Após a 37ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), celebrada em Lisboa (Portugal) no último mês de agosto (transferida do ano de 2022), no próximo domingo, 26 de novembro de 2023, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, se celebra a nível diocesano a 38ª JMJ.
Confira a seguir a Mensagem do Papa Francisco para a ocasião, que dá início ao percurso rumo ao encontro com os jovens que se celebrará em Roma durante o Jubileu de 2025:
Papa Francisco
Mensagem para a XXXVIII Jornada Mundial da Juventude
26 de novembro de 2023
«Alegres na esperança» (Rm 12,12)
Queridos
jovens!
No
passado mês de agosto, encontrei centenas de milhares de vossos coetâneos que,
vindos de todo o mundo, se reuniram em Lisboa para a Jornada Mundial da
Juventude. Nos dias da pandemia alimentamos, no meio de muitas incertezas, a
esperança de que esta grande celebração do encontro com Cristo e com outros
jovens pudesse se realizar. Esta esperança concretizou-se e, para mim e muitos
de quantos lá estiveram presentes, superou todas as expectativas! Como foi
lindo o nosso encontro em Lisboa! Uma verdadeira e real experiência de
transfiguração, uma explosão de luz e alegria!
No
final da Missa conclusiva no «Campo da Graça», indiquei a próxima etapa da
nossa peregrinação intercontinental: Seoul, na Coreia, em 2027. Mas antes disso
marquei encontro convosco em Roma, para o Jubileu dos Jovens em 2025, onde
também vós sereis «peregrinos da esperança».
De
fato, vós, jovens, sois a esperança jubilosa de uma Igreja e de uma humanidade
sempre a caminho. Quero tomar-vos pela mão e, junto convosco, percorrer a senda
da esperança. Quero falar convosco das nossas alegrias e esperanças, mas também
das tristezas e angústias dos nossos corações e da humanidade que sofre (cf.
Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes, n. 1).
Nestes dois anos de preparação para o Jubileu, meditaremos, primeiro, sobre a
expressão paulina «Alegres na esperança» (Rm 12,12) e, depois,
aprofundaremos a frase do profeta Isaías: «Aqueles que esperam no Senhor,
caminham sem se cansar» (cf. Is 40,31).
Donde vem esta alegria?
«Alegres
na esperança» (Rm 12,12) é uma exortação de São Paulo à comunidade
de Roma, que se encontra em um período de intensa perseguição. E na realidade a
«alegria na esperança», pregada pelo Apóstolo, brota do Mistério Pascal de
Cristo, da força da sua Ressurreição. Não é fruto do esforço humano, do engenho
ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo. A alegria cristã vem
do próprio Deus, de nos sabermos amados por Ele.
Refletindo
sobre a experiência vivida na Jornada Mundial da Juventude de Madrid, em
2011, Bento XVI perguntava-se: a alegria «donde brota? Como se explica?
Seguramente são muitos os fatores que interagem; mas, a meu ver, o fator
decisivo é (...) a certeza que deriva da fé: eu sou desejado; tenho uma tarefa;
sou aceito; sou amado». E especificou: «No fim das contas, precisamos de uma
acolhida incondicional; somente se Deus me acolher e eu estiver seguro disso
mesmo é que sei definitivamente: é bom que eu exista; (...) é bom existir como
pessoa humana, mesmo em tempos difíceis. A fé faz-nos felizes a partir de
dentro» (Discurso à Cúria Romana, 22 de dezembro de 2011).
Onde está a minha esperança?
A
juventude é um tempo cheio de esperanças e sonhos, alimentados pelas realidades
belas que enriquecem a nossa vida: o esplendor da criação, as relações com os
nossos entes queridos e com os amigos, as experiências artísticas e culturais,
os conhecimentos científicos e técnicos, as iniciativas que promovem a paz, a
justiça e a fraternidade, e assim por diante. Contudo, vivemos em um tempo em
que para muitos, mesmo jovens, a esperança parece ser a grande ausente.
Infelizmente muitos dos vossos coetâneos, que vivem experiências de guerra,
violência, bulling e várias formas de mal-estar, veem-se
afligidos pelo desespero, o medo e a depressão. Sentem-se como que encerrados em
uma prisão escura, incapazes de ver os raios do sol. Demonstra-o dramaticamente
a elevada taxa de suicídio entre os jovens de vários países. Em semelhante
contexto, como se pode experimentar a alegria e a esperança, de que fala São
Paulo? Antes, pelo contrário, há o risco de se impor o desespero, a convicção
de ser inútil fazer o bem, porque ninguém o apreciará nem reconhecerá, como
lemos no Livro de Jó: «Onde está a minha esperança? A minha esperança,
quem a viu?» (Jó 17,15).
À
vista dos dramas da humanidade, sobretudo do sofrimento dos inocentes, também
nós - como rezamos em alguns Salmos - perguntamos ao Senhor: «Por quê?». Pois
bem! Uma parte da resposta de Deus podemos sê-la nós. Criados por Ele à sua
imagem e semelhança, podemos ser expressão do seu amor que faz nascer a alegria
e a esperança, mesmo onde parece impossível. Vem-me à mente o protagonista do
filme «A vida é bela»: um pai jovem que consegue, com delicadeza e
imaginação, transformar a dura realidade em uma espécie de aventura e de jogo
e, assim, dá ao filho «olhos de esperança», protegendo-o dos horrores do campo
de concentração, salvaguardando a sua inocência e impedindo que a maldade
humana lhe roube o futuro. Mas não se trata apenas de histórias inventadas! É o
que vemos na vida de muitos Santos, que foram testemunhas de esperança mesmo no
meio da maldade humana mais cruel. Pensemos em São Maximiliano Maria Kolbe, em
Santa Josefina Bakhita ou nos Beatos esposos Józef e Wiktoria Ulma com os seus sete filhos.
A
possibilidade de acender uma esperança no coração dos homens, a partir do
testemunho cristão, foi magistralmente evidenciada por São Paulo VI, quando nos
recordou que «um cristão ou punhado de cristãos, no seio da comunidade humana
em que vivem, (...) irradiam, de um modo absolutamente simples e espontâneo, a
sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança
em qualquer coisa que não se vê nem se ousaria sequer imaginar» (Exortação Apostólica Evangelii
nuntiandi, n. 21).
A «pequena» esperança
O
poeta francês Charles Péguy, no início do poema sobre a esperança, fala das
três virtudes teologais - fé, esperança e caridade - como se fossem três irmãs
que caminham juntas:
«A
pequena esperança avança no meio de suas duas irmãs grandes
E
não se nota sequer. (...)
Ela,
a pequenita, é que arrasta tudo.
Porque
a Fé não vê senão o que é
E
ela vê aquilo que será.
A
Caridade não ama senão aquilo que é
E
ela, sim ela, ama aquilo que será. (...)
É
ela que faz caminhar as outras duas
Que
puxa por elas.
E
que nos faz caminhar a todos»
(O
pórtico do mistério da segunda virtude, Milão, 1978, 17-19).
Também
eu estou convencido deste caráter humilde, «menor», e, todavia, fundamental da
esperança. Tentai imaginar: Como poderíamos viver sem esperança? Como seriam os
nossos dias? A esperança é o sal da quotidianidade.
Virtudes teologais: Caridade, Fé, Esperança (Heinrich Maria von Hess) |
Esperança, luz que brilha na noite
Na
tradição cristã do Tríduo Pascal, o Sábado Santo é o dia da esperança. Situado
entre a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa, é como um meio-termo entre o
desespero dos discípulos e a sua alegria pascal. É o ponto onde nasce a
esperança. Neste dia, a Igreja comemora em silêncio a descida de Cristo à
mansão dos mortos. Isto, podemos vê-lo pintado em muitos ícones. Mostram-nos
Cristo refulgente de luz que desce às trevas mais profundas e atravessa-as. É
assim: Deus não se limita a olhar com compaixão para as nossas zonas de morte
ou a chamar-nos de longe, mas entra nas nossas experiências da mansão dos
mortos como luz que brilha nas trevas e as vence (cf. Jo 1,5).
Bem o expressa um poema na língua sul-africana xhosa: «Mesmo que acabem as
esperanças, com este poema acordo a esperança. A minha esperança acorda, porque
espero no Senhor. Espero que havemos de nos unir! Permanecei fortes na
esperança, porque o bom êxito está próximo».
Se
pensarmos bem, esta foi a esperança da Virgem Maria, que permaneceu forte aos
pés da cruz de Jesus, certa de que estava próximo o «bom êxito». Maria é a
mulher da esperança, a Mãe da esperança. No Calvário, firme «em uma esperança
para além do que se podia esperar» (Rm 4,18), não deixou apagar no
seu coração a certeza da Ressurreição anunciada pelo seu Filho. É ela que preenche
o silêncio do Sábado Santo com uma amorosa expectativa cheia de esperança,
incutindo nos discípulos a certeza de que Jesus venceria a morte e que o mal
não seria a última palavra.
A
esperança cristã não é otimismo fácil nem uma panaceia para simplórios: é a
certeza, radicada no amor e na fé, de que Deus nunca nos deixa sozinhos e
mantém a sua promessa: «Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal eu terei
medo, porque Tu estás comigo» (Sl 22,4). A esperança cristã não é
negação da dor nem da morte, mas celebração do amor de Cristo Ressuscitado que
está sempre conosco, mesmo quando parece distante. «O próprio Cristo é, para
nós, a grande luz de esperança e guia na nossa noite, porque Ele é “a brilhante
estrela da manhã” (Ap 22,16)» (Francisco, Exortação Apostólica Christus
vivit, n. 33).
Alimentar a esperança
Quando
a centelha da esperança se acende em nós, existe às vezes o risco de ser
sufocada pelas preocupações, os medos e as tarefas da vida diária. Mas uma
centelha precisa de ar para continuar a brilhar e reavivar-se em um grande fogo
de esperança. E é a suave brisa do Espírito Santo que alimenta a esperança.
Podemos colaborar de diversos modos para alimentá-la.
A esperança é alimentada pela oração. Rezando, salvaguarda-se e renova-se a esperança. Rezando,
mantemos acesa a centelha da esperança. «A oração é a primeira força da
esperança. Rezas e a esperança cresce, avança» (Francisco, Catequese,
20 de maio de 2020). Rezar é como subir a grande altitude: quando estamos na
terra, muitas vezes não conseguimos ver o sol, porque o céu está coberto de
nuvens. Mas se subirmos acima das nuvens, envolvem-nos a luz e o calor do sol;
e, nesta experiência, encontramos a certeza de que o sol está sempre presente,
mesmo quando tudo se apresenta cinzento.
Queridos
jovens, quando o nevoeiro espesso do medo, da dúvida e da opressão vos envolve
e já não conseguis ver o sol, embocai o caminho da oração. Pois, «quando já
ninguém me escuta, Deus ainda me ouve» (Bento XVI, Encíclica Spe salvi,
n. 32). Reservemos diariamente um tempo para descansar em Deus, face às
ansiedades que nos assaltam: «Só em Deus descansa a minha alma; d’Ele vem a
minha esperança» (Sl 61,6).
A esperança é alimentada pelas nossas opções quotidianas. O convite a serem alegres
na esperança, que São Paulo dirige aos cristãos de Roma (cf. Rm 12,12),
exige escolhas muito concretas na vida de cada dia. Por isso, exorto-vos a
escolher um estilo de vida baseado na esperança. Dou um exemplo: nas redes
sociais, parece mais fácil compartilhar notícias más do que notícias de
esperança. Assim deixo-vos uma proposta concreta: tentai compartilhar cada dia
uma palavra de esperança. Tornai-vos semeadores de esperança na vida dos vossos
amigos e de quantos vos rodeiam. Com efeito, «a esperança é humilde e é uma
virtude que se trabalha - por assim dizer - todos os dias (...). Todos os dias
é preciso lembrar-nos que temos o penhor, que é o Espírito e que trabalha em
nós através de pequenas coisas» (Francisco, Meditação matutina, 29
de outubro de 2019).
Acender a lâmpada da esperança
Às
vezes, à noite, saís com os vossos amigos e, se estiver escuro, tomais o smartphone e
acendeis a lanterna para iluminar. Nos grandes concertos, milhares movem
aquelas luzinhas modernas ao ritmo da música, criando um belo cenário. De
noite, a luz faz-nos ver as coisas de um modo novo e, mesmo na escuridão,
emerge uma dimensão de beleza. O mesmo se passa com a luz da esperança, que é
Cristo. Por Ele, pela sua Ressurreição, é iluminada a nossa vida. Com Ele,
vemos tudo sob uma nova luz.
Diz-se
que, quando as pessoas se dirigiam a São João Paulo II para lhe falar de um
problema, a sua primeira pergunta era: «Como se apresenta isso à luz da fé?»
Também um olhar iluminado pela esperança faz com que as coisas apareçam sob uma
luz diferente. Por isso, convido-vos a assumir este olhar na vossa vida diária.
Animado pela esperança divina, o cristão encontra-se repleto de uma alegria
diversa, que vem de dentro. Os desafios e as dificuldades existem e sempre
existirão, mas se estivermos dotados de uma esperança «cheia de fé», os enfrentaremos
sabendo que não têm a última palavra e nós mesmos tornamo-nos uma pequena
lanterna de esperança para os outros.
E
podeis sê-lo, também cada um de vós, na medida em que a própria fé se fizer
concreta, aderente à realidade e às histórias dos irmãos e irmãs. Pensemos nos
discípulos de Jesus, que um dia, em um alto monte, O viram resplandecer de luz
gloriosa. Se tivessem ficado lá em cima, teria sido um momento muito belo para
eles, mas os outros teriam sido excluídos. Era necessário que descessem. Não
devemos fugir do mundo, mas amar o nosso tempo, no qual Deus nos colocou não
sem motivo. Só se pode ser feliz partilhando a graça recebida com os irmãos e
as irmãs que o Senhor nos dá dia após dia.
Queridos
jovens, não tenhais medo de partilhar com todos a esperança e a alegria de
Cristo Ressuscitado! A centelha que se acendeu em vós, conservai-a, mas ao
mesmo tempo comunicai-a: vos dareis conta de que ela crescerá! A esperança
cristã, não a podemos guardar para nós, como um belo sentimento, visto que se
destina a todos. Aproximai-vos em particular dos vossos amigos que talvez
aparentemente sorriem, mas por dentro choram, carentes de esperança. Não vos
deixeis contagiar pela indiferença e pelo individualismo: permanecei abertos
como canais por onde a esperança de Jesus possa fluir e difundir-se nos
ambientes onde viveis.
«Cristo
vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo!» (Christus
vivit, n. 1). Assim vos escrevi, há quase cinco anos, depois do Sínodo dos
Jovens. Convido-vos todos, especialmente aqueles que estão envolvidos na
pastoral juvenil, a voltarem a pegar no Documento Final de 2018 e na
Exortação Apostólica Christus vivit. Os tempos estão maduros para
fazermos, juntos, o ponto da situação e trabalharmos com esperança para a plena
implementação daquele Sínodo inesquecível.
Confiemos
toda a nossa vida a Maria, Mãe da Esperança. Ela ensina-nos a trazer dentro de
nós Jesus, nossa alegria e esperança, e a dá-lo aos outros. Boa caminhada,
queridos jovens! Abençoo-vos e acompanho-vos com a oração. E vós rezai também
por mim!
Roma, São João de Latrão, na Festa da Dedicação da Basílica Lateranense, 09 de novembro de 2023.
FRANCISCO
Fonte: Santa Sé.
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