Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 26 de Agosto de 2015
A Família (25):
Família e oração
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Depois de ter reflectido sobre o modo como a família vive os tempos da
festa e do trabalho, consideremos agora o tempo da oração. A
reclamação mais frequente dos cristãos refere-se precisamente ao tempo:
«Deveria rezar mais...; gostaria de o fazer, mas com frequência falta-me o
tempo». Ouvimos isto continuamente. Sem dúvida, o desagrado é sincero porque o
coração humano procura sempre a oração, até sem o saber; e se não a encontra
não tem paz. Mas para que se encontrem é preciso cultivar no coração um amor
«fervoroso» a Deus, um amor afetivo.
Podemos fazer-nos uma pergunta muito simples. É positivo acreditar em
Deus com todo o coração, esperar que nos ajude nas dificuldades, sentir-nos na
obrigação de o agradecer. Tudo certo. Mas amamos um pouco o Senhor?
O pensamento de Deus comove-nos, admira-nos, enternece-nos?
Pensemos na formalidade do grande mandamento, que fundamenta todos os
outros: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a sua
alma e com todas as tuas forças» (Dt 6,5; cf. Mt 22,37). A fórmula usa a linguagem intensiva do amor, derramando-o em Deus. Pois
bem, o espírito de oração reside sobretudo aqui. E se reside aqui, permanece
o tempo todo e nunca acaba. Conseguimos pensar em Deus como a carícia
que nos mantém em vida, antes da qual nada existe? Uma carícia da qual nada,
nem a morte, nos pode separar? Ou pensamos nele só como o grande Ser, o
Todo-Poderoso que fez todas as coisas, o Juiz que controla cada ação?
Naturalmente, tudo isto é verdade. Mas só quando Deus é o carinho de todos os
nossos afetos, o significado destas palavras torna-se pleno. Então sentimo-nos
felizes, e até um pouco confusos, porque Ele pensa em nós mas sobretudo
ama-nos! Não é impressionante? Não é impressionante que Deus nos acaricie com
amor de pai? É muito bonito! Podia simplesmente fazer-se reconhecer como o Ser
supremo, apresentar os seus mandamentos e esperar os resultados. Mas Deus realizou
e realiza infinitamente mais do que isto. Acompanha-nos no caminho da vida,
protege-nos, ama-nos.
Se o afeto a Deus não acender o fogo, o espírito da oração não aquecerá
o tempo. Podemos inclusive multiplicar as nossas palavras, «como fazem os
pagãos», diz Jesus; ou então exibir os nossos ritos, «como fazem os fariseus»
(cf. Mt 6,5.7). Um coração habitado pelo afeto a Deus torna
oração até um pensamento sem palavras, ou uma invocação diante de uma imagem
sagrada, ou um beijo lançado a uma igreja. É bonito quando as mães ensinam os
filhos pequenos a lançar um beijo a Jesus ou a Nossa Senhora. Quanta ternura há
nisto! Naquele momento o coração das crianças transforma-se em lugar de oração.
E é um dom do Espírito Santo. Nunca nos esqueçamos de pedir este dom para cada
um de nós! Porque o Espírito de Deus tem aquele seu modo especial de dizer no
nosso coração «Abbá» - «Pai», ensina-nos a dizer «Pai» precisamente como o
dizia Jesus, um modo que nunca poderemos aprender sozinhos (cf. Gl 4,6). É em família que se aprende a pedir e apreciar este dom do Espírito.
Se o aprendermos com a mesma espontaneidade com a qual aprendemos a dizer «pai»
e «mãe», aprendê-lo-emos para sempre. Quando acontece isto, o tempo da inteira
vida familiar é envolvido no ventre do amor de Deus e procura espontaneamente o
tempo da oração.
O tempo da família, como se sabe, é complicado e movimentado, ocupado e
preocupado. É sempre pouco, nunca é suficiente, há muitas coisas para fazer.
Quem tem uma família logo aprende a resolver uma equação que nem os grandes
matemáticos sabem solucionar: em vinte e quatro horas fazem caber o dobro! Há
mães e pais que poderiam ganhar o Nobel por esta razão. De 24 horas fazem 48:
não sei como fazem mas movimentam-se e fazem-no! Há muito trabalho em família!
O espírito da oração restitui o tempo a Deus, sai da obsessão de uma
vida à qual sempre falta o tempo, reencontra a paz das coisas necessárias e
descobre a alegria de dons inesperados. Boas guias para isto são as duas irmãs
Marta e Maria, sobre as quais fala o Evangelho que ouvimos; elas aprenderam de
Deus a harmonia dos ritmos familiares: a beleza da festa, a serenidade do
trabalho e o espírito da oração (cf. Lc 10,38-42). A visita
de Jesus, ao qual amavam, era a sua festa. Contudo, um dia Marta aprendeu que o
trabalho da hospitalidade, embora importante, não é tudo, mas ouvir o Senhor,
como fazia Maria, era verdadeiramente essencial, a «melhor parte» do tempo. A
oração brota da escuta de Jesus, da leitura do Evangelho. Não vos esqueçais,
todos os dias de ler um trecho do Evangelho. A oração brota da intimidade com a
Palavra de Deus. Existe esta confidência na nossa família? Temos o Evangelho em
casa? Abrimo-lo às vezes para o ler juntos? Meditamo-lo, recitando o terço? O
Evangelho lido e meditado em família é como um pão saboroso que nutre o coração
de todos. E de manhã e à noite, e quando sentamos à mesa, aprendamos a fazer
uma oração juntos, com muita simplicidade: é Jesus que vem entre nós, como ia
visitar a família de Marta, Maria e Lázaro. Algo que me está muito a peito e vi
nas cidades: há crianças que não aprenderam a fazer o sinal da cruz! Mas tu
mãe, pai, ensina a criança a rezar, a fazer o sinal da cruz: esta é uma linda
tarefa das mães e dos pais!
Na oração da família, nos seus momentos fortes e nas passagens difíceis,
confiemo-nos uns aos outros, para que cada um de nós, em família, seja
protegido pelo amor de Deus.