segunda-feira, 30 de abril de 2018

Regina Coeli: IV Domingo da Páscoa - Ano B

Papa Francisco
Regina Coeli
Domingo, 22 de abril de 2018

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
A Liturgia deste IV Domingo de Páscoa prossegue na intenção de nos ajudar a redescobrir a nossa identidade de discípulos do Senhor Ressuscitado. Nos Atos dos Apóstolos, Pedro declara abertamente que a cura do coxo, realizada por Ele e da qual Jerusalém inteira fala, teve lugar em nome de Jesus, porque «em nenhum outro há salvação» (At 4,12). Naquele homem curado está cada um de nós - aquele homem é a nossa figura: todos nós estamos ali - e estão as nossas comunidades: cada um poderá ser curado das numerosas formas de enfermidade espiritual que tiver - ambição, preguiça, orgulho - se aceitar colocar com confiança a própria existência nas mãos do Senhor Ressuscitado. «É em nome de Jesus Cristo Nazareno - afirma Pedro - que esse homem se acha são» (v. 10). Mas quem é Cristo que cura? No que consiste ser curado por Ele? Do que nos sara? E através de que atitudes?

Encontramos a resposta a todas estas perguntas no Evangelho de hoje, onde Jesus diz: «Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas» (Jo 10,11). Esta auto-apresentação de Jesus não pode ser reduzida a uma sugestão emotiva, sem qualquer efeito concreto! Jesus cura através do seu ser Pastor que dá a vida. Oferecendo a sua vida por nós, Jesus diz a cada um: “A tua vida vale tanto para mim, que para a salvar dou-me completamente a mim mesmo”. É exatamente este oferecer a sua vida que o torna bom Pastor por excelência, Aquele que cura, Aquele que nos permite levar uma vida boa e fecunda.

A segunda parte da mesma página evangélica diz-nos quais são as condições para que Jesus nos possa curar, tornando a nossa vida jubilosa e fecunda: «Eu sou o bom Pastor - diz Jesus - conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, assim como o meu Pai me conhece e Eu conheço o Pai» (vv. 14-15). Jesus não fala de um conhecimento intelectivo, não, mas de um relacionamento pessoal, de predileção, de ternura recíproca, reflexo da mesma íntima relação de amor entre Ele e o Pai. É através desta atitude que se realiza um relacionamento vivo com Jesus: deixar-me conhecer por Ele. Não me fechar em mim mesmo, abrir-me ao Senhor, para que Ele me conheça. Ele está atento a cada um de nós, conhece profundamente o nosso coração; conhece as nossas qualidades e os nossos defeitos, os projetos que realizamos e as esperanças que foram desiludidas. Mas aceita-nos tal como somos, até com os nossos pecados, para nos curar, para nos perdoar; Ele guia-nos com amor, para podermos percorrer até caminhos impérvios, sem perder o rumo. Ele acompanha-nos.

Por nossa vez, somos chamados a conhecer Jesus. Isto implica um encontro com Ele, um encontro que suscite o desejo de o seguir, abandonando as atitudes autorreferenciais para nos encaminharmos por novas sendas, indicadas pelo próprio Cristo e abertas para vastos horizontes. Quando, nas nossas comunidades, se arrefece o desejo de viver a relação com Jesus, de ouvir a sua voz e de o seguir fielmente, é inevitável que prevaleçam outros modos de pensar e de viver que não são coerentes com o Evangelho. Maria, nossa Mãe, nos ajude a amadurecer um relacionamento cada vez mais forte com Jesus. Abramo-nos a Jesus, para que Ele entre em nós. Uma relação mais vigorosa: Ele ressuscitou! Assim podemos segui-lo durante a vida inteira. Que neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, Maria interceda a fim de que muitos respondem com generosidade e perseverança ao Senhor que chama a deixar tudo pelo seu Reino.


Fonte: Santa Sé.

Fotos das Ordenações Presbiterais no Vaticano

No último dia 22 de abril, IV Domingo da Páscoa (o "Domingo do Bom Pastor") e 55º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco celebrou na Basílica de São Pedro a Santa Missa, durante a qual conferiu a Ordenação Presbiteral a 16 diáconos.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina. Para ver o livreto da celebração, clique aqui.

Confira também a homilia do Santo Padre.

Incensação
Evangelho
Homilia
Propósitos dos eleitos
 

Homilia do Papa: Ordenações Presbiterais

Santa Missa com Ordenações Sacerdotais
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Domingo, 22 de abril de 2018

Irmãos caríssimos!
Estes nossos filhos foram chamados para a ordem do presbiterado. Reflitamos atentamente sobre o ministério ao qual serão elevados na Igreja. Como bem sabeis, o Senhor Jesus é o único Sumo Sacerdote do Novo Testamento, mas n’Ele também todo o povo santo de Deus foi constituído povo sacerdotal. Apesar disso, entre todos os seus discípulos, o Senhor Jesus quer escolher alguns deles em particular, para que, exercendo publicamente na Igreja em seu nome o ofício sacerdotal a favor de todos os homens, continuem a sua pessoal missão de mestre, sacerdote e pastor.
De fato, assim como para isto Ele foi enviado pelo Pai, por sua vez Ele enviou também ao mundo primeiro os Apóstolos e depois os Bispos e os seus sucessores, aos quais por fim foram dados como colaboradores os presbíteros que, a eles unidos no ministério sacerdotal, são chamados ao serviço do Povo de Deus.
Depois de uma reflexão madura, agora estamos para elevar à ordem dos presbíteros estes nossos irmãos, para que ao serviço de Cristo, Mestre, Sacerdote, Pastor, cooperem para edificar o Corpo de Cristo que é a Igreja como Povo de Deus e Templo santo do Espírito.
Com efeito, eles serão configurados com Cristo Sumo e Eterno Sacerdote, isto é, serão consagrados como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento, e com este título, que os une ao seu Bispo no sacerdócio, serão pregadores do Evangelho, Pastores do Povo de Deus, e presidirão às ações de culto, especialmente na celebração do sacrifício do Senhor.
Quanto a vós, filhos e irmãos diletíssimos, que estais para ser promovidos à ordem do presbiterado, considerai que exercendo o ministério da Sagrada Doutrina sereis partícipes da missão de Cristo, único Mestre. Dispensai a todos a Palavra de Deus, que vós mesmos recebestes com alegria. Lede e meditai assiduamente a Palavra do Senhor a fim de crer no que lestes, de ensinar o que aprendestes na fé e de viver o que ensinastes.
Portanto, a vossa doutrina seja alimento para o Povo de Deus e o perfume da vossa vida, alegria e amparo aos fiéis de Cristo. Com a palavra e o exemplo possais edificar a Casa de Deus que é a Igreja. Continuareis a obra santificadora de Cristo. Mediante o vosso ministério, o sacrifício espiritual dos fiéis torna-se perfeito, porque está ligado ao sacrifício de Cristo, que pelas vossas mãos, em nome de toda a Igreja, é oferecido de modo incruento no altar na celebração dos Santos Mistérios.
Portanto, reconhecei o que fazeis. Imitai o que celebrais para que, ao participar no mistério da morte e ressurreição do Senhor, conserveis a morte de Cristo nos vossos membros e caminheis com Ele em novidade de vida.
Através do Batismo agregareis novos fiéis ao Povo de Deus. Com o Sacramento da Penitência perdoareis os pecados em nome de Cristo e da Igreja. Aqui interrompo para vos pedir: por favor, não vos canseis de ser misericordiosos. Pensai nos vossos pecados, nas vossas misérias que Jesus perdoa. Sede misericordiosos. Com o óleo santo dareis alívio aos enfermos. Celebrando os ritos sagrados e elevando nas várias horas do dia a oração de louvor e de súplica, far-vos-eis voz do Povo de Deus e da humanidade inteira.
Cientes de ter sido escolhidos entre os homens e constituídos a seu favor para esperar nas promessas de Deus, exercei com alegria e caridade sincera a obra sacerdotal de Cristo, com o único objetivo de agradar a Deus e não a vós mesmos nem aos homens, por outros interesses. Somente o serviço a Deus, para o bem do santo povo fiel de Deus. Por fim, participando na missão de Cristo, Cabeça e Pastor, em comunhão filial com o vosso Bispo, esforçai-vos para unir os fiéis numa única família a fim de os conduzir a Deus Pai por meio de Cristo no Espírito Santo. E mantende sempre diante dos olhos o exemplo do Bom Pastor, que não veio para ser servido mas para servir e para procurar e salvar o que estava perdido.


Fonte: Santa Sé

sábado, 28 de abril de 2018

Homilia: V Domingo de Páscoa - Ano B

Santo Agostinho
Do Tratado sobre o Evangelho de João
Eu sou a videira e vós os ramos

Eu sou a videira e vós os ramos. O que está em mim e eu nele, este dará muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer. E para evitar que alguém pudesse pensar que o ramo pode produzir algum fruto, mesmo que pouco, depois de ter dito que este dará muito fruto, não diz que sem mim “pouco” podeis fazer, mas diz: Sem mim “nada” podeis fazer. Logo, seja pouco, seja muito, não se pode fazer sem aquele sem o qual não se pode fazer nada. E se o ramo dá pouco fruto, o agricultor o podará para que dê fruto mais abundante; mas, se não permanece unido à videira, não poderá produzir fruto algum. E visto que Cristo não podia ser a videira se não fosse homem, não podia comunicar esta virtude aos ramos se não fosse também Deus.

Mas, como ninguém pode ter vida sem a graça, e somente a morte está debaixo do poder do livre-arbítrio, segue dizendo: O que não permanecer em mim será jogado fora, como o ramo seco, o colherão e o jogarão ao fogo e queimará. Os ramos da videira são tantos mais desprezíveis fora dela quanto o são mais gloriosos unidos a ela e, como diz o Senhor pelo Profeta Ezequiel, cortados da videira são inteiramente inúteis ao agricultor, e não servem para fazer nenhuma obra de arte. O ramo há de estar em um destes dois lugares: ou na videira ou no fogo; se não está na videira, estará no fogo. Permaneça, pois, na videira para livrar-se do fogo.

Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedireis quanto quiserdes e vos será concedido. Estando unidos a Cristo, o que podem querer a não ser aquilo que não é indigno de Cristo? Queremos algumas coisas por estar unidos a Cristo e queremos outras por ainda estarmos neste mundo. E, pelo fato de viver neste mundo, algumas vezes nos vem a ideia de pedir coisas cujo prejuízo desconhecemos. Porém, nunca tenhamos o desejo de que nos sejam concedidas, se queremos permanecer em Cristo, o qual somente nos concede aquilo que nos convém.

Permanecendo, pois, nele, e tendo em nós suas palavras, pediremos quanto queiramos, e tudo nos será concedido. Porque, se não obtemos o que pedimos, é porque não pedimos o que nele permanece nem o que se contém em suas palavras, que permanecem em nós; a não ser que pedimos o que deseja nossa cobiça e a fraqueza da carne, que não se encontram nele, nem nelas permanecem suas palavras, entre as quais está a oração em que nos ensinou a dizer: Pai nosso, que estais nos céus...

Em nossas petições não nos distanciemos das palavras e do sentido desta oração, e obteremos quanto pedimos. Porque somente então permanecem em nós as suas palavras, quando cumprimos seus preceitos e vamos atrás de suas promessas. Mas quando suas palavras estão somente na memória, sem refletir-se em nosso modo de viver, somos como o ramo fora da videira, que não recebe a seiva da raiz. A esta diferença faz alusão o salmo quando diz: Guardam na memória seus preceitos para cumpri-los.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 353-354. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Orígenes para este domingo, clique aqui.

Fotos da Missa do Papa em Molfetta

No último dia 20 de abril o Papa Francisco celebrou a Santa Missa da Quinta-feira da III semana da Páscoa por ocasião de sua Visita Pastoral à cidade de Molfetta, na celebração dos 25 anos da morte do Bispo Dom Tonino Bello.

O Santo Padre foi assistido pelo Mons. Guido Marini. Para ver o livreto da celebração, clique aqui.

Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

Incensação

Sinal da cruz
Ritos iniciais
Evangelho (o Papa usa o báculo de Dom Tonino)

Homilia do Papa: Missa em Molfetta

Visita Pastoral do Papa Francisco a Molfetta por ocasião do 25º aniversário da Morte de Dom Tonino Bello
Concelebração Eucarística
Homilia do Santo Padre
Porto de Molfetta
Sexta-feira, 20 de abril de 2018

As leituras que ouvimos apresentam dois elementos centrais para a vida cristã: o Pão e a Palavra.
O Pão. O Pão é o alimento essencial para viver e no Evangelho Jesus oferece-se a nós como Pão de vida, como para nos dizer: “não podem fazer sem mim”. E usa expressões fortes: “comei a minha carne e bebei o meu sangue” (cf. Jo 6,53). O que significa? Que para a nossa vida é essencial entrar numa relação vital, pessoal com Ele. Carne e sangue. A Eucaristia é isto: não um belo rito, mas a comunhão mais íntima, mais concreta, mais surpreendente que se possa imaginar com Deus: uma comunhão de amor tão real que adquire a forma do alimento. A vida cristã recomeça todas as vezes daqui, desta mesa, onde Deus nos sacia de amor. Sem Ele, Pão de vida, qualquer esforço na Igreja seria vão, como recordava Dom Tonino Bello: «As obras de caridade não são suficientes, se faltar a caridade das obras. Se faltar a amor do qual derivam as obras, se faltar a fonte, se faltar o ponto de partida que é a Eucaristia, qualquer aspeto pastoral resulta apenas uma espiral de coisas» [1].
Jesus no Evangelho acrescenta: «Aquele que comer a minha carne viverá por mim» (v. 57). Pretendendo dizer: quem se nutre da Eucaristia assimila a mesma mentalidade do Senhor. Ele é o Pão partido por nós e quem o recebe torna-se por sua vez pão partido, que não fermenta de orgulho, mas se oferece aos outros: deixa de viver para si mesmo, para o próprio sucesso, a fim de ter algo ou para se tornar alguém, mas vive para Jesus e como Jesus, ou seja, para os outros. Viver para é a caraterística de quem come este Pão, a “marca de fabrico” do cristão. Viver para. Poderia ser afixado como aviso fora de qualquer igreja: «Depois da Missa já não se vive para si mesmos, mas para os outros”. Seria bom que nesta diocese de Dom Tonino Bello houvesse este aviso, na porta das igrejas, para que fosse lido por todos: “Depois da Missa já não se vive para si mesmos, mas para os outros”. Dom Tonino viveu assim: entre vós esteve um Bispo-servo, um Pastor que se fez povo, que diante do Tabernáculo aprendia a fazer-se alimento para o povo. Sonhava uma Igreja faminta de Jesus e intolerante a qualquer mundanidade, uma Igreja que «sabe entrever o corpo de Cristo nos tabernáculos incômodos da miséria, do sofrimento, da solidão» [2]. Porque, dizia, «a Eucaristia não suporta a sedentariedade» e se não nos levantarmos da mesa permanece um «sacramento incompleto» [3]. Podemos questionar-nos: realiza-se em mim este Sacramento? Mais concretamente: gosto apenas de ser servido à mesa do Senhor ou levanto-me para servir como fez o Senhor? Ofereço na minha vida o que recebo na Missa? E como Igreja poderíamos perguntar: depois de tantas Comunhões, tornamo-nos porventura gente de comunhão?
O Pão de vida, o Pão partido é de facto também Pão de paz. Dom Tonino afirmava que «a paz não se realiza quando alguém pega somente no seu pão e vai comê-lo por conta própria. […] A paz é algo mais: é convivialidade». Significa «comer o pão juntamente com os outros, sem se separar, pôr-se à mesa entre pessoas diversas», onde «o outro é um rosto que deve ser descoberto, contemplado, acariciado» [4]. Porque os conflitos e todas as guerras «encontram as suas raízes na dissolução dos rostos» [5]. E nós, que partilhamos este Pão de unidade e de paz, somos chamados a amar cada rosto, a restabelecer todas as dilacerações; a ser, sempre e em qualquer lugar, construtores de paz.
Juntamente com o Pão, a Palavra. O Evangelho apresenta de novo ásperos debates em volta das palavras de Jesus: «Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?» (v. 52). Há uma atmosfera de derrotismo nestas palavras. Muitas das nossas palavras assemelham-se com estas: como pode o Evangelho resolver os problemas do mundo? Para que serve praticar o bem no meio de tantos males? E assim caímos no erro daquelas pessoas, paralisadas devido ao debater sobre as palavras de Jesus, em vez de estarem prontas para acolher a mudança de vida que Ele pediu. Não compreendiam que a Palavra de Jesus serve para caminhar na vida, não para nos sentarmos a falar acerca do que corre bem ou mal. Dom Tonino, precisamente no tempo pascal, desejava acolher esta novidade de vida, passando finalmente das palavras às ações. Por isso, exortava fervorosamente quem não tinha coragem de mudar: «os especialistas da perplexidade. Os contabilistas pedantes dos prós e dos contras. Os calculistas cautelosos até ao extremo antes de se mover» [6]. Não se responde a Jesus conforme os cálculos e as conveniências do momento; devemos responder-lhe com o “sim” da vida inteira. Ele não procura as nossas reflexões, mas a nossa conversão. Quer o nosso coração.
É a própria Palavra de Deus que sugere isto. Na primeira Leitura, Jesus ressuscitado dirige-se a Saulo e não lhe propõe raciocínios subtis, mas pede-lhe que ponha em jogo a sua vida. Diz-lhe: «Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer» (At 9,6). Em primeiro lugar: «Levanta-te». A primeira coisa que devemos evitar é de permanecer no chão, de nos sujeitarmos à vida, de ficarmos atormentados pelo medo. Quantas vezes Dom Tonino repetia: “Em pé», porque diante do Ressuscitado não é lícito estar a não ser em pé» [7]. Levantar-se sempre, olhar para as alturas, porque o apóstolo de Jesus não pode ir vivendo contentando-se com pequenas satisfações.
O Senhor depois diz a Saulo: «Entra na cidade». Também a cada um de nós diz: “Vai, não permaneças fechado nos teus espaços reconfortantes, arrisca!”. “Arrisca!”. A vida cristã deve ser investida para Jesus e despendida pelos outros. Depois de ter encontrado o Ressuscitado não se pode ficar à espera, não se pode adiar; é necessário ir, sair, não obstante todos os problemas e as incertezas. Vemos, por exemplo, que Saulo, depois de ter falado com Jesus, apesar de ser cego, se levanta e vai à cidade. Vemos Ananias que, embora assustado e hesitante, responde: «Eis-me aqui, Senhor!» (v. 10) e imediatamente vai ter com Saulo. Todos somos chamados, em qualquer situação em que nos encontramos, a ser portadores de esperança pascal, “cireneus da alegria”, como dizia Dom Tonino; servo do mundo, mas como ressuscitados, não como empregados. Sem nunca nos entristecermos, nem nos resignarmos. É bom ser “mensageiros de esperança”, distribuidores simples e jubilosos do aleluia pascal.
Por fim, Jesus diz a Saulo: «Aí te será dito o que deves fazer». Saulo, homem decidido e afirmado, cala-se e vai embora, dócil à Palavra de Jesus. Aceita obedecer, torna-se paciente, compreende que a sua vida já não depende dele. Aprende a humildade. Porque ser humilde não significa tímido ou modesto, mas dócil a Deus e esvaziado de si mesmo. Então inclusive as humilhações, como a que Saulo sentiu prostrado no caminho de Damasco, se tornam providenciais, porque despojam da presunção e permitem que Deus nos levantem. E a Palavra de Deus diz o seguinte: liberta, levanta, faz ir em frente, humildes e corajosos ao mesmo tempo. Não nos torna protagonistas afirmados e campeões da própria proeza, não, mas testemunhas genuínos de Jesus, morto e ressuscitado, no mundo.
Pão e Palavra. Queridos irmãos e irmãs, em todas as Missas alimentamo-nos do Pão da vida e da Palavra que salva: vivamos o que celebramos! Assim, como Dom Tonino, seremos fonte de esperança, alegria e paz.

[1] «Configurati a Cristo capo e sacerdote», Cireneo della allegria, 2004, 54-55.
[2] «Sono credibili le nostre Eucaristie?», Artigos, correspondências, cartas, 2003, 236.
[3] «Servi nella Chiesa per il mondo», ivi, 103-104.
[4] «La non violenza in una società violenta», Scritti di pace, 1997, 66-67.
[5] «La pace come ricerca del volto», Homilias e escritos quaresmais, 1994, 317.
[6] «Lievito vecchio e pasta nuova», Vigiar na noite, 1995, 91.
[7] Última saudação no final da Missa Crismal, 8 de abril de 1993.


Fonte: Santa Sé

II Catequese do Papa sobre o Batismo: Sinal da cruz

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 18 de abril de 2018
O Batismo (2): O Sinal da Cruz

Prezados irmãos e irmãs bom dia!
Prosseguimos, neste Tempo de Páscoa, as catequeses sobre o Batismo. O significado do Batismo sobressai claramente da sua celebração, por isso dirijamos a ela a nossa atenção. Considerando os gestos e as palavras da liturgia, podemos compreender a graça e o compromisso deste Sacramento, que deve ser sempre redescoberto. Fazemos memória dela na aspersão com a água benta, que se pode realizar no domingo, no início da Missa, assim como na renovação das promessas batismais, durante a Vigília pascal. Com efeito, quanto se verifica na celebração do Batismo suscita uma dinâmica espiritual que atravessa toda a vida dos batizados; é o início de um processo que nos permite viver unidos a Cristo na Igreja. Portanto, regressar à nascente da vida cristã leva-nos a compreender melhor o dom recebido no dia do nosso Batismo e a renovar o compromisso de lhe corresponder na condição em que estamos hoje. Renovar o compromisso, compreender melhor este dom, que é o Batismo, e recordar o dia do nosso Batismo. Na quarta-feira passada pedi para fazer os deveres de casa e, cada um de nós, recordar o dia do Batismo, em que dia fui batizado. Sei que alguns de vós o sabem, outros não; os que não o sabem, perguntem aos parentes, àquelas pessoas, aos padrinhos, às madrinhas... perguntem: “Qual é a data do meu Batismo?”. Porque o Batismo é um renascimento, é como se fosse o segundo aniversário. Entendestes? Cumprir este dever de casa, perguntar: “Qual é a data do meu Batismo?”.
Antes de tudo, no rito de acolhimento pergunta-se qual é o nome do candidato, porque o nome indica a identidade de uma pessoa. Quando nos apresentamos, dizemos imediatamente o nosso nome: “Chamo-me assim”, para sair do anonimato; anónimo é quem não tem um nome. Para sair do anonimato dizemos imediatamente o nosso nome. Sem um nome permanecemos desconhecidos, sem direitos nem deveres. Deus chama cada um pelo nome, amando-nos individualmente, na realidade da nossa história. O Batismo acende a vocação pessoal a viver como cristão, que se desenvolverá durante a vida inteira. E comporta uma resposta pessoal, não emprestada, com um “copia e cola”. Com efeito, a vida cristã é tecida com uma série de chamadas e respostas: Deus continua a pronunciar o nosso nome ao longo dos anos, fazendo ressoar de muitas maneiras a sua chamada a nos conformarmos com o seu Filho Jesus. Portanto, o nome é importante! É muito importante! Os pais pensam no nome que darão ao filho já antes do nascimento: também isto faz parte da espera de um filho que, no próprio nome terá a sua identidade original, inclusive para a vida cristã ligada a Deus.
Sem dúvida, tornar-se cristão é um dom que vem do alto (cf. Jo 3,3-8). A fé não se pode comprar, mas sim pedir e receber como dom. “Senhor, concedei-me o dom da fé!”, é uma bonita oração! “Que eu tenha fé!” é uma bonita prece. Pedi-la como dom, mas não se pode comprá-la, pede-se. Com efeito, «o Batismo é o sacramento daquela fé, com a qual os homens, iluminados pela graça do Espírito Santo, respondem ao Evangelho de Cristo» (Rito do Batismo das Crianças, Introdução Geral, n. 3). A formação dos catecúmenos e a preparação dos pais, assim como a escuta da Palavra de Deus na própria celebração do Batismo, tendem a suscitar e a despertar uma fé sincera, em resposta ao Evangelho.
Se os catecúmenos adultos manifestam pessoalmente aquilo que desejam receber como dom da Igreja, as crianças são apresentadas pelos pais, com os padrinhos. O diálogo com eles permite que exprimam a vontade de que os pequenos recebam o Batismo e, à Igreja, a intenção de o celebrar. «Expressão de tudo isto é o sinal da cruz, que o celebrante e os pais traçam na testa das crianças» (Rito do Batismo das Crianças, Introdução, n. 16). «O sinal da cruz... manifesta a marca de Cristo impressa naquele que vai passar a pertencer-lhe e significa a graça da redenção que Cristo nos adquiriu pela sua cruz» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.235). Na celebração fazemos o sinal da cruz nas crianças. Mas gostaria de retomar um tema do qual já vos falei. As nossas crianças sabem fazer bem o sinal da cruz? Muitas vezes vi crianças que não sabem fazer o sinal da cruz. E vós, pais, mães, avôs, avós, padrinhos e madrinhas, deveis ensinar a fazer bem o sinal da cruz, porque isto significa repetir o que se fez no Batismo. Entendestes bem? Ensinar as crianças a fazer bem o sinal da cruz. Se o aprenderem desde a infância, fá-lo-ão bem mais tarde, quando forem adultos.
A cruz é o distintivo que manifesta quem somos: o nosso falar, pensar, olhar e agir estão sob o sinal da cruz, ou seja, sob o sinal do amor de Jesus até ao fim. As crianças são marcadas na testa. Os catecúmenos adultos são marcados também nos sentidos, com estas palavras: «Recebei o sinal da cruz nos ouvidos, para ouvir a voz do Senhor»; «nos olhos, para ver o esplendor da face de Deus»; «nos lábios, para responder à palavra de Deus»; «no peito, para que Cristo habite nos vossos corações mediante a fé»; «nos ombros, para sustentar o jugo suave de Cristo» (Rito da iniciação cristã dos adultos, n. 85). Tornamo-nos cristãos na medida em que a cruz se imprime em nós como uma marca “pascal” (cf. Ap 14,1; 22,4), tornando visível, inclusive exteriormente, o modo cristão de enfrentar a vida. Fazer o sinal da cruz quando acordamos, antes das refeições, diante de um perigo, em defesa contra o mal, à noite antes de dormir, significa dizer a nós mesmos e aos outros a quem pertencemos, quem desejamos ser. Por isso é muito importante ensinar as crianças a fazer bem o sinal da cruz. E, como fazemos ao entrar na igreja, podemos fazê-lo também em casa, conservando num pequeno vaso adequado um pouco de água benta - algumas famílias fazem-no: assim, cada vez que entramos ou saímos, fazendo o sinal da cruz com aquela água recordamo-nos que somos batizados. Não vos esqueçais, repito: ensinai as crianças a fazer o sinal da cruz!


Fonte: Santa Sé

terça-feira, 24 de abril de 2018

Fotos da Missa do Papa no III Domingo da Páscoa

No último dia 15 de abril o Papa Francisco celebrou a Santa Missa do III Domingo da Páscoa por ocasião de sua visita pastoral à Paróquia Romana de São Paulo da Cruz.

O Santo Padre foi assistido por Mons. Guido Marini. Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

Procissão de entrada

Incensação
Aspersão dos fiéis
Homilia

Homilia do Papa: III Domingo da Páscoa - Ano B

Visita à Paróquia Romana de São Paulo da Cruz
Homilia do Papa Francisco
Domingo, 15 de abril de 2018

Os discípulos sabiam que Jesus tinha ressuscitado, porque Maria Madalena o dissera de manhã; depois Pedro tinha-o visto; em seguida os discípulos que voltaram de Emaús tinham contado o encontro com Jesus ressuscitado. Sabiam-no: ressuscitou e vive. Mas aquela verdade não tinha entrado no coração. Aquela verdade, sim, sabiam-na, mas duvidavam. Preferiam conservar aquela novidade na mente, talvez. É menos perigoso manter uma novidade na mente do que tê-la no coração. É menos perigoso.

Estavam todos reunidos e o Senhor apareceu. E inicialmente eles assustaram-se e pensaram que se tratava de um fantasma. Mas Jesus diz-lhes: «Não, vede, tocai-me. Vede as chagas. Um fantasma não tem corpo. Vede, sou Eu!». Mas por que não acreditavam? Por que duvidavam? Há uma palavra no Evangelho que nos dá a explicação: «Porque devido à alegria ainda não acreditavam e ficaram estupefatos...». Devido à alegria não conseguiam acreditar. Era tanta aquela alegria! Se isto é verdade, é uma alegria imensa! «Ah, eu não acredito. Não consigo». Não podiam acreditar que houvesse tanta alegria; a alegria que leva a Cristo.

Acontece também a nós quando nos dão uma boa notícia. Antes de a receber no coração dizemos: «É verdade? Mas como sabes isso? Onde o ouviste?». Fazemo-lo para ter a certeza, porque, se isto é verdade, é uma alegria imensa. Isto acontece a nós com coisas pouco significativas, imaginai os discípulos! Era tanta a alegria que era melhor dizer: «Não, não acredito». Mas estava ali! Sim, mas não podiam, não podiam aceitar; não podiam deixar passar para o coração aquela verdade que viam. E no fim, obviamente, acreditaram. É esta a “juventude renovada” que o Senhor nos dá. Na oração da Coleta falámos disto: a “juventude renovada”. Nós estamos habituados a envelhecer com o pecado... O pecado envelhece o coração, sempre. Torna o teu coração duro, velho, cansado. O pecado cansa o coração e perdemos um pouco a fé em Cristo Ressuscitado: «Não, não penso... Isto causaria tanta alegria... Sim, sim, está vivo, mas está no céu para os seus assuntos...». Mas os seus assuntos sou eu! Cada um de nós! Mas não somos capazes de fazer esta ligação.

O apóstolo João, na segunda Leitura, diz: «Se alguém pecou temos um advogado junto do Pai». Não tenhais medo, Ele perdoa. Ele renova. O pecado envelhece-nos, mas Jesus, ressuscitado, vivo, renova-nos. É esta a força de Jesus ressuscitado. Quando recebemos o sacramento da Penitência é para sermos renovados, para rejuvenescermos. E Jesus ressuscitado faz isto. É Jesus ressuscitado que hoje está no meio de nós: estará aqui no altar; está na Palavra... E no altar estará assim: ressuscitado! É Cristo que nos quer defender, o Advogado, quando nós pecamos, para nos rejuvenescer.

Irmãos e irmãs, peçamos a graça de acreditar que Cristo está vivo, ressuscitou! Esta é a nossa fé, e se acreditarmos nisto, as outras coisas são secundárias. Esta é a nossa vida, esta é a nossa verdadeira juventude. A vitória de Cristo sobre a morte, a vitória de Cristo sobre o pecado. Cristo está vivo. «Sim, sim, agora recebo a Comunhão...». Mas quando recebes a Comunhão, tens a certeza de que Cristo está vivo ali, que ressuscitou? «Sim, é um pouco de pão abençoado...». Não, é Jesus! Cristo está vivo, ressuscitou e permanece entre nós e se não crermos nisto, nunca seremos bons cristãos, não o podemos ser.

«Mas por que devido à alegria ainda não acreditavam e estavam cheios de admiração». Peçamos ao Senhor a graça de que a alegria não nos impeça de acreditar, a graça de tocar Jesus ressuscitado: tocá-lo no encontro mediante a oração; no encontro através dos sacramentos; no encontro com o seu perdão que é a juventude renovada da Igreja; no encontro com os doentes, quando os vamos visitar; com os presos, os mais necessitados, as crianças, os idosos. Se sentirmos vontade de fazer algo de bom, é Jesus ressuscitado que nos impele a isso. É sempre a alegria, a alegria que nos faz jovens. Peçamos a graça de sermos uma comunidade jubilosa, porque cada um de nós tem a certeza, tem fé, encontrou Cristo ressuscitado.


Fonte: Santa Sé.

Regina Coeli: III Domingo da Páscoa - Ano B

Papa Francisco
Regina Coeli
Domingo, 15 de abril de 2018

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No centro deste III Domingo de Páscoa está a experiência do Ressuscitado, feita pelos seus discípulos, todos juntos. Isto é evidenciado especialmente pelo Evangelho, que nos introduz mais uma vez no Cenáculo, onde Jesus se manifesta aos Apóstolos, dirigindo-lhes esta saudação: «A paz esteja convosco!» (Lc 24,36). É a saudação de Cristo Ressuscitado, que nos dá a paz: «A paz esteja convosco!». Trata-se tanto da paz interior, como da paz que se estabelece nos relacionamentos entre as pessoas. O episódio narrado pelo evangelista Lucas insiste muito sobre o realismo da Ressurreição. Jesus não é um fantasma. Com efeito, não se trata de uma aparição da alma de Jesus, mas da sua presença real, com o Corpo ressuscitado.

Jesus apercebe-se que os Apóstolos se sentem perturbados ao vê-lo, que estão desconcertados, porque para eles a realidade da Ressurreição é inconcebível. Julgam ver um fantasma; mas Jesus Ressuscitado não é um fantasma, é um homem de corpo e alma. Por isso, para os convencer, diz-lhes: «Vede as minhas mãos e os meus pés - mostra-lhes as chagas! - sou Eu mesmo! Tocai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho» (v. 39). E dado que isto não parece ser suficiente para vencer a incredulidade dos discípulos, o Evangelho diz também algo interessante: a alegria que tinham dentro de si era tão grande que não podiam acreditar: “Não, não pode ser! Não pode ser assim! Não é possível tanta alegria!”. E para os convencer, Jesus disse-lhes: «Tendes aqui algo para comer?» (v. 41). Eles oferecem-lhe um pouco de peixe assado; Jesus toma-o e come-o diante deles, para os convencer.

A insistência de Jesus sobre a realidade da sua Ressurreição ilumina a perspectiva cristã sobre o corpo: o corpo não é um obstáculo, nem uma prisão da alma. O corpo é criado por Deus, e o homem só é completo em união de corpo e alma. Jesus, que venceu a morte e ressuscitou em corpo e alma, faz-nos entender que devemos ter uma ideia positiva do nosso corpo. Ele pode tornar-se ocasião ou instrumento de pecado; contudo, o pecado não é provocado pelo corpo, mas pela nossa debilidade moral. O corpo é um dom maravilhoso de Deus, destinado, em união com a alma, a manifestar plenamente a imagem e a semelhança d’Ele. Portanto, somos chamados a ter grande respeito e cuidado do nosso corpo e do corpo dos outros.

Cada ofensa ou ferida ou violência contra o corpo do nosso próximo é um ultraje a Deus Criador! Dirijo o meu pensamento, em particular, às crianças, às mulheres e aos idosos maltratados no corpo. Na carne destas pessoas encontramos o Corpo de Cristo. Cristo ferido, desprezado, caluniado, humilhado, flagelado, crucificado... Jesus ensinou-nos o amor. Um amor que, na sua Ressurreição, se demonstrou mais forte do que o pecado e a morte, e quer resgatar todos aqueles que experimentam no próprio corpo as escravidões do nosso tempo.

Num mundo onde demasiadas vezes prevalecem a prepotência contra os mais frágeis e o materialismo que sufoca o espírito, o Evangelho de hoje chama-nos a ser pessoas capazes de olhar em profundidade, cheias de admiração e de grande alegria por termos encontrado o Senhor ressuscitado. Chama-nos a ser pessoas que sabem acolher e valorizar a novidade de vida que Ele semeia na história, para a orientar rumo aos novos céus e à nova terra. Que nos ampare neste caminho a Virgem Maria, a cuja intercessão maternal nos entregamos com confiança.


Fonte: Santa Sé.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Dom Armando Bucciol: "Ninguém é dono da Liturgia"

Durante a 56ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, Dom Armando Bucciol, Bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e Presidente da Comissão para a Liturgia da CNBB, falou durante a Coletiva de Imprensa do dia 12 de abril.

Em um primeiro momento (22min13s a 30min35s do vídeo), Dom Armando falou do andamento da tradução da 3ª edição típica do Missal Romano, que está na fase de revisão das orações das Missas dos Comuns dos Santos e Missas para diversas necessidades. Para o próximo ano espera-se iniciar a tradução das Missas dos Fiéis Defuntos e Missas votivas.

O Bispo apresentou ainda a proposta, ainda em fase de estudos, de um novo documento sobre a música litúrgica, ajudando os cantores e músicos a compreenderem o sentido dos diversos momentos da celebração e os critérios para a escolha dos cantos.

Por fim, nesta primeira intervenção, Dom Armando falou brevemente de uma intervenção da Comissão para a Liturgia durante a Assembleia, trazendo uma reflexão aos Bispos sobre “Liturgia e evangelização”.

Dom Armando Bucciol
Na segunda parte da Coletiva de Imprensa, Dom Armando respondeu duas perguntas. A primeira delas (31min44s a 36min12s) foi sobre os abusos litúrgicos cometidos por padres, sobretudo aqueles presentes nas mídias sociais.

O Bispo inicia sua resposta de uma maneira bastante direta e clara: “Ninguém na Igreja é dono da Liturgia. Eu não sou dono, sou servidor. Também o Papa é servidor da Igreja: o primeiro. E, portanto, eu não posso manipular a Liturgia a meu bel-prazer”.

Dom Armando chamou a atenção para a “criatividade selvagem” que seduz (atrai para si) e não conduz (atrai para um Outro: Cristo). Muitos dos abusos litúrgicos, afirma, são fruto de uma má formação sobre a história e o sentido de cada gesto, de cada rito, história que é fruto da ação do Espírito.

“O padre ou Bispo que manipula a Liturgia a está traindo”. Dom Armando recorda que somos servos da Liturgia: há espaço para uma criatividade sadia, coerente com o espírito da Liturgia. A “criatividade selvagem”, porém, não evangeliza.

A segunda pergunta ligada ao tema da Liturgia (49min19s a 54min40s) foi sobre a questão da música litúrgica. Dom Armando falou brevemente sobre a importância de que a música litúrgica seja coerente com cada momento litúrgico celebrado e fundamentado na Palavra de Deus, que fecunda e transforma a vida.

Pediu que se respeite o texto litúrgico das partes fixas da Missa, bem como o Salmo, que deve ser entoado com melodias simples. O texto é mais importante que a melodia, afirmou o Bispo: “A música deve estar a serviço da Liturgia: os cantores não devem ser os protagonistas, fazendo show”.

Por fim, Dom Armando concluiu recordando o trabalho já realizado no Brasil em relação à música litúrgica, sobretudo com o Hinário Litúrgico. Está em fase de estudos, além do novo documento, um repertório litúrgico mais adequado para os sacramentos, especialmente para o Matrimônio.

Em suma, três intervenções profundamente lúcidas, coerentes com o espírito da Liturgia e que dão esperança, diante de tantos abusos litúrgicos cometidos no Brasil que, para usar as palavras do próprio Bispo, “seduzem” e não “conduzem”.

Ad multos annos, Dom Armando! Muito obrigado por sua fidelidade!


Vídeo completo da Coletiva de imprensa (intervenções de Dom Armando nos minutos assinalados no texto):


A valorização da Vigília Pascal

Na sequência das postagens da Rádio Vaticano sobre “Dez aspectos da renovação litúrgica do Concílio Vaticano II”, trazemos hoje, vivendo ainda o Tempo Pascal, dois textos sobre a valorização da Vigília Pascal:

No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a falar sobre a reforma litúrgica, destacando no programa de hoje, a valorização da Vigília Pascal.
Estamos em plena Semana Santa - a “Semana Maior” para nós cristãos - e a reforma litúrgica trazida pelo Concílio Vaticano II, incidiu também na forma de celebrá-la. Recordamos que o Papa Pio XII já havia determinado que a Vigília Pascal voltasse a ser celebrada como o era nos primórdios, ou seja, na noite de sábado para o Domingo de Páscoa, o que foi confirmado pelo Concílio Vaticano II.
Faltam dois aspectos do 10 importantes pontos que escolhemos da Renovação Litúrgica a partir da Constituição Sacrosanctum Concilium: A Vigília Pascal e o Mistério Pascal. Embora uma única temática, separamos aqui pedagogicamente nosso comentário, devido à importância particular de cada um.
A Vigília Pascal foi restabelecida por Pio XII, já antes do Concilio. Em 1951, o Papa Pio XII mandou celebrar a Vigília Pascal de novo como era nas origens, a saber, na noite do Sábado Santo para o Domingo da Páscoa. A reforma do concílio Vaticano II a confirmou.
Antes da reforma litúrgica da Semana Santa feita por Pio XII, a Vigília Pascal era celebrada durante o dia, destoando da primitiva tradição litúrgica. Para tanto, proporcionando o escuro que ainda hoje é requerido, tampavam as janelas das igrejas. Pelo século VII, anteciparam a celebração da Vigília pascal da noite do sábado para as 14h do sábado.
Posteriormente, a partir do século XVI, com o Papa Pio V, vemos a Vigília antecipada para mais cedo ainda, para as 9h da manhã do sábado – prática que vigorou até 1955 [1]. Mas agora, tanto na forma nova quanto no rito antigo, é ordenado que a Vigília só seja celebrada à noite, pelo menos depois que o sol se ponha e antes de amanhecer o domingo.
Com isso se resgatou o valor e sentido supremos da Páscoa da ressurreição. A Vigília Pascal é a festa das festa, a Vigília das vigílias, a noite das noites. A Vigília Pascal é o centro de todas as Eucaristias e a fonte de todas as liturgias. Da noite da Páscoa, toda a espiritualidade da Igreja primitiva partia. Esta noite, a noite santa a noite sacramental, a noite do memorial do Cristo Ressuscitado dos mortos, é o centro de toda a Liturgia.
O Catecismo da Igreja Católica, renovado a partir das mudanças do Concílio, acentua a importância da solenidade Pascal: “Por isso, a páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a “festa das festas”, “solenidade das solenidades”, como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento). Santo Atanásio a denomina “o grande domingo como a semana santa é chamada no Oriente “a grande semana”. O mistério da ressurreição, no qual Cristo esmagou a morte, penetra nosso velho tempo com sua poderosa energia até que tudo lhe seja submetido” (CIC, 1169).
Na noite da Vigília Pascal, os catecúmenos eram preferencialmente batizados, após uma preparação intensa catecumenal de 3 ou mais anos. Por isso, a celebração do batismo de adultos, dentro da vigília Pascal ainda é recomendada com insistência porque traduz essa realidade nova, do renascer da Páscoa. Somos, na verdade, todos filhos da Páscoa. Nascemos na noite santa da vitória de Cristo sobre a morte". 

No nosso espaço Memória História – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a falar sobre a celebração da Vigília Pascal após Pio XII.
Na noite do Sábado Santo, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro à Celebração da Vigília Pascal com o batismo de 8 catecúmenos adultos, provenientes de diferentes países.
A Vigília Pascal, como falamos em nosso programa anterior, foi restabelecida pelo Papa Pio XII, já antes do Concilio Vaticano II. Em 1951, de fato, o Pastor Angelicus - como era chamado -  celebrou a Vigília Pascal como era feito nas origens, ou seja, na noite do Sábado Santo para o Domingo da Páscoa. O Concílio Vaticano II apenas confirmou esta decisão.
Antes da reforma litúrgica da Semana Santa feita por Pio XII, a Vigília Pascal era celebrada durante o dia, destoando da primitiva tradição litúrgica. Para tanto, para proporcionar o escuro que ainda hoje é requerido, eram tapadas as janelas das igrejas. Pelo século VII, anteciparam a celebração da Vigília pascal da noite do sábado para as 14h do sábado.
Na edição de hoje, padre Gerson Schmidt dá continuidade em sua reflexão ao tema da Vigília Pascal e o sentido da Páscoa:
“Queremos recordar algumas coisas que aqui já lembramos quando da celebração da Páscoa. A noite da Vigília Pascal não pode ser comparada com nenhuma Missa, nem com nenhuma vigília de oração, nem com nada. A comparamos sim com a Páscoa Judaica, memorial irrevogável de Deus com um povo escolhido.
Mas a Páscoa Cristã é todo um memorial junto com o qual o próprio Deus se empenhou para realizar esta Aliança que prometeu a Abraão e os profetas. A Páscoa não é uma missa de meia noite, mas algo muito maior. É Deus que passa.
Nós não celebramos a Páscoa ou vamos à Páscoa ou damos algo à Páscoa. É a páscoa que vem com potência a nós. Deus irrompe e o poder da sua passagem (Pessach - Páscoa) convida-nos a sair de nosso Egito interior, das trevas de nossos pecados, de nossas ilusões, para passar da escravidão à liberdade, da tristeza à alegria, da morte para a ressurreição, no hoje de nossa vida.
É a páscoa que Jesus Cristo fez. Agora, a Páscoa, a vitória de Cristo sobre todo o mal, vem para ser celebrada em nós.
Já Pio XII, na Encíclica Mediator Dei, no número 144, já antes da SC, expunha essa ressurreição de cada um de nós na Páscoa: “Na solenidade pascal, que comemora o triunfo de Cristo, sente-se a nossa alma penetrada de íntima alegria, e devemos oportunamente pensar que também nós, junto com o Redentor, surgiremos, de uma vida fria e inerte para uma vida mais santa e fervorosa, a Deus oferecendo-nos todos, com generosidade e esquecendo-nos desta mísera terra para só aspirar ao céu: ‘Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas supremas, aspirai às coisas do alto’ (Cl 3,1-2)”.
A festa pascal é o lugar onde tudo converge e a fonte da qual tudo emana. Todo o culto cristão não é nada mais que uma celebração continuada da Páscoa. Tudo brota da fonte pascal. Como o sol, que não cessa de levantar-se sobre a terra, atrai para sua órbita todos os astros, a noite da Páscoa é rodeada por todas as eucaristias que continuamente e diariamente, a cada minuto, são celebradas em toda a terra, porque participam da Páscoa, assim como participam todos os sacramentos e sacramentais.
São celebrações da grande Páscoa, do único Mistério Pascal. O Catecismo da Igreja Católica, à luz do Concilio, diz: “O ano litúrgico é o desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal. Isto vale muito particularmente para o ciclo das festas em tomo do mistério da encarnação (Anunciação, Natal, Epifania) que comemoram o começo de nossa salvação e nos comunicam as primícias do Mistério da Páscoa” (CIC, 1171).
Somos todos filhos desta Igreja que redescobriu o valor e o sentido da Páscoa, da grande Vigília Pascal. O movimento litúrgico, bíblico e toda a renovação conciliar trouxeram esse dinamismo a Páscoa, para colocar em movimento a história e o mundo, o ser humano celebrativo, mergulhado na morte de Cristo e ressuscitado com Ele. Na Páscoa, todas as coisas são renovadas em Cristo”.

[1] Liturgia em Mutirão: subsídios para formação/CNBB, 1ª edição, 2007, p. 29-31.


I Catequese do Papa sobre o Batismo: Introdução

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 11 de abril de 2018
O Batismo (1): Introdução

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Os cinquenta dias do tempo litúrgico pascal são propícios para refletir sobre a vida cristã que, por sua natureza, é a vida que provém do próprio Cristo. De fato, somos cristãos na medida em que deixamos Jesus Cristo viver em nós. Então, por onde começar a fim de reavivar esta consciência se não pelo princípio, pelo Sacramento que acendeu em nós a vida cristã? Pelo Batismo. A Páscoa de Cristo, com a sua carga de novidade, chega até nós através do Batismo para nos transformar à sua imagem: os batizados pertencem a Jesus Cristo, Ele é o Senhor da sua existência. O Batismo é o «fundamento de toda a vida cristã» (Catecismo da Igreja Católica, 1213). É o primeiro dos Sacramentos, porque é a porta que permite a Cristo Senhor habitar a nossa pessoa e, a nós, imergir-nos no seu Mistério.
O verbo grego “batizar” significa “imergir” (cf. CIC, 1214). O banho com a água é um rito comum em várias crenças para exprimir a passagem de uma condição para outra, sinal de purificação para um novo início. Mas para nós cristãos não deve passar despercebido que se é o corpo a ser imergido na água, é a alma que é imersa em Cristo para receber o perdão do pecado e resplandecer de luz divina (cf. Tertuliano, Sobre a ressurreição dos mortos, VIII, 3; CCL 2, 931; PL 2, 806). Em virtude do Espírito Santo, o Batismo imerge-nos na morte e ressurreição do Senhor, afogando na pia batismal o homem velho, dominado pelo pecado que separa de Deus, e fazendo com que nasça o homem novo, recriado em Jesus. N’Ele, todos os filhos de Adão são chamados para a vida nova. Ou seja, o Batismo é um renascimento. Estou certo, certíssimo de que todos nós recordamos a data do nosso nascimento: tenho a certeza. Mas questiono-me, com alguma dúvida, e pergunto-vos: cada um de vós recorda qual foi a data do próprio batismo? Alguns dizem sim - está bem. Mas é um sim um pouco débil, porque talvez muitos não recordem. Mas se festejamos o dia do nascimento, como não festejar - pelo menos recordar - o dia do renascimento? Dar-vos-ei um dever de casa, uma tarefa hoje para fazer em casa. Quantos de vós que não se recordam a data do batismo, perguntem à mãe, aos tios, aos netos, perguntem: “Sabes qual é a data do batismo?", e nunca mais a esqueçais. E demos graças ao Senhor por aquele dia, porque é precisamente o dia em que Jesus entrou em nós, que o Espírito Santo entrou em nós. Compreendestes bem o dever de casa? Todos devemos saber a data do nosso batismo. É outro aniversário: o aniversário do renascimento. Não vos esqueçais de fazer isto, por favor.
Recordemos as últimas palavras do Ressuscitado aos Apóstolos: são precisamente um mandato: «Ide e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,19). Através da lavacro batismal, quem crê em Cristo é imerso na própria vida da Trindade.
De facto, a do Batismo não é uma água qualquer, mas a água sobre a qual é invocado o Espírito que «dá a vida» (Credo). Pensemos no que Jesus disse a Nicodemos para lhe explicar o nascimento para a vida divina: «Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito» (Jo 3,5-6). Portanto o Batismo é também chamado “regeneração”: acreditamos que Deus nos salvou «pela sua misericórdia, com uma água que regenera e renova no Espírito» (Tt 3,5).
Por conseguinte, o Batismo é sinal eficaz de renascimento, para caminhar em novidade de vida. Recorda-o São Paulo aos cristãos de Roma: «Ignorais, porventura, que todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Pelo batismo sepultamo-nos juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também numa vida nova» (Rm 6,3-4).
Imergindo-nos em Cristo, o Batismo torna-nos também membros do seu Corpo, que é a Igreja, e participamos da sua missão no mundo (cf. CIC 1213). Nós batizados não estamos isolados: somos membros do Corpo de Cristo. A vitalidade que brota da pia batismal é ilustrada por estas palavras de Jesus: «Eu sou a videira, vós as varas: quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto» (cf. Jo 15,5). A mesma vida, a do Espírito Santo, escorre de Cristo para os batizados, unindo-os num só Corpo (cf. 1Cor 12,13), crismado pela santa unção e alimentado na mesa eucarística.
O Batismo permite que Cristo viva em nós e a nós que vivamos unidos a Ele, para colaborar na Igreja, cada um segundo a própria condição, para a transformação do mundo. Recebido uma única vez, o lavacro batismal ilumina toda a nossa vida, guiando os nossos passos até à Jerusalém do Céu. Há um antes e um depois do Batismo. O Sacramento pressupõe um caminho de fé, que chamamos catecumenato, evidente quando é um adulto que pede o Batismo. Mas também as crianças desde a antiguidade, são batizadas na fé dos pais (cf. Rito do Batismo das crianças, Introdução, 2). E sobre isto gostaria de vos dizer algo. Alguns pensam: mas por que batizar uma criança que não entende? Esperemos que cresça, que compreenda e seja ela mesma a pedir o Batismo. Mas isto significa não ter confiança no Espírito Santo, porque quando batizamos uma criança, naquela criança entra o Espírito Santo, e o Espírito Santo faz com que cresça naquela criança, desde pequenina, virtudes cristãs que depois florescerão. Sempre se deve dar esta oportunidade a todos, a todas as crianças, de ter dentro de si o Espírito Santo que as guie durante a vida. Não deixeis de batizar as crianças! Ninguém merece o Batismo, que é sempre dom gratuito para todos, adultos e recém-nascidos. Mas como acontece com uma semente cheia de vida, este dom ganha raízes e dá fruto num terreno alimentado pela fé. As promessas batismais que a cada ano renovamos na Vigília Pascal devem ser reavivadas todos os dias a fim de que o Batismo “cristifique”: não devemos ter medo desta palavra; o Batismo “cristifica-nos", quem recebeu o Batismo e é “cristificado” assemelha-se a Cristo, transforma-se em Cristo, tornando-se deveras outro Cristo.


Fonte: Santa Sé