Em postagens anteriores do nosso blog, há cerca de um mês, traçamos um histórico
dos Prefeitos e dos Secretários da Congregação para o Culto Divino, responsável
por regulamentar e promover a Sagrada Liturgia na Igreja.
Nesta postagem, gostaríamos de traçar o histórico dos
Mestres das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, responsáveis por
coordenar as celebrações presididas pelo Papa ou realizadas em seu nome.
O primeiro testemunho da presença de um Praefectus Caeremoniarum (Prefeito das Cerimônias) remonta ao ano
710. A partir dos séculos XV e XVI este ofício foi ganhando cada vez mais
importância. Citamos, como exemplo, o célebre Johannes Burchard, que
sistematizou os ritos para os Jubileus no ano de 1500.
Após a reforma litúrgica do
Concílio Vaticano II, a então Prefeitura das Cerimônias Pontifícias se torna o
Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, e o Prefeito passa a ser
chamado de Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, sempre ajudado por um
grupo de Cerimoniários Pontifícios (cf.
Constituição Pastor Bonus, n. 182).
Além de coordenar as celebrações
presididas pelo Papa, o Mestre das Celebrações Litúrgicas é também responsável
pela Sacristia Pontifícia, pelas capelas do Palácio Apostólico e, mais
recentemente, também pelo coro da Capela Sistina. Também possui importantes
funções durante o período da Sede Vacante, desde a eventual morte do Papa até a
eleição do seu sucessor.
A seguir apresentaremos brevemente
os Prefeitos das Cerimônias Pontifícias e Mestres das Celebrações Litúrgicas do
último século.
Carlo Respighi (†): 1918-1947
Filho de Lorenzo Respighi, um célebre astrônomo italiano,
nasceu em Roma no dia 18 de novembro de 1873.
Desde jovem nutria um particular interesse pela arqueologia
cristã, visitando as catacumbas romanas, onde nasce sua vocação ao sacerdócio,
sendo ordenado em 1895. A partir de 1899, integra a Prefeitura das Cerimônias
Pontifícias como um dos Cerimoniários auxiliares.
Monsenhor Carlo Respighi |
Como sacerdote, dedicou-se também ao estudo da música sacra,
tendo colaborado na elaboração do Motu
proprio Tra le sollecitudini, promulgado pelo Papa São Pio X em 1903.
Em 1917 o Papa Bento XV o nomeou Secretário da Pontifícia
Comissão de Arqueologia Sacra. No mesmo ano é nomeado Protonotário Apostólico Supranumerário
e Coadjutor do então Prefeito das Cerimônias Pontifícias, Monsenhor Francesco
Riggi, a quem sucede no ano seguinte (Riggi ocupava o cargo de Prefeito desde
1895).
Monsenhor Carlo Respighi exercerá o ofício de Prefeito das
Cerimônias por quase trinta anos, de 1918 até sua morte em 06 de junho de 1947.
Neste período dirigiu os funerais de Bento XV e a eleição de Pio XI (1922); o
Jubileu Ordinário de 1925; o Jubileu Extraordinário de 1933; os funerais de Pio
XI e a eleição de Pio XII (1939).
Desde 1931 até a sua morte foi também Magister do Collegium
Cultorum Martyrum. Neste ofício incentivou a retomada das Estações Quaresmais, antiquíssima tradição da Igreja romana que havia sido abandonada.
Exerceu ainda os ofícios de reitor da Basílica dos Santos
Quatro Coroados al Laterano, Protonotário
Apostólico Numerário (a partir de 1935) e cônego da Arquibasílica do Latrão.
Enrico Dante (†): 1947-1965
Nasceu no dia 05 de julho de 1884, em Roma, e foi ordenado
sacerdote em 03 de julho de 1910.
Após obter o Doutorado na Pontifícia Universidade
Gregoriana, a partir de 1911 foi professor de Filosofia na Pontifícia
Universidade Urbaniana e professor de Teologia a partir de 1928 até 1947.
Desde 1914 passa a integrar a Prefeitura das Cerimônias
Pontifícias como um dos Cerimoniários auxiliares. A partir de 1923, por sua vez, trabalha
também na Congregação dos Ritos. Em 1943 recebe o título de Monsenhor.
No dia 13 de junho de 1947, após a morte do Mons. Respighi,
o Papa Pio XII nomeia o Monsenhor Enrico Dante como novo Prefeito das
Cerimônias Pontifícias. Exercerá este ofício por cerca de 18 anos, até 22 de
fevereiro de 1965, quando será criado Cardeal.
Dom Enrico Dante assistindo o Papa João XXIII |
Como Prefeito, Monsenhor Dante dirigiu: o Jubileu Ordinário
de 1950; os funerais de Pio XII e a eleição de João XXIII (1958); a abertura do
Concílio Vaticano II (1962); os funerais de João XXIII e a eleição de Paulo VI
(1963); e as primeiras Viagens Apostólicas de Paulo VI (à Terra Santa e à Índia
em 1964). Além disso, em 1954, organizou um importante restauro do Arquivo
Histórico da Prefeitura das Cerimônias.
No dia 05 de janeiro de 1960 João XXIII nomeou Mons. Dante como
Secretário da Congregação dos Ritos. O mesmo Papa o nomeou Arcebispo titular de
Carpasia em 28 de agosto de 1962 e lhe conferiu a Ordenação Episcopal no dia 21
de setembro do mesmo ano, na Arquibasílica do Latrão, às vésperas da abertura
do Concílio Vaticano II.
Próximo à conclusão do Concílio, por sua vez, Dom Enrico
Dante é criado Cardeal pelo Papa Paulo VI no Consistório de 22 de fevereiro de
1965, sendo-lhe concedido o Título Presbiteral (elevado pro hac vice) de Santa Ágata dos Godos. Uma vez criado Cardeal, Dom
Enrico Dante deixa o cargo de Prefeito das Cerimônias Pontifícias.
Faleceu em Roma dois anos depois, no dia 24 de abril de
1967.
Vacante: 1965-1970
Após o Cardeal Dante deixar o cargo, não foi nomeado um novo
Prefeito das Cerimônias. No contexto das reformas do Concílio Vaticano II, a
Prefeitura passa a ser subordinada ao Consilium ad
exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia, sob a responsabilidade do seu
Secretário, o célebre Padre Annibale Bugnini (depois nomeado Bispo).
Este, porém, não dirigiria as celebrações, que ficaram à
cargo dos Cerimoniários Pontíficios, particularmente os Monsenhores Salvatore
Capoferri (1965-1968) e Adone Terzariol (1968-1970).
Em janeiro de 1970, após cinco anos de vacância, seria
nomeado não mais um Prefeito, mas sim um Mestre das Celebrações Litúrgicas
Pontifícias.
Virgilio Noè (†):
1970-1982
Nasceu em Bereguardo (Itália) no dia 30 de março de 1922 e
foi ordenado presbítero no dia 01 de outubro de 1944, incardinado na
Diocese de Pavia.
Após obter o Mestrado em História da Igreja na Pontifícia
Universidade Gregoriana em 1952, foi professor nos Seminários das Dioceses de
Pavia e Tortona. Em 1964 é chamado a Roma para exercer o ofício de Secretário
do Centro de Ação Litúrgica da Conferência Episcopal Italiana. Ao mesmo tempo,
torna-se professor do Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo (1964-1968).
No dia 07 de maio de 1969 o Papa Paulo VI o nomeia Subsecretário
da Congregação para o Culto Divino, instituída neste mesmo ano, substituindo a
Congregação dos Ritos.
No ano seguinte, em 09 de janeiro de 1970 é nomeado Mestre
das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, ofício que exercerá pelos próximos
12 anos.
Mons. Virgílio Noè com o Papa João Paulo I |
Monsenhor Virgílio Noè será o responsável por adaptar as
celebrações presididas pelo Papa às reformas litúrgicas do Concílio Vaticano
II. Aplicará estas reformas, por exemplo, no Jubileu Ordinário de 1975, nos
funerais de Paulo VI e de João Paulo I e na eleição deste e de João Paulo II em
1978.
Com a criação da nova Congregação para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos em 1975, é confirmado como Subsecretário.
Sete anos depois, no dia 30 de janeiro de 1982, Monsenhor
Noè é nomeado Secretário-adjunto da Congregação para o Culto Divino e Arcebispo
Titular de Voncaria, deixando nesta
ocasião o ofício de Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias. Receberá a
Ordenação Episcopal no dia 06 de março do mesmo ano pela imposição das mãos do
Papa João Paulo II.
Em 24 de maio de 1989 o mesmo Papa nomeia Dom Noè como
Arcipreste Coadjutor da Basílica de São Pedro. Assume efetivamente como
Arcipreste em 01 de julho de 1991, após a renúncia do Cardeal Aurelio
Sabattani. Três dias antes (28 de junho) será criado Cardeal Diácono de São
João Bosco in via Tuscolana.
Renuncia ao ofício de Arcipreste por limite de idade (80
anos) em 2002. No mesmo ano, ao completar 10 anos como Cardeal, é promovido a
Cardeal-Presbítero do Título da Regina Apostolorum.
Faleceu em Roma no dia 24 de julho de 2011.
John Magee, S.P.S.:
1982-1987
Nasceu em Newry (Irlanda) em 24 de setembro de 1936. Após
professar os votos na Sociedade de São Patrício para as Missões Estrangeiras
(S.P.S.) em 1958, foi ordenado sacerdote em Roma a 17 de março de 1962.
Logo após a ordenação parte em missão para a Nigéria, onde
permanece por seis anos. Em 1968 retorna a Roma como Procurador Geral da sua
Congregação, ao mesmo tempo em que trabalha na Congregação para a Evangelização
dos Povos.
Em 1975 é nomeado segundo Secretário do Papa, exercendo este
ofício até 1982, junto a Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II.
Este último o nomeou Mestre das Celebrações Litúrgicas
Pontifícias em 08 de fevereiro de 1982. Porém, exerceu este ofício por apenas
cinco anos, destacando-se durante este período o Jubileu Extraordinário de
1983.
Mons. John Magee à esquerda de João Paulo II |
No dia 17 de fevereiro de 1987, com efeito, Monsenhor Magee
é nomeado Bispo de Cloyne (Irlanda), recebendo a Ordenação Episcopal no dia 17
de março do mesmo ano, pela imposição das mãos do Papa João Paulo II.
De 1992 a 1997 Dom Magee foi membro da Congregação para os
Bispos e de 1994 a 1996 foi também Administrador Apostólico da Diocese de
Limerick (Irlanda).
No dia 24 março de 2010 o Papa Bento XVI aceitou sua
renúncia ao ofício de Bispo de Cloyne.
Piero Marini:
1987-2007
Nasceu em 13 de janeiro de 1942 na cidade de Valverde
(Itália) e foi ordenado sacerdote em 27 de junho de 1965, incardinado na
Diocese de Bobbio (atualmente Diocese de Piacenza-Bobbio).
No final do mesmo ano é enviado a Roma, onde começa a colaborar no Consilium ad exsequendem
Constitutionem de Sacra Liturgia. Em 1970 obtém o Mestrado em Liturgia pelo
Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo e começa a trabalhar na
Congregação para o Culto Divino (colaborando de modo particular na redação do
novo Cerimonial dos Bispos, que será
promulgado em 1984), além de auxiliar nas celebrações litúrgicas presididas
pelo Papa Paulo VI.
Em 12 de outubro de 1975 é nomeado como um dos Cerimoniários
Pontifícios, ofício que exerceu até 1985, quando foi nomeado Subsecretário da
Congregação para o Culto Divino.
Dom Piero Marini |
Dois anos depois, no dia 24 de fevereiro de 1987, o Papa
João Paulo II nomeou Monsenhor Piero Marini como novo Mestre das Celebrações
Litúrgicas Pontifícias. Exerceria este ofício pelos próximos 20 anos, enquanto
atuava também como professor no Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo.
No contexto da reforma da Cúria Romana implementada pela
Constituição Pastor Bonus (1988), dá
uma identidade ao Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontifíce, ao qual
foi agregado pouco depois, em 1991, o cuidado da Sacristia Pontifícia e das Capelas
do Palácio Apostólico (Sistina, Paulina, Redemptoris
Mater).
Como Mestre das Celebrações Litúrgicas, Mons. Piero Marini
organizou as celebrações do Ano Mariano (1987-1988), do Grande Jubileu do ano
2000, das exéquias de João Paulo II e da eleição de Bento XVI (2005), além de
acompanhar o Papa polonês em suas diversas viagens pelo mundo e particularmente
durante sua enfermidade.
Em 14 de fevereiro de 1998 o mesmo João Paulo II o nomeia
Bispo titular de Martirano (elevado a
Arcebispo titular em 2003) e lhe confere a ordenação episcopal no dia 19 de
março do mesmo ano.
No dia 01 de outubro de 2007 o Papa Bento XVI o nomeia
Presidente do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais,
deixando assim o ofício de Mestre das Celebrações Litúrgicas.
Em 01 de setembro de 2015 o Papa Francisco o nomeou ainda
Presidente da Comissão Especial para a Liturgia da Congregação para as Igrejas
Orientais e desde 28 de outubro de 2016 é também membro da Congregação para o
Culto Divino, além de cônego da Basílica de Santa Maria Maior a partir de 2017.
Guido Marini: 2007-2021
Nasceu
em 31 de janeiro de 1965 em Gênova (Itália) e foi ordenado sacerdote em 04 de
fevereiro de 1989, incardinado na Arquidiocese de Gênova.
Após
obter o Doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense,
exerceu os ofícios de secretário do Arcebispo de Gênova e Mestre de Cerimônias
da Arquidiocese, além de professor de Direito Canônico na Faculdade de Teologia
da Itália Setentrional.
Em
2002 foi nomeado Cônego da Catedral de São Lourenço e no ano seguinte Reitor da
mesma Catedral, além de Diretor Espiritual do Seminário de Gênova (a partir de
2004) e Chanceler da Arquidiocese (a partir de 2005).
Mons. Guido Marini |
No
dia 01 de outubro de 2007 o Papa Bento XVI nomeou Guido Marini como novo Mestre
de Celebrações Litúrgicas Pontifícias, concedendo-lhe, ao mesmo tempo, o título
de Monsenhor Prelado de Honra.
Como
Mestre de Cerimônias, Mons. Guido Marini realizou pequenas modificações em
alguns ritos presididos pelo Papa, como a imposição do pálio, os Consistórios para criação de Cardeais e as canonizações. Destacam-se ainda, durante seu
“mandato”, a eleição do Papa Francisco (2013) e o Jubileu Extraordinário da
Misericórdia (2015-2016).
Mons. Guido Marini com o Papa Bento XVI |
O Papa Francisco confirmou Monsenhor Marini em seu ofício no dia 12 de
abril de 2014 (e o reconfirmou por mais cinco anos em 07 de novembro de 2017), dois
meses após nomeá-lo, ao mesmo tempo, Consultor da Congregação para as Igrejas
Orientais (19 de fevereiro de 2014).
A
partir de 17 de janeiro de 2019 o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias
se torna também responsável pela Capela Musical Pontifícia, isto é, o Coro da
Capela Sistina.
Mons. Guido Marini com o Papa Francisco |
[Atualização: No dia 29 de agosto de 2021 Monsenhor Guido Marini foi nomeado Bispo de Tortona]
[Atualização: No dia 11 de outubro de 2021 o Papa Francisco nomeou Monsenhor Diego Giovanni Ravelli como novo Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias]
Concluímos assim este breve percurso histórico dos Mestres
das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice nos últimos 100 anos. Na próxima
postagem apresentaremos os Cerimoniários Pontifícios, seus
colaboradores. Para acessá-la, clique aqui.
Com informações de Cattolici Romani: Liturgie Papali;
Wikipedia (página italiana); e Catholic Hierarchy.
Excelente postagem! Muito obrigado! É por meio de informações assim que o zelo com a santa Liturgia pode ser disseminado. Afinal, como diz Monsenhor Guido Marini: "É por meio da Sagrada Liturgia que obtemos a graça que nos salva".
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