quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Memória de Nossa Senhora de Loreto inscrita no Calendário Geral

Na manhã de hoje, 31 de outubro de 2019, a Santa Sé divulgou um Decreto da Congregação para o Culto Divino com o qual a Memória facultativa de Nossa Senhora de Loreto é inscrita no Calendário Romano Geral, a ser celebrada no dia 10 de dezembro.

Segue o texto do Decreto na íntegra:

Decreto sobre a celebração da Bem-aventurada Virgem Maria de Loreto
inscrita no Calendário Romano Geral

A veneração pela Santa Casa de Loreto tem sido, desde a Idade Média, a origem daquele peculiar santuário visitado, ainda hoje, por numerosos fiéis peregrinos para alimentar a própria fé no Verbo de Deus feito carne por nós.
Este santuário recorda o mistério da Encarnação e estimula todos aqueles que o visitam a considerar a plenitude do tempo, quando Deus mandou o seu Filho, nascido de mulher, e a meditar tanto na palavra do Anjo que anuncia o Evangelho, como nas palavras da Virgem que responde ao chamado divino. Sob a sombra do Espírito Santo, a humilde serva do Senhor se transforma em casa da divindade, imagem puríssima da santa Igreja.
O mencionado santuário, estritamente vinculado à Sé Apostólica, louvado pelos Sumos Pontífices e conhecido universalmente, soube ilustrar de modo excelente no curso do tempo, não menos que Nazaré na Terra Santa, as virtudes evangélicas da Sagrada Família.
Na Santa Casa, diante da imagem da Mãe do Redentor e da Igreja, santos e beatos responderam à própria vocação, os enfermos invocaram consolação no sofrimento, o povo de Deus começou a louvar e a suplicar a Santa Maria com as Ladainhas Lauretanas, conhecidas em todo o mundo. De modo particular, aqueles que viajam de avião encontraram nela a padroeira celeste.
À luz de tudo isso, o Sumo Pontífice Francisco decretou com a sua autoridade que a memória facultativa da Bem-Aventurada Virgem Maria de Loreto seja inscrita no Calendário Romano em 10 de dezembro, dia de sua festa em Loreto, e seja celebrada anualmente. Esta celebração ajudará a todos, especialmente as famílias, os jovens, os religiosos, a imitar as virtudes da perfeita discípula do Evangelho, a Virgem Mãe que, concebendo a Cabeça da Igreja, também nos acolheu consigo.
A nova memória deverá, pois, aparecer em todos os calendários e livros litúrgicos para  a celebração da Missa e da Liturgia das Horas; os relativos textos litúrgicos se unem a este decreto e suas traduções, aprovadas pelas Conferências Episcopais, serão publicadas depois da confirmação deste Dicastério.
Não obstante qualquer disposição em contrário.
Na sede da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, a 07 de outubro de 2019, memória da Bem-aventurada Virgem Maria do Rosário.

Cardeal Robert Sarah, Prefeito
Arthur Roche, Arcebispo Secretário

Em anexo ao Decreto estão os textos litúrgicos para esta celebração na sua forma típica, isto é, em latim: oração do dia da Missa, sugestões de leituras (tomadas do Comum de Nossa Senhora) e segunda leitura do Ofício das Leituras (tomada de uma Carta de São João Paulo II).

Enquanto estes textos não são traduzidos oficialmente pela Conferência Nacional dos Bispos, aqueles que desejarem celebrar esta memória podem tomar todas as orações do Comum de Nossa Senhora, ou recitar a coleta em sua forma típica, em latim.

Papa Francisco celebra a Missa no Santuário de Loreto (25.03.2019)

Com informações da Sala de Imprensa da Santa Sé.

XIV Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 30 de outubro de 2019
Atos dos Apóstolos (14)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Lendo os Atos dos Apóstolos se vê como o Espírito Santo é protagonista da missão da Igreja: é Ele que guia o caminho dos evangelizadores, mostrando-lhes a estrada a seguir.
Vemos isso claramente quando o apóstolo Paulo, tendo alcançado Trôade, recebe uma visão. Um macedônio implora: “Venha para a Macedônia e ajude-nos” (At 16,9). O povo da Macedônia do Norte é orgulhoso disso, tão orgulhoso de ter chamado Paulo para que fosse ele a anunciar Jesus Cristo. Lembro-me tanto daquele belo povo que me acolheu de modo caloroso: que conservem esta fé que Paulo lhes pregou! O apóstolo não hesitou e partiu para a Macedônia, certo de que foi o próprio Deus quem o enviou, e chega a Filipos, “colônia romana” (At 16,12) pela via Egnatia, para pregar o Evangelho. Paulo permanece ali por vários dias.
Três acontecimentos caracterizam sua estadia em Filipos, durante esses três dias: três eventos importantes. 1) Evangelização e batismo de Lídia e sua família; 2) a prisão que ele sofre, juntamente com Silas, depois de ter exorcizado uma escrava explorada por seus senhores; 3) a conversão e o Batismo de seu carcereiro e sua família. Vejamos esses três episódios na vida de Paulo.
A potência do Evangelho se dirige, antes de tudo, às mulheres de Filipos, em particular a Lídia, uma mercadora de púrpura, da cidade de Tiatira, crente em Deus a quem o Senhor abre seu coração “para aderir às palavras de Paulo” (At 16,14). Lídia, de fato, acolhe Cristo, recebe o Batismo junto com sua família e acolhe aqueles que são de Cristo, recebendo Paulo e Silas em sua casa. Aqui temos o testemunho do desembarque do cristianismo na Europa: o início de um processo de inculturação que dura até hoje. Este processo entrou pela Macedônia.
Depois do calor experimentado na casa de Lídia, Paulo e Silas se veem lidando com a dureza da prisão: eles passam do consolo dessa conversão de Lídia e sua família para a desolação da prisão, onde são jogados por terem libertado em nome de Jesus, “uma escrava que tinha um espírito de adivinhação” e “proporcionava grande lucro a seus senhores” com a adivinhação (At 16,16).
Seus senhores lucravam tanto e esta pobre escrava fazia isso que fazem os adivinhos: adivinhava-te o futuro, lia tuas mãos - como a música diz: “pegue esta mão, cigana” -, e as pessoas pagavam. Ainda hoje, queridos irmãos e irmãs, há pessoas que pagam por isso. Eu me recordo na minha diocese, em um parque muito grande, havia mais de 60 mesas onde havia adivinhos e adivinhas, que liam sua mão e as pessoas acreditavam nessas coisas! E pagavam. E isso também acontecia na época de São Paulo. Seus patrões, em retaliação, denunciam Paulo e levam os apóstolos a magistrados por acusações de desordem pública.
Mas o que acontece? Paulo está no cárcere e durante sua prisão, no entanto, ocorre um evento surpreendente. Está em desolação, mas em vez de lamentar, Paulo e Silas cantam um louvor a Deus e esse louvor libera um poder que os liberta: durante a oração, um terremoto sacode os alicerces da prisão, as portas se abrem e as correntes de todos caem (At 16,25-26). Como a oração de Pentecostes, mesmo a que é feita na prisão causa efeitos prodigiosos.
O carcereiro, acreditando que os prisioneiros haviam fugido, estava prestes a cometer suicídio, porque os carcereiros pagavam com sua própria vida se fugisse um prisioneiro; mas Paulo grita para ele: “Estamos todos aqui!” (At 16,27-28). Então ele pergunta: “O que devo fazer para ser salvo?” (v. 30). A resposta é: “Crê no Senhor Jesus e você e sua família serão salvos” (v. 31). Nesse ponto, a mudança ocorre: no coração da noite, o carcereiro ouve a palavra do Senhor com sua família, acolhe os apóstolos, lava suas feridas - porque foram espancadas - e junto com os seus recebe o Batismo; então, “cheio de alegria com toda a sua família por ter crido em Deus” (v. 34), ele prepara a mesa e convida Paulo e Silas para ficar com eles: o momento de consolo! No coração da noite desse carcereiro anônimo, a luz de Cristo brilha e derrota as trevas: as correntes do coração caem sobre ele e sua família uma alegria nunca sentida. Assim, o Espírito Santo está cumprindo a missão: desde o início, a partir de Pentecostes, Ele é o protagonista da missão. E nos leva adiante, precisamos ser fiéis à vocação que o Espírito nos move a fazer. Para levar o Evangelho.
Peçamos também nós hoje ao Espírito Santo um coração aberto, sensível a Deus e hospitaleiro para com os irmãos, como o de Lídia, e uma fé ousada, como a de Paulo e Silas, e também uma abertura de coração, como a do carcereiro que se deixa tocar pelo Espírito Santo.


Fonte: Canção Nova

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Considerações sobre o Domingo da Palavra de Deus

Há um mês, no dia 30 de setembro de 2019, memória litúrgica de São Jerônimo, o Papa Francisco promulgou o Motu proprio Aperuit illis, com o qual instituiu o Domingo da Palavra de Deus, a ser celebrado no III Domingo do Tempo Comum.

Com esta postagem gostaríamos de tecer algumas considerações sobre este Domingo, tanto sobre a escolha da data quanto sobre as iniciativas litúrgicas propostas pelo Santo Padre.

1. A escolha da data

a) Motivação litúrgica:
Embora o Papa mencione no documento apenas a justificativa ad extra (ecumênica) para a escolha da data, como veremos abaixo, é preciso considerar primeiramente a motivação ad intra, isto é, litúrgica.

O Tempo Comum é o tempo por excelência da Palavra de Deus, uma vez que nos proporciona uma leitura semicontínua dos Evangelhos Sinóticos, distribuída em três anos (Ano A: Mateus / Ano B: Marcos / Ano C: Lucas). Nos demais tempos litúrgicos (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa) a escolha dos textos segue o critério da harmonia com a espiritualidade do tempo.

O I Domingo do Tempo Comum é substituído pela Festa do Batismo do Senhor, que encerra o Tempo do Natal, enquanto o II Domingo traz alguns trechos do início do Evangelho de João (Ano A: Jo 1,29-34 / Ano B: Jo 1,35-42 / Ano C: Jo 2,1-11).

Portanto, a leitura semicontínua dos Evangelhos Sinóticos começa justamente no III Domingo do Tempo Comum, o que corrobora sua escolha como Domingo da Palavra de Deus.

O Evangelho deste domingo traz-nos o início do ministério de Jesus, sob a perspectiva de cada um dos Sinóticos. Nos anos A e B, Mateus e Marcos narram o chamado dos quatro primeiros discípulos (Pedro, André, Tiago e João), além da síntese da pregação de Jesus: “O Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mt 4,12-23; Mc 1,14-20).

Merece destaque aqui, porém, o ano C: além do prólogo do Evangelho, a perícope deste domingo narra o início do ministério de Jesus na perspectiva de Lucas, isto é, sua visita à sinagoga de Nazaré, onde faz a leitura do profeta Isaías (Is 61,1-2) e proclama: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 1,1-4; 4,14-21).

Cristo faz a leitura na sinagoga de Nazaré

A Eucaristia, vida da Igreja: Encontro de Pastoral Litúrgica 2005

Sempre no final do mês estamos recordando em nosso blog, de maneira retrospectiva, os Encontros de Pastoral Litúrgica (ENPL) promovidos anualmente pelo Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal.

Neste mês recordamos o 31º ENPL, realizado em julho de 2005 com o tema: "A Eucaristia: vida da Igreja".

A escolha deste tema estava em sintonia com o "Ano da Eucaristia" convocado pelo Papa João Paulo II de outubro de 2004 a outubro de 2005. Este ano culminou no Sínodo sobre a Eucaristia, presidido por seu sucessor, Bento XVI, e que teve como fruto a Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis.

São referidas também nas conferências a Encíclica Ecclesia de Eucharistia e a Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine, ambas do Papa João Paulo II.

Seguem os áudios de quatro conferências, disponibilizados pelo Secretariado Nacional de Liturgia:

D. António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Viseu

Nesta primeira palestra o Bispo reflete sobre a Eucaristia a partir de três dimensões: memorial da Páscoa, banquete de comunhão e penhor da glória futura, centrando-se na primeira. Esta é o fundamento da presença real, uma vez que Cristo está presente no dom total de Si mesmo. A Eucaristia não é “algo”, é “alguém”: é uma Pessoa viva. A Celebração Eucarística é, pois, o encontro com Cristo vivo!

Dr. José Carlos da Silva Carvalho, Universidade Católica Portuguesa - Porto

Partindo das afirmações do Concílio Vaticano II sobre as duas mesas, da Palavra e da Eucaristia, o palestrante busca os fundamentos desta dupla mesa na Sagrada Escritura e seu desenvolvimento na Tradição da Igreja, sobretudo nos Padres. Segundo o palestrante, a unidade das duas mesas da celebração é uma “crítica” a reducionismos da fé: gnosticismo (só a palavra) e pelagianismo (só a ação).

D. Manuel Madureira Dias, Bispo emérito do Algarve

A relação entre Eucaristia e comunhão é aqui abordada partindo dos seus fundamentos nas Páscoas judaica e cristã, passando por alguns pontos da eclesiologia do Concílio Vaticano II e destacando a pessoa do Bispo: sua menção na Oração Eucarística, vínculo de comunhão na Igreja particular, e a Eucaristia por ele presidida com o presbitério e o Povo de Deus, especialmente na Missa Crismal.

4ª Conferência: A Igreja da Eucaristia
Pe. Dr. Dário Pedroso, SJ

Por fim, nesta conferência se reflete sobre a interdependência entre os mistérios da Eucaristia e da Igreja: “Sem Igreja celebrante não há Eucaristia; sem Eucaristia celebrada não há Igreja”. O palestrante aborda três “polos” eucarísticos: celebração, comunhão e adoração, concluindo com algumas afirmações acerca da Eucaristia em sua relação com a Igreja: fonte de vida, escola de misericórdia, etc.


terça-feira, 29 de outubro de 2019

Ângelus: XXX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 27 de  outubro de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A Missa celebrada esta manhã em São Pedro encerrou a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica. A 1ª Leitura, do Livro do Eclesiástico, recordou-nos o ponto de partida deste caminho: a invocação do pobre, que «penetrará as nuvens», porque «o Senhor ouvirá a oração do oprimido» (Eclo 35,21.16). O grito do pobre, juntamente com o grito da terra, veio até nós da Amazônia. Depois destas três semanas, não podemos fingir que não o ouvimos. As vozes dos pobres, juntamente com as de muitos outros dentro e fora da Assembleia sinodal - pastores, jovens, cientistas - impelem-nos a não ficar indiferentes. Ouvimos muitas vezes a frase «mais tarde é tarde demais»: esta frase não pode continuar a ser um slogan.

O que foi o Sínodo? Foi, como diz a palavra, um caminhar juntos, confortados pela coragem e pelas consolações que vêm do Senhor. Caminhamos fitando-nos nos olhos e ouvindo-nos com sinceridade, sem esconder dificuldades, experimentando a beleza de ir adiante juntos, para servir. O Apóstolo Paulo estimula-nos  a isto na segunda leitura de hoje: num momento dramático para ele, quando sabe que «está pronto para o sacrifício - isto é, justiçado - e que o tempo da sua partida já se aproxima» (cf. 2Tm 4,6), escreve, naquele momento: «O Senhor assistiu-me e deu-me forças, a fim de que a Palavra fosse anunciada por mim e os gentios a ouvissem» (v. 17). Este é o último desejo de Paulo: não algo para si mesmo ou para um dos seus, mas para o Evangelho, para que seja anunciado a todas as nações. Isto vem antes de tudo e conta acima de tudo. Cada um de nós deve ter-se perguntado muitas vezes o que fazer de bom pela própria vida; hoje é o momento; perguntemo-nos: «Que posso eu fazer de bom pelo Evangelho?».

No Sínodo fizemos esta pergunta, desejando abrir novos caminhos ao anúncio do Evangelho. Só se anuncia aquilo que se vive. E para viver de Jesus, para viver do Evangelho, é preciso sair de si mesmo. Sentimo-nos estimulados fazer-nos ao largo, a deixar as margens confortáveis dos nossos portos seguros para entrar em águas profundas: não nas águas pantanosas das ideologias, mas no mar aberto onde o Espírito nos convida a lançar as nossas redes.

Para o caminho futuro, invoquemos a Virgem Maria, venerada e amada como Rainha da Amazônia. Tornou-se tal não conquistando, mas “inculturando-se”: com a humilde coragem da mãe, tornou-se protetora dos seus filhos, defensora dos oprimidos. Indo sempre ao encontro da cultura dos povos. Não há uma cultura padrão, não há uma cultura pura, que purifique as outras; há o Evangelho, puro, que é inculturado. A ela, que na casa pobre de Nazaré cuidava de Jesus, confiemos os filhos mais pobres e a nossa casa comum.


Fonte: Santa Sé.

Fotos da Missa de conclusão do Sínodo da Amazônia

No último dia 27 de outubro o Papa Francisco celebrou a Missa do XXX Domingo do Tempo Comum na Basílica de São Pedro para a conclusão da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Massimiliano Matteo Boiardi. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada



Incensação

Homilia do Papa: Missa na Conclusão do Sínodo da Amazônia

Santa Missa na Conclusão do Sínodo dos Bispos para a Amazônia
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
XXX Domingo do Tempo Comum, 27 de outubro de 2019

Hoje, a Palavra de Deus ajuda-nos a rezar por meio de três personagens: na parábola de Jesus, rezam o fariseu e o publicano; na primeira leitura, fala-se da oração do pobre.

1. A oração do fariseu principia assim: «Ó Deus, dou-Te graças». É um ótimo começo, porque a melhor oração é a de gratidão, é a de louvor. Mas olhemos o motivo - referido logo a seguir -, pelo qual dá graças: «por não ser como o resto dos homens» (Lc 18,11). E dá também a explicação do motivo: jejua duas vezes por semana, enquanto na época era obrigado a fazê-lo uma vez por ano; paga o dízimo de tudo o que possui, enquanto o mesmo era prescrito apenas para os produtos mais importantes (cf. Dt 14,22-23). Em suma, vangloria-se porque cumpre do melhor modo possível preceitos particulares. Mas esquece o maior: amar a Deus e ao próximo (cf. Mt 22,36-40). Transbordando de confiança própria, da sua capacidade de observar os mandamentos, dos seus méritos e virtudes, o fariseu aparece centrado apenas em si mesmo. O drama deste homem é que vive sem amor. Mas, sem amor, até as melhores coisas de nada aproveitam, como diz São Paulo (cf. 1Cor 13). E sem amor, qual é o resultado? No fim de contas, em vez de rezar, elogia-se a si mesmo. De fato, não pede nada ao Senhor, porque não se sente necessitado nem em dívida, mas sente-se em crédito. Está no templo de Deus, mas pratica outra religião, a religião do eu. E muitos grupos «ilustres», de «cristãos católicos», seguem por esta estrada.

E além de Deus, esquece o próximo; antes, despreza-o, isto é, não lhe atribui preço, não tem valor. Considera-se melhor do que os outros, que designa, literalmente, por «o resto, os restantes (loipoi)» (Lc 18,11). Por outras palavras, são «restos», são descartados dos quais manter-se à larga. Quantas vezes vemos acontecer esta dinâmica na vida e na história! Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, apaga as suas gestas, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens. Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, mesmo hoje! Vimo-lo no Sínodo, quando falávamos da exploração da criação, da população, dos habitantes da Amazônia, da exploração das pessoas, do tráfico das pessoas! Os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e à nossa irmã terra: vimo-lo no rosto dilacerado da Amazónia. A «religião do eu» continua, hipócrita com os seus ritos e as suas «orações»: muitos dos seus praticantes são católicos, confessam-se católicos, mas esqueceram-se de ser cristãos e humanos, esqueceram-se do verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo. Até mesmo cristãos que rezam e vão à Missa ao domingo são seguidores desta «religião do eu». Podemos olhar para dentro de nós e ver se alguém, para nós, é inferior, descartável… mesmo só em palavras. Rezemos pedindo a graça de não nos considerarmos superiores, não nos julgarmos íntegros, nem nos tornarmos cínicos e vilipendiadores. Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus. E providencialmente, nesta Missa de hoje, acompanham-nos não só os indígenas da Amazônia, mas também os mais pobres das sociedades desenvolvidas, os irmãos e irmãs doentes da Comunidade da Arca. Estão conosco, na primeira fila.

2. Passemos à outra oração. A oração do publicano ajuda-nos a compreender o que é agradável a Deus. Aquele começa, não pelos méritos, mas pelas suas faltas; não pela riqueza, mas pela sua pobreza: não uma pobreza econômica - os publicanos eram ricos e cobravam também injustamente, à custa dos seus compatriotas -, mas sente uma pobreza de vida, porque no pecado nunca se vive bem. Aquele homem que explora os outros se reconhece pobre diante de Deus, e o Senhor ouve a sua oração, feita apenas de sete palavras mas de atitudes verdadeiras. De fato, enquanto o fariseu estava à frente, de pé (cf. Lc 18,11), o publicano mantém-se à distância e «nem sequer ousava levantar os olhos ao céu», porque crê que o Céu está ali e é grande, enquanto ele se sente pequeno. E «batia no peito» (v. 13), porque no peito está o coração. A sua oração nasce mesmo do coração, é transparente: coloca diante de Deus o coração, não as aparências. Rezar é deixar-se olhar dentro por Deus - é Deus quem me olha, quando rezo -, sem simulações, sem desculpas, nem justificações. Frequentemente fazem-nos rir os arrependimentos cheios de justificações. Mais do que um arrependimento parece uma auto-canonização. Porque, do diabo, vêm escuridão e falsidade - e tais são as justificações -; de Deus, luz e verdade, a transparência do meu coração. Foi bom - e muito vos agradeço, queridos padres e irmãos sinodais - termos dialogado, nestas semanas, com o coração, com sinceridade e franqueza, colocando fadigas e esperanças diante de Deus e dos irmãos.

Hoje, contemplando o publicano, descobrimos o ponto donde recomeçar: do fato de nos considerarmos, todos, necessitados de salvação. É o primeiro passo da religião de Deus, que é misericórdia com quem se reconhece miserável. Ao passo que a raiz de todo o erro espiritual, como ensinavam os monges antigos, é crer-se justo. Considerar-se justo é deixar Deus, o único justo, fora de casa. Esta atitude inicial é tão importante que Jesus no-la mostra com uma confrontação paradoxal, colocando lado a lado na parábola a pessoa mais piedosa e devota de então, o fariseu, e o pecador público por excelência, o publicano. E a sentença final inverte as coisas: quem é bom, mas presunçoso, falha; quem é deplorável, mas humilde, acaba exaltado por Deus. Se olharmos para dentro de nós com sinceridade, vemo-los ambos em nós: o publicano e o fariseu. Somos um pouco publicanos, porque pecadores, e um pouco fariseus, porque presunçosos, capazes de nos sentirmos justos, campeões na arte de nos justificarmos! Isto, com os outros, muitas vezes dá certo; mas, com Deus, não. Com Deus, o engano não resulta. Rezemos pedindo a graça de nos sentirmos carecidos de misericórdia, pobres intimamente. Por isso mesmo faz-nos bem frequentar os pobres, para nos lembrarmos que somos pobres, para nos recordarmos de que a salvação de Deus só age num clima de pobreza interior.

3. Assim chegamos à oração do pobre, da 1ª Leitura. Esta - diz Ben Sirá - «chegará às nuvens» (Eclo 35,17). Enquanto a oração de quem se considera justo fica em terra, esmagada pela força de gravidade do egoísmo, a do pobre sobe, direita, até Deus. O sentido da fé do Povo de Deus viu nos pobres «os porteiros do Céu»: aquele sensus fidei que faltava na declamação [do fariseu]. São eles que nos abrirão, ou não, as portas da vida eterna; eles que não se consideraram senhores nesta vida, que não se antepuseram aos outros, que tiveram só em Deus a sua própria riqueza. São ícones vivos da profecia cristã.

Neste Sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade das suas vidas, ameaçadas por modelos de progresso predatórios. E, no entanto, precisamente nesta situação, muitos nos testemunharam que é possível olhar a realidade de modo diferente, acolhendo-a de mãos abertas como uma dádiva, habitando na criação, não como meio a ser explorado, mas como casa a ser guardada, confiando em Deus. Ele é Pai e - diz ainda Ben Sirá - «ouvirá a oração do oprimido» (Eclo 35,13). E quantas vezes, mesmo na Igreja, as vozes dos pobres não são escutadas, acabando talvez vilipendiadas ou silenciadas porque incômodas. Rezemos pedindo a graça de saber escutar o clamor dos pobres: é o clamor de esperança da Igreja. O clamor dos pobres é o clamor de esperança da Igreja. Assumindo nós o seu clamor, também a nossa oração - temos a certeza - atravessará as nuvens.


Fonte: Santa Sé.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Solenidade de São João Paulo II em Cracóvia

No último dia 22 de outubro o Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou a Santa Missa no Santuário de São João Paulo II por ocasião da Memória deste santo (celebrada com grau de Solenidade em seu Santuário).

Procissão de entrada

 
Incensação

sábado, 26 de outubro de 2019

Homilia: XXX Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Cipriano
Tratado sobre o Pai nosso
A oração deve brotar de um coração humilde

As palavras daquele que ora devem ser comedidas, cheias de tranquilidade e respeito. Pensemos que estamos na presença de Deus. Devemos agradar a Deus com a atitude corporal e com a moderação de nossa voz. Porque, assim como é próprio do irreverente falar aos gritos, assim, pelo contrário, é próprio do homem respeitoso orar com um tom de voz moderado.
O Senhor, quando nos ensina a respeito da oração, nos manda fazê-la em segredo, em lugares escondidos e afastados, em nosso próprio quarto, o que concorda com a nossa fé quando nos ensina que Deus está presente em todas as partes, que ouve e enxerga a todos nós, e que, com a plenitude de sua majestade, penetra até mesmo nos lugares mais ocultos, tal como está escrito: Sou Deus somente quando estou perto, e não o sou também quando de longe? Poderá um homem se ocultar de tal modo que Eu não o veja? Porventura não enche minha presença o céu e a terra? E também: Em todo lugar os olhos de Deus estão vigiando os maus e os bons.
E quando nos reunimos com os irmãos para celebrar os sagrados mistérios, presididos pelo sacerdote de Deus, não devemos esquecer este respeito e moderação nem apresentar continuamente nossas petições sem tom nem som, desatando-nos em uma torrente de palavras, sem encomendá-las humildemente a Deus, já que Ele não escuta as palavras, mas o coração, nem devemos convencer aos gritos Aquele que penetra os nossos pensamentos, como o demonstram aquelas suas palavras: Por que pensais mal? E em outro lugar: Assim saberão todas as igrejas que Eu sou aquele que perscruta os corações e as mentes.
Assim orava Ana, como lemos no Primeiro Livro de Samuel, visto que ela não rogava a Deus aos gritos, mas de um modo silencioso e respeitoso, no segredo de seu coração. Sua oração era oculta, mas manifestava a sua fé; não falava com a boca, mas com o coração, porque sabia que assim o Senhor a escutava, e, deste modo, alcançou o que pedia, porque o pedia com fé. Isto nos recorda a Escritura, quando diz: Falava para si e não se ouvia a sua voz, mesmo que movesse os lábios, e o Senhor a escutou. Também lemos nos Salmos: Meditai no silêncio de vosso leito. O mesmo nos sugere e ensina o Espírito Santo pela boca de Jeremias, com aquelas palavras: Devemos adorar-te em espírito, Senhor.
Aquele que ora, irmãos muito amados, não deve ignorar como o fariseu e o publicano oraram no templo. Este último, sem atrever-se a levantar os seus olhos ao céu, sem ousar levantar as suas mãos, tanta era a sua humildade, golpeava-se no peito e confessava os pecados ocultos em seu interior, implorando o auxílio da divina misericórdia; enquanto que o fariseu orava satisfeito consigo mesmo, e foi justificado o publicano, porque, ao orar, não colocou a esperança da salvação na convicção de sua própria inocência, já que ninguém é inocente, mas orou confessando humildemente os seus pecados, e Aquele que perdoa aos humildes escutou a sua oração.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 744-745. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo clicando aqui.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Leitura litúrgica da Segunda e da Terceira Cartas de João

“Conosco estarão a graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, na verdade e no amor” (2Jo 3)

Durante o mês de setembro dedicamos três postagens em nosso blog para analisar a leitura litúrgica da Primeira Carta de João (1Jo), tema do “Mês da Bíblia” no Brasil neste ano de 2019.

No final da terceira parte propusemo-nos analisar, como complemento, a Segunda Carta de João (2Jo) e a Terceira Carta de João (3Jo). Como ambos são escritos muito breves, com apenas um capítulo, possuem, como veremos, poucas ocorrências nas celebrações litúrgicas do Rito Romano.

1. Breve introdução à Segunda e à Terceira Cartas de João

Assim como a 1Jo, a Segunda e a Terceira Cartas integram o duplo bloco das Cartas Católicas e dos Escritos Joaninos. Contudo, diferem-se da Primeira não apenas por sua brevidade (a 2Jo possui 13 versículos, enquanto a 3Jo possui 15), mas também por seu gênero literário.

Enquanto na Primeira Carta faltam os atributos tradicionais do gênero epistolar, como remetente, destinatário, saudação inicial ou recomendações finais, na 2Jo e na 3Jo estes atributos estão presentes, podendo ser classificadas seguramente como cartas.

Ambas têm como remetente um personagem que se define como “o Ancião” ou “o Presbítero” (ὁ πρεσβύτερος). Mais do que um ministério, o título designa aqui a autoridade que este personagem possuía na comunidade.

A 2Jo é dirigida a uma comunidade, designada como “a senhora eleita” (2Jo 1), enquanto a 3Jo é destinada a um indivíduo, o “caríssimo Gaio” (3Jo 1), talvez membro da comunidade à qual foi escrita a carta anterior ou de uma comunidade próxima.

Ambas, sobretudo a 2Jo, retomam temas já propostos na Primeira Carta, devendo, portanto, ser datadas depois desta, no início do século II (entre os anos 100 e 110). O local de redação é provavelmente a Ásia Menor, uma vez que nesta região era forte a influência da escola joanina.

A 2Jo retoma o tema do amor (vv. 4-6), presente tanto no Quarto Evangelho quanto na Primeira Carta, exortando os membros da comunidade a viver segundo este mandamento. Além disso, o autor retoma o tema dos “opositores” ou “anticristos” da 1Jo,  exortando a comunidade a não acolhê-los (vv. 7-11).

A 3Jo, por sua vez, começa com um elogio do autor a Gaio por este “viver na verdade” (vv. 3-8). O tema da verdade também está presente tanto no Evangelho de João quanto na Primeira Carta. A segunda parte da Carta, em contrapartida, é uma reprimenda a Diótrefes, que não acolhia os ensinamentos do Ancião (vv. 9-11). Por fim, a Carta conclui com um pedido a acolher Demétrio, provavelmente um missionário ou pregador itinerante (v. 12).

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem [1].

O Apóstolo João escrevendo

2. Leitura litúrgica de 2Jo e 3Jo: Leitura semicontínua

Devido à sua brevidade, cada uma das Cartas possui apenas duas ocorrências nas celebrações litúrgicas do Rito Romano, uma na Missa e outra na Liturgia das Horas, todas a partir do critério da leitura semicontínua [2].

XIII Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Atos dos Apóstolos (13)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O livro dos Atos dos Apóstolos narra que São Paulo, depois daquele encontro transformador com Jesus, é acolhido pela Igreja de Jerusalém graças à mediação de Barnabé e começa anunciar a Cristo. No entanto, devido à hostilidade de alguns, ele é forçado a se mudar para Tarso, sua cidade natal, onde Barnabé o alcança e o envolve na longa jornada da Palavra de Deus. O livro dos Atos dos Apóstolos, que estamos comentando nestas catequeses, pode-se dizer que é o livro da longa jornada da Palavra de Deus: a Palavra de Deus deve ser anunciada e anunciada em todos os lugares. Essa jornada começa após uma forte perseguição (cf. At 11,19); mas isso, em vez de provocar uma interrupção para a evangelização, torna-se uma oportunidade de ampliar o campo onde se deve espalhar a boa semente da Palavra. Os cristãos não têm medo. Eles devem fugir, mas fogem com a Palavra, e espalham a Palavra um pouco por toda parte.
Paulo e Barnabé chegam pela primeira vez a Antioquia da Síria, onde ficam um ano inteiro para ensinar e ajudar a comunidade a criar raízes (cf. At 11,26). Eles anunciavam à comunidade judaica, aos judeus. Assim, Antioquia se torna o centro da propulsão missionária, graças à pregação com a qual os dois evangelizadores - Paulo e Barnabé -afetam o coração dos crentes, que aqui em Antioquia são chamados “cristãos” pela primeira vez (cf. At 11,26).
Emerge do livro de Atos a natureza da Igreja, que não é uma fortaleza, mas uma tenda capaz de ampliar seu espaço (cf. Is 54,2) e dar acesso a todos. A Igreja é “em saída” ou não é Igreja, ou está sempre a caminho, ampliando seu espaço para que todos possam entrar, ou não é Igreja. “Uma igreja com portas abertas” (Exort. Ap. Evangelii gaudium, n. 46), sempre com as portas abertas. Quando vejo alguma igreja aqui, nesta cidade, ou quando a via na outra diocese de onde eu venho, com as portas fechadas, isso é um sinal ruim. As igrejas devem sempre ter as portas abertas, porque este é o símbolo do que é uma igreja: sempre aberta. A Igreja é “chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. […] Assim, se alguém quer seguir uma moção do Espírito e se aproxima buscando a Deus, não encontrará a frieza de uma porta fechada” (ibid., n. 04).
Mas essa novidade das portas abertas: se abre para quem? Para os pagãos, porque os Apóstolos pregaram aos judeus, mas os pagãos também vieram bater à porta da Igreja; e essa novidade das portas abertas aos pagãos desencadeia uma controvérsia muito animada. Alguns judeus afirmam a necessidade de se tornarem judeus através da circuncisão para se salvarem e depois receberem o Batismo. Eles dizem: “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos” (At 15,1), isto é, você não pode receber o Batismo agora. Primeiro o rito judeu e depois o Batismo: essa era a posição deles. E para resolver a questão, Paulo e Barnabé consultam o conselho dos Apóstolos e anciãos em Jerusalém, e acontece aquele que é considerado o primeiro Concílio na história da Igreja, o concílio ou assembleia de Jerusalém, a que Paulo se refere na Carta aos Gálatas (2,1-10).
É então afrontada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: isto é, a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Decisivos durante a assembleia são os discursos de Pedro e Tiago, “colunas” da Igreja-mãe (cf. At 15,7-21; Gl 2,9). Eles convidam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas pedir que rejeitem a idolatria e todas as suas expressões. Da discussão vem o caminho comum, e esta decisão é ratificada com a chamada carta apostólica enviada a Antioquia.
A assembleia de Jerusalém nos oferece uma luz importante sobre como lidar com as diferenças e buscar a “verdade na caridade” (Ef 4,15). Lembra-nos que o método eclesial para a resolução de conflitos se baseia em um diálogo feito de escuta atenta e paciente e no discernimento realizado à luz do Espírito. É o Espírito, de fato, que ajuda a superar fechamentos e tensões e trabalha nos corações, para que alcancem, na verdade e no bem, a unidade. Este texto nos ajuda a entender a sinodalidade. É interessante como escrevem na carta: os Apóstolos começam dizendo: “O Espírito Santo e nós pensamos isso...”. É própria da sinodalidade a presença do Espírito Santo, caso contrário não é sinodalidade, é locutório, parlamento, outra coisa...
Peçamos ao Senhor para fortalecer em todos os cristãos, especialmente nos Bispos e nos presbíteros, o desejo e a responsabilidade da comunhão. Ajude-nos a viver o diálogo, a escuta e o encontro com os irmãos na fé e com os que estão longe, para provar e manifestar a fecundidade da Igreja, chamada a ser sempre a “mãe alegre” de muitos filhos (Sl 113,9).


quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Aniversário da Dedicação do Duomo de Milão

No último dia 20 de outubro o Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, celebrou a Santa Missa na Solenidade do Aniversário da Dedicação do Duomo de Milão (Catedral de Santa Maria Nascente), celebrada sempre no terceiro domingo de outubro.

Procissão de entrada
Homilia
Abraço da paz
Apresentação das oferendas
Agradecimento do Arcebispo a toda a comunidade do Duomo

Confira também o vídeo da celebração:


Ação de graças pela canonização do Cardeal Newman: Birmingham

Já divulgamos aqui em nosso blog, depois da canonização do Cardeal John Henry Newman, no último dia 13 de outubro, as celebrações que aconteceram em ação de graças tanto em Roma quanto em Londres, cidade natal do novo santo.

Resta-nos agora destacar a Santa Missa que aconteceu no último dia 20 de outubro na Arquidiocese de Birmingham, na qual atuou e morreu o novo santo. A Missa foi presidida pelo Arcebispo, Dom Bernard Longley, na igreja da Imaculada Conceição, sede da Congregação do Oratório de São Felipe Néri em Birmingham, introduzida pelo Cardeal Newman na Inglaterra em 1849.

Imagem e relíquia do Cardeal Newman
Base do relicário com brasão e lema do Cardeal Newman
Procissão de entrada

Incensação do altar

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Ângelus: XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 20 de outubro de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A 2ª Leitura da Liturgia de hoje propõe-nos a exortação que o apóstolo Paulo dirige ao seu fiel colaborador Timóteo: “Proclama a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência” (2Tm 4,2). O tom é sincero: Timóteo deve sentir-se responsável pela proclamação da Palavra.

Dia Mundial das Missõesque se celebra hoje, é uma ocasião propícia para que cada batizado tome consciência mais viva da necessidade de colaborar no anúncio da Palavra, na proclamação do Reino de Deus com renovado compromisso. Há cem anos, o Papa Bento XV promulgou a Carta Apostólica Maximum illud para dar novo impulso à responsabilidade missionária de toda a Igreja. Ele sentiu a necessidade de requalificar evangelicamente a missão no mundo, para que fosse purificada de qualquer incrustação colonial e livre dos condicionamentos das políticas expansionistas das Nações europeias.

No diferente contexto hodierno, a mensagem de Bento XV ainda é atual e estimula-nos a superar a tentação de qualquer fechamento autorreferencial e todas as formas de pessimismo pastoral, para nos abrirmos à alegre novidade do Evangelho. Neste nosso tempo, marcado por uma globalização que deveria ser solidária e respeitosa da especificidade dos povos e que, pelo contrário, ainda sofre devido à homologação e aos antigos conflitos de poder que alimentam as guerras e arruínam o planeta, os crentes são chamados a levar a toda a parte, com novo impulso, a boa notícia de que em Jesus a misericórdia vence o pecado, a esperança derrota o medo, a fraternidade supera a hostilidade. Cristo é a nossa paz e nele toda a divisão é vencida, só n'Ele está a salvação de todos os homens e de todos os povos.

Para viver plenamente a missão, há uma condição indispensável: a oração, uma prece fervorosa e incessante, segundo o ensinamento de Jesus anunciado também no Evangelho de hoje, no qual Ele conta uma parábola “sobre a necessidade de rezar sempre, sem desfalecer” (Lc 18,1). A oração é a primeira ajuda do povo de Deus para os missionários, rica de afeto e gratidão pela sua difícil tarefa de anunciar e transmitir a luz e a graça do Evangelho àqueles que ainda não o receberam. É também uma boa ocasião para nos interrogarmos hoje: rezo pelos missionários? Oro por aqueles que partem para terras distantes, a fim de levar a Palavra de Deus com o testemunho? Pensemos nisto!

Maria, Mãe de todos os povos, acompanhe e proteja todos os dias  os missionários do Evangelho.


Fonte: Santa Sé.

Fotos da Missa pelo Dia Mundial das Missões no Vaticano

No último dia 20 de outubro o Papa Francisco celebrou a Santa Missa na Basílica Vaticana por ocasião do Dia Mundial das Missões, no contexto do Mês Missionário Extraordinário por ele convocado.

Foi rezada a Missa pela Evangelização dos Povos, com suas orações e leituras, mantendo-se porém os paramentos da cor do tempo.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Marco Agostini. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Incensação
Ritos iniciais

Liturgia da Palavra
Bênção ao Diácono para o Evangelho

Homilia do Papa: Missa pelo Dia Mundial das Missões

Santa Missa no Dia Mundial das Missões
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
20 de outubro de 2019

Quero tomar três palavras das leituras escutadas: um substantivo, um verbo e um pronome. O substantivo é o monte: dele profetiza Isaías, quando nos fala de um monte do Senhor, dominando sobre as colinas, para onde acorrerão todas as nações (cf. Is 2,2). E o monte reaparece no Evangelho: depois da sua ressurreição, Jesus indica aos discípulos como local de encontro um monte da Galileia, precisamente aquela Galileia habitada por muitas populações diferentes, a «Galileia dos gentios» (cf. Mt 4,15). Em suma, o monte parece ser o lugar onde Deus gosta de marcar encontro com toda a humanidade. É o lugar do encontro conosco, como mostra a Bíblia a começar do Sinai, passando pelo Carmelo até Jesus, que proclamou as Bem-aventuranças no monte, transfigurou-Se no monte Tabor, deu a vida no Calvário e subiu ao Céu no monte das Oliveiras. O monte, lugar dos grandes encontros entre Deus e o homem, é também o sítio onde Jesus passa horas e horas em oração (cf. Mc 6,46), para unir terra e Céu, unir-nos, nós seus irmãos, ao Pai.
A nós, que nos diz o monte? Que somos chamados a aproximar-nos de Deus e dos outros: aproximar-nos de Deus, o Altíssimo, no silêncio, na oração, afastando-nos das maledicências e boatos que poluem; e aproximar-nos também dos outros, que, vistos do monte, aparecem-nos noutra perspectiva, a de Deus que chama todos os povos: vistos de cima, os outros aparecem-nos no seu todo e descobre-se que a harmonia da beleza só é dada pelo conjunto. O monte lembra-nos que os irmãos e as irmãs não devem ser selecionados, mas abraçados com o olhar e sobretudo com a vida. O monte liga Deus e os irmãos num único abraço, o da oração. O monte leva-nos para o alto, longe de tantas coisas materiais que passam; convida-nos a redescobrir o essencial, o que permanece: Deus e os irmãos. A missão começa no monte: lá se descobre aquilo que conta. No coração deste mês missionário, interroguemo-nos: Para mim, o que é que conta na vida? Quais são as altitudes para onde tendo?
E o substantivo monte aparece acompanhado por um verbo: subir. Isaías exorta-nos: «Vinde, subamos à montanha do Senhor» (2,3). Nascemos, não para ficar em terra contentando-nos com coisas triviais, mas para chegar às alturas encontrando Deus e os irmãos. Para isso, porém, é preciso subir: é preciso deixar uma vida horizontal, lutar contra a força de gravidade do egoísmo, realizar um êxodo do próprio eu. Por isso, subir requer esforço, mas é a única maneira para ver tudo melhor, como o panorama mais bonito ao escalar a montanha só se vê no cimo e, então, compreendemos que o único modo possível para o abarcar era seguir aquela vereda sempre em subida.
E como não é fácil subir ao monte se formos carregados de coisas, assim na vida é preciso alijar o que não serve. É também o segredo da missão: para partir é preciso deixar, para anunciar é preciso renunciar. O anúncio credível é feito, não de bonitas palavras, mas de vida boa: uma vida de serviço, que sabe renunciar a tantas coisas materiais que empequenecem o coração, tornam as pessoas indiferentes e as fecham em si mesmas; uma vida que se separa das inutilidades que atafulham o coração e encontra tempo para Deus e para os outros. Podemos interrogar-nos: Como procede a minha subida? Sei renunciar às bagagens pesadas e inúteis do mundanismo para subir ao monte do Senhor? Faço a minha estrada subindo à minha custa ou usando os outros?
Se o monte nos lembra o que conta - Deus e os irmãos -, e o verbo subir, o modo como lá chegamos, há uma terceira palavra que hoje ressoa como a mais forte. É o pronome todos, que prevalece nas Leituras: «todas as nações», dizia Isaías (2,2); «todos os povos», repetimos no Salmo; Deus «quer que todos os homens sejam salvos», escreve Paulo (1Tm 2,4); «ide, pois, fazei discípulos de todos os povos», pede Jesus no Evangelho (Mt 28,19). O Senhor obstina-Se a repetir este «todos». Sabe que somos teimosos a repetir «meu» e «nosso»: as minhas coisas, a nossa nação, a nossa comunidade... e Ele não Se cansa de repetir «todos». Todos, porque ninguém está excluído do seu coração, da sua salvação; todos, para que o nosso coração ultrapasse as alfândegas humanas, os particularismos baseados nos egoísmos que não agradam a Deus. Todos, porque cada qual é um tesouro precioso e o sentido da vida é dar aos outros este tesouro. Eis a missão: subir ao monte para rezar por todos, e descer do monte para se doar a todos.
Subir e descer… Assim o cristão está sempre em movimento, em saída. Realmente, no Evangelho, o mandato de Jesus é «ide». Todos os dias nos cruzamos com tantas pessoas, mas - podemo-nos interrogar - vamos ter com as pessoas que encontramos? Assumimos o convite de Jesus ou ocupamo-nos apenas das nossas coisas? Todos esperam algo dos outros, o cristão vai ter com os outros. A testemunha de Jesus nunca se sente em crédito do reconhecimento de outros, mas em dívida de amor com quem não conhece o Senhor. A testemunha de Jesus vai ao encontro de todos, e não apenas dos seus, do seu grupinho. Jesus diz também a ti: «Vai; não percas a ocasião de testemunhar!» Irmão, irmã, o Senhor espera de ti o testemunho que ninguém pode dar em tua vez. «Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida (...), e assim a tua preciosa missão não fracassará» (Francisco, Exort. Ap. Gaudete et exsultate, 24).
Para ir ao encontro de todos, que instruções nos dá o Senhor? Uma só e muito simples: fazei discípulos. Mas, atenção! Discípulos d’Ele, não nossos. A Igreja só anuncia bem, se viver como discípula. E o discípulo segue dia a dia o Mestre e partilha com os outros a alegria do discipulado. Não conquistando, obrigando, fazendo prosélitos, mas testemunhando, colocando-se ao mesmo nível - discípulo com os discípulos -, oferecendo amorosamente o amor que recebemos. Esta é a missão: oferecer ar puro, de alta quota, a quem vive imerso na poluição do mundo; levar à terra aquela paz que nos enche de alegria, sempre que encontramos Jesus no monte, na oração; mostrar, com a vida e mesmo com palavras, que Deus ama a todos e não se cansa jamais de ninguém.
Queridos irmãos e irmãs, cada um de nós tem, melhor, é uma missão nesta terra (cf. Francisco, Exort. Ap. Evangelii gaudium, 273). Estamos aqui para testemunhar, abençoar, consolar, erguer, transmitir a beleza de Jesus. Coragem! Ele espera muito de ti! O Senhor prova uma espécie de ânsia por aqueles que ainda não sabem que são filhos amados pelo Pai, irmãos pelos quais deu a vida e o Espírito Santo. Queres acalmar a ânsia de Jesus? Vai com amor ao encontro de todos, porque a tua vida é uma missão preciosa: não é um peso a suportar, mas um dom a oferecer. Coragem! Sem medo, vamos ao encontro de todos!


Fonte: Santa Sé