segunda-feira, 5 de março de 2012

A celebração do Domingo de Ramos

“Saudemos com hosanas o Filho de Davi! Bendito o que nos vem em nome do Senhor! Jesus, rei de Israel, hosana nas alturas” (cf. Mt 21,9).

O que se deve preparar:

- Todo o necessário para a celebração da Missa
- Paramentos vermelhos para o sacerdote, como para a Missa. Para a procissão, pode-se usar o pluvial vermelho, se houver
- Turíbulo e naveta com incenso
- Cruz processional, ornada com um ramo
- Dois castiçais com velas
- Caldeirinha de água benta e aspersório
- Missal Romano
- Livro dos Evangelhos
- Livros da Paixão do Senhor, se houver
- Três estantes para a história da Paixão
- Genuflexório
- Ramos para o sacerdote, os ministros e os fiéis

Papa Francisco preside a Missa do Domingo de Ramos (2014)

O uso do incenso é sempre facultativo na Missa (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano [IGMR], 3ª edição, nn. 276-277), sendo especificamente indicado pelo Cerimonial dos Bispos (n. 88) para a procissão desse domingo.

Sobre o toque das sinetas: o Cerimonial dos Bispos indica no n. 300 que o toque dos sinos é previsto no Glória da Missa da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa) e no Glória da Vigília Pascal, sendo proibido nesse intervalo. Sobre as demais celebrações, os livros litúrgicos não se pronunciam. Portanto, valem os costumes locais.

O altar seja convenientemente ornado com ramos. Proíbe-se ornamentá-lo com flores nesse dia, uma vez que ainda estamos no Tempo da Quaresma (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 252; IGMR, n. 305).

Sobre os Livros da Paixão: livros com os textos da narrativa da Paixão para o Domingo de Ramos e a Sexta-feira Santa. Conforme a tradição, são três: um para o narrador ou cronista, um para o leitor (que lê as falas de todos os personagens) e outro para o sacerdote, que lê as falas de Cristo. No Brasil infelizmente os Livros da Paixão não foram publicados.

1. Ritos iniciais

Nesta celebração há três formas de entrada: a procissão (Cerimonial dos Bispos, nn. 264-271), a entrada solene (n. 272) e a entrada simples. Em cada comunidade pode realizar-se apenas uma procissão, na Missa com maior concurso de povo, a partir do pôr-do-sol do sábado inclusive (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 29).

A entrada solene é realizada quando não é possível fazer a procissão, podendo ser repetida em uma ou mais Missas desse domingo (cf. Missal Romano, p. 220). Nas Missas em que não há bênção dos ramos, por sua vez, realiza-se a entrada simples.

Procissão de entrada do Domingo de Ramos (2017)

a) Procissão:

Os fiéis, com ramos nas mãos, se reúnem em uma igreja menor ou em outro lugar adequado fora da igreja onde se celebrará a Missa.

O sacerdote, revestido do pluvial vermelho ou, na sua falta, da casula vermelha, dirige-se ao lugar onde estão os fiéis, acompanhado dos acólitos e demais ministros. Esses levam o turíbulo e a naveta, a cruz, os castiçais com velas e o Missal Romano. Se há diácono, convém que este leve o Livro dos Evangelhos (Evangeliário). Se há os Livros da Paixão, esses são levados pelos diáconos ou leitores.

Diácono com um dos Livros da Paixão
(Basílica do Santo Sepulcro, Jerusalém - 2021)

À chegada do sacerdote e dos ministros, os cantores entoam uma antífona, isto é, um breve canto ou refrão adequado. O sacerdote inicia então a celebração com o sinal da cruz e a saudação, como de costume. Embora no Missal não fique claro, o Cerimonial especifica que essa celebração inicia sempre com o sinal da cruz (n. 266).

Para acessar nossa postagem sobre os cantos litúrgicos para o Domingo de Ramos, clique aqui.

Segue-se a monição introdutória proposta no Missal (pp. 220-221), proferida pelo próprio sacerdote ou pelo diácono : “Meus irmãos e irmãs, durante as cinco semanas da Quaresma preparamos os nossos corações...”.

Em seguida, de mãos unidas, o sacerdote recita uma das orações de bênção dos ramos propostas no Missal (p. 221): “Deus eterno e todo-poderoso, abençoai estes ramos...” ou “Ó Deus de bondade, aumentai a fé dos que esperam em vós...”.

O Papa Francisco prefere a bênção dos ramos (2019)

Após a oração, o sacerdote asperge os ramos em silêncio. Se for oportuno, pode ser entoado um refrão ou um breve canto adequado.

Aspersão dos ramos (2019)

Terminada a aspersão, o sacerdote impõe incenso no turíbulo, abençoa o diácono (se está presente) e recebe do cerimoniário ou de um acólito o seu ramo para ouvir o Evangelho da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém: Mt 21,1-11 (ano A); Mc 11,1-10 ou Jo 12,12-16 (ano B); Lc 19,28-40 (ano C). Se não houver diácono, o próprio sacerdote proclama o Evangelho, sem porém segurar o ramo.

Para esta proclamação do Evangelho pode ser utilizado o Livro dos Evangelhos ou o próprio Missal (pp. 221-225), que pode ser colocado em uma estante ou segurado por um acólito, sempre ladeado por dois castiçais de velas, além dos acólitos com o turíbulo e a naveta do incenso.

Evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém (2015)

Após o Evangelho, se for oportuno, o sacerdote pode proferir uma breve homilia. Forma-se então a procissão, que inicia com a monição proferida pelo diácono ou pelo sacerdote: “Meus irmãos e minhas irmãs, imitando o povo que aclamou Jesus, comecemos com alegria a nossa procissão” (Missal Romano, p. 225).

A procissão prossegue como de costume:
- Acólitos com o turíbulo e a naveta do incenso
- Acólito com a cruz ornada com um ramo, ladeado por dois acólitos com velas acesas
- Acólitos e demais ministros, com ramos nas mãos
- Diáconos ou leitores com os Livros da Paixão, se houver
- Diácono com o Livro dos Evangelhos, se houver
- Sacerdote, com seu ramo na mão
- Fiéis, que levam ramos nas mãos

Durante a procissão, cantam-se os salmos propostos no Missal (pp. 225-228) - Sl 23 (24); Sl 46 (47); hino Gloria, laus et honor (Glória, louvor e honra a ti) - ou outros cantos adequados.

Procissão (2019)
Procissão (2018)

Nessa procissão convém valorizar a cruz processional, ornada com um ramo, que depois é colocada junto ao altar, demonstrando a unidade entre os dois momentos da celebração (procissão e Missa). Se, porém, já houver uma cruz no presbitério, a cruz processional é colocada na sacristia, preservando a autenticidade do sinal: uma cruz, assim como também foi único o sacrifício de Cristo (cf. IGMR, nn. 117.122.308; Cerimonial dos Bispos, n. 129).

Chegando à igreja, os ministros fazem a devida reverência ao altar e ocupam seus lugares. O sacerdote, ao chegar diante do altar, entrega seu ramo ao cerimoniário ou a um acólito, beija o altar e o incensa, como de costume. Em seguida, dirige-se à cadeira, depõe o pluvial (se o usou) e reveste a casula. Se preferir, porém, pode trocar o pluvial pela casula antes de beijar e incensar o altar.

Omitidos o Ato Penitencial e o Glória, o sacerdote recita a oração do dia ou coleta: “Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade...” (Missal Romano, p. 230).

Papa Francisco recita a oração do dia (2019)

b) Entrada solene:

Com os fiéis já reunidos dentro da igreja, o sacerdote e os ministros dirigem-se para um lugar adequado, fora do presbitério, onde possam ser vistos ao menos pela maioria dos fiéis. Comumente utiliza-se a porta da igreja, com os fiéis voltando-se para trás para acompanhar o rito.

Os ritos, desde a chegada do sacerdote até a oração do dia, fazem-se como indicado acima. Convém que ao menos alguns fiéis tomem parte na procissão de entrada, logo após o sacerdote (Cerimonial dos Bispos, n. 272; Missal Romano, p. 229). Por exemplo, uma vez que são destacadas no Evangelho de Mateus (Mt 21,15-16), as crianças poderiam ser convidadas a tomar parte da procissão.

Procissão de ramos dentro da Basílica de São Pedro (2021)

c) Entrada simples:

Nas Missas em que não há bênção dos ramos, a entrada faz-se como de costume: procissão de entrada, sinal da cruz e saudação presidencial, Ato Penitencial e oração do dia (Missal Romano, p. 229). Omite-se apenas o Glória, uma vez que ainda estamos na Quaresma.

2. Liturgia da Palavra

As leituras e o salmo são proclamados como de costume: Is 50,4-7; Sl 21; Fl 2,6-11. Segue-se a aclamação ao Evangelho, na forma descrita no Lecionário, sem o Aleluia (omitido durante toda a Quaresma, até a Vigília Pascal exclusive): “Glória e louvor a vós, ó Cristo: Jesus Cristo se tornou obediente...” (cf. Fl 2,8-9).

Proclama-se então a narrativa ou história da Paixão segundo um dos três Evangelhos Sinóticos: Mt 26,14–27,66 (ano A); Mc 14,1–15,47 (ano B); Lc 22,14–23,56 (ano C). Nessa narrativa da Paixão não se levam velas nem incenso (Cerimonial dos Bispos, n. 273).

A Paixão é tradicionalmente proclamada por três leitores: o narrador ou cronista; o leitor, que lê as falas de todos os personagens; e o sacerdote, que lê as falas de Cristo (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 33). Convém, portanto, preparar três estantes no centro do presbitério para os três leitores.

Três diáconos proclamam a Paixão (2015)

Quando há três diáconos, são eles que proclamam a Paixão, pedindo antes a bênção ao sacerdote. Na falta dos diáconos, a Paixão será proclamada por leitores, reservando sempre a parte de Cristo ao sacerdote. Os leitores não pedem a bênção, dirigindo-se diretamente às estantes juntamente com o sacerdote.

Na história da Paixão não há saudação ao povo nem sinal-da-cruz sobre o livro no início nem o beijo do livro no final.

Ao ser anunciada a morte do Senhor, todos se ajoelham e rezam por alguns instantes em silêncio:
Ano A: “Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito”.
Ano B: “Então Jesus deu um forte grito e expirou”.
Ano C: “Dizendo isso, expirou”.
Pode ser preparado um genuflexório para o sacerdote para esse momento, diante da cadeira ou diante do altar.

Genuflexão ao anúncio da Morte do Senhor (2015)

Após a Paixão, seguem-se a homilia, a profissão de fé (Creio) e a oração dos fiéis (Preces).

3. Liturgia Eucarística e Ritos finais

A Liturgia Eucarística celebra-se como de costume, com o uso do incenso tanto na apresentação das oferendas quanto na consagração.

Incensação das oferendas (2021)

O Prefácio dessa Missa é próprio: “A Paixão do Senhor” (Missal Romano, p. 231). Toma-se a Oração Eucarística I ou III, indicadas para os domingos (cf. IGMR, n. 365).

Para acessar nossa postagem sobre quando usar cada Oração Eucarística, clique aqui.

No final da celebração convém tomar a bênção própria da Paixão do Senhor: “O Pai de misericórdia, que vos deu um exemplo de amor na Paixão...” (Missal Romano, p. 522). A procissão de saída faz-se como de costume.

Consagração (2013)

Sobre o Domingo de Ramos, confira também:
Sobre as demais celebrações da Semana Santa, confira:

ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre o Missal Romano: Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.

CERIMONIAL DOS BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988, pp. 90-92.

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Paschalis Sollemnitatis: A preparação e celebração das festas pascais. Brasília: Edições CNBB, 2018, pp. 16-17. Coleção: Documentos da Igreja, n. 38.

MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, pp. 220-231.

Para acessar o texto completo da Carta Paschalis Sollemnitatis, clique aqui.

Postagem publicada originalmente em 05 de março de 2012. Revista e ampliada em 19 de fevereiro de 2022.

21 comentários:

  1. Muito bom esse post, me ajudará e meus cerimoniários também para a missa de ramos.

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  2. Não se utiliza casula em procissão. Recomenda-se o uso de pluvial, caso não tenha, utilizar túnica branca e estola vermelha.

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    1. Neste caso, na falta do pluvial, usa-se a casula sim. O Cerimonial dos Bispos no n. 265 é muito claro: "o Bispo reveste os paramentos de cor vermelha para a Missa. Em vez da
      casula, pode vestir o pluvial, que tira acabada a procissão". Em uma procissão fora do rito da Missa, realmente o uso da casula estaria incorreto. Mas a procissão do Domingo de Ramos faz parte do rito da Missa. O mesmo vale para a Festa da Apresentação do Senhor e a Solenidade de Corpus Christi. Nestes casos, o uso da casula na procissão está correto.

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  3. Qual é este "livro da paixão" ? Procuro em vários locais, e não acho

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    1. São livros nos quais vêm impressas as narrativas da Paixão para o Domingo de Ramos e a Sexta-feira Santa, destacando as partes de Cristo, do Leitor e do Narrador. Infelizmente estes livros não foram editados no Brasil. Caberia à CNBB providenciar sua publicação.

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    2. E estes teriam em venda em algum site, em português ?

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    3. Não, uma vez que não foram editados no Brasil. Colocamos na postagem apenas porque estes livros são mencionados no Cerimonial dos Bispos e quem sabe um dia venham a ser publicados em nosso país.

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  4. Bom dia!
    Gostaria de saber se pode usar o sino na procissão de Ramos?

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    1. A Instrução Paschalis Sollemnitatis define a procissão do Domingo de Ramos como proclamação do "triunfo real de Cristo" (n. 28) e como recordação da "vitória de Cristo" (n. 29). Portanto, considerando este caráter festivo, embora não esteja diretamente previsto, não há impedimento em acompanhar a procissão com o toque de sinos.

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  5. Boa Noite, é feito o sinal da cruz na missa de domingo de Ramos? Conversava com meu pároco e ele disse que não tem o sinal da cruz no domingo de Ramos.

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  6. Sim. Toda celebração litúrgica inicia com o sinal da cruz, exceto a Celebração da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa.
    Embora a atual versão do Missal (2ª edição) seja um pouco vaga neste sentido, o Cerimonial dos Bispos é muito claro (n. 266): a Missa do Domingo de Ramos inicia-se com o sinal da cruz e a saudação como de costume. A 3ª edição do Missal (ainda sem tradução no Brasil) repete a mesma orientação do Cerimonial.

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  7. Olá André. Obrigado pela delicadeza de esclarecer tudo. Podes me dar uma orientação exata como é o rito da entrada solene, sem bênção de Ramos?

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    1. A entrada solene consiste na bênção dos ramos feita dentro da igreja, geralmente na porta.
      Quando, por alguma razão, não se faz a bênção dos ramos, faz-se a chamada entrada simples, que consiste na procissão de entrada como de costume na Missa.

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  8. Boa noite!
    Gostaria de saber em que momento na hora da proclamação do Evangelho da Paixão deve-se ajoelhar?

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    1. Logo após o anúncio da Morte de Jesus, como vem indicado no Lecionário:

      Domingo de Ramos (Ano A):
      "Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito".

      Domingo de Ramos (Ano B):
      "Então Jesus deu um forte grito e expirou".

      Domingo de Ramos (Ano C):
      "Dizendo isso, expirou".

      Sexta-feira Santa (Celebração da Paixão):
      "E, inclinando a cabeça, entregou o espírito".

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  9. Boa noite. Quando há procissão, a Missa propriamente dita se inicia fora da Igreja ou apenas após a entrada do sacerdote? Em outras palavras, quem não participa da procissão chega atrasado à Missa? Obrigado.

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    1. A Missa e a Procissão formam uma só celebração. Note-se que o sinal da cruz é feito no local de onde parte a procissão e, ao chegar à igreja, a Missa continua a partir da coleta (oração do dia). Portanto, quem não tomou parte da procissão não participou da Missa inteira, não cumprindo portanto o preceito dominical.

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  10. Salve Maria!

    André, na leitura da Paixão os leigos que irão proclamá-la precisam estar no presbitério, certo? Ou podem proclamar do lugar onde fica o ministério de música? E da nave?

    Agora, caso o presbitério não tenha espaço para 3 estantes (na minha paróquia realmente não tem), como deve ser feito?

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    1. O uso das três estantes não é obrigatório, é apenas uma recomendação.
      Em igrejas menores o Leitor poderia ler do ambão, o sacerdote (Cristo) da própria sede ou de junto do altar e o Narrador da estante do comentarista.
      De toda forma, convém sempre que esses três leitores ocupem um lugar de onde possam ser vistos pela assembleia, pois se trata da proclamação do Evangelho.

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  11. André, no Missal Romano pré 55, tinha o rito de se bater na porta 3 vezes com a cruz processional antes de entrar na Igreja, ao chegar a procissão. Vejo que alguns padres mantém esse rito. Ainda pode fazê-lo?

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    1. Não. A reforma litúrgica recuperou o caráter original da procissão: procissão festiva em honra de Cristo Rei. O gesto de bater na porta é de caráter penitencial (vale lembrar que antes da reforma de 1955 inclusive se usava a cor roxa na procissão, enfatizando esse caráter penitencial, substituída pelo vermelho por Pio XII).

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