“Voltai-vos para mim, diz o Senhor dos exércitos, e Eu me voltarei para vós” (Zc 1,3).
Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade a esta
proposta com dois livros proféticos que remontam ao século VI a. C.: o Livro
de Ageu (Ag) e os capítulos 1–8 do
Livro de Zacarias (Zc).
1. Breve introdução aos Livros de Ageu e Zacarias 1–8
Como vimos em nossa postagem sobre os
Livros de Esdras e Neemias,
em 539 a. C. o rei persa Ciro II derrotou o Império Babilônico, decretando o
fim do exílio do povo de Israel e autorizando a reconstrução do Templo de
Jerusalém, que havia sido destruído em 587 a. C.
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Profeta Ageu (James Tissot) |
O início dos Livros de
Ageu e Zacarias no situa “no segundo ano do rei Dario” (cerca de 520
a. C.). Dario I, com efeito, deu continuidade à política de Ciro II,
incentivando o retorno dos exilados.
A reconstrução do Templo, porém, enfrentou várias
dificuldades. Assim, os profetas Ageu e Zacarias - citados duas vezes no Livro de Esdras (Esd 5,1; 6,14) - motivaram o povo a prosseguir
os trabalhos (que só seriam concluídos em 515 a. C.), exortando o governador
Zorobabel e o sumo-sacerdote Josué.
O Livro de Ageu, com apenas dois
capítulos, pode ser subdividido em quatro seções que se intercalam:
- Seções A (Ag 1,1-15) e C (Ag 2,10-19): o
povo se preocupa apenas em construir belas casas para si, por isso “os céus se
fecharam”; se retomarem os trabalhos do Templo, Deus os abençoará;
- Seções B (Ag 2,1-9) e D (Ag 2,20-23):
promessas escatológicas - a glória do novo Templo superará o antigo e Deus
protegerá seu povo das nações inimigas.
Quanto ao Livro de Zacarias, suas grandes
diferenças permitem identificar a existência de dois livros, de autores e
épocas diferentes:
- Zc 1–8: “Proto-Zacarias” (Primeiro Zacarias),
contemporâneo de Ageu, preocupado com o Templo;
- Zc 9–14: “Dêutero-Zacarias” (Segundo Zacarias),
provavelmente do século IV a. C., com uma série de profecias messiânicas.
a) Zc 1–6: após um breve prólogo exortando à
conversão (Zc 1,1-6), são descritas oito visões (Zc 1,7–6,8),
concluindo com uma “coroação” (Zc 6,9-15);
b) Zc 7–8: oráculos sobre o jejum e a salvação messiânica.
As visões da primeira parte, marcadas pela linguagem
simbólica própria da literatura apocalíptica, provavelmente eram na sua origem
sete, em círculos concêntricos. O núcleo está na visão do candelabro, símbolo
do Templo reconstruído, e das duas oliveiras, aqueles que são ungidos para
protegê-lo, isto é, os reis e sacerdotes.
O Templo ocupa efetivamente o centro da narrativa: a partir dele tudo o
mais será restaurado, “o Senhor voltará” e a iniquidade será desterrada.
A quarta visão (cap. 3) é provavelmente um acréscimo
posterior, para destacar a atuação dos sacerdotes. Da mesma forma, Zc
6,9-15 provavelmente seria a princípio um relato de coroação de Zorobabel, como uma espécie
de restauração da monarquia, que teria sido alterado para dar ênfase a Josué,
ou seja, ao sacerdócio.
Na segunda parte do Proto-Zacarias (cap. 7–8) a grande
questão é o jejum: este deve ser acompanhado pela prática da justiça (
Zc
7,9-10), sendo ocasião também para a alegria (
Zc 8,18-19). A referência
aos quatro jejuns ao longo do ano (
Zc 8,19) inspiraria a
tradição cristã das “
Quatro Têmporas”.
Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da
postagem.
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Profeta Zacarias (James Tissot) |
2. Leitura litúrgica de Ageu e Zacarias 1–8: Composição harmônica
Como fizemos com os demais livros estudados nesta série,
analisaremos a presença de Ageu e Zacarias 1–8 nas celebrações litúrgicas do Rito Romano seguindo os dois critérios de
seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco
das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua
[1].
Começamos pela leitura em composição harmônica: a escolha do texto em sintonia com o tempo ou a festa litúrgica.
a) Celebração Eucarística
Seguindo o ciclo do Ano Litúrgico, antes ainda de entrarmos
nas leituras, cabe destacar duas antífonas do Livro de
Ageu indicadas para o Tempo do Advento: