sexta-feira, 30 de junho de 2023

Ângelus: Solenidade de São Pedro e São Paulo 2023

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Papa Francisco
Ângelus
Quinta-feira, 29 de junho de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, no Evangelho Jesus diz a Simão, um dos Doze: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16,18). Pedro é um nome que tem vários significados: pode designar rocha, pedra ou simplesmente seixo. E, com efeito, se olharmos para a vida de Pedro, encontraremos um pouco destes três aspectos do seu nome.

Pedro é uma rocha: em muitos momentos é forte e firme, genuíno e generoso. Deixa tudo para seguir Jesus (cf. Lc 5,11), reconhece-o como Cristo, Filho de Deus vivo (Mt 16,16), mergulha no mar para ir depressa ao encontro do Ressuscitado (Jo 21,7). Além disso, com franqueza e coragem, anuncia Jesus no Templo, antes e depois de ser preso e flagelado (At 3,12-26; 5,25-42). A tradição fala-nos também da sua firmeza diante do martírio, que teve lugar precisamente aqui (Clemente Romano, Carta aos Coríntios, V, 4).

No entanto, Pedro é também uma pedra: é uma rocha e inclusive uma pedra, adequada para oferecer apoio aos outros: uma pedra que, fundamentada em Cristo, serve de sustentáculo para os seus irmãos na edificação da Igreja (1Pd 2,4-8; Ef 2,19-22). Também isto encontramos na sua vida: responde ao chamamento de Jesus com André, seu irmão, Tiago e João (Mt 4,18-22); confirma a disponibilidade dos Apóstolos a seguir o Senhor (Jo 6,68); cuida de quem sofre (At 3,6); promove e encoraja o anúncio comum do Evangelho (At 15,7-11). É “pedra”, é ponto de referência fiável para toda a comunidade.

Pedro é rocha, é pedra e também seixo: a sua pequenez sobressai com frequência. Às vezes não compreende o que Jesus faz (Mc 8,32-33; Jo 13,6-9); perante a sua captura, deixa-se dominar pelo medo e nega-o, depois arrepende-se e chora amargamente (Lc 22,54-62), mas não tem a coragem de estar aos pés da cruz. Esconde-se com os outros no Cenáculo, com medo de ser aprisionado (Jo 20,19). Em Antioquia, tem vergonha de estar com os pagãos convertidos, e Paulo exorta-o à coerência neste ponto (Gl 2,11-14); por último, segundo a tradição do Quo vadis, procura fugir diante do martírio, mas ao longo do caminho encontra Jesus e readquire a coragem de voltar atrás.

Em Pedro há tudo isto: a força da rocha, a fiabilidade da pedra e a pequenez de um simples seixo. Não é um super-homem: é um homem como nós, como cada um de nós, que na sua imperfeição diz “sim” a Jesus com generosidade. Mas precisamente assim, nele - como em Paulo e em todos os santos - revela-se que é Deus quem nos torna fortes mediante a sua graça, quem nos une através da sua caridade, quem nos perdoa com a sua misericórdia. E é com esta verdadeira humanidade que o Espírito forma a Igreja. Pedro e Paulo eram pessoas autênticas, e nós, hoje mais do que nunca, precisamos de pessoas autênticas.

Agora, olhemos para o nosso íntimo e façamos algumas perguntas a partir da rocha, da pedra e do seixo. A partir da rocha: há em nós ardor, zelo, paixão pelo Senhor e pelo Evangelho, ou é algo que se desintegra com facilidade? E depois, somos pedras, não de tropeço, mas de construção para a Igreja? Trabalhamos pela unidade, interessamo-nos pelos outros, especialmente pelos mais frágeis? Por último, pensando no seixo: estamos conscientes da nossa pequenez? E sobretudo: nas debilidades, confiamo-nos ao Senhor, que realiza grandes coisas com quem é humilde e sincero?
Que Maria, Rainha dos Apóstolos, nos ajude a imitar a força, a generosidade e a humildade dos Santos Pedro e Paulo.

Jesus entrega as chaves do Reino a Pedro
(Fachada da Basílica Vaticana)

Fonte: Santa Sé.

Fotos da Solenidade de São Pedro e São Paulo no Vaticano (2023)

No dia 29 de junho de 2023 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Santa Missa da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo na Basílica Vaticana, durante a qual abençoou os pálios destinados aos Arcebispos Metropolitanos nomeados durante o último ano.

A Liturgia Eucarística, por sua vez, foi celebrada pelo Cardeal Giovanni Battista Re, Decano do Colégio Cardinalício, assistido pelo Monsenhor Cristiano Antonietti.

O Santo Padre foi assistido por Dom Diego Giovanni Ravelli, recentemente ordenado Bispo, e pelo Monsenhor Ján Dubina.

O livreto da celebração pode ser visto aqui, incluindo a lista dos 32 Arcebispos que receberam o pálio.

A celebração contou também com a presença de uma delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, presidida pelo Metropolita Jó de Pissídia.



Os diáconos com os pálios
Bênção dos pálios
Liturgia da Palavra

Homilia do Papa: Solenidade de São Pedro e São Paulo 2023

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Santa Missa e Bênção dos pálios para os novos Arcebispos Metropolitanos
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Quinta-feira, 29 de junho de 2023

Pedro e Paulo, dois Apóstolos enamorados do Senhor, duas colunas da fé da Igreja... E enquanto contemplamos a sua vida, o Evangelho de hoje coloca diante de nós a pergunta que Jesus dirige aos seus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16,15). Esta é a pergunta fundamental, a mais importante: Quem é Jesus para mim? Quem é Jesus na minha vida? Vejamos como os dois Apóstolos responderam a esta pergunta.

A resposta de Pedro poderia resumir-se em uma palavra: seguimento. Pedro vive os seus dias no seguimento do Senhor. Naquele dia, quando Jesus interpelou os discípulos em Cesareia de Filipe, Pedro respondeu com uma estupenda profissão de fé: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo» (Mt 16,16). Uma resposta impecável, precisa, pontual! Poderíamos falar de uma resposta «de catecismo» perfeita. Mas tal resposta é fruto de um caminho: só depois de ter vivido a fascinante aventura de seguir o Senhor, só depois de ter caminhado com Ele, seguindo os seus passos durante muito tempo, é que Pedro chegou àquela maturidade espiritual que, por graça, por pura graça, o leva a tão clara profissão de fé.


De fato, como narra o mesmo evangelista Mateus, tudo tinha começado naquele dia em que Jesus, passando ao longo do mar da Galileia, o chamou, juntamente com seu irmão André: «Eles deixaram as redes imediatamente e O seguiram» (Mt 4,20). Pedro largou tudo para ir atrás do Senhor. E o Evangelho sublinha: «imediatamente». Pedro não disse a Jesus que iria pensar nisso, não fez cálculos para ver se lhe convinha, não apresentou desculpas para adiar a decisão, mas deixou as redes e O seguiu, sem pedir antecipadamente qualquer segurança. Haveria de descobrir tudo dia após dia, no seguimento de Jesus, caminhando atrás d’Ele. Não é por acaso que as últimas palavras - segundo os Evangelhos - que Jesus lhe dirige são: «Tu, segue-Me» (Jo 21,22), isto é, o seguimento.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Hinos de São Pedro e São Paulo: II Vésperas

“Vós que ocupais os primeiros lugares entre os Apóstolos e que sois doutores do universo, intercedei perante o Senhor de todos, para que dê a paz ao mundo e, às nossas almas, a grande misericórdia” [1].

Para a Solenidade de São Pedro e São Paulo, no dia 29 de junho, a Igreja nos propõe quatro hinos para a Liturgia das Horas (LH):
I Vésperas: Aurea luce (Ó áurea luz);
Ofício das Leituras: Felix per omnes festum (A festa dos Apóstolos);
Laudes: Apostolórum pássio (A paixão dos Apóstolos);
II Vésperas: O Roma felix (Roma feliz).

São Pedro e São Paulo, Apóstolos
(Raúl Berzosa Fernández)

Nesta postagem concluímos nossa apresentação das quatro composições com o hino das II Vésperas: O Roma felix (Roma feliz). Trata-se da continuação do hino do Ofício, Felix per omnes festum, atribuído a São Paulino de Aquileia (†802).

Paulino II de Aquileia (assim referido para distingui-lo do seu antecessor de mesmo nome, que foi Patriarca durante o séc. VI) foi mestre na corte de Carlos Magno (†814), até ser eleito Patriarca de Aquileia (Itália) em 787. Participou de diversos Sínodos, combatendo sobretudo a heresia do adocionismo, e foi um grande promotor da evangelização na vizinha Eslovênia.

O hino completo possui oito estrofes, além da doxologia final em louvor à Trindade. Se no Ofício são entoadas as primeiras duas estrofes, nas II Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo são entoadas as últimas duas estrofes, unidas à doxologia.

Outra parte da composição, por sua vez, é entoada nas Laudes da Festa da Cátedra de São Pedro, no dia 22 de fevereiro (Petrus beátus catenárum láqueos).

Este é outro dos hinos resgatados pela Comissão presidida pelo Padre Anselmo Lentini (†1989), responsável pela revisão dos hinos da LH durante a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. No antigo Breviarium Romanum, com efeito, nas II Vésperas da Solenidade repetia-se o hino das I Vésperas, Aurea luce.

Assim, como fizemos com os demais hinos da Solenidade e da LH em geral, reproduzimos a seguir o texto original de O Roma felix (em latim), e sua tradução oficial para o português do Brasil, seguidos de alguns breves comentários sobre sua teologia.

Diferentemente da parte do hino entoada no Ofício das Leituras, aqui a tradução brasileira conservou a estrutura do texto latino: três estrofes de cinco versos.

São Paulino II de Aquileia (†802): autor do hino

Sancti Petri et Pauli, Apostolorum (Solemnitas)
II Vesperae: O Roma felix

1. O Roma felix, quae tantórum príncipum
es purpuráta pretióso sánguine!
Excéllis omnem mundi pulchritúdinem
non laude tua, sed sanctórum méritis,
quos cruentátis iugulásti gládiis.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Jesus Cristo 3

Jesus Cristo, filho de Maria e filho de Israel foi o tema das Catequeses nn. 3-4 de São João Paulo II sobre Jesus Cristo.

Para acessar o índice das Catequeses sobre o Creio do Papa polonês, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO

3. Jesus, concebido por obra do Espírito Santo, nascido de Maria Virgem
João Paulo II - 28 de janeiro de 1987

1. Na Catequese anterior concentramos a nossa reflexão no nome “Jesus”, que significa “Salvador”. Este mesmo Jesus, que viveu por trinta anos em Nazaré, na Galileia, é o Filho Eterno de Deus, “concebido pelo poder do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria”. Proclamam-no os Símbolos da fé, o Símbolo dos Apóstolos e o Niceno-Constantinopolitano; ensinaram-no os Padres da Igreja e os Concílios, segundo os quais Jesus Cristo, Filho Eterno de Deus, é “ex substantia matris in saeculo natus” (cf. Símbolo Atanasiano ou Quicumque; Denzinger, n. 76). A Igreja, pois, professa e proclama que Jesus Cristo foi concebido e nasceu de uma filha de Adão, descendente de Abraão e de Davi, a Virgem Maria.

O Evangelho segundo Lucas precisa que Maria concebeu o Filho de Deus por obra do Espírito Santo, “sem conhecer homem” (cf. Lc 1,34; Mt 1,18.24-25). Maria era, pois, virgem antes do nascimento de Jesus e permaneceu virgem depois do parto. É a verdade que apresentam os textos do Novo Testamento e que expressaram tanto o V Concilio Ecumênico, celebrado em Constantinopla em 553, que fala de Maria “sempre Virgem”, como o Sínodo Lateranense de 649, que ensina que “a Mãe de Deus... Maria... concebeu (seu Filho) por obra do Espírito Santo, sem intervenção de homem, e o gerou sem corrupção... permanecendo inviolada a sua virgindade também depois do parto” (Denzinger, n. 503).

Anunciação (Fra Angelico - Florença, Itália)

2. Esta fé está presente no ensinamento dos Apóstolos. Lemos, por exemplo, na Carta de São Paulo aos Gálatas: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher... para recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,4-5). Os acontecimentos ligados à concepção e ao nascimento de Jesus estão contidos nos primeiros capítulos de Mateus e de Lucas, comumente definidos “o Evangelho da infância”, e é sobretudo a eles que é preciso fazer referência.

3. Particularmente conhecido é o texto de Lucas, porque é frequentemente lido na Celebração Eucarística e utilizado na oração do Ângelus. O trecho do Evangelho de Lucas descreve a anunciação a Maria, seis meses depois do anúncio do nascimento de João Batista (cf. Lc 1,5-25):

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Hinos de São Pedro e São Paulo: Laudes

“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue” [1].

A Solenidade de São Pedro e São Paulo, celebrada pelas Igrejas do Oriente e do Ocidente no dia 29 de junho, é enriquecida com quatro hinos próprios na Liturgia das Horas (LH):
I Vésperas: Aurea luce (Ó áurea luz);
Ofício das Leituras: Felix per omnes festum (A festa dos Apóstolos);
Laudes: Apostolórum pássio (A paixão dos Apóstolos);
II Vésperas: O Roma felix (Roma feliz).

São Pedro e São Paulo diante da cidade de Roma [2]:
Notem-se os instrumentos do martírio (a cruz e a espada)

Em nossas postagens anteriores analisamos os hinos das I Vésperas e do Ofício das Leituras. Agora, portanto, cabe considerar o hino das Laudes: Apostolórum pássio (A paixão dos Apóstolos).

Este hino foi composto por Santo Ambrósio de Milão (†397), Bispo e Doutor da Igreja, no século IV. Possuía originalmente oito estrofes, seis das quais são entoadas aqui, unidas a uma súplica final dirigida a Cristo Redentor, adaptada do hino “Aetérna Christi múnera”, do Comum dos Mártires, igualmente obra de Ambrósio, totalizando sete estrofes.

Essa composição é outra das obras resgatadas pela Comissão encarregada da revisão dos hinos da LH durante a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, encabeçada pelo Padre Anselmo Lentini (†1989).

No antigo Breviarium Romanum, por sua vez, entoava-se nas Laudes dessa Solenidade o hino “Iam, bone pastor” que, como vimos em sua respectiva postagem, atualmente é prescrito para as Festas da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25 de janeiro) e para a Memória da Dedicação das suas Basílicas (18 de novembro).

Segue, pois, o texto original de Apostolórum pássio (em latim) e sua tradução oficial para o português do Brasil, além de alguns comentários sobre sua teologia, esquema que adotamos neste blog para a análise dos hinos da LH.

Note-se que as estrofes de quatro versos do texto original foram transformadas em estrofes de seis versos na tradução brasileira, com rimas alternadas nos versos pares.

Santo Ambrósio de Milão (†397): autor do hino

Sancti Petri et Pauli, Apostolorum (Solemnitas)
Laudes matutinae: Apostolórum pássio

1. Apostolórum pássio
diem sacrávit saeculi,
Petri triúmphum nóbilem,
Pauli corónam praeferens.

2. Coniúnxit aequáles viros
cruor triumphális necis;
Deum secútos praesulem
Christi coronávit fides.

Missa em honra de São Josemaría Escrivá em Manila

No dia 26 de junho de 2023 o Arcebispo de Manila (Filipinas), Cardeal Jose Fuerte Advincula, presidiu a Santa Missa em honra de São Josemaría Escrivá, Presbítero e fundador do Opus Dei, na Catedral Metropolitana da Imaculada Conceição:

Imagem de São Josemaría Escrivá
Procissão de entrada


Incensação

Ângelus: XII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 25 de junho de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia, feliz domingo!
No Evangelho de hoje (Mt 10,26-33) Jesus repete três vezes aos seus discípulos: «Não tenhais medo» (vv. 26.28.31). Pouco antes falou-lhes das perseguições que terão de suportar por causa do Evangelho, uma realidade ainda hoje atual: a Igreja, de fato, desde o início conheceu, juntamente com as alegrias - e foram tantas! -, muitas perseguições. Parece paradoxal: o anúncio do Reino de Deus é uma mensagem de paz e de justiça, fundada na caridade fraterna e no perdão e, no entanto, encontra oposições, violências e perseguições. Jesus, porém, diz para não temermos: não porque no mundo tudo correrá bem, não, mas porque para o Pai somos preciosos e nada do que é bom se perderá. Por isso diz-nos para não deixarmos que o medo nos detenha, mas para temermos outra coisa, apenas uma coisa. O que nos diz Jesus que devemos temer?

Descobrimo-lo através de uma imagem que Jesus utiliza hoje: a imagem da “Geena” (v. 28). O vale da Geena era um lugar que os habitantes de Jerusalém conheciam bem: era o grande depósito de lixo da cidade. Jesus fala dele para dizer que o verdadeiro medo que se deve ter é o de jogar fora a própria vida. Jesus diz: «Sim, temei isto». Como se dissesse: não é tanto ter medo de sofrer incompreensões e críticas, de perder o prestígio e as vantagens econômicas para permanecer fiel ao Evangelho, mas de desperdiçar a existência perseguindo coisas banais, que não enchem a vida de sentido.

E isto é importante para nós. De fato, também hoje, podemos ser ridicularizados ou discriminados se não seguirmos certos modelos em voga, que, no entanto, colocam muitas vezes no centro realidades de segunda categoria: por exemplo, seguir coisas em vez de pessoas, desempenhos em vez de relações. Vejamos alguns exemplos. Penso nos pais, que precisam trabalhar para sustentar a família, mas não podem viver só para o trabalho: precisam de tempo para estar com os filhos. Penso também em um sacerdote ou religiosa: devem empenhar-se no seu serviço, mas sem esquecer-se de dedicar tempo a estar com Jesus, caso contrário caem na mundanidade espiritual e perdem o sentido de quem são. E penso ainda em um jovem, que tem mil compromissos e paixões: escola, esporte, interesses diversos, celular e redes sociais, mas precisa encontrar pessoas e realizar grandes sonhos, sem perder tempo com coisas que passam e não deixam marca.

Tudo isto, irmãos e irmãs, implica alguma renúncia perante os ídolos da eficácia e do consumismo, mas é necessário para não nos perdermos nas coisas, que depois são jogadas fora, como se fazia na Geena de então. E na Geena de hoje muitas vezes acabam as pessoas: pensemos nos últimos, muitas vezes tratados como material de descarte e objetos indesejados. Permanecer fieis ao que conta custa; custa ir contra a maré, custa libertar-se dos condicionamentos do pensamento comum, custa ser afastado por aqueles que “seguem a onda”. Mas não importa, diz Jesus: o que importa é não jogar fora o bem maior, a vida. Só este fato já nos deve assustar.

Perguntemo-nos então: eu, do que tenho medo? De não ter aquilo de que gosto? De não atingir os objetivos que a sociedade impõe? Do julgamento dos outros? Ou de não agradar ao Senhor e não colocar o seu Evangelho em primeiro lugar?
Maria, sempre Virgem, Mãe sábia, ajuda-nos a sermos sábios e corajosos nas escolhas que fazemos.


Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 27 de junho de 2023

Dom Diego Ravelli nomeado Delegado Pontifício em Pádua

No dia 27 de junho de 2023 o Papa Francisco nomeou Dom Diego Giovanni Ravelli, Arcebispo titular de Recanati e Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, como novo Delegado Pontifício para a Basílica de Santo Antônio em Pádua a partir do dia 01 de agosto.

Dom Diego Giovanni Ravelli

Embora situada no território italiano, a Basílica de Santo Antônio em Pádua pertence à Santa Sé, assim como a Basílica de Nossa Senhora em Loreto, de modo que o Papa nomeia um Bispo como Delegado Pontifício.

Desde 2017 esse cargo vem sendo exercido pelo Delegado Pontifício em Loreto, Dom Fabio Dal Cin, que agora exercerá apenas este último ofício.

Diego Giovanni Ravelli nasceu no dia 01 de novembro de 1965 em Lazzate (Itália) e foi ordenado sacerdote no dia 15 de junho de 1991 pelo Bispo Diocesano de Como, Dom Alessandro Maggiolini, como membro da Associação Clerical “Sacerdotes de Jesus Crucificado”, sediada em Como.

Sete anos depois, em setembro de 1998, foi incardinado na Diocese de Velletri-Segni. No mesmo ano de 1998 começou a trabalhar na Elemosineria Apostólica (renomeada em 2022 como Dicastério para o Serviço da Caridade), da qual se tornou Capo Ufficio em 2013.

Em 2003 recebeu o título de Monsenhor “Capelão de Sua Santidade” e em 25 de fevereiro de 2006 foi nomeado Cerimoniário Pontifício pelo Papa Bento XVI.

Em 2010 obteve o Doutorado em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma), com a tese “La solennità della Cattedra di San Pietro nella Basilica Vaticana: Storia e formulario della Messa”.

Ordenação Episcopal de Dom Diego Ravelli

No dia 11 de outubro de 2021 foi nomeado pelo Papa Francisco como novo Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, sucedendo Dom Guido Marini, eleito Bispo de Tortona (Itália).

Além de coordenar as celebrações presididas pelo Papa, o Mestre das Celebrações Litúrgicas é também responsável pela Sacristia Pontifícia, pelas capelas do Palácio Apostólico e pelo coro da Capela Sistina.

No dia 11 de junho de 2022 foi nomeado Consultor do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

No dia 21 de abril de 2023 o Papa Francisco nomeou Monsenhor Ravelli como Arcebispo titular de Recanati, recebendo a Ordenação Episcopal no dia 03 de junho no altar da Cátedra da Basílica de São Pedro pela imposição das mãos do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé.

Com sua nomeação como Delegado Pontifício para a Basílica de Pádua não fica claro se Dom Diego Ravelli continuará exercendo o Ofício de Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias.

Basílica de Santo Antônio em Pádua

Com informações do site da Santa Sé.

Hinos de São Pedro e São Paulo: Ofício das Leituras

“Ó Pedro, rochedo da fé, e Paulo, glória do universo, vinde juntos confirmar-nos!” [1].

Como vimos em nossa postagem anterior, são quatro os hinos próprios para a Solenidade de São Pedro e São Paulo (29 de junho) na Liturgia das Horas (LH):
I Vésperas: Aurea luce (Ó áurea luz);
Ofício das Leituras: Felix per omnes festum (A festa dos Apóstolos);
Laudes: Apostolórum pássio (A paixão dos Apóstolos);
II Vésperas: O Roma felix (Roma feliz).

São Pedro e São Paulo
(Fra Bartolomeo e Rafael Sanzio)

Após dedicarmos uma postagem ao hino das I Vésperas, gostaríamos de apresentar brevemente o hino do Ofício das Leituras da Solenidade: Felix per omnes festum (A festa dos Apóstolos).

Este foi composto entre os séculos VIII e IX, sendo atribuído a São Paulino de Aquileia (†802). Paulino foi mestre na corte de Carlos Magno (†814), até ser eleito Patriarca de Aquileia em 787.

Paulino II de Aquileia (assim referido para distingui-lo do seu antecessor de mesmo nome, que foi Patriarca durante o séc. VI) participou de diversos Sínodos, combatendo sobretudo a heresia do adocionismo, e foi um grande promotor da evangelização na vizinha Eslovênia.

O hino completo possui oito estrofes, além da doxologia final em louvor à Trindade. Para o Ofício das Leituras são entoadas as primeiras duas estrofes (Felix per omnes festum; Hi sunt olívae duae) unidas à doxologia.

Como recorda Felix Arocena em sua obra Los himnos de la Liturgia de las Horas, outras estrofes do nosso hino são entoadas nas II Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo (O Roma felix...), como veremos na respectiva postagem, e nas Laudes da Festa da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro), Petrus beátus catenárum láqueos.

Vale dizer que este hino foi resgatado pela Comissão encarregada da revisão dos hinos da LH durante a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, encabeçada pelo Padre Anselmo Lentini (†1989).

No antigo Breviarium Romanum não havia um hino próprio para as Matinas de São Pedro e São Paulo, sendo entoado o hino do Comum dos Apóstolos “Aetérna Christi múnera” (originalmente uma composição em honra aos Mártires, resgatada como tal pela reforma litúrgica).

São Paulo II de Aquileia (†802), autor do hino

Assim, como já fizemos com outros hinos da LH aqui no blog, reproduzimos a seguir o texto original de Felix per omnes festum (em latim), e sua tradução oficial para o português do Brasil, seguidos de breves comentários sobre sua teologia.

Note-se que enquanto o texto latino é composto por três estrofes de cinco versos, na tradução brasileira há seis estrofes de quatro versos, com rimas alternadas nos versos pares.

Sancti Petri et Pauli, Apostolorum (Solemnitas)
Officium Lectionis: Felix per omnes festum

1. Felix per omnes festum mundi cárdines
apostolórum praepóllet alácriter,
Petri beáti, Pauli sacratíssimi,
quos Christus almo consecrávit sánguine,
ecclesiárum deputávit príncipes.

Ordenações Presbiterais em Londres

No dia 24 de junho de 2023 o Cardeal Vincent Gerard Nichols, Arcebispo de Westminster, celebrou a Santa Missa da Solenidade da Natividade de São João Batista na Catedral do Preciosíssimo Sangue em Londres (Inglaterra), durante a qual conferiu a Ordenação Sacerdotal a cinco novos sacerdotes:

Procissão de entrada
Incensação do altar
Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Procissão com o Livro dos Evangelhos

Natividade de São João Batista em Manila (2023)

O Arcebispo de Manila (Filipinas), Cardeal Jose Fuerte Advincula, presidiu no dia 24 de junho de 2023 a Santa Missa da Solenidade da Natividade de São João Batista na Paróquia de São João Batista de Pinaglabanan na cidade de San Juan, região metropolitana de Manila, durante a qual abençoou a nova pia batismal da igreja:

Imagem de São João Batista venerada na igreja
Procissão de entrada
Ritos iniciais
Evangelho

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Hinos de São Pedro e São Paulo: I Vésperas

O Apóstolo Pedro e Paulo, o doutor das nações, nos ensinaram, Senhor, a vossa lei” [1].

No ano de 2022 publicamos uma postagem sobre o hino “Iam, bone pastor, entoado na Liturgia das Horas (LH) das Festas da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25 de janeiro) e na Memória da Dedicação das suas Basílicas (18 de novembro).

São Pedro e São Paulo
(El Greco)

Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade à proposta apresentando o primeiro dos quatro hinos da Solenidade de São Pedro e São Paulo (29 de junho) na LH:
I Vésperas: Aurea luce (Ó áurea luz);
Ofício das Leituras: Felix per omnes festum (A festa dos Apóstolos);
Laudes: Apostolórum pássio (A paixão dos Apóstolos);
II Vésperas: O Roma felix (Roma feliz).

Como indica Felix Arocena em sua obra Los himnos de la Liturgia de las Horas, as três estrofes de “Iam bone pastor” são na verdade parte do hino das I Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo: “Aurea luce et decóre róseo (Ó áurea luz, ó esplendor de rosa).

Esta composição anônima realizada entre os séculos VIII e IX possui seis estrofes: Aurea luce; Iánitor caeli; Iam, bone pastor; Doctor egrégie; Olívae binae; Sit Trinitáti.

Desde o tempo do Papa São Pio V (†1572) se omitia a estrofe “Olívae binae”, que era substituída por “O Roma felix”, adaptada do hino “Felix per omnes festum”, atualmente entoado no Ofício das Leituras e nas II Vésperas da Solenidade.

Além disso, no antigo Breviarium Romanum entoava-se tanto nas I quanto nas II Vésperas de São Pedro e São Paulo uma versão do hino realizada pelo Papa Urbano VIII (†1644), intitulada Decóra lux aeternitátis [2].

A Comissão encarregada pela revisão dos hinos da LH após o Concílio, encabeçada pelo Padre Anselmo Lentini (†1989), recuperou o texto original da composição, incluindo a estrofe “Olívae binae”, conservando ao mesmo tempo a estrofe “O Roma felix”, como veremos a seguir.

Com efeito, como já fizemos com outros hinos da LH aqui no blog, reproduzimos a seguir o texto original do hino (em latim), composto por cinco estrofes de quatro versos, e sua tradução oficial para o português do Brasil, seguidos de alguns breves comentários sobre sua teologia.

São Pedro
(Coluna de Trajano, Roma)

Sancti Petri et Pauli, Apostolorum (Solemnitas)
I Vesperae: Aurea luce et decóre róseo

1. Aurea luce et decóre róseo,
lux lucis, omne perfudísti saeculum,
décorans caelos ínclito martýrio
hac sacra die, quae dat reis véniam.

2. Iánitor caeli, doctor orbis páriter,
iúdices saecli, vera mundi lúmina,
per crucem alter, alter ense triúmphans,
vitae senátum laureáti póssident.

Natividade de São João Batista em Cracóvia (2023)

No dia 24 de junho de 2023 o Arcebispo de Cracóvia (Polônia), Dom Marek Jędraszewski, presidiu a Santa Missa da Solenidade da Natividade de São João Batista na igreja de São João Batista no distrito de Prądnik Czerwony.

Como de costume na Polônia nas grandes solenidades, no final da celebração teve lugar a exposição do Santíssimo Sacramento e a procissão eucarística a redor da igreja:

Imagem do Batismo do Senhor venerada na igreja
Procissão de entrada
Incensação
Ritos iniciais
Evangelho

Natividade de São João Batista na Terra Santa (2023)

Nos dias 23 e 24 de junho de 2023 a localidade de Ain Karen, na Terra Santa, acolheu as celebrações da Solenidade da Natividade de São João Batista:

Na tarde do dia 23 o Padre Alessandro Coniglio, Secretário do Studium Biblicum Franciscanum, presidiu as I Vésperas da Solenidade no Santuário de São João Batista no Deserto.

No dia 24, por sua vez, o Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton, presidiu a Santa Missa em uma das capelas do Santuário de São João Batista na Montanha, cuja igreja principal encontra-se em reforma.

23 de junho: I Vésperas no Santuário de São João Batista no Deserto

Oração das Vésperas: Homilia
Procissão até a Gruta de São João Batista

24 de junho: Missa no Santuário de São João Batista na Montanha

Procissão de entrada

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Eleitos membros da Comissão para a Liturgia da CNBB

Na última quarta-feira, 21 de junho de 2023, durante a reunião do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foram eleitos os dois membros da Comissão Episcopal para a Liturgia para o quadriênio 2023-2027.

Além do Presidente, Dom Hernaldo Pinto Farias, Bispo de Bonfim (BA), eleito durante a Assembleia da CNBB no mês de abril, integrarão a Comissão para a Liturgia nos próximos quatro anos Dom José Benedito Cardoso, Bispo auxiliar de São Paulo (SP), e Dom Dorival Barreto Souza Júnior, Bispo Auxiliar de Salvador (BA).

Dom Hernaldo Pinto Farias, S.S.S, nasceu a 24 de junho de 1964 em Vitória da Conquista (BA). Após ingressar na Congregação do Santíssimo Sacramento (Sacramentinos), realizou sua Profissão Religiosa em 25 de janeiro de 1988 e recebeu a Ordenação Presbiteral no dia 18 de julho de 1992.
Possui Doutorado em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo.
No dia 17 de julho de 2019 foi nomeado pelo Papa Francisco como Bispo da Diocese de Bonfim (BA), recebendo a Ordenação Episcopal no dia 15 de setembro do mesmo ano.

Dom Hernaldo Pinto Farias

Dom José Benedito Cardoso nasceu em 12 de setembro de 1961 em Angatuba (SP). Recebeu a Ordenação Presbiteral no dia 23 de novembro de 1986, sendo incardinado na Arquidiocese de Sorocaba (SP). Em 1998, a criação da Diocese de Itapetininga, passou a integrar o clero da nova Diocese.
Foi nomeado pelo Papa Francisco no dia 23 de janeiro de 2019 como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, recebendo a Ordenação Episcopal no dia 15 de março.
Atualização: No dia 04 de janeiro de 2024 foi nomeado Bispo Diocesano de Catanduva (SP).

Dom José Benedito Cardoso

Dom Dorival Souza Barreto Júnior nasceu no dia 10 de março de 1964 em Jequié (BA). Foi ordenado sacerdote em 10 de janeiro de 1988, incardinado na Arquidiocese de Montes Claros (MG).
Possui Mestrado em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo e Doutorado em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana.
Foi nomeado Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Salvador (BA) pelo Papa Francisco em 04 de novembro de 2020, recebendo a Ordenação Episcopal em 03 de janeiro de 2021.

Dom Dorival Souza Barreto Júnior

Os três Bispos mencionados sucedem Dom Edmar Peron (Presidente), Dom Carlos Verzeletti e Dom José Luiz Majella Delgado, que integraram a Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB entre 2019 e 2023.

A principal missão da Comissão nos próximos meses será a implementação da tradução da 3ª edição típica do Missal Romano, confirmada pelo Dicastério para o Culto Divino no início deste ano de 2023 e que entrará em vigor para toda a Igreja do Brasil no 1º Domingo do Advento, no próximo dia 03 de dezembro.

Com informações do site da CNBB.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Jesus Cristo 2

A segunda Catequese do Papa São João Paulo II sobre Jesus Cristo esteve centrada no simbolismo do “nome” de Jesus.

Para acessar a postagem que serve de introdução a essa série de Catequeses, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO

2. Jesus, Filho de Deus e Salvador
João Paulo II - 14 de janeiro de 1987

1. Com a Catequese da semana passada, seguindo os mais antigos Símbolos da fé cristã, iniciamos um novo ciclo de reflexões sobre Jesus Cristo. O Símbolo Apostólico proclama: “Creio... em Jesus Cristo, seu único Filho (de Deus)”. O Símbolo Niceno-Constantinopolitano, depois de definir com precisão ainda maior a origem divina de Jesus Cristo como Filho de Deus, prossegue declarando que este Filho de Deus “por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou...”. Como vemos, o núcleo central da fé cristã é constituído pela dupla verdade de que Jesus Cristo é Filho de Deus e Filho do homem (a verdade cristológica) e é a realização da salvação do homem, que Deus Pai cumpriu n’Ele, seu Filho e Salvador do mundo (a verdade soteriológica).

Santo Nome de Jesus (Catedral de Ely, Inglaterra)

2. Se nas Catequeses anteriores tratamos do mal, e em particular do pecado (Catequeses sobre Deus Pai, nn. 48-59), o fizemos também para preparar o presente ciclo sobre Jesus Cristo Salvador. Salvação significa, com efeito, libertação do mal, em particular do pecado. A Revelação contida na Sagrada Escritura, começando pelo protoevangelho (Gn 3,15), nos abre à verdade de que só Deus pode libertar o homem do pecado e de todo o mal presente na existência humana. Deus, enquanto revela a Si mesmo como Criador do mundo e seu providente Ordenador, revela-se ao mesmo tempo como Salvador: como Aquele que liberta do mal, em particular do pecado causado pela livre vontade da criatura. É este o ápice do projeto criador realizado pela Providência de Deus, no qual mundo (cosmologia), homem (antropologia) e Deus Salvador (soteriologia) estão estreitamente ligados.

Como recorda o Concílio Vaticano II, os cristãos creem que o mundo é “criado e conservado pelo amor do Criador, certamente posto sob a escravidão do pecado, mas que Cristo, Crucificado e Ressuscitado, libertou...” (Gaudium et spes, n. 2).

3. O nome “Jesus”, considerado em seu significado etimológico, quere dizer “Yahweh liberta”, salva, ajuda. Antes da escravidão da Babilônia era expresso na forma “Yehosua”: nome teofórico que contém a raiz do santíssimo nome de Yahweh. Depois da escravidão babilônica tomou a forma abreviada “Yeshua”, que na tradução dos Setenta foi transcrito como “Iesous” [Ἰησοῦς], donde deriva “Jesus”.

terça-feira, 20 de junho de 2023

Ângelus: XI Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 18 de junho de 2023

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, no Evangelho, Jesus chama pelo nome - chama pelo nome - e envia os doze Apóstolos (Mt 9,36–10,8). Enviando-os, pede-lhes que proclamem algo: «Anunciai que o Reino dos Céus está próximo» (v. 7). É o mesmo anúncio com que Jesus deu início à sua pregação: o Reino de Deus, isto é, o seu senhorio de amor, aproximou-se, vem entre nós. E não se trata apenas de uma notícia entre outras, mas da realidade fundamental da vida: a proximidade de Deus, a proximidade de Jesus! 

Com efeito, se o Deus dos Céus está próximo, não estamos sozinhos na terra e não perdemos a confiança nem sequer no meio das dificuldades. Eis a primeira coisa a dizer às pessoas: Deus não está distante, é Pai. Deus não está distante, é Pai, conhece-te e ama-te; quer dar-te a mão, até quando percorres caminhos íngremes e acidentados, até quando cais e tens dificuldade em levantar-te e retomar o caminho; Ele, o Senhor, está aí, contigo. Aliás, muitas vezes, nos momentos em que te sentes mais frágil, podes sentir a sua presença mais forte. Ele conhece o caminho, Ele está contigo, Ele é o teu Pai! Ele é o meu Pai! Ele é o nosso Pai!

Detenhamo-nos nesta imagem, porque anunciar Deus próximo significa convidar a pensar como uma criança que caminha segurando a mão do pai: tudo lhe parece diferente. O mundo, grande e misterioso, torna-se familiar e seguro, pois a criança sabe que está protegida. Não tem medo e aprende a abrir-se: encontra outras pessoas, encontra novos amigos, aprende com alegria coisas que não conhecia, e depois volta para casa e conta a todos o que viu, enquanto aumenta nela o desejo de crescer e fazer as coisas que viu o pai fazer. É por isso que Jesus começa por aqui, é por isso que a proximidade de Deus é o primeiro anúncio: permanecendo próximos de Deus, vencemos o medo, abrimo-nos ao amor, crescemos no bem e sentimos a necessidade e a alegria de anunciar! 

Se quisermos ser bons apóstolos, devemos ser como as crianças: sentar-nos “no colo de Deus” e, dali olhar para o mundo com confiança e amor, para testemunhar que Deus é Pai, que só Ele transforma o nosso coração e nos dá aquela alegria e aquela paz que nós próprios não nos podemos dar.

Anunciar que Deus está próximo. Mas como fazer? No Evangelho, Jesus recomenda que não se digam muitas palavras, mas que se façam muitos gestos de amor e de esperança em nome do Senhor; não dizer muitas palavras, mas fazer gestos: «Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai» (v. 8). Eis o cerne do anúncio: o testemunho gratuito, o serviço. Digo-vos algo: fico sempre muito perplexo com os “tagarelas”, com o seu muito falar e nada fazer.

Façamos aqui algumas perguntas: nós, que cremos no Deus próximo, confiamos n’Ele? Sabemos olhar para a frente com confiança, como uma criança que sabe que está no colo do pai? Sabemos sentar-nos no colo do Pai na oração, na escuta da Palavra, aproximando-nos dos Sacramentos? E por fim, abraçados a Ele, sabemos incutir coragem nos outros, fazer-nos próximos de quem sofre e está só, de quem está distante e até de quem nos é hostil? Eis a realidade da fé, é isto que conta!
E agora rezemos a Maria, para que nos ajude a sentir-nos amados e a transmitir proximidade e confiança.

Missão dos Apóstolos (Hippolyte Flandrin)

Fonte: Santa Sé.