sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fotos da Missa em honra a S. Josemaría Escrivá em Frederico Westphalen

Na última terça-feira, 26 de junho, Dom Antônio Carlos Rossi Keller, Bispo de Frederico Westphalen (RS) celebrou uma Missa em honra a S. Josemaría Escrivá na cripta da Catedral. Seguem algumas fotos:

Capela da cripta da Catedral
Procissão de entrada
Ritos iniciais
Durante as leituras
Bênção antes do Evangelho

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Fotos da Posse de Pároco em Frederico Westphalen

No último sábado, dia 23 de junho, Dom Antônio Carlos Rossi Keller, Bispo Diocesano de Frederico Westphalen (RS) presidiu a Celebração Eucarística na qual tomou posse como pároco da Paróquia Nossa Senhora da Paz, município de Seberi, o Padre Ademir Schneider. Até então o Pároco era o Cônego Jacson Rodrigo Pinheiro.

Seguem algumas fotos da celebração, marcada pelo zelo litúrgico próprio da diocese de Frederico Westphalen:

Acolhida ao Bispo: Aspersão dos fieis
Oração diante do tabernáculo
Procissão de Entrada
Incensação do altar
Ritos iniciais

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Fotos do Jubileu de Ouro da Diocese de Frederico Westphalen

No último domingo, 24 de junho de 2012, a diocese de Frederico Westphalen (RS) celebrou solenemente seu Jubileu Áureo, isto é, os 50 anos de sua criação. Seguem algumas fotos das cerimônias, presididas pelo Bispo Diocesano, Dom Antônio Carlos Rossi Keller:

Catedral ornada com a imagem dos Beatos Manuel e Adílio 
Bênção do Seminário Propedêutico da diocese


Cabido dos cônegos em suas vestes corais

terça-feira, 26 de junho de 2012

Entrevista do Pe. Paulo Ricardo ao Salvem a Liturgia

Aproveitando a última postagem, com a entrevista de Dom Antonio Keller (Bispo de Frederico Westphalen-RS), postamos agora a entrevista do Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, da Diocese de Cuiabá, igualmente ao blog Salvem a Liturgia. Padre Paulo Ricardo se destaca nos meios de comunicação com suas palestras esclarecendo temas da fé e, aqui, em defesa da Sagrada Liturgia.

1. Como V. Revma vê hoje a questão da Liturgia no Brasil e no mundo?

Nós estamos vivendo uma fase nova na história da Liturgia. Nós tivemos durante todo o século 20 um movimento litúrgico extraordinário de retorno as fontes; um progresso imenso no estudo da liturgia. Depois, com execução da Reforma Litúrgica do vaticano II, houve infelizmente uma aplicação muito errada da Reforma. Ela foi, de certa forma, positiva, mas muito mal aplicada. Agora vivemos uma terceira fase: a fase em que retomamos aquilo que poderíamos chamar de o “bonde perdido", retomamos o "trem perdido". Nós estávamos no movimento litúrgico, que foi interrompido por um processo revolucionário da década de 70 e 80, e agora estamos retomando aquele processo litúrgico anterior, para colher os frutos de um verdadeiro movimento litúrgico. É isso que o Papa Bento XVI, pelo menos espera colocar em ato, e aquilo que ele prevê no seu livro "introdução ao Espírito da Liturgia".

2. O saudoso Papa João Paulo II, na sua encíclica Ecclesia de Eucharistia, falava de "sombras" no modo com a Santa Missa é celebrada. Como interpretar essa expressão?
A meu ver essa sombras são exatamente isso: são frutos da má aplicação da Reforma Litúrgica. Nós vemos que, de alguma forma, entrou dentro do processo litúrgico da Igreja Católica uma mentalidade estranha e alheia a Igreja, que nós poderíamos chamar de mentalidade revolucionária, onde as pessoas fazem a Liturgia subjetiva, a partir dos seus gostos, de suas veleidades subjetivas. O Papa alerta para isso, e é necessário então nós retornarmos a forma tradicional da Igreja celebrar a Liturgia, mesmo que tenhamos os ritos litúrgicos do Vaticano II. Mas a Reforma Litúrgica do Vaticano II deve ser executada em sintonia com a tradição de 20 séculos.

3. Qual a importância do latim na celebração litúrgica? E do canto gregoriano?
A Liturgia só tem sentido quando ela é recebida do passado. Nós precisamos compreender que um rito litúrgico é algo recebido da tradição, recebido dos nossos pais. E é essa a importância do latim e do canto gregoriano. Ao se fazer orações em latim na Liturgia e ao se cantar cantos que foram cantados por gerações e gerações de cristãos antes de nós, nós tomando a consciência de que estamos vivendo algo que não foi inventado por nós, mas que nos une a uma multidão de santos e santas que viveram antes de nós, e que santificarem com aqueles textos e com aqueles cantos; se eles chegaram a se salvar e estar junto de Deus, também nós podemos fazer.

4. É possível resgatar um uso mais regular da língua latina mesmo na forma ordinária do Rito Romano, ou seja, na forma aprova pelo Papa Paulo VI? Como dar os passos para isso?
Não somente é possível como é desejável. Aliás, o próprio Papa Paulo VI e o Concílio Vaticano II sua constituição Sacrosanctum Concilium pediam isso: que os fiéis soubessem recitar e cantar orações em latim e usando o canto gregoriano. Agora, é evidente que tudo isso pode e deve ser feito dentro um processo, de um movimento gradual. Eu costumo sempre dizer que eu odeio tanto revoluções que as rejeito até quando elas são a meu favor. Uma revolução que de repente coloque tudo em latim e em gregoriano seria tão detestável quando a revolução da qual nós estamos querendo nos livrar. O povo de Deus não se move por decreto. O povo de Deus deve ser respeitado e educado lenta e gradualmente, trazido para a plenitude da fé católica e da beleza da Liturgia Católica, porque do contrário seria violentar o povo.

5. Quanto a Santa Missa “orientada” ou celebrada em “Versus Deum” (“Voltados para Deus”, isto é, com sacerdotes e fiéis voltados para a mesma direção), que o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, recomenda que se faça no seu livro “Introdução ao Espírito da Liturgia”: essa disposição pode ser utilizada mesmo na forma do Rito Romano aprovada pelo Papa Paulo VI? Qual o seu significado?”
Na verdade as rubricas do Missal aprovado por Paulo VI foram escritas pensando nas duas possibilidades: a Missa voltada para o povo ou a Missa voltada para Deus (também chamada de Missa orientada, já que as Igrejas eram construídas de tal forma que o sacerdote pudesse celebrar voltado para o lugar onde nasce o sol). Muita gente fala da Missa voltada para o povo como sendo uma das “conquistas” do Vaticano II. A verdade é que os documentos do Concílio nem tratam do assunto.
A Missa voltada para o povo foi uma adaptação introduzida pelos padres alemães que celebravam assim em seus acampamentos com jovens e escoteiros. Isto que era uma situação completamente excepcional tornou-se regra quando da implantação da Reforma Litúrgica.
Na minha opinião a Missa voltada para o povo não tem nenhum fundamento teológico, psicológico ou pastoral, se considerarmos a verdadeira natureza da Missa. Sendo assim, a situação atual rompe completamente com a tradição de dois mil anos. Não há nenhum outro Rito Litúrgico que tenha este tipo de prática.
A Missa orientada tem a importante “missão” de tirar o sacerdote e colocar Deus no centro da celebração. Todos voltados para a mesma direção, sacerdote e assembleia, dirigem-se como Igreja para Deus e oferecem a ele o Divino Sacrifício Eucarístico.
O que fazer então? Segundo o Papa Bento XVI, no livro que você citou, a caminho de retorno, sem que o povo sofra violências, é colocar a cruz de volta no centro do altar. Desta forma o sacerdote celebrante pode olhar claramente para o Crucificado durante a Liturgia Eucarística e não dar ao povo a errada impressão de que está falando com a assembleia.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Entrevista de Dom Antonio Keller ao Salvem a Liturgia

Publicamos aqui uma entrevista de Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen - RS, ao blog Salvem a Liturgia há exatamente três anos (22.06.2009). Dom Keller, como sempre, destaca-se pela fidelidade ao ensinamento da Igreja e do Santo Padre e pelo zelo com a Sagrada Liturgia.

1. Como V. Excia. vê hoje a questão da liturgia no Brasil e no mundo?
Vejo que estamos em um momento crucial, onde se deparam duas visões: a da continuidade, na fidelidade à longa Tradição Litúrgica da Igreja e a da descontinuidade, defendida por grande parte dos liturgistas em exercício. Esta segunda visão, a meu ver, constitui em um grave risco para a "lex orandi", já que, em geral fundamenta-se em posturas inaceitáveis em relação à "lex credendi". Ou seja, a meu ver o grande problema da Liturgia hoje é, antes de tudo, um problema de fé, ou melhor, da falta de fé.

2. João Paulo II, em sua Ecclesia de Eucharistia, falava de "sombras" no modo como a Missa é celebrada. Como interpretar a expressão de Sua Santidade?
A meu ver, o Servo de Deus, o Papa João Paulo II referia-se ao absurdo da ideia de uma liturgia "a ser construída pela comunidade local" como ainda hoje propugnam muitos leigos, sacerdotes e bispos. Esta visão outorga à comunidade local (pior ainda, a alguns ou a alguém desta comunidade) a suprema autoridade em decidir o "como deve ser a celebração litúrgica", favorecendo às aberrações já tão sobejamente conhecidas. O resultado de tudo isto, que popularmente leva o nome de uma liturgia "inculturada", é, na verdade, simples e pura aberração, violência às normas mais elementares da autêntica liturgia da igreja, o predomínio de um subjetivismo que pretende utilizar a Liturgia como um instrumento para impor visões ideológicas de pessoas ou grupos.

3. Qual a importância do latim na celebração litúrgica? E do canto gregoriano?
O latim tem seu lugar na vida litúrgica da Igreja como garantia da integridade da fé, manifestada nas celebrações litúrgicas. Não é a toa que todos os livros litúrgicos tem como ponto de referência as edições chamadas de "typica". O gregoriano, por sua vez, constitui um rico patrimônio espiritual que não pode ser, simplesmente, jogado pela janela. Tanto o latim como o gregoriano nos servem como elo em relação à riquíssima Tradição Espiritual e Litúrgica da Igreja

4. É possível resgatar um uso mais regular do idioma latino mesmo na forma ordinária do rito romano, no chamado "rito moderno” esse que usamos em nossas paróquias? Como dar os passos para isso?
Penso que sim, desde que se fuja da pura visão folclórica, ou de um saudosismo, a meu ver tão prejudicial como são os abusos cometidos na liturgia. O latim expressa a universalidade da Igreja, sua catolicidade, que é mais do que uma simples questão geográfica: a Igreja é a Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja de Cristo, aberta a todas as geografias, a todas as culturas, a todas as épocas. Ora, isso exige, da parte de quem integra a Igreja, uma visão universal, aberta, não "paroquial". O latim abre esta perspectiva de universalidade. O grande problema será sempre não uma simples questão de pronunciar bem, corretamente o latim, mas de abrir-se à catolicidade da igreja, sentir-se cidadão universal dela, pronto a aceitar em seu seio todas as realidades espirituais e humanas dignas. O uso do latim faz-nos compreender como nós, católicos, onde quer que estejamos, temos a mesma fé e celebramos os mesmos sacramentos.
Praticamente, penso que, antes de se começar a celebrar em latim, nas Paróquias, seria preciso deixar bem claro, para o povo, a razão disso... Senão, tudo não passa de uma simples questão de estética linguística, de uma busca de um "purismo" litúrgico que cria a mentalidade se fazer parte de uma casta especial na igreja (os que entendem latim...), que seriam aqueles que participam da Santa Missa em latim...: o restante dos comuns católicos continuariam na ignorância e na mediocridade litúrgicas...

5. E quanto à forma extraordinária do rito romano, o "rito tridentino"? Como vê V. Excia. esse aumento dos pedidos dos leigos para que se a celebre?
Vejo o rito extraordinário como ele o é: extraordinário. Não posso aceitar que as bases colocadas pelo episcopado do mundo todo, reunido em Concílio, tenham sido inválidas ou injustas. Quando criança, ajudei muitas vezes a Santa Missa no atual rito extraordinário. E algumas vezes, infelizmente, não saia edificado da Missa: muita pressa, palavras engolidas, atropeladas, distrações, etc. Ora, isto leva-me a pensar que a questão não está tanto no Rito usado (apesar que o rito ordinário poderia, talvez ser um pouco melhorado, favorecido), mas o que conta mesmo é o espírito com o qual deve-se celebrar, seja lá em que rito for... Penso que os pedidos suscitados pela abertura oferecida pelo Santo Padre, são, em sua imensa maioria, justos, já que as pessoas não suportam mais tantos abusos... Penso também que o aumento dos pedidos de celebrações na forma extraordinária não deve diminuir as exigências para que se celebre dignamente na forma ordinária.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Fotos da Solenidade de Santo Antônio em Frederico Westphalen

No último dia 13 de Junho celebrou-se na Catedral da Diocese de Frederico Westphalen (RS) a Solenidade de Santo Antônio, Titular da igreja própria e Padroeiro da diocese. Presidiu a Missa, seguida de uma procissão, o Revmo. Bispo Diocesano, Dom Antônio Carlos Rossi Keller. Mais uma vez uma Liturgia digna, muito bem celebrada.

Seguem algumas fotos, novamente cedidas pelo Sem. Maurício Moskva.


Procissão de Entrada
Ósculo do altar
Incensação do altar
Evangelho
Doxologia

Fotos do Corpus Christi em Frederico Westphalen

No último dia 07 de Junho celebrou-se na Catedral da diocese de Frederico Westphalen (RS) a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi). Presidiu a Missa e a Procissão Eucarística o Revmo. Bispo Diocesano, Dom Antônio Carlos Rossi Keller, que tem se destacado como um grande defensor da Sagrada Liturgia.

Seguem algumas fotos, gentilmente cedidas pelo Sem. Maurício Moskva.

Ritos iniciais
Evangelho
Bênção com o Livro dos Evangelhos
Homilia
Incensação de altar

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fotos da Missa de Corpus Christi no Vaticano

Oração em preparação à Missa
Procissão de Entrada
Incensação do altar 
Coleta
Leituras

Homilia do Papa Bento XVI na Solenidade de Corpus Christi

Santa Missa na Solenidade de Corpus Christi
Homilia do Papa Bento XVI
Basílica de São João de Latrão
Quinta-feira, 7 de junho de 2012

Prezados irmãos e irmãs!
Esta tarde gostaria de meditar convosco sobre dois aspectos, ligados entre si, do Mistério eucarístico: o culto da Eucaristia e a sua sacralidade. É importante retomá-los em consideração para os preservar de visões incompletas do próprio Mistério, como aquelas que se relevaram no passado recente.
Antes de tudo, uma reflexão sobre o valor do culto eucarístico, em particular da adoração do Santíssimo Sacramento. É a experiência que, também esta tarde, nós viveremos após a Missa, antes da procissão, durante a sua realização e no seu encerramento. Uma interpretação unilateral do Concílio Vaticano II tinha penalizado esta dimensão, limitando praticamente a Eucaristia ao momento celebrativo. Com efeito, foi muito importante reconhecer a centralidade da celebração, no qual o Senhor convoca o seu povo, o reúne ao redor da dúplice mesa da Palavra e do Pão de vida, o alimenta e o une a Si no ofertório do Sacrifício. Esta valorização da assembleia litúrgica, em que o Senhor age e realiza o seu mistério de comunhão, permanece obviamente válida, mas ela deve ser recolocada no equilíbrio justo. Com efeito - como acontece com frequência - para ressaltar um aspecto termina-se por sacrificar outro. Neste caso, a justa evidência conferida à celebração da Eucaristia prejudicou a adoração, como gesto de fé e de oração dirigido ao Senhor Jesus, realmente presente no Sacramento do altar. Este desequilíbrio teve repercussões inclusive na vida espiritual dos fiéis. Com efeito, concentrando toda a relação com Jesus Eucaristia unicamente no momento da Santa Missa, corre-se o risco de esvaziar da sua presença o resto do tempo e do espaço existenciais. E assim compreende-se menos o sentido da presença constante de Jesus no meio de nós e conosco, uma presença concreta, próxima, no meio das nossas casas, como «Coração vibrante» da cidade, do povoado, do território com as suas várias expressões e atividades. O Sacramento da Caridade de Cristo deve permear toda a vida quotidiana.
Na realidade, é errado opor a celebração à adoração, como se uma com a outra estivessem em concorrência. É precisamente o contrário: o culto do Santíssimo Sacramento constitui como que o «ambiente» espiritual em cujo contexto a comunidade pode celebrar bem e na verdade a Eucaristia. A ação litúrgica só pode expressar o seu pleno significado e valor se for precedida, acompanhada e seguida por esta atitude interior de fé e de adoração. O encontro com Jesus na Santa Missa realiza-se verdadeira e plenamente quando a comunidade é capaz de reconhecer que no Sacramento Ele habita a sua casa, nos espera, nos convida à sua mesa e depois, quando a assembleia se dissolve, permanece conosco, com a sua presença discreta e silenciosa, e acompanha-nos com a sua intercessão, continuando a receber os nossos sacrifícios espirituais e a oferecê-los ao Pai.
A este propósito, apraz-me sublinhar a experiência que juntos viveremos também esta noite. No momento da adoração, nós estamos todos no mesmo plano, de joelhos diante do Sacramento do Amor. O sacerdócio comum e o ministerial encontram-se unidos no culto eucarístico. É uma experiência muito bonita e significativa, que vivemos várias vezes na Basílica de São Pedro e também nas inesquecíveis vigílias com os jovens - recordo, por exemplo, as de Köln, London, Zagreb e Madrid. É evidente para todos que estes momentos de vigília eucarística preparam a celebração da Santa Missa e predispõem os corações para o encontro, de tal modo ele seja ainda mais fecundo. Estarmos todos em silêncio prolongado diante do Senhor presente no seu Sacramento é uma das experiências mais autênticas do nosso ser Igreja, que é acompanhado de maneira complementar pela celebração da Eucaristia, ouvindo a Palavra de Deus, cantando, aproximando-nos juntos da mesa do Pão de Vida. Comunhão e contemplação não se podem separar, pois caminham juntas. Para me comunicar verdadeiramente com outra pessoa devo conhecê-la, saber estar em silêncio ao seu lado, ouvi-la e fitá-la com amor. O amor autêntico e a amizade verdadeira vivem sempre desta reciprocidade de olhares, de silêncios intensos, eloquentes e repletos de respeito e de veneração, de tal maneira que o encontro seja vivido profundamente, de modo pessoal e não superficial. E infelizmente, se falta esta dimensão, também a própria comunhão sacramental pode tornar-se, da nossa parte, um gesto superficial. No entanto, na comunhão autêntica, preparada pelo diálogo da oração e da vida, nós podemos dirigir ao Senhor palavras de confiança, como aquelas que há pouco ressoaram no Salmo responsorial: «Senhor, sou teu servo, filho da tua serva; / quebraste as minhas cadeias. / Hei de oferecer-te sacrifícios de louvor / invocando, Senhor, o teu nome» (Sl 115,16-17).
Agora gostaria de passar brevemente ao segundo aspecto: a sacralidade da Eucaristia. Também aqui ressentimos, no passado recente, de um determinado desentendimento a respeito da mensagem autêntica da Sagrada Escritura. A novidade cristã em relação ao culto foi influenciada por uma certa mentalidade secularista dos anos sessenta e setenta do século passado. É verdade, e permanece sempre válido, que o centro do culto já não se encontra nos ritos e nos sacrifícios antigos, mas no próprio Cristo, na sua pessoa, na sua vida e no seu mistério pascal. E todavia, desta novidade fundamental não se deve concluir que o sagrado já não existe, mas que ele encontrou o seu cumprimento em Jesus Cristo, Amor divino encarnado. A Carta aos Hebreus, que ouvimos esta tarde na segunda Leitura, fala-nos precisamente da novidade do sacerdócio de Cristo, «Sumo Sacerdote dos bens futuros» (Hb 9,11), mas não afirma que o sacerdócio terminou. Cristo «é Mediador de uma nova aliança» (Hb 9,15), estabelecida no seu sangue, que purifica «a nossa consciência das obras mortas» (Hb 9,14). Ele não aboliu o sagrado, mas completou-o, inaugurando um novo culto, que é sem dúvida plenamente espiritual, mas que no entanto, enquanto estivermos a caminho no tempo, ainda se serve de sinais e de ritos, que só virão a faltar no final, na Jerusalém celeste, onde já não haverá templo algum (cf. Ap 21,22). Graças a Cristo, a sacralidade é mais verdadeira, mais intensa e, como acontece no caso dos mandamentos, também mais exigente! Não é suficiente a observância ritual, mas exigem-se a purificação do coração e o compromisso da vida.
Apraz-me ressaltar também que o sagrado tem uma função educativa, e inevitavelmente o seu desaparecimento empobrece a cultura, em particular a formação das novas gerações. Se, por exemplo, em nome de uma fé secularizada que já não precisa de sinais sagrados, fosse abolida esta procissão urbana do Corpus Christi, o perfil espiritual de Roma ficaria «nivelado» e por isso a nossa consciência pessoal e comunitária seria debilitada. Ou então, pensemos numa mãe e num pai que, em nome de uma fé dessacralizada, privassem os próprios filhos de toda a ritualidade religiosa: na realidade, acabariam por deixar este campo livre aos numerosos sucedâneos presentes na sociedade consumista, a outros ritos e sinais, que mais facilmente poderiam tornar-se ídolos. Deus, nosso Pai, não agiu assim com a humanidade: mandou o seu Filho ao mundo não para abolir, mas para levar a cumprimento também o sagrado. No ápice desta missão, na última Ceia, Jesus instituiu o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, o Memorial do seu Sacrifício pascal. Agindo deste modo, Ele pôs-se no lugar dos sacrifícios antigos, mas fê-lo no âmbito de um rito, que ordenou aos Apóstolos que perpetuassem como sinal supremo do verdadeiro Sagrado, que é Ele mesmo. Caros irmãos e irmãs, é com esta fé que nós celebramos hoje e cada dia o Mistério eucarístico e que O adoramos como centro da nossa vida e âmago do mundo! Amém.


Fonte: Santa Sé

Fotos da Missa do Papa Bento XVI em Milão

Procissão de Entrada
Procissão de Entrada
Ritos Iniciais
Evangelho
Homilia

Homilia do Papa Bento XVI na Missa em Milão

Visita Pastoral à Arquidiocese de Milão
VII Encontro Mundial das Famílias
Celebração Eucarística
Homilia do Papa Bento XVI
Parque de Bresso
Domingo, 3 de Junho de 2012

Venerados Irmãos,
Distintas Autoridades,
Amados irmãos e irmãs!
Grande momento de alegria e de comunhão é este que vivemos ao celebrar o Sacrifício Eucarístico, nesta manhã. Está reunida com o Sucessor de Pedro uma grande assembleia, composta por fiéis vindos de muitas nações. Nela temos uma expressiva imagem da Igreja, una e universal, fundada por Cristo e fruto da missão que Jesus, como ouvimos no Evangelho, confiou aos seus Apóstolos: «Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,18-19). Saúdo com afeto e gratidão o Cardeal Angelo Scola, Arcebispo de Milão, e o Cardeal Ennio Antonelli, Presidente do Pontifício Conselho para a Família, principais artífices deste VII Encontro Mundial das Famílias, bem como os seus colaboradores, os Bispos Auxiliares de Milão e todos os outros Prelados. Com prazer, saúdo todas as Autoridades presentes. E, hoje, o meu caloroso abraço vai sobretudo para vós, queridas famílias! Obrigado pela vossa participação!
Na segunda Leitura, o apóstolo Paulo recordou-nos que recebemos no Batismo o Espírito Santo, que de tal modo nos une a Cristo como irmãos e liga ao Pai como filhos, que podemos gritar: «Abba! Pai!» (cf. Rm 8,15.17). Então foi-nos dado um gérmen de vida nova, divina, que se há de fazer crescer até à realização definitiva na glória celeste; tornamo-nos membros da Igreja, a família de Deus, «sacrarium Trinitatis» - na expressão de Santo Ambrósio -, «um povo - como ensina o Concílio Vaticano II - unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Const. Lumen gentium, 4). A solenidade litúrgica da Santíssima Trindade, que hoje celebramos, convida-nos a contemplar este mistério, mas impele-nos também ao compromisso de viver a comunhão com Deus e entre nós segundo o modelo da comunhão trinitária. Somos chamados a acolher e a transmitir, concordes, as verdades da fé; a viver o amor recíproco e para com todos, compartilhando alegrias e sofrimentos, aprendendo a pedir e a dar o perdão, valorizando os diversos carismas sob a guia dos Pastores. Numa palavra, está-nos confiada a tarefa de construir comunidades eclesiais que sejam cada vez mais família, capazes de refletir a beleza da Trindade e evangelizar não só com a palavra mas – diria eu – por «irradiação», com a força do amor vivido.
Não é só a Igreja que é chamada a ser imagem do Deus Uno em Três Pessoas, mas também a família fundada no matrimônio entre o homem e a mulher. No princípio, de fato, «Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus: Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: “Crescei e multiplicai-vos”» (Gn 1,27-28). Deus criou o ser humano, homem e mulher, com igual dignidade, mas também com características próprias e complementares, para que os dois fossem dom um para o outro, se valorizassem reciprocamente e realizassem uma comunidade de amor e de vida. O amor é o que faz da pessoa humana a autêntica imagem da Trindade, imagem de Deus. Queridos esposos, na vivência do matrimônio, não dais qualquer coisa ou alguma atividade, mas a vida inteira. E o vosso amor é fecundo, antes de mais nada, para vós mesmos, porque desejais e realizais o bem um do outro, experimentando a alegria do receber e do dar. Depois é fecundo na procriação generosa e responsável dos filhos, na solicitude carinhosa por eles e na educação cuidadosa e sábia. Finalmente é fecundo para a sociedade, porque a vida familiar é a primeira e insubstituível escola das virtudes sociais, tais como o respeito pelas pessoas, a gratuidade, a confiança, a responsabilidade, a solidariedade, a cooperação. Queridos esposos, cuidai dos vossos filhos e, num mundo dominado pela técnica, transmiti-lhes com serenidade e confiança as razões para viver, a força da fé desvendando-lhes metas altas e servindo-lhes de apoio na fragilidade. Mas também vós, filhos, sabei manter sempre uma relação de profundo afeto e solícito cuidado com os vossos pais, e as relações entre irmãos e irmãs sejam também oportunidade para crescer no amor.
O projeto de Deus para o casal humano alcança a sua plenitude em Jesus Cristo, que elevou o matrimónio a Sacramento. Com um dom especial do Espírito Santo, queridos esposos, Cristo faz-vos participar no seu amor esponsal, tornando-vos sinal do seu amor pela Igreja: um amor fiel e total. Se souberdes acolher este dom, renovando diariamente o vosso «sim» com fé e com a força que vem da graça do Sacramento, também a vossa família viverá do amor de Deus, tomando por modelo a Sagrada Família de Nazaré. Queridas famílias, pedi muitas vezes, na oração, o auxílio da Virgem Maria e de São José, para que vos ensinem a acolher o amor de Deus como o acolheram eles. A vossa vocação não é fácil de viver, especialmente hoje, mas a realidade do amor é maravilhosa, é a única força que pode verdadeiramente transformar o universo, o mundo. Aos vossos olhos foi oferecido o testemunho de tantas famílias, que indicam os caminhos para crescer no amor: manter um relacionamento perseverante com Deus e participar na vida eclesial, cultivar o diálogo, respeitar o ponto de vista do outro, estar disponíveis para servir, ser paciente com os defeitos alheios, saber perdoar e pedir perdão, superar com inteligência e humildade os possíveis conflitos, concordar as diretrizes educacionais, estar abertos às outras famílias, atentos aos pobres, ser responsáveis na sociedade civil. Todos estes são elementos que constroem a família. Vivei-os com coragem, pois na medida em que, com o apoio da graça divina, viverdes o amor mútuo e para com todos, tornar-vos-eis um Evangelho vivo, uma verdadeira Igreja doméstica (cf. Exort. Ap. Familiaris consortio, 49). Quero dedicar uma palavra também aos fiéis que, embora compartilhando os ensinamentos da Igreja sobre a família, estão marcados por experiências dolorosas de falência e separação. Sabei que o Papa e a Igreja vos apoiam na vossa fadiga. Encorajo-vos a permanecer unidos às vossas comunidades, enquanto almejo que as dioceses assumam adequadas iniciativas de acolhimento e proximidade.
No livro do Gênesis, Deus confia ao casal humano a sua criação, para que a guarde, cultive e guie de acordo com o seu plano (cf. 1,27-28; 2,15). Nesta indicação da Sagrada Escritura, podemos ler a missão que tem o homem e a mulher de colaborar com Deus para transformar o mundo, através do trabalho, da ciência e da técnica. O homem e a mulher são também imagem de Deus nesta obra preciosa, que devem realizar com o mesmo amor do Criador. Vemos que, nas teorias económicas modernas, prevalece muitas vezes uma concepção utilitarista do trabalho, da produção e do mercado. Mas, o projeto de Deus e a própria experiência mostram que não é a lógica unilateral do que me é útil e do maior lucro que pode concorrer para um desenvolvimento harmonioso, o bem da família e para construir uma sociedade justa, porque traz consigo uma competição exasperada, fortes desigualdades, degradação do meio ambiente, corrida ao consumo, mal-estar nas famílias. Antes, a mentalidade utilitarista tende a estender-se também às relações interpessoais e familiares, reduzindo-as a convergências precárias de interesses individuais e minando a solidez do tecido social.
Um último elemento. O homem, enquanto imagem de Deus, é chamado também ao descanso e à festa. A narrativa da criação termina com estas palavras: «Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado. Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o» (Gn 2,2-3). Para nós, cristãos, o dia de festa é o Domingo, dia do Senhor, Páscoa da semana. É o dia da Igreja, assembleia convocada pelo Senhor ao redor da mesa da Palavra e do Sacrifício Eucarístico, como estamos a fazer hoje, para nos alimentar d’Ele, entrar no seu amor e viver do seu amor. É o dia do homem e dos seus valores: convivência, amizade, solidariedade, cultura, contacto com a natureza, jogo, desporto. É o dia da família, em que se há de viver, juntos, o sentido da festa, do encontro, da partilha, também com a participação na Santa Missa. Queridas famílias, mesmo nos ritmos acelerados do nosso tempo, não percais o sentido do dia do Senhor! É como o oásis onde parar para saborear a alegria do encontro e saciar a nossa sede de Deus.
Família, trabalho, festa: três dons de Deus, três dimensões da nossa vida que se devem encontrar num equilíbrio harmonioso. Harmonizar os horários do trabalho e as exigências da família, a profissão e a paternidade e maternidade, o trabalho e a festa é importante para construir sociedades com um rosto humano. Nisto, privilegiai sempre a lógica do ser sobre a do ter: a primeira constrói, a segunda acaba por destruir. É preciso educar-se para crer, em primeiro lugar na família, no amor autêntico: o amor que vem de Deus e nos une a Ele e, por isso mesmo, «nos transforma em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1Cor 15,28)» (Enc. Deus caritas est, 18). Amém.


Fonte: Santa Sé

Fotos da Hora Média presidida pelo Papa em Milão

Acolhida: Veneração da cruz
Aspersão
Oração diante do altar
Palavras de acolhida do Cardeal Scola
Palavras do Papa bento XVI

Homilia do Papa Bento XVI na Hora Média em Milão

Visita Pastoral à Arquidiocese de Milão
VII Encontro Mundial das Famílias
Celebração da Hora Média
Meditação do Papa Bento XVI
Catedral de Milão
Sábado, 2 de junho de 2012

Amados Irmãos e Irmãs!
Recolhamo-nos em oração, respondendo ao convite do Hino ambrosiano da Hora Terça: «É a hora terça. O Senhor Jesus sobe ultrajado à cruz». É uma referência clara à obediência amorosa de Jesus à vontade do Pai. O mistério pascal deu início a um tempo novo: a morte e a ressurreição de Cristo recriam a inocência da humanidade e nela fazem brotar a alegria. De fato, o hino prossegue: «Daqui inicia a época da salvação de Cristo - Hinc iam beata tempora coepere Christi gratia». Reunimo-nos na Basílica-Catedral, nesta Sé, que é deveras o coração de Milão. Daqui o pensamento alarga-se à vastíssima Arquidiocese ambrosiana, que nos séculos e também em tempos recentes deu à Igreja homens insignes na santidade de vida e no ministério, como santo Ambrósio e são Carlos, e alguns Pontífices de relevância ímpar, como Pio XI e o Servo de Deus Paulo VI, e os Beatos Cardeais Andrea Carlo Ferrari e Alfredo Ildefonso Schuster.
Sinto-me feliz por estes momentos convosco! Dirijo um afetuoso pensamento de saudação a todos e a cada um em particular, e gostaria de o fazer chegar de modo especial a quantos estão doentes ou são muito idosos. Saúdo com profunda cordialidade o vosso Arcebispo, Cardeal Angelo Scola, e agradeço-lhe as suas amáveis palavras; saúdo com afeto os vossos Pastores eméritos, Cardeais Carlo Maria Martini e Dionigi Tettamanzi, com os outros Cardeais e Bispos presentes.
Vivemos neste momento o mistério da Igreja na sua expressão mais alta, a da oração litúrgica. Os nossos lábios, os nossos corações e as nossas mentes, na oração eclesial, fazem-se intérpretes das necessidades e dos anseios de toda a humanidade. Com as palavras do Salmo 118 suplicamos ao Senhor em nome de todos os homens: «Inclinai o meu coração para os vossos preceitos... Venham sobre mim, Senhor, as vossas graças». A oração quotidiana da Liturgia das Horas constitui uma tarefa essencial do ministério ordenado na Igreja. Também através do Ofício divino, que prolonga no dia o mistério central da Eucaristia, os presbíteros estão unidos de modo particular ao Senhor Jesus, vivo e activo no tempo. O Sacerdócio: que dom precioso! Vós, queridos Seminaristas que vos preparais para o receber, aprendei a apreciá-lo desde já e vivei com compromisso o tempo precioso no Seminário! O Arcebispo Montini, durante as Ordenações de 1958 dizia quanto segue nesta Catedral: «Começa a vida sacerdotal: um poema, um drama, um mistério novo... fonte de meditação perpétua... sempre objeto de redescoberta e de admiração; [o Sacerdócio] - disse - é sempre novidade e beleza para quem a ele dedica o pensamento amoroso... é reconhecimento da ação de Deus em nós» (Homilia para a Ordenação de 46 Sacerdotes, 21 de Junho de 1958).
Se Cristo, para edificar a sua Igreja, se entrega nas mãos do sacerdote, este por sua vez deve entregar-se a Ele sem reservas: o amor ao Senhor Jesus é a alma e a razão do ministério sacerdotal, assim como foi a premissa para que Ele entregasse a Pedro a missão de apascentar o próprio rebanho: «Simão... tu amas-Me mais do que estes?... Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,15)». O Concílio Vaticano II recordou que Jesus «permanece sempre o princípio e a fonte da unidade de vida dos presbíteros. Os sacerdotes, portanto, alcançarão a unidade da sua vida unindo-se a Cristo no conhecimento da vontade do Pai e na doação de si mesmos pelo rebanho que lhes é confiado. Fazendo assim as vezes do Bom Pastor, encontrarão no próprio exercício da caridade pastoral o vínculo da perfeição sacerdotal, que conduz à unidade de vida e de ação» (Decr. Presbyterorum Ordinis, 14). Precisamente sobre esta questão se expressou: nas diversas ocupações, de hora em hora, como encontrar a unidade da vida, a unidade do ser sacerdote precisamente desta fonte de amizade profunda com Jesus, do ser interior juntamente com Ele. E não há oposição entre o bem da pessoa do sacerdote e a sua missão: aliás, a caridade pastoral é um elemento unificador de vida que começa a partir de uma relação cada vez mais íntima com Cristo na oração para viver o dom total de si mesmo pelo rebanho, de modo que o Povo de Deus cresça na comunhão com Deus e seja manifestação da comunhão da Santíssima Trindade. Com efeito, cada uma das nossas ações tem como finalidade conduzir os fiéis à união com o Senhor e deste modo fazer crescer a comunhão eclesial para a salvação do mundo. Os três elementos: união pessoal com Deus, bem da Igreja, bem da humanidade na sua totalidade, não são coisas distintas ou opostas, mas uma sinfonia da fé vivida.
Sinal luminoso desta caridade pastoral e de um coração indiviso são o celibato sacerdotal e a virgindade consagrada. Cantamos no hino de santo Ambrósio: «Se em ti nasce o Filho de Deus, conservas a vida sem culpas». «Acolher Cristo - Christum suscipere» é um tema que recorre com muita frequência na pregação do Santo Bispo de Milão; cito um excerto do seu Comentário a São Lucas: «Quem acolhe Cristo no íntimo da sua casa é saciado com as maiores alegrias» (Expos. Evangelii sec. Lucam, V, 16). O Senhor Jesus foi a sua grande atração, o tema principal da sua reflexão e pregação, e sobretudo a palavra de um amor vivo e confiante. Sem dúvida, o amor a Jesus é válido para todos os cristãos, mas adquire um significado singular para o sacerdote celibatário e para quem respondeu à vocação à vida consagrada: só e sempre em Cristo se encontram a nascente e o modelo para repetir quotidianamente o «sim» à vontade de Deus. «Com que vínculos Cristo é retido?» - perguntava santo Ambrósio, que com intensidade surpreendente pregou e cultivou a virgindade na Igreja, promovendo também a dignidade da mulher. À pergunta citada respondia: «Não com nós de cordas, mas com os vínculos do amor e com o afeto da alma» (De virginitate, 13, 77). E precisamente num célebre sermão às virgens ele disse: «Cristo é tudo para nós: se desejares curar as tuas feridas, Ele é médico; se estás angustiado pelo ardor da febre, Ele é fonte; se estás oprimido pela culpa, Ele é justiça; se precisas de ajuda, Ele é poder; se tens medo da morte, Ele é vida; se desejas o paraíso, Ele é o caminho; se tens horror às trevas, Ele é luz; se estás em busca de comida, Ele é alimento» (ibid., 16, 99).
Queridos Irmãos e Irmãs consagrados, agradeço-vos o vosso testemunho e encorajo-vos: olhai para o futuro com confiança, contando com a fidelidade de Deus, que nunca faltará, e o poder da sua graça, capaz de realizar sempre novas maravilhas, também em nós e conosco. As antífonas da segunda salmodia deste sábado levaram-nos a contemplar o mistério da Virgem Maria. De facto, nela podemos reconhecer o «gênero de vida virginal e pobre que Cristo Senhor escolheu para si e que a sua Virgem Mãe abraçou» (Lumen Gentium, 46), uma vida em obediência total à vontade de Deus.
O hino recordou-nos ainda as palavras de Jesus na Cruz: «Da glória do seu patíbulo, Jesus fala à Virgem: “Mulher, eis o teu filho”; “João, eis a tua mãe”». Maria, Mãe de Cristo, difunde e prolonga também em nós a sua maternidade divina, para que o ministério da Palavra e dos Sacramentos, a vida de contemplação e a atividade apostólica nas múltiplas formas perseverem, sem fraqueza e com coragem, ao serviço de Deus e para a edificação da sua Igreja.
Neste momento, apraz-me dar graças a Deus pela multidão de sacerdotes ambrosianos, de religiosos e religiosas que empregaram as suas energias ao serviço do Evangelho, chegando por vezes até ao extremo sacrifício da vida. Alguns deles foram propostos ao culto e à imitação dos fiéis também em tempos recentes: os Beatos sacerdotes Luigi Talamoni, Luigi Biraghi, Luigi Monza, Carlo Gnocchi, Serafino Morazzone; os Beatos religiosos Giovanni Mazzucconi, Luigi Monti e Clemente Vismara; e as religiosas Maria Anna Sala e Enrichetta Alfieri. Pela sua comum intercessão peçamos confiantes ao Dador de todos os dons que torne sempre fecundo o ministério dos sacerdotes, fortaleça o testemunho das pessoas consagradas, para mostrar ao mundo a beleza da doação a Cristo e à Igreja, e renove as famílias cristãs segundo o desígnio de Deus, para que sejam lugares de graça e de santidade, terreno fértil para as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Amém. Obrigado!


Fonte: Santa Sé

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus

A Ladainha do Sagrado Coração de Jesus (Litaniae de Sacratissimo Corde Iesu) é uma das oito Ladainhas aprovadas pela Santa Sé e que, portanto, podem ser recitadas nas celebrações litúrgicas [1].

Breve histórico da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus

As primeiras versões da Ladainha teriam sido compostas pelo sacerdote jesuíta polonês Kasper (Gaspar) Druzbicki (publicadas postumamente em 1683) e por São João Eudes (1668) [2]. Após a promoção da devoção por Santa Margarida Maria Alacoque, várias versões surgiram dentro da sua Congregação, a Ordem da Visitação, particularmente na França: em Moulins (1687), em Dijon (1689) e em Lyon (1691), esta última de autoria do Padre Jean Croiset.

Vitral do Sagrado Coração de Jesus
(Igreja de Santa Ifigênia - São Paulo, SP)

A religiosa Anne-Madeleine Rémusat, do Mosteiro da Visitação de Marselha, publicou em 1718 um manual de devoções ao Sagrado Coração, na qual incluiu uma nova versão da Ladainha baseada nas anteriores, com 27 invocações. Graças ao apoio do Bispo de Marselha, Dom Henri-François-Xavier de Belsunce de Castelmoron, esta versão da Ladainha foi bastante difundida, sendo conhecida como a “Ladainha de Marselha” (Litanies de Marseille).

Essa versão da Ladainha seria recitada solenemente pela primeira vez em 20 de junho de 1721, quando Dom Henri-François-Xavier celebrou pela primeira vez a Festa do Sagrado Coração na Diocese de Marselha.

A recitação dessa Ladainha nas celebrações litúrgicas, porém, só seria aprovada pela Santa Sé mais de cem anos depois. Com efeito, com o Decreto de 27 de junho de 1898, assinado pelo Cardeal Camillo Mazzella, a Sagrada Congregação dos Ritos aprovou oficialmente a versão definitiva da Ladainha para as Dioceses de Marselha e Autun e para a Ordem da Visitação [3].

Às 27 invocações da Ladainha de Marselha foram acrescentadas outras seis, tomadas das versões anteriores, completando assim 33 títulos do Senhor (número alusivo à tradicional cifra de anos da vida terrena de Cristo).

terça-feira, 12 de junho de 2012

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus

O Filho de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano
(Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 22).

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma das mais difundidas entre os fiéis. Com efeito, nas Sagradas Escrituras o coração não é apenas a sede das emoções e sentimentos, mas também da inteligência e da vontade [1]. Em suma, o coração simboliza o núcleo fundamental da pessoa humana.

Assim, o culto ao Coração de Jesus é o culto ao mistério de Cristo em sua totalidade, como sintetiza o Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia: “O Coração de Cristo é Cristo, Verbo Encarnado e Salvador, intrinsecamente voltado, no Espírito, com infinito amor divino-humano, para o Pai e para os homens seus irmãos” (n. 166).


1. Fundamentos da devoção ao Sagrado Coração

No Evangelho, Jesus refere-se diretamente ao seu coração: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Mas é sobretudo no Quarto Evangelho que esse símbolo ganha destaque: este é o Evangelho do “discípulo amado”, que repousou a cabeça junto ao Coração do Senhor (cf. Jo 13,25).

O evangelista “dá testemunho” (cf. Jo 19,35) do golpe da lança que abriu o lado de Cristo em direção ao coração, do qual saiu “sangue e água” (Jo 19,34). Esta mesma ferida do lado, em direção ao coração, será sinal da Ressurreição do Senhor (Jo 20,27).

Os Padres da Igreja interpretaram o sangue e a água que brotaram do coração de Cristo, “fonte de vida” (cf. Jo 7,37-38), como imagem da Igreja, fundada nos sacramentos do Batismo (água) e da Eucaristia (sangue).

O coração aberto de Cristo na cruz é, pois, a porta da sua misericórdia, como testemunha Santo Agostinho, citado pelo Diretório sobre a Piedade Popular: “A entrada é acessível: Cristo é a porta. Abriu-se também para ti quando o lado d’Ele foi aberto pela lança. Lembra-te de que coisa saiu dali; então escolhe por onde tu possas entrar. Do lado do Senhor que pendia da cruz e nela morria saiu sangue e água quando foi aberto pela lança. Na água está a tua purificação, no sangue a tua redenção” (n. 168).

Mosaico do Santuário Nacional da Imaculada Conceição - Washington, EUA

2. Desenvolvimento da devoção e o apoio dos Romanos Pontífices

Nos séculos seguintes, diversos santos aprofundariam a reflexão sobre o Coração de Cristo, como vimos em nossa postagem sobre a história do seu culto. Particularmente na Idade Moderna, essa devoção serviu como contraponto ao jansenismo (corrente teológica que enfatizava demais o rigor da justiça de Deus), recordando o infinito amor de Deus manifestado em Cristo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A história do culto ao Sagrado Coração de Jesus

Da celebração da Páscoa do Senhor derivam todas as celebrações do Ano Litúrgico [1].

Com efeito, é a partir da Páscoa (celebrada no domingo após a primeira lua cheia da primavera no hemisfério norte) que se calcula a maior parte das festas móveis do Ano Litúrgico, tanto as festas “dinâmicas” (que celebram eventos da história da salvação), quanto as festas “estáticas” ou “temáticas”, isto é, que celebram “ideias” teológicas ou devoções.

Dentre estas últimas inclui-se a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, celebrada na sexta-feira da terceira semana após o Pentecostes, que, junto com a Memória do Coração de Maria, no dia seguinte (70 dias após a Páscoa), constitui o último “eco” da celebração anual da Morte-Ressurreição do Senhor.

Santo Inácio de Loyola e São Luís Gonzaga adoram o Sagrado Coração
(José de Páez, 1770, México)

1. As raízes da devoção ao Sagrado Coração

O culto ao Sagrado Coração de Jesus tem suas origens mais remotas na devoção às Chagas de Cristo. Esta origina-se nos séculos XII e XIII com as peregrinações aos locais da Paixão na Terra Santa e como reação à heresia dos cátaros. Estes possuíam uma concepção dualista, considerando o espírito como bom e a matéria como má, negando assim o valor da Encarnação e da Morte de Cristo.

Para combater tal heresia, as ordens religiosas passaram a enfatizar a devoção à Paixão, incluindo portanto o culto ao Coração de Cristo atravessado pela lança. Destacam-se primeiramente São Bernardo de Claraval (†1153) e São Boaventura (†1274) e, nos séculos XIV-XV, as Santas Matilde de Magdeburgo (†1282), Matilde de Hackeborn (†1299) e Gertrudes de Helfta (†1302) na Alemanha e as Santas Ângela de Foligno (†1309) e Catarina de Sena (†1380) na Itália.