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sexta-feira, 2 de maio de 2025

Vésperas do II Domingo da Páscoa na Basílica de Santa Maria Maior

Na tarde do dia 27 de abril de 2025 os Cardeais presentes em Roma para os funerais do Papa Francisco, falecido no dia 21 de abril, participaram das II Vésperas (oração da tarde da Liturgia das Horas) do II Domingo da Páscoa na Basílica de Santa Maria Maior, onde o Romano Pontífice foi sepultado na manhã do sábado, dia 26.

Ao chegar à Basílica, com efeito, os Cardeais visitaram o túmulo do Papa e rezaram por alguns instantes diante do ícone da Virgem Maria Salus populi romani (Proteção do povo romano) na Capela Paulina. 

Seguiram-se as Vésperas presididas pelo Cardeal Rolandas Makrickas, Arcipreste Coadjutor da Basílica.

Túmulo do Papa Francisco

Cardeais rezam na Capela Paulina

Procissão de entrada

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (5)

“Entoai juntos salmos, hinos e cânticos inspirados; cantai e celebrai o Senhor de todo o vosso coração” (Ef 5,19).

Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte / 4ª parte.

Agora nos cabe contemplar outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Pregação de Paulo em Éfeso (At 19)
(Eustache Le Sueur)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Leitura semicontínua

Conforme o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas sob esse critério tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

Primeiramente a Carta aos Efésios é lida de maneira semicontínua como 2ª leitura da Missa em sete domingos, do XV ao XXI Domingo do Tempo Comum do Ano B, entre a Segunda Carta aos Coríntios e a Carta de Tiago:
XV Domingo: Ef 1,3-14 (forma breve: Ef 1,3-10);
XVI Domingo: Ef 2,13-18;
XVII Domingo: Ef 4,1-6;
XVIII Domingo: Ef 4,17.20-24;
XIX Domingo: Ef 4,30–5,2;
XX Domingo: Ef 5,15-20;
XXI Domingo: Ef 5,21-32 [3].

Nos dias de semana do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida por duas semanas: da quinta-feira da XXVIII semana à quinta-feira da XXX semana do Tempo Comum no ano par, entre outros dois escritos paulinos: a Carta aos Gálatas e a Carta aos Filipenses.

Nessas duas semanas a Carta aos Efésios é lida praticamente na íntegra, sendo omitidas apenas algumas partes da seção parenética que já foram lidas nos domingos ou em outras celebrações. A leitura está organizada da seguinte forma:

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Efésios (4)

“Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus” (Ef 4,24).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica), como indicado no Elenco das Leituras da Missa (n. 66) [1], na Celebração Eucarística, nos demais Sacramentos e nos Sacramentais.  Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Nesta postagem concluiremos esse percurso com a Liturgia das Horas (LH).

Ruínas da cidade de Éfeso

2. Leitura litúrgica da Carta aos Efésios: Composição harmônica

d) Liturgia das Horas

Em relação à leitura de Efésios em composição harmônica na Liturgia das Horas, é preciso distinguir entre leituras longas, proferidas no Ofício das Leituras, e leituras breves, proferidas nas outras horas (Laudes, Hora Média e Vésperas).

Iniciamos com as leituras longas do nosso escrito, que são seis:

- Ofício das Leituras da Festa da Sagrada Família (Domingo após o Natal): Ef 5,21–6,4 [2]. Enquanto na Missa da Festa se lê o “código doméstico” de Colossenses, como vimos em postagens anteriores, na LH se lê o “código doméstico” de Efésios.

- Ofício das Leituras da Solenidade da Ascensão do Senhor: Ef 4,1-24 [3], recordando o “duplo movimento” de Cristo: “Ele subiu! Que significa isso, senão que Ele desceu também às profundezas da terra! Aquele que desceu é o mesmo que subiu mais alto do que todos os céus, a fim de encher o universo” (vv. 9-10).

- Ofício das Leituras da Solenidade da Assunção da Virgem Maria (15 de agosto): Ef 1,16–2,10 [4], sobre a obra salvífica do Senhor: “Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus em virtude de nossa união com Jesus Cristo” (v. 6).

- Ofício das Leituras das Festas dos Evangelistas São Marcos (25 de abril) e São Mateus, Apóstolo (21 de setembro): Ef 4,1-16 [5], perícope que atesta a diversidade de ministérios, incluindo os “apóstolos” e “evangelistas”.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (4)

“Cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças” (Cl 3,16).

Nas postagens anteriores da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Agora cabe contemplar o outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Jesus Cristo, Rei dos Anjos
(Jan Henryk de Rosen)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Leitura semicontínua

De acordo com o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas de maneira semicontínua tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

Nos domingos a Carta aos Colossenses é a 2ª leitura da Missa do XV ao XVIII Domingo do Tempo Comum do Ano C, entre a leitura semicontínua da Carta aos Gálatas e da Carta aos Hebreus (cap. 11–12).

As quatro perícopes escolhidas do nosso livro aqui são:
XV Domingo: Cl 1,15-20;
XVI Domingo: Cl 1,24-28;
XVII Domingo: Cl 2,12-14;
XVIII Domingo: Cl 3,1-5.9-11 [3]

Nos dias de semana do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida por oito dias: da quarta-feira da XXII semana à quinta-feira da XXIII semana do Tempo Comum no ano ímpar, entre a leitura da Primeira Carta aos Tessalonicenses e da Primeira Carta a Timóteo.

XXII semana do Tempo Comum (Ano ímpar):
Quarta-feira: Cl 1,1-8;
Quinta-feira: Cl 1,9-14;
Sexta-feira: Cl 1,15-20;
Sábado: Cl 1,21-23.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (3)

“Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós” (Cl 3,16).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1] na Celebração Eucarística e nos demais Sacramentos. Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte.

Agora concluiremos a análise sob esse critério com os Sacramentais e a Liturgia das Horas.

Jesus Cristo, Senhor dos Anjos
(Edward Burne-Jones)

2. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Composição harmônica

c) Sacramentais

Quanto aos Sacramentais, consideremos primeiramente aqueles que implicam a consagração de pessoas.

Na Bênção de abade ou abadessa consta dentre as leituras ad libitum (à escolha) o texto de Cl 3,12-17 [2], com a exortação à prática das virtudes. Destaca-se aqui o v. 16: “Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria”, recordando a função do abade ou abadessa como guia da comunidade.

Dessa mesma perícope é tomada uma das opções de aclamação ao Evangelho para essa celebração: “A paz de Cristo reine em vossos corações, para a qual fostes chamados num só corpo!” (Cl 3,15) [3].

Uma versão ligeiramente mais longa desse texto conta como 2ª opção de antífona de entrada para a Missa ritual: “Acima de tudo tende a caridade, que é laço da perfeição; e exulte em vossos corações a paz do Cristo” (Cl 3,14-15) [4].

Para a Consagração das virgens e a Profissão religiosa, que compartilham as mesmas opções de leituras, propõem-se dois textos à escolha: Cl 3,12-17, como acima, e Cl 3,1-4 [5], com a exortação a buscar “as coisas do alto, onde está Cristo”.

Na sequência contemplemos as bênçãos de pessoas, lugares e objetos, nas quais identificamos sete leituras do nosso escrito à escolha:

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Filipenses (4)

“Para mim, o viver é Cristo” (Fl 1,21).

Nas últimas postagens da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura começamos a analisar a presença da Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica (sintonia com o tempo ou a festa litúrgica). Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte / 3ª parte.

Agora nos cabe contemplar o outro critério de seleção dos textos bíblicos: a leitura semicontínua.

Escultura de Jesus Cristo na Alemanha
(Na base está escrito o texto de Fl 1,21)

3. Leitura litúrgica da Carta aos Filipenses: Leitura semicontínua

Segundo o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM), a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

a) Celebração Eucarística

Na Celebração Eucarística, as Cartas Paulinas são lidas de maneira semicontínua tanto nos domingos quanto nos dias de semana do Tempo Comum (cf. ELM, nn. 107.110) [2].

No ciclo dominical, a Carta aos Filipenses é proclamada como 2ª leitura do XXV ao XXVIII Domingo do Tempo Comum no Ano A, entre a Carta aos Romanos e a Primeira Carta aos Tessalonicenses:
XXV Domingo: Fl 1,20c-24.27a;
XXVI Domingo: Fl 2,1-11 (Forma breve: Fl 2,1-5);
XXVII Domingo: Fl 4,6-9;
XXVIII Domingo: Fl 4,12-14.19-20 [3].

Nos dias feriais do Tempo Comum, por sua vez, a Carta é lida da sexta-feira da XXX semana ao sábado da XXXI semana do Tempo Comum no ano par, após a leitura da Carta aos Efésios e antes das Cartas a Tito e a Filêmon.

Trata-se aqui de uma leitura substancial da Carta, sendo omitidos poucos textos, como podemos ver a seguir:

XXX semana do Tempo Comum (Ano par):
Sexta-feira: Fl 1,1-11;
Sábado: Fl 1,18b-26.

XXXI semana do Tempo Comum (Ano par):
Segunda-feira: Fl 2,1-4;
Terça-feira: Fl 2,5-11;
Quarta-feira: Fl 2,12-18;
Quinta-feira: Fl 3,3-8a;
Sexta-feira: Fl 3,17–4,1;
Sábado: Fl 4,10-19 [4].

Vale destacar ainda os dois textos da Carta propostos como versículos de aclamação ao Evangelho no Tempo Comum:

- “Como astros no mundo vós resplandeceis, mensagem de vida ao mundo anunciando...” (Fl 2,15d.16a): XXIX Domingo (Ano A), VIII Domingo (Ano C), sexta-feira da X semana e segunda-feira da XXXII semana [5];

- “Em tudo considero como perda e lixo, a fim de ganhar Cristo e ser achado n’Ele” (Fl 3,8-9): Quarta-feira da XXVI semana e quinta-feira da XXIX semana [6].

Papiro com um trecho da Carta aos Filipenses

b) Liturgia das Horas

Na Liturgia das Horas a Carta aos Filipenses é lida na íntegra no Ofício das Leituras da XXVI semana do Tempo Comum, entre a leitura do Livro de Ezequiel e da Primeira Carta a Timóteo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Filipenses (3)

“Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto” (Fl 4,4-5).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1] na Celebração Eucarística. Para acessar a primeira parte, clique aqui; para a segunda parte, clique aqui.

Nesta postagem concluiremos a análise sob esse critério com os demais Sacramentos, os Sacramentais e a Liturgia das Horas.

Batismo de Lídia em Filipos (At 16,11-15)

2. Leitura litúrgica da Carta aos Filipenses: Composição harmônica

b) Sacramentos e Sacramentais

Além da Eucaristia, alguns textos da Carta aos Filipenses constam entre as leituras ad libitum (à escolha) dos Sacramentos da Unção dos Enfermos e do Matrimônio e de dois ritos relacionados ao Batismo.

Primeiramente, no contexto da Iniciação Cristã de adultos, quando estes recebem o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia na Vigília Pascal, na manhã do Sábado Santo podem celebrar-se os Ritos de preparação imediata. A leitura indicada para esses ritos é Fl 3,4-15 [2], na qual Paulo exorta a lançar-se “para frente”, isto é, para Cristo.

Para o Rito da Admissão dos batizados, pelo qual são acolhidas na Igreja pessoas já batizadas em outras comunidades eclesiais, sugere-se a leitura de Fl 4,4-8 [3], com o convite à alegria e a exortação a praticar a virtude.

Na Unção dos Enfermos, por sua vez, é possível ler Fl 2,25-30 [4], sobre a doença de Epafrodito, enviado da comunidade a Paulo, e sua recuperação: “Estava às portas da morte, mas Deus compadeceu-se dele” (v. 27).

Para o Matrimônio, por fim, a leitura sugerida da nossa Carta é Fl 4,4-9 [5], com o convite à alegria e a exortação à virtude, como vimos acima.

Quanto aos Sacramentais, consideremos primeiramente aqueles que dizem respeito à consagração de pessoas, com duas ocorrências da nossa Carta dentre as opções de leituras ad libitum (à escolha):

No novo rito da Instituição de Catequistas (De Institutione Catechistarum), promulgado pelo Dicastério para o Culto Divino em dezembro de 2021, propõe-se a leitura de Fl 4,4-9, destacando-se aqui a exortação do v. 9: “Praticai o que aprendestes”.

Para a Consagração das virgens e a Profissão religiosa, celebrações que compartilham as mesmas opções de leituras, propõem-se dois textos de Filipenses [6]:
- Fl 2,1-4: a exortação do Apóstolo à unidade, fundamental na vida religiosa: “Vivei em harmonia, procurando a unidade” (v. 3);
- Fl 3,8-14: o convite a “esquecer o que ficou para trás” e a lançar-se “para frente”, isto é, para Cristo.

Deste último texto é tomada também uma das opções de aclamação ao Evangelho para essas celebrações: “Em tudo considero como perda e lixo, a fim de ganhar Cristo e ser achado n’Ele” (Fl 3,8-9) [7].

Ainda em relação aos Sacramentais, contemplemos as bênçãos de pessoas, lugares e objetos, nas quais identificamos seis leituras da Carta à escolha:

- Bênção de noivos: Fl 2,1-5 [8], a exortação a viver “unidos no mesmo amor”.

- Bênção de idosos: Fl 3,20–4,1 [9], onde o Apóstolo exorta: “Permanecei firmes no Senhor”, pois “nós somos cidadãos do céu”.

Ruínas de um batistério na cidade de Filipos

- Bênção de edifício sede de comunicação: Fl 4,8-9 [10], com uma exortação à ética nas comunicações: “Irmãos, ocupai-vos com tudo que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso...” (v. 8).

- Bênção de instalações esportivas: Fl 3,12-15 [11], aqui, como na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo usa a metáfora do esporte, afirmando: “Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus” (v. 14).

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Dissertações e Teses sobre Liturgia: PUC-SP 2023

Há três anos, em 2021, destacamos aqui em nosso blog cinco Dissertações de Mestrado do Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

As cinco Dissertações, defendidas entre 2017 e 2019, orientadas pelo Padre Valeriano dos Santos Costa, Doutor em Teologia pelo Pontifício Instituto Santo Anselmo (Roma), propunham um diálogo entre a Liturgia e o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (†2017).

Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade à proposta destacando cinco trabalhos acadêmicos (duas Dissertações de Mestrado e três Teses de Doutorado) defendidos na PUC-SP em 2023, propondo um diálogo entre a Liturgia e o pensamento do filósofo espanhol Xavier Zubiri (†1983) nos 40 anos da sua morte.

Xavier Zubiri (†1983)

Já em 2021, com efeito, o Padre Valeriano havia orientado uma Dissertação relacionando a música litúrgica com o pensamento zubiriano, particularmente com seu conceito de “inteligência senciente”, que busca um equilíbrio entre razão e sentidos, evitando assim que a Liturgia caia nos extremos do racionalismo e do sentimentalismo.

Seguem os resumos das Dissertações e Teses, que podem ser acessadas na íntegra no site da PUC-SP, conforme os links abaixo:

A dimensão mística da Liturgia no horizonte da metafísica zubiriana
Jucilei Lima da Silva
Orientador: Valeriano dos Santos Costa
Dissertação de Mestrado (junho de 2023), 117 páginas

O objetivo deste trabalho é descrever uma dimensão da Liturgia, que dissemos mística e como o humano em sua constitutividade experiencia tal dimensão. E, como implicações, procura descrever numa linguagem mística teológica os desdobramentos na vida diária do cristão que podem e devem ocorrer ao experienciar tão grande realidade, tudo isso à luz da metafísica do filósofo espanhol Xavier Zubiri. Para tal tarefa será utilizado o método de natureza exploratória, que possibilita uma aproximação tanto do entendimento de Liturgia como do pensamento de Zubiri. Isso leva a constatar que, graças ao caráter humano de inteligência senciente, ela pode atualizar formalmente a coisa real como realidade na intelecção. A coisa fica atual, é um estar, e porque está o humano dá-se conta dela. A coisa está formalmente como realidade na inteligência senciente, que sente tal realidade.

Capítulos:
1. Horizonte da metafísica zubiriana
2. Dimensão mística da Liturgia
3. Dimensão mística da Liturgia e inteligência senciente: Implicações para vivência prática


A estrutura dinâmica da Liturgia à luz do realismo zubiriano e do n. 9 da Redemptionis Sacramentum
João José Bezerra
Orientador: Valeriano dos Santos Costa
Tese de Doutorado (junho de 2023), 199 páginas

sábado, 11 de maio de 2024

Fotos da Proclamação do Jubileu 2025

Na quinta-feira, 09 de maio de 2024, o Papa Francisco presidiu no átrio da Basílica de São Pedro a cerimônia de proclamação do Jubileu de 2025, com a entrega da Bula Spes non confundit.

O Papa entregou cópias da Bula aos Arciprestes das quatro Basílicas Maiores e a outros oficiais da Cúria Romana [1]. Em seguida o Monsenhor Leonardo Sapienza, Protonotário Apostólico, leu uma síntese da Bula junto à Porta Santa.

Seguiram-se as II Vésperas da Solenidade da Ascensão do Senhor dentro da Basílica.

Os Cerimoniários assistentes foram Dom Diego Giovanni Ravelli e o Monsenhor Yala Banorani Djetaba. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Cópias da Bula Spes non confundit
Monição introdutória
Entrega da Bula
(Cardeal Gambetti, Arcipreste de São Pedro)
Cardeal Ryłko, Arcipreste de Santa Maria Maior
Monsenhor Leonardo Sapienza, Protonotário Apostólico

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Leitura litúrgica dos Livros de Jonas e Abdias

“Cada um deve afastar-se do mau caminho e de suas práticas perversas” (Jn 3,8).

Embora tradicionalmente seja contado dentro do grupo dos “doze profetas menores”, o Livro de Jonas (Jn) não é um escrito profético, e sim uma narrativa ou “novela bíblica”, semelhante aos Livros de Rute, EsterJudite e Tobias.

Nesta postagem da nossa série de postagens sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura contemplaremos, pois, esta obra ímpar do Antigo Testamento (AT), mencionada inclusive por Jesus no Evangelho.

No final da postagem, por sua vez, falaremos brevemente da leitura litúrgica do Livro de Abdias (Ab), completando assim o grupo dos “profetas menores”.

1. Breve introdução ao Livro de Jonas

“Jonas, filho de Amitai” (ou Amati) é citado como profeta em 2Rs 14,25, tendo vivido no tempo em que Jeroboão II era rei de Israel (782-753 a. C.). O autor anônimo do Livro de Jonas faz uma “homenagem” a este profeta, emprestando seu nome para o personagem principal da sua narrativa, uma “parábola” de caráter didático.

Profeta Jonas
(Michelangelo - Capela Sistina)

A linguagem de Jonas, com efeito, nos remete ao período pós-exílico, sendo datado entre o final do período persa e o início da época helenista, ou seja, entre os séculos V e IV a. C., próximo a Joel e ao Dêutero-Zacarias (Zc 9–14).

Nesse sentido, a referência à cidade de Nínive é simbólica, dado que esta cidade, antiga capital do Império Assírio, havia sido destruída em 612 a. C., como anunciado pelo profeta Naum. Nínive aqui representa os povos estrangeiros, que Deus também chama a conversão.

Cada um dos quatro capítulos da narrativa compõe uma cena:
a) Jn 1: Jonas no mar;
b) Jn 2: Jonas no ventre do monstro marinho;
c) Jn 3: Jonas dentro de Nínive;
d) Jn 4: Jonas fora de Nínive.

Na primeira cena, após Deus enviá-lo a Nínive para pregar (Jn 1,1-2), Jonas foge, atraindo a ira divina sobre o barco. Note-se que o profeta é a causa do infortúnio, mas permanece dormindo, enquanto os marinheiros estrangeiros tratam-no bem e são piedosos, rezando a Deus e até oferecendo-lhe um sacrifício (Jn 1,16).

Jonas, lançado ao mar, é engolido por uma espécie de “monstro marinho”, dentro do qual permanece por três dias (Jn 2,1), linguagem simbólica que será interpretada como profecia da Ressurreição de Cristo (cf. Mt 12,40). No ventre do monstro Jonas entoa uma súplica, inspirada nos salmos.

O início da terceira cena retoma o início do livro, repetindo a ordem de Deus (Jn 3,1-2). Desta vez o profeta obedece e anuncia a mensagem à cidade: “Ainda quarenta dias e Nínive será destruída” (Jn 3,4). Mais uma vez o autor insiste na retidão dos estrangeiros: precisariam “três dias para percorrer a cidade”, mas bastou um dia para que o povo se arrependesse de seus pecados, fazendo jejum e penitência. Assim, a terceira cena termina com o perdão de Deus (Jn 3,10).

Por fim, Jonas senta-se fora da cidade, esperando sua destruição. Como esta não acontece, tem “um grande desgosto” e “fica irado”, a ponto de lamentar-se com Deus. Este conclui a obra proclamando seu amor por todas as criaturas, como ironicamente o próprio Jonas admite, citando Ex 34,6-7: “És um Senhor benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição” (Jn 4,2).

A maioria dos estudiosos entende o Livro de Jonas como uma crítica às reformas de Esdras e Neemias, que “fecharam” o Judaísmo às influências externas, proibindo casamentos com estrangeiros e realizando a construção do “muro” de Jerusalém, literal e figurativamente. Jonas é imagem do povo de Israel que precisa converter-se, abrindo-se à salvação universal desejada por Deus.

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

Jonas escapa do monstro marinho
(Pieter Lastman) 

2. Leitura litúrgica de Jonas: Composição harmônica

A narrativa de Jonas tem uma presença bastante “modesta” na Liturgia do Rito Romano, como veremos ao analisar sua leitura seguindo os dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Começamos, naturalmente, pela composição harmônica: a escolha do texto por sua sintonia com o tempo ou festa litúrgica.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Leitura litúrgica do Livro de Zacarias 9–14

“Exulta, cidade de Sião! Rejubila, cidade de Jerusalém. Eis que teu rei vem ao teu encontro” (Zc 9,9).

Em uma postagem anterior da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura vimos que o Livro de Zacarias (Zc) é na verdade formado por duas obras de épocas diferentes: os capítulos 1–8, cuja presença na Liturgia analisamos na referida postagem, e os capítulos 9–14, que serão o conteúdo deste breve estudo.

1. Breve introdução ao Livro de Zacarias 9–14

Como vimos, os capítulos 1–8 são a obra do “Proto-Zacarias” (Primeiro Zacarias), contemporâneo do profeta Ageu, cuja preocupação central é a reconstrução do Templo de Jerusalém (520-518 a. C.).

Os capítulos 9–14, por sua vez, integram a obra do “Dêutero-Zacarias” (Segundo Zacarias), um profeta anônimo, cuja datação é incerta. A maioria dos estudiosos o situa no final do século IV a. C., no contexto das conquistas de Alexandre Magno da Macedônia. Isto faria do Dêutero-Zacarias o último dos profetas do Antigo Testamento.

Profeta Zacarias
(Michelangelo - Capela Sistina)

Embora alguns temas do Proto-Zacarias sejam retomados, como a aliança ou as promessas de abundância, desaparece aqui a preocupação central com o Templo e nenhum personagem é nomeado (como Zorobabel ou Josué, referidos diversas vezes nos capítulos 1–8).

No capítulos do Dêutero-Zacarias predominam os oráculos sobre a vinda do Messias, com frequentes referências a outros textos do Antigo Testamento (AT), sobretudo aos “profetas maiores” (Isaías, Jeremias e Ezequiel) e aos Salmos.

Podemos dividir esses capítulos em duas partes bem definidas (a ponto de alguns estudiosos defenderem que a segunda parte seria obra de um “terceiro-Zacarias”):

1ª parte: Zc 9–11:
a) Zc 9,1–10,2: o Messias humilde e pacífico contrapõe-se às nações estrangeiras em guerra;
b) Zc 10,3–11,3: espécie de “novo êxodo”, com um desfile jubiloso diante do qual caem as nações inimigas, representadas pelo Egito e pela Assíria;
c) Zc 11,4-17: acusação contra os maus pastores (Deus “quebra” sua aliança com eles).

2ª parte: Zc 12–14:
a) Zc 12–13: Deus promete proteger Jerusalém dos seus inimigos e o povo se purifica de seus pecados;
b) Zc 14: combate escatológico e vitória definitiva do Senhor.

Na primeira parte predomina a poesia e há várias referências geográficas, enquanto a segunda parte é em prosa e localizada em Jerusalém.

O tema da escatologia é bastante presente na obra, sobretudo na segunda parte, onde se repete 17 vezes a fórmula escatológica: “Naquele dia acontecerá...”. Utilizam-se também muitas imagens simbólicas, próprias da literatura apocalíptica.

Se no Proto-Zacarias tínhamos o Templo como centro, o Dêutero-Zacarias gira em torno da cidade de Jerusalém: sua purificação em Zc 13,1-2 pode ser considerada o centro da obra. A partir dela o Reino de Deus se estende por toda a terra.

As referências ao Messias, apresentado como rei, pastor e servo, tornaram este escrito um dos mais citados no Novo Testamento.

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

2. Leitura litúrgica de Zacarias 9–14: Composição harmônica

Não obstante sua presença relativamente “modesta” nas celebrações litúrgicas, analisaremos a leitura de Zacarias 9–14 seguindo os dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Começamos por suas leituras em composição harmônica, isto é, quando a escolha do texto se dá em sintonia com o tempo ou festa litúrgica.

Entrada messiânica de Jesus em Jerusalém (cf. Zc 9,9-10)
(Hippolyte Flandrin)

a) Celebração Eucarística

Seguindo o ciclo do Ano Litúrgico, antes ainda de considerarmos as leituras propriamente ditas, cabe destacar duas antífonas tomadas do nosso livro e entoadas no Ciclo do Natal, ambas anunciando a vinda do Senhor:

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Leitura litúrgica do Livro de Malaquias

“Desde o nascer do sol até ao poente, em todo o lugar se oferece um sacrifício e uma oblação pura ao meu Nome” (Ml 1,11).

Na postagem anterior da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura, começamos a analisar os escritos dos “profetas menores” após o exílio da Babilônia com o Livro de Ageu e os capítulos 1–8 do Livro de Zacarias.

Com esta postagem damos continuidade à proposta com o Livro de Malaquias (Ml), que figura na Bíblia cristã como o último dos escritos proféticos do Antigo Testamento (AT).

Profeta Malaquias (James Tissot)

1. Breve introdução ao Livro de Malaquias

A tradição judaica coloca Malaquias e o Dêutero-Zacarias (Zc 9–14) como os últimos profetas, aos quais podemos acrescentar Joel. Embora figure por último na Bíblia cristã, por razões teológicas, o Livro de Malaquias é o mais antigo dos três citados, podendo remontar ao contexto das reformas de Esdras e Neemias (século V a. C.).

As reformas desses dois personagens fundamentaram o Judaísmo em três pilares: um Templo, uma Lei, um povo. Na narrativa de Malaquias o Templo parece já estar concluído, pois o problema agora são os pecados dos sacerdotes. A idolatria, interpretada como um casamento com uma mulher estrangeira, nos coloca no contexto da proibição desses casamentos.

Malaquias é provavelmente um nome simbólico, que significa “mensageiro”. Sua mensagem, composta por três capítulos, é formada por seis unidades, “emolduradas” por um breve prólogo e um epílogo.
a) Ml 1,1: Prólogo, com o título da obra;
b) Ml 1,2-5: Acusação contra Edom e declaração do amor de Deus por Israel;
c): Ml 1,6–2,9: Acusação contra os sacerdotes, que oferecem animais indignos ao Senhor (provavelmente guardando os melhores animais para si);
d) Ml 2,10-16: Acusação contra a idolatria e o divórcio;
e) Ml 2,17–3,5: Acusação contra uma série de injustiças, anunciando a vinda do “mensageiro” que antecede o “dia de Iahweh”;
f) Ml 3,6-12: Acusação contra fraudes nos dízimos - se o povo for fiel, Deus promete abundância;
g) Ml 3,13-21: O profeta opõe o justo e o ímpio, prometendo que o homem justo receberá a bênção do Senhor;
h) Ml 3,22-24: Epílogo (talvez como acréscimo posterior), evocando Moisés, como luz para o passado, e Elias, como esperança para o futuro.

Cada unidade possui três elementos que se repetem: crítica do profeta, réplica dos destinatários e nova exortação do profeta. As primeiras três controvérsias são mais fechadas no castigo do pecado, enquanto as três últimas abrem-se à esperança escatológica no “dia de Iahweh”, quando reinará a justiça.

As referências ao “mensageiro” que prepara o caminho diante do Senhor (Ml 3,1) e ao profeta Elias (Ml 3,23-24) foram aplicadas no Novo Testamento a João Batista (Mc 1,2; 9,11-12; Mt 17,10-13; Lc 1,17.76; 7,27; Jo 3,28), razão pela qual Malaquias foi disposto como último livro do AT na Bíblia cristã, antecedendo a pregação de João.

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

João Batista com as asas do "anjo" (mensageiro) entre Elias e Enoc
(Daniel Codrescu - Bucareste, Romênia)

2. Leitura litúrgica de Malaquias: Composição harmônica

Como temos feito com todos os livros da Sagrada Escritura estudados nesta série, analisaremos a presença do Livro de Malaquias nas celebrações litúrgicas seguindo os dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Começamos pela composição harmônica: a escolha do texto em sintonia com o tempo ou festa litúrgica.

a) Celebração Eucarística

Iniciando nosso percurso pelos ciclo do Ano Litúrgico, identificamos leituras do nosso livro em três ocasiões, uma no Advento e duas no Tempo Comum:

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Leitura litúrgica dos Livros de Ageu e Zacarias 1–8

“Voltai-vos para mim, diz o Senhor dos exércitos, e Eu me voltarei para vós” (Zc 1,3).

Em nossa série de postagens sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura já analisamos os escritos dos “profetas menores” do século VIII a. C. (Amós, Oseias e Miqueias) e do século VII a. C. (Sofonias, Naum e Habacuc).

Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade a esta proposta com dois livros proféticos que remontam ao século VI a. C.: o Livro de Ageu (Ag) e os capítulos 1–8 do Livro de Zacarias (Zc).

1. Breve introdução aos Livros de Ageu e Zacarias 1–8

Como vimos em nossa postagem sobre os Livros de Esdras e Neemias, em 539 a. C. o rei persa Ciro II derrotou o Império Babilônico, decretando o fim do exílio do povo de Israel e autorizando a reconstrução do Templo de Jerusalém, que havia sido destruído em 587 a. C.

Profeta Ageu (James Tissot)

O início dos Livros de Ageu e Zacarias no situa “no segundo ano do rei Dario” (cerca de 520 a. C.). Dario I, com efeito, deu continuidade à política de Ciro II, incentivando o retorno dos exilados.

A reconstrução do Templo, porém, enfrentou várias dificuldades. Assim, os profetas Ageu e Zacarias - citados duas vezes no Livro de Esdras (Esd 5,1; 6,14) - motivaram o povo a prosseguir os trabalhos (que só seriam concluídos em 515 a. C.), exortando o governador Zorobabel e o sumo-sacerdote Josué.

O Livro de Ageu, com apenas dois capítulos, pode ser subdividido em quatro seções que se intercalam:
- Seções A (Ag 1,1-15) e C (Ag 2,10-19): o povo se preocupa apenas em construir belas casas para si, por isso “os céus se fecharam”; se retomarem os trabalhos do Templo, Deus os abençoará;
- Seções B (Ag 2,1-9) e D (Ag 2,20-23): promessas escatológicas - a glória do novo Templo superará o antigo e Deus protegerá seu povo das nações inimigas.

Quanto ao Livro de Zacarias, suas grandes diferenças permitem identificar a existência de dois livros, de autores e épocas diferentes:
- Zc 1–8: “Proto-Zacarias” (Primeiro Zacarias), contemporâneo de Ageu, preocupado com o Templo;
- Zc 9–14: “Dêutero-Zacarias” (Segundo Zacarias), provavelmente do século IV a. C., com uma série de profecias messiânicas.

Embora alguns temas apareçam nas duas partes, nos deteremos aqui no Proto-Zacarias (a segunda parte do livro receberá uma postagem própria). Seus oito capítulos podem ser subdivididos em duas seções:
a) Zc 1–6: após um breve prólogo exortando à conversão (Zc 1,1-6), são descritas oito visões (Zc 1,7–6,8), concluindo com uma “coroação” (Zc 6,9-15);
b) Zc 7–8: oráculos sobre o jejum e a salvação messiânica.

As visões da primeira parte, marcadas pela linguagem simbólica própria da literatura apocalíptica, provavelmente eram na sua origem sete, em círculos concêntricos. O núcleo está na visão do candelabro, símbolo do Templo reconstruído, e das duas oliveiras, aqueles que são ungidos para protegê-lo, isto é, os reis e sacerdotes.

O Templo ocupa efetivamente o centro da narrativa: a partir dele tudo o mais será restaurado, “o Senhor voltará” e a iniquidade será desterrada.

A quarta visão (cap. 3) é provavelmente um acréscimo posterior, para destacar a atuação dos sacerdotes. Da mesma forma, Zc 6,9-15 provavelmente seria a princípio um relato de coroação de Zorobabel, como uma espécie de restauração da monarquia, que teria sido alterado para dar ênfase a Josué, ou seja, ao sacerdócio.

Na segunda parte do Proto-Zacarias (cap. 7–8) a grande questão é o jejum: este deve ser acompanhado pela prática da justiça (Zc 7,9-10), sendo ocasião também para a alegria (Zc 8,18-19). A referência aos quatro jejuns ao longo do ano (Zc 8,19) inspiraria a tradição cristã das “Quatro Têmporas”.

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem.

Profeta Zacarias (James Tissot)

2. Leitura litúrgica de Ageu e Zacarias 1–8: Composição harmônica

Como fizemos com os demais livros estudados nesta série, analisaremos a presença de Ageu e Zacarias 1–8 nas celebrações litúrgicas do Rito Romano seguindo os dois critérios de seleção dos textos indicados no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa (ELM): a composição harmônica e a leitura semicontínua [1].

Começamos pela leitura em composição harmônica: a escolha do texto em sintonia com o tempo ou a festa litúrgica.

a) Celebração Eucarística

Seguindo o ciclo do Ano Litúrgico, antes ainda de entrarmos nas leituras, cabe destacar duas antífonas do Livro de Ageu indicadas para o Tempo do Advento:

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Hinos da Cátedra de São Pedro: Vésperas

Segui-me, e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4,19).

Em nossa última postagem começamos a apresentar os dois hinos próprios da Liturgia das Horas (LH) para a Festa da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro):
Laudes: Petrus beátus catenárum láqueos (Pedro, que rompes algemas);
Vésperas: Divína vox te déligit (Pescador de homens te faço).

“Vocação” de Pedro e dos primeiros Apóstolos
(Igreja de São Miguel, Lewes, Inglaterra)

Além desses dois hinos, no Ofício das Leituras da Festa entoa-se a 1ª estrofe e a doxologia do hino Iam, bone pastor (Ó Pedro, pastor piedoso), proposto em outras duas ocasiões:
- Nas Laudes da Festa da Conversão de São Paulo (25 de janeiro): 2ª estrofe - Doctor egrégie (Ó Paulo, mestre dos povos) - e a doxologia;

Assim, após apresentarmos o texto das Laudes (Petrus beátus catenárum láqueos) da Festa da Cátedra de São Pedro, nesta postagem nos deteremos no hino das Vésperas: Divína vox te déligit (Pescador de homens te faço).

Trata-se de uma composição nova, elaborada pela Comissão encarregada da revisão dos hinos da LH após o Concílio Vaticano II, coordenada pelo Padre Anselmo Lentini, OSB (†1989).

Como testemunha Dom Annibale Bugnini (†1982), grande responsável pela reforma litúrgica, buscou-se propor hinos individuais sobretudo para os Apóstolos, Evangelistas e outros santos mencionados nos Evangelhos, como é o caso desse composição em honra do Apóstolo Pedro [1].

A Comissão, com efeito, resgatou antigos hinos compostos ao longo de toda a história da Igreja e propôs outros novos, como aquele pai de família que do seu tesouro “tira coisas novas e velhas” (Mt 13,52).

Antes da reforma litúrgica, nas Vésperas da Cátedra de São Pedro se repetia o hino do Ofício das Leituras (Matinas), Quodcúmque vinclis, atualmente indicado para as Laudes desse dia e enriquecido com mais uma estrofe (Petrus beátus).

Nas Laudes, por sua vez, se entoava o hino Iam bone pastor, sobre o qual já falamos acima, atualmente indicado para o Ofício do dia 22 de fevereiro.

A seguir reproduzimos o texto original do hino das Vésperas (em latim), composto por seis estrofes de quatro versos, e sua tradução oficial para o português do Brasil, que faz algumas adaptações, como veremos, tecendo também alguns breves comentários sobre a sua teologia.

Entrega das chaves a Pedro
(Nicolas Poussin, séc. XVII)

Cathedrae Sancti Petri Apostoli (Festum)
Vesperae: Divína vox te déligit

1. Divína vox te déligit,
piscátor, ac pro rétibus
remísque qua tu glória
caeli refúlges clávibus!

2. Tenax amóris próferens
ac dulce testimónium,
omnes amor quos láverat
oves regéndas áccipis.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Hinos da Cátedra de São Pedro: Laudes

Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus...” (Mt 16,19).

No mês de janeiro destacamos aqui em nosso blog os dois hinos próprios da Liturgia das Horas (LH) para a Festa da Conversão de São Paulo (25 de janeiro):
Ofício das Leituras: Pressi malórum póndere (Ao peso do mal vergados);
Vésperas: Excélsam Pauli glóriam (Concelebre a Igreja, cantando).

Nas Laudes dessa Festa são entoadas a 2ª estrofe - Doctor egrégie (Ó Paulo, mestre dos povos) - e a doxologia do hino Iam, bone pastor (Ó Pedro, pastor piedoso), entoado também:
- No Ofício das Leituras da Festa da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro): 1ª estrofe e a doxologia;

Entrega das chaves a Pedro
(Vitral do Castelo de Cardiff, Gales)

Dando continuidade à proposta, gostaríamos de apresentar os dois hinos da Festa da Cátedra de São Pedro, também conhecida como “Confissão de São Pedro”, celebrada no dia 22 de fevereiro ou, em algumas tradições, no dia 18 de janeiro:
Laudes: Petrus beátus catenárum láqueos (Pedro, que rompes algemas);
Vésperas: Divína vox te déligit (Pescador de homens te faço).

Começamos, naturalmente, pelo hino das Laudes: Petrus beátus catenárum láqueos (Pedro, que rompes algemas). Como indica o Padre Félix Arocena em sua obra Los himnos de la Liturgia de las Horas [1], trata-se na verdade de algumas estrofes de um hino maior em honra dos Apóstolos Pedro e Paulo: Felix per omnes festum (A festa dos Apóstolos).

O hino foi composto entre os séculos VIII e IX, sendo atribuído a São Paulino de Aquileia (†802), mestre na corte do Imperador Carlos Magno (†814) e posteriormente Patriarca de Aquileia (Itália).

O hino completo possui oito estrofes, além da doxologia final em honra da Trindade (Glória Patri...). Atualmente outros dois trechos do hino são entoados na LH na Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos (29 de junho): no Ofício das Leituras (Felix per omnes festum) e nas II Vésperas (O Roma felix).

Nas Laudes da Festa da Cátedra de São Pedro entoam-se duas estrofes do hino (Petrus beátus... Quodcúmque vinclis...) e a doxologia (Glória Patri...).

Antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, por sua vez, entoava-se tanto no Ofício (Matinas) quanto nas Vésperas da Cátedra de São Pedro apenas uma estrofe (Quodcúmque vinclis) e a doxologia, enquanto nas Laudes se entoava o hino Iam bone pastor, atualmente indicado para o Ofício.

A primeira estrofe do nosso hino (Petrus beátus), por sua vez, era entoada nas Vésperas da Festa de São Pedro “em Cadeias” (Sancti Petri ad Vincula), celebrada no dia 01 de agosto, que recordava as duas prisões do Apóstolo: em Jerusalém (At 12,1-11) e em Roma [2].

Em ambos os casos, na verdade, se entoava uma versão dos hinos adaptada pelo Papa Urbano VIII (†1644): Miris modis (Petrus beátus) e Quodcumque in orbe (Quodcúmque vinclis).

A Comissão encarregada da revisão dos hinos da LH após o Concílio, coordenada pelo Padre Anselmo Lentini, OSB (†1989), resgatou o texto original da composição, propondo as duas estrofes e a doxologia para as Laudes do dia 22 de fevereiro.

São Paulino de Aquileia (†802), autor do hino

A seguir reproduzimos o texto original do hino (em latim), composto por três estrofes de cinco versos, e sua tradução oficial para o português do Brasil, que adaptou o hino em duas estrofes de seis versos (unindo a doxologia à segunda estrofe), seguidos de alguns breves comentários sobre a sua teologia.

Cathedrae Sancti Petri Apostoli (Festum)
Laudes matutinae: Petrus beátus catenárum láqueos

1. Petrus beátus catenárum láqueos
Christo iubénte rupit mirabíliter;
custos ovílis et doctor Ecclésiae,
pastórque gregis, conservátor óvium
arcet lupórum truculéntam rábiem.