“O Cristo, nossa
Páscoa, foi imolado: celebremos a festa com pão sem fermento, o pão da retidão
e da verdade. Aleluia!” [1].
A Páscoa (do hebraico “pessach”,
salto), remonta a duas celebrações ligadas ao início da primavera no hemisfério norte: uma de
caráter pastoril, marcada pela imolação do cordeiro, e outra de caráter
agrícola: a “festa dos ázimos” (Ex
12–13). Posteriormente, ambas fora unidas em uma grande comemoração do êxodo,
isto é, da saída do povo de Israel do Egito.
Confira nossa postagem sobre a história da celebração da Páscoa clicando aqui.
Os pães ázimos (do grego ἄζυμος, em latim azymus, sem fermento; matzá em hebraico) simbolizam a “pressa” dos judeus no contexto da fuga do Egito e também a humildade diante de Deus, uma vez que o fermento (hametz, em hebraico) “incha” o pão.
Cristo, "nossa Páscoa", parte o pão ázimo |
Com efeito, o pão que se utiliza na Celebração Eucarística
do Rito Romano, chamado comumente de “hóstia” (“vítima” em latim), deve sempre ser
ázimo (cf. Código de Direito Canônico, cân. 926; Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 48).
Nesse sentido, em sua Primeira
Carta aos Coríntios São Paulo exorta-nos a lançar fora o “velho fermento”
para celebrar a Páscoa “com os pães ázimos da pureza e da verdade” (1Cor 5,6b-8).
Confira nossas postagens sobre a leitura litúrgica da Primeira Carta aos Coríntios clicando aqui.
Esse simbolismo é evocado no início de uma das antigas
sequências propostas para a Páscoa da Ressurreição: “Zyma vetus expurgetur”, expressão
que poderia ser traduzida como “Expurgado
o velho fermento”.
As sequências são composições que se popularizaram no Rito
Romano a partir do século X. Eram entoadas antes do Evangelho na Missa,
exprimindo poeticamente o mistério da festa celebrada.
A reforma do Concílio de Trento (séc. XVI) infelizmente
reduziu as sequências do Rito Romano a apenas quatro, conservando para a Missa
do Domingo de Páscoa a composição “Victimae paschali laudes”, do século XI, atribuída a Wippo de Borgonha.
A sequência “Zyma
vetus expurgetur”, por sua vez, remonta ao século XII, sendo atribuída a Adão
de São Vítor (†1146), monge da Abadia de São Vítor em Paris (França).
Essa “sequência
pascal” (Sequentia paschalis) era
entoada tanto no Domingo da Ressurreição quanto durante o Tempo Pascal. Por
exemplo, no Missal de Sarum (utilizado
na Inglaterra durante a Idade Média, particularmente na Diocese de Salisbury),
que prescreve uma sequência para cada dia da Oitava Pascal, “Zyma vetus” era entoada na segunda-feira
[2].
A sequência é composta por 13 estrofes: as estrofes 1-10 com seis versos, as estrofes 11-12
com oito versos e a última com dez versos. Todas as estrofes possuem tanto
rimas emparelhadas quanto alternadas: A-A, C, B-B, C.
O “tema” da composição, por sua vez, é a “leitura tipológica da Sagrada Escritura”,
tão querida pelos Padres da Igreja: através desse “método” os acontecimentos do
Antigo Testamento são lidos como “profecias” ou “modelos” (em grego, τύπος, typos) do mistério de Cristo realizado
no Novo Testamento.
O recente Diretório
para a Catequese recorda em seu n. 170 que: “A catequese e a Liturgia
jamais se limitaram a ler separadamente os livros do Antigo e do Novo
Testamento, mas lendo-os juntos demonstraram como somente uma leitura tipológica da Sagrada Escritura permite
colher plenamente o significado dos eventos e dos textos que narram a única história da salvação” [3].
Para acessar nossa série de postagens sobre a Liturgia no Diretório para a Catequese, clique aqui.
O próprio Senhor nos Evangelhos faz uso dessa leitura
tipológica, particularmente em relação ao Mistério Pascal da sua
Morte-Ressurreição (cf. Jo 3,14; Mt 12,40).
Vale destacar que a sequência contempla o Mistério Pascal em
sua totalidade, pois, como bem sintetiza o Diretório
sobre Piedade Popular e Liturgia: “a
Morte e a Ressurreição de Cristo são inseparáveis na narrativa evangélica e no
projeto salvífico de Deus” (n. 128) [4].
Alegoria do Antigo e do Novo Testamento (Hans Holbein o Jovem) |
Confira a seguir, pois, a sequência Zyma vetus expurgetur em seu texto
original em latim, seguida de uma tradução
nossa bastante livre e de alguns comentários
sobre a sua teologia, indicando as “profecias” mencionadas em cada estrofe.
Vale recordar, porém, que a ordem de alguns versos pode variar conforme a versão do poema.
Sequentia paschalis: Zyma vetus expurgetur
1. Zyma vetus expurgetur,
Ut sincere celebretur
Nova resurrectio:
Haec est dies nostrae spei,
Huius mira vis diei
Legis testimonio.
2. Haec Aegyptum spoliavit
Et Hebraeos liberavit
De fornace ferrea;
His in agro constitutis
Opus erat servitutis
Lutum, later, palea.
3. Iam divinae laus virtutis,
Iam triumphi, iam salutis
Vox erumpat libera:
Haec est dies, quam fecit Dominus,
Dies nostri doloris terminus,
Dies salutifera.
4. Lex est umbra futurorum,
Christus finis promissorum,
Qui consummat omnia:
Christi sanguis igneam
Hebetavit romphaeam
Amota custodia.
5. Puer nostri forma risus,
Pro quo vervex est occisus,
Vitae signat gaudia;
Ioseph exit de cisterna,
Christus redit ad superna
Post mortis supplicia.
6. Hic dracones Pharaonis
Draco vorat, a draconis
Immunis malitia:
Quos ignitus vulnerat,
Hos serpentis liberat
Aenei praesentia.
7. Anguem forat in maxilla
Christus hamus et armilla
In cavernam reguli
Manum mittit ablactatus,
Et sic fugit exturbatus
Vetus hostis saeculi.
8. Irrisores Elisei,
Dum conscendit domum Dei,
Zelum calvi sentiunt;
David arrepticius,
Hircus emissarius
Et passer effugiunt.
9. In maxilla mille sternit
Et de tribu sua spernit
Samson matrimonium;
Samson Gazae seras pandit
Et asportans portas scandit
Montis supercilium.
Jonas libertado do ventre do monstro (Jn 2) (Église Saint-Aignan, Chartres) |
10. Sic de Iuda leo fortis
Fractis portis dirae mortis
Die surgit tertia,
Rugiente voce patris,
Ad supernae sinum matris
Tot revexit spolia.
11. Cetus Ionam fugitivum,
Veri Ionae signativum,
Post tres dies reddit vivum
De mortis angustia:
Botrus Cypri reflorescit,
Dilatatur et excrescit,
Synagogae flos marcescit
Et floret Ecclesia.
12. Mors et vita conflixere,
Resurrexit Christus vere,
Et cum Christo surrexere
Multi testes gloriae.
Mane novum, mane laetum,
Vespertinum tergat fletum,
Quia vita vicit letum,
Tempus est laetitiae.
13. Iesu victor, Iesu vita,
Iesu vitae via trita,
Cuius morte mors sopita,
Ad paschalem nos invita
Mensam cum fiducia.
Vive panis, vivax unda,
Vera vitis et fecunda,
Tu nos pasce, tu nos munda,
Et a morte nos secunda
Tua salvet gratia. (Alleluia) [5].
Sequência pascal: Expurgado
o velho fermento
1. Que o velho fermento seja expurgado
Para que sinceramente seja celebrada
A nova ressurreição:
Este é o dia da nossa esperança,
Cujo maravilhoso poder
Foi atestado pela lei.
2. Neste dia foram despojados os egípcios
E os hebreus foram libertados
Da fornalha de ferro;
Estes, enquanto viviam no campo,
Tinham como obra da sua servidão
Barro, tijolo, palha.
3. Agora, em louvor ao divino poder,
A voz irrompe livre:
Agora o triunfo, agora a salvação.
Este é o dia que o Senhor fez,
O dia em que termina nossa dor,
Dia da salvação.
4. A lei é a sombra das coisas futuras,
Cristo é o fim das promessas,
Em quem tudo está consumado.
O sangue de Cristo
Embotou a espada flamejante,
Removeu a guarda [do paraíso].
5. O menino, imagem do nosso riso,
Em cujo lugar o carneiro foi morto,
Indica a alegria da vida;
José sai da cisterna,
Cristo retorna aos céus
Após os suplícios da morte.
A serpente de bronze levantada por Moisés (Nm 21) (Église Saint-Aignan, Chartres) |
6. Aqui os dragões do faraó
São devorados pelo dragão
Isento de malícia:
Os que são feridos pela serpente
São libertados pela presença
Da serpente de bronze.
7. A serpente é fisgada pela mandíbula
Por Cristo, com anzol e coleira,
Na caverna do basilisco
A criança põe a sua mão direita
E assim foge, expulso,
O antigo inimigo do mundo.
8. Os zombadores de Eliseu,
Enquanto este sobe à casa de Deus,
Sentem o zelo do careca;
Davi [finge estar] enlouquecido,
O bode [expiatório] é enviado [ao deserto]
E o pássaro escapa.
9. Com uma mandíbula mil são atingidos
E Sansão, de sua tribo,
Despreza o matrimônio;
Sansão rompe os portões de Gaza
E, carregando suas portas, sobe
Ao alto do monte.
10. Assim o forte leão de Judá
Quebradas as portas da funesta morte,
Ressurge ao terceiro dia,
Rugindo a voz do Pai,
De volta ao seio da mãe
Tantos devolve como espólio.
11. Jonas, fugitivo da baleia,
É sinal do verdadeiro Jonas,
Após três dias ressurge vivo
Da angústia da morte;
A vinha do Chipre refloresce,
Se expande e cresce,
A flor da sinagoga murcha
E floresce a Igreja.
12. Morte e a vida duelam
Cristo ressuscita verdadeiramente,
E com Cristo ressuscitam
Muitas testemunhas da glória.
Uma nova manhã, uma manhã feliz,
Enxuga o pranto da véspera,
Porque a vida venceu a morte,
É tempo de alegria.
13. Ó Jesus, vencedor; ó Jesus, vida,
Ó Jesus, trilhado o caminho da vida,
Em cuja Morte a morte foi adormecida,
Com confiança nos convidas
À mesa pascal;
Pão vivo, onda vivificante,
Videira verdadeira e fecunda,
Apascentai-nos, purificai-nos,
E por tua graça salvai-nos
Da segunda morte. (Aleluia).
Breve comentário:
1ª estrofe:
A sequência começa, como já indicamos, com a referência ao
texto de 1Cor 5,7-8: “Lançai fora o
fermento velho...” (Zyma vetus expurgetur...).
Nessa mesma estrofe recorda-se o v. 24 do Sl
117 (118), que será retomado na 3ª estrofe: “Este é o dia...” (Haec est dies...).
2ª estrofe:
Essa estrofe está centrada no Livro do Êxodo: o primeiro verso remete à expoliação dos egípcios
em Ex 3,21-22; 12,35-36; segue-se a
referência à escravidão como uma “fornalha de ferro”, dado que um dos trabalhos
dos hebreus era o cozimento de tijolos (Ex
1,13-14; 5,6-21) com barro e palha (lutum
et palea).
Em algumas versões o 4º verso dessa estrofe traz “in arcto” - do latim “artus”, estreito, apertado, em
referência à dureza da escravidão - ao invés de “in agro” (no campo).
A “fornalha”, por sua vez, remete também ao episódio dos
três jovens em Dn 3, que são lançados
em uma fornalha ardente e permanecem incólumes.
3ª estrofe:
Como afirmamos acima, após um convite ao louvor, a 3ª
estrofe cita literalmente o célebre “refrão pascal” do Sl 117,24: “Este é o dia que o Senhor fez...” (Haec est dies...).
4ª estrofe:
Os primeiros versos dessa estrofe sintetizam o próprio
método da “leitura tipológica” do Antigo Testamento referindo-se a três textos
neotestamentários: “A lei é a sombra das coisas futuras” (Hb 10,1); “Cristo é o fim das promessas”: (2Cor 1,20; cf. Mt 5,17);
n’Ele “tudo está consumado” (Jo 19,30).
Os últimos três versos da estrofe, por sua vez, traçam um
paralelo entre o sacrifício de Cristo na cruz e a expulsão do paraíso em Gn 3: a obediência de Cristo redimiu a
desobediência dos primeiros pais (cf.
1Cor 15,22); seu Sangue embotou (isto é, “cegou”, fez com que perdesse o
fio) a espada flamejante do anjo que guardava a entrada do paraíso (Gn 3,24).
5ª estrofe:
Continuando com as referências ao Livro do Gênesis, os primeiros versos dessa estrofe remetem a
Isaac, o “filho do riso” (Gn
18,10-15; 21;7), cujo “quase-sacrifício” foi sinal (signatio) do sacrifício de Cristo (Gn 22).
As prefigurações do Mistério Pascal no Gênesis incluem ainda a figura de José, traído pelos irmãos e
lançado em uma cisterna ou poço, de onde é em seguida retirado para ser levado
ao Egito (Gn 37), onde será
instrumento de salvação para o seu próprio povo: “José sai da cisterna, Cristo
retorna aos céus”.
6ª estrofe:
Retornando ao Livro do
Êxodo, se recorda o “sinal” realizado por Moisés e Aarão diante do Faraó: a
vara transformada em serpente (“dragão” no texto latino da sequência) que
devora as serpentes conjuradas pelos magos do Egito (Ex 7,8-13).
Esse mesmo animal é evocado no episódio da “serpente de
bronze” (serpentis aenei), narrado no
capítulo 21 do Livro dos Números (vv.
4-9), que o próprio Senhor interpreta em referência à sua Crucificação (Jo 3,14).
7ª estrofe:
Ainda sobre os animais, reais ou mitológicos, os primeiros
dois versos da 7ª estrofe cantam um grande feito de Cristo: Ele “fisgou a serpente”
e a “prendeu com uma coleira”, remetendo ao texto de Jó 40,25-32 sobre o Leviatã. A serpente vencida por Cristo é
associada aqui, pois, ao Diabo ou Satanás, “antigo inimigo do mundo” (cf. Ap 12,7-9; 20,1-3).
Segue-se uma menção à profecia de Is 11,8 sobre os tempos messiânicos: “A criança de peito vai
brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá
pôr a mão na toca da serpente”. O termo usado polo poema é “regulus”, príncipe ou rei [das
serpentes], título dado ao basilisco, animal mitológico associado a uma
serpente particularmente venenosa.
Para saber mais sobre o simbolismo da descida de Cristo ao Hades, confira nossa postagem sobre o ícone bizantino da Ressurreição do Senhor clicando aqui.
8ª estrofe:
A 8ª estrofe recorre a quatro textos do Antigo Testamento:
- os primeiros três versos aludem ao episódio de 2Rs 2,23-24: um grupo de jovens é
castigado após zombar do profeta Eliseu. Além de aludir às zombarias que Cristo
sofreu durante a Paixão, o texto nos remete também ao relato da purificação do
Templo, dada a referência ao “zelo” do profeta, que subia ao Templo (cf. Jo
2,13-22, com a referência ao Sl 69,10
- “zelus domus tuae” - e ao
simbolismo dos “três dias”).
Para acessar nossas postagens sobre a leitura litúrgica dos Livros dos Reis, clique aqui.
- o 4º verso alude a 1Sm
21,11-15, quando Davi fingiu-se de louco para fugir dos inimigos: Cristo em sua
Paixão é, com efeito, tratado como louco, como recorda Paulo na Primeira Carta aos Coríntios, aludindo à
“loucura da cruz” (1Cor 1,17-25).
Para acessar nossas postagens sobre a leitura litúrgica dos Livros de Samuel, clique aqui.
- os últimos dois versos, por fim, associam o sacrifício de
Cristo ao “bode expiatório” de Lv 16
e sua Ressurreição ao pássaro que escapa da armadilha do caçador (Sl 123,7).
9ª estrofe:
Nessa estrofe traçam-se vários paralelos entre Cristo e o
juiz Sansão (Jz 13–18):
- Sansão vence os inimigos com a mandíbula de um jumento (Jz 15,15-16), como Cristo vence a morte em
seu Mistério Pascal: nos dois casos um sinal de morte - os ossos do jumento e a
cruz - passa a simbolizar a vitória e a vida;
- Sansão se recusa a casar com uma mulher da sua tribo (Jz 14), prefigurando a rejeição de
Cristo pelo seu próprio povo (cf. Jo 1,10-12; Lc 4,24) e a abertura da salvação a todos os povos.
Além disso, no caminho para o seu casamento, Sansão vence um
leão e, posteriormente, em sua carcaça surge um enxame de abelhas que produzem
mel: da morte brota a vida, como no Mistério Pascal (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 634).
- Sansão arranca os portões da cidade de Gaza e os leva ao
alto de uma montanha (Jz 16,1-3),
como Cristo rompe as portas do Hades e sobe o monte Calvário com a cruz.
Para acessar nossa postagem sobre a leitura litúrgica do Livro dos Juízes, clique aqui.
10ª estrofe:
Os primeiros versos da estrofe retomam o que afirmamos
acima, sobre Cristo que “rompe as portas da funesta morte” (fractis portis dirae mortis). Ele é
referido aqui como o “forte leão de Judá”, conforme Ap 5,5 (cf. Gn 49,9), que
“ruge com a voz do Pai” (cf. Am 1,2; Jl 4,16; Jr 25,30).
A estrofe celebra ainda que Cristo, como espólio, “devolve
muitos ao seio da mãe”. Como vimos em nossa postagem sobre a devoção aos instrumentos da Paixão do Senhor (Arma
Christi), nos combates medievais o vencedor podia tomar para si as armas do
derrotado. Assim, vencendo a morte, Cristo reivindica como “espólio” as almas
dos justos do Antigo Testamento, aos quais devolve ao “seio da mãe”, isto é, a
vida.
A vida pode ser entendida aqui como a vida terrena, em
alusão às “almas ressuscitadas” em Mt
27,52-53, ou à vida divina, abrindo para nós as portas do paraíso [6].
11ª estrofe:
Uma das “leituras tipológicas” feitas pelo próprio Jesus no
Evangelho diz respeito à história de Jonas (cf.
Mt 12,39-41 e paralelos), que permanece três dias no ventre do animal marinho (cetus), sendo então libertado (Jn
2). O profeta é “sinal de Cristo, verdadeiro Jonas” (veri
Ionae signativum).
A estrofe remete ainda às metáforas vegetais, aludindo ao “cacho
de uvas do Chipre” (botrus Cypri),
citado em Ct 1,14. Cristo, com
efeito, se autoproclama no Evangelho como “a videira verdadeira” (Jo 15,1-6), imagem retomada na 13ª estrofe.
Há aqui ainda um paralelo entre aqueles que não acolheram o
Senhor, representados pela “sinagoga”, os quais “murcharão” (cf. Mc 11,12-14), e aqueles que o
acolheram, a “Igreja”, a qual se expande e floresce (cf. Jo 15; At 1,8).
12ª estrofe:
Concluídas as “profecias” do Antigo Testamento, esta estrofe
é um louvor ao dia da Ressurreição: “manhã nova, manhã feliz” (mane novum, mane laetum), retomando inclusive
uma expressão da sequência Victimae
paschali laudes, sobre o “duelo” entre a vida e a morte: “Mors et vita duelo, conflixere mirando”.
As “testemunhas da glória” que ressuscitam com Cristo, por
sua vez, podem remeter mais uma vez às “almas ressuscitadas” de Mt 27,52-53 ou, em um sentido mais
amplo, a todos os santos do Antigo Testamento, libertados por Ele do Hades.
Para acessar nossas postagens sobre o culto aos santos do Antigo Testamento, clique aqui.
13ª estrofe:
Por fim, a última estrofe da sequência está dirigida
diretamente a Cristo, invocado com uma “ladainha” de títulos:
- “vencedor” (cf. Ap
1,17-18; 1Cor 15,54-57);
- “vida” (cf. Jo
1,4; 11,25-26; 14,6);
- “pão vivo” (cf. Jo
6,35.48.51);
- “onda vivificante” (provável alusão ao Batismo; cf. Rm 6,1-11; Gl 3,27; Cl 2,12);
- “videira verdadeira e fecunda” (cf. Jo 15,1-6);
- Aquele que nos apascenta (cf. Jo 10; Sl 22; Ez 34)...
Segue-se a recordação da mesa pascal à qual o Senhor nos
convida (ad paschalem mensam nos invita),
que pode ser tanto uma referência à Eucaristia (afinal, a sequência é entoada na
Missa) quanto ao banquete messiânico na eternidade (cf. Mt 22,1-14).
A sequência conclui-se com uma súplica, na 1ª pessoa do plural
(nós): pedimos que, uma vez “trilhado o caminho da vida”, Cristo nos purifique
(nos munda) e nos salve da “segunda
morte” (morte secunda), isto é, da
condenação eterna.
Em algumas versões inclui-se, por fim, a aclamação pascal
por excelência: Aleluia!
Notas:
[1] Antífona de Comunhão da Vigília Pascal e da Missa do
Domingo de Páscoa (1Cor 5,7-8; cf. Missal Romano, pp. 291.295). A
perícope de 1Cor 5,6b-8 é indicada
também como opção de 2ª leitura para a Missa do Domingo de Páscoa.
[2] cf. MISSALE ad usum insignis et praeclarae Ecclesiae Sarum. Labore ac studio: Francisci Henrici Dickinson. Burntisland: 1861-1183, pp. 363-365.
[3] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA
EVANGELIZAÇÃO. Diretório para a Catequese.
Brasília: Edições CNBB, 2020, p. 123. Coleção: Documentos da Igreja, 61.
[4] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS
SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade
Popular e Liturgia: Princípios e orientações. São Paulo: Paulinas, 2003, p.
115.
[5] cf. THESAURUS
HYMNOLOGICUS sive Hymnorum, canticorum,
sequentiarum circa annum MD usitatarum collectio amplissima. Tomus Secundus: Sequentiae, cantica,
antiphonae. Lipsiae, 1855, pp. 69-71.
[6] Vale recordar ainda as três “ressurreições” realizadas
por Jesus durante a sua vida terrena, que prefiguram sua própria Ressurreição:
a filha de Jairo (Mc 5,21-43 e
paralelos), o filho da viúva de Naim (Lc
7,11-17) e o amigo Lázaro (Jo 11).
Sobre as “prefigurações veterotestamentárias” da Paixão e da
Ressureição do Senhor, cf. HEINZ-MOHR, Gerd. Dicionário dos Símbolos: Imagens e sinais da arte cristã. São Paulo:
Paulus, 1994, pp. 331-337.
Confira também:
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