Mostrando postagens com marcador Homilias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Homilias. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Homilia do Papa: Canonização de dois novos Santos (2025)

Santa Missa e Canonização dos Beatos Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis
Homilia do Papa Leão XIV
Praça de São Pedro
Domingo, 07 de setembro de 2025

Foi celebrada a Missa do XXIII Domingo do Tempo Comum (Ano C).

Queridos irmãos e irmãs,
Na 1ª leitura ouvimos uma pergunta:  Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio [Senhor], sem que lhe desses sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito?» (Sb 9,17). Ouvimos essa pergunta depois que dois jovens Beatos, Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, foram proclamados Santos, e isso é providencial. Com efeito, no Livro da Sabedoria essa pergunta é atribuída justamente a um jovem como eles: o rei Salomão. Ele, com a morte de Davi, seu pai, percebeu que tinha muitas coisas: poder, riqueza, saúde, juventude, beleza e realeza. Mas justamente essa grande abundância de meios fez surgir em seu coração outra pergunta: “O que devo fazer para que nada disso se perca?”. E compreendeu que a única maneira de encontrar uma resposta era pedir a Deus um dom ainda maior: a sua sabedoria, para conhecer os seus projetos e aderir fielmente a eles. Na verdade, ele percebeu que só assim tudo encontraria o seu lugar no grande desígnio do Senhor. Sim, porque o maior risco da vida é desperdiçá-la fora do projeto de Deus.

Também Jesus, no Evangelho, fala-nos de um projeto ao qual devemos aderir totalmente. Ele diz: «Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo» (Lc 14,27); e ainda: «Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo» (v. 33). Assim, convida-nos a aderir sem hesitação à aventura que Ele nos propõe, com a inteligência e a força que vêm do seu Espírito e que podemos acolher na medida em que nos despojamos de nós mesmos, das coisas e ideias às quais estamos apegados, para nos colocarmos à escuta da sua palavra.


Muitos jovens, ao longo dos séculos, tiveram de enfrentar esta encruzilhada na vida. Pensemos em São Francisco de Assis: tal como Salomão, também ele era jovem e rico, sedento de glória e fama. Por isso partiu para a guerra, na esperança de ser nomeado “cavaleiro” e cobrir-se de honras. Mas Jesus apareceu-lhe ao longo do caminho e fez-lhe refletir sobre o que estava fazendo. Recuperando a lucidez, dirigiu a Deus uma pergunta simples: «Senhor, o que queres que eu faça?» [1]. E a partir daí, voltando atrás, começou a escrever uma história diferente: a maravilhosa história de santidade que todos conhecemos, despojando-se de tudo para seguir o Senhor (cf. Lc 14,33), vivendo na pobreza e preferindo o amor pelos irmãos, especialmente os mais fracos e pequenos, ao ouro, à prata e aos tecidos preciosos do seu pai.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Homilia do Papa: Missa com os agostinianos (2025)

Missa de Abertura do Capítulo Geral dos Agostinianos
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de Santo Agostinho “in Campo Marzio”, Roma
Segunda-feira, 01 de setembro de 2025

Foi celebrada a Missa votiva do Espírito Santo, com suas leituras.

Em inglês:
Meus queridos irmãos e irmãs,
Padre Alejandro Moral, Prior Geral, irmãos no Episcopado, Luis e Wilder [1], e todos vós, meus irmãos agostinianos, irmãos e irmãs aqui presentes. Antes de iniciar a homilia formal que está preparada, gostaria apenas de saudar todos vós. E para aqueles que compreendem inglês, mas não compreendem italiano: rezai para receber um dom do Espírito Santo! E talvez, durante este breve momento de reflexão sobre a Palavra de Deus e sobre o que o Senhor pede a todos vós, vós que estais prestes a iniciar este Capítulo Geral Ordinário, que vos seja concedido, não necessariamente o dom de compreender ou falar todas as línguas, mas o dom de ouvir, o dom de ser humilde e o dom de promover a unidade, dentro da Ordem e por toda a Ordem, em toda a Igreja e no mundo.

Em italiano:
Celebramos esta Eucaristia no início do Capítulo Geral, momento de graça para a Ordem Agostiniana e momento de graça para toda a Igreja.

Nesta Missa votiva do Espírito Santo, peçamos que seja Ele, pelo qual o amor de Cristo habita nos nossos corações (cf. Rm 5,5), a guiar dia a dia o vosso trabalho.


Um autor antigo, falando do Pentecostes (cf. At 2,1-11), descreve-o como uma «abundante e irresistível prevalência do Espírito» (Dídimo o Cego, De Trinitate, 6, 8: PG 39, 533). Peçamos ao Senhor que assim seja também para vós: que o seu Espírito prevaleça sobre toda a lógica humana, de forma “abundante e irresistível”, para que a Terceira Pessoa divina se torne verdadeiramente protagonista dos dias que virão.

O Espírito Santo fala, hoje como no passado. Ele o faz “in penetralia cordis” [no interior do coração] e através dos irmãos e das circunstâncias da vida. Por isso é importante que o clima do Capítulo, em harmonia com a tradição secular da Igreja, seja um clima de escuta, escuta de Deus, escuta dos outros.

sábado, 23 de agosto de 2025

Homilia: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Sermão anônimo do século IX
“Que ninguém se desespere pela gravidade dos seus pecados”

Irmãos, ouvistes com frequência falar que existem dois homens: Adão e Cristo. Adão é o homem velho, Cristo é o novo. Portanto, aquele que é mau é velho, por imitação daquele que, no paraíso, foi soberbo e desobediente. Porém, aquele que é bom é novo, por sua imitação d’Aquele que disse: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e do qual o Apóstolo disse: Humilhou-se até a morte.

Entretanto, como este tempo em que vivemos é chamado novo, admoestamos aos que são velhos por sua má vida, a que se façam novos por sua boa conduta. Exortamos aos que já são novos por suas boas obras, que tratem de renovar-se, neste tempo novo, por obras cada vez melhores. Por exemplo, aquele que é novo pela castidade abstendo-se de atos impuros, que se renove renunciando ao próprio deleite desses atos. Paralelamente, aquele que é humilde e obediente, misericordioso e paciente, é necessário que se renove rezando todos os dias e progredindo nessas mesmas virtudes, segundo o que está escrito: Caminharão de virtude em virtude.

Caríssimos, que nenhum de vós se creia seguro pelo fato de ter sido batizado, porque assim como nem todos os que estão no estádio correndo levam a coroa, isto é, o prêmio, mas unicamente aquele que chega por primeiro, assim também nem todos os que têm fé se salvam, mas unicamente os que perseveram na boa obra começada. E assim como o que compete com outro se impõe todo tipo de privações, assim também vós deveis abster-vos de todos os vícios, para poder superar o diabo, vosso perseguidor. E visto que o Senhor já vos chamou pela fé para sua vinha, a saber, para a unidade da santa Igreja, vivei e comportai-vos de maneira que possais receber, da liberalidade de Deus, o denário, isto é, a felicidade do Reino.

Que ninguém desespere pela gravidade dos seus pecados, dizendo: são tantos os pecados com os quais me envolvi até a velhice e a idade senil, que já não posso pensar em merecer o perdão, ainda mais tendo em conta que foram os pecados que me abandonaram e não eu a eles. Em absolto, este tal não deve desesperar da misericórdia de Deus, porque alguns são chamados para a vinha de Deus ao amanhecer, outros no meio da manhã, outros ao meio-dia, outros no meio da tarde e outros ao anoitecer, ou seja, alguns são chamados ao serviço de Deus na infância, outros na adolescência, outros na juventude, outros na velhice e outros na idade senil.

E assim como ninguém deve desesperar em razão da idade, se quer se converter a Deus, assim ninguém deve sentir-se seguro baseado somente na fé; antes, deve sentir verdadeiro horror pelo que está escrito: Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos. Que fomos chamados pela fé, o sabemos; porém ignoramos se somos dos escolhidos. Assim, tanto mais humilde há de ser cada um quanto ignore se foi escolhido.

Que Deus todo-poderoso vos conceda não ser do número daqueles que passaram o Mar Vermelho a pé enxuto, comeram o maná do deserto, beberam a bebida espiritual e acabaram morrendo naquele mesmo deserto por causa de suas murmurações; mas sim daqueles outros que entraram na terra prometida e, trabalhando fielmente na vinha da Igreja, mereceram receber o denário da felicidade eterna; assim podereis, junto com Cristo, vossa Cabeça, de cujo Corpo sois membros, reinar por todos os séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 700-702. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo clicando aqui.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Homilia do Papa: XX Domingo do Tempo Comum - Ano C (2025)

Missa do XX Domingo do Tempo Comum (Ano C)
Homilia do Papa Leão XIV
Santuário de Santa Maria della Rotonda, Albano
Domingo, 17 de agosto de 2025

Queridos irmãos e irmãs,
É uma alegria estarmos juntos celebrando a Eucaristia dominical, que nos dá uma alegria ainda mais profunda. Se hoje, com efeito, já é um dom estar próximos e vencer a distância olhando-nos nos olhos como verdadeiros irmãos e irmãs, um dom ainda maior é, no Senhor, vencer a morte. Jesus venceu a morte - o domingo é o seu dia, o dia da Ressurreição - e nós já começamos a vencê-la com Ele. É precisamente assim: cada um de nós vem à igreja com alguns cansaços e medos - às vezes pequenos, outras vezes grandes - e imediatamente sentimo-nos menos sozinhos, estamos juntos e encontramos a Palavra e o Corpo de Cristo. Deste modo, o nosso coração recebe uma vida que vai para além da morte. É o Espírito Santo, o Espírito do Ressuscitado, que faz isto entre nós e em nós, silenciosamente, domingo após domingo, dia após dia.


Estamos em um antigo santuário cujas paredes nos abraçam. Chama-se «Rotonda» e a sua forma circular, tal como a Praça de São Pedro e outras igrejas antigas e novas, faz-nos sentir acolhidos no colo de Deus. Do lado de fora, a Igreja, como qualquer realidade humana, pode parecer cheia de arestas. Porém, a sua realidade divina manifesta-se quando atravessamos a soleira e encontramos acolhimento. Então, a nossa pobreza, a nossa vulnerabilidade e, sobretudo, os fracassos pelos quais podemos ser desprezados e julgados - e, por vezes, nós mesmos nos desprezamos e julgamos -, são finalmente acolhidos na doce força de Deus, um amor sem arestas, incondicional. Maria, a Mãe de Jesus, é para nós sinal e antecipação da “maternidade” de Deus. Nela tornamo-nos uma Igreja mãe, que gera e regenera não em virtude de um poder mundano, mas com a virtude da caridade.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Homilia do Papa: Assunção de Maria (2025)

Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria
Homilia do Papa Leão XIV
Paróquia Santo Tomás de Villanova, Castel Gandolfo
Sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Irmãos e irmãs caríssimos,
Hoje não é domingo, mas estamos celebrando de maneira distinta a Páscoa de Jesus, que muda a história. Em Maria de Nazaré está a nossa história, está a história da Igreja imersa na humanidade comum. Tendo se encarnado nela, o Deus da vida, o Deus da liberdade venceu a morte. Sim, hoje contemplamos como Deus vence a morte, sem nunca prescindir de nós. É d’Ele o Reino, mas o “sim” ao seu amor, que tudo pode mudar, é nosso. Na cruz, Jesus pronunciou livremente o “sim” que deveria esvaziar o poder da morte, aquela morte que continua a se alastrar quando as nossas mãos crucificam e os nossos corações estão prisioneiros do medo e da desconfiança. Na cruz, venceu a confiança, venceu o amor que vê o que ainda não existe, venceu o perdão.

E Maria estava presente: estava lá, unida ao Filho. Hoje podemos intuir que Maria somos nós quando não fugimos, somos nós quando respondemos com o nosso “sim” ao seu “sim”. Nos mártires do nosso tempo, nas testemunhas da fé e da justiça, da mansidão e da paz, aquele “sim” continua vivo e ainda contrasta a morte. Assim, este dia de alegria é um dia que nos compromete a escolher como e para quem viver.


A Liturgia desta solenidade da Assunção propôs-nos o trecho evangélico da Visitação (Lc 1,39-56). Nessa passagem, São Lucas transmite a memória de um momento crucial na vocação de Maria. É bonito voltar a esse momento no dia em que celebramos a meta da sua existência. Na terra, todas as histórias, mesmo a da Mãe de Deus, são breves e têm um fim. No entanto, nada se perde. Assim, quando uma vida se encerra, a sua unicidade brilha com mais clareza. O Magnificat, que o Evangelho coloca nos lábios da jovem Maria, agora irradia a luz de todos os seus dias. Um único dia, o do encontro com a sua prima Isabel, contém o segredo de todos os outros dias, de todas as outras estações. E as palavras não bastam: é preciso um cântico, que na Igreja continua a ser cantado, «de geração em geração» (v. 50), ao pôr do sol de cada dia. A surpreendente fecundidade da estéril Isabel confirmou Maria na sua confiança: antecipou a fecundidade do seu “sim”, que se prolonga na fecundidade da Igreja e de toda a humanidade, quando a Palavra renovadora de Deus é acolhida. Naquele dia, duas mulheres encontraram-se na fé e, depois, permaneceram juntas três meses apoiando-se mutuamente, não só nas coisas práticas, mas em uma nova maneira de ler a história.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Homilia do Papa Bento XVI: Assunção de Maria (2005)

Nesta Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria (que no Brasil é transferida para o domingo) recordamos a homilia e a meditação durante o Ângelus proferidas pelo Papa Bento XVI (†2022) nesta ocasião há 20 anos, no dia 15 de agosto de 2005.

O “Papa alemão” centrou sua homilia no cântico da Virgem Maria, o Magnificat (Lc 1,46-55):

Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria
Homilia do Papa Bento XVI
Paróquia de Santo Tomás de Villanova, Castel Gandolfo
Segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Caros irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs,
Antes de tudo dirijo uma cordial saudação a todos vós. É uma grande alegria para mim celebrar a Missa nesta bela igreja paroquial no dia da Assunção. Saúdo o Cardeal Angelo Sodano, o Bispo de Albano, todos os sacerdotes, o Presidente da Câmara e todos vós. Obrigado pela vossa presença. A festa da Assunção é um dia de alegria. Deus venceu. O amor venceu. Venceu a vida. Mostrou-se que o amor é mais forte do que a morte. Que Deus tem a verdadeira força e a sua força é bondade e amor.

Maria foi elevada ao céu em corpo e alma: também para o corpo existe um lugar em Deus. Para nós o céu já não é uma esfera muito distante e desconhecida. No céu temos uma Mãe. E a Mãe de Deus, a Mãe do Filho de Deus, é a nossa Mãe. Ele mesmo o disse. Ele constituiu-a nossa Mãe, quando disse ao discípulo e a todos nós: “Eis a tua Mãe!” (Jo 19,27). No céu temos uma Mãe. O céu está aberto, o céu tem um coração.


No Evangelho (Lc 1,39-56) ouvimos o Magnificat, esta grande poesia pronunciada pelos lábios, aliás, pelo coração de Maria, inspirada pelo Espírito Santo. Neste cântico maravilhoso reflete-se toda a alma, toda a personalidade de Maria. Podemos dizer que este seu cântico é um retrato, é um verdadeiro ícone de Maria, no qual podemos vê-la precisamente como é. Gostaria de realçar somente dois aspectos desse grande cântico. Ele inicia com a palavra “Magnificat”: a minha alma “engrandece” o Senhor, ou seja, “proclama grande” o Senhor. Maria deseja que Deus seja grande no mundo, seja grande na sua vida, esteja presente entre todos nós. Não teme que Deus possa ser um “concorrente” na nossa vida, que possa tirar algo da nossa liberdade, do nosso espaço vital com a sua grandeza. Ela sabe que, se Deus é grande, também nós somos grandes. A nossa vida não é oprimida, mas elevada e alargada: justamente então torna-se grande no esplendor de Deus.

sábado, 9 de agosto de 2025

Homilia do Papa: Jubileu dos Jovens (2025)

Jubileu dos Jovens
Homilia do Papa Leão XIV
Universidade Tor Vergata, Roma
Domingo, 03 de agosto de 2025

Foi celebrada a Missa do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C).

Queridos jovens,
Depois da Vigília que vivemos juntos ontem à noite, reunimo-nos hoje para celebrar a Eucaristia, Sacramento do dom total de si mesmo que o Senhor fez por nós. Nesta experiência, podemos imaginar que estamos percorrendo o caminho feito pelos discípulos de Emaús na tarde da Páscoa (cf. Lc 24,13-35): antes, eles se afastavam de Jerusalém assustados e desiludidos; partiam convencidos de que, após a morte de Jesus, não havia mais nada a aguardar, nada em que esperar. Em vez disso, encontraram precisamente Ele, acolheram-no como companheiro de viagem, ouviram-no explicar-lhes as Escrituras e, finalmente, reconheceram-no ao partir o pão. Os seus olhos abriram-se e o anúncio alegre da Páscoa encontrou lugar nos seus corações.

A Liturgia de hoje não nos fala diretamente sobre este episódio, mas ajuda-nos a refletir sobre o que nele se narra: o encontro com Cristo Ressuscitado que muda a nossa existência e que ilumina os nossos afetos, desejos e pensamentos.


A 1ª leitura, tirada do Livro do Eclesiastes, convida-nos a entrar em contato, como os dois discípulos de que falamos, com a experiência dos nossos limites, da finitude das coisas que passam (cf. Ecl 1,2; 2,21-23); e o Salmo responsorial, que ecoa a mesma mensagem, propõe-nos a imagem da erva que «de manhã floresce vicejante, mas à tarde é cortada e logo seca» (Sl 89,6). São duas advertências fortes, talvez um pouco chocantes, mas que não devem nos assustar, como se fossem temas “tabu” a evitar. Na verdade, a fragilidade de que nos falam faz parte da maravilha que somos. Pensemos no símbolo da erva: não é lindo um campo florido? Claro, é delicado, feito de caules finos, vulneráveis, sujeitos a secar, dobrar-se, partir-se, mas, ao mesmo tempo, imediatamente substituídos por outros que brotam depois deles e dos quais os primeiros se tornam generosamente alimento e adubo, ao se desfazerem no solo. É assim que vive o campo, renovando-se continuamente e, mesmo durante os meses gelados do inverno, quando tudo parece silencioso, a sua energia vibra sob a terra e prepara-se para, na primavera, explodir em milhares de cores.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Homilia do Papa: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano C (2025)

Missa do XVI Domingo do Tempo Comum (Ano C)
Homilia do Papa Leão XIV
Catedral de São Pancrácio, Albano
Domingo, 20 de julho de 2025

Queridos irmãos e irmãs,
Estou muito feliz por me encontrar hoje aqui, celebrando a Eucaristia dominical nesta linda Catedral. Como sabeis, a minha chegada estava prevista para o dia 12 de maio, porém o Espírito Santo fez de modo diverso [1]. Mas estou verdadeiramente feliz e, com esta fraternidade e alegria cristã, saúdo todos os presentes, Sua Eminência [Cardeal Michael Czerny], o Bispo da Diocese [Dom Vincenzo Viva], as autoridades presentes e todos vós.

Na Liturgia hodierna a 1ª leitura e o Evangelho falam-nos de hospitalidade, de serviço e de escuta (Gn 18,1-10a; Lc 10,38-42).

No primeiro caso, Deus visita Abraão na pessoa de «três homens» que se dirigem à sua tenda «no maior calor do dia» (Gn 18,1-2). Podemos imaginar a cena: o sol escaldante, a calma do deserto, o calor intenso e os três desconhecidos que procuram abrigo. Abraão, «sentado à entrada da sua tenda», está no lugar de anfitrião, e é muito bonito ver como exerce a sua função: reconhecendo nos visitantes a presença de Deus, levanta-se, corre ao seu encontro, prostra-se por terra, pede-lhes que se detenham. E assim, toda a cena ganha vida. A tranquilidade da tarde é preenchida com gestos de amor que envolvem não só o Patriarca, mas também Sara, sua mulher, e os servos. Abraão já não está sentado, mas «de pé, junto deles, debaixo da árvore» (v. 8), e aí Deus lhe dá a notícia mais bonita que poderia esperar: «Sara, tua mulher, terá um filho» (v. 10).


A dinâmica deste encontro pode nos fazer refletir: Deus escolhe o caminho da hospitalidade para encontrar Sara e Abraão e para lhes anunciar o dom da sua fecundidade, que eles tanto desejavam e já nem sequer esperavam. Depois de tantos momentos de graça em que anteriormente os tinha visitado, volta a bater à sua porta, pedindo acolhida e confiança. E aqueles dois idosos respondem positivamente, sem saber ainda o que está para acontecer. Reconhecem nos misteriosos visitantes a bênção divina, a sua própria presença. Oferecem-lhe o que têm - comida, companhia, serviço e a sombra de uma árvore -, e recebem a promessa de uma vida nova e de uma descendência.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: Santa Maria Madalena (2000)

Há 25 anos, no dia 22 de julho do ano 2000, o Papa São João Paulo II (†2005) celebrou a Missa da Memória de Santa Maria Madalena (elevada a Festa em 2016) na localidade de Les Combes, na Diocese de Aosta (Itália), onde estava passando suas férias. Reproduzimos aqui sua breve homilia na ocasião:

Memória de Santa Maria Madalena
Concelebração Eucarística com os sacerdotes da Diocese de Aosta
Homilia do Papa João Paulo II
Les Combes
Sábado, 22 de julho de 2000

1. Caríssimos sacerdotes da Diocese de Aosta, sinto particular alegria ao celebrar juntamente convosco esta Santa Missa, no final da minha permanência entre as vossas montanhas. Saúdo todos vós com grande afeto e de modo especial o vosso Bispo [Dom Giuseppe Anfossi], a quem agradeço de coração as inúmeras expressões de consideração que reservou a mim e aos meus colaboradores.

Celebramos a Memória de Santa Maria Madalena e a Liturgia é hoje caracterizada por uma espécie de movimento, de “corrida” do coração e do espírito, animados pelo amor de Cristo. As palavras de São Paulo: “caritas Christi urget nos” - “o amor de Cristo nos impele” (2Cor 5,14), que escutamos há pouco na leitura, podem e devem inspirar a vida de cada sacerdote, assim como distinguiram a de Maria Madalena.

Madalena seguiu até o Calvário aquele que a curara. Esteve presente na crucificação, morte e sepultura de Jesus. Juntamente com a Mãe santíssima e o discípulo amado acolheu o seu último suspiro e o silencioso testemunho do lado transpassado: compreendeu que naquela morte, naquele sacrifício estava a sua salvação. E o Ressuscitado, como nos narra o Evangelho de hoje (Jo 20,1-2.11-18), quis mostrar o seu corpo glorioso antes de tudo a ela, que chorou intensamente a sua morte. A ela quis confiar “o primeiro anúncio da alegria pascal” (Coleta), como que recordando-nos que precisamente a quem, com fé e amor, fixa o olhar no mistério da Paixão e Morte do Senhor, se manifesta a luminosa glória da sua Ressurreição.

2. Maria Madalena ensina-nos assim que as raízes da nossa vocação de apóstolos se aprofundam na experiência pessoal de Cristo. No encontro com Ele tem origem um novo modo de viver não mais para si mesmo, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós (cf. 2Cor 5,15), abandonando o homem velho para se conformar de modo sempre mais pleno a Cristo, Homem novo.

Este ensinamento de vida destina-se com especial eloquência a nós, pastores da Igreja, chamados a guiar o Povo de Deus com a palavra, mas antes de tudo com o testemunho da vida. E, portanto, chamados a uma intimidade maior com Cristo, que nos escolheu como amigos: “vos autem dixi amicos” - “Eu vos chamo amigos” (Jo 15,15).

Caríssimos irmãos no sacerdócio, faço votos de que cada um de vós mantenha sempre viva a própria comunhão com Cristo. O seu amor vos incentive no vosso apostolado, não só nas grandes ocasiões, mas sobretudo naquelas ordinárias, nas vicissitudes de cada dia. A íntima união com Deus, alimentada pela Santa Missa, pela Liturgia das Horas, pela oração pessoal, move o sacerdote a exercer com fé e caridade o seu ministério pastoral. É precisamente nesta intimidade com Jesus que reside o segredo da sua missão.

Oremos, no decurso desta Celebração Eucarística, para que o Senhor nos torne ministros dignos da sua graça. Invoquemo-lo, por intercessão de Santa Maria Madalena, a fim de que, através de vós, caríssimos sacerdotes, chegue aos residentes e aos visitantes desta região o incessante anúncio da Morte e Ressurreição de Cristo. Deus, que enriqueceu de estupendas belezas naturais o Vale de Aosta, alimente com o seu Espírito a fé de quantos nele habitam. E a Virgem Santa vele maternalmente sobre vós e sobre o serviço apostólico que sois chamados a prestar com constante generosidade, tornando-o rico de abundantes frutos de bem.

Encontro de Maria Madalena com o Ressuscitado
(Andrea di Bonaiuto)

Fonte: Santa Sé.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Homilia do Papa: XV Domingo do Tempo Comum - Ano C (2025)

Missa do XV Domingo do Tempo Comum (Ano C)
Homilia do Papa Leão XIV
Paróquia Santo Tomás de Villanova, Castel Gandolfo
Domingo, 13 de julho de 2025

Irmãos e irmãs,
Compartilho convosco a alegria de celebrar esta Eucaristia e desejo saudar todos os presentes, a comunidade paroquial, os sacerdotes, o Bispo da Diocese [de Albano, Dom Vincenzo Viva], Sua Eminência [Cardeal Michael Czerny], as autoridades civis e militares.

O Evangelho deste domingo, que acabamos de ouvir, é uma das mais belas e inspiradoras parábolas contadas por Jesus. Todos conhecemos a parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37).

Esta história continua a nos desafiar hoje. Ela interpela a nossa vida, abala a tranquilidade das nossas consciências adormecidas ou distraídas e nos alerta para o risco de uma fé acomodada, conformada com a observância exterior da lei, mas incapaz de sentir e agir com as mesmas entranhas de compaixão de Deus.


A compaixão, com efeito, está no centro da parábola. E se é verdade que no relato evangélico ela é descrita por meio das ações do samaritano, a primeira coisa que o trecho destaca é o olhar. Na verdade, diante de um homem ferido que se encontra à beira da estrada, depois de ter sido atacado por assaltantes, tanto do sacerdote como do levita, diz: «Viu o homem e seguiu adiante» (v. 32); ao contrário, do samaritano, o Evangelho diz: «viu e sentiu compaixão» (v. 33).

Queridos irmãos e irmãs, o olhar faz a diferença, porque expressa aquilo que trazemos no coração: ver e seguir adiante ou ver e sentir compaixão. Existe um modo de ver exterior, distraído e apressado, um olhar que finge não ver, isto é, sem nos deixarmos sensibilizar e interpelar pela situação; por outro lado, há um modo de ver com os olhos do coração, com um olhar mais profundo, com uma empatia que nos põe no lugar do outro, nos faz participar interiormente, nos toca, comove, questiona a nossa vida e a nossa responsabilidade.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Homilia do Papa: Missa pelo cuidado da criação (2025)

Missa pelo cuidado da criação
Homilia do Papa Leão XIV
Borgo Laudato si’, Castel Gandolfo
Quarta-feira, 09 de julho de 2025

Foi celebrada a nova Missa pelo cuidado da criação com suas leituras (Cl 1,15-20; Sl 103; Mt 8,23-27) [1].

Neste lindo dia, antes de tudo gostaria de convidar todos, começando por mim mesmo, a viver o que estamos celebrando na beleza de uma “catedral”, que poderíamos dizer “natural”, com as plantas e tantos elementos da criação que nos conduziram aqui para celebrar a Eucaristia, que significa: dar graças ao Senhor.

Há muitos motivos pelos quais queremos agradecer ao Senhor nesta Eucaristia: esta poderia ser a primeira celebração com o uso do novo formulário da Santa Missa pelo cuidado da criação, que é expressão do trabalho dos diferentes Dicastérios do Vaticano.

A título pessoal, agradeço a tantas pessoas aqui presentes, que trabalharam neste sentido para a Liturgia. Como sabeis, a Liturgia representa a vida e vós sois a vida deste Centro Laudato si’. Gostaria de vos agradecer neste momento, nesta ocasião, por tudo o que fazem seguindo esta belíssima inspiração do Papa Francisco, que deu esta pequena porção dos jardins precisamente para continuar a tão importante missão relacionada com tudo o que conhecemos após 10 anos da publicação da Laudato si’: a necessidade de cuidar da criação, da casa comum.


Aqui é como nas igrejas antigas dos primeiros séculos, que tinham uma pia batismal pela qual era preciso passar para entrar na igreja. Não gostaria de ser batizado nesta água, mas o símbolo de passar pela água para que todos sejamos lavados dos nossos pecados, das nossas fraquezas, e assim poder entrar no grande mistério da Igreja, é algo que vivemos também hoje. No início da Missa rezamos pela conversão, a nossa conversão. Gostaria de acrescentar que devemos rezar pela conversão de tantas pessoas, dentro e fora da Igreja, que ainda não reconhecem a urgência de cuidar da nossa casa comum.

Inúmeros desastres naturais que ainda vemos no mundo quase todos os dias em muitos lugares e em muitos países são em parte causados pelos excessos do ser humano, com o seu estilo de vida. Por isso, devemos nos perguntar se nós mesmos estamos vivendo ou não essa conversão: quanto ela é necessária!

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Homilia do Papa: São Pedro e São Paulo (2025)

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Santa Missa e Imposição do Pálio aos novos Arcebispos Metropolitanos
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Domingo, 29 de junho de 2025

Queridos irmãos e irmãs,
Hoje celebramos dois irmãos na fé, Pedro e Paulo, que reconhecemos como colunas da Igreja e veneramos como patronos da Diocese e da cidade de Roma.

A história destes dois Apóstolos interpela-nos de perto também a nós, Comunidade peregrina dos discípulos do Senhor no nosso tempo. Em particular, olhando para o seu testemunho, gostaria de sublinhar dois aspectos: a comunhão eclesial e a vitalidade da fé.

Em primeiro lugar, a comunhão eclesial. A Liturgia desta Solenidade mostra-nos como Pedro e Paulo foram chamados a viver um único destino, o do martírio, que os associou definitivamente a Cristo. Na 1ª leitura encontramos Pedro que, na prisão, aguarda a execução da sentença (At 12,1-11); na 2ª leitura, o Apóstolo Paulo afirma, em uma espécie de testamento e estando também ele preso, que o seu sangue está prestes a ser derramado e oferecido a Deus (2Tm 4,6-8.17-18). Assim, tanto Pedro como Paulo dão a vida pela causa do Evangelho.


No entanto, esta comunhão na única profissão de fé não é uma conquista pacífica. Os dois Apóstolos alcançam-na como uma meta à qual chegam depois de um longo caminho, no qual cada um abraçou a fé e viveu o apostolado de forma diferente. A sua fraternidade no Espírito não apaga as diferenças de onde partiram: Simão era um pescador da Galileia, Saulo um intelectual rigoroso pertencente ao grupo dos fariseus; o primeiro deixa imediatamente tudo para seguir o Senhor, o segundo persegue os cristãos até ser transformado por Cristo Ressuscitado; Pedro prega sobretudo aos judeus, Paulo é impelido a levar a Boa Nova aos gentios.

Como sabemos, não faltaram conflitos entre os dois no que diz respeito à relação com os pagãos, a ponto de Paulo afirmar: «Quando Cefas chegou a Antioquia, opus-me a ele abertamente, pois ele merecia censura» (Gl 2,11). E esta questão, como bem sabemos, será tratada no Concílio de Jerusalém, no qual os dois Apóstolos voltarão a confrontar-se.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Homilia do Papa: Jubileu dos Sacerdotes (2025)

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus (Ano C)
Santa Missa com Ordenações Presbiterais
Jubileu dos Sacerdotes
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 27 de junho de 2025

Hoje, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, celebramos com alegria esta Eucaristia no Jubileu dos Sacerdotes.

Dirijo-me, portanto, em primeiro lugar a todos vós, queridos irmãos sacerdotes, que viestes ao túmulo do Apóstolo Pedro para atravessar a Porta Santa e para mergulhar de novo as vossas vestes batismais e sacerdotais no Coração do Salvador. Para alguns dos presentes este gesto realiza-se em um dia único da sua vida: o da Ordenação.

Falar do Coração de Cristo neste contexto é falar de todo o mistério da Encarnação, Morte e Ressurreição do Senhor, confiado a nós de modo especial para que o tornemos presente no mundo. Por isso, à luz das leituras que escutamos, meditemos juntos sobre o modo como podemos contribuir para esta obra de salvação.


Na 1ª leitura (Ez 34,11-16), o profeta Ezequiel fala-nos de Deus como um pastor que passa pelo meio do seu rebanho, contando as suas ovelhas uma a uma: vai à procura das perdidas, cura as feridas, ampara as fracas e doentes. Assim nos recorda, em um tempo de grandes e terríveis conflitos, que o amor do Senhor, pelo qual somos chamados a deixar-nos abraçar e plasmar, é universal, e que, aos seus olhos - e consequentemente também aos nossos -, não há lugar para divisões e ódios de qualquer tipo.

Depois, na 2ª leitura (Rm 5,5-11), recordando-nos que Deus nos reconciliou «quando ainda éramos fracos» (v. 6) e «pecadores» (v. 8), São Paulo convida a abandonarmo-nos à ação transformadora do Espírito que habita em nós, em um caminho quotidiano de conversão. A nossa esperança baseia-se na certeza de que o Senhor não nos abandona, mas acompanha-nos sempre. Somos chamados, porém, a colaborar com Ele, primeiramente colocando a Eucaristia no centro da nossa existência, «fonte e ápice de toda a vida cristã» (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, n. 11); depois, «pela frutuosa recepção dos sacramentos, especialmente pela frequente recepção do sacramento da Penitência» (Decreto Presbyterorum ordinis, n. 18); e, finalmente, através da oração, da meditação da Palavra e do exercício da caridade, conformando cada vez mais o nosso coração ao do «Pai das misericórdias» (ibid.).

domingo, 29 de junho de 2025

Homilia do Papa Bento XVI: São Pedro e São Paulo (2005)

Nesta Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos, recordamos a homilia e a meditação durante o Ângelus proferidas pelo Papa Bento XVI (†2022) nesta ocasião há 20 anos.

Em sua homilia o Papa refletiu sobre as quatro notas da Igreja que professamos no Creio (Símbolo Niceno-Constantinopolitano): una, santa, católica e apostólica.

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Concelebração Eucarística e Imposição do Pálio aos novos Arcebispos Metropolitanos
Homilia do Papa Bento XVI
Basílica de São Pedro
Quarta-feira, 29 de junho de 2005

Queridos irmãos e irmãs!
1. A festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo é ao mesmo tempo uma grata memória das grandes testemunhas de Jesus Cristo e uma solene confissão em favor da Igreja una, santa, católica e apostólica.

Antes de tudo é uma festa da catolicidade. O sinal do Pentecostes tornou-se realidade: a nova comunidade que fala todas as línguas e une todos os povos em um único povo, em uma família de Deus. A nossa assembleia litúrgica, na qual estão reunidos Bispos provenientes de todas as partes do mundo, pessoas de diversas culturas e nações, é uma imagem da família da Igreja distribuída por toda a terra. Estrangeiros tornaram-se amigos; para além de todos os confins, reconhecemo-nos irmãos. Com isto se cumpre a missão de São Paulo, que sabia ser “ministro de Jesus Cristo entre os pagãos... oferenda bem aceita santificada no Espírito Santo” (Rm 15,16).

Note-se a imagem de São Pedro e São Paulo na mitra do Papa

A finalidade da missão é uma humanidade que se tornou uma glorificação viva de Deus, o culto verdadeiro que Deus espera: eis o sentido mais profundo da catolicidade - uma catolicidade que já nos foi dada e para a qual, todavia, devemos sempre nos encaminhar de novo. A catolicidade não exprime só uma dimensão horizontal, a reunião de muitas pessoas na unidade; exprime também uma dimensão vertical: só dirigindo o olhar para Deus, só abrindo-se a Ele podemos nos tornar verdadeiramente uma coisa só. Como Paulo, assim também Pedro veio a Roma, à cidade que era o lugar de convergência de todos os povos e que precisamente por isso podia se tornar, antes de qualquer outra, expressão da universalidade do Evangelho. Empreendendo a viagem de Jerusalém a Roma, ele certamente sabia que era guiado pelas vozes dos profetas, pela fé e pela oração de Israel.

sábado, 28 de junho de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: São Pedro e São Paulo (2000)

Celebrando a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos, recordamos a homilia e a meditação durante o Ângelus proferidas pelo Papa São João Paulo II (†2005) nesta ocasião há 25 anos, durante o Grande Jubileu do Ano 2000:

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Concelebração Eucarística e Imposição do Pálio aos Arcebispos Metropolitanos
Homilia do Papa João Paulo II
Praça de São Pedro
Quinta-feira, 29 de junho de 2000

1. E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16,15).
Jesus dirige aos discípulos esta pergunta sobre a sua identidade enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que fossem eles a dirigir perguntas a Jesus; agora é Ele que os interpela. A sua pergunta é precisa e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16).

A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro o Bispo de Roma, que por vontade divina é seu indigno sucessor. E em volta dele e com ele vos refletis nessas palavras também vós, queridos Arcebispos Metropolitanos, aqui reunidos de várias partes do mundo para receber o Pálio na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo.

A cada um de vós dirijo a minha mais cordial saudação que, de bom grado, estendo a quantos vos acompanharam a Roma e às vossas Comunidades, espiritualmente unidas a nós nesta solene circunstância.


2.Tu és o Cristo!”. À confissão de Pedro, Jesus responde: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (v. 17).
És feliz, Pedro! És feliz porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. Disse Jesus: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27).

Reflitamos sobre esta passagem do Evangelho particularmente densa: o Verbo encarnado revelou o Pai aos seus discípulos; agora é o momento que o próprio Pai lhes revele o seu Filho Unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: Sagrado Coração (Ano C)

No dia 02 de junho de 1989 o Papa João Paulo II (†2005) celebrou a Missa da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus no Centro Esportivo «Idrettsbygget» da Universidade Técnica de Trondheim (Noruega) durante sua Viagem Apostólica ao país.

Durante a celebração, que reuniu os fiéis da Noruega Central, um grupo de crianças recebeu a primeira Comunhão, como o Papa destaca em sua homilia, meditando as leituras da Solenidade para o Ano C (Ez 34,11-16; Sl 22; Rm 5,5b-11; Lc 15,3-7).

Viagem Apostólica a Noruega, Islândia, Finlândia, Dinamarca e Suécia
Celebração Eucarística
Homilia do Papa João Paulo II
Centro Esportivo «Idrettsbygget», Universidade Técnica de Trondheim (Noruega)
Sexta-feira, 02 de junho de 1989

Caros irmãos e irmãs da Noruega Central!
1. Estou verdadeiramente contente de celebrar a Solenidade do Sagrado Coração convosco, aqui em Trondheim. Viestes das comunidades de Alesund, Molde, Kristiansund, Levanger e Trondheim.
Muitos de vós contribuíram com muito trabalho para que esse dia fosse um sucesso. Estou feliz com isso e agradeço a todos!

Viestes, como os peregrinos de outrora, a esta venerável cidade de Nidaros (agora Trondheim, às relíquias de Santo Olaf, que anunciou uma nova era de Cristianismo e de unificação nesta terra, embora não tenha vivido o suficiente para poder ver os frutos do seu trabalho. Seu filho - Magnus, o Bom - construiu a primeira igreja de madeira neste lugar, que rapidamente se tornou uma meta de peregrinação. Já em 1060 se celebrava uma Liturgia em honra de Santo Olaf até mesmo em Northumberland, na Grã-Bretanha. Também na Igreja Ortodoxa a memória de Santo Olaf é muito venerada: à sua intercessão foi atribuída a sobrevivência da Guarda Imperial de Constantinopla em um momento de perigo, quando, sob o Imperador Aleixo, enfrentou os búlgaros em batalha.

Imagem do Bom Pastor com o Coração em destaque
(Basílica de São Lourenço fora dos muros, Roma)

A Eucaristia foi um ponto central para as inumeráveis pessoais que vieram aqui ao longo dos séculos. Na Eucaristia recebemos Cristo, que instituiu este sacramento para poder permanecer conosco e viver em nós. Poderia haver dom maior? Cristo redimiu o mundo com o sacrifício do seu Corpo e do seu Sangue. Fazendo isso, Ele nos deu o alimento e a bebida para a vida eterna. Este alimento sacramental, sob as espécies do pão e do vinho, realmente “restaura as nossas almas”. Com efeito, Ele nos guia pelo caminho da fé, da esperança e da caridade todos os dias da nossa vida, para que possamos “viver na casa do Senhor”.

“O Senhor é o meu pastor, não me falta coisa alguma” (Sl 22,1).
A Liturgia de hoje coloca essas palavras do salmista nos lábios das crianças que receberão a primeira Comunhão nesta Missa. É particularmente apropriado que elas rezem hoje com essas maravilhosas palavras, quando nosso Senhor e Salvador prepara uma mesa eucarística para elas pela primeira vez. As palavras “o Senhor é o meu pastor” expressam uma esperança iluminada que elas podem repetir todas as vezes que receberem Jesus, o pão da vida.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Homilia do Papa: Corpus Christi - Ano C (2025)

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Santa Missa, Procissão e Bênção Eucarística
Homilia do Papa Leão XIV
Praça de São João do Latrão
Domingo, 22 de junho de 2025

Queridos irmãos e irmãs, é bom estar com Jesus. O Evangelho que acaba de ser proclamado o confirma, contando que as multidões ficavam horas e horas com Ele, que falava do Reino de Deus e curava os doentes (cf. Lc 9,11). A compaixão de Jesus pelos sofredores manifesta a amorosa proximidade de Deus, que vem ao mundo para nos salvar. Quando Deus reina, o homem é libertado de todo o mal. No entanto, a hora da provação chega também para aqueles que recebem de Jesus a boa nova. Naquele lugar deserto, onde as multidões ouviram o Mestre, cai a noite e não há nada para comer (v. 12). A fome do povo e o pôr-do-sol são sinais de um limite que paira sobre o mundo e sobre cada criatura: o dia termina, assim como a vida dos homens. É nesta hora, no tempo da indigência e das sombras, que Jesus permanece entre nós.


Justamente quando o sol se põe e a fome aumenta, enquanto os próprios Apóstolos pedem para despedir a multidão, Cristo surpreende-nos com a sua misericórdia. Ele tem compaixão do povo faminto e convida os seus discípulos a cuidar dele: a fome não é uma necessidade alheia ao anúncio do Reino e ao testemunho da salvação. Pelo contrário, esta fome diz respeito à nossa relação com Deus. Cinco pães e dois peixes, no entanto, não parecem suficientes para alimentar o povo: aparentemente razoáveis, os cálculos dos discípulos evidenciam, em vez disso, a sua falta de fé. Porque, na realidade, com Jesus há tudo o que é necessário para dar força e sentido à nossa vida.

Perante o grito da fome, Ele responde com o sinal da partilha: eleva os olhos, pronuncia a bênção, parte o pão e  de comer a todos os presentes (v. 16). Os gestos do Senhor não inauguram um complexo ritual mágico, mas testemunham com simplicidade a gratidão para com o Pai, a oração filial de Cristo e a comunhão fraterna que o Espírito Santo sustenta. Para multiplicar os pães e os peixes, Jesus divide os poucos que há: precisamente assim são suficientes para todos, e ainda sobram. Depois de terem comido - e terem comido até ficarem saciados -, recolheram doze cestos (v. 17).

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Homilia do Papa: Jubileu do Esporte (2025)

Solenidade da Santíssima Trindade (Ano C)
Jubileu do Esporte
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Domingo, 15 de junho de 2025

Queridos irmãos e irmãs,
Na 1ª leitura ouvimos as seguintes palavras: «Assim fala a Sabedoria de Deus: “O Senhor me possuiu como primícia de seus caminhos... Quando preparava os céus, ali estava eu... eu estava ao seu lado como mestre-de-obras; eu era seu encanto, dia após dia, brincando, todo o tempo, em sua presença, brincando na superfície da terra, e alegrando-me em estar com os filhos dos homens”» (Pr 8,22.27.30-31). Para Santo Agostinho, a Trindade e a sabedoria estão intimamente ligadas. A sabedoria divina é revelada na Santíssima Trindade e a sabedoria leva-nos sempre à verdade.

Hoje, enquanto celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade, vivemos os dias do Jubileu do Esporte. O binômio Trindade-esporte não é usado com muita frequência, mas a associação não é descabida. Na verdade, toda boa atividade humana traz em si um reflexo da beleza de Deus, e certamente o esporte está entre elas. Afinal, Deus não é estático, nem está fechado em si mesmo. É comunhão, relação viva entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que se abre à humanidade e ao mundo. A teologia denomina essa realidade de pericorese, ou seja, “dança”: uma dança de amor recíproco.


A vida brota desse dinamismo divino. Fomos criados por um Deus que se compraz e se alegra em dar a existência às suas criaturas e que “brinca”, como nos recordou a 1ª leitura (cf. Pr 8,30-31). Alguns Padres da Igreja chegam mesmo a falar, com ousadia, de um Deus ludens, de um Deus que se diverte (cf. São Salônio de Genebra, In Parabolas Salomonis expositio mystica; São Gregório Nazianzeno, Carmina, I, 2, 589). Eis a razão pela qual o esporte pode ajudar-nos a encontrar o Deus Trino: porque exige um movimento do “eu” para o outro, movimento que é certamente exterior, mas também e sobretudo interior. Sem isso, o esporte se reduz a uma estéril competição de egoísmos.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Homilia do Papa Bento XVI: Corpus Christi (2005)

Nesta Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo recordamos a homilia proferida pelo Papa Bento XVI (†2022) nesta ocasião há 20 anos, no primeiro Corpus Christi do seu pontificado.

Na ocasião foram proferidas as leituras do Ano A. Contudo, a homilia do Papa centrou-se no significado da procissão eucarística:

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Santa Missa e Procissão Eucarística
Homilia do Papa Bento XVI
Adro da Basílica de São João do Latrão
Quinta-feira, 26 de maio de 2005

Amados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!
Na festa de Corpus Christi a Igreja revive o mistério da Quinta-feira Santa à luz da Ressurreição. Também a Quinta-feira Santa conhece uma procissão eucarística, com a qual a Igreja repete o êxodo de Jesus do Cenáculo para o Monte das Oliveiras. Em Israel celebrava-se a noite de Páscoa em casa, na intimidade da família. Fazia-se assim memória da primeira Páscoa, no Egito - da noite em que o sangue do cordeiro pascal, aspergido no frontal e nos umbrais das casas, protegia contra o exterminador. Jesus, naquela noite, sai e entrega-se ao traidor, ao exterminador e, precisamente assim, vence a noite, vence as trevas do mal. Só desta forma, o dom da Eucaristia, instituída no Cenáculo, encontra o seu cumprimento: Jesus entrega realmente o seu Corpo e o seu Sangue. Atravessando o limiar da morte, torna-se pão vivo, verdadeiro maná, alimento inexaurível para todos os séculos. A carne torna-se pão de vida.


Na procissão da Quinta-feira Santa, a Igreja acompanha Jesus ao Monte das Oliveiras: a Igreja orante sente um desejo profundo de vigiar com Jesus, de não deixá-lo sozinho na noite do mundo, na noite da traição, na noite da indiferença de muitos. Na festa de Corpus Christi retomamos esta procissão, mas na alegria da Ressurreição. O Senhor ressuscitou e nos precedeu. Nos relatos da Ressurreição há uma característica comum e fundamental; os anjos dizem: o Senhor “vai à vossa frente para a Galileia. Lá vós o vereis” (Mt 28,7). Considerando isto mais de perto, podemos dizer que este “preceder” de Jesus exige uma dupla direção. A primeira é, como ouvimos, a Galileia. Em Israel, a Galileia era considerada como a porta que se abre para o mundo dos pagãos. E, na realidade, precisamente na Galileia, no monte, os discípulos veem Jesus, o Senhor, que lhes diz: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos” (v. 19). A outra direção do preceder por parte do Ressuscitado aparece no Evangelho de João, nas palavras de Jesus a Madalena: “Não me segures. A ainda não subi para junto do Pai” (Jo 20,17). Jesus nos precede junto do Pai, eleva-se à altura de Deus e convida-nos a segui-lo. Estas duas direções do caminho do Ressuscitado não se contradizem, mas indicam juntas o caminho do seguimento de Cristo. A verdadeira meta do nosso caminho é a comunhão com Deus - o próprio Deus é a casa com muitas moradas (cf. Jo 14,2s). Mas só podemos subir a esta morada indo “em direção à Galileia”, indo pelos caminhos do mundo, levando o Evangelho a todas as nações, levando o dom do seu amor aos homens de todos os tempos. Por isso o caminho dos Apóstolos prolongou-se até os “confins da terra” (cf. At 1,6s); assim São Pedro e São Paulo vieram até Roma, cidade que na época era o centro do mundo conhecido, verdadeira “caput mundi”.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: Corpus Christi (2000)

Por ocasião da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) recordamos a homilia proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) nesta Solenidade há 25 anos, durante o Grande Jubileu do Ano 2000 e o XLVII Congresso Eucarístico Internacional.

Como é possível deduzir a partir da homilia do Papa, foram proclamadas as leituras da Solenidade de Corpus Christi para o Ano C (Gn 14,18-20; Sl 109; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17) [1].

Santa Missa na Solenidade de Corpus Christi
Homilia do Papa João Paulo II
Adro da Basílica de São João do Latrão
Quinta-feira, 22 de junho de 2000

1. instituição da Eucaristia, sacrifício de Melquisedec e a multiplicação dos pães: é este o sugestivo tríptico que nos é apresentado pela Liturgia da Palavra da hodierna Solenidade do Corpus Christi.

No centro, a instituição da Eucaristia. Na Primeira Carta aos Coríntios, que há pouco escutamos, São Paulo evocou com palavras específicas este evento, acrescentando: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a Morte do Senhor, até que Ele venha” (1Cor 11,26). “Todas as vezes”: portanto, também nesta tarde, no coração do Congresso Eucarístico Internacional, nós, ao celebrarmos a Eucaristia, anunciamos a Morte redentora de Cristo e reavivamos no nosso coração a esperança do encontro definitivo com Ele.

Conscientes disto, após a consagração, como que respondendo ao convite do Apóstolo, proclamamos: “Anunciamos, Senhor, a vossa Morte e proclamamos a vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.


2. O olhar se alarga aos outros elementos do tríptico bíblico posto hoje diante da nossa meditação: o sacrifício de Melquisedec e a multiplicação dos pães.

A primeira narração, brevíssima, mas de grande relevo, é tirada do Livro do Gênesis e foi proclamada na 1ª leitura. Ela fala-nos de Melquisedec, “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo”, o qual abençoou Abrão e “ofereceu pão e vinho” (Gn 14,18). A esta passagem faz referência o Salmo 109, que atribui ao Rei-Messias um singular caráter sacerdotal por direta investidura de Deus: “Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem do rei Melquisedec” (v. 4).