Prosseguindo com suas Catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco refletiu na última quarta-feira, sobre a exortação do Apóstolo a “caminhar segundo o Espírito Santo” (Gl 5,16-17.25):
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 03 de novembro de 2021
Carta aos Gálatas (14): Caminhar segundo o Espírito
Estimados irmãos e
irmãs, bom dia!
No excerto da Carta
aos Gálatas que acabamos de ouvir (Gl
5,16-17.25), São Paulo exorta os cristãos a caminhar segundo o Espírito
Santo (vv. 16.25). Há um estilo: caminhar segundo o Espírito Santo.
Com efeito, crer em Jesus significa segui-lo, ir atrás d’Ele no seu caminho,
como fizeram os primeiros discípulos. E significa, ao mesmo tempo, evitar o
caminho oposto, o do egoísmo, de procurar o próprio interesse, ao qual o
Apóstolo chama «desejo da carne» (v. 16). O Espírito é o guia neste caminho
pela vereda de Cristo, um caminho maravilhoso, mas também cansativo, que começa
no Batismo e dura a vida inteira. Pensemos numa longa excursão nas montanhas: é
fascinante, a meta atrai-nos, mas requer muito esforço e tenacidade.
Esta imagem pode ser-nos útil para entrar no mérito
das palavras do Apóstolo: “caminhar segundo o Espírito”, “deixar-se guiar” por
Ele. São expressões que indicam uma ação, um movimento, um dinamismo que impede
de parar nas primeiras dificuldades, mas provoca a confiar na «força que vem do
alto» (O Pastor de Hermas, 43, 21). Percorrendo este caminho, o cristão
adquire uma visão positiva da vida. Isto não significa que o mal presente no
mundo tenha desaparecido, ou que faltem os impulsos negativos do egoísmo e do
orgulho; significa, antes, acreditar que Deus é sempre mais forte do que a
nossa resistência e maior do que os nossos pecados. E isto é importante!
Ao exortar os gálatas a seguir este caminho, o
Apóstolo coloca-se ao seu nível. Abandona o verbo no imperativo - «caminhai»
(v. 16) - e usa o “nós” no indicativo: «caminhamos segundo o Espírito» (v. 25).
Como que para dizer: caminhamos na mesma sintonia e somos guiados pelo Espírito
Santo. É uma exortação, um modo exortativo. São Paulo sente que esta exortação
é necessária também para si mesmo. Embora sabendo que Cristo vive nele (cf. Gl 2,20), está convencido também de
que ainda não atingiu a meta, o cume da montanha (cf. Fl 3,12). O Apóstolo não se coloca acima da
sua comunidade, não diz: “Sou o líder, vós sois os outros; alcancei o cume da
montanha e vós estais a caminho” - não diz isto - mas põe-se no
meio, a caminho com todos, para dar exemplo concreto do modo como é necessário
obedecer a Deus, correspondendo cada vez mais e melhor à guia do Espírito. E
como é bom quando encontramos pastores que caminham com o seu povo e que não se
afastam dele. Isto é muito bonito; faz bem à alma!
Este “caminhar segundo o Espírito” não é apenas uma
ação individual: diz respeito igualmente à comunidade como um todo. Com efeito,
construir a comunidade seguindo o caminho indicado pelo Apóstolo é
entusiasmante, mas desafiante. Os “desejos da carne”, as “tentações” - por
assim dizer - que todos nós temos, ou seja, inveja, preconceito, hipocrisia,
ressentimentos continuam a fazer-se sentir, e o recurso a um preceito rígido
pode ser uma tentação fácil, mas ao fazê-lo nos desviaríamos do caminho da
liberdade e, em vez de subir ao cume, voltaríamos para baixo. Seguir o caminho
do Espírito requer, antes de tudo, dar lugar à graça e à caridade. Dar espaço à
graça de Deus, sem receio. Depois de ter feito ouvir a sua voz de modo severo,
Paulo convida os gálatas a ocupar-se das dificuldades uns dos outros e, se
alguém cometer um erro, a usar mansidão (cf.
Gl 5,22). Ouçamos as suas palavras: «Irmãos, se alguém for surpreendido
nalguma falta, vós, que sois animados pelo Espírito, admoestai-o com espírito
de mansidão; e tu, tem cuidado ti mesmo, para não caíres também tu em tentação.
Carregai os fardos uns dos outros» (Gl
6,1-2). Uma atitude muito diferente da tagarelice; não, isto não é segundo o
Espírito! Segundo o Espírito, é ter esta doçura com o irmão para corrigi-lo e
vigiar sobre nós mesmos com humildade, para que nós não caiamos naqueles
pecados.
Com efeito, quando somos tentados a julgar mal os
outros, como é frequentemente acontece, devemos primeiro refletir sobre a nossa
fragilidade. Como é fácil criticar os outros! Mas há pessoas que parecem ter
uma licenciatura em tagarelice. Todos os dias criticam os outros. Mas olha para
ti mesmo! É bom perguntar-nos o que nos motiva a corrigir um irmão ou uma irmã,
e se não somos, de alguma forma, corresponsáveis pelo seu erro. O Espírito
Santo, além de nos doar a mansidão, convida-nos à solidariedade, a carregar os
fardos dos outros. Quantos fardos há na vida de uma pessoa: a doença, a falta
de trabalho, a solidão, a dor... E quantas outras provas que exigem a
proximidade e o amor dos irmãos! Podem-nos ajudar as palavras de Santo
Agostinho, quando comenta este mesmo excerto: «Portanto, irmãos, se alguém for
apanhado nalguma falha (...) corrigi-o desta maneira, com mansidão. E se tu
levantares a voz, ama interiormente. Se encorajares, se te mostrares paterno,
se repreenderes, se fores severo, ama!» (Sermões 163/B 3). Amai sempre!
A regra suprema da correção fraterna é o amor: querer o bem dos nossos irmãos e
irmãs. Trata-se de tolerar os problemas dos outros, os defeitos dos outros em
silêncio na oração, e depois encontrar o modo correto de ajudá-los a
corrigir-se. E isto não é fácil! A maneira mais fácil é a tagarelice. Esfolar a
outra pessoa como se eu fosse perfeito. E isto não deve ser feito. Mansidão.
Paciência. Oração. Proximidade!
Percorramos com alegria e paciência este caminho,
deixando-nos guiar pelo Espírito Santo!
Fonte: Santa Sé.
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