São Máximo de Turim
Sermão 88
Ainda
hoje a voz de João nos convoca
A Escritura
divina não cessa de falar e gritar, como se escreveu de João: Eu sou a voz que grita no deserto. Pois
João não gritou somente quando, anunciando aos fariseus o Senhor e Salvador,
disse: Preparai o caminho do Senhor,
aplainai os caminhos de nosso Deus, mas hoje mesmo a sua voz segue
ressoando em nossos ouvidos, e com o estrépito de sua voz sacode o deserto dos
nossos pecados. E mesmo que ele durma já com a morte santa do martírio, sua
palavra segue, contudo, viva. Também a nós ele diz hoje: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus.
Assim, pois, a Escritura divina não cessa de gritar e falar.
Entretanto, hoje
João grita e diz: Preparai o caminho do
Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus. Se ele nos manda preparar o
caminho do Senhor, a saber: não se refere às desigualdades do caminho, mas à
pureza da fé. Porque o Senhor não deseja abrir um caminho nas veredas da terra,
mas no segredo do coração.
Porém, vejamos
como esse João que nos manda preparar o caminho do Senhor, se ele mesmo o
preparou ao Salvador. Ele dispôs e orientou todo o curso de sua vida para a
vinda de Cristo. Foi, de fato, amante do jejum, humilde, pobre e virgem.
Descrevendo todas estas virtudes, diz o evangelista: João se vestia de pele de camelo, com uma correia de couro na cintura,
e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.
Cabe maior
humildade em um profeta que, desprezando as vestes macias, cobrir-se com a
aspereza da pele do camelo? Cabe fidelidade mais fervorosa que, com a cintura
cingida, estar sempre disposto para qualquer serviço? Existe abstinência mais
admirável que, renunciando às delícias desta vida, alimentar-se de gafanhotos
estridentes e mel silvestre?
Penso que todas
estas coisas das quais o profeta se servia eram em si mesmas uma profecia. Pois
que o precursor de Cristo levasse uma veste trançada com os rudes pelos do
camelo, que outra coisa podia significar, senão que vindo Cristo ao mundo iria
se revestir da condição humana, que encontrava-se tecida pela aspereza dos
nossos pecados? A correia de couro que leva à cintura, que outra coisa
evidencia senão esta nossa frágil natureza, que antes da vinda de Cristo estava
dominada pelos vícios, enquanto que depois de sua vinda foi encaminhada para a
virtude?
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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