência. O Espírito anima tudo. E qualquer cristão que não tiver medo de dedicar tempo à oração, pode fazer próprias as palavras do apóstolo Paulo: «A minha vida presente, na carne, vivo-a na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim» (Gl 2,20). A oração torna-nos conscientes disto. Só no silêncio da adoração experimentamos toda a verdade destas palavras. Temos que retomar o sentido da adoração. Adorar, adorar Deus, adorar Jesus, adorar o Espírito. O Pai, o Filho e o Espírito: adorar. Em silêncio! A prece da adoração é a oração que nos faz reconhecer Deus como início e fim de toda a história. E esta oração é o fogo vivo do Espírito que dá força ao testemunho e à missão. Obrigado!


Fonte: Santa Sé

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Formações sobre o Missal (3): Uma Igreja que celebra

Como indicamos nas postagens anteriores desta série, em preparação à 3ª edição do Missal Romano, o Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) publicou o subsídio formativo “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese).

Com o objetivo estritamente pastoral, estamos publicando aqui em nosso blog uma tradução livre dos dez “encontros” do subsídio, que serão muito úteis também para a nossa realidade brasileira, enquanto aguardamos a tradução da 3ª edição do Missal por parte da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

3. Uma Igreja que celebra

Convém que as Comissões litúrgicas diocesanas e regionais colaborem com os outros lugares educativos da fé cristã (famílias, paróquias, associações, movimentos, grupos eclesiais...), para que a vida segundo o Espírito (cf. Gl 5,25) possa constantemente beber da fonte da Eucaristia (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 12).

Um Missal para todos

O Missal é um livro para toda a assembleia celebrante. Aquele que o toma nas mãos e folheia suas páginas durante a celebração da Eucaristia é aquele que a preside, o Bispo ou o presbítero (ajudado geralmente pelo acólito). Mas quem põe em ação a “partitura” nele contida é toda a assembleia, que reconhece nos textos e nos gestos propostos pelo Missal um caminho seguro para beber da fonte da fé.

Papa Francisco preside a Missa Crismal, epifania da Igreja celebrante

Uma preparação comum

A Introdução Geral do Missal Romano, em seu número 111, oferece preciosas indicações para preparar a Celebração Eucarística na escola do Missal: «A preparação prática de cada celebração litúrgica, com espírito dócil e diligente, de acordo com o Missal e outros livros litúrgicos, seja feita de comum acordo por todos aqueles a quem diz respeito, seja quanto aos ritos, seja quanto ao aspecto pastoral e musical, sob a direção do reitor da igreja e ouvidos também os fiéis naquilo que diretamente lhes concerne. Contudo, ao sacerdote que preside a celebração, fica sempre o direito de dispor sobre aqueles elementos que lhe competem». Para que toda a assembleia possa beber da fonte eucarística, é necessário que alguns se coloquem a serviço de todos para preparar o rito da Missa, a fim de tornar possível uma participação coral. A presença em nossas comunidades de um “grupo litúrgico” (ou “pastoral litúrgica”) é uma ajuda importante para que a Eucaristia dominical possa constituir um verdadeiro lugar de comunhão, no qual pôr em ação todas as linguagens e todos os ministérios necessários à manifestação do Mistério de Cristo e da Igreja.

Os ministérios litúrgicos

Divina Liturgia e sepultamento do Patriarca Irinej da Sérvia

No domingo, dia 22 de novembro, foi celebrada na igreja de São Sava em Belgrado a Divina Liturgia e o sepultamento do Patriarca Irinej (Иринеј) da Sérvia, falecido na sexta-feira, 20 de novembro.

A celebração foi presidida pelo Metropolita Crisóstomo (Хризостом) de Dabar-Bósnia, com a presença de diversos outros Bispos dos Patriarcados da Sérvia e de Moscou.

No sábado, dia 21, o Metropolita Crisóstomo presidiu o ofício da Panahyda na Catedral de São Miguel Arcanjo em Belgrado, antes da transladação do corpo do Patriarca até a igreja de São Sava.

Dia 21: Panahyda na Catedral de São Miguel Arcanjo


Chegada do corpo do Patriarca
Panahyda (Ofício pelos falecidos)

Incensação

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Solenidade de Cristo Rei em Cracóvia

O Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou no último dia 22 de novembro a Santa Missa da Solenidade de nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, na Catedral dos Santos Venceslau e Estanislau, a Catedral de Wawel.

Acolhida do Arcebispo: Aspersão

Procissão de entrada

Evangelho

Ângelus do Papa: Solenidade de Cristo Rei - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 22 de novembro de 2020

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, com a qual se encerra o Ano Litúrgico, a grande parábola em que se revela o mistério de Cristo: todo o Ano Litúrgico. Ele é o Alfa e o Ômega, o início e o cumprimento da história; e a Liturgia de hoje concentra-se no “Ômega”, ou seja, na meta final. O sentido da história compreende-se, mantendo diante dos olhos o seu ápice: o fim é também a finalidade. E é precisamente isto que Mateus faz, no Evangelho deste domingo (Mt 25,31-46), colocando o discurso de Jesus sobre o juízo final no epílogo da sua vida terrena: Ele, que os homens estão prestes a condenar, é na realidade o Juiz supremo. Na sua Morte e Ressurreição, Jesus se mostrará como Senhor da história, Rei do universo, Juiz de todos. Mas o paradoxo cristão é que o Juiz não se reveste de realeza temível, mas é um Pastor cheio de mansidão e misericórdia.
Com efeito, nesta parábola do juízo final, Jesus serve-se da imagem do pastor. Usa as imagens do profeta Ezequiel, que falara da intervenção de Deus a favor do povo, contra os maus pastores de Israel (cf. Ez 34, 1-10). Eles eram cruéis e exploradores, preferindo apascentar a si mesmos e não ao rebanho; por isso, o próprio Deus promete cuidar pessoalmente do seu rebanho, defendendo-o das injustiças e dos abusos. Esta promessa de Deus ao seu povo realizou-se plenamente em Jesus Cristo, o Pastor: Ele próprio é o Bom Pastor. Ele mesmo diz de si: «Eu sou o Bom Pastor» (Jo 10,11.14).
Na página do Evangelho de hoje, Jesus identifica-se não só com o rei-pastor, mas também com as ovelhas perdidas. Poderíamos falar como de uma “dupla identidade”: o rei-pastor, Jesus, identifica-se também com as ovelhas, ou seja, com os irmãos mais pequeninos e necessitados. E assim indica o critério do juízo: ele será assumido com base no amor concreto, concedido ou negado a essas pessoas, porque Ele próprio, o juiz, está presente em cada uma delas. Ele é juiz, Ele é Deus-homem, mas Ele é também o pobre, está escondido, encontra-se presente na pessoa dos pobres, que Ele menciona precisamente ali. Jesus diz: «Em verdade vos digo, todas as vezes que fizestes (ou deixastes de fazer) isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes (ou deixastes de fazer)» (vv. 40.45). Seremos julgados sobre o amor. O julgamento será sobre o amor. Não sobre o sentimento, não: seremos julgados sobre as obras, sobre a compaixão que se faz proximidade e ajuda atenciosa.
Aproximo-me de Jesus presente na pessoa dos doentes, dos pobres, dos sofredores, dos prisioneiros, de quantos têm fome e sede de justiça? Aproximo-me de Jesus ali presente? Esta é a pergunta de hoje!
Portanto, no fim do mundo, o Senhor passará em revista o seu rebanho, e o fará não só da parte do pastor, mas também da parte das ovelhas, com as quais Ele se identificou. E perguntará: “Foste um pouco pastor como Eu?”. “Foste pastor de mim, que estava presente naquelas pessoas necessitadas, ou ficaste indiferente?”. Irmãos e irmãs, tenhamos cuidado com a lógica da indiferença, com o que nos vem imediatamente ao pensamento: olhar para o outro lado, quando vemos um problema. Recordemos a parábola do Bom Samaritano. Aquele pobre homem, ferido por salteadores, atirado ao chão, entre a vida e a morte, estava lá sozinho. Passou um sacerdote, viu e foi-se embora, olhou para o outro lado. Passou um levita, viu e olhou para o outro lado. Perante os meus irmãos e irmãs necessitados, fico eu indiferente como este sacerdote, como este levita, e olho para o outro lado? Serei julgado sobre isto: sobre o modo como me aproximei, como olhei para Jesus presente nos necessitados. Esta é a lógica, e não sou eu que o digo, é Jesus que o diz: “O que fizeste a este, a esse, àquele, foi a mim que o fizeste. E o que não fizeste a este, a esse, àquele, deixaste de fazê-lo a mim, porque Eu estava lá!”. Que Jesus nos ensine esta lógica, esta lógica da proximidade, do aproximar-se d’Ele com amor, na pessoa dos que mais sofrem.
Peçamos à Virgem Maria que nos ensine a reinar no servir. Nossa Senhora, que subiu ao Céu, recebeu do seu Filho a coroa real, porque o seguiu fielmente - é a primeira discípula - no caminho do Amor. Aprendamos com Ela a entrar desde já no Reino de Deus, através da porta do serviço humilde e generoso. E voltemos para casa só com esta frase: “Eu estava lá presente. Obrigado!”, ou: “Esqueceste-te de mim!”.

Jesus separa as ovelhas e os cabritos (Mt 25,31-46)
(Mosaico na Basílica de Santo Apolinário em Ravenna)

Fonte: Santa Sé