“Filhinhos, não amemos
só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18)
Com esta postagem concluiremos a nossa análise da leitura
litúrgica da Primeira Carta de João (1Jo), livro recomendado neste “Mês da
Bíblia” de 2019.
Nas primeiras duas partes deste estudo, após uma breve
introdução à Carta, consideramos sua
leitura a partir do critério da composição harmônica na Missa e nas demais celebrações. Passamos agora a analisar
o critério da leitura semicontínua.
3. Leitura litúrgica
da 1Jo: Leitura semicontínua
A leitura semicontínua, conforme no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa [1], consiste
na leitura dos principais textos de um livro na sequência, de modo a oferecer
aos fiéis um contato mais amplo com a Sagrada Escritura.
a) Celebração
Eucarística
Nossa Carta
consta, primeiramente, como 2ª leitura do II
ao VII Domingos do Tempo Pascal no ano B. O Elenco das Leituras da Missa, referindo-se ao Tempo Pascal, indica
a motivação desta escolha: “Para a leitura apostólica, no ano A, lê-se a Primeira Carta de São Pedro; no ano B, a
Primeira Carta de São João, e no ano
C, o Apocalipse. Esses textos estão
de acordo com o espírito de uma fé alegre e uma firme esperança, próprios desse
tempo” [2].
No II Domingo da Páscoa
proclama-se o texto de 1Jo 5,1-6 [3]. Esta leitura traz o tríplice testemunho a
respeito de Cristo (o Espírito, a água e o sangue), referido também na coleta
deste dia.
Esta síntese do Mistério Pascal
aparece também no Evangelho desta celebração (Jo 20,19-31): Jesus sopra sobre
os Apóstolos e diz: “Recebei o Espírito
Santo”, os exorta a “perdoar os
pecados” (o sacramento do perdão por excelência é o Batismo, onde ocupa um
protagonismo o símbolo da água) e mostra-lhes suas chagas (referência ao sangue
derramado na cruz).
O encontro do Ressuscitado com os discípulos |
Nos demais domingos deste tempo, as leituras trazem algumas
das principais perícopes da Carta na
ordem [4]:
III Domingo: 1Jo 2,1-5a - Jesus é a vítima de expiação pelos
nossos pecados.
IV Domingo: 1Jo 3,1-2 - Nós somos filhos de Deus.
V Domingo: 1Jo 3,18-24 - Exortação a amar não apenas com
palavras, mas também com as ações. (Destaca-se aqui o verbo “permanecer”, que
aparece tanto na leitura quanto no Evangelho: Jo 15,1-8).
VI Domingo: 1Jo 4,7-10 - Exortação a amar, porque Deus é amor
(O mandamento do amor é retomado no Evangelho: Jo 15,9-17).
VII Domingo: 1Jo 4,11-16 - A vinda de Cristo ao mundo é prova
do amor de Deus (No Brasil, este domingo é substituído pela Solenidade da
Ascensão do Senhor, transferida da quinta-feira).
Passando ao Tempo do
Natal, encontramos aqui não uma leitura semicontínua, mas contínua: lê-se
toda a Carta, na sequência, nos dias de semana do Tempo do Natal, do dia 27 de dezembro ao sábado depois da
Epifania, como indica o Elenco das
Leituras da Missa: “Desde o dia 29 de dezembro, faz-se uma leitura contínua
de toda a Primeira Carta de São João,
que já se começou a ler no dia 27 de dezembro, festa do mesmo São João, e no
dia seguinte, festa dos Santos Inocentes” [5].
No dia 27 de dezembro, Festa de São João
Evangelista, inicia-se a leitura da Carta
como o texto do Prólogo: 1Jo 1,1-4 [6]. Além de iniciar a leitura contínua,
este texto remete à pessoa do Evangelista João, a quem se atribui sua autoria.
No dia 28 de dezembro, Festa dos Santos
Inocentes, prossegue-se a leitura da Carta
com a perícope de 1Jo 1,5–2,2 [7], assim como nos dias seguintes [8]:
29 de dezembro: 1Jo 2,3-11;
30 de dezembro: 1Jo 2,12-17;
31 de dezembro: 1Jo 2,18-21;
01 de janeiro: Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, com
leituras próprias;
02 de janeiro: 1Jo 2,22-28;
03 de janeiro: 1Jo 2,29–3,6;
04 de janeiro: 1Jo 3,7-10;
05 de janeiro: 1Jo 3,11-21;
06 de janeiro: Solenidade da Epifania do Senhor, com
leituras próprias. No Brasil é transferida para o domingo entre os dias 02 e 08
de janeiro;
Segunda-feira depois da Epifania (ou 07 de janeiro): 1Jo
3,22–4,6;
Terça-feira depois da Epifania (ou 08 de janeiro): 1Jo 4,7-10;
Quarta-feira depois da Epifania (ou 09 de janeiro): 1Jo 4,11-18;
Quinta-feira depois da Epifania (ou 10 de janeiro): 1Jo
4,19–5,4;
Sexta-feira depois da Epifania (ou 11 de janeiro): 1Jo 5,5-13;
Sábado depois da Epifania (ou 12 de janeiro): 1Jo 5,14-21.
No Brasil, quando a Epifania se celebra no dia 07 ou 08, no
dia 06 de janeiro lê-se 1Jo 5,5-13. A mesma lógica se aplica ao dia 07 de janeiro,
quando a Epifania se celebra no dia 08: lemos 1Jo 5,14-21 [9].
b) Liturgia das Horas
As leituras longas
da 1Jo de maneira semicontínua encontram-se
no Ofício das Leituras da VI e da VII
semanas do Tempo Pascal. Como vimos acima, 1Jo é um livro fortemente pascal.
Aqui como nas leituras da Missa no Tempo do Natal, a leitura do livro é integral e na sequência, do VI
Domingo da Páscoa até a quinta-feira da VII semana [10]:
Ofício das Leituras
da VI semana da Páscoa:
Domingo: 1Jo
1,1-10 - “A Palavra da Vida e a luz de
Deus”;
Segunda-feira: 1Jo
2,1-11 - “O mandamento novo”;
Terça-feira: 1Jo
2,12-17 - “O cumprimento da vontade de
Deus”;
Quarta-feira: 1Jo
2,18-29 - “O anticristo”;
Quinta-feira (onde
a Ascensão é celebrada no domingo, como no Brasil) ou sexta-feira depois da Ascensão (onde a Ascensão é celebrada na
quinta-feira): 1Jo 3,1-10 - “Somos filhos
de Deus”;
Sexta-feira (ou
sábado depois da Ascensão): 1Jo 3,11-17 - “A
caridade para com os irmãos”;
Sábado (ou VII
Domingo da Páscoa): 1Jo 3,18-24 - “Mandamento
da fé e da caridade”.
Ofício das Leituras
da VII semana da Páscoa:
Segunda-feira: 1Jo
4,1-10 - “Deus nos amou primeiro”;
Terça-feira: 1Jo
4,11-21 - “Deus é amor”;
Quarta-feira: 1Jo
5,1-12 - “Esta é a vitória: a nossa fé”;
Quinta-feira: 1Jo
5,13-21 - “A oração pelos pecadores”.
Na sexta e no sábado dessa semana, como veremos na próxima
postagem, são lidas as outras duas Cartas
atribuídas a João.
No ciclo bienal
do Ofício das Leituras, que não foi traduzido para o Brasil, os três livros são
lidos nos mesmos dias, porém apenas no
ano ímpar.
Por fim, temos ainda oito leituras breves do nosso
livro, distribuídas durante as orações das Laudes, Hora Média e Vésperas das quatro
semanas do Saltério.
Os salmos organizados nestas quatro semanas são entoados ao
longo de todo o ano, porém as leituras são proferidas apenas no Tempo Comum,
uma vez os Tempos do Advento, Natal, Quaresma e Páscoa possuem leituras
próprias.
- Hora Média (9h) do domingo
da I semana: 1Jo 4,16 [11] - A afirmação central da Carta: “Deus é amor”.
- Vésperas da terça-feira
da I semana: 1Jo 3,1a.2 [12] - A afirmação da nossa filiação divina.
- Laudes da terça-feira
da III semana: 1Jo 4,14-15 [13] - Proclamação da Encarnação do Filho.
- Hora Média (9h) da terça-feira
da IV semana: 1Jo 3,17-18 [14] - Exortação a amar não apenas com palavras,
mas também com ações.
- Vésperas da quarta-feira
da IV semana: 1Jo 2,3-6 [15] - Exortação a guardar os mandamentos.
- Hora Média (9h) da quinta-feira
da IV semana: 1Jo 3,23-24 [16] - Nova exortação a guardar os mandamentos.
- Sexta-feira da IV
semana [17]:
Hora Média (12h): 1Jo 3,16 - O amor é dar a vida pelos
irmãos, a exemplo de Cristo.
Hora Média (15h):
1Jo 4,9-11 - A vinda de Cristo ao mundo como prova do amor de Deus.
Teca (recipiente para transportar a Eucaristia) com a incrição: "Deus caritas est" - "Deus é amor" (1Jo 4,16) |
Concluímos assim esta apresentação da leitura litúrgica da Primeira Carta de João no Rito Romano. Nossa
próxima postagem, que complementará esta pesquisa, considerará a leitura
litúrgica da Segunda e da Terceira Cartas de João (2Jo e 3Jo). Por serem escritos brevíssimos
(ambos com apenas um capítulo), possuem poucas ocorrências nas celebrações
litúrgicas.
Notas:
[1] ALDAZÁBAL, José. A
Mesa da Palavra I: Elenco das Leituras da Missa - Texto e Comentário. São
Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] ibid., p. 99.
[3] LECIONÁRIO I: Dominical
A-B-C. Tradução portuguesa da 2ª
edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1994, p. 509.
[4] ibid., pp.
513.517.520.524.534.
[5] ALDAZÁBAL, op.
cit., pp. 95-96.
[6] LECIONÁRIO III: Para
as Missas dos Santos, dos Comuns, para Diversas Necessidades e Votivas. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para
o Brasil. São Paulo: Paulus, 1997, p. 226.
[7] ibid., p. 228.
[8] LECIONÁRIO II: Semanal.
Tradução portuguesa da 2ª edição típica
para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1995, pp. 113.115.117.120.122.124.126.136.139.141.143.145.148.
[9] ibid., pp.
129.132.
[10] OFÍCIO DIVINO. Liturgia
das Horas segundo o Rito Romano. Tradução
para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus, 1999, v. II, pp.
785.792.799.806.848.858.867.875.881.889.895.
[11] ibid., v. III,
p. 633; v. IV, p. 587.
[12] ibid., v.
III, p. 676; v. IV, p. 630.
[13] ibid., v.
III, p. 941; v. IV, p. 895.
[14] ibid., v.
III, p. 1082; v. IV, p. 1036.
[15] ibid., v.
III, p. 1106; v. IV, p. 1060.
[16] ibid., v.
III, p. 1120; v. IV, p. 1074.
[17] ibid., v.
III, pp. 1139-1140; v. IV, pp. 1093-1094.
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