“Na Sexta-feira da
Paixão do Senhor e no Sábado Santo, antes das Laudes, na medida do possível,
faça-se uma celebração pública do Ofício das Leituras juntamente com o povo”
(Introdução Geral da Liturgia das Horas, n. 210)
“Este oficio, outrora
chamado das trevas, conserve o devido lugar na devoção dos fiéis, para
contemplar em piedosa meditação a Paixão, Morte e Sepultura do Senhor, à espera
do anúncio da sua Ressurreição” (Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, n.
40).
O Ofício das Trevas,
ou Tenebrae, consiste na oração do
Ofício das Leituras e das Laudes da Quinta, Sexta e Sábado da Semana Santa
(especialmente os dois últimos). Nesta celebração, segundo a tradição, a igreja
permanece às escuras, iluminada apenas por velas, e diante do altar é colocado
um candelabro de quinze velas, que vão sendo apagadas após os salmos.
As velas simbolizam o abandono experimentado por Jesus
durante a Paixão: dez velas recordam os Apóstolos, que fugiram após a prisão do Mestre;
quatro velas recordam o Apóstolo João e as mulheres junto à cruz que, embora
tenham permanecido fiéis, também experimentaram a escuridão da Morte do Senhor; e
a última vela recorda o próprio Cristo [1].
Esta vela, a de Cristo, tradicionalmente não é apagada ao final da
celebração, mas conduzida para a parte de trás do altar ou para a sacristia,
simbolizando o mistério do sepultamento do Senhor e da sua descida à
“mansão dos mortos” (Hades ou Sheol). Enquanto a vela é transladada podem ser tocadas as matracas, recordando o terremoto que acompanhou a Morte do Senhor.
Convém conservar ou resgatar essa celebração em nossas comunidades,
como recomendam os documentos que citamos no início da postagem (Introdução Geral da Liturgia das Horas, n. 210; Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, n. 40), de preferência
em sua forma litúrgica, isto é, com os textos e nos tempos próprios. Por
exemplo, o Ofício das Trevas da Sexta-feira Santa é celebrado na madrugada (ou no início da
manhã) deste dia, com os textos do Ofício das Leituras e das Laudes do dia.
Recomendamos vivamente celebrar as Trevas em seu horário
adequado, isto é, de madrugada ou no início da manhã, pois assim a celebração
conclui-se com uma nota de esperança: o nascer do sol. A morte não tem a
última palavra: Cristo ressuscitará!
Não convém, porém, celebrar o Ofício das Trevas da
Sexta-feira Santa na Capela da Reposição, onde conserva-se o Santíssimo
Sacramento no sacrário. Seria mais indicado celebrá-la em outro local, pois
trata-se de um ofício fortemente penitencial.
Se não for possível celebrar as Trevas de maneira litúrgica,
pode-se preparar uma celebração adaptada (para-liturgia), inspirada no Ofício das Trevas, em
outro dia da Semana Santa. Neste caso, pode-se celebrar inclusive à noite, para favorecer a participação dos fiéis. Também podem-se escolher, dentre os
textos da Liturgia das Horas, os mais adequados para a ocasião. Por exemplo,
uma celebração inspirada nas Trevas na noite da Quarta-feira da Semana Santa
pode ser celebrada com os textos da Sexta-feira.
Abaixo segue um esquema do Ofício das Trevas litúrgico, com
os acréscimos da tradição:
- Procissão de entrada (sem cruz, sem velas, em silêncio /
não se usa incenso);
- Versículo introdutório (Abri meus lábios, ó Senhor...);
- Salmo invitatório (após o salmo, apagam-se duas velas);
- Hino do Ofício das Leituras (ou hino das Laudes);
- Salmodia do Ofício das Leituras (após cada salmo,
apagam-se duas velas);
- Leituras do Ofício;
- Hino das Laudes (se foi rezado no início, é omitido aqui);
- Salmodia de Laudes (após cada salmo, apagam-se duas
velas);
- Leitura breve e responsório;
- Cântico evangélico (Benedictus);
- Oração do dia;
- Bênção;
- Procissão com a última vela até atrás do altar ou até a
sacristia, ao som das matracas;
- Procissão de saída (em silêncio).
O sacerdote que preside o Ofício pode usar a veste coral
(batina com sobrepeliz) ou túnica com a estola na cor do dia:
roxo na Quinta, vermelho na Sexta e roxo no Sábado [2]. Se as Trevas são
celebradas como para-liturgia em outro dia da Semana Santa, usa-se a cor da
Quaresma: roxo. O uso do pluvial é facultativo.
Conservemos este piedoso costume em nossas comunidades, a
fim de que possamos entrar plenamente nos mistérios destes dias santos em honra
do Senhor Crucificado, Sepultado e Ressuscitado. Que, atravessando com Cristo o mar da morte, possamos receber a luz da Ressurreição, que dissipa as trevas do
nosso coração.
Notas
[1] Esta vela pode ser inclusive diferente das demais, seja
pelo tamanho ou material. Por exemplo, de cera branca, enquanto as demais são
de cera crua ou amarela.
[2] Não há atualmente uma cor litúrgica prevista oficialmente para o Sábado Santo. Inspiramo-nos aqui na Liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II, na qual era previsto o roxo para este dia. Contudo, seria possível
estudar o uso da cor preta neste dia, como alusão ao mistério do sepultamento
de Cristo.
Esta celebração é de profunda espiritualidade e beleza! 🙏🏻🙏🏻
ResponderExcluirEsta celebração é de profunda espiritualidade e beleza! 🙏🏻🙏🏻
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