quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Liturgia no Diretório para a Catequese (2020) - Parte 08

“A Igreja, em seus cuidados maternos, acompanha seus filhos e filhas ao longo de toda a sua existência” (Diretório para a Catequese, n. 232).

Nesta série de postagens estamos analisando sob a perspectiva da Liturgia, dos sacramentos e da piedade popular o Diretório para a Catequese, publicado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização em 2020 [1].

Damos início nesta postagem ao capítulo VIII, que está subdividido em nove seções. As seis primeiras serão analisadas aqui, e as três últimas na próxima postagem.

Capítulo VIII: A catequese na vida das pessoas

“O Evangelho não se destina à pessoa abstrata, mas a cada pessoa, real, concreta, histórica, inserida em um contexto particular” (n. 224). Com esta afirmação o Diretório dá início ao cap. VIII, que propõe “caminhos de Catequese” que levem em conta cada sujeito: famílias, crianças e adolescentes, jovens, adultos, etc.

8.1 Catequese e família (nn. 224-235)

As reflexões sobre Catequese e família são iluminadas aqui pelas Exortações Apostólicas Familiaris Consortio (1981), do Papa João Paulo II; e Amoris Laetitia (2016), do Papa Francisco.

Mosaico de São João Paulo II, protetor da família

Ao propor os âmbitos da catequese familiar (Catequese na família, Catequese com a família, Catequese da família), o Diretório assinala que, a par da graça batismal (cf. cap. III), as famílias cristãs são enriquecidas em sua missão catequética também pela graça própria do sacramento do Matrimônio:

“Os cônjuges cristãos, em virtude do sacramento do Matrimônio, participam do mistério da unidade e do amor fecundo entre Cristo e a Igreja. A catequese na família, portanto, tem a missão de fazer revelar aos protagonistas da vida familiar, sobretudo aos cônjuges e aos pais, o dom que Deus lhes concede mediante o sacramento do Matrimônio” (n. 228).

Na sequência, o n. 232, intitulado Indicações pastorais, recorda que “a Igreja, em seus cuidados maternos, acompanha seus filhos e filhas ao longo de toda a sua existência. Reconhece, porém, que alguns momentos são como passagens decisivas, nas quais a pessoa se deixa mais facilmente ser tocada pela graça de Deus”.

Nesse mesmo parágrafo são elencadas seis passagens decisivas, que estão diretamente relacionadas aos sacramentos. Porém, como veremos, a celebração dos sacramentos não é o ponto final, mas se insere dentro de um processo de iniciação permanente:

a) “A catequese com jovens e dos adultos que se preparam para o Matrimônio”: à luz dos nn. 205-216 da Exortação Amoris Laetitia, o Diretório propõe uma verdadeira “iniciação ao sacramento do Matrimônio”, abandonando o conceito de “curso para noivos”. Propõe-se um itinerário catequético de inspiração catecumenal, em três etapas: “uma formação remota, uma próxima e uma imediata à celebração do sacramento do Matrimônio, apresentado como uma verdadeira vocação”.

b) “A catequese dos casais jovens”: novamente o Diretório remete à Amoris Laetitia (nn. 217-230). Na mesma linha da proposta anterior, trata-se aqui de uma “catequese oferecida em forma mistagógica aos recém-casados, para levá-los a descobrir o que eles se tornaram graças ao sacramento celebrado”.

O Papa Francisco abençoa dois recém-casados

c) “A catequese dos pais que pedem o Batismo para os filhos”: também aqui é preciso a coragem de abandonar os “cursos de Batismo” e propor uma “catequese batismal” de inspiração catecumenal aos pais e padrinhos, de modo a “predispor um caminho adequado para que eles possam despertar a graça do dom da fé que receberam”.

d) “A catequese dos pais, cujos filhos fazem o percurso de iniciação cristã”: como se reforçará adiante ao tratar da catequese infantil, é preciso promover “o envolvimento dos pais no caminho de iniciação dos filhos”. Para alguns será “um momento de aprofundamento da fé”, enquanto para outros será “um autêntico espaço de primeiro anúncio”.

e) “A catequese intergeracional”: trata-se de uma “mistagogia”, ou seja, uma proposta de aprofundamento da fé “condividida entre diferentes gerações dentro de uma família ou comunidade”, marcada pelos “passos do ano litúrgico”.

f) “A catequese nos grupos de esposos e nos grupos de famílias”: também aqui se propõem itinerários mistagógicos de aprofundamento da graça do sacramento do Matrimônio, a fim de “desenvolver uma espiritualidade conjugal e familiar”.

8.2 Catequese com crianças e adolescentes (nn. 236-243)

Embora o título da seção mencione também a adolescência, o Diretório centra-se aqui na Catequese com crianças, oferecendo “pistas” para duas etapas: a “idade pré-escolar” (até os 06 anos), e a “idade escolar” (dos 06 aos 10 anos, aproximadamente).

A “idade pré-escolar” geralmente antecede a “Catequese de iniciação” no sentido de preparação para a Confirmação e a primeira Comunhão. Assim, é preciso propor itinerários de catequese infantil, tanto na comunidade quanto na própria família.

Nessa etapa, por exemplo, podem ser apresentados à criança os “sinais, símbolos e gestos religiosos” (n. 239), celebrados na Liturgia e na piedade popular. Além disso, o Diretório exorta a valorizar as principais festividades do ano litúrgico, por exemplo, com a realização nas famílias do presépio em preparação para o Natal (cf. Papa Francisco, Carta Apostólica Admirabile signum sobre o significado e o valor do presépio, 2019), que pode permitir que a criança viva uma forma de catequese por meio de uma participação direta no mistério da Encarnação”.

Além das famílias, essa proposta poderia ser vivida também na comunidade. Como temos afirmado, é preciso superar a mentalidade do “calendário escolar” e viver os Tempos do Advento e do Natal como “tempos catequéticos”. Por exemplo, por que não envolver os catequizandos na preparação do presépio da comunidade? O mesmo poderia ser “montado” gradualmente pelas crianças, ao longo dos quatro domingos do Advento, no início da Celebração Eucarística da comunidade.

O Papa Francisco acende uma vela diante do presépio

Prosseguindo a reflexão, o Diretório centra-se na “idade escolar”, durante a qual “se completa, na paróquia, a iniciação cristã começada com o Batismo” (n. 240) através da preparação para os sacramentos da Confirmação e da primeira Comunhão.

Assim, nessa etapa “se introduz a criança na vida da Igreja e na celebração dos sacramentos” (n. 240). Assim, o “ensinamento das verdades da fé (...) se fortalece pelo testemunho da comunidade, a participação na Liturgia, o encontro com a palavra de Jesus na Sagrada Escritura e o início do exercício da caridade”.

Definir a duração da “Catequese de iniciação” e a idade para a recepção dos sacramentos, como indica o Diretório, fica a cargo das Conferências Episcopais. Da mesma forma, no n. 241, sobre a Catequese dentro da escola católica, o Diretório remete ao juízo do Bispo Diocesano, lembrando, porém, que a comunidade cristã é o “lugar da fé” por excelência (cf. n. 133).

Concluindo essa seção, o n. 242 retoma a proposta que permeia todo o documento: a “inspiração catecumenal” de todos os itinerários catequéticos. A Catequese com crianças é chamada a adaptar o modelo do catecumenato “com critérios, conteúdos e metodologias” adequados às crianças. O Diretório destaca aqui “os tempos, os ritos de passagem e a participação ativa na Celebração Eucarística, que constitui o ápice do processo iniciático”.

Como vimos em postagens anteriores, em muitas comunidades já há iniciativas que adaptam as “entregas” do catecumenato de adultos para a Catequese infantil (entrega do Creio, entrega do Pai-nosso...).

O Diretório exorta ainda a “reconsiderar o papel primordial da família e de toda a comunidade” (n. 242) e conclui reafirmando o valor do domingo: os itinerários catequéticos são chamados a conscientizar as crianças “de serem filhos de Deus e membros da Igreja, família de Deus, que no dia dedicado ao Senhor se reúne para celebrar a sua Páscoa” (n. 243).

Jesus abençoa as crianças

8.3 Catequese na realidade juvenil (nn. 244-256)

Os parágrafos dedicados à Catequese com jovens, os quais incluem também os adolescentes, remetem-nos às reflexões do Sínodo sobre os Jovens celebrado em 2018, que teve como principal fruto a Exortação Apostólica Christus vivit, promulgada pelo Papa Francisco em 25 de março de 2019.

Já analisamos aqui em nosso blog sob a perspectiva da Liturgia a Exortação Christus vivit, o Instrumentum laboris e o Documento Final do Sínodo.

Portanto, aqui nos limitamos a indicar as referências à Liturgia nos parágrafos dedicados à realidade juvenil no Diretório para a Catequese:

- o n. 244 destaca que, evangelizando os jovens e deixando-se evangelizar por ele, a Igreja se renova, isto é, coloca-se em um “processo de conversão espiritual, pastoral e missionária”. Assim, o Diretório exorta a “anunciar o Evangelho ao mundo juvenil com coragem e criatividade, propondo a vida sacramental e o acompanhamento espiritual”;

- o n. 252, após recordar a importância de “escutar os jovens com paciência”, propõe uma pastoral juvenil que articule formação, celebração e outras dimensões, citando aqui o n. 204 da Christus vivit: “É necessário (...) chamar os jovens a acontecimentos que, de vez em quando, lhes ofereçam um lugar onde não só recebam formação, mas que também lhes permitam compartilhar a vida, celebrar, cantar, ouvir testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo”.

- na mesma linha prossegue o n. 253 do Diretório, indicando que todo projeto formativo para os jovens e com os jovens deve integrar “formação litúrgica, espiritual, doutrinal e moral”. Esses projetos, como indica a Exortação Christus vivit (n. 213) devem estar centrados “no aprofundamento do querigma, a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo Morto e Ressuscitado” e no “crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço”.

Papa Francisco com os jovens na Jornada Mundial da Juventude 2016

8.4 Catequese com adultos (nn. 257-265)

Passando à Catequese com adultos, o parágrafo n. 262 indica cinco critérios para que essa seja significativa. Após destacar o valor da comunidade, o segundo critério elenca algumas experiências concretas a serem consideradas, dentre as quais a Liturgia:

“Uma vez que a catequese dos adultos é um processo educativo da vida cristã em sua inteireza, é importante que proponha experiências de vida de fé concretas e qualificantes (aprofundamento da Sagrada Escritura e da doutrina; momentos de espiritualidade, celebrações litúrgicas e práticas de piedade popular; experiência de fraternidade eclesial; exercício missionário da caridade e do testemunho no mundo), que respondam às diversas exigências da pessoa humana em sua integridade de afetos, pensamentos, relações” (n. 262b).

Na mesma linha, o quinto critério (n. 262e) consiste na integração da Catequese de adultos com “as demais dimensões da vida da fé”, incluindo a “experiência litúrgica”, de modo a inserir gradativamente os adultos na vida da comunidade.

Assim como a Catequese familiar, a Catequese com adultos possui várias formas, que são elencadas no n. 264:

a) “catequese enquanto verdadeira e própria iniciação à fé, ou seja, o acompanhamento dos candidatos ao Batismo e aos sacramentos da iniciação por meio da experiência catecumenal”: neste caso, seguem-se todas as orientações do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA);

b) “catequese enquanto nova iniciação à fé, ou seja, o acompanhamento daqueles que, embora batizados, não tenham completado a iniciação ou não foram de fato evangelizados”: no caso dos adultos já batizados que se preparam para os sacramentos da Confirmação e da primeira Comunhão, o itinerário do RICA deve ser adaptado;

Papa Francisco batiza um adulto na Vigília Pascal

c) “catequese enquanto redescoberta da fé, por meio de ‘centros de escuta’ ou outras modalidades, ou mesmo uma proposta de perspectiva evangelizadora voltada para os considerados distantes”;

d) “catequese de anúncio da fé nos ambientes da vida, do trabalho, do lazer ou nas manifestações de piedade popular ou peregrinação aos santuários”;

e) “catequese com casais por ocasião do Matrimônio ou mesmo na celebração dos sacramentos dos filhos, que muitas vezes se torna um ponto de partida para ulteriores experiências catequéticas”, como vimos na seção “Catequese e família”;

f) “catequese para o aprofundamento da fé a partir da Sagrada Escritura ou de um documento do Magistério ou da vida dos santos e das testemunhas da fé”;

g) “catequese litúrgica, que visa uma participação consciente nas celebrações comunitárias”;

h) “catequese sobre questões morais, culturais ou sociopolíticas que visam a participação na vida da sociedade, de forma ativa e inspirada na fé”;

i) “catequese no âmbito da formação específica dos agentes pastorais, que se apresenta como oportunidade privilegiada para itinerários de fé”.

8.5 Catequese com idosos (nn. 266-268)

8.6 Catequese com pessoas com deficiência (nn. 269-272)

Após a breve seção sobre os idosos (sem referências à Liturgia), concluímos nossa postagem com a seção dedicada às pessoas com deficiência. O n. 272 destaca sua relação com a Liturgia e os sacramentos”:

As pessoas com deficiência são chamadas à plenitude da vida sacramental, mesmo na presença de transtornos graves. Os sacramentos são dons de Deus e a Liturgia, mesmo antes antes de ser compreendida racionalmente, precisa ser vivida: ninguém pode, portanto, recusar os sacramentos às pessoas com deficiência. A comunidade que sabe descobrir a beleza e a alegria da fé desses irmãos torna-se mais rica. Por isso, são importantes a inclusão pastoral e o envolvimento na ação litúrgica, especialmente na dominical (Papa Bento XVI, Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, n. 58). As pessoas com deficiência podem perceber a alta dimensão da fé que encerra a vida sacramental, a oração e o anúncio da Palavra. De fato, não são somente destinatários de catequese, mas protagonistas de evangelização” (n. 272).

Papa Francisco lava os pés de enfermos e pessoas com deficiência

Sobre o envolvimento das pessoas com deficiência na ação litúrgica, cabe valorizar as potencialidades da própria Liturgia. Com efeito, suas múltiplas linguagens tocam todos os sentidos da pessoa humana: por exemplo, os gestos e símbolos podem ajudar na evangelização dos deficientes auditivos, enquanto a qualidade das leituras e dos cantos é fundamental para a evangelização dos deficientes visuais.

Além disso, cabe sempre pensar o espaço litúrgico em termos de acessibilidade, pensando nas pessoas com deficiência motora e nos idosos.

[Atualização: Para acessar a nona parte desta pesquisa, com as últimas três seções do capítulo VIII e a análise do capítulo IX, clique aqui]

Notas:

[1] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO. Diretório para a Catequese. Brasília: Edições CNBB, 2020. Coleção: Documentos da Igreja, 61.

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