“Só uma coisa importa:
vivei à altura do Evangelho” (Fl 1,27).
Em nossa postagem anterior desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos o estudo da presença da Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl)
nas celebrações do Rito Romano.
Após uma breve introdução, começamos a analisar sua leitura
sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o
tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1]
na Celebração Eucarística. Para acessar a primeira parte, clique aqui.
Tendo considerado os diversos tempos do Ano Litúrgico,
nesta postagem prosseguiremos com as Missas dos santos, para diversas
necessidades e votivas.
2. Leitura litúrgica
da Carta aos Filipenses:
Composição harmônica
a) Celebração
Eucarística
Iniciamos esta segunda parte da nossa pesquisa com o Próprio
dos Santos, que inclui as celebrações do Senhor, da Virgem Maria e dos
Santos com data fixa no calendário.
Encontramos a Carta aos Filipenses antes de tudo na Memória facultativa do Santíssimo Nome de Jesus (03 de janeiro), suprimida pela
reforma litúrgica e resgatada na 3ª edição do Missal Romano. Nesta
celebração o célebre “hino” da Carta está presente na leitura (Fl
2,6-11) e na antífona de entrada: “Ao nome de Jesus todo joelho se
dobre no céu, na terra e nos abismos, e toda língua proclame, para a glória de
Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2,10-11).
A mesma antífona é proferida na Memória de Santo Inácio
de Loyola, Presbítero (31 de julho), remetendo ao lema da Congregação
fundada por Santo Inácio, a Companhia de Jesus: “Ad maiorem Dei gloriam”
(Para maior glória de Deus) [2].
A leitura do “hino cristológico” de Fl 2,6-11 é
indicada também na Festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro), como 2ª leitura quando a Festa cai em um
domingo e como leitura à escolha quando cai em um dia de semana [3],
destacando-se aqui a referência explícita à cruz, que se considera um acréscimo
de Paulo ao hino: “Fazendo-se
obediente até a morte, e morte de cruz” (v. 8).
Quanto às celebrações dos santos, vale destacar a antífona
da Comunhão da Festa de Santa Rosa de Lima, Virgem (23 de
agosto), padroeira da América Latina: “Considero perda todas as coisas,
comparadas com o valor insuperável do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor...” (Fl 3,8-9) [4].
Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos (02 de novembro), por sua vez, dentre as várias
opções de leituras ad libitum (à
escolha), consta Fl 3,20-21 [5]. Aqui o Apóstolo Paulo atesta: “Nós somos cidadãos do céu” (v. 20),
recordando que Cristo glorificará o nosso corpo, isto é, nos ressuscitará. As
leituras dessa celebração são indicadas também para o sacramental das Exéquias.
Dessa leitura é tomada uma das opções de aclamação ao
Evangelho: “A nossa cidade é nos céus, de onde também esperamos o Cristo
Jesus, Senhor nosso” (cf. Fl 3,20) [6]; e uma das opções de antífona
da Comunhão para as Missas dos defuntos: “Esperamos como Salvador o
Senhor Jesus Cristo; Ele transformará o nosso corpo mortal num corpo glorioso
como o seu” (Fl 3,20-21) [7].
Na sequência consideremos o Comum dos Santos, com
formulários para as várias “categorias” de santos. No Comum dos Santos
propriamente dito há duas opções de leituras à escolha da nossa Carta:
- Fl 3,8-14, com a “definição” de santidade como
“correr para alcançar Cristo” (v. 12);
- Fl 4,4-9, com a exortação a praticar a virtude,
isto é, “tudo que é verdadeiro,
respeitável, justo, puro, amável, honroso...” [8].
São Paulo e seus discípulos (Com as Cartas aos Romanos, Coríntios e Filipenses) |
Prosseguimos com as Missas
para diversas necessidades, igualmente com várias opções de leituras ad libitum (à escolha), incluindo os
seguintes textos da nossa Carta:
- Missa por um
Concílio ou Sínodo: Fl 2,1-4 [9], com a exortação do Apóstolo à
unidade: “Aspirai à mesma coisa, unidos
no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade” (v. 3).
- Missa pelos
religiosos: O mesmo texto acima, Fl 2,1-4, com a exortação à unidade,
fundamental na vida comunitária [10].
- Missas pelas
vocações sacerdotais e pelas vocações religiosas (que compartilham as
mesmas opções de leituras): Fl 3,8-14 [11]. Aqui Paulo exorta a “esquecer
o que fica para trás” e lançar-se “para frente”, isto é, para Cristo.
Desse texto é tomada também uma das opções de aclamação
ao Evangelho para essas Missas: “Em tudo considero como perda e lixo, a
fim de ganhar Cristo e ser achado n’Ele” (Fl 3,8-9) [12].
- Missa pela unidade
dos cristãos: Fl 2,1-13 [13], uma versão mais longa da exortação à
unidade, como vimos acima, incluindo o “hino cristológico”.
- Missa pelos
cristãos perseguidos: Fl 1,27-30 [14], a exortação a permanecer
firmes, “lutando unânimes pela fé do
Evangelho” (v. 27).
- Missa pela
conservação da paz e da justiça: Fl 4,6-9 [15], a promessa de que a
vivência das virtudes conduz à paz.
Por fim, em relação à leitura em composição harmônica da Carta aos Filipenses na Celebração
Eucarística, cabe considerar as Missas
votivas em honra dos mistérios do Senhor.
Para a Missa votiva
da Santa Cruz são propostos dois textos ad
libitum: o “hino cristológico” de Fl 2,6-11, como na Festa da
Exaltação da Santa Cruz, e Fl 3,8-14, no qual Paulo exorta à comunhão
com Cristo: “Experimentar a força da sua Ressurreição,
ficar em comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na sua Morte”
(v. 10) [16].
Do “hino” é tomada também uma das opções de aclamação ao
Evangelho para essa Missa: “Jesus Cristo se tornou obediente, obediente
até a morte numa cruz...” (Fl 2,8-9), como na Semana Santa [17].
Tríptico com cenas da Paixão e Ressurreição de Cristo (Andrea Vanni) |
Na Missa votiva do
Santíssimo Nome de Jesus sugere-se novamente o texto de Fl 2,6-11 [18],
destacando-se aqui a conclusão do hino, entoada também como antífona de
entrada, como no dia 03 de janeiro: “Ao nome de Jesus todo joelho
se dobre...” (Fl 2,10-11) [19].
Na Missa votiva do Sagrado Coração de Jesus a leitura proposta é Fl 1,8-11 [20], a ação
de graças da Carta, na qual Paulo,
após afirmar que traz os filipenses “no
coração”, deseja-lhes: “Que o vosso
amor cresça sempre mais” (v. 9). Cabe recordar que as leituras dessa Missa
também são propostas para o Culto
Eucarístico fora da Missa [21].
Vale destacar ainda as “Missas votivas do lugar” próprias
dos diversos santuários da Terra Santa, nas quais identificamos algumas
leituras da Carta aos Filipenses [22]. Para saber mais, confira nossa série de postagens sobre as Missas votivas da Terra Santa.
Primeiramente, para a Missa votiva do ensino das
bem-aventuranças (De Domino, docente Beatitudines), a ser celebrada
pelos peregrinos que visitam o Santuário do Sermão da Montanha, próximo
a Cafarnaum, consta como uma das opções de leitura o texto de Fl 4,4-7,
com a exortação à alegria (cf. Mt 5,3-12a).
No Santuário Dominus Flevit em Jerusalém, no
qual se recorda que Jesus chorou ao contemplar a cidade de Jerusalém (cf. Lc
19,41-44), pode ser celebrada a Missa votiva do pranto do Senhor (De
fletu Domini), com a leitura de Fl 3,17–4,1, trecho da Carta em
que Paulo, “chorando”, exorta os filipense à conversão.
No Santuário de São Pedro in Gallicantu,
também em Jerusalém, é possível celebrar a Missa votiva de Cristo, Servo
sofredor (De Christo, servo patiente), com a leitura do “hino
cristológico” da Carta: Fl 2,6-11.
O mesmo texto, acrescido do v. 5, que serve de introdução ao
hino (“Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”), consta
entre as opções de leituras de duas Missas que podem ser celebradas na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém: a Missa votiva da Paixão do Senhor (De
Passione Domini nostri Iesu Christi) e a Missa votiva da Santa Cruz
(De Sancta Cruce).
Por fim, vale destacar as Missas votivas próprias da Congregação
da Paixão de Jesus Cristo (Passionistas), mais especificamente a Missa
votiva do Rosto sofredor de Jesus (n. 4), na qual consta como 2ª opção de
leitura o célebre texto do “hino ao Mistério Pascal”: Fl 2,6-11 [22].
Jesus Cristo, o Servo do Senhor (Santuário de São Pedro in Gallicantu) |
Encerramos assim a segunda parte do nosso estudo sobre a
leitura litúrgica da Carta aos Filipenses
e com ela a análise sob o critério da composição harmônica. Na terceira parte da
nossa pesquisa concluiremos a análise sob o critério da composição harmônica
com os demais Sacramentos, os Sacramentais e a Liturgia das Horas.
Notas:
[1] cf. ALDAZÁBAL,
José. A Mesa da Palavra I: Elenco das
Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] MISSAL ROMANO, p. 624. No Brasil essa antífona também é entoada
no dia 17 de julho, Memória do Bem-aventurado Inácio de Azevedo, Presbítero, e
Companheiros, Mártires (ibid., p. 617).
[3] LECIONÁRIO I: Dominical
A-B-C. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1994.; LECIONÁRIO III: Para as Missas dos Santos, dos Comuns, para
Diversas Necessidades e Votivas. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o
Brasil. São Paulo: Paulus, 1997.
[4] MISSAL
ROMANO, p. 645.
[5] LECIONÁRIO I, op. cit.
[6] ibid.
[7] MISSAL ROMANO, pp. 696.967.977.
[8] LECIONÁRIO
III, op. cit.
[9] ibid.
[10] ibid.
[11] ibid.
[12] ibid.
[13] ibid.
[14] ibid.
[15] ibid.
[16] ibid.
[17] ibid.
[18] ibid.
[19] MISSAL ROMANO, p. 944.
[20] LECIONÁRIO III,
op. cit.
[21] SAGRADA COMUNHÃO e
o culto do Mistério Eucarístico fora da Missa. Edição típica em tradução
portuguesa para o Brasil. São Paulo: Paulus, 2000, p. 102.
[22] Fonte: Custódia Franciscana da Terra Santa.
[23] Fonte: Missal Próprio da Congregação da Paixão de
Jesus Cristo. A outra opção de leitura para essa Missa é Is 50,4-9.
Imagens: Wikimedia Commons.
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