sábado, 9 de dezembro de 2017

Homilia: II Domingo do Advento - Ano B

São Máximo de Turim
Sermão 88
Ainda hoje a voz de João nos convoca

A Escritura divina não cessa de falar e gritar, como se escreveu de João: Eu sou a voz que grita no deserto. Pois João não gritou somente quando, anunciando aos fariseus o Senhor e Salvador, disse: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus, mas hoje mesmo a sua voz segue ressoando em nossos ouvidos, e com o estrépito de sua voz sacode o deserto dos nossos pecados. E mesmo que ele durma já com a morte santa do martírio, sua palavra segue, contudo, viva. Também a nós ele diz hoje: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus. Assim, pois, a Escritura divina não cessa de gritar e falar.

Entretanto, hoje João grita e diz: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus. Se ele nos manda preparar o caminho do Senhor, a saber: não se refere às desigualdades do caminho, mas à pureza da fé. Porque o Senhor não deseja abrir um caminho nas veredas da terra, mas no segredo do coração.

Porém, vejamos como esse João que nos manda preparar o caminho do Senhor, se ele mesmo o preparou ao Salvador. Ele dispôs e orientou todo o curso de sua vida para a vinda de Cristo. Foi, de fato, amante do jejum, humilde, pobre e virgem. Descrevendo todas estas virtudes, diz o evangelista: João se vestia de pele de camelo, com uma correia de couro na cintura, e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.

Cabe maior humildade em um profeta que, desprezando as vestes macias, cobrir-se com a aspereza da pele do camelo? Cabe fidelidade mais fervorosa que, com a cintura cingida, estar sempre disposto para qualquer serviço? Existe abstinência mais admirável que, renunciando às delícias desta vida, alimentar-se de gafanhotos estridentes e mel silvestre?

Penso que todas estas coisas das quais o profeta se servia eram em si mesmas uma profecia. Pois que o precursor de Cristo levasse uma veste trançada com os rudes pelos do camelo, que outra coisa podia significar, senão que vindo Cristo ao mundo iria se revestir da condição humana, que encontrava-se tecida pela aspereza dos nossos pecados? A correia de couro que leva à cintura, que outra coisa evidencia senão esta nossa frágil natureza, que antes da vinda de Cristo estava dominada pelos vícios, enquanto que depois de sua vinda foi encaminhada para a virtude?


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 277-278. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Orígenes para este domingo clicando aqui.

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