terça-feira, 31 de março de 2015

O Domingo de Páscoa de 2005 no Vaticano

Na manhã do dia 27 de março de 2005 celebrou-se o último Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor do pontificado de São João Paulo II. A Santa Missa foi presidida pelo Cardeal Angelo Sodano, então Secretário de Estado (atualmente Emérito e Decano do Colégio Cardinalício) na Praça de São Pedro.


Incensação do altar
Aspersão dos fieis


Após a celebração, João Paulo II apareceu na janela de seu quarto, para proferir sua mensagem de Páscoa e conceder aos fieis a bênção “Urbi et Orbi” (À cidade e ao mundo). São estas as últimas palavras ditas publicamente por São João Paulo II:

MENSAGEM URBI ET ORBI DE SUA SANTIDADE JOÃO PAULO II
Domingo de Páscoa, 27 de março de 2005

1. Mane nobiscum Domine! Fica connosco, Senhor! (cf. Lc 24,29).
Com estas palavras os discípulos de Emaús convidaram o misterioso Viajante a permanecer com eles, no entardecer daquele primeiro dia depois do sábado em que o inacreditável tinha acontecido.
Conforme a promessa, Cristo ressuscitara; mas eles ainda não o sabiam.
Porém as palavras do Viajante ao longo do caminho tinham aos poucos aquecido seus corações.
Por isso Lhe fizeram o convite: “Fica connosco”.
Depois, sentados em volta da mesa da ceia, reconheceram-no ao “partir o pão”.
E logo a seguir Ele desapareceu.
Diante deles ficou o pão partido, e no seus corações a douçura daquelas suas palavras.

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, a Palavra e o Pão da Eucaristia, mistério e dom da Páscoa, permanecem ao longo dos séculos como memória perene da paixão, morte e ressurreição de Cristo!
Também hoje, Páscoa da Ressurreição, nós, com todos os cristãos do mundo repetimos: Jesus, crucificado e ressuscitado, fica connosco!
Fica connosco, amigo fiel e seguro apoio da humanidade a caminho pelas estradas da vida!
Tu, Palavra viva do Pai, infunde certeza e esperança naqueles que buscam o verdadeiro sentido da sua existência.
Tu, Pão de vida eterna, nutre o homem faminto de verdade, liberdade, justiça e paz.

3. Fica connosco, Palavra viva do Pai, e ensina-nos palavras e gestos de paz:
paz para a terra consagrada pelo teu sangue e empapada com o sangue de tantas vítimas inocentes;
paz para os Países do Médio Oriente e da África, onde continua a ser derramado muito sangue;
paz para toda a humanidade, sobre a qual sempre grava o perigo de guerras fratricidas.
Fica connosco, Pão de vida eterna, partido e distribuído entre os comensais:
dá-nos também a força de uma solidariedade generosa para com as multidões que, ainda hoje, sofrem e morrem de miséria e fome, dizimadas por epidemias letais ou prostradas por desastrosas catátrofes naturais.
Em virtude da tua Ressurreição possam elas também participar de uma vida nova.

4. Também nós, homens e mulheres do terceiro milénio, necessitamos de Ti, Senhor ressuscitado!
Fica connosco agora e até ao fim dos tempos.
Faz que o progresso material dos povos jamais ofusque os valores espirituais que são a alma da sua civilização.
Ampara-nos, Te suplicamos, no nosso caminho.
Nós cremos em Ti, em Ti esperamos, pois só Tu tens palavras de vida eterna (cf. Jo 6,68)
Mane nobiscum, Domine! Aleluia!

Do Vaticano, 27 de Março de 2005, Páscoa da Ressurreição.







A Vigília Pascal de 2005 no Vaticano

 Na noite de 26 de março de 2005, Sábado Santo, foi celebrada a última Vigília Pascal do pontificado de São João Paulo II. A Vigília foi presidida pelo então Cardeal Ratzinger (hoje Papa Emérito Bento XVI), que na época era Decano do Colégio Cardinalício e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, na Basílica de São Pedro.

Rito da Luz

Liturgia da Palavra

Bênção com o Livro dos Evangelhos
O Santo Padre acompanhou a celebração de seu quarto, pela televisão, e enviou aos presentes a seguinte mensagem:

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE JOÃO PAULO II NA VIGÍLIA PASCAL
Sábado Santo, 26 de Março de 2005

Caríssimos Irmãos e Irmãs!
No final do caminho penitencial da Quaresma e depois de ter meditado nos últimos dias a dolorosa paixão e a dramática morte de Jesus na cruz, celebramos nesta noite singular o mistério glorioso da sua ressurreição.
Graças à televisão, posso acompanhar dos meus aposentos a sugestiva Vigília pascal, que o Cardeal Joseph Ratzinger preside na Basílica de São Pedro. A ele envio a minha saudação fraterna, que estendo aos demais Cardeais, Arcebispos e Bispos presentes. Com afecto saúdo também os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os irmãos reunidos à volta do altar do Senhor, com um pensamento especial para os catecúmenos que, durante esta santa Vigília, estão para receber os sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Eucaristia.
Verdadeiramente extraordinária é esta Noite, na qual a luz fulgurante de Cristo ressuscitado vence de modo definitivo o poder das trevas do mal e da morte, e reacende nos corações dos crentes a esperança e a alegria. Caríssimos, guiados pela liturgia rezemos ao Senhor Jesus para que o mundo veja e reconheça que graças à sua paixão, morte e ressurreição se renova tudo e tudo retorna ainda mais belo do que antes, à sua integridade original.
Com grande cordialidade formulo para todos os ardentes bons votos e asseguro uma lembrança na oração para que o Senhor ressuscitado conceda a cada um de vós e às vossas famílias e comunidades o dom pascal da sua paz. Acompanho estes meus sentimentos com uma especial Bênção Apostólica.
Do Vaticano, 26 de Março de 2005, Vigília Pascal.

JOÃO PAULO II


A Via Sacra de 2005 no Vaticano

Na noite de 25 de março de 2005, Sexta-feira Santa, foi celebrada a última Via Sacra do pontificado de São João Paulo II. A oração foi presidida pelo Cardeal Camilo Ruini, então Vigário Geral para a Diocese de Roma, no Coliseu.

As meditações da Via Sacra foram preparadas pelo então Cardeal Ratzinger (hoje Papa Emérito Bento XVI), que na época era Decano do Colégio Cardinalício e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Para ler as meditações, clique aqui.




O Santo Padre acompanhou a celebração de seu quarto, pela televisão, em alguns momentos segurando uma cruz em suas mãos. Foi uma das imagens mais eloquentes de seu pontificado: o Papa, bastante enfermo, unindo seus sofrimentos ao mistério da Cruz de Cristo, como ele mesmo indicou em sua mensagem para a ocasião:

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE JOÃO PAULO II PARA A VIA-SACRA NO COLISEU
Sexta-Feira Santa, 25 de Março de 2005

Caríssimos Irmãos e Irmãs
Estou espiritualmente convosco no Coliseu, um lugar que evoca em mim muitas recordações e emoções, para celebrar o sugestivo rito da Via-Sacra nesta noite de Sexta-Feira Santa.
Uno-me a vós nesta invocação, tão densa de significado: "Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum". Sim, adoramos e abençoamos o mistério da cruz do Filho de Deus, porque é precisamente desta morte que brotou uma renovada esperança para a humanidade.
A adoração da Cruz remete-nos a um compromisso, ao qual não nos podemos subtrair: a missão que São Paulo expressava com as palavras "completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja" (Cl 1, 24). Também eu ofereço os meus sofrimentos, a fim de que o desígnio de Deus se realize e a sua palavra se difunda no meio dos povos. Estou também próximo daqueles que, neste momento, se sentem provados pelo sofrimento. Rezo por cada um deles.
Neste dia da memória de Cristo crucificado, juntamente convosco contemplo e adoro a Cruz, enquanto repito as palavras da liturgia: "O crux, ave spes unica!". Ave ó Cruz, única esperança, dá-nos paciência e coragem, e obtém a paz para o mundo!
É com estes sentimentos que vos abençoo, a vós e a quantos participam nesta Via-Sacra através da rádio ou da televisão.
Vaticano, 25 de Março de 2005.

JOÃO PAULO II



"Estou pregado na Cruz com Cristo" (Gl 2,19)

A Celebração da Paixão de 2005 no Vaticano

No dia 25 de março de 2005, Sexta-feira Santa, foi celebrada a última Celebração da Paixão do Senhor do pontificado de São João Paulo II. A ação litúrgica foi presidida pelo Cardeal James Francis Stafford, então Penitenciário Mor (atualmente Emérito), na Basílica de São Pedro.

Genuflexão no início da celebração
Liturgia da Palavra
Apresentação da cruz

Adoração da cruz

O Santo Padre acompanhou a celebração de seu quarto, pela televisão, porém não enviou nenhuma mensagem, como fez nas demais celebrações desta semana. Isto porque é costume que o Papa não pregue na Celebração da Paixão do Senhor: a homilia sempre é feita pelo Pregador da Casa Pontifícia (que desde 1980 é o Padre Raniero Cantalamessa, OFMCap).

sábado, 28 de março de 2015

A Missa in Coena Domini de 2005 no Vaticano

Na noite de 24 de março de 2005, Quinta-feira Santa, foi celebrada a última Missa in Coena Domini (Missa da Ceia do Senhor) do pontificado de São João Paulo II. A Santa Missa foi presidida pelo Cardeal Alfonso López Trujillo, Presidente do Pontifício Conselho para a Família (falecido em 2008), na Basílica de São Pedro.

Ritos iniciais
Bênção ao diácono para o Evangelho
Homilia
Lava pés
Incensação das oferendas
O Santo Padre acompanhou a celebração de seu quarto, pela televisão, e enviou a seguinte mensagem:

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE JOÃO PAULO II PARA A MISSA
"IN COENA DOMINI"
Quinta-feira Santa, 24 de Março de 2005

Caríssimos Irmãos e Irmãs!
Com a mente e com o coração estou próximo de vós, reunidos junto do túmulo do Apóstolo Pedro para a Santa Missa in Coena Domini, que constitui o primeiro acto do Tríduo Pascal, auge do ano litúrgico. Saúdo-vos com grande afecto e, de modo especial, saúdo e agradeço ao Cardeal Alfonso López Trujillo, que preside a solene celebração. Dirijo um pensamento de especial deferência ao Corpo Diplomático.
Nesta tarde de Quinta-Feira Santa, Cristo convida-nos a voltar espiritualmente com ele ao Cenáculo, para nos fazer entrar profundamente no mistério da sua Páscoa. Na vigília da sua morte, Ele realizou dois sinais, que cada ano se renovam na liturgia.
Primeiro, lavou os pés dos Apóstolos, querendo dar-lhes o exemplo de um amor que se faz humilde e de serviço concreto. Depois, consagrou o pão e o vinho, como sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, oferecidos em Sacrifício para a nossa salvação. Quis dedicar, precisamente ao Sacramento da Eucaristia, o ano que estamos a viver: ele tem nesta celebração um seu momento altamente significativo.
Que Maria nos ajude a aproximarmo-nos com fé a este sumo e inestimável Mistério do amor divino. Espiritualmente presente, rezo convosco, e a todos abençoo com afecto.
Do Vaticano, 24 de Março de 2005.

JOÃO PAULO II


A Missa Crismal de 2005 no Vaticano

Na manhã do dia 24 de março de 2005, Quinta-feira Santa, foi celebrada a última Missa Crismal do pontificado de São João Paulo II. A Santa Missa foi presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re, então Prefeito da Congregação para os Bispos (atualmente Emérito), na Basílica de São Pedro.

Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Homilia
Bênção dos óleos

O Santo Padre acompanhou a celebração de seu quarto, pela televisão, e enviou a seguinte mensagem:

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DA MISSA CRISMAL NA QUINTA-FEIRA SANTA
24 de Março de 2005

Caríssimos Sacerdotes
Estimados Irmãos e Irmãs
Uno-me idealmente a todos vós, que estais reunidos na Basílica Vaticana para a celebração da solene Santa Missa do Crisma. Saúdo o Cardeal Giovanni Battista Re, que preside ao sagrado rito, juntamente com os venerados Irmãos Cardeais e Bispos. Saúdo-vos, prezados sacerdotes da Diocese de Roma, e vós que vindes de numerosas outras regiões do mundo. Saúdo-vos, caros diáconos, dilectos religiosos e religiosas, e estimados fiéis que representais todo o Povo de Deus.
Com a presente celebração litúrgica, comemoramos o dia em que Cristo comunicou o seu sacerdócio aos Apóstolos. Nós, sacerdotes, revivemos os momentos de intimidade espiritual que Jesus compartilhou no Cenáculo com os seus "amigos", na vigília da sua paixão, morte e ressurreição. Nós somos os seus "amigos" e, com o coração repleto de gratidão, renovamos as promessas sacerdotais, formuladas com entusiasmo generoso no dia da nossa Ordenação.
Caríssimos, dos meus aposentos estou espiritualmente no meio de vós, através da televisão.
Juntamente convosco, dou graças a Deus pelo dom e mistério do nosso sacerdócio; convosco e com toda a família dos fiéis, rezo a fim de que jamais faltem na Igreja numerosos e santos sacerdotes.
Confio estes bons votos e orações a Maria, Mãe de Cristo, sumo e eterno Sacerdote.
Concedo-vos a todos a minha Bênção!
Vaticano, 24 de Março de 2005.

JOÃO PAULO II

sexta-feira, 27 de março de 2015

O Domingo de Ramos de 2005 no Vaticano

No dia 20 de março de 2005 celebrou-se o último Domingo de Ramos do pontificado de São João Paulo II. A Santa Missa e a procissão na Praça de São Pedro foram presididas pelo Cardeal Camilo Ruini, então  Vigário Geral para a Diocese de Roma (atualmente Emérito).

Procissão de ramos

À esquerda vê-se o então Card. Ratzinger (Bento XVI)


O Papa enviou a seguinte mensagem, lida durante a celebração:

Caríssimos Irmãos e Irmãs!
1. Com grande alegria vos saúdo, no final da solene celebração do Domingo de Ramos, e agradeço ao Cardeal Camillo Ruini que, em meu nome, a presidiu.
Há vinte anos, precisamente nesta Praça, tiveram início as Jornadas Mundiais da Juventude. Por isso hoje me dirijo de modo especial aos jovens. A vós, caríssimos, que estais aqui presentes, e aos de todo o mundo.
2. Caríssimos jovens! No próximo mês de Agosto terá lugar o Encontro mundial da Juventude em Colónia, no centro da Alemanha e da Europa. Na maravilhosa catedral daquela cidade veneram-se as relíquias dos santos Magos, que por isso se tornaram num certo sentido os vossos guias rumo àquele encontro. Eles vieram do Oriente para prestar homenagem a Jesus e declararam: "Viemos adorá-lo" (Mt 2, 2). Estas palavras, tão ricas de significado, constituem o tema do vosso itinerário espiritual e catequético rumo à Jornada Mundial da Juventude.
Hoje vós adorais a Cruz de Cristo, que levais a todo o mundo, porque acreditastes no amor de Deus, que se revelou plenamente em Cristo crucificado.
3. Caríssimos jovens! Apercebo-me cada vez mais de quanto foi providencial e profético que precisamente este dia, o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, se tenha tornado o vosso Dia. Esta festa contém uma graça especial, a da alegria unida à Cruz, que resume em si o mistério cristão.
Hoje digo-vos: continuai incansavelmente o caminho empreendido para serdes em toda a parte testemunhas da Cruz gloriosa de Cristo. Não tenhais medo! A alegria do Senhor, crucificado e ressuscitado, seja a vossa força, e Maria Santíssima esteja sempre ao vosso lado.

Após a celebração, João Paulo II apareceu na janela de seu quarto, com um ramo de oliveira nas mãos, e concedeu aos fieis sua bênção. Devido ao seu estado de saúde, o Papa não conseguiu proferir sua mensagem.





A última Semana Santa de João Paulo II

A Semana Santa de 2005 foi a última celebrada por São João Paulo II antes de regressar à casa do Pai, onde celebra eternamente a Liturgia celeste, no dia 02 de abril de 2005, véspera do II Domingo da Páscoa.


Nestes dias fazem dez anos desta Semana Santa. Por isso, preparamos uma série de postagens recordando as últimas celebrações do pontificado de São João Paulo II. Devido ao grave estado da saúde do Papa, as celebrações foram presididas por Cardeais Legados, enquanto João Paulo II as acompanhava, pela televisão, de seu apartamento.

No Domingo de Ramos e no Domingo de Páscoa o Papa saiu na janela de seu apartamento no final das celebrações, para conceder sua bênção. Nas demais celebrações, limitou-se a enviar uma mensagem, lida pelo Cardeal Legado.


As próximas postagens serão com informações sobre as celebrações, além das mensagens do Papa São João Paulo II (atualizaremos os links abaixo a medida que formos postando):

Ângelus: V Domingo da Quaresma - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 22 de março de 2015

Queridos irmãos e irmãs!
Neste V Domingo de Quaresma o evangelista João chama a nossa atenção com um pormenor curioso: alguns «gregos», de religião hebraica, vindos de Jerusalém para a festa da Páscoa, dirigem-se ao apóstolo Filipe, dizendo-lhe: «Senhor, queremos ver Jesus» (Jo 12,21). Na cidade santa, onde Jesus foi pela última vez, há muitas pessoas. Estão presentes os pequeninos e os simples, que acolheram alegremente o profeta de Nazaré reconhecendo n’Ele o Enviado do Senhor. Estão presentes os sumos sacerdotes e os chefes do povo, que querem eliminá-Lo, porque o consideram herético e perigoso. Há também muitas pessoas, como por exemplo aqueles «gregos», que estão curiosos para vê-Lo e saber mais sobre a sua pessoa e as obras cumpridas por Ele, a última dos quais - a ressurreição de Lázaro - causou grande agitação.

«Queremos ver Jesus»: estas palavras, como muitas outras nos Evangelhos, vão para além do episódio particular e exprimem algo universal; revelam um desejo que atravessa as épocas e as culturas, um desejo presente no coração de muitas pessoas que ouviram falar de Jesus, mas ainda não o encontraram. «Eu desejo ver Jesus», assim sente o coração desta gente.

Respondendo indiretamente, de maneira profética, àquele pedido de poder vê-Lo, Jesus pronuncia uma profecia que desvela a sua identidade e indica o caminho para o conhecer verdadeiramente: «É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado» (Jo 12,23). Chegou a hora da Cruz! Chegou a hora da derrota de Satanás, príncipe do mal, e do triunfo definitivo do amor misericordioso de Deus. Cristo declara que será «elevaado da terra» (v. 32), uma expressão que tem um duplo significado: «elevado» porque crucificado, e «elevado» porque exaltado pelo Pai na Ressurreição, para atrair todos a si e reconciliar os homens com Deus e entre eles. A hora da cruz, a mais obscura da história, é também a fonte da salvação para quantos acreditam n’Ele.

Prosseguindo a profecia sobre a sua Páscoa já iminente, Jesus usa uma imagem simples e sugestiva, a do «grão de trigo» que, ao cair na terra, morre para produzir fruto (v. 24). Nesta imagem encontramos outro aspecto da Cruz de Cristo: o da fecundidade. A cruz de Cristo é fecunda. Com efeito, a morte de Jesus é uma fonte inesgotável de vida nova, porque traz em si a força regeneradora do amor de Deus. Imergidos neste amor pelo Batismo, os cristãos podem tornar-se «grãos de trigo» e dar muito fruto se, como Jesus, «perderem a própria vida» por amor de Deus e dos irmão (v. 25).

Por esta razão, a quantos hoje «querem ver Jesus», a quantos estão à procura do rosto de Deus; a quem recebeu uma catequese quando era pequeno e depois não a aprofundou e talvez perdeu a fé; aos numerosos que ainda não encontraram Jesus pessoalmente... a todas estas pessoas podemos oferecer três coisas: o Evangelho, o crucifixo e o testemunho da nossa fé, pobre, mas sincera. O Evangelho: ali podemos encontrar Jesus, ouvi-lo, conhecê-lo. O crucifixo: sinal do amor de Jesus que se entregou a si mesmo por nós. E também uma fé que se traduz em gestos simples de caridade fraterna. Mas principalmente na coerência de vida entre o que dizemos e o que vivemos, coerência entre a nossa fé e a nossa vida, entre as nossas palavras e as nossas ações. Evangelho, crucifixo, testemunho. Que Nossa Senhora nos ajude a carregar estas três coisas.


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Discurso do Papa no Encontro com o Clero de Nápoles

Durante sua visita a Nápoles no último dia 21, o Papa Francisco encontrou-se com o clero, os religiosos e os diáconos permanentes na Catedral. Na ocasião, venerou a relíquia do Sangue de São Januário (San Gennaro).

VISITA PASTORAL DO PAPA FRANCISCO A POMPEIA E NÁPOLES
ENCONTRO COM O CLERO, OS RELIGIOSOS E OS DIÁCONOS PERMANENTES NA BASÍLICA DE NÁPOLES
DISCURSO DO SANTO PADRE
Sábado, 21 de Março de 2015

Preparei um discurso, mas os discursos são maçadores. Entrego-o ao Cardeal, que depois vo-lo fará conhecer através do boletim. Prefiro responder a algumas questões. Sugerem-me que eu fale sentado, de modo que me repouse um pouco. Uma religiosa aqui presente, muito idosa, veio a correr dizer-me: «Conceda-me a bênção em articulo mortis». «Por quê, irmã?». «Porque devo ir em missão a abrir um convento...». Este é o espírito da vida religiosa. Esta religiosa fez-me pensar. Está ali, idosa, mas diz: «Sim, estou próxima do articulo mortis, mas devo partir para renovar ou abrir um convento» e vai. Portanto, também eu agora obedeço e falo sentado.
Este é um testemunho que tu pedias: estar sempre a caminho. O caminho na vida consagrada é seguir os passos de Jesus; inclusive a vida consagrada em geral, até para os sacerdotes é seguir Jesus, e com vontade de trabalhar para o Senhor. Uma vez — refiro-me ao que me disse a religiosa — um sacerdote idoso disse-me: «Para nós não há reforma e quando regressamos a casa para repousar continuamos a trabalhar com a oração, com as pequenas acções que podemos praticar, mas com o mesmo entusiasmo de seguir Jesus». O testemunho de seguir o caminho de Jesus! Por isso o centro da vida deve ser Jesus. Se no centro da vida — exagero... mas acontece noutras partes, em Nápoles certamente não — sucede estar contra o bispo, contra o pároco ou qualquer sacerdote, toda a minha vida é tomada por esta luta. É perder a vida. Não ter uma família, nem filhos, nem o amor conjugal, que é tão bom e bonito, para acabar a discutir com o Bispo, com os irmãos sacerdotes, com os fiéis, com a «cara azeda», isto não é um testemunho. O testemunho é Jesus, o centro é Jesus. Contudo, mesmo quando o centro é Jesus há essas dificuldades, existem em toda parte, mas são enfrentadas de modo diverso. Num convento, pode acontecer que eu não goste da superiora, mas se o meu centro é a superiora que não aprecio, o testemunho não se concretiza. Se o meu centro for Jesus, rezo pela superiora que não gosto, tolero-a e faço tudo para que os outros superiores conheçam a situação. Mas ninguém me impede a alegria: a alegria de seguir Jesus. Vejo aqui os seminaristas. Digo-vos isto: se não tiverdes Jesus no centro, procrastinai a Ordenação. Se não estiverdes certos de que Jesus é o centro da vossa vida, esperai mais tempo para ter a certeza. Porque ao contrário, começareis um caminho que não sabereis como continuar.
Este é o primeiro testemunho: que se veja que Jesus é o centro. O centro não são os mexericos nem a ambição de obter este ou aquele lugar, nem o dinheiro — sobre o dinheiro falarei depois — mas o centro deve ser Jesus. Como posso estar certo de ir sempre com Jesus? É a sua Mãe que o acompanha. Um sacerdote, um religioso, uma religiosa que não ama Nossa Senhora, que não reza a Nossa Senhora, diria também que não recita o Terço... se não quiser a Mãe, a Mãe não lhe concederá o Filho. O Cardeal ofereceu-me um livro de Santo Afonso Maria de Ligório, não sei se é «A Glória de Maria»... Deste livro gosto de ler as histórias de Nossa Senhora que estão no final de cada capítulo: nelas podemos ver como Nossa Senhora nos conduz sempre para Jesus. Ela é Mãe, o centro do ser de Nossa Senhora é ser Mãe, levar Jesus. E o padre Rupnik que realiza quadros e mosaicos tão lindos e artísticos, ofereceu-me um ícone de Nossa Senhora juntamente com Jesus. Jesus e as mãos de Nossa Senhora estão posicionadas de modo que Jesus desce e segura-se no manto de Nossa Senhora para não cair. É Ela quem ajuda Jesus a descer até nós; é Ela que nos doa Jesus. Dar testemunho de Jesus, e para seguir Jesus a Mãe é uma boa ajuda: é Ela que nos oferece Jesus. Este é um dos testemunhos.
Outro testemunho é o espírito de pobreza; também para os sacerdotes que não fazem votos de pobreza, mas devem ter o espírito de pobreza. Quando o comércio entra na Igreja, quer através dos sacerdotes quer dos religiosos, é terrível. Recordo uma grande religiosa, mulher corajosa, uma óptima ecónoma que desempenhava bem o seu cargo. Era observante mas tinha o coração apegado ao dinheiro e inconscientemente seleccionava as pessoas segundo o dinheiro que possuíam. «Gosto mais deste, tem muito dinheiro». Era ecónoma de um Colégio importante e realizou grandes construções, uma mulher competente, mas via-se este seu limite e a última humilhação que sofreu foi pública. Tinha cerca de 70 anos e estava na sala dos professores durante uma pausa da escola, tomava um café e sofreu uma síncope, caindo. Davam-lhe pancadinhas para que voltasse a si mas ela não se recuperava. Uma professora disse: «Coloquemos diante dela uma nota de cem pesos e vejamos se reage». A pobrezinha já tinha morrido, e esta foi a última expressão que lhe foi dirigida quando ainda não se sabia se tinha morrido ou não. Um mau testemunho.
Os consagrados — sacerdotes, religiosas e religiosos — nunca devem ser ávidos. O espírito de pobreza contudo não é espírito de miséria. Um sacerdote, que não fez o voto de pobreza, pode ter a sua poupança, mas de maneira honesta e razoável. Mas quando é ávido e se mete em negócios... Quantos escândalos na Igreja e quanta falta de liberdade por causa do dinheiro: «Àquela pessoa deveria dizer umas verdades, mas não posso porque é um grande benfeitor». Os grandes benfeitores fazem a vida que querem e eu não tenho a liberdade de o repreender porque sou apegado ao dinheiro que eles me oferecem. Compreendeis como é importante a pobreza, o espírito de pobreza, como recita a primeira bem-aventurança: «Felizes os pobres de espírito». Como disse, um sacerdote pode possuir as suas economias, mas não pôr o coração nelas, e que sejam economias razoáveis. Quando o dinheiro está no centro, faz-se diferença entre as pessoas; por isso peço a todos para examinar a consciência: como vai a minha vida de pobreza, o que me provém também das pequenas coisas? Este é o segundo testemunho.
O terceiro testemunho — e falo em geral para os religiosos, consagrados e sacerdotes diocesanos — é a misericórdia. Esquecemos as obras de misericórdia. Gostaria de perguntar — não o faço mas tenho vontade de o fazer — quais são as obras de misericórdia corporais e espirituais. Quantos de nós as esqueceram! Quando voltardes para casa pegai no catecismo e recordai estas obras de misericórdia que são praticadas pelas velhinhas e pelas pessoas simples nos bairros, nas paróquias, porque seguem Jesus, seguir Jesus é simples. Cito um exemplo que faço sempre. Nas grandes cidades, ainda cristãs — penso na minha diocese precedente, mas penso que em Roma aconteça o mesmo, não sei em Nápoles, mas em Roma certamente — há crianças baptizadas que não sabem fazer o sinal da cruz. E onde está a obra de misericórdia de ensinar neste caso? «Ensino-te a fazer o sinal da cruz». É só um exemplo. Mas é preciso retomar as obras de misericórdia, as corporais e as espirituais. Se próximo da minha casa há um doente que gostaria de visitar mas o tempo à disposição coincide com o momento da telenovela e entre a telenovela e praticar uma obra de misericórdia escolho a telenovela, não está bem.
Falando de telenovelas, volto ao espírito de pobreza. Na minha diocese anterior havia um colégio mantido por religiosas, um bom colégio, trabalhavam muito, mas na casa onde viviam dentro do colégio havia um apartamento destinado às irmãs; a casa era um pouco velha e precisava de obras, e realizaram-nas bem, demasiado bem e luxuosa: puseram uma televisão em cada quarto. Na hora da telenovela, não encontravas sequer uma religiosa no Colégio... São aspectos que nos levam ao espírito do mundo, e aqui incide outra situação sobre a qual gostaria de falar: o perigo da mundanidade. Viver mundanamente. Viver com o espírito do mundo que Jesus não queria! Pensai na oração sacerdotal de Jesus quando reza ao Pai: «Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal» (Jo 17, 15). A mundanidade vai contra o testemunho, enquanto o espírito de oração é um testemunho que se vê: vê-se quem é o homem e a mulher consagrados que rezam, assim como quem reza formalmente mas não com o coração. São testemunhos que vemos. Falaste da falta de vocações, mas o testemunho é um dos motivos que atraem vocações. «Gostaria de ser como aquele sacerdote ou como aquela religiosa». O testemunho de vida. Uma vida cómoda, uma vida mundana não nos ajuda. O Vigário do clero mencionou o problema, o facto — chamo-o problema — da fraternidade sacerdotal. Isto é válido também para a vida consagrada. A vida de comunidade tanto na vida consagrada como no presbitério, ou na diocese que é o carisma próprio dos sacerdotes diocesanos, no presbitério ao redor do bispo. Levar em frente esta «fraternidade» não é fácil no convento, na vida consagrada nem no presbitério. O diabo tenta-nos com ciúmes, invejas, lutas internas, antipatias, simpatias, muitas situações que não nos ajudam a realizar uma fraternidade verdadeira e assim damos um testemunho de divisão entre nós.
Para mim, o sinal de que não há fraternidade, tanto no presbitério como nas comunidades religiosas é quando há mexericos. E permito-me acrescentar esta expressão: o terrorismo dos mexericos, porque quem faz mexericos é um terrorista que lança uma bomba, destrói permanecendo fora. Se pelo menos fosse um kamikaze! Ao contrário destrói os outros. Os mexericos destroem e são sinal de que não há fraternidade. Quando se encontra um presbítero que tem opiniões diferentes, porque devem existir diferenças, é normal, é cristão, mas deve manifestar essas diferenças tendo a coragem de as dizer directamente. Se tenho algo a dizer ao Bispo, vou ter com o Bispo e posso dizer-lhe: «Mas Vossa Excelência é antipático», e o Bispo deve ter a coragem de se vingar. Isto é fraternidade! Ou quando tens algo contra uma pessoa e em vez de o dizer a ela falas com outra. Existem problemas na vida religiosa e presbiteral que devem ser enfrentados, mas só entre duas pessoas. Se não for possível — porque às vezes não se pode — dizemos a alguém que possa servir de intermediário. Todavia não se pode falar contra o outro, porque os mexericos são um terrorismo da fraternidade diocesana, da fraternidade sacerdotal, das comunidades religiosas.
Depois, falando de testemunhos, a alegria. A alegria da minha vida é plena, a alegria de ter escolhido bem, a alegria que vejo diariamente que o Senhor me é fiel. A alegria é ver que o Senhor é sempre fiel a todos. Quando não sou fiel ao Senhor, aproximo-me do sacramento da Reconciliação. Os consagrados e os sacerdotes maçadores, com amargura no coração, tristes, têm alguma coisa errada e devem consultar um bom conselheiro espiritual, um amigo e dizer: «Não sei o que está a acontecer na minha vida». Quando não se sente alegria, algo não está bem. A perspicácia da qual falava o Arcebispo hoje, avisa-nos que falta algo. Sem alegria não atrais para o Senhor nem para o Evangelho.
Estes são os testemunhos. Gostaria de terminar com três aspectos. Primeiro a adoração. «Rezas?» — «Rezo, sim». Peço, dou graças e louvo ao Senhor. Mas, adoras o Senhor? Perdemos o sentido de adoração de Deus: é preciso retomar a adoração de Deus. Segundo: não podes amar Jesus sem amar a sua esposa. O amor à Igreja. Conhecemos muitos sacerdotes que amavam a Igreja e via-se que a amavam. Terceiro, e este é importante, o zelo apostólico, isto é, a missionariedade. O amor à Igreja leva-te a mostrá-la, a sair de ti mesmo para sair e pregar a Revelação de Jesus, mas impele-te também a sair de ti mesmo para ir à outra transcendência, isto é, à adoração. Penso que no âmbito da missionariedade a Igreja deve caminhar mais um pouco, converter-se mais, porque a Igreja não é uma ong, mas a esposa de Cristo que possui um tesouro maior: Jesus. E a sua missão, o seu motivo de existir é precisamente este: evangelizar, isto é, anunciar Jesus. Adoração, amor à Igreja e missionariedade. Estes são os aspectos que me vieram espontâneos.



Fonte: Santa Sé  (Neste link pode-se ler também o discurso que o Papa preparou, mas não leu)

Fotos da Missa do Papa em Nápoles

No último dia 21 de março, Sua Santidade o Papa Francisco visitou a cidade italiana de Nápoles, sendo recebido pelo Arcebispo, Cardeal Crescenzio Sepe. Às 11h, o Papa celebrou a Santa Missa na praça central da cidade, a Praça do Plebiscito.

O Santo Padre foi assistido pelo Mestre de Cerimônias Litúrgicas Pontifícias, Mons. Guido Marini.

Ósculo do altar
Incensação do altar
Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Evangelho