domingo, 17 de dezembro de 2017

Homilia: III Domingo do Advento - Ano B

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o livro do Profeta Isaías
Cristo é o sol de justiça e a luz verdadeira

Cristo é o sol de justiça e a luz verdadeira. A Sagrada Escritura compara o Batista com uma lâmpada. Pois se contemplas a luz divina e inefável, se te fixas naquele imenso e misterioso esplendor, com razão o alcance da mente humana pode ser comparado a uma lampadazinha, ainda que esteja cheia de luz e de sabedoria. O que signifique: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os seus caminhos, o explica quando acrescenta: Elevem-se os vales, desçam os montes e as colinas; que se endireite o que é torcido, e que o acidentado se nivele.

Pois existem acessos públicos e trilhas quase impraticáveis, íngremes e intransitáveis, que algumas vezes obrigam a subir os montes e as colinas, e outras a descê-los; ora te colocam à beira de precipícios, ora te fazem escalar altíssimas montanhas. Porém, se estes lugares isolados e abruptos descerem, e se preencherem as cavidades profundas, aí sim, o torcido se endireita totalmente, os campos se aplainam, e os caminhos, antes íngremes e tortuosos, tornam-se transitáveis. É isso, só que em nível espiritual, o que faz acontecer o poder de nosso Salvador.

Poderíamos dizer que em outro tempo aos homens lhes estava vedado o acesso a uma vida exemplar, e que foi pouco trilhada a senda do comportamento evangélico, pois sua alma era prisioneira dos apetites mundanos e terrenos, e estava submetida aos impulsos, impulsos abomináveis, da carne. Mas uma vez que Cristo se fez homem e carne, como afirma a Escritura, na carne destruiu o pecado e abateu aos soberanos, autoridades e poderes que dominam este mundo. Ele nivelou o caminho para nós, um caminho muito apto para correr pelas sendas da piedade; um caminho sem encostas acima, nem declives ladeirentos, sem altos e baixos, mas realmente liso e plano.

Foi endireitado o que estava torcido. E não somente isso, mas se revelará, diz, a glória do Senhor, e todos verão a salvação de Deus. Falou a boca do Senhor. Porém, por que motivos, ou de que maneira descreve que vai revelar-se a glória de Deus? Pois Cristo era e é o Verbo Unigênito de Deus, enquanto que existia como Deus, e nasceu de Deus Pai de modo misterioso, e em sua divina majestade está acima de todo principado, potestade, força e dominação, e acima de todo nome conhecido, não somente neste mundo, mas também no futuro. Ele é o Senhor da glória, e contemplamos sua glória, glória que antes não conhecíamos, quando feito homem como nós segundo o desígnio divino, declarou-se igual a Deus Pai no poder, no operar e na glória: ele sustenta o universo com sua palavra poderosa, opera milagres com facilidade, impera sobre os elementos, ressuscita mortos, e realiza sem esforço outras maravilhas.

Assim se revelou a glória do Senhor, e todos contemplaram a salvação de Deus, isto é, do Pai, que nos enviou desde o céu o Filho como Salvador e Redentor. Não podendo a lei levar nada à perfeição, e como os sacrifícios rituais eram incapazes de purificar os pecados, em Cristo chegamos à perfeição e, livres de toda mácula, concede-nos a honra do espírito de adoção. Esta graça que temos em Cristo, quanto à finalidade e à vontade do depositário, tem a intenção de difundir-se a toda carne, isto é, a todos os homens.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 279-280. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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