sexta-feira, 30 de maio de 2014

Fotos da Missa do Papa no Cenáculo

No último dia 26 de maio, Sua Santidade o Papa Francisco celebrou a terceira e última Missa de sua viagem à Terra Santa, na Sala do Cenáculo, em Jerusalém.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli. O texto da celebração pode ser encontrado no Missal da Viagem Apostólica, páginas 101-142.

Veneração do altar
Ritos iniciais


Oração do dia

Homilia do Papa na Missa no Cenáculo

PEREGRINAÇÃO DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA 
SANTA MISSA COM OS ORDINÁRIOS DA TERRA SANTA E COM O SÉQUITO PAPAL
HOMILIA DO SANTO PADRE
Sala do Cenáculo (Jerusalém)
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

É um grande dom que nos concede o Senhor, ao reunir-nos aqui, no Cenáculo, para celebrar a Eucaristia. Ao mesmo tempo que vos saúdo com fraterna alegria, penso afectuosamente nos Patriarcas Orientais Católicos que, nestes dias, tomaram parte na minha peregrinação. Desejo agradecer-lhes pela sua significativa presença, particularmente preciosa para mim, e asseguro que ocupam um lugar especial no meu coração e na minha oração. Aqui, onde Jesus comeu a Última Ceia com os Apóstolos; onde, ressuscitado, apareceu no meio deles; onde o Espírito Santo desceu poderosamente sobre Maria e os discípulos, aqui nasceu a Igreja, e nasceu em saída. Daqui partiu, com o Pão repartido nas mãos, as chagas de Jesus nos olhos e o Espírito de amor no coração.
Jesus ressuscitado, enviado pelo Pai, no Cenáculo comunicou aos Apóstolos o seu próprio Espírito e, com a sua força, enviou-os a renovar a face  da terra (cf. Sal 104, 30).
Sair, partir, não quer dizer esquecer. A Igreja em saída guarda a memória daquilo que aconteceu aqui; o Espírito Paráclito recorda-lhe cada palavra, cada gesto, e revela o seu significado.
O Cenáculo recorda-nos o serviço, o lava-pés que Jesus realizou, como exemplo para os seus discípulos. Lavar os pés uns aos outros significa acolher-se, aceitar-se, amar-se, servir-se reciprocamente. Quer dizer servir o pobre, o doente, o marginalizado, a pessoa que me é antipática, aquela que me dá fastídio.
O Cenáculo recorda-nos, com a Eucaristia, o sacrifício. Em cada celebração eucarística, Jesus oferece-Se por nós ao Pai, para que também nós possamos unir-nos a Ele, oferecendo a Deus a nossa vida, o nosso trabalho, as nossas alegrias e as nossas penas..., oferecer tudo em sacrifício espiritual.
E o Cenáculo recorda-nos também a amizade. «Já não vos chamo servos – disse Jesus aos Doze – (…) mas a vós chamei-vos amigos» (Jo 15, 15). O Senhor faz de nós seus amigos, confia-nos a vontade do Pai e dá-Se-nos a Si mesmo. Esta é a experiência mais bela do cristão e, de modo particular, do sacerdote: tornar-se amigo do Senhor Jesus, e descobrir no seu coração que Ele é amigo.
O Cenáculo recorda-nos a despedida do Mestre e a promessa de reencontrar-se com os seus amigos: «Quando Eu tiver ido (…), virei novamente e hei-de levar-vos para junto de Mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também» (Jo 14, 3). Jesus não nos deixa, nunca nos abandona, vai à nossa frente para a casa do Pai; e, para lá, nos quer levar consigo.
Mas, o Cenáculo recorda também a mesquinhez, a curiosidade – «quem é o traidor?» – a traição. E reproduzir na vida estas atitudes não sucede só nem sempre aos outros, mas pode suceder a cada um de nós, quando olhamos com desdém o irmão e o julgamos; quando, com os nossos pecados, atraiçoamos Jesus.
O Cenáculo recorda-nos a partilha, a fraternidade, a harmonia, a paz entre nós. Quanto amor, quanto bem jorrou do Cenáculo! Quanta caridade saiu daqui como um rio da sua fonte, que, ao princípio, é um ribeiro e depois se alarga e torna grande... Todos os santos beberam daqui; o grande rio da santidade da Igreja, sempre sem cessar, tem origem daqui, do Coração de Cristo, da Eucaristia, do seu Santo Espírito.
Finalmente, o Cenáculo recorda-nos o nascimento da nova família, a Igreja, a nossa santa mãe Igreja hierárquica, constituída por Jesus ressuscitado. Família esta, que tem uma Mãe, a Virgem Maria. As famílias cristãs pertencem a esta grande família e, nela, encontram luz e força para caminhar e se renovar no meio das fadigas e provações da vida.  Para esta grande família, estão convidados e chamados todos os filhos de Deus de cada povo e língua, todos irmãos e filhos do único Pai que está nos céus.
Este é o horizonte do Cenáculo: o horizonte do Ressuscitado e da Igreja.
Daqui parte a Igreja em saída, animada pelo sopro vital do Espírito. Reunida em oração com a Mãe de Jesus, ela sempre revive a espera de uma renovada efusão do Espírito Santo: Desça o vosso Espírito, Senhor, e renove a face da terra (cf. Sal 104, 30)!


Fonte: Santa Sé

Fotos do Encontro do Papa com Sacerdotes e Religiosos em Jerusalém

No último dia 26 de maio, Sua Santidade o Papa Francisco, durante sua Viagem Apostólica à Terra Santa, encontrou-se com Sacerdotes, Religiosos e Seminaristas na igreja do Getsêmani, junto ao Horto das Oliveiras.

O encontro deu-se na forma de uma Celebração da Palavra, cujo texto encontra-se no Missal para a Viagem Apostólica, páginas 91-100.

Igreja do Getsêmani
O Santo Padre ouve a saudação do Patriarca de Jerusalém 
Celebração da Palavra

Homilia do Santo Padre

Palavras do Papa aos Sacerdotes e Religiosos em Jerusalém

PEREGRINAÇÃO DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA 
ENCONTRO COM SACERDOTES, RELIGIOSOS, RELIGIOSAS E SEMINARISTAS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Igreja do Getsémani, Jerusalém
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

«[Jesus] saiu então e foi (...) para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele» (Lc 22, 39).
Quando chega a hora marcada por Deus para salvar a humanidade da escravidão do pecado, Jesus retira-Se aqui, no Getsémani, ao pé do Monte das Oliveiras. Encontramo-nos neste lugar santo, santificado pela oração de Jesus, pela sua angústia, pelo seu suor de sangue; santificado sobretudo pelo seu «sim» à vontade amorosa do Pai. Quase sentimos temor de abeirar-nos dos sentimentos que Jesus experimentou naquela hora; entramos, em pontas de pés, naquele espaço interior, onde se decidiu o drama do mundo.
Naquela hora, Jesus sentiu a necessidade de rezar e ter perto d’Ele os seus discípulos, os seus amigos, que O tinham seguido e partilhado mais de perto a sua missão. Mas o seguimento aqui, no Getsémani, torna-se difícil e incerto; prevalecem a dúvida, o cansaço e o pavor. Na rápida sucessão dos eventos da paixão de Jesus, os discípulos assumirão diferentes atitudes perante o Mestre: atitudes de proximidade, de distanciamento, de incerteza.
Será bom para todos nós – bispos, sacerdotes, pessoas consagradas, seminaristas – perguntarmo-nos neste lugar: Quem sou eu perante o meu Senhor que sofre?
Sou daqueles que, convidados por Jesus a velar com Ele, adormecem e, em vez de rezar, procuram evadir-se fechando os olhos frente à realidade?
Ou reconheço-me naqueles que fugiram por medo, abandonando o Mestre na hora mais trágica da sua vida terrena?
Porventura há em mim a hipocrisia, a falsidade daquele que O vendeu por trinta moedas, que fora chamado amigo e no entanto traiu Jesus?
Reconheço-me naqueles que foram fracos e O renegaram, como Pedro? Pouco antes, ele prometera a Jesus segui-Lo até à morte (cf. Lc 22, 33); depois, encurralado e dominado pelo medo, jura que não O conhece.
Assemelho-me àqueles que já organizavam a sua vida sem Ele, como os dois discípulos de Emaús, insensatos e de coração lento para acreditar nas palavras dos profetas (cf. Lc 24, 25)?
Ou então, graças a Deus, encontro-me entre aqueles que foram fiéis até ao fim, como a Virgem Maria e o apóstolo João? No Gólgota, quando tudo se torna escuro e toda a esperança parece extinta, somente o amor é mais forte que a morte. O amor de Mãe e do discípulo predilecto impele-os a permanecerem ao pé da cruz, para compartilhar até ao fundo o sofrimento de Jesus.
Reconheço-me naqueles que imitaram o seu Mestre até ao martírio, dando testemunho que Ele era tudo para eles, a força incomparável da sua missão e o horizonte último da sua vida?
A amizade de Jesus por nós, a sua fidelidade e a sua misericórdia são o dom inestimável que nos encoraja a continuar, com confiança, a segui-Lo, apesar das nossas quedas, dos nossos erros e também das nossas traições.
Todavia esta bondade do Senhor não nos isenta da vigilância frente ao tentador, ao pecado, ao mal e à traição que podem atravessar também a vida sacerdotal e religiosa. Todos nós estamos expostos ao pecado, ao mal, à traição. Sentimos a desproporção entre a grandeza da chamada de Jesus e a nossa pequenez, entre a sublimidade da missão e a nossa fragilidade humana. Mas o Senhor, na sua grande bondade e infinita misericórdia, sempre nos toma pela mão, para não nos afogarmos no mar do acabrunhamento. Ele está sempre ao nosso lado, nunca nos deixa sozinhos. Portanto, não nos deixemos vencer pelo medo e o desalento, mas, com coragem e confiança, sigamos em frente no nosso caminho e na nossa missão.
Vós, amados irmãos e irmãs, sois chamados a seguir o Senhor com alegria nesta Terra bendita! É um dom e também é uma responsabilidade. A vossa presença aqui é muito importante; toda a Igreja vos está agradecida e apoia com a oração. A partir deste lugar santo, desejo além disso dirigir uma saudação carinhosa a todos os cristãos de Jerusalém: quero assegurar que os recordo com afecto e que rezo por eles, bem ciente de quão difícil é a sua vida na cidade. Exorto-os a serem testemunhas corajosas da Paixão do Senhor, mas também da sua Ressurreição, com alegria e esperança.
Imitemos a Virgem Maria e São João, permanecendo junto das muitas cruzes onde Jesus ainda está crucificado. Esta é a estrada pela qual o nosso Redentor nos chama a segui-Lo: não há outra, é esta!
«Se alguém Me serve, que Me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo» (Jo 12, 26).


Fonte: Santa Sé

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Fotos da Celebração Ecumênica em Jerusalém

No último dia 25 de maio, Sua Santidade o Papa Francisco e Sua Beatitude o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla presidiram uma Celebração Ecumênica na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, por ocasião dos 50 anos do histórico encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras.

O texto da celebração pode ser visto no Missal para a Viagem Apostólica, nas páginas 77 a 90.

Abraço entre o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu


Veneração da Pedra da Unção

Palavras do Papa na Celebração Ecumênica em Jerusalém

PEREGRINAÇÃO D O PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA 
CELEBRAÇÃO ECUMÉNICA POR OCASIÃO DO 50º ANIVERSÁRIO 
DO ENCONTRO EM JERUSALÉM ENTRE 
O PAPA PAULO VI E O PATRIARCA ATENÁGORAS
PALAVRAS DO SANTO PADRE
Basílica do Santo Sepulcro (Jerusalém)
Domingo, 25 de Maio de 2014

Santidade,
Caríssimos irmãos Bispos,
Caríssimos irmãos e irmãs!
Nesta Basílica, para a qual todo o cristão olha com profunda veneração, atinge o seu clímax a peregrinação que estou a realizar juntamente com o meu amado irmão em Cristo, Sua Santidade Bartolomeu. Realizamo-la seguindo os passos dos nossos venerados antecessores​, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, que, com coragem e docilidade ao Espírito Santo, permitiram há cinquenta anos, na Cidade Santa de Jerusalém, o histórico encontro entre o Bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla. Saúdo cordialmente a todos vós aqui presentes. De modo particular, agradeço vivamente por ter tornado possível este momento a Sua Beatitude Teófilo, que quis dirigir-me amáveis ​​palavras de boas-vindas, bem como a Sua Beatitude Nourhan Manoogian e ao Reverendo Padre Pierbattista Pizzaballa.
É uma graça extraordinária estarmos aqui reunidos em oração. O Túmulo vazio, aquele sepulcro novo situado num jardim, onde José de Arimateia devotamente depusera o corpo de Jesus, é o lugar donde parte o anúncio da Ressurreição: «Não tenhais medo! Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia e ide  depressa dizer aos seus discípulos: “Ele ressuscitou dos mortos”» (Mt 28, 5-7). Este anúncio, confirmado pelo testemunho daqueles a quem apareceu o Senhor Ressuscitado, é o coração da mensagem cristã, transmitida fielmente de geração em geração, como desde o início atesta o apóstolo Paulo: «Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que Eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras» (1 Cor 15, 3-4). É o fundamento da fé que nos une, graças à qual professamos conjuntamente que Jesus Cristo, o Filho unigénito do Pai e nosso único Senhor, «padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia» (Símbolo dos Apóstolos). Cada um de nós, cada baptizado em Cristo, espiritualmente ressuscitou deste sepulcro, porque, no Baptismo, todos fomos realmente incorporados no Primogénito de toda a criação, sepultados juntamente com Ele, para ressuscitar com Ele e poder caminhar numa vida nova (cf. Rm 6, 4).
Acolhamos a graça especial deste momento. Detenhamo-nos em devoto recolhimento junto do sepulcro vazio, para redescobrir a grandeza da nossa vocação cristã: somos homens e mulheres de ressurreição, não de morte. Aprendamos, a partir deste lugar, a viver a nossa vida, as angústias das nossas Igrejas e do mundo inteiro, à luz da manhã de Páscoa. Cada ferida, cada sofrimento, cada tribulação foram carregados sobre os próprios ombros do Bom Pastor, que Se ofereceu a Si mesmo e, com o seu sacrifício, abriu-nos a passagem para a vida eterna. As suas chagas abertas são como que a passagem através da qual se derrama sobre o mundo a torrente da sua misericórdia. Não nos deixemos roubar o fundamento da nossa esperança, que é precisamente este: Christòs anesti! Não privemos o mundo do feliz anúncio da Ressurreição! E não sejamos surdos ao forte apelo à unidade que ressoa, precisamente deste lugar, nas palavras d’Aquele que, já Ressuscitado, chama a todos nós «os meus irmãos» (cf. Mt 28, 10; Jo 20, 17).
Claro, não podemos negar as divisões que ainda existem entre nós, discípulos de Jesus: este lugar sagrado faz-nos sentir o drama com maior sofrimento. E no entanto, à distância de cinquenta anos do abraço daqueles dois veneráveis ​​Padres, reconhecemos com gratidão e renovada admiração como foi possível, por impulso do Espírito Santo, realizar passos verdadeiramente importantes rumo à unidade. Estamos cientes de que ainda falta percorrer mais estrada para alcançar aquela plenitude da comunhão que se possa exprimir também na partilha da mesma Mesa eucarística, que ardentemente desejamos; mas as divergências não devem assustar-nos e paralisar o nosso caminho. Devemos acreditar que, assim como foi removida a pedra do sepulcro, assim também poderão ser removidos todos os obstáculos que ainda impedem a plena comunhão entre nós. Será uma graça de ressurreição, que já hoje podemos pregustar. Cada vez que pedimos perdão uns aos outros pelos pecados cometidos contra outros cristãos e cada vez que temos a coragem de dar e receber este perdão, fazemos experiência da ressurreição! Cada vez que, superados velhos preconceitos, temos a coragem de promover novas relações fraternas, confessamos que Cristo ressuscitou verdadeiramente! Cada vez que pensamos o futuro da Igreja a partir da sua vocação à unidade, brilha a luz da manhã de Páscoa! A este respeito, quero renovar o desejo, já expresso pelos meus Antecessores, de manter um diálogo com todos os irmãos em Cristo para se encontrar uma forma de exercício do ministério próprio do Bispo de Roma, que, em conformidade com a sua missão, se abra a uma nova situação e possa ser, no contexto actual, um serviço de amor e de comunhão reconhecido por todos (cf. JOÃO PAULO II, Enc. Ut unum sint, 95-96).
Enquanto como peregrinos fazemos uma pausa nestes Lugares santos, a nossa recordação orante vai para a região inteira do Médio Oriente, tantas vezes marcada, infelizmente, por violências e conflitos. E não esquecemos, na nossa oração, muitos outros homens e mulheres que sofrem, em várias partes do mundo, por causa da guerra, da pobreza, da fome; bem como os inúmeros cristãos perseguidos pela sua fé no Senhor Ressuscitado. Quando cristãos de diferentes confissões se encontram a sofrer juntos, uns ao lado dos outros, e a prestar ajuda uns aos outros com caridade fraterna, realiza-se o ecumenismo do sofrimento, realiza-se o ecumenismo do sangue, que possui uma eficácia particular não só para os contextos onde o mesmo tem lugar, mas, em virtude da comunhão dos santos, também para toda a Igreja. Aqueles que matam por ódio à fé, que perseguem os cristãos, não lhes perguntam se são ortodoxos ou se são católicos: são cristãos. O sangue cristão é o mesmo.
Santidade, amado Irmão, e vós todos, queridos irmãos, ponhamos de parte as hesitações que herdámos do passado e abramos o nosso coração à acção do Espírito Santo, o Espírito do Amor (cf. Rm 5, 5), para caminharmos, juntos e ágeis, rumo ao dia abençoado da nossa reencontrada plena comunhão. Neste caminho, sentimo-nos sustentados pela oração que o próprio Jesus, nesta Cidade, na véspera da sua paixão, morte e ressurreição, elevou ao Pai pelos seus discípulos e que humildemente não nos cansamos de fazer nossa: «Que todos sejam um só (...), para que o mundo creia» (Jo 17, 21). E quando a desunião nos fizer pessimistas, pouco corajosos, difidentes, refugiemo-nos todos sob o manto da Santa Mãe de Deus. Quando há turbulências espirituais na alma cristã, só encontraremos a paz sob o manto da Santa Mãe de Deus. Que Ela nos ajude neste caminho.


Fonte: Santa Sé

Declaração Conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Bartolomeu

DECLARAÇÃO CONJUNTA
DO PAPA FRANCISCO E DO PATRIARCA ECUMÉNICO BARTOLOMEU
Sede da Delegação Apostólica (Jerusalém)
Domingo, 25 de Maio de 2014

1. Como os nossos venerados predecessores Papa Paulo VI e Patriarca Ecuménico Atenágoras, que se encontraram aqui em Jerusalém há cinquenta anos, também nós – Papa Francisco e Patriarca Ecuménico Bartolomeu – decidimos encontrar-nos na Terra Santa, «onde o nosso Redentor comum, Cristo nosso Senhor, viveu, ensinou, morreu, ressuscitou e subiu aos céus, donde enviou o Espírito Santo sobre a Igreja nascente» (Comunicado comum de Papa Paulo VI e Patriarca Atenágoras, publicado depois do seu encontro de 6 de Janeiro de 1964). O nosso encontro – um novo encontro dos Bispos das Igrejas de Roma e Constantinopla fundadas respectivamente por dois Irmãos, os Apóstolos Pedro e André – é fonte de profunda alegria espiritual para nós. O mesmo proporciona uma ocasião providencial para reflectir sobre a profundidade e a autenticidade dos vínculos existentes entre nós, vínculos esses fruto de um caminho cheio de graça pelo qual o Senhor nos guiou desde aquele abençoado dia de cinquenta anos atrás.
2. O nosso encontro fraterno de hoje é um passo novo e necessário no caminho para a unidade, à qual só o Espírito Santo nos pode levar: a unidade da comunhão na legítima diversidade. Com profunda gratidão, relembramos os passos que o Senhor já nos permitiu realizar. O abraço trocado entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras aqui em Jerusalém, depois de muitos séculos de silêncio, abriu a estrada para um gesto epocal: a remoção da memória e do meio da Igreja dos actos de recíproca excomunhão de 1054. Isso foi seguido por uma troca de visitas entre as respectivas Sés de Roma e de Constantinopla, por uma correspondência regular e, mais tarde, pela decisão anunciada pelo Papa João Paulo II e o Patriarca Dimitrios, ambos de abençoada memória, de se iniciar um diálogo teológico na verdade entre católicos e ortodoxos. Ao longo destes anos, Deus, fonte de toda a paz e amor, ensinou-nos a olhar uns para os outros como membros da mesma família cristã, sob o mesmo Senhor e Salvador Jesus Cristo, e a amar-nos de tal modo uns aos outros que podemos confessar a nossa fé no mesmo Evangelho de Cristo, tal como foi recebida pelos Apóstolos e nos foi expressa e transmitida a nós pelos Concílios Ecuménicos e pelos Padres da Igreja. Embora plenamente conscientes de ainda não ter atingido a meta da plena comunhão, hoje reafirmamos o nosso compromisso de continuar a caminhar juntos rumo à unidade pela qual Cristo nosso Senhor rezou ao Pai pedindo que «todos sejam um só»  (Jo 17, 21).
3. Bem cientes de que a unidade se manifesta no amor de Deus e no amor do próximo, olhamos com ansiedade para o dia em que poderemos finalmente participar juntos no banquete eucarístico. Como cristãos, somos chamados a preparar-nos para receber este dom da comunhão eucarística, segundo o ensinamento de Santo Ireneu de Lião (Contra as Heresias, IV, 18, 5: PG 7, 1028), através da confissão de uma só fé, a oração perseverante, a conversão interior, a renovação da vida e o diálogo fraterno. Ao alcançar esta meta esperada, manifestaremos ao mundo o amor de Deus, pelo qual somos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Jesus Cristo (cf. Jo 13, 35).
4. Para tal objectivo, o diálogo teológico realizado pela Comissão Mista Internacional oferece uma contribuição fundamental na busca da plena comunhão entre católicos e ortodoxos. Ao longo dos sucessivos tempos vividos sob os Papas João Paulo II e Bento XVI e o Patriarca Dimitrios, foi substancial o progresso dos nossos encontros teológicos. Hoje exprimimos vivo apreço pelos resultados obtidos até agora, bem como pelos esforços actuais. Não se trata de mero exercício teórico, mas de uma exercitação na verdade e no amor, que exige um conhecimento ainda mais profundo das tradições de cada um para as compreender e aprender com elas. Assim, afirmamos mais uma vez que o diálogo teológico não procura o mínimo denominador comum teológico sobre o qual se possa chegar a um compromisso, mas busca aprofundar o próprio conhecimento da verdade total que Cristo deu à sua Igreja, uma verdade cuja compreensão nunca cessará de crescer se seguirmos as inspirações do Espírito Santo. Por isso, afirmamos conjuntamente que a nossa fidelidade ao Senhor exige um encontro fraterno e um verdadeiro diálogo. Tal busca comum não nos leva para longe da verdade; antes, através de um intercâmbio de dons e sob a guia do Espírito Santo, levar-nos-á para a verdade total (cf. Jo 16, 13).
5. Todavia, apesar de estarmos ainda a caminho para a plena comunhão, já temos o dever de oferecer um testemunho comum do amor de Deus por todas as pessoas, trabalhando em conjunto ao serviço da humanidade, especialmente na defesa da dignidade da pessoa humana em todas as fases da vida e da santidade da família assente no matrimónio, na promoção da paz e do bem comum e dando resposta ao sofrimento que continua a afligir o nosso mundo. Reconhecemos que a fome, a pobreza, o analfabetismo, a distribuição desigual de recursos devem ser constantemente enfrentados. É nosso dever procurar construir juntos uma sociedade justa e humana, onde ninguém se sinta excluído ou marginalizado.
6. É nossa profunda convicção que o futuro da família humana depende também do modo como protegermos – de forma simultaneamente prudente e compassiva, com justiça e equidade – o dom da criação que o nosso Criador nos confiou. Por isso, arrependidos, reconhecemos os injustos maus-tratos ao nosso planeta, o que aos olhos de Deus equivale a um pecado. Reafirmamos a nossa responsabilidade e obrigação de fomentar um sentimento de humildade e moderação, para que todos possam sentir a necessidade de respeitar a criação e protegê-la cuidadosamente. Juntos, prometemos empenhar-nos na sensibilização sobre a salvaguarda da criação; apelamos a todas as pessoas de boa vontade para tomarem em consideração formas de viver menos dispendiosas e mais frugais, manifestando menos ganância e mais generosidade na protecção do mundo de Deus e para benefício do seu povo.
7. Há também urgente necessidade de uma cooperação efectiva e empenhada dos cristãos para salvaguardar, por todo o lado, o direito de exprimir publicamente a própria fé e de ser tratados equitativamente quando promovem aquilo que o cristianismo continua a oferecer à sociedade e à cultura contemporânea. A este propósito, convidamos todos os cristãos a promoverem um diálogo autêntico com o judaísmo, o islamismo e outras tradições religiosas. A indiferença e a ignorância mútua só podem levar à desconfiança e mesmo, infelizmente, ao conflito.
8. Desta cidade santa de Jerusalém, exprimimos a nossa comum e profunda preocupação pela situação dos cristãos no Médio Oriente e o seu direito de permanecerem plenamente cidadãos dos seus países de origem. Confiadamente voltamo-nos para Deus omnipotente e misericordioso, elevando uma oração pela paz na Terra Santa e no Médio Oriente em geral. Rezamos especialmente pelas Igrejas no Egipto, Síria e Iraque, que têm sofrido mais pesadamente por causa dos eventos recentes. Encorajamos todas as Partes, independentemente das próprias convicções religiosas, a continuarem a trabalhar pela reconciliação e o justo reconhecimento dos direitos dos povos. Estamos convencidos de que não são as armas, mas o diálogo, o perdão e a reconciliação, os únicos meios possíveis para alcançar a paz.
9. Num contexto histórico marcado pela violência, a indiferença e o egoísmo, muitos homens e mulheres de hoje sentem que perderam as suas referências. É precisamente através do nosso testemunho comum à boa notícia do Evangelho que seremos capazes de ajudar as pessoas do nosso tempo a redescobrirem o caminho que conduz à verdade, à justiça e à paz. Unidos nos nossos intentos e recordando o exemplo dado há cinquenta anos aqui em Jerusalém pelo Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, apelamos a todos os cristãos, juntamente com os crentes das diferentes tradições religiosas e todas as pessoas de boa vontade, que reconheçam a urgência deste tempo que nos obriga a buscar a reconciliação e a unidade da família humana, no pleno respeito das legítimas diferenças, para bem de toda a humanidade actual e das gerações futuras.
10. Ao empreendermos esta peregrinação comum até ao lugar onde o nosso e único Senhor Jesus Cristo foi crucificado, sepultado e ressuscitou, humildemente confiamos à intercessão da Santíssima e Sempre Virgem Maria os nossos futuros passos no caminho rumo à plenitude da unidade e entregamos ao amor infinito de Deus toda a família humana.
«O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te favoreça! O Senhor volte para ti a sua face e te dê a paz!» (Nm 6, 25-26).
Jerusalém, 25 de Maio de 2014.


Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Fotos da Missa do Papa em Belém

No último dia 25 de maio, Sua Santidade o Papa Francisco celebrou a segunda Missa de sua viagem à Terra Santa, na Praça da Manjedoura, em Belém.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O texto da celebração pode ser encontrado no Missal da Viagem Apostólica, páginas 41-76.

Procissão de entrada

Sinal da cruz
Ritos iniciais
Liturgia da Palavra

Homilia do Papa: Missa em Belém

Peregrinação do Papa Francisco à Terra Santa
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Praça da Manjedoura, Belém
Domingo, 25 de maio de 2014

«Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2,12).
Que graça grande celebrar a Eucaristia junto do lugar onde nasceu Jesus! Agradeço a Deus e agradeço a vós que me acolhestes nesta minha peregrinação: o Presidente Mahmoud Abbas e demais autoridades; o Patriarca Fouad Twal, os outros Bispos e os Ordinários da Terra Santa, os sacerdotes, os dedicados franciscanos, as pessoas consagradas e quantos trabalham por manter viva a fé, a esperança e a caridade nestes territórios; as delegações de fiéis vindas de Gaza, da Galileia, os imigrantes da Ásia e da África. Obrigado pela vossa recepção!
O Menino Jesus, nascido em Belém, é o sinal dado por Deus a quem esperava a salvação, e permanece para sempre o sinal da ternura de Deus e da sua presença no mundo. O Anjo disse aos pastores: «Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino...».
Também hoje as crianças são um sinal. Sinal de esperança, sinal de vida, mas também sinal de «diagnóstico» para compreender o estado de saúde de uma família, de uma sociedade, do mundo inteiro. Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, cuidadas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano. Pensemos na obra que realiza o Instituto Effathá Paulo VI a favor das crianças surdas palestinas: é um sinal concreto da bondade de Deus. É um sinal concreto de que a sociedade melhora.
Hoje Deus repete também a nós, homens e mulheres do século XXI: «Isto vos servirá de sinal», procurai o menino...
O Menino de Belém é frágil, como todos os recém-nascidos. Não sabe falar e, no entanto, é a Palavra que Se fez carne e veio para mudar o coração e a vida dos homens. Aquele Menino, como qualquer criança, é frágil e precisa ser ajudado e protegido. Também hoje as crianças precisam ser acolhidas e defendidas, desde o ventre materno.
Infelizmente, neste mundo que desenvolveu as tecnologias mais sofisticadas, ainda há tantas crianças em condições desumanas, que vivem à margem da sociedade, nas periferias das grandes cidades ou nas zonas rurais. Ainda hoje há tantas crianças exploradas, maltratadas, escravizadas, vítimas de violência e de tráficos ilícitos. Demasiadas são hoje as crianças exiladas, refugiadas, por vezes afundadas nos mares, especialmente nas águas do Mediterrâneo. De tudo isto nos envergonhamos hoje diante de Deus, Deus que Se fez Menino.
E interrogamo-nos: Quem somos nós diante de Jesus Menino? Quem somos nós diante das crianças de hoje? Somos como Maria e José que acolhem Jesus e cuidam d’Ele com amor maternal e paternal? Ou somos como Herodes, que quer eliminá-Lo? Somos como os pastores, que se apressam a adorá-Lo prostrando-se diante d’Ele e oferecendo-Lhe os seus presentes humildes? Ou então ficamos indiferentes? Por acaso limitamo-nos à retórica e ao pietismo, sendo pessoas que exploram as imagens das crianças pobres para fins de lucro? Somos capazes de permanecer junto delas, de «perder tempo» com elas? Sabemos ouvi-las, defendê-las, rezar por elas e com elas? Ou negligenciamo-las, preferindo ocupar-nos dos nossos interesses?
«Isto nos servirá de sinal: encontrareis um menino...». Talvez aquela criança chore! Chora porque tem fome, porque tem frio, porque quer colo... Também hoje as crianças choram (e choram muito!), e o seu choro interpela-nos. Em um mundo que descarta diariamente toneladas de alimentos e remédios, há crianças que choram, sem ser preciso, por fome e doenças facilmente curáveis. Em um tempo que proclama a tutela dos menores, comercializam-se armas que acabam nas mãos de crianças-soldado; comercializam-se produtos confeccionados por pequenos trabalhadores-escravos. O seu choro é sufocado: o choro destes meninos é sufocado! Têm que combater, têm que trabalhar, não podem chorar! Mas choram por elas as mães, as Raquéis de hoje: choram os seus filhos, e não querem ser consoladas (cf. Mt 2,18).
«Isto vos servirá de sinal»: encontrareis um menino. O Menino Jesus nasceu em Belém, cada criança que nasce e cresce em qualquer parte do mundo é sinal de diagnóstico, que nos permite verificar o estado de saúde da nossa família, da nossa comunidade, da nossa nação. Deste diagnóstico franco e honesto, pode brotar um novo estilo de vida, onde as relações deixem de ser de conflito, de opressão, de consumismo, para serem relações de fraternidade, de perdão e reconciliação, de partilha e de amor.
Ó Maria, Mãe de Jesus,
Tu que acolheste, ensina-nos a acolher;
Tu que adoraste, ensina-nos a adorar; 
Tu que acompanhaste, ensina-nos a acompanhar. Amém.


Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Fotos da Missa do Papa em Aman

No último dia 24 de maio, Sua Santidade o Papa Francisco celebrou no Estádio Internacional de Aman (Jordânia) a primeira Missa durante sua viagem à Terra Santa.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli. O texto da celebração pode ser encontrado no Missal da Viagem Apostólica, páginas 07-40.

Procissão de entrada

Incensação do ícone de Nossa Senhora
Sinal da cruz
Ritos iniciais

Homilia do Papa: Missa em Aman

Peregrinação do Papa Francisco à Terra Santa 
Santa Missa do VI Domingo da Páscoa (Ano A)
Homilia do Santo Padre
Estádio Internacional, Aman (Jordânia)
Sábado, 24 de maio de 2014

Ouvimos, no Evangelho, a promessa de Jesus aos discípulos: «Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14,16). O primeiro Paráclito é o próprio Jesus; o «outro» é o Espírito Santo.

Aqui não estamos muito longe do lugar onde o Espírito Santo desceu poderosamente sobre Jesus de Nazaré, depois que João O batizou no rio Jordão (cf. Mt 3,16), e hoje irei lá. Por isso, o Evangelho deste domingo e também este lugar, onde, graças a Deus, me encontro como peregrino, convidam-nos a meditar sobre o Espírito Santo, sobre aquilo que Ele realiza em Cristo e em nós e que podemos resumir da seguinte maneira: o Espírito realiza três ações, ou seja, prepara, unge e envia.

No momento do batismo, o Espírito pousa sobre Jesus a fim de prepará-Lo para a sua missão de salvação; missão caracterizada pelo estilo do Servo humilde e manso, pronto à partilha e ao dom total de Si mesmo. Mas o Espírito Santo, presente desde o início da história da salvação, já tinha agido em Jesus no momento da sua concepção no ventre virginal de Maria de Nazaré, realizando o evento maravilhoso da Encarnação: «O Espírito Santo virá sobre ti - diz  o Anjo a Maria - e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra, e tu darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus» (Lc 1,35.31). Depois, o Espírito Santo tinha atuado sobre Simeão e Ana, no dia da Apresentação de Jesus no Templo (cf. Lc 2,22). Ambos à espera do Messias, ambos inspirados pelo Espírito Santo, Simeão e Ana, à vista do Menino, intuem que Ele é mesmo o Esperado por todo o povo. Na atitude profética dos dois anciãos, exprime-se a alegria do encontro com o Redentor e, de certo modo, atua-se uma preparação do encontro entre o Messias e o povo.

As diferentes intervenções do Espírito Santo fazem parte de uma ação harmônica, de um único projeto divino de amor. Com efeito, a missão do Espírito Santo é gerar harmonia - Ele mesmo é harmonia - e realizar a paz nos vários contextos e entre os diferentes sujeitos. A diferença de pessoas e a divergência de pensamento não devem provocar rejeição nem criar obstáculo, porque a variedade é sempre enriquecedora. Por isso hoje, com coração ardente, invoquemos o Espírito Santo, pedindo-Lhe que prepare o caminho da paz e da unidade.

Em segundo lugar, o Espírito Santo unge. Ungiu interiormente Jesus, e unge os discípulos para que tenham os mesmos sentimentos de Jesus e possam, assim, assumir na sua vida atitudes que favoreçam a paz e a comunhão. Com a unção do Espírito, a nossa humanidade é marcada pela santidade de Jesus Cristo e tornamo-nos capazes de amar os irmãos com o mesmo amor com que Deus nos ama. Portanto, é necessário praticar gestos de humildade, fraternidade, perdão e reconciliação. Estes gestos são pressuposto e condição para uma paz verdadeira, sólida e duradoura. Peçamos ao Pai que nos unja para nos tornarmos plenamente seus filhos, configurados cada vez mais a Cristo, a fim de nos sentirmos todos irmãos e, assim, afastarmos de nós rancores e divisões e nos podermos amar fraternalmente. Isto mesmo nos pediu Jesus no Evangelho: «Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos, e Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14,15-16).

E, por último, o Espírito Santo envia. Jesus é o Enviado, cheio do Espírito do Pai. Ungidos pelo mesmo Espírito, também nós somos enviados como mensageiros e testemunhas de paz. Quanta necessidade tem o mundo de nós como mensageiros de paz, como testemunhas de paz! É uma necessidade que o mundo tem. Também o mundo nos pede para lhe fazermos isso: levar a paz, testemunhar a paz!

A paz não se pode comprar, não está à venda. A paz é um dom que se deve buscar pacientemente e construir «artesanalmente» através dos pequenos e grandes gestos que formam a nossa vida diária. Consolida-se o caminho da paz, se reconhecermos que todos temos o mesmo sangue e fazemos parte do género humano; se não nos esquecermos que temos um único Pai no Céu e que todos nós somos seus filhos, feitos à sua imagem e semelhança.

Neste espírito, vos abraço a todos: o Patriarca, os irmãos Bispos, os sacerdotes,  as pessoas consagradas, os fiéis leigos, a multidão de crianças que hoje fazem a Primeira Comunhão e os seus familiares. Com todo o meu coração saúdo também os numerosos refugiados cristãos; e não só eu, mas todos nós saudamos, com todo o nosso coração, os numerosos refugiados cristãos que vieram da Palestina, da Síria e do Iraque: levai às vossas famílias e comunidades a minha saudação e a minha solidariedade.

Queridos amigos, queridos irmãos, o Espírito Santo desceu sobre Jesus no Jordão e deu início à sua obra de redenção para libertar o mundo do pecado e da morte. A Ele pedimos que prepare os nossos corações para o encontro com os irmãos independentemente das diferenças de ideias, língua, cultura, religião; que unja todo o nosso ser com o óleo da sua misericórdia que cura as feridas dos erros, das incompreensões, das controvérsias; pedimos a graça que nos envie, com humildade e mansidão, pelas sendas desafiadoras mas fecundas da busca da paz. Amém!


Fonte: Santa Sé.

A viagem do Papa à Terra Santa

Nos dias 24 a 26 de maio deste ano, Sua Santidade o Papa Francisco realizou sua segunda Viagem Apostólica fora da Itália, tendo como destino a Terra Santa.

Logotipo oficial da viagem
Os objetivos da viagem foram explicados pelo próprio Papa na Audiência Geral do dia 21 de maio:

Já no próximo sábado começarei a viagem à Terra Santa, o solo onde Jesus viveu. Será uma viagem estritamente religiosa. O primeiro motivo, para me encontrar com o meu irmão Bartolomeu I, na celebração do cinquentenário do encontro de Paulo VI com Atenágoras I. Pedro e André encontrar-se-ão mais uma vez, e isto é muito bonito. O segundo motivo é rezar pela paz naquela terra que sofre tanto. Peço-vos que oreis por esta viagem!

Com efeito, o Venerável Paulo VI foi o primeiro Papa a pisar na Terra Santa desde o próprio São Pedro. Sua viagem, do dia 04 ao dia 06 de janeiro de 1964, marcou a história da Igreja devido ao encontro com o Patriarca de Constantinopla, Atenágoras. Foi o primeiro encontro entre o Bispo de Roma e o Patriarca Ortodoxo desde o Grande Cisma do Oriente em 1054.

Paulo VI e Atenágoras (1964)
Depois de Paulo VI, visitaram a Terra Santa os Papas São João Paulo II (20 a 26 de março de 2000) e Bento XVI (08 a 15 de maio de 2009).

São João Paulo II no Muro das Lamentações (2000)
Bento XVI na Basílica do Santo Sepulcro (2009)
Nos próximos dias publicaremos as homilias do Santo Padre e as fotos das celebrações litúrgicas por ele presididas nestes três dias.

Rezemos para que esta viagem alcance os frutos desejados de paz e de unidade, como indica o próprio lema da viagem: “Ut unum sint!” “Para que sejam um” (Jo 17,21).

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Catequese do Papa: O dom da Ciência

Papa Francisco
Audiência Geral
Praça São Pedro
Quarta-feira, 21 de maio de 2014

O dom da Ciência

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, gostaria de elucidar mais um dom do Espírito Santo, a dádiva da ciência. Quando se fala de ciência, o pensamento dirige-se imediatamente para a capacidade que o homem tem de conhecer cada vez melhor a realidade que o circunda e de descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. Contudo, a ciência que deriva do Espírito Santo não se limita ao conhecimento humano: trata-se de um dom especial, que nos leva a entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua profunda relação com cada criatura.
Quando são iluminados pelo Espírito, os nossos olhos abrem-se à contemplação de Deus, na beleza da natureza e na grandiosidade do cosmos, levando-nos a descobrir como tudo nos fala d’Ele e do seu amor. Tudo isto suscita em nós um grandioso enlevo e um profundo sentido de gratidão! É a sensação que sentimos também quando admiramos uma obra de arte, ou qualquer maravilha que seja fruto do engenho e da criatividade do homem: diante de tudo isto, o Espírito leva-nos a louvar o Senhor do profundo do nosso coração e a reconhecer, em tudo aquilo que temos e somos, é um dom inestimável de Deus e um sinal do seu amor infinito por nós.
No primeiro capítulo do Gênesis, precisamente no início da Bíblia inteira, põe-se em evidência que Deus se compraz com a sua criação, sublinhando reiteradamente a beleza e a bondade de tudo. No final de cada dia está escrito: «Deus viu que isso era bom» (1,12.18.21.25): se Deus vê que a criação é boa, é bela, também nós devemos assumir esta atitude e ver que a criação é boa e bela. Eis o dom da ciência, que nos faz ver esta beleza; portanto, louvemos a Deus, dando-lhe graças por nos ter concedido tanta beleza! E quando Deus terminou de criar o homem, não disse «viu que isso era bom», mas disse que era «muito bom» (v. 31). Aos olhos de Deus, nós somos a realidade mais bela, maior, mais boa da criação: até os anjos estão abaixo de nós, nós somos mais do que os anjos, como ouvimos no livro dos Salmos. O Senhor ama-nos! Devemos dar-lhe graças por isto. O dom da ciência põe-nos em profunda sintonia com o Criador, levando-nos a participar na limpidez do seu olhar e do seu juízo. E é nesta perspectiva que nós conseguimos encontrar no homem e na mulher o ápice da criação, como cumprimento de um desígnio de amor que está gravado em cada um de nós e que nos faz reconhecer como irmãos e irmãs.
Tudo isto é motivo de serenidade e de paz, e faz do cristão uma testemunha jubilosa de Deus, no sulco de são Francisco de Assis e de muitos santos que souberam louvar e cantar o seu amor através da contemplação da criação. Mas ao mesmo tempo, o dom da ciência ajuda-nos a não cair nalgumas atitudes excessivas ou erradas. A primeira é constituída pelo risco de nos considerarmos senhores da criação. A criação não é uma propriedade, que podemos manipular a nosso bel-prazer; nem muito menos uma propriedade que pertence só a alguns, a poucos: a criação é um dom, uma dádiva maravilhosa que Deus nos concedeu, para a cuidarmos e utilizarmos em benefício de todos, sempre com grande respeito e gratidão. A segunda atitude errada é representada pela tentação de nos limitarmos às criaturas, como se elas pudessem oferecer a resposta a todas as nossas expectativas. Com o dom da ciência, o Espírito ajuda-nos a não cair neste erro.
Mas gostaria de voltar a meditar sobre o primeiro caminho errado: manipular a criação, em vez de a preservar. Devemos conservar a criação, porque é uma dádiva que o Senhor nos concedeu, um dom que Deus nos ofereceu; nós somos guardas da criação. Quando exploramos a criação, destruímos o sinal do amor de Deus. Destruir a criação significa dizer ao Senhor: «Não me agrada». E isto não é bom: eis o pecado!
A preservação da criação é precisamente a conservação do dom de Deus; e significa dizer a Deus: «Obrigado, eu sou o guardião da criação, mas para a fazer prosperar, e não para destruir a tua dádiva!». Esta deve ser a nossa atitude em relação à criação: preservá-la, pois se aniquilarmos a criação, será ela que nos destruirá! Não esqueçais isto! Certa vez eu estava no campo e ouvi o dito de uma pessoa simples, que gostava muitos de flores e que as preservava. Ela disse-me: «Devemos conservar estas belezas que Deus nos concedeu; a criação é para nós, a fim de beneficiarmos dela; não a devemos explorar, mas conservar, porque Deus perdoa sempre; nós, homens, perdoamos algumas vezes, mas a criação nunca perdoa, e se tu não a preservares, ela destruir-te-á!».
Isto nos leve a pensar e a pedir ao Espírito Santo a dádiva da ciência, para compreender bem que a criação é o dom mais bonito de Deus. Ele fez muitas coisas boas para a melhor coisa, que é a pessoa humana.


Fonte: Santa Sé