segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Mensagem do Cardeal Parolin para a Semana Litúrgica 2019

No último dia 26 de agosto o Boletim da Santa Sé divulgou a Mensagem do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, enviada em nome do Santo Padre a Dom Cáludio Maniago, Bispo de Castellaneta e Presidente do Centro de Ação Litúrgica italiano, por ocasião da 70ª Semana Litúrgica Nacional, que aconteceu de 26 a 29 de agosto em Messina, com o tema “Liturgia: chamado para todos à santidade batismal”.

Carta do Cardeal Secretário de Estado ao Presidente do Centro de Ação Litúrgica por ocasião da 70ª Semana Litúrgica Nacional
Messina, 26-29 de agosto de 2019

Excelência Reverendíssima,
Estou contente de transmitir a cordial e benevolente saudação do Santo Padre Francisco a ti, a S. E. Revma. Dom Giovanni Accolla, Arcebispo de Messina-Lipari-S. Maria del Mela e a quantos participarão da Semana Litúrgica Nacional, cujo ininterrupto caminho chega hoje ao 70º ano. É significativo recordar como, levando-nos de diocese em diocese através da península italiana, esta iniciativa pode preparar, acompanhar, fazer conhecer e aprofundar o caminho de renovação litúrgica desejado pelo Concílio Vaticano II, como reconheceu o Papa Francisco, destacando que «a fadiga não faltou, mas nem sequer a alegria», e exortando: «É ainda este o compromisso que hoje vos peço: ajudar os ministros ordenados, assim como os demais ministros, os cantores, os artistas, os músicos, a cooperar para que a liturgia seja “fonte e ápice da” vitalidade da Igreja (cf. Sacrosanctum Concilium, 10)» (Discurso aos participantes da 68ª Semana Litúrgica Nacional, 24 de agosto de 2017).
A sensibilidade eclesial do Centro de Ação Litúrgica e a solicitude pastoral da Arquidiocese anfitriã convergiram sobre a exigência de colocar a santidade no centro da reflexão do encontro anual: «Liturgia: chamado para todos à santidade batismal. “Escolhidos para ser santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor” (Ef 1,4)». Recentemente Papa Francisco desejou chamar a atenção de todos os fiéis sobre esta fundamental verdade da fé e da vida cristã, evidenciada pelos Padres conciliares (cf. Lumen gentium, 9.40), com o objetivo de «fazer ressoar mais uma vez a chamada à santidade, procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades» (Exort. Ap. Gaudete et exsultate, 2).
O tema da santidade questiona imediata e diretamente à Liturgia. Recordava o Papa Francisco na audiência supramencionada que «a Liturgia é “viva” em virtude da presença viva d’Aquele que “morrendo destruiu a morte e ressuscitando nos restituiu a vida” (Prefácio Pascal, 1)» e que «a Liturgia é vida para todo o povo da Igreja». O Concílio Vaticano II, com efeito, ensina que «Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas» e «em tão grande obra, que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai». E acrescenta: «Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral» (Sacrosanctum Concilium, 7). Os Padres conciliares insistiram sobre o fato que a Liturgia, no momento em que celebra a santidade, santifica aqueles que dela participam e deste modo glorifica o Nome santo e inefável. A santidade acolhida e celebrada na Liturgia mostra a transcendência de Deus, o três vezes Santo, o Altíssimo, o Onipotente, «o bem-aventurado e único soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível» (1Tm 6,15-16), mas na Liturgia, em continuidade com a Encarnação, a “majestade divina” se oferece na proximidade ao homem. A Liturgia, com efeito, é a atuação sacramental da aliança do Pai com os homens no Filho, Verbo feito carne, para permitir aos homens viver a sua mesma vida, tornando-os filhos no Filho e templos vivos do Espírito. Na Liturgia, a inacessível santidade de Deus se torna proximidade tangível em Cristo e n’Ele se apresenta e se comunica com o rosto da misericórdia, do ágape, do amor gratuito que o Pai derrama no coração dos fiéis mediante o dom do Espírito (cf. Rm 5,5).
O Santo Padre espera que das celebrações e das reflexões da Semana amadureça a consciência de que a Liturgia  é lugar privilegiado no qual a santidade de Deus nos atrai a si com a sua beleza, a sua verdade e a sua bondade. Particularmente na Eucaristia, o Espírito Santo nos faz entrar no mistério pascal, dando-nos passar com Cristo da morte para a vida, nos torna participantes da vida divina que, acolhida, transfigura todo o nosso ser mortal, tornando-o capaz de amar como Ele, oferecendo a própria vida no serviço dos irmãos (cf. Audiência geral do Papa Francisco, 22 de novembro de 2017). «Para que a vida seja deveras um louvor agradável a Deus, é preciso mudar o coração. A celebração cristã, que é encontro de vida com o “Deus dos vivos” (Mt 22,32) está orientada para esta conversão (...) A Liturgia, com efeito, é uma experiência propensa à conversão da vida através da assimilação do modo de pensar e de se comportar do Senhor, é vida que forma (...) tesouro vivo que não pode ser reduzido a gostos, receitas nem correntes, mas deve ser acolhido com docilidade e promovido com amor, porque é alimento insubstituível para o crescimento orgânico do Povo de Deus. A Liturgia não é o campo do “faça-por-si”, mas epifania da comunhão eclesial. Por conseguinte, nas orações e nos gestos ressoa o “nós” e não o “eu”; a comunidade real, não o sujeito ideal» (Discurso à Plenária da Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 14 de fevereiro de 2019).
É precioso, pois, a tarefa que vos espera: difundir no Povo de Deus o esplendor do mistério vivo do Senhor, que se manifesta na Liturgia, com uma formação litúrgica destinada a fazer todos tomarem consciência do lugar insubstituível da Liturgia na e para a Igreja. Concretamente se trata de ajudar a comunidade a interiorizar melhor a oração da Igreja, a amá-la como experiência de encontro com o Senhor e com os irmãos e, à luz disso, a redescobrir os seus conteúdos e observar os seus ritos. A Liturgia será autêntica, isto é, em condição de formar e transformar aqueles que dela participam, se estes, pastores e leigos, aprenderem sempre melhor a compreender seu significado e a linguagem simbólica, incluindo a arte, o canto e a música a serviço do mistério celebrado, compreendendo também o silêncio. A mistagogia se revela a via mais idônea para entrar neste percurso, no qual se aprende a acolher com espanto a vida nova recebida mediante os sacramentos e a renová-la continuamente com alegria (cf. ibid.).
O Santo Padre assegura a sua particular recordação na oração, para que o trabalho destes dias traga bons e abundantes frutos para o caminho das Igrejas que estão na Itália e, enquanto pede a vossa recordação na oração, concede de coração uma especial bênção aos Bispos, aos sacerdotes, aos diáconos, aos religiosos e religiosas e aos leigos presentes, como também aos relatores, confiando todos aos cuidados maternos de Maria, Mãe da Igreja.
Ao unir os meus pessoais votos de saudação, aproveito a circunstância para confirmar-me com senso de distinto obséquio a vossa Excelência Reverendíssima, devotíssimo no Senhor:

Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado


Fonte: Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé

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