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segunda-feira, 23 de junho de 2025

Discurso do Papa Leão XIV sobre a música sacra (2025)

Na tarde do dia 18 de junho de 2025 o Papa Leão XIV encontrou-se na Sala Régia do Palácio Apostólico com os participantes de um evento promovido pela Fundação Cardeal Domenico Bartolucci por ocasião dos 500 anos do nascimento de Giovanni Pierluigi da Palestrinagrande compositor italiano do Renascimento.

Após o lançamento de um selo comemorativo (com uma imagem realizada pelo pintor espanhol Raúl Berzosa) e uma apresentação musical, o Papa proferiu um breve discurso, destacando a figura de Palestrina e a importância da música sacra:

Papa Leão XIV
Discurso aos participantes do evento promovido pela Fundação Domenico Bartolucci no 500° aniversário do nascimento de Giovanni Pierluigi da Palestrina
Sala Régia do Palácio Apostólico
Quarta-feira, 18 de junho de 2025

Queridos irmãos e irmãs, boa tarde!
Depois de ter escutado estas vozes angelicais, quase seria melhor não falar e deixar-nos com esta belíssima experiência...

Gostaria de saudar Sua Eminência o Cardeal Dominique Mamberti, a Irmã Raffaella Petrini, os estimados Relatores e os ilustres convidados. Com alegria participo deste encontro no qual, com palavras e com música, celebramos a nova Emissão Filatélica promovida pela Fundação Bartolucci e realizada pelos Correios Vaticanos por ocasião do 5º Centenário de Palestrina.

Apresentação musical diante da Capela Paulina

Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594) foi, na história da Igreja, um dos compositores que mais contribuiu à promoção da música sacra, para «a glória de Deus e a santificação e edificação dos fiéis» (São Pio X, Motu proprio Tra le sollecitudini, 22 de novembro de 1903, n. 1), no contexto delicado e ao mesmo tempo apaixonante da Contrarreforma. As suas composições, solenes e austeras, inspiradas no canto gregoriano, unem estreitamente música e Liturgia, «quer dando mais doçura à oração e favorecendo maior harmonia, quer dando mais solenidade aos ritos sagrados» (Concílio Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 112).

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Oração do rosário nos Jardins Vaticanos (2025)

No fim da tarde do sábado, 31 de maio de 2025, Festa da Visitação da Virgem Maria, o Papa Leão XIV concedeu a bênção no final da oração do rosário nos Jardins Vaticanos por ocasião do encerramento do mês de maio, “mês mariano” na piedade popular.

A oração do rosário (ou melhor, do terço do rosário) foi presidida pelo Arcipreste da Basílica de São Pedro, Cardeal Mauro Gambetti, concluindo-se na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, onde o Papa dirigiu algumas palavras aos presentes, que reproduzimos a seguir, e lhes concedeu sua bênção.

Sobre as vestes corais Leão XIV endossou uma estola vermelha com a imagem dos Santos Pedro e Paulo [1].

Recitação do rosário no encerramento do mês de maio
Discurso do Papa Leão XIV
Gruta de Lourdes nos Jardins Vaticanos
Sábado, 31 de maio de 2025

Estimados irmãos e irmãs!
É com alegria que me uno a vós nesta vigília de oração no final do mês de maio. É um gesto de fé com o qual, de modo simples e devoto, nos reunimos sob o manto materno de Maria. Além disso, este ano ele recorda alguns aspectos importantes do Jubileu que celebramos: o louvor, o caminho, a esperança e, sobretudo, a fé meditada e manifestada coralmente.

Recitastes juntos o santo rosário: uma oração, como realçou São João Paulo II, com fisionomia mariana e coração cristológico, que «concentra em si a profundidade de toda a mensagem evangélica» (Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, n. 1).

Efetivamente, na meditação dos mistérios gozosos, durante o caminho percorrido, entrastes e parastes, como que em peregrinação, em muitos lugares da vida de Jesus: na casa de Nazaré, contemplando a Anunciação; na casa de Zacarias, contemplando a Visitação, que hoje celebramos; na gruta de Belém, contemplando o Natal; no Templo de Jerusalém, contemplando a Apresentação e depois o encontro de Jesus. Acompanhavam-vos, na Ave-Maria repetida com fé, as palavras do Anjo à Mãe de Deus: «Alegra-te, ó cheia de graça: o Senhor está contigo!» (Lc 1,28), e as de Isabel que a saúda com alegria: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!» (Lc 1,42).

Assim, os vossos passos foram cadenciados pela Palavra de Deus que, com o seu ritmo, assinalou o trajeto, as paradas e as partidas, assim como fez com o povo de Israel no deserto, a caminho da Terra prometida.

Olhemos, pois, para a nossa existência como um caminho no seguimento de Jesus, a percorrer, como fizemos esta tarde, com Maria. E peçamos ao Senhor para saber louvá-lo todos os dias, «com a vida e com a língua, com o coração e com os lábios, com a voz e com a conduta» (Santo Agostinho, Discurso 256, 1), evitando desarmonias: a língua em sintonia com a vida, e os lábios com a consciência (cf. ibid.).

Saúdo os Senhores Cardeais presentes, os Bispos, os sacerdotes, os consagrados e todos os fiéis. Desejo manifestar, de modo particular, afeto e gratidão às Irmãs Beneditinas do Mosteiro Mater Ecclesiae, que com a sua oração escondida e constante sustentam a nossa comunidade e a nossa obra.

Que a alegria deste momento permaneça e cresça em nós, «na nossa vida pessoal e familiar, em todos os ambientes, especialmente na vida desta família que, aqui no Vaticano, serve a Igreja universal» (Bento XVI, Conclusão do mês mariano, 31 de maio de 2012). Que o Senhor nos abençoe e nos acompanhe sempre, e que Maria interceda por nós. Obrigado!

Oração do rosário nos Jardins Vaticanos



Chegada na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Discurso do Papa: Jubileu das Igrejas Orientais (2025)

De 12 a 14 de maio de 2025 foi celebrado em Roma o Jubileu das Igrejas Católicas Orientais.

Nesses dias os fiéis das diversas Igrejas - Patriarcados, Arcebispados-Maiores, Igrejas Metropolitanas e outras Igrejas sui juris - participaram das celebrações segundo os Ritos Orientais - Bizantino, Alexandrino, Antioqueno (Siríaco Ocidental), Caldeu (Siríaco oriental) e Armênio - nas Basílicas de São Pedro no Vaticano e Santa Maria Maior.

Na manhã do dia 14 de maio, por sua vez, os participantes do Jubileu foram recebidos em Audiência pelo Papa Leão XIV na Sala Paulo VI, que em seu discurso destacou seu rico patrimônio litúrgico:

Audiência aos participantes do Jubileu das Igrejas Orientais
Discurso do Papa Leão XIV
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 14 de maio de 2025

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A paz esteja convosco!
Beatitudes, Eminências, Excelências,
Caríssimos sacerdotes, consagradas e consagrados,
Irmãos e irmãs!
Cristo ressuscitou. Verdadeiramente ressuscitou! Saúdo-vos com as palavras que, neste Tempo Pascal, o Oriente cristão não se cansa de repetir em muitas regiões, professando o âmago da fé e da esperança. E é bom ver-vos aqui precisamente por ocasião do Jubileu da Esperança, da qual a Ressurreição de Jesus é o fundamento indestrutível. Bem-vindos a Roma! Estou feliz por me encontrar convosco e por dedicar um dos primeiros encontros do meu pontificado aos fiéis orientais.

Sois preciosos! Olhando para vós, penso na variedade das vossas proveniências, na história gloriosa e nos amargos sofrimentos que muitas das vossas comunidades padeceram ou padecem. E gostaria de reiterar o que o Papa Francisco disse sobre as Igrejas Orientais: «São Igrejas que devem ser amadas, conservam tradições espirituais e sapienciais únicas e têm muito a dizer-nos sobre a vida cristã, a sinodalidade, a Liturgia; pensemos nos antigos Padres, nos Concílios, no monaquismo, tesouros inestimáveis para a Igreja» (Discurso na Assembleia da ROACO, 27 de junho de 2024).


Desejo citar também o Papa Leão XIII, que pela primeira vez dedicou um documento específico à dignidade das vossas Igrejas, considerando sobretudo que «a obra da redenção humana teve início no Oriente» (cf. Carta Apostólica Orientalium dignitas, 30 de novembro de 1894). Sim, desempenhais «um papel singular e privilegiado como contexto original da Igreja nascente» (São João Paulo II, Carta Apostólica Orientale lumen, n. 5). É significativo que algumas das vossas Liturgias - que nestes dias celebrais solenemente em Roma, segundo várias tradições - ainda usem a língua do Senhor Jesus. Mas o Papa Leão XIII dirigiu um forte apelo para que a «legítima variedade de Liturgia e disciplina orientais... redunde a favor... do grande decoro e utilidade da Igreja» (Carta Apostólica Orientalium dignitas). A sua preocupação de então é muito atual, pois nos nossos dias tantos irmãos e irmãs orientais, entre os quais muitos de vós, obrigados a fugir dos seus territórios de origem por causa da guerra e das perseguições, da instabilidade e da pobreza, correm o risco, chegando ao Ocidente, de perder não só a pátria, mas também a identidade religiosa. E assim, com o passar das gerações, perde-se o legado inestimável das Igrejas Orientais.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Primeira Mensagem Urbi et Orbi do Papa Leão XIV

No dia 08 de maio de 2025, ao ser eleito como 267º Bispo de Roma, o Papa Leão XIV proferiu sua primeira saudação aos fiéis antes de conceder a Bênção Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo):

Papa Leão XIV
Primeira Bênção Urbi et Orbi
Balcão central da Basílica de São Pedro
Quinta-feira, 08 de maio de 2025

A paz esteja com todos vós!
Caríssimos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação de Cristo Ressuscitado, o Bom Pastor, que deu a vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação de paz entrasse no vosso coração, chegasse às vossas famílias, a todas as pessoas, onde quer que se encontrem, a todos os povos, a toda a terra. A paz esteja convosco!

Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz desarmante, que é humilde e perseverante. Que vem de Deus, do Deus que nos ama a todos incondicionalmente.

Conservamos ainda nos nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa, do Papa Francisco que abençoava Roma, o Papa que, naquela manhã de Páscoa, abençoava Roma e dava a sua bênção ao mundo inteiro. Permiti-me que dê prosseguimento àquela mesma bênção: Deus nos ama, Deus vos ama a todos, e o mal não prevalecerá! Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e uns com os outros, sigamos em frente! Somos discípulos de Cristo. Cristo vai à nossa frente. O mundo precisa da sua luz. A humanidade precisa d’Ele como ponte para poder ser alcançada por Deus e pelo seu amor. Ajudai-nos também vós e, depois, ajudai-vos uns aos outros a construir pontes, com o diálogo, o encontro, unindo-nos todos para sermos um só povo sempre em paz. Obrigado, Papa Francisco!

Quero também agradecer a todos os meus irmãos Cardeais que me escolheram para ser o Sucessor de Pedro e para caminhar convosco, como Igreja unida, procurando sempre a paz, a justiça, esforçando-se sempre por trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para anunciar o Evangelho, para ser missionários

Sou agostiniano, um filho de Santo Agostinho que dizia: “Convosco sou cristão e para vós sou Bispo”. Neste sentido, podemos caminhar todos juntos em direção à pátria que Deus nos preparou.

Uma saudação especial à Igreja de Roma! Devemos procurar juntos o modo de ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que constrói o diálogo, sempre aberta para acolher todos, como esta Praça, de braços abertos, a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, de diálogo e de amor.

E se me permitem uma palavra, uma saudação [em espanhol] a todos e especialmente à minha querida Diocese de Chiclayo, no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu Bispo, partilhou a sua fé e deu tanto, tanto, para continuar a ser uma Igreja fiel a Jesus Cristo.

A todos vós, irmãos e irmãs de Roma, da Itália, de todo o mundo: queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que procura sempre a paz, que procura sempre a caridade, que procura sempre estar próxima, sobretudo dos que sofrem.

Hoje é o dia da Súplica a Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. A nossa Mãe, Maria, quer sempre caminhar conosco, estar perto, ajudar-nos com a sua intercessão e o seu amor. Gostaria, por isso, de rezar convosco. Rezemos juntos por esta nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo e peçamos a Maria, nossa Mãe, esta graça especial: Ave Maria...


Fonte: Santa Sé.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Mensagem Urbi et Orbi do Papa: Páscoa 2025

Papa Francisco
Mensagem Urbi et Orbi de Páscoa
Balcão central da Basílica de São Pedro
Domingo, 20 de abril de 2025

A mensagem do Papa, a última antes da sua morte, foi lida por Dom Diego Giovanni Ravelli, Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias.

Cristo ressuscitou, aleluia!
Irmãos e irmãs, feliz Páscoa!
Hoje ressoa finalmente na Igreja o «aleluia», que corre de boca em boca, de coração a coração, e o seu cântico faz chorar de alegria, no mundo inteiro, o povo de Deus.

Do sepulcro vazio de Jerusalém chega até nós um anúncio sem precedentes: Jesus, o Crucificado, «não está aqui. Ressuscitou!» (Lc 24,6). Não está no túmulo, está vivo!

O amor venceu o ódio. A luz venceu as trevas. A verdade venceu a mentira. O perdão venceu a vingança. O mal não desapareceu da nossa história e permanecerá até ao fim, mas já não possui o domínio, não tem qualquer poder sobre quem acolhe a graça deste dia.


Irmãos e irmãs, especialmente vós que passais pela dor e pela angústia, o vosso grito silencioso foi ouvido, as vossas lágrimas foram recolhidas e nem sequer uma só se perdeu! Na Paixão e Morte de Jesus, Deus tomou sobre si todo o mal do mundo e, com a sua infinita misericórdia, derrotou-o: erradicou o orgulho diabólico que envenena o coração humano e semeia violência e corrupção por toda a parte. O Cordeiro de Deus venceu! Por isso, hoje exclamamos: «Ressuscitou Cristo, minha esperança» (Sequência pascal).

Sim, a Ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança: a partir deste acontecimento, ter esperança já não é uma ilusão. Não! Graças a Cristo Crucificado e Ressuscitado, a esperança não decepciona! Spes non confundit! (Rm 5,5). E não se trata de uma esperança evasiva, mas comprometida; não é alienante, mas responsabilizadora.

domingo, 20 de abril de 2025

Mensagem do Papa João Paulo II: Páscoa (2000)

Neste Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor, concluindo a Semana Santa deste Ano Jubilar de 2025, recordamos a Mensagem Urbi et Orbi (À cidade e ao mundo) proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, no Domingo de Páscoa do Grande Jubileu do Ano 2000:

Papa João Paulo II
Mensagem Urbi et Orbi
Praça de São Pedro
Domingo de Páscoa, 23 de abril de 2000

1. «Mors et vita duello conflixere mirando...».
«A morte e a vida travaram um admirável combate: depois de morto, vive e reina o Autor da vida» (Sequência pascal).

Hoje, mais uma vez, a Igreja se detém maravilhada junto ao sepulcro vazio. Como Maria Madalena e as outras mulheres, vindas para ungir com aromas o corpo do Crucificado, como os Apóstolos Pedro e João, que vieram correndo ao ouvir as palavras das mulheres, assim a Igreja se inclina sobre o sepulcro onde o seu Senhor foi depositado depois da crucificação.


Há um mês, peregrino na Terra Santa, tive a graça de me ajoelhar diante da laje de pedra que indica o lugar onde Jesus foi sepultado. Hoje, Domingo da Ressurreição, faço meu o anúncio do mensageiro celeste: «Ressuscitou, não está aqui!» (Mc 16,6).

Sim, a vida e a morte se enfrentaram e a Vida triunfou para sempre. Tudo está novamente orientado para a vida, para a Vida eterna!

2. «Victimae paschali laudes immolent christiani...».
«À Vítima pascal ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor. O Cordeiro resgatou as ovelhas: Cristo, o Inocente, reconciliou com o Pai os pecadores».

quinta-feira, 6 de março de 2025

Mensagem do Papa a um curso do Pontifício Instituto Litúrgico (2025)

No dia 28 de fevereiro de 2025 foi divulgada a mensagem do Papa Francisco aos participantes da segunda edição do Curso “Viver plenamente a ação litúrgica”, promovido pelo Pontifício Instituto Litúrgico (Pontifício Ateneu Santo Anselmo).

O curso, cuja primeira edição foi realizada em 2023, é voltado aos responsáveis pelas celebrações litúrgicas episcopais, particularmente aos “mestres das celebrações litúrgicas”.

Papa Francisco
Mensagem por ocasião do curso para os responsáveis pelas celebrações litúrgicas episcopais do Pontifício Ateneu Santo Anselmo
24-28 de fevereiro de 2025

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Saúdo o Abade Primaz e o Diretor do Pontifício Instituto Litúrgico [1], com os professores e os alunos que participaram desta segunda edição do curso para os responsáveis pelas celebrações litúrgicas episcopais. Alegra-me constatar que aceitastes novamente o convite formulado na Carta Apostólica Desiderio desideravi, continuando a estudar a Liturgia, não só na perspectiva teológica, mas também no âmbito da práxis celebrativa.

Esta dimensão toca a vida do Povo de Deus e revela-lhe sua verdadeira natureza espiritual (cf. Constituição Dogmática Lumen gentium, n. 9). Por isso o responsável pelas celebrações litúrgicas não é apenas um professor de teologia; não é um rubricista, que aplica as normas; não é um sacristão, que prepara o que é necessário para a celebração. Ele é um mestre colocado a serviço da oração da comunidade. Enquanto ensina humildemente a arte litúrgica, deve guiar todos os que celebram, marcando o ritmo ritual e acompanhando os fiéis no acontecimento sacramental.

Abside da igreja de Santo Anselmo no Aventino
(Sede do Pontifício Instituto Litúrgico)

Como mistagogo, prepara cada celebração com sabedoria para o bem da assembleia; traduz em práxis celebrativa os princípios teológicos expressos nos livros litúrgicos; acompanha e apoia o Bispo na sua função de promotor e guardião da vida litúrgica (Cerimonial dos Bispos, n. 9). Assim assistido, o pastor pode conduzir suavemente toda a comunidade diocesana na oferta de si ao Pai, à imitação de Cristo Senhor.

terça-feira, 4 de março de 2025

Mensagem do Papa: Quaresma 2025

Papa Francisco
Mensagem para a Quaresma de 2025
Caminhemos juntos na esperança

Queridos irmãos e irmãs!
Com o sinal penitencial das cinzas sobre as nossas cabeças iniciamos na fé e na esperança a peregrinação anual da Santa Quaresma. A Igreja, mãe e mestra, convida-nos a preparar os nossos corações e a abrir-nos à graça de Deus para podermos celebrar com grande alegria o triunfo pascal de Cristo, o Senhor, sobre o pecado e a morte, como exclamava São Paulo: «A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» (1Cor 15,54-55). Realmente, Jesus Cristo, Morto e Ressuscitado, é o centro da nossa fé e a garantia da nossa esperança na grande promessa do Pai, já realizada n’Ele, seu Filho amado: a vida eterna (cf. Jo 10,28; 17,3; cf. Encíclica Dilexit nos, n. 220).

Nesta Quaresma, enriquecida pela graça do Ano Jubilar, gostaria de oferecer algumas reflexões sobre o que significa caminhar juntos na esperança e evidenciar os apelos à conversão que a misericórdia de Deus dirige a todos nós, enquanto indivíduos e comunidades.


Antes de tudo, caminhar. O lema do Jubileu - “Peregrinos de Esperança” - traz à mente a longa travessia do povo de Israel em direção à Terra Prometida, narrada no Livro do Êxodo: a difícil passagem da escravidão para a liberdade, desejada e guiada pelo Senhor, que ama o seu povo e sempre lhe é fiel. E não podemos recordar o êxodo bíblico sem pensar em tantos irmãos e irmãs que, hoje, fogem de situações de miséria e violência e vão à procura de uma vida melhor para si e para seus entes queridos. Aqui surge um primeiro apelo à conversão, porque todos nós somos peregrinos na vida, mas cada um pode se perguntar: como me deixo interpelar por esta condição? Estou realmente a caminho ou estou paralisado, estático, com medo e sem esperança, acomodado na minha zona de conforto? Busco caminhos de libertação das situações de pecado e falta de dignidade? Seria um bom exercício quaresmal confrontar-nos com a realidade concreta de algum migrante ou peregrino e deixar que ela nos interpele, para descobrir o que Deus pede de nós para sermos melhores viajantes rumo à casa do Pai. Esse é um bom “exame” para o viandante.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Mensagem Urbi et Orbi do Papa: Natal 2024

Papa Francisco
Mensagem Urbi et Orbi de Natal
Balcão central da Basílica Vaticana
Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Queridas irmãs, queridos irmãos, Feliz Natal!
Nesta noite renovou-se o mistério que não cessa de nos maravilhar e comover: a Virgem Maria deu à luz Jesus, o Filho de Deus, envolveu-o em panos e recostou-o em uma manjedoura. Foi assim que os pastores de Belém, cheios de alegria, o encontraram, enquanto os anjos cantavam: “Glória a Deus e paz aos homens” (cf. Lc 2,6-14). Paz aos homens!

Este acontecimento, que teve lugar há mais de dois mil anos, renova-se por obra do Espírito Santo, o mesmo Espírito de Amor e de Vida que fecundou o ventre de Maria e da sua carne humana formou Jesus. E assim, hoje, nas tribulações do nosso tempo, se encarna de novo e realmente a Palavra eterna de salvação, que diz a cada homem, a cada mulher, e ao mundo inteiro - é esta a mensagem -: Eu te amo, te perdoo, volta para mim, a porta do meu coração está aberta para ti!

Irmãs, irmãos, a porta do coração de Deus está sempre aberta: voltemos para Ele! Regressemos ao coração que nos ama e perdoa! Deixemo-nos perdoar por Ele, deixemo-nos reconciliar com Ele! Deus perdoa sempre! Deus perdoa tudo! Deixemo-nos perdoar por Ele!


É este o significado da Porta Santa do Jubileu, que abri ontem à noite aqui em São Pedro: ela representa Jesus, a Porta da salvação aberta para todos. Jesus é a Porta; é a Porta que o Pai misericordioso abriu no meio do mundo, no meio da história, para que todos possamos voltar para Ele. Todos nós somos como ovelhas perdidas e precisamos de um Pastor e de uma Porta para regressar à casa do Pai. Jesus é o Pastor, Jesus é a Porta.

Irmãos e irmãs, não tenhais medo! A Porta está aberta, a porta está escancarada! Não é necessário bater à porta. Ela está aberta! Vinde! Deixemo-nos reconciliar com Deus, e então nos reconciliaremos conosco mesmos e poderemos nos reconciliar uns com os outros, até com os nossos inimigos. A misericórdia de Deus tudo pode, desfaz todos os nós, derruba todos os muros de divisão, a misericórdia de Deus dissolve o ódio e o espírito de vingança. Vinde! Jesus é a Porta da Paz.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Mensagem do Papa Francisco: Jornada Mundial da Juventude 2024

Confira a Mensagem do Papa Francisco para a 39ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se celebra a nível diocesano no domingo, 24 de novembro de 2024, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo:

Papa Francisco
Mensagem para a 39ª Jornada Mundial da Juventude
24 de novembro de 2024
“Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar” (cf. Is 40,31)

Caros jovens!
No ano passado começamos a percorrer o caminho da esperança rumo ao Jubileu, refletindo sobre a expressão paulina “Alegres na esperança” (Rm 12,12). Precisamente para nos prepararmos para a peregrinação jubilar de 2025, este ano deixamo-nos inspirar pelo profeta Isaías, que diz: “Os que esperam no Senhor... caminham sem se cansar” (Is 40,31). Esta expressão é retirada do chamado Livro da Consolação (Is 40–55), que anuncia o fim do exílio de Israel na Babilônia e o início de uma nova fase de esperança e de renascimento para o povo de Deus, que pode regressar à sua pátria graças a um novo “caminho” que, na história, o Senhor abre aos seus filhos (cf. Is 40,3).

Retorno do povo de Israel do exílio
(William Brassey Hole)

Também nós vivemos hoje tempos marcados por situações dramáticas que geram desespero e nos impedem de olhar para o futuro com espírito sereno: a tragédia da guerra, as injustiças sociais, as desigualdades, a fome, a exploração do ser humano e da criação. Muitas vezes quem paga o preço mais alto sois vós, jovens, que sentis a incerteza do futuro e não vislumbrais perspectivas seguras para os vossos sonhos, correndo assim o risco de viver sem esperança, prisioneiros do tédio e da melancolia, por vezes arrastados para a ilusão da transgressão e das realidades destrutivas (cf. Bula Spes non confundit, 12). Por isso, queridos amigos, gostaria que, como aconteceu ao povo de Israel na Babilônia, chegasse também a vós o anúncio da esperança: hoje o Senhor abre diante de vós um caminho e convida-vos a percorrê-lo com alegria e esperança.

1. A peregrinação da vida e os seus desafios

Isaías profetiza um “caminhar sem cansaço”. Reflitamos então sobre estes dois aspectos: o caminhar e o cansaço.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Mensagem do Papa Francisco: Dia Mundial das Missões 2024

Confira a Mensagem do Papa Francisco para o 98º Dia Mundial das Missões, que se celebra no penúltimo domingo de outubro:

Papa Francisco
Mensagem para o 98º Dia Mundial das Missões
20 de outubro de 2024
Ide e convidai todos para o banquete (cf. Mt 22,9)

Queridos irmãos e irmãs!
Para o Dia Mundial das Missões deste ano, tirei o tema da parábola evangélica do banquete nupcial (cf. Mt 22,1-14). Depois que os convidados recusaram o convite, o rei - protagonista da narração - diz aos seus servos: «Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes» (v. 9). Refletindo sobre esta frase-chave, no contexto da parábola e da vida de Jesus, podemos ilustrar alguns aspectos importantes da evangelização. Tais aspectos revelam-se particularmente atuais para todos nós, discípulos-missionários de Cristo, nesta fase final do percurso sinodal que, de acordo com o lema «Comunhão, participação, missão», deverá relançar na Igreja o seu empenho prioritário, isto é, o anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo.

O convite para a festa
(Andrei Mironov)

1. «Ide e convidai»: A missão como ida incansável e convite para a festa do Senhor

No início da ordem do rei aos seus servos, há dois verbos que expressam o núcleo da missão: «ide» e «chamai», «convidai».

Quanto ao primeiro verbo, convém recordar que antes os servos já tinham sido enviados para transmitir a mensagem do rei aos convidados (vv. 3-4). Daqui se deduz que a missão é ida incansável rumo a toda a humanidade para convidá-la ao encontro e à comunhão com Deus. Incansável! Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída ao encontro de cada ser humano para chamá-lo à felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa. Assim Jesus Cristo, bom pastor e enviado do Pai, andava à procura das ovelhas perdidas do povo de Israel e desejava ir mais além para alcançar também as ovelhas mais distantes (cf. Jo 10,16). Quer antes quer depois da sua Ressurreição, disse aos discípulos: «Ide», envolvendo-os na sua própria missão (cf. Lc 10,3; Mc 16,15). Por isso a Igreja continuará a ultrapassar todo e qualquer limite, sair incessantemente sem se cansar nem desanimar perante dificuldades e obstáculos, a fim de cumprir fielmente a missão recebida do Senhor.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Mensagem à 74ª Semana Litúrgica Nacional (Itália)

De 26 a 29 de agosto teve lugar em Modena (Itália) a 74ª Semana Litúrgica Nacional promovida pelo Centro Azione Liturgica, com o tema «Na Liturgia, a verdadeira oração da Igreja: Povo de Deus e ars celebrandi - “Fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hb 13,15)».

Confira a mensagem enviada pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, em nome do Papa Francisco:

Papa Francisco
Mensagem assinada pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, por ocasião da 74ª Semana Litúrgica Nacional
Modena, 26-29 agosto 2024

Do Vaticano, 21 de agosto de 2024.

A Sua Excelência Reverendíssima Dom Claudio Maniago, Arcebispo Metropolitano de Catanzaro-Squillace, Presidente do Centro Azione Liturgica

Excelência Reverendíssima,
Estou contente em transmitir a Mensagem do Santo Padre para os trabalhos da 74ª Semana Litúrgica Nacional, promovida pelo Centro de Ação Litúrgica (Centro Azione Liturgica) e acolhida pela Igreja de Modena-Nonantola, rica de história e de dons de santidade. O Papa Francisco, ao dirigir sua saudação a todos que participarão na Semana como organizadores, palestrantes, conferencistas e voluntários, assegura uma recordação especial na oração pelo melhor êxito das sessões de estudo e dos momentos celebrativos.

74ª Semana Litúrgica Nacional (Modena)

A Semana Litúrgica que vos preparais para viver tem como tema «Na Liturgia, a verdadeira oração da Igreja: Povo de Deus e ars celebrandi - “Fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hb 13,15)». Esse tema nos remete à especificidade da oração litúrgica, que rejeita toda forma de individualismo e de divisão. Ela, com efeito, é «participação na oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1073); é participação no sopro amoroso da Igreja-Esposa, que nos faz sentir parte da comunidade dos discípulos de todos os lugares e de todos os tempos; é escola de comunhão que liberta o coração da indiferença, encurta as distâncias entre os irmãos e conforma aos sentimentos de Jesus; é via mestra que nos transforma, educando-nos na Igreja para a vida boa do Evangelho.

Caríssimos, a Liturgia - como afirmava Romano Guardini - «introduz toda a amplitude da verdade na oração; de fato, ela não é outra cosa que o dogma rezado, a verdade revivida rezando» (O Espírito da Liturgia). As palavras do grande teólogo reforçam a evidência da dimensão objetiva da Liturgia, que «deve ser celebrada com fervor, para que a graça derramada no rito não se disperse, mas abranja a vida de cada pessoa» (Francisco, Catequese de 03 de fevereiro de 2021). Esta iniludível necessidade transparece também do vosso programa de estudos, que se centra na ars celebrandi, compromisso e atitude que todos os batizados são chamados a viver para sair da própria individualidade e abrir-se ao “nós” da Igreja na oração.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Mensagem Urbi et Orbi do Papa: Páscoa 2024

Papa Francisco
Mensagem Urbi et Orbi de Páscoa
Balcão central da Basílica Vaticana
Domingo, 31 de março de 2024

Queridos irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!
Hoje ressoa em todo o mundo o anúncio que partiu de Jerusalém há dois mil anos: “Jesus de Nazaré, o Crucificado, ressuscitou!” (cf. Mc 16,6).

A Igreja revive o espanto das mulheres que foram ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. O túmulo de Jesus tinha sido fechado com uma grande pedra; e assim, ainda hoje, pedras pesadas, demasiadamente pesadas, fecham as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de pessoas e outras. Nós também, como as mulheres discípulas de Jesus, perguntamo-nos uns aos outros: “Quem irá remover estas pedras para nós?” (cf. v. 3).

E eis a sua descoberta na manhã de Páscoa: a pedra, aquela grande pedra, já havia sido removida. O espanto das mulheres é o nosso espanto: o túmulo de Jesus está aberto e vazio! É aqui que tudo começa. Através desse túmulo vazio passa o novo caminho, o caminho que nenhum de nós, mas somente Deus, poderia abrir: o caminho da vida em meio à morte, o caminho da paz em meio à guerra, o caminho da reconciliação em meio ao ódio, o caminho da fraternidade em meio à inimizade.


Irmãos e irmãs, Jesus Cristo ressuscitou, e somente Ele é capaz de remover as pedras que fecham o caminho para a vida. De fato, Ele mesmo, o Vivente, é o Caminho: o Caminho da vida, da paz, da reconciliação, da fraternidade. Ele nos abre a passagem, algo humanamente impossível, porque somente Ele tira o pecado do mundo e perdoa os nossos pecados. E sem o perdão de Deus, essa pedra não pode ser removida. Sem o perdão dos pecados, não conseguimos sair dos fechamentos, dos preconceitos, das suspeitas mútuas e das presunções, que sempre levam a absolver a si mesmo e acusar os outros. Somente o Cristo Ressuscitado, ao dar-nos o perdão dos pecados, abre o caminho para um mundo renovado.

Somente Ele nos abre as portas da vida, aquelas portas que fechamos continuamente com as guerras que se alastram pelo mundo. Hoje voltamos nosso olhar, em primeiro lugar, para a Cidade Santa de Jerusalém, testemunha do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, e para todas as comunidades cristãs da Terra Santa.

sábado, 30 de março de 2024

Mensagem de Páscoa do Papa Bento XVI (2011)

Concluindo a retrospectiva das homilias do Papa Bento XVI (†2022) na Semana Santa de 2011, trazemos aqui sua Mensagem Urbi et Orbi (À Cidade e ao Mundo) no Domingo de Páscoa:

Papa Bento XVI
Mensagem Urbi et Orbi de Páscoa
Sacada Central da Basílica Vaticana
Domingo, 24 de abril de 2011

«In Resurrectione tua, Christe, coeli et terra laetentur» - «Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra» (Liturgia das Horas).
Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro!
A manhã de Páscoa trouxe-nos este anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! O eco deste acontecimento, que partiu de Jerusalém há vinte séculos, continua a ressoar na Igreja, que traz viva no coração a fé vibrante de Maria, a Mãe de Jesus, a fé de Madalena e das primeiras mulheres que viram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos outros Apóstolos.

Até hoje - mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas - a fé dos cristãos se assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e irmãos que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria Madalena, aos dois discípulos de Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc 16,9-14).


A Ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística: é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se em um momento concreto da história e deixa nela uma marca indelével. A luz, que encandeou os guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus, atravessou o tempo e o espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem.

Tal como os raios do sol, na primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradiação que emana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo, projeto. Por isso, hoje, o universo inteiro se alegra, implicado na primavera da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da criação. O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa do universo e sobretudo o anseio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus, mais ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e verdade.

terça-feira, 12 de março de 2024

Discurso do Papa Francisco sobre o Ato de contrição

Na manhã da sexta-feira, 08 de março de 2024 o Papa Francisco recebeu os participantes do Curso sobre o Foro Interno organizado anualmente pela Penitenciaria Apostólica, Tribunal encarregado das questões relacionadas ao Sacramento da Penitência.

Em seu discurso, o Papa refletiu sobre o Ato de contrição (em italiano, Atto di dolore), que o penitente é convidado a recitar após a confissão dos pecados como forma de expressar seu arrependimento.

Vale dizer que não existe uma única fórmula de Ato de contrição: o Ritual da Penitência, por exemplo, propõe dez modelos (pp. 35-37). Mesmo a fórmula mais “tradicional”, que é aquela comentada pelo Papa em seu discurso, possui pequenas variações em seu texto.

Papa Francisco
Discurso aos participantes do Curso promovido pela Penitenciaria Apostólica 
Sala Clementina
Sexta-feira, 08 de março de 2024

Caros irmãos, bom dia e bem vindos!
Estou contento de encontrar-vos por ocasião do anual Curso sobre o Foro Interno organizado pela Penitenciaria Apostólica. Dirijo uma cordial saudação ao Cardeal Mauro Piacenza, Penitenciário-Mor, ao Regente, Monsenhor Krzysztof Józef Nykiel, aos Prelados, aos Oficiais e ao pessoal da Penitenciaria, aos Colégios de Penitenciários ordinários e extraordinários das Basílicas Papais in Urbe, e a todos vós participantes do Curso.

No contexto da Quaresma e, em particular, do Ano da Oração em preparação para o Jubileu, gostaria de propor que reflitamos sobre uma oração simples e rica, que pertence ao patrimônio do santo povo fiel de Deus e que recitamos durante o rito da Reconciliação: o Ato de contrição.


Apesar da linguagem um pouco antiga, que poderia também ser mal-entendida em algumas de suas expressões, esta oração conserva toda a sua validade, tanto pastoral como teológica. Além disso, seu autor é o grande Santo Afonso Maria de Ligório, mestre da Teologia Moral, pastor próximo das pessoas e homem de grande equilíbrio, distante tanto do rigorismo como do laxismo.

Destacarei três atitudes expressas no Ato de contrição e que penso que possam nos ajudar a meditar sobre nossa relação com a misericórdia de Deus: arrependimento diante de Deus, confiança n’Ele e propósito de não recair.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2024

Papa Francisco
Mensagem para a Quaresma de 2024
Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade

Queridos irmãos e irmãs!
Quando o nosso Deus se revela, comunica liberdade: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão» (Ex 20,2). Assim inicia o Decálogo dado a Moisés no Monte Sinai. O povo sabe bem de que êxodo Deus está falando: traz ainda gravada na sua carne a experiência da escravidão. Recebe as «dez palavras» no deserto como caminho de liberdade. Nós chamamos-lhes «mandamentos», fazendo ressaltar a força amorosa com que Deus educa o seu povo; mas, de fato, a chamada para a liberdade constitui um vigoroso apelo. Não se reduz a um mero acontecimento, mas amadurece ao longo de um caminho. Como Israel no deserto tinha ainda dentro de si o Egito (vemo-lo muitas vezes lamentar a falta do passado e murmurar contra o céu e contra Moisés), também hoje o povo de Deus traz dentro de si vínculos opressivos que deve optar por abandonar. Damo-nos conta disto quando nos falta a esperança e vagamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida para a qual tendermos juntos. A Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser - como anuncia o profeta Oseias - o lugar do primeiro amor (Os 2,16-17). Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte para a vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a si e sussurra ao nosso coração palavras de amor.

Passagem do Mar Vermelho (Lidia Kozenitzky):
Início do caminho pelo deserto

O êxodo da escravidão para a liberdade não é um caminho abstrato. A fim de ser concreta também a nossa Quaresma, o primeiro passo é querer ver a realidade. Quando o Senhor, da sarça ardente, atraiu Moisés e lhe falou, revelou-se logo como um Deus que vê e sobretudo escuta: «Eu vi a opressão do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de libertá-lo das mãos dos egípcios e de fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel» (Ex 3,7-8). Também hoje o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu. Perguntemo-nos: E chega também a nós? Mexe conosco? Comove-nos? Há muitos fatores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que originariamente nos une.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Discurso do Papa ao Dicastério para o Culto Divino (2024)

No dia 08 de fevereiro de 2024 o Papa Francisco encontrou os membros do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos reunidos em Assembleia Plenária, com o tema “Euntes parate nobis Pascha - Ide preparar-nos a Páscoa (Lc 22,8): Caminhos de formação litúrgica para ministros ordenados e fiéis leigos”.

O encontro deu continuidade à reflexão da Assembleia Plenária de 2019, igualmente dedicada ao tema da formação litúrgica, destacando também os 60 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada Liturgia, promulgada pelo Concílio Vaticano II em dezembro de 1963.

Confira a seguir o discurso do Papa Francisco aos membros do Dicastério:

Papa Francisco
Discurso aos participantes da Assembleia Plenária do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
Sala Clementina
Quinta-feira, 08 de fevereiro de 2024

Caros irmãos e irmãs!
Encontro-vos por ocasião da vossa Assembleia Plenária. Saúdo o Cardeal Prefeito e todos vós, Membros, Consultores e Colaboradores do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Sessenta anos depois da promulgação da Sacrosanctum Concilium não deixam de nos entusiasmar as palavras que lemos no seu Proêmio, com as quais os Padres declaravam a finalidade do Concílio. São objetivos que descrevem uma precisa vontade de reforma a Igreja nas suas dimensões fundamentais: «fomentar cada vez mais entre os fiéis a vida cristã; adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições que podem ser modificadas; favorecer tudo o que possa contribuir para a união de todos aqueles que creem em Jesus Cristo; e fortalecer tudo o que possa atrair todas as pessoas ao seio da Igreja» (n. 1). Trata-se de um trabalho de renovação espiritual, pastoral, ecumênica e missionária. E para poder realizá-lo os Padres conciliares sabiam bem por onde deviam começar, sabiam que deviam «providenciar, de maneira especial, a reforma e o incremento da Liturgia» (ibid.). É como dizer: sem reforma litúrgica não há reforma da Igreja.


Só podemos fazer tal afirmação se compreendermos o que é a Liturgia no sentido teológico, como os primeiros números da Constituição sintetizam de maneira admirável. Uma Igreja que não sente a paixão pelo crescimento espiritual, que não procura falar de modo compreensível aos homens e mulheres do seu tempo, que não se entristece pela divisão entre os cristãos, que não treme com o anseio de anunciar Cristo às nações, é uma Igreja doente, e estes são os seus sintomas.

sábado, 13 de janeiro de 2024

Visita do Papa Bento XVI ao Santuário da Santa Face de Manoppello

O II Domingo do Tempo Comum (antigo II Domingo após a Epifania) também é conhecido como Domingo “Omnis terra”, em referência à antífona de entrada tomada do Sl 65,4: “Omnis terra adóret te, Deus...” (“Toda terra te adore, ó Deus...”).

No tempo do Papa Inocêncio III (1216) esse domingo era dedicado à devoção à Santa Face de Jesus, com uma procissão da Basílica de São Pedro até a igreja do Espírito Santo in Sassia, junto à qual funcionava um hospital, exortando assim a ver a face de Cristo no rosto dos irmãos sofredores (cf. Mt 25,31-46).

Para celebrar esse domingo, propomos aqui o discurso do Papa Bento XVI (†2022) durante sua visita ao Santuário da Santa Face de Manoppello, na região italiana dos Abruzos, no dia 01 de setembro de 2006.

Visita ao Santuário da Santa Face de Manoppello
Discurso do Papa Bento XVI
Sexta-feira, 01 de setembro de 2006

Queridos irmãos e irmãs!
Antes de tudo, desejo mais uma vez agradecer profundamente este acolhimento, as suas palavras, Excelência [Dom Bruno Forte, Arcebispo de Chieti-Vasto], tão profundas, tão cordiais, a expressão da sua amizade, da vossa amizade, e os dons de grandíssimo significado: a Face de Cristo que aqui se venera, para mim, para a minha casa, e depois estes dons da vossa terra, que expressam a beleza e a bondade da terra, dos homens que vivem e trabalham aqui, e a beleza e bondade do próprio Criador.

Bento XVI venera a “Santa Face de Manoppello”

Desejo simplesmente agradecer ao Senhor o encontro de hoje, simples e familiar, em um lugar onde podemos meditar sobre o mistério do amor divino, contemplando o ícone da Santa Face. A todos vós aqui presentes dirijo o meu agradecimento mais sentido pelo vosso cordial acolhimento e pelo empenho e discrição com que favorecestes esta peregrinação particular, que, contudo, como peregrinação eclesial não pode ser totalmente particular. Saúdo e agradeço, repito, em particular ao vosso Arcebispo, amigo desde muitos anos. Colaboramos na Comissão Teológica Internacional. E em tantos diálogos aprendi sempre da sua sabedoria, e também dos seus livros. Obrigado pelos dons que me oferecestes e que aprecio muito precisamente na sua qualidade de “sinais”, como os chamou Dom Bruno Forte.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Mensagem Urbi et Orbi do Papa: Natal 2023

Papa Francisco
Mensagem Urbi et Orbi de Natal
Segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
O olhar e o coração dos cristãos de todo o mundo estão voltados para Belém; lá, onde nestes dias reinam a dor e o silêncio, ressoou o anúncio esperado há séculos: «Nasceu-vos um Salvador, que é o Cristo Senhor» (Lc 2,11). Trata-se das palavras do anjo no céu de Belém, que são dirigidas também a nós. Enche-nos de confiança e esperança saber que o Senhor nasceu para nós; que a Palavra eterna do Pai, o Deus infinito, fixou a sua morada entre nós. Fez-Se carne, veio «habitar conosco» (Jo 1,14): esta é a notícia que muda o curso da história!

O anúncio de Belém é o anúncio de uma «grande alegria» (Lc 2,10). Qual alegria? Não a felicidade passageira do mundo, nem a alegria da diversão, mas uma alegria «grande» porque nos faz «grandes». De fato, hoje nós, seres humanos, com as nossas limitações, abraçamos a certeza de uma esperança inaudita: a esperança de termos nascido para o Céu. Sim, Jesus nosso irmão veio fazer do Seu Pai o nosso Pai: Menino frágil, revela-nos a ternura de Deus e muito mais... Ele, o Unigênito do Pai, dá aos homens o «poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1,12). Eis a alegria que consola o coração, renova a esperança e dá a paz: é a alegria do Espírito Santo, a alegria de ser filhos amados.


Irmãos e irmãs, hoje em Belém, por entre as trevas da terra, acendeu-se esta chama inextinguível; hoje, sobre as trevas do mundo, prevalece a luz de Deus, que «a todo o homem ilumina» (Jo 1,9). Irmãos e irmãs, alegremo-nos por esta graça! Alegra-te, tu que te vês falho de confiança e de certezas, porque não estás sozinho, não estás sozinha: Cristo nasceu para ti! Alegra-te, tu que perdeste a esperança, porque Deus te estende a mão: não aponta o dedo contra ti, mas oferece-te a sua mãozinha de Menino para te libertar dos medos, aliviar-te dos cansaços e mostrar-te que, aos olhos d’Ele, vales mais do que qualquer outra coisa. Alegra-te, tu que tens a paz no coração, porque se cumpriu para ti a antiga profecia de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (...) e o seu nome é: (...) Príncipe da paz» (Is 9,5). A Sagrada Escritura revela que a sua paz, o seu reino «não terá fim» (Is 9,6).

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Mensagem do Papa Francisco: Jornada Mundial da Juventude 2023

Após a 37ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), celebrada em Lisboa (Portugal) no último mês de agosto (transferida do ano de 2022), no próximo domingo, 26 de novembro de 2023, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, se celebra a nível diocesano a 38ª JMJ.

Confira a seguir a Mensagem do Papa Francisco para a ocasião, que dá início ao percurso rumo ao encontro com os jovens que se celebrará em Roma durante o Jubileu de 2025:

Papa Francisco
Mensagem para a XXXVIII Jornada Mundial da Juventude
26 de novembro de 2023
«Alegres na esperança» (Rm 12,12)

Queridos jovens!
No passado mês de agosto, encontrei centenas de milhares de vossos coetâneos que, vindos de todo o mundo, se reuniram em Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude. Nos dias da pandemia alimentamos, no meio de muitas incertezas, a esperança de que esta grande celebração do encontro com Cristo e com outros jovens pudesse se realizar. Esta esperança concretizou-se e, para mim e muitos de quantos lá estiveram presentes, superou todas as expectativas! Como foi lindo o nosso encontro em Lisboa! Uma verdadeira e real experiência de transfiguração, uma explosão de luz e alegria!

No final da Missa conclusiva no «Campo da Graça», indiquei a próxima etapa da nossa peregrinação intercontinental: Seoul, na Coreia, em 2027. Mas antes disso marquei encontro convosco em Roma, para o Jubileu dos Jovens em 2025, onde também vós sereis «peregrinos da esperança».


De fato, vós, jovens, sois a esperança jubilosa de uma Igreja e de uma humanidade sempre a caminho. Quero tomar-vos pela mão e, junto convosco, percorrer a senda da esperança. Quero falar convosco das nossas alegrias e esperanças, mas também das tristezas e angústias dos nossos corações e da humanidade que sofre (cf. Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes, n. 1). Nestes dois anos de preparação para o Jubileu, meditaremos, primeiro, sobre a expressão paulina «Alegres na esperança» (Rm 12,12) e, depois, aprofundaremos a frase do profeta Isaías: «Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar» (cf. Is 40,31).

Donde vem esta alegria?

«Alegres na esperança» (Rm 12,12) é uma exortação de São Paulo à comunidade de Roma, que se encontra em um período de intensa perseguição. E na realidade a «alegria na esperança», pregada pelo Apóstolo, brota do Mistério Pascal de Cristo, da força da sua Ressurreição. Não é fruto do esforço humano, do engenho ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo. A alegria cristã vem do próprio Deus, de nos sabermos amados por Ele.