quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Leitura litúrgica da Primeira Carta de Pedro (4)

“Estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança” (1Pd 3,15).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos o estudo da Primeira Carta de Pedro (1Pd).

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica na Celebração Eucarística, nos demais sacramentos, nos sacramentais e na Liturgia das Horas. Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Aqui gostaríamos de dar continuidade à proposta contemplando sua presença na Liturgia sob o critério da leitura semicontínua.

São Pedro (José de Ribera)

3. Leitura litúrgica de Primeira Carta de Pedro: Leitura semicontínua

A leitura semicontínua, como indica o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Enquanto as Cartas Paulinas, a Carta aos Hebreus e a Carta de Tiago são lidas de maneira semicontínua nos domingos do Tempo Comum, a Primeira Carta de Pedro, a Primeira Carta de João e o Apocalipse de João são lidos nos domingos do Tempo Pascal.

Segundo o Elenco das Leituras da Missa, “esses textos estão de acordo com o espírito de uma fé alegre e uma firme esperança, próprios desse tempo” (n. 100) [2].

As seis perícopes de 1Pd lidas nos domingos do Tempo Pascal do Ano A são:
Domingos do Tempo Pascal (Ano A)
II Domingo: 1Pd 1,3-9;
III Domingo: 1Pd 1,17-21;
IV Domingo: 1Pd 2,20b-25;
V Domingo: 1Pd 2,4-9;
VI Domingo: 1Pd 3,15-18;
VII Domingo: 1Pd 4,13-16 [3].

Além dos domingos do Tempo Pascal, nosso livro é proferido de maneira semicontínua também nos dias de semana do Tempo Comum, quando são lidos alternadamente livros do Antigo e do Novo Testamento, várias semanas cada um, segundo sua extensão (cf. ELM, n. 110) [4].

A Primeira Carta de Pedro é lida de segunda a sexta-feira da VIII semana do Tempo Comum no ano par, após a Carta de Tiago. As cinco perícopes proclamadas aqui são:
Segunda-feira: 1Pd 1,3-9;
Terça-feira: 1Pd 1,10-16;
Quarta-feira: 1Pd 1,18-25;
Quinta-feira: 1Pd 2,2-5.9-12;
Sexta-feira: 1Pd 4,7-13 [5].

No sábado, por sua vez, é lido um trecho da Carta de Judas, enquanto na semana seguinte é lida a Segunda Carta de Pedro, sobre as quais falaremos na próxima postagem desta série.

Papiro Bodmer VIII, com o texto das Cartas de Pedro

b) Liturgia das Horas

Retomando sua relação com a Páscoa, na Liturgia das Horas a Primeira Carta de Pedro é lida integralmente no Ofício das Leituras da Oitava Pascal, de segunda-feira a sábado, precedendo o Livro do Apocalipse de João a partir da II semana.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Homilias dos Santos Padres: Ano B

Os Padres da Igreja oferecem-nos, ainda hoje, uma teologia de grande valor, porque no centro está o estudo da Sagrada Escritura na sua integridade” (Exortação Apostólica Verbum Domini, n. 37).

Desde o final do século XIX a Igreja tem buscado “redescobrir” o grande tesouro dos Padres da Igreja (ou Pais da Igreja), escritores e teólogos dos primeiros séculos do Cristianismo.

Essa “redescoberta” culminou no Concílio Vaticano II (1962-1965), cujos 60 anos estamos celebrando. A Constituição Dogmática Dei Verbum, com efeito, nos exorta a buscar “uma compreensão sempre mais profunda das Sagradas Escrituras” através do estudo dos Santos Padres e da sagrada Liturgia (n. 23).

Assim, desde o Ano Litúrgico de 2015-2016, temos publicado aqui em nosso blog homilias dos Santos Padres para os domingos e solenidades, buscando ler a Palavra de Deus, ao ritmo da Liturgia, iluminados pelos Padres.

São Marcos, Evangelista
(Catedral do Cristo Salvador, Moscou)

Essas homilias têm sido tomadas em sua maioria do excelente Lecionário Patrístico Dominical compilado pelo Diácono Fernando José Bondan da Diocese de Novo Hamburgo (RS), publicado pela Editora Vozes em 2013.

Outros textos, por sua vez, foram tomados da Liturgia das Horas, particularmente da 2ª leitura do Ofício das Leituras, escolhida entre os textos dos Padres da Igreja e de outros autores eclesiásticos.

Nesta postagem elencaremos os links para as homilias dos Santos Padres para os domingos e solenidades do Ano B, no qual a Igreja nos propõe a leitura do Evangelho segundo Marcos.

Uma vez que esse Evangelho é o mais breve dos quatro, durante cinco domingos do Tempo Comum lê-se o capítulo 6 do Evangelho de João (discurso sobre o pão da vida).

Para conhecer os critérios de escolha das leituras em cada tempo litúrgico, clique aqui.

Recomendamos vivamente aos nossos leitores adquirir o Lecionário Patrístico Dominical no site da Editora Vozes, no qual é possível encontrar também outras obras do Diácono Fernando José Bondan, incluindo o Lecionário Místico Ferial, publicado em 2021, com textos dos Padres e de outros teólogos para os dias de semana

TEMPO DO ADVENTO

I Domingo do Advento
Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7 / Sl 79 / 1Cor 1,3-9 / Mc 13,33-37
II Domingo do Advento
Is 40,1-5.9-11 / Sl 84 / 2Pd 3,8-14 / Mc 1,1-8

III Domingo do Advento
Is 61,1-2a.10-11 / Lc 1,46-50.53-54 / 1Ts 5,16-24 / Jo 1,6-8.19-28

Ângelus: Solenidade de Cristo Rei - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 26 de novembro de 2023

Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
Hoje, último domingo do Ano Litúrgico e Solenidade de nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, o Evangelho fala-nos do juízo final (Mt 25,31-46) e diz-nos que será sobre a caridade.

A cena que nos apresenta é a de uma sala real, na qual Jesus, «o Filho do Homem» (v. 31), está sentado em um trono. Todos os povos estão reunidos aos seus pés e entre eles sobressaem «os benditos» (v. 34), os amigos do rei. Mas quem são eles? Que têm de especial estes amigos aos olhos do seu Senhor? Segundo os critérios do mundo, os amigos do rei deveriam ser aqueles que lhe deram riqueza e poder, que o ajudaram a conquistar territórios, a vencer batalhas, a tornar-se grande entre outros soberanos, talvez a aparecer como “estrelas” nas primeiras páginas dos jornais ou nas redes sociais, e a eles deveria dizer: «Obrigado, porque me tornaste rico e famoso, invejado e temido». Isto de acordo com os critérios do mundo.

Mas, segundo os critérios de Jesus, os seus amigos são outros: são aqueles que o serviram nos mais fracos. Isto porque o Filho do Homem é um Rei completamente diferente, que chama “irmãos” aos pobres, que se identifica com os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os doentes, os presos, e diz: «Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes» (v. 40). É um Rei sensível ao problema da fome, à necessidade de uma casa, à doença e à prisão (cf. vv. 35-36): realidades infelizmente sempre muito atuais. Pessoas famintas, desabrigadas, muitas vezes vestidas como podem, enchem as nossas ruas: encontramo-las todos os dias. E mesmo no que diz respeito à enfermidade e à prisão, todos sabemos o que significa estar doente, cometer erros e pagar as consequências.

Ora, o Evangelho de hoje diz-nos que se é “bendito” quando se responde a estas pobrezas com amor, com serviço: não virando as costas, mas dando de comer e beber, vestindo, abrigando, visitando, em uma palavra, estando próximo de quem precisa. E isto porque Jesus, o nosso Rei, que se diz Filho do homem, tem as suas irmãs e irmãos prediletos nas mulheres e nos homens mais frágeis. A sua “sala real” está instalada onde existe alguém sofre e precisa de ajuda. Esta é a “corte” do nosso Rei. E o estilo com que os seus amigos, aqueles que têm Jesus por Senhor, são chamados a distinguir-se é o seu próprio estilo: compaixão, misericórdia, ternura. Enobrecem o coração e descem como óleo sobre as chagas de quem é ferido pela vida.

Por isso, irmãos e irmãs, perguntemo-nos: acreditamos que a verdadeira realeza consiste na misericórdia? Acreditamos na força do amor? Acreditamos que a caridade é a manifestação mais régia do homem e uma exigência irrenunciável para o cristão? E, por fim, uma pergunta particular: sou amigo do Rei, isto é, sinto-me pessoalmente envolvido nas necessidades dos sofredores que encontro no meu caminho?
Maria, Rainha do Céu e da Terra, nos ajude a amar Jesus, nosso Rei, nos seus irmãos mais pequeninos.


Depois do Ângelus:

Amados irmãos e irmãs!
Celebramos hoje a 38ª Jornada Mundial da Juventude nas Igrejas particulares, sobre o tema “Alegres na esperança”. Abençoo todos os que participam nas iniciativas promovidas nas Dioceses, em continuidade com a JMJ de Lisboa. Abraço os jovens, presente e futuro do mundo, e encorajo-os a serem protagonistas alegres da vida da Igreja.

Fonte: Santa Sé. Para ler a Mensagem do Papa para a 38ª Jornada Mundial da Juventude, clique aqui.

sábado, 25 de novembro de 2023

Nomeados dois novos Cerimoniários Pontifícios

Na manhã de sábado, dia 25 de novembro de 2023, foi anunciado que o Papa Francisco nomeou dois novos Cerimoniários Pontifícios: os Monsenhores Didier Jean-Jacques Bouable e Yala Banorani Djetaba.

Os Cerimoniários Pontifícios auxiliam o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, atualmente Dom Diego Giovanni Ravelli, na organização das celebrações presididas pelo Papa, além de acompanharam os Cardeais em algumas celebrações mais solenes.

Monsenhor Didier Jean-Jacques Bouable, natural da Diocese de Yopougon (Costa do Marfim), Doutor em Letras Clássicas pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma, atualmente é Oficial da Penitenciaria Apostólica.

Monsenhor Yala Banorani Djetaba, por sua vez, aparentemente é natural da Diocese de Sokodé (Togo). Atualmente é Oficial da Seção para os Assuntos Gerais da Secretaria de Estado da Santa Sé.

Completam a lista dos oito atuais Cerimoniários Pontifícios os Monsenhores Pier Enrico Stefanetti, Marco Agostini, Massimiliano Matteo Boiardi, Ján Dubina, Krzysztof Marcjanowicz e L’ubomír Welnitz.

Na lista divulgada no site do Ofício das Celebrações Litúrgicas Pontifícias não consta mais o nome do Monsenhor Cristiano Antonietti. Não sabemos se continua a serviço da Cúria Romana em outra função ou retornou para sua Diocese de origem.


Com informações do site da Santa Sé. Infelizmente não possuímos mais dados nem imagens dos dois novos Cerimoniários.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Mensagem do Papa Francisco: Jornada Mundial da Juventude 2023

Após a 37ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), celebrada em Lisboa (Portugal) no último mês de agosto (transferida do ano de 2022), no próximo domingo, 26 de novembro de 2023, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, se celebra a nível diocesano a 38ª JMJ.

Confira a seguir a Mensagem do Papa Francisco para a ocasião, que dá início ao percurso rumo ao encontro com os jovens que se celebrará em Roma durante o Jubileu de 2025:

Papa Francisco
Mensagem para a XXXVIII Jornada Mundial da Juventude
26 de novembro de 2023
«Alegres na esperança» (Rm 12,12)

Queridos jovens!
No passado mês de agosto, encontrei centenas de milhares de vossos coetâneos que, vindos de todo o mundo, se reuniram em Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude. Nos dias da pandemia alimentamos, no meio de muitas incertezas, a esperança de que esta grande celebração do encontro com Cristo e com outros jovens pudesse se realizar. Esta esperança concretizou-se e, para mim e muitos de quantos lá estiveram presentes, superou todas as expectativas! Como foi lindo o nosso encontro em Lisboa! Uma verdadeira e real experiência de transfiguração, uma explosão de luz e alegria!

No final da Missa conclusiva no «Campo da Graça», indiquei a próxima etapa da nossa peregrinação intercontinental: Seoul, na Coreia, em 2027. Mas antes disso marquei encontro convosco em Roma, para o Jubileu dos Jovens em 2025, onde também vós sereis «peregrinos da esperança».


De fato, vós, jovens, sois a esperança jubilosa de uma Igreja e de uma humanidade sempre a caminho. Quero tomar-vos pela mão e, junto convosco, percorrer a senda da esperança. Quero falar convosco das nossas alegrias e esperanças, mas também das tristezas e angústias dos nossos corações e da humanidade que sofre (cf. Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes, n. 1). Nestes dois anos de preparação para o Jubileu, meditaremos, primeiro, sobre a expressão paulina «Alegres na esperança» (Rm 12,12) e, depois, aprofundaremos a frase do profeta Isaías: «Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar» (cf. Is 40,31).

Donde vem esta alegria?

«Alegres na esperança» (Rm 12,12) é uma exortação de São Paulo à comunidade de Roma, que se encontra em um período de intensa perseguição. E na realidade a «alegria na esperança», pregada pelo Apóstolo, brota do Mistério Pascal de Cristo, da força da sua Ressurreição. Não é fruto do esforço humano, do engenho ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo. A alegria cristã vem do próprio Deus, de nos sabermos amados por Ele.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Leitura litúrgica da Primeira Carta de Pedro (3)

“Alegrai-vos por participar dos sofrimentos de Cristo, para que possais também exultar de alegria na revelação da sua glória” (1Pd 4,13).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Primeira Carta de Pedro (1Pd) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura na Celebração Eucarística e nos demais sacramentos sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica, como indicado no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM) [1]. Para acessar as primeiras duas partes, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte.

Nesta postagem concluiremos a análise sob esse critério com os sacramentais e a Liturgia das Horas.

São Pedro (Bartolomé Esteban Murillo)

2. Leitura litúrgica de Primeira Carta de Pedro: Composição harmônica

c) Sacramentais

Iniciamos essa terceira parte do nosso estudo com os sacramentais, particularmente com as consagrações de pessoas e lugares e com as bênçãos.

Primeiramente, nas consagrações de pessoas e lugares há três leituras ad libitum (à escolha) da nossa Carta:

- Bênção de abade ou abadessa: 1Pd 5,1-4 [2], a exortação aos presbíteros a apascentar o “rebanho de Deus” que lhes confiado. Trata-se, portanto, de uma leitura mais adequada para a bênção de abades.

- Consagração das virgens e Profissão religiosa (celebrações que compartilham os mesmos textos bíblicos): 1Pd 1,3-9 [3], parte da “ação de graças” da Carta, com a promessa de que, após as provações deste mundo, receberemos “uma herança incorruptível” (v. 4).

- Dedicação de igreja: 1Pd 2,4-9 [4], a exortação a formarmos, “como pedras vivas”, um “edifício espiritual”, do qual o templo cristão é a imagem.

Quanto às bênçãos de pessoas, lugares e objetos, há cinco leituras à escolha de 1Pd:

- Bênção de peregrinos por ocasião da partida: 1Pd 2,4-12 [5], com a exortação aos cristãos, “peregrinos e forasteiros neste mundo”, a um bom comportamento, para que os pagãos, “vendo as suas boas obras, glorifiquem a Deus”;

- Bênção de pedra fundamental de edifício: 1Pd 2,4-10 [6], exortando a formar um “edifício espiritual” alicerçado em Cristo, “a pedra viva”;

- Bênção de imagens de santos para veneração pública: 1Pd 4,7b-11 [7], uma exortação ao amor fraterno e ao serviço, fontes de toda santidade;

- Bênção de estações da Via Sacra: por fim, nesta Bênção são sugeridas duas leituras de 1Pd à escolha: 1Pd 2,19-25, com o “cântico” ou “hino” à Paixão de Cristo, e 1Pd 3,18–4,2, com a recordação do Mistério Pascal: “Cristo morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos conduzir a Deus” [8].

Jesus Cristo, a “pedra viva” do “edifício espiritual”
(Porta da Basílica da Sagrada Família, Barcelona)

d) Liturgia das Horas

Em relação à Liturgia das Horas (LH) é preciso distinguir dois tipos de leituras: as leituras longas, proferidas no Ofício das Leituras, e as leituras breves, proferidas nas demais horas (Laudes, Hora Média e Vésperas).

Começaremos nossa análise da leitura em composição harmônica de 1Pd na LH com as leituras longas, que são quatro, todas nos Comuns dos Santos:

Ângelus: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 19 de novembro de 2023

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje apresenta-nos a parábola dos talentos (Mt 25,14-30). Um homem ao partir confia os seus talentos, isto é, os seus bens, um “capital”, aos servos: os talentos eram uma unidade monetária. Distribui-os de acordo com as capacidades de cada um. Quando regressa, pede-lhes contas do que fizeram. Dois deles duplicaram o que receberam e o senhor elogia-os, enquanto o terceiro, por medo, enterrou o seu talento e só o pode devolver, razão pela qual recebe uma severa repreensão. Olhando para esta parábola, podemos aprender duas maneiras diferentes de nos aproximarmos de Deus.

A primeira é a daquele que enterra o talento que recebeu, que não sabe ver as riquezas que Deus lhe deu: não confia nem no seu senhor nem em si mesmo. Com efeito, diz ao seu senhor: «Sei que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste» (v. 24). Sente medo em relação a ele. Não vê a estima, não vê a confiança que o senhor deposita nele, mas vê apenas as ações de um senhor que exige mais do que dá, de um juiz. É esta a imagem que ele tem de Deus: não consegue acreditar na sua bondade, não consegue acreditar na bondade do Senhor para conosco. É por isso que fica bloqueado e não se deixa envolver na missão que recebeu.

Vemos depois a segunda via, nos outros dois protagonistas, que retribuem a confiança do seu senhor, confiando nele. Estes dois investem tudo o que receberam, mesmo sem saberem de antemão se tudo correrá bem: estudam, veem as possibilidades e procuram prudentemente o melhor; aceitam o risco de se colocarem em jogo. Confiam, estudam e arriscam. Assim têm a coragem de atuar livremente, com criatividade, gerando novas riquezas (cf. vv. 20-23).

Irmãos e irmãs, esta é a encruzilhada com que nos confrontamos diante de Deus: medo ou confiança. Ou se tem medo diante de Deus ou se confia no Senhor. E nós, como os protagonistas da parábola, todos nós, recebemos talentos, todos, muito mais preciosos do que o dinheiro. Mas muito do modo como os investimos depende da nossa confiança no Senhor, que liberta o coração, nos torna ativos e criativos no bem. Não vos esqueçais disto: a confiança liberta, sempre, o medo paralisa. Lembrai-vos: o medo paralisa, a confiança liberta. Isto também é verdade na educação dos filhos. E perguntemo-nos: acredito que Deus é Pai e que me confia dons porque tem confiança em mim? E eu, confio n’Ele a ponto de me pôr em jogo sem desanimar, mesmo quando os resultados não são certos nem garantidos? Sei dizer todos os dias na oração: «Senhor, confio em ti, dá-me força para ir em frente; confio em ti, nas coisas que me deste; faz com que eu saiba como realizá-las».

Por fim, também como Igreja: cultivamos nos nossos ambientes um clima de confiança, de estima mútua, que nos ajude a avançar juntos, que desbloqueie as pessoas e estimule a criatividade do amor em todos? Reflitamos sobre isto.

E que a Virgem Maria nos ajude a superar o medo - nunca ter medo de Deus! Temor sim, medo não - e confiar no Senhor.


Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Fotos da Missa do XXXIII Domingo do Tempo Comum no Vaticano (2023)

No dia 19 de novembro de 2023 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Santa Missa do XXXIII Domingo do Tempo Comum (Ano A) na Basílica de São Pedro por ocasião do VII Dia Mundial dos Pobres.

O Santo Padre foi assistido por Dom Diego Giovanni Ravelli e pelo Monsenhor Massimiliano Matteo Boiardi. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

A Liturgia Eucarística foi celebrada por Dom Rino Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização (1ª seção), assistido por Monsenhor Marco Agostini.

Procissão de entrada
Incensação

Liturgia da Palavra

Homilia do Papa: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

VII Dia Mundial dos Pobres
Santa Missa
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
19 de novembro de 2023

Três homens veem-se na posse de uma enorme riqueza, graças à generosidade do seu senhor, que está de saída para uma longa viagem. Um dia, porém, vai regressar e convocará aqueles servos, esperando poder alegrar-se com eles pela forma como, entretanto, fizeram render os seus bens. Assim, a parábola que ouvimos (Mt 25,14-30) convida-nos a deter-nos em dois percursos: a viagem de Jesus e a viagem da nossa vida.

A viagem de Jesus. No início da parábola, Ele fala de «um homem [que] ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens» (v. 14). Esta viagem faz pensar no próprio mistério de Cristo, Deus feito homem, com a sua Ressurreição e Ascensão ao Céu. Com efeito, Ele que desceu do seio do Pai para vir ao encontro da humanidade, morrendo, destruiu a morte e, ressuscitando, retornou ao Pai. Assim Jesus, tendo terminado a sua existência terrena, realiza a «viagem de regresso» para junto do Pai. Mas, antes de partir, confiou-nos os seus bens, os seus talentos, um verdadeiro «capital»: deixou a si mesmo na Eucaristia, a sua Palavra de vida, a sua santa Mãe como nossa Mãe, e distribuiu os dons do Espírito Santo para podermos continuar a sua obra no mundo. Tais «talentos» são concedidos «a cada qual - especifica o Evangelho - de acordo com a sua capacidade» (v. 15) e, naturalmente, para uma missão pessoal que o Senhor nos confia na vida quotidiana, na sociedade e na Igreja. O mesmo afirma o Apóstolo Paulo: «A cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. Por isso se diz: Ao subir às alturas, levou cativos em cativeiro, deu dádivas aos homens» (Ef 4,7-8).


Mas voltemos a fixar o olhar em Jesus, que recebeu tudo das mãos do Pai, mas não reteve para si esta riqueza, «não considerou um privilégio ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo» (Fl 2,6-7). Revestiu-se da nossa frágil humanidade, cuidou como bom samaritano das nossas feridas, fez-se pobre para nos enriquecer com a vida divina (cf. 2Cor 8,9), subiu à cruz. A Ele, que não tinha pecado, «Deus o fez pecado por nós» (2Cor 5,21), em nosso favor. Jesus viveu em nosso favor. Foi isto que animou a sua viagem pelo mundo, antes de voltar ao Pai.

Mas a parábola de hoje diz-nos ainda que «o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados» (Mt 25,19). Com efeito, à primeira viagem rumo ao Pai, se seguirá outra que Jesus há de realizar no fim dos tempos, quando voltar na glória e quiser encontrar-nos de novo, para «fazer um balanço», o balanço da história, e introduzir-nos na alegria da vida eterna. Por isso devemos perguntar-nos: como nos encontrará o Senhor, quando voltar? Como me apresentarei ao encontro com Ele?

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Dissertações sobre Liturgia: Universidade Católica Portuguesa 2020-2021

Recentemente destacamos aqui em nosso blog cinco trabalhos acadêmicos sobre Liturgia defendidos durante o ano de 2022 na Universidade Católica Portuguesa (UCP), instituição fundada em 1967 com sedes em Lisboa, Braga, Porto e Viseu.

Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade à proposta de maneira “retrospectiva”, destacando cinco Dissertações de Mestrado sobre Liturgia, Sacramentos e arte sacra defendidas nessa Universidade lusitana nos anos de 2020 e 2021.

Universidade Católica Portuguesa (Logo)

Seguem os resumos dos trabalhos, que podem ser acessados na íntegra no site da UCP, conforme os links a seguir:

O Altar: Que lugar, que presença? - Espacialidade litúrgica e renovação eclesial pós-conciliar
Autor: Carlos Alexandre Alves Pinto
Orientador: Paulo Fernando de Oliveira Fontes
Dissertação de Mestrado (2020), 204 páginas

O presente trabalho procura investigar o lugar e presença do Altar no espaço litúrgico e o seu papel na comunidade crente, sob o processo da renovação eclesial pós-conciliar. Tal objetivo implica uma (re)leitura das etapas do Movimento Litúrgico pré-conciliar, dos documentos conciliares e papais, bem como do próprio ritual da dedicação do Altar. Verificamos a necessidade de uma renovação no modo de fazer a Liturgia de então. É na práxis litúrgica que nos deparamos com o mistério que no Altar se realiza - Cristo morto e ressuscitado. Neste processo, pudemos redescobrir a necessidade de compreender a dimensão simbólica e sacral das realidades que compõem a Liturgia. Reconhecendo a renovação eclesiológica - Igreja, Corpo Místico de Cristo, Povo de Deus, Sacramento de Salvação, Comunhão - percebemos a necessidade de aproximar a gestualidade litúrgico-simbólica da comunidade crente. Partindo daqui, compreendemos o convite conciliar a uma nobre simplicidade no modo de fazer e agir em Igreja e no espaço igreja. Este indicativo, ampliado além das artes, manifesta um caminho da procura da verdade, onde a ação litúrgica e vida do homem tocam a presença de Deus. Esta linha de investigação está plasmada na primeira do presente trabalho.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Leitura litúrgica da Primeira Carta de Pedro (2)

“Como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo” (1Pd 2,5).

Na postagem anterior desta série sobre a leitura dos livros da Sagrada Escritura nas celebrações litúrgica do Rito Romano iniciamos um estudo sobre a Primeira Carta de Pedro (1Pd).

Na 1ª parte, após uma breve introdução, começamos a analisar sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica, como indicado no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM) [1], no Próprio do Tempo e o Próprio dos Santos.

Nesta postagem prosseguiremos nosso percurso com o Comum dos Santos, as Missas para diversas necessidades e votivas e os demais sacramentos.

São Pedro (Simone Martini)

2. Leitura litúrgica de Primeira Carta de Pedro: Composição harmônica

a) Celebração Eucarística

Iniciamos esta segunda parte da pesquisa com os Comuns dos Santos, formulários com várias opções de leituras ad libitum (à escolha) para cada “categoria” de santos. Aqui identificamos seis leituras de 1Pd em quatro formulários:

- Comum da Dedicação de igreja: 1Pd 2,4-9 [2], a exortação a formarmos, “como pedras vivas”, um “edifício espiritual”, isto é, a Igreja, da qual o templo cristão é a imagem.

Dessa mesma perícope é tomada uma das antífonas de Comunhão desse Comum, mais especificamente para a Missa do aniversário da dedicação de outra igreja: “Como pedras vivas, formai um templo espiritual, um sacerdócio santo” (1Pd 2,5) [3].

- Comum dos Mártires: para as celebrações dos mártires são propostas duas leituras à escolha, ambas exortando à coragem e proclamando a “bem-aventurança” das perseguições por causa da fé: 1Pd 3,14-17 ou 1Pd 4,12-19 [4].

Desta última perícope é tomada também uma das opções de versículo de aclamação ao Evangelho para as celebrações dos mártires, proclamando a “bem-aventurança” da perseguição: “Felizes sereis vós, se fordes ultrajados, por causa de Jesus, pois repousa sobre vós o Espírito de Deus” (1Pd 4,14) [5].

- Comum dos Pastores: 1Pd 5,1-4 [6], a exortação aos presbíteros a apascentar o “rebanho de Deus” que lhes confiado;

- Comum dos Santos: com duas opções de leituras à escolha:
1Pd 3,1-9: conselhos às esposas e aos maridos. Embora o Lecionário não especifique, essa leitura é mais adequada para santos que viveram no Matrimônio;
1Pd 4,7b-11: exortação ao amor fraterno e a colocar à disposição os dons recebidos [7].

Seguimos nosso percurso com as Missas para diversas necessidades, igualmente com várias opções de leituras ad libitum. Como no Comum dos Santos, nosso livro aparece em quatro formulários:

- Missa pela santa Igreja: 1Pd 2,4-9 [8], a exortação a formarmos, “como pedras vivas”, um “edifício espiritual”, como no Comum da dedicação de igreja;

“Como pedras vivas, formai um edifício espiritual” (1Pd 2,5)
(Fiéis no Santuário Nacional de Aparecida)

Missa pelos religiosos1Pd 1,3-9 [9], parte da “ação de graças” da Carta, prometendo que, após passarmos pelas provações deste mundo, receberemos “uma herança incorruptível, que não estraga, que não se mancha nem murcha” (v. 4);

Sugestão de leitura: A Constituição Litúrgica do Vaticano II

Estamos às portas de celebrar os 60 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a sagrada Liturgia, promulgada a 04 de dezembro de 1963, neste ano em que o Papa Francisco nos propõe “revisitar” as quatro Constituições do Concílio Vaticano II.

Neste sentido, propomos como sugestão de leitura para este mês de novembro a obra “A Constituição Litúrgica do Concílio Vaticano II: A Sacrosanctum Concilium a seu alcance”, escrita pelo Padre Valter Maurício Goedert, da Arquidiocese de Florianópolis (SC), em 2013, no contexto dos 50 anos do Concílio, e publicada pela Editora Ave-Maria.


Neste breve livro, de 144 páginas, o autor apresenta de forma sintética os principais aspectos da Sacrosanctum Concilium, subdivididos em 14 capítulos:

1. A Liturgia no Concílio Vaticano II (pp. 11-13)
Neste capítulo introdutório, após um breve histórico do Movimento Litúrgico, o autor apresenta a estrutura da SC, que será aprofundada ao longo da obra.

2. Princípios gerais da reforma litúrgica (pp. 15-25)
Aqui são apresentados os aspectos teológicos delineados nos primeiros 10 parágrafos da Constituição: a presença de Cristo na Liturgia, a relação entre Liturgia terrena e celeste, a Liturgia como fonte e ápice da vida da Igreja...

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Divina Liturgia nos 400 anos do martírio de São Josafá

No domingo, 12 de novembro de 2023, o Arcebispo-Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), presidiu a Divina Liturgia no altar da Cátedra da Basílica de São Pedro no Vaticano por ocasião dos 400 anos da morte de São Josafá, Bispo e Mártir, cujas relíquias veneram-se em um dos altares da Basílica.

Além dos Bispos ucranianos e dos sacerdotes da Ordem de São Basílio Magno (OSBM), à qual pertencia São Josafá, também estiveram presentes Bispos e fiéis da Lituânia, onde o santo exerceu parte do seu ministério. A homilia, com efeito, foi confiada ao Arcebispo de Vilnius, Dom Gintaras Grušas.

Procissão de entrada
O Arcebispo Maior abençoa os fiéis
Incensação
Liturgia da Palavra
Evangelho

Ângelus: XXXII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 12 de novembro de 2023

Amados irmãos e irmãs, bom domingo!
O Evangelho de hoje oferece-nos uma história que diz respeito ao sentido da vida de cada pessoa. É a parábola das dez virgens, chamadas a sair ao encontro do esposo (Mt 25,1-13). Viver é isto: uma grande preparação para o dia em que seremos chamados a sair ao encontro de Jesus! Na parábola, porém, dessas dez virgens, cinco são sábias e cinco insensatas. Vejamos em que consistem a sabedoria e a insensatez. A sabedoria da vida e a insensatez da vida.

Todas aquelas damas de honra estão ali para acolher o esposo, isto é, querem encontrá-lo, tal como nós também desejamos uma realização feliz da vida: a diferença entre a sabedoria e a insensatez não reside, portanto, na boa vontade. Nem na pontualidade com que se chega ao encontro: todas estavam lá. A diferença entre as sábias e as insensatas é outra: a preparação. O texto diz: as sábias «juntamente com as suas lâmpadas, levaram também o azeite» (v. 4); as insensatas não o fizeram. Eis a diferença: o óleo. E qual é uma das características do óleo? O fato de não se ver: está dentro das lâmpadas, não dá nas vistas, mas sem ele as lâmpadas não dão luz.

Olhemos para nós mesmos e vejamos que a nossa vida corre o mesmo risco: muitas vezes estamos muito atentos às aparências, o importante é cuidar bem da nossa imagem, causar uma boa impressão perante os outros. Mas Jesus diz que a sabedoria da vida está em outro lado: no cuidado com o que não se vê, mas, mais importante, no cuidado com o coração. O cuidado da vida interior. Trata-se de saber parar e escutar o coração, de vigiar sobre os pensamentos e os sentimentos. Quantas vezes não sabemos o que se passa dentro do nosso coração nesse dia. O que se passa dentro de cada um de nós? A sabedoria é saber dar espaço ao silêncio, é saber ouvirmo-nos a nós mesmos e aos outros. É saber renunciar ao tempo passado diante da tela do celular para fitar a luz nos olhos dos outros, no nosso próprio coração, no olhar de Deus sobre nós. Significa não nos deixarmos aprisionar pelo ativismo, mas dedicar tempo ao Senhor, à escuta da sua Palavra.

E o Evangelho dá-nos o conselho certo para não negligenciarmos o óleo da vida interior, “o óleo da alma”: diz-nos que é importante prepará-lo. De fato, na narração vemos que as virgens já têm as lâmpadas, mas devem preparar o óleo: devem ir aos negociantes, comprá-lo, colocá-lo nas lâmpadas... (vv. 7.9). Assim é para nós: a vida interior não pode ser improvisada, não é uma questão de um momento, de uma vez ou outra, de uma vez por todas; deve ser preparada dedicando um pouco de tempo todos os dias, com constância, como se faz para todas as coisas importantes.

Então podemos perguntar-nos: o que estou preparando neste momento da vida? Dentro de mim, o que estou preparando? Talvez esteja tentando poupar, esteja pensando em uma casa ou carro novo, em projetos concretos... São coisas boas, não são más. Mas será que estou pensando também em dedicar tempo ao cuidado do coração, à oração, ao serviço dos outros, ao Senhor que é o objetivo da vida? Em suma, como está o óleo da minha alma? Perguntemo-nos cada um de nós: como está o óleo da minha alma? Alimento-o, conservo-o bem?
Que Nossa Senhora nos ajude a conservar o óleo da vida interior.

As dez virgens (Walter Rane)

Fonte: Santa Sé.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Discurso do Papa: Encontro de Reitores de Santuários 2023

No dia 11 de novembro de 2023 o Papa Francisco proferiu um discurso no II Encontro Internacional de Reitores e Agentes Pastorais de Santuários, encontro promovido pelo Dicastério para a Evangelização (Seção para as questões fundamentais da evangelização no mundo) em preparação ao Jubileu de 2025.

Papa Francisco
Discurso aos participantes do II Encontro Internacional de Reitores e Agentes Pastorais de Santuários
Sala Paulo VI
Sábado, 11 de novembro de 2023

Caros amigos, bom dia!
Eu vos acolho por ocasião do vosso II Encontro Internacional, porque conheceis bem minha atenção pela vida dos Santuários. Agradeço a Dom Rino Fisichella por esta iniciativa e pelo empenho do Dicastério na pastoral dos Santuários. São lugares especiais, onde o santo povo fiel de Deus acorre para rezar, para ser consolado e para olhar com maior confiança para o futuro.

Vamos ao Santuário, antes de tudo, para rezar. Da nossa parte é necessário que permaneça sempre viva a preocupação de que os nossos Santuários sejam realmente lugares privilegiados de oração. Sei com quanto cuidado se celebra ali a santa Eucaristia e quanto empenho é dedicado ao Sacramento da Reconciliação. Recomendo-vos que haja um bom discernimento na escolha dos sacerdotes para as Confissões, para que quem se apresenta ao confessionário atraído pela misericórdia do Pai não encontre obstáculos para viver uma plena reconciliação. O Sacramento da Reconciliação é perdoar, sempre, perdoar. Não pode acontecer, especialmente nos Santuários, que se encontrem obstáculos, porque nesse Sacramento, por sua própria natureza, a misericórdia de Deus pede ser expressa de modo superabundante. Assim justamente o percebem os fiéis: como lugar especial onde encontrar a graça de Deus. Perdoai sempre como perdoa o Pai. Perdoar.


Na história de todo Santuário é fácil tocar com a mão a fé do nosso povo fiel, que se mantém viva e alimentada com a oração, em primeiro lugar o Rosário, que ajuda a rezar através da meditação dos mistérios da vida de Jesus e da Virgem Maria. Entrar espiritualmente nesses mistérios, sentindo-se parte viva de tudo o que constitui nossa história da salvação, é um empenho doce, que dá sabor de Evangelho à vida quotidiana.

É importante que nos Santuários se dedique particular atenção à adoração. Nós perdemos um pouco o senso da adoração, devemos recuperá-lo. Talvez devamos reconhecer que o ambiente e a atmosfera das nossas igrejas nem sempre convida ao recolhimento e à adoração. Favorecer nos peregrinos a experiência do silêncio contemplativo - e não é fácil -, do silêncio adorador, significa ajudá-los a fixar o olhar no essencial da fé. A adoração não é um afastar-se da vida; antes, é o espaço para dar sentido a tudo, para receber o dom do amor de Deus para poder testemunhá-lo na caridade fraterna. Nós devemos nos questionar: “E eu, sou habituado à oração de adoração?”. É importante responder.

sábado, 11 de novembro de 2023

Festa da Dedicação da Basílica do Latrão (2023)

No dia 09 de novembro a Igreja de Rito Romano celebra a Festa da Dedicação da Basílica do Latrão, a Catedral de Roma. Para saber mais, confira nossa postagem sobre o significado dessa celebração.

Neste ano de 2023 a Missa da Festa foi presidida pelo Arcipreste da Basílica e Vigário Geral da Diocese de Roma, Cardeal Angelo De Donatis, dando início às comemorações dos 1700 anos da dedicação da igreja (324-2024). Para saber mais, confira nossa postagem sobre a história da Basílica.

Note-se que o altar-mor e o baldaquino ou cibório do século XIV estão sendo restaurados, de modo que foi preparado um altar móvel para a Liturgia Eucarística.

Arquibasílica do Latrão, Catedral de Roma
Procissão de entrada
Liturgia da Palavra
Homilia
Incensação

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Dissertações sobre Liturgia: Universidade Católica Portuguesa 2022

Aqui em nosso blog já destacamos trabalhos acadêmicos sobre Liturgia (Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado) de duas instituições do Brasil, as Pontifícias Universidades Católicas de São Paulo (PUC-SP) e do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Nesta postagem gostaríamos de “cruzar o Atlântico” e propor algumas Dissertações defendidas na Universidade Católica Portuguesa (UCP), instituição fundada em 1967 com sedes em Lisboa, Braga, Porto e Viseu.

Universidade Católica Portuguesa (Logotipo)

A seguir, pois, destacamos cinco Dissertações de Mestrado sobre Liturgia e Sacramentos defendidas nessa instituição no ano de 2022.

Seguem os resumos dos trabalhos, que podem ser acessados na íntegra no site da UCP, conforme os links a seguir:

Catequese e Liturgia no De Sacramentis e no De Mysteriis de Santo Ambrósio de Milão
Autor: Ángel David Azcurra Rodríguez
Orientador: Isidro Pereira Lamelas
Dissertação de Mestrado (2022), 154 páginas

O processo da iniciação cristã aparece, especialmente no século IV, como instância fundamental para a formação e transformação dos aspirantes ao Batismo. Disto era consciente Santo Ambrósio de Milão que, na sua preocupação pastoral, se dedicou à formação dos catecúmenos que estavam próximos de receber os sacramentos da iniciação cristã. Deste modo, as suas catequeses mistagógicas - De Sacramentis e De Mysteriis - dão a conhecer não só os conteúdos e o sentido da Liturgia batismal na explicação dos ritos e sacramentos recebidos, mas, sobretudo, a metodologia usada pelo nosso autor para transmitir toda a riqueza catequético-litúrgica da Tradição da Igreja. Assim, tais obras aparecem como o cume de todo o processo de iniciação cristã, apresentando uma grande riqueza catequética, litúrgica, teológica, moral, exegética e espiritual, muito esclarecedora e válida para os nossos dias. É nesta perspectiva que estudaremos as obras referidas, observando os seus vários elementos, dentro do contexto catecumenal, definindo este contexto e as suas caraterísticas, sempre sob a perspectiva litúrgico-catequética.
Capítulos:
1. Santo Ambrósio no seu tempo: Contexto político e eclesial, a sua figura e obra pastoral
2. Catecumenato, catequese e Liturgia no século IV
3. A mistagogia de Ambrósio de Milão: Análise das catequeses “De Sacramentis” e “De Mysteriis


Práticas silenciárias e mistagogia poética do silêncio na Liturgia
Autor: Rafael da Silva Gonçalves
Orientador: Joaquim Augusto Félix de Carvalho
Dissertação de Mestrado (2022), 97 páginas

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Leitura litúrgica da Primeira Carta de Pedro (1)

“Aproximai-vos do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus” (1Pd 2,4).

Em nossa série de postagens sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura já analisamos quatro das sete “Cartas Católicas” do Novo Testamento (NT), assim chamadas porque dirigidas a toda a Igreja: as três Cartas de João e a Carta de Tiago.

Nesta postagem daremos continuidade a esta proposta com um percurso pela leitura da Primeira Carta de Pedro (1Pd) na Liturgia do Rito Romano.

São Pedro (Matthias Stom)

1. Breve introdução à Primeira Carta de Pedro

No primeiro versículo da Carta o autor se apresenta como: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo” (1Pd 1,1). A maioria dos estudiosos defende que esta autoria é simbólica. Pedro morreu entre 64 e 68; contudo, diversos elementos presentes na Carta situam sua redação nos anos 80. Portanto, seu autor provavelmente era um discípulo do Apóstolo, que buscava para manter vivos seus ensinamentos.

Embora associada a Roma (1Pd 5,13), chamada de “Babilônia”, a obra está dirigida “aos estrangeiros da Diáspora” (1Pd 1,1), provavelmente pequenas comunidades formadas tanto por cristãos de origem pagã quanto de origem judaica, “espalhados” pela Ásia Menor após a destruição de Jerusalém no ano 70 e que se consideravam “dispersos” em um mundo onde os cristãos eram minoria.

A Carta pode ser dividida em três partes dentro de uma “moldura epistolar”:
Introdução: 1Pd 1,1-12: Saudação (vv. 1-2) e “ação de graças” (vv. 3-12);
1ª parte: 1Pd 1,13–2,10: Afirmação da dignidade do cristão;
2ª parte: 1Pd 2,11–4,11: Exortação a um bom testemunho diante dos pagãos;
3ª parte: 1Pd 4,12–5,11: Exortações para o momento presente;
Conclusão: 1Pd 5,12-14: Conclusão e saudações finais.

Já na primeira parte a Carta toma a forma de uma “homilia batismal” dirigida aos neófitos, isto é, aos recém-batizados, exortando-os a assumir a vida nova que receberam pelo sacramento.

Na segunda parte temos um dos “códigos domésticos” do NT (1Pd 2,13–3,12), no qual o autor exorta vários grupos sobre o comportamento do cristão, chamado a dar um bom testemunho diante dos pagãos: os cidadãos diante dos governantes, os servos com seus senhores, os esposos (sobretudo em casamentos mistos, entre cristãos e pagãos), enfim, todos os cristãos, que devem tratar-se como irmãos.

Ainda nesta parte se reflete sobre a atitude cristã diante da “perseguição”. A exortação ao respeito pelas autoridades parece indicar que não se trata de uma perseguição “até a efusão do sangue”, mas sim uma “rejeição” dos pagãos aos valores cristãos.

O autor recorda o exemplo de Cristo: Ele sujeitou-se ao rebaixamento da Morte, sendo glorificado em sua Ressurreição (1Pd 3,18-22). Seguindo seu exemplo, os cristãos não devem adotar o comportamento dos pagãos (4,1-6), mas, antes, viver em atitude de vigilância, à espera da vinda definitiva de Cristo (4,7-11).

Por fim, a terceira parte da Carta traz novas exortações sobre a provação (1Pd 4,12-19) e sobre a vida na comunidade, sendo referidos os presbíteros (5,1-4) e os “jovens” (5,5-11), provavelmente “iniciados” na fé.

Como podemos ver, a Primeira Carta de Pedro é um escrito eminentemente parenético, isto é, exortativo. Não obstante, sua teologia também é bem desenvolvida, refletindo sobre a Trindade, o Mistério Pascal de Cristo - incluindo sua descida ao Hades (1Pd 3,18-20; 4,6) -, a Igreja, os sacramentos (sobretudo o Batismo) e a escatologia.

A Santíssima Trindade, evocada na saudação da Carta

Destaca-se ainda o amplo uso de referências do Antigo Testamento, além dos vários pontos de contato com outros escritos do NT (por exemplo, com as Cartas Paulinas).

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

2. Leitura litúrgica da Primeira Carta de Pedro: Composição harmônica

Como temos feito com todos os livros da Sagrada Escritura estudados nesta série, analisaremos a leitura da Primeira Carta de Pedro nas celebrações litúrgicas seguindo os dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Iniciaremos nosso percurso pelas leituras em composição harmônica, isto é, em sintonia com o tempo ou a festa litúrgica, considerando também alguns textos da Carta proferidos como antífonas na Missa.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Ângelus: XXXI Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 05 de novembro de 2023 


Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho da Liturgia de hoje ouvimos algumas palavras de Jesus a respeito dos escribas e fariseus, isto é, dos chefes religiosos do povo. Em relação a estas autoridades, Jesus usa palavras muito duras, «porque dizem e não fazem» (Mt 23,3) e «fazem todas as suas obras para serem admirados pelo povo» (v. 5). É isto que Jesus diz: dizem e não fazem, e tudo o que fazem é para aparecer.

Detenhamo-nos, pois, nestes dois aspectos: a distância entre o dizer e o fazer e o primado do exterior sobre o interior.

A distância entre o dizer e o fazer. A estes mestres de Israel, que pretendem ensinar aos outros a Palavra de Deus e ser respeitados como autoridades do Templo, Jesus contesta a duplicidade da vida deles: pregam uma coisa, mas vivem outra. Estas palavras de Jesus recordam as dos profetas, especialmente de Isaías: «Este povo aproxima-se de mim só com a boca e honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim» (Is 29,13). É este o perigo a que devemos estar atentos: a duplicidade de coração. Também nós corremos este perigo: esta duplicidade de coração que põe em causa a autenticidade do nosso testemunho e também a nossa credibilidade como pessoas e como cristãos.

Todos nós experimentamos, devido à nossa fragilidade, uma certa distância entre o dizer e o fazer; mas outra coisa é ter um coração duplo, viver com “um pé em dois sapatos” sem fazer disso um problema. Sobretudo quando somos chamados - na vida, na sociedade ou na Igreja - a desempenhar um papel de responsabilidade, lembremo-nos disto: não à duplicidade! Para um sacerdote, um agente pastoral, um político, um professor ou um pai, aplica-se sempre esta regra: o que se diz, o que se prega aos outros, compromete-se a vivê-lo primeiro. Para ser um mestre com autoridade, é preciso primeiro ser uma testemunha credível.

O segundo aspecto é uma consequência: o primado do exterior sobre o interior. De fato, vivendo na duplicidade, os escribas e os fariseus preocupam-se em ter de esconder a sua incoerência para salvar a sua reputação exterior. Porque se as pessoas soubessem o que deveras está no seu coração, ficariam envergonhadas e perderiam toda a credibilidade. Por isso, fazem obras para parecerem justos, para “salvar as aparências”, como se diz. O truque é muito comum: pintam a cara, pintam a vida, pintam o coração. Estas pessoas “pintadas” não sabem viver a verdade. E muitas vezes também nós temos a tentação da duplicidade.

Irmãos e irmãs, aceitando esta advertência de Jesus, perguntemo-nos também a nós mesmos: procuramos praticar o que pregamos, ou vivemos na duplicidade? Dizemos uma coisa e fazemos outra? Preocupamo-nos apenas em mostrar-nos impecáveis por fora, pintados, ou cuidamos da nossa vida interior com sinceridade de coração?

Dirijamo-nos à Virgem Maria: ela que viveu com integridade e humildade de coração segundo a vontade de Deus, nos ajude a tornarmo-nos testemunhas credíveis do Evangelho.

Jesus e os fariseus (Lebedev)

Fonte: Santa Sé.

Observação: No Brasil, celebramos nesse domingo a Solenidade de Todos os Santos, transferida do dia 01 de novembro.