quarta-feira, 28 de março de 2018

O Ofício das Trevas

“Na Sexta-feira da Paixão do Senhor e no Sábado Santo, antes das Laudes, na medida do possível, faça-se uma celebração pública do Ofício das Leituras juntamente com o povo” (Introdução Geral da Liturgia das Horas, n. 210)

“Este oficio, outrora chamado das trevas, conserve o devido lugar na devoção dos fiéis, para contemplar em piedosa meditação a Paixão, Morte e Sepultura do Senhor, à espera do anúncio da sua Ressurreição” (Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, n. 40).

O Ofício das Trevas, ou Tenebrae, consiste na oração do Ofício das Leituras e das Laudes da Quinta, Sexta e Sábado da Semana Santa (especialmente os dois últimos). Nesta celebração, segundo a tradição, a igreja permanece às escuras, iluminada apenas por velas, e diante do altar é colocado um candelabro de quinze velas, que vão sendo apagadas após os salmos.


As velas simbolizam o abandono experimentado por Jesus durante a Paixão: dez velas recordam os Apóstolos, que fugiram após a prisão do Mestre; quatro velas recordam o Apóstolo João e as mulheres junto à cruz que, embora tenham permanecido fiéis, também experimentaram a escuridão da Morte do Senhor; e a última vela recorda o próprio Cristo [1].

Esta vela, a de Cristo, tradicionalmente não é apagada ao final da celebração, mas conduzida para a parte de trás do altar ou para a sacristia, simbolizando o mistério do sepultamento do Senhor e da sua descida à “mansão dos mortos” (Hades ou Sheol). Enquanto a vela é transladada podem ser tocadas as matracas, recordando o terremoto que acompanhou a Morte do Senhor.

Convém conservar ou resgatar essa celebração em nossas comunidades, como recomendam os documentos que citamos no início da postagem (Introdução Geral da Liturgia das Horas, n. 210; Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, n. 40), de preferência em sua forma litúrgica, isto é, com os textos e nos tempos próprios. Por exemplo, o Ofício das Trevas da Sexta-feira Santa é celebrado na madrugada (ou no início da manhã) deste dia, com os textos do Ofício das Leituras e das Laudes do dia.

Recomendamos vivamente celebrar as Trevas em seu horário adequado, isto é, de madrugada ou no início da manhã, pois assim a celebração conclui-se com uma nota de esperança: o nascer do sol. A morte não tem a última palavra: Cristo ressuscitará!


Não convém, porém, celebrar o Ofício das Trevas da Sexta-feira Santa na Capela da Reposição, onde conserva-se o Santíssimo Sacramento no sacrário. Seria mais indicado celebrá-la em outro local, pois trata-se de um ofício fortemente penitencial.

Se não for possível celebrar as Trevas de maneira litúrgica, pode-se preparar uma celebração adaptada (para-liturgia), inspirada no Ofício das Trevas, em outro dia da Semana Santa. Neste caso, pode-se celebrar inclusive à noite, para favorecer a participação dos fiéis. Também podem-se escolher, dentre os textos da Liturgia das Horas, os mais adequados para a ocasião. Por exemplo, uma celebração inspirada nas Trevas na noite da Quarta-feira da Semana Santa pode ser celebrada com os textos da Sexta-feira.

Abaixo segue um esquema do Ofício das Trevas litúrgico, com os acréscimos da tradição:

- Procissão de entrada (sem cruz, sem velas, em silêncio / não se usa incenso);
- Versículo introdutório (Abri meus lábios, ó Senhor...);
- Salmo invitatório (após o salmo, apagam-se duas velas);
- Hino do Ofício das Leituras (ou hino das Laudes);
- Salmodia do Ofício das Leituras (após cada salmo, apagam-se duas velas);
- Leituras do Ofício;
- Hino das Laudes (se foi rezado no início, é omitido aqui);
- Salmodia de Laudes (após cada salmo, apagam-se duas velas);
- Leitura breve e responsório;
- Cântico evangélico (Benedictus);
- Oração do dia;
- Bênção;
- Procissão com a última vela até atrás do altar ou até a sacristia, ao som das matracas;
- Procissão de saída (em silêncio).


O sacerdote que preside o Ofício pode usar a veste coral (batina com sobrepeliz) ou túnica com a estola na cor do dia: roxo na Quinta, vermelho na Sexta e roxo no Sábado [2]. Se as Trevas são celebradas como para-liturgia em outro dia da Semana Santa, usa-se a cor da Quaresma: roxo. O uso do pluvial é facultativo.

Conservemos este piedoso costume em nossas comunidades, a fim de que possamos entrar plenamente nos mistérios destes dias santos em honra do Senhor Crucificado, Sepultado e Ressuscitado. Que, atravessando com Cristo o mar da morte, possamos receber a luz da Ressurreição, que dissipa as trevas do nosso coração.

Notas
[1] Esta vela pode ser inclusive diferente das demais, seja pelo tamanho ou material. Por exemplo, de cera branca, enquanto as demais são de cera crua ou amarela.
[2] Não há atualmente uma cor litúrgica prevista oficialmente para o Sábado Santo. Inspiramo-nos aqui na Liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II, na qual era previsto o roxo para este dia. Contudo, seria possível estudar o uso da cor preta neste dia, como alusão ao mistério do sepultamento de Cristo.


3 comentários:

  1. Esta celebração é de profunda espiritualidade e beleza! 🙏🏻🙏🏻

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  2. Esta celebração é de profunda espiritualidade e beleza! 🙏🏻🙏🏻

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  3. Esta celebração é de profunda espiritualidade e beleza! 🙏🏻🙏🏻

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