“Cantai a Deus salmos,
hinos e cânticos espirituais, em ação de graças” (Cl 3,16).
Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl)
nas celebrações do Rito Romano.
Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o
critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.
Agora cabe contemplar o outro critério de seleção dos textos bíblicos: a
leitura semicontínua.
3. Leitura litúrgica
da Carta aos Colossenses: Leitura semicontínua
De acordo com o n. 66 do Elenco
das Leituras da Missa (ELM),
a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um
livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de
Deus [1].
a) Celebração
Eucarística
Na Celebração Eucarística, as Cartas
Paulinas são lidas de maneira semicontínua tanto nos domingos quanto nos
dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].
Nos domingos a Carta aos Colossenses é a 2ª leitura da
Missa do XV ao XVIII Domingo do Tempo Comum do Ano C, entre a leitura semicontínua
da Carta aos Gálatas e da Carta aos Hebreus (cap. 11–12).
As quatro perícopes escolhidas do
nosso livro aqui são:
XV Domingo: Cl 1,15-20;
XVI Domingo: Cl 1,24-28;
XVII Domingo: Cl 2,12-14;
XVIII Domingo: Cl 3,1-5.9-11 [3]
Nos dias de semana do Tempo
Comum, por sua vez, a Carta é lida
por oito dias: da quarta-feira da XXII semana à quinta-feira
da XXIII semana do Tempo Comum no ano ímpar, entre a leitura da Primeira Carta aos Tessalonicenses e da Primeira
Carta a Timóteo.
XXII semana do Tempo
Comum (Ano ímpar):
Quarta-feira: Cl
1,1-8;
Quinta-feira: Cl
1,9-14;
Sexta-feira: Cl
1,15-20;
Sábado: Cl
1,21-23.
XXIII semana do Tempo
Comum (Ano ímpar):
Segunda-feira: Cl
1,24–2,3;
Terça-feira: Cl
2,6-15;
Quarta-feira: Cl
3,1-11;
Quinta-feira:
Cl 3,12-17 [4].
Vale destacar ainda os dois versículos de aclamação ao
Evangelho da Carta propostos durante o Tempo Comum:
- XIV Domingo (Ano C): “A paz de Cristo reine em vossos
corações; ricamente habite em vós sua palavra!” (Cl 3,15a.16a) [5].
- Sábado da VIII semana: “A palavra de Cristo ricamente
habite em vós, dando graças, por Ele, a Deus Pai!” (cf. Cl
3,16a.17c) [6].
b) Liturgia das Horas
Na Liturgia das Horas
a Carta aos Filipenses é lida na
íntegra no Tempo do Natal, no Ofício das Leituras de 29 de dezembro a 05
de janeiro, como indica a Introdução Geral da Liturgia das Horas:
“De 29 de dezembro a 05 de janeiro se lê a Carta
aos Colossenses, que trata da Encarnação do Senhor” (n. 148) [7].
Ofício das Leituras
do Tempo do Natal
29 de dezembro: Cl 1,1-14 - “Ação de graças e prece”;
30 de dezembro: Cl 1,15–2,3 - “Cristo, cabeça da Igreja;
Paulo, seu servo”;
31 de dezembro: Cl 2,4-15 - “Nossa fé em Cristo”;
01 de janeiro: Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (com textos próprios);
02 de janeiro: Cl 2,16–3,4 - “A vida nova em Cristo”;
03 de janeiro: Cl 3,5-16 - “A vida do homem novo”;
04 de janeiro: Cl 3,17–4,1 - “A vida da família cristã”;
05 de janeiro: Cl 4,2-18 - “Exortação à vigilância. Conclusão da Carta” [8].
No ciclo bienal do Ofício das Leituras, que
infelizmente ainda não foi traduzido para o Brasil, a Carta é lida nos
mesmos dias, porém apenas no ano ímpar, dando espaço para a leitura do Cântico
dos Cânticos no ano par [9].
Além das leituras longas do Ofício, temos ainda nove leituras
breves de Colossenses na Hora
Média e nas Vésperas das quatro semanas do Saltério.
Cumpre recordar que os salmos organizados nessas quatro
semanas são entoados ao longo de todo o ano, mas as leituras são proferidas
apenas no Tempo Comum, uma vez que o Advento, o Natal, a Quaresma e a Páscoa
possuem leituras próprias.
I semana do Saltério:
- Vésperas da
segunda-feira: Cl 1,9b-11 [10], o autor da Carta deseja aos seus destinatários que alcancem a sabedoria e os
exorta a “levar uma vida digna do Senhor”;
- Hora Média (15h) da
sexta-feira: Cl 3,12-13 [11], a lista de virtudes: “misericórdia, bondade, humildade, mansidão,
paciência”, concluindo com a exortação ao perdão.
II semana do
Saltério:
- I Vésperas do
domingo: Cl 1,2b-6a [12], a ação de graças pela fé, amor e esperança
dos colossenses, uma vez que receberam o Evangelho, que é a “Palavra da Verdade”.
III semana do
Saltério:
- Hora Média (15h) da
segunda-feira: Cl 1,21-22 [13], “Cristo
vos reconciliou pela morte que sofreu”;
- Hora Média (15h) da
quarta-feira: Cl 3,14-15 [14], a exortação a nos amarmos uns aos
outros, “pois o amor é o vínculo da
perfeição”.
IV semana do
Saltério:
- Vésperas da
terça-feira: Cl 3,16 [15], a exortação a cantar a Deus “salmos, hinos e cânticos espirituais, em
ação de graças”;
- Hora Média da
quarta-feira:
12h: Cl 3,17 - “Tudo o
que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo”;
15h: Cl 3,23-24 - “Tudo o que fizerdes, fazei-o de coração,
como para o Senhor” [16].
- Vésperas da
quinta-feira: Cl 1,23 [17], a exortação a permanecer “firmes na fé”, sem afastar-se do
Evangelho.
4. Leitura litúrgica da
Carta
aos Colossenses: Cântico (Cl 1,12-20)
Como afirmamos anteriormente nessas
postagens sobre a Carta aos Colossenses,
o texto de Cl 1,15-20 é considerado um “hino cristológico” da Igreja
primitiva, que poderíamos chamar de “hino à soberania de Cristo”.
Na Liturgia das Horas, como indica sua Introdução Geral (n. 136), os “hinos” ou “cântico” do Novo
Testamento são entoados nas Vésperas (oração da tarde): “São indicados sete
cânticos, um para cada dia da semana” [18].
Os cânticos “paulinos”
são intercalados ao longo da semana com os cânticos do Apocalipse. Assim, o texto de Colossenses
é entoado semanalmente nas Vésperas das
quartas-feiras [19], unido aqui ao seu “prelúdio” (vv. 12-14), no qual o
gerúndio “dando graças” é traduzido
como um imperativo: “Demos graças”.
O cântico é intitulado “Cristo,
o Primogênito de toda a criatura e o Primogênito dentre os mortos” (vv.
15.18) e foi enriquecido com um refrão facultativo, adaptado do próprio texto: “Glória a vós, primogênito dentre os mortos”
(v. 18).
Além das Vésperas das quartas-feiras, o cântico é prescrito
em outras cinco ocasiões. Primeiramente em três celebrações ligadas ao Ciclo do Natal:
- II Vésperas da Solenidade do Natal do Senhor (25 de dezembro);
- Vésperas da Festa da Apresentação do Senhor
(02 de fevereiro);
- II Vésperas da
Solenidade da Anunciação do Senhor (25 de março) [20].
Aqui o hino canta sobretudo
a Encarnação, sendo fundamental o v. 15: Cristo “é a imagem do Deus
invisível”.
Fora do Ciclo do Natal,
o hino de Colossenses é entoado nas Vésperas da Festa de São Miguel, São Gabriel e São Rafael, Arcanjos (29 de setembro) [21]. Aqui se torna central
o v. 16, que proclama a soberania de Cristo sobre os seres angélicos.
Por fim, nosso cântico aparece nas I Vésperas do Comum da dedicação de uma igreja na Quaresma [22],
substituindo o cântico aleluiático de Ap 19,1-2.5-7, uma vez que durante
a Quaresma não se entoa o “aleluia”. A escolha é bastante acertada, dada a
referência à Igreja como corpo, do qual Cristo é a cabeça (v. 18).
Cristo Rei, Senhor dos Anjos (Hans Memling) |
Encerramos assim nosso estudo da leitura da Carta de São
Paulo aos Colossenses nas celebrações litúrgicas do Rito Romano. Nas
próximas postagens concluiremos a análise das “Cartas do cativeiro” atribuídas
ao Apóstolo com a Carta aos Efésios.
Notas:
[1] cf. ALDAZÁBAL,
José. A Mesa da Palavra I: Elenco das
Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] ibid., pp.
104-105.
[3] LECIONÁRIO I: Dominical A-B-C. Tradução portuguesa da 2ª
edição típica para o Brasil. São
Paulo: Paulus, 1994.
[4] LECIONÁRIO II: Semanal. Tradução portuguesa da 2ª edição
típica para o Brasil. São Paulo:
Paulus, 1995.
[5] LECIONÁRIO I, op. cit.
[6] LECIONÁRIO II, op. cit.
[7] ALDAZÁBAL, José. Instrução
Geral sobre a Liturgia das Horas - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas,
2010, p. 86.
[8] OFÍCIO DIVINO. Liturgia
das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição
típica. São Paulo: Paulus, 1999, vol. I, pp. 398.410.421.451.458.465.472.
[9] Fonte: Dei Verbum.
[10] OFÍCIO DIVINO, vol. III, p. 657; vol. IV, p. 611.
[11] ibid., vol. III, p. 730; vol. IV, p.
684.
[12] ibid., vol. III, p. 752; vol. IV, p.
706.
[13] ibid., vol. III, p. 927; vol. IV, p.
881.
[14] ibid., vol. III, p. 966; vol. IV, p.
920.
[15] ibid., vol. III, p. 1087; vol. IV, p.
1041.
[16] ibid., vol. III, pp. 1101-1102; vol. IV,
pp. 1055-1056.
[17] ibid., vol. III, p. 1125; vol. IV, p.
1079.
[18] ALDAZÁBAL, op.
cit., 2010, p. 83.
[19] OFÍCIO DIVINO, vol. I, pp. 667.763.857.954; vol. II, pp. 1037.1149.1254.1358; vol.
III, pp. 694.832.969.1105; vol. IV, pp. 648.786.923.1059.
[20] ibid., vol. I, p. 374; vol. III,
p. 1243; vol. II, p. 1513.
[21] ibid., vol. IV, p.
1326.
[22] ibid., vol.
II, p. 1637.
Imagens: Wikimedia Commons.
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