quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (4)

“Cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças” (Cl 3,16).

Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Agora cabe contemplar o outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Jesus Cristo, Rei dos Anjos
(Jan Henryk de Rosen)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Leitura semicontínua

De acordo com o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas de maneira semicontínua tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

Nos domingos a Carta aos Colossenses é a 2ª leitura da Missa do XV ao XVIII Domingo do Tempo Comum do Ano C, entre a leitura semicontínua da Carta aos Gálatas e da Carta aos Hebreus (cap. 11–12).

As quatro perícopes escolhidas do nosso livro aqui são:
XV Domingo: Cl 1,15-20;
XVI Domingo: Cl 1,24-28;
XVII Domingo: Cl 2,12-14;
XVIII Domingo: Cl 3,1-5.9-11 [3]

Nos dias de semana do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida por oito dias: da quarta-feira da XXII semana à quinta-feira da XXIII semana do Tempo Comum no ano ímpar, entre a leitura da Primeira Carta aos Tessalonicenses e da Primeira Carta a Timóteo.

XXII semana do Tempo Comum (Ano ímpar):
Quarta-feira: Cl 1,1-8;
Quinta-feira: Cl 1,9-14;
Sexta-feira: Cl 1,15-20;
Sábado: Cl 1,21-23.

XXIII semana do Tempo Comum (Ano ímpar):
Segunda-feira: Cl 1,24–2,3;
Terça-feira: Cl 2,6-15;
Quarta-feira: Cl 3,1-11;
Quinta-feira: Cl 3,12-17 [4].

Vale destacar ainda os dois versículos de aclamação ao Evangelho da Carta propostos durante o Tempo Comum:

- XIV Domingo (Ano C): “A paz de Cristo reine em vossos corações; ricamente habite em vós sua palavra!” (Cl 3,15a.16a) [5].

- Sábado da VIII semana: “A palavra de Cristo ricamente habite em vós, dando graças, por Ele, a Deus Pai!” (cf. Cl 3,16a.17c) [6].

Livro dos Evangelhos, “Palavra de Cristo”

b) Liturgia das Horas

Na Liturgia das Horas a Carta aos Filipenses é lida na íntegra no Tempo do Natal, no Ofício das Leituras de 29 de dezembro a 05 de janeiro, como indica a Introdução Geral da Liturgia das Horas: “De 29 de dezembro a 05 de janeiro se lê a Carta aos Colossenses, que trata da Encarnação do Senhor” (n. 148) [7].

Ofício das Leituras do Tempo do Natal
29 de dezembro: Cl 1,1-14 - “Ação de graças e prece”;
30 de dezembro: Cl 1,15–2,3 - “Cristo, cabeça da Igreja; Paulo, seu servo”;
31 de dezembro: Cl 2,4-15 - “Nossa fé em Cristo”;
01 de janeiro: Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (com textos próprios);
02 de janeiro: Cl 2,16–3,4 - “A vida nova em Cristo”;
03 de janeiro: Cl 3,5-16 - “A vida do homem novo”;
04 de janeiro: Cl 3,17–4,1 - “A vida da família cristã”;
05 de janeiro: Cl 4,2-18 - “Exortação à vigilância. Conclusão da Carta” [8].
 
No ciclo bienal do Ofício das Leituras, que infelizmente ainda não foi traduzido para o Brasil, a Carta é lida nos mesmos dias, porém apenas no ano ímpar, dando espaço para a leitura do Cântico dos Cânticos no ano par [9].

Além das leituras longas do Ofício, temos ainda nove leituras breves de Colossenses na Hora Média e nas Vésperas das quatro semanas do Saltério.

Cumpre recordar que os salmos organizados nessas quatro semanas são entoados ao longo de todo o ano, mas as leituras são proferidas apenas no Tempo Comum, uma vez que o Advento, o Natal, a Quaresma e a Páscoa possuem leituras próprias.

I semana do Saltério:

- Vésperas da segunda-feira: Cl 1,9b-11 [10], o autor da Carta deseja aos seus destinatários que alcancem a sabedoria e os exorta a “levar uma vida digna do Senhor”;

- Hora Média (15h) da sexta-feira: Cl 3,12-13 [11], a lista de virtudes: “misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência”, concluindo com a exortação ao perdão.

II semana do Saltério:

- I Vésperas do domingo: Cl 1,2b-6a [12], a ação de graças pela fé, amor e esperança dos colossenses, uma vez que receberam o Evangelho, que é a “Palavra da Verdade”.

III semana do Saltério:

- Hora Média (15h) da segunda-feira: Cl 1,21-22 [13], “Cristo vos reconciliou pela morte que sofreu”;

- Hora Média (15h) da quarta-feira: Cl 3,14-15 [14], a exortação a nos amarmos uns aos outros, “pois o amor é o vínculo da perfeição”.

“O amor é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14)
(Virtudes teologais - Edward Burne-Jones)

IV semana do Saltério:

- Vésperas da terça-feira: Cl 3,16 [15], a exortação a cantar a Deus “salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças”;

- Hora Média da quarta-feira:
12h: Cl 3,17 - “Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo”;
15h: Cl 3,23-24 - “Tudo o que fizerdes, fazei-o de coração, como para o Senhor” [16].

- Vésperas da quinta-feira: Cl 1,23 [17], a exortação a permanecer “firmes na fé”, sem afastar-se do Evangelho.

4. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Cântico (Cl 1,12-20)

Como afirmamos anteriormente nessas postagens sobre a Carta aos Colossenses, o texto de Cl 1,15-20 é considerado um “hino cristológico” da Igreja primitiva, que poderíamos chamar de “hino à soberania de Cristo”.

Na Liturgia das Horas, como indica sua Introdução Geral (n. 136), os “hinos” ou “cântico” do Novo Testamento são entoados nas Vésperas (oração da tarde): “São indicados sete cânticos, um para cada dia da semana” [18].

Os cânticos “paulinos” são intercalados ao longo da semana com os cânticos do Apocalipse. Assim, o texto de Colossenses é entoado semanalmente nas Vésperas das quartas-feiras [19], unido aqui ao seu “prelúdio” (vv. 12-14), no qual o gerúndio “dando graças” é traduzido como um imperativo: “Demos graças”.

O cântico é intitulado “Cristo, o Primogênito de toda a criatura e o Primogênito dentre os mortos” (vv. 15.18) e foi enriquecido com um refrão facultativo, adaptado do próprio texto: “Glória a vós, primogênito dentre os mortos” (v. 18).

Além das Vésperas das quartas-feiras, o cântico é prescrito em outras cinco ocasiões. Primeiramente em três celebrações ligadas ao Ciclo do Natal:
- II Vésperas da Solenidade do Natal do Senhor (25 de dezembro);
Vésperas da Festa da Apresentação do Senhor (02 de fevereiro);
II Vésperas da Solenidade da Anunciação do Senhor (25 de março) [20].
Aqui o hino canta sobretudo a Encarnação, sendo fundamental o v. 15: Cristo “é a imagem do Deus invisível”.

Fora do Ciclo do Natal, o hino de Colossenses é entoado nas Vésperas da Festa de São Miguel, São Gabriel e São Rafael, Arcanjos (29 de setembro) [21]. Aqui se torna central o v. 16, que proclama a soberania de Cristo sobre os seres angélicos.

Por fim, nosso cântico aparece nas I Vésperas do Comum da dedicação de uma igreja na Quaresma [22], substituindo o cântico aleluiático de Ap 19,1-2.5-7, uma vez que durante a Quaresma não se entoa o “aleluia”. A escolha é bastante acertada, dada a referência à Igreja como corpo, do qual Cristo é a cabeça (v. 18).

Cristo Rei, Senhor dos Anjos
(Hans Memling)

Encerramos assim nosso estudo da leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses nas celebrações litúrgicas do Rito Romano. Nas próximas postagens concluiremos a análise das “Cartas do cativeiro” atribuídas ao Apóstolo com a Carta aos Efésios.

Notas:
[1] cf. ALDAZÁBAL, José. A Mesa da Palavra I: Elenco das Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] ibid., pp. 104-105.
[3] LECIONÁRIO I: Dominical A-B-C. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1994.
[4] LECIONÁRIO II: Semanal. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1995.
[5] LECIONÁRIO I, op. cit.
[6] LECIONÁRIO II, op. cit.
[7] ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 86.
[8] OFÍCIO DIVINO. Liturgia das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus, 1999, vol. I, pp. 398.410.421.451.458.465.472.
[9] Fonte: Dei Verbum.
[10] OFÍCIO DIVINO, vol. III, p. 657; vol. IV, p. 611.
[11] ibid., vol. III, p. 730; vol. IV, p. 684.
[12] ibid., vol. III, p. 752; vol. IV, p. 706.
[13] ibid., vol. III, p. 927; vol. IV, p. 881.
[14] ibid., vol. III, p. 966; vol. IV, p. 920.
[15] ibid., vol. III, p. 1087; vol. IV, p. 1041.
[16] ibid., vol. III, pp. 1101-1102; vol. IV, pp. 1055-1056.
[17] ibid., vol. III, p. 1125; vol. IV, p. 1079.
[18] ALDAZÁBAL, op. cit., 2010, p. 83.
[19] OFÍCIO DIVINO, vol. I, pp. 667.763.857.954; vol. II, pp. 1037.1149.1254.1358; vol. III, pp. 694.832.969.1105; vol. IV, pp. 648.786.923.1059.
[20] ibid., vol. I, p. 374; vol. III, p. 1243; vol. II, p. 1513.
[21] ibid., vol. IV, p. 1326.
[22] ibid., vol. II, p. 1637.

Imagens: Wikimedia Commons.

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