quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 10-11

Desde o último dia 10 de setembro estamos publicando uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

Nos últimos textos Dom Henrique refletiu sobre a "presença real" e a Eucaristia como "mistério de comunhão", tema este que continuará aprofundando nos textos que publicamos aqui:

A Eucaristia X
12 de junho de 2020

Continuemos a pensar a Eucaristia como mistério de comunhão...

Estas exigências de comunhão provocadas pela Comunhão eucarística fazem com que aqueles que não estão em comunhão com o Senhor e com a Igreja no âmbito da vida não possam comungar no âmbito sacramental: “Que cada um examine a si mesmo antes de comer desse Pão e beber desse Cálice” (1Cor 11,28).

O que rompe a comunhão? Basicamente, o pecado, pois fratura a união com Cristo e com a Igreja, Seu Corpo.

Assim, quem se encontra em pecado grave contra o Senhor e contra os irmãos, deve, portanto, aproximar-se antes do sacramento da Reconciliação para poder participar do Corpo do Senhor. Nunca esqueçamos de que o pecado, como acabamos de afirmar, é ruptura de comunhão com Deus em Cristo e com o Seu Corpo, que é a Igreja: “Nesta linha, o Catecismo da Igreja Católica estabelece justamente: ‘Aquele que tiver consciência dum pecado grave, deve receber o sacramento da Reconciliação antes de se aproximar da Comunhão’. Desejo, por conseguinte, reafirmar que vigora ainda e sempre há de vigorar na Igreja a norma do Concílio de Trento que concretiza a severa advertência do Apóstolo Paulo, ao afirmar que, para uma digna recepção da Eucaristia, ‘se deve fazer antes a confissão dos pecados, quando alguém está consciente de pecado mortal’. A Eucaristia e a Penitência são dois sacramentos intimamente unidos. Se a Eucaristia torna presente o sacrifício redentor da cruz, perpetuando-o sacramentalmente, isso significa que deriva dela uma contínua exigência de conversão, de resposta pessoal à exortação que São Paulo dirigia aos cristãos de Corinto: ‘Suplicamo-vos em Nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus’ (2Cor 5,20). Se, para além disso, o cristão tem na consciência o peso dum pecado grave, então o itinerário da penitência através do sacramento da Reconciliação torna-se caminho obrigatório para se abeirar e participar plenamente do sacrifício eucarístico” (Ecclesia de Eucharistia, nn. 36-37).

É sempre útil recordar que os pecados graves dizem respeito também à vida da comunidade cristã: quem divide a comunidade, quem não aceita construí-la com seus dons e talentos, quem se fecha sobre si mesmo, desprezando a comunidade, que é corpo do Senhor, torna-se inapto para participar do Corpo do Senhor. Do mesmo modo, aquele que rompe gravemente com o irmão, a ponto de não mais reconhecê-lo como tal, também não deve participar do Corpo eucarístico de Cristo.

Outro nível de comunhão, exigido pela Eucaristia, é o da comunhão na mesma doutrina recebida dos Apóstolos e a comunhão com os legítimos pastores da Igreja, de modo particular com o Bispo de Roma, Sucessor de Pedro e os Bispos em comunhão com ele. A quebra dos vínculos visíveis de comunhão torna impossível a comunhão no mesmo Corpo eucarístico do Senhor. A este propósito, assim se exprime a Encíclica de São João Paulo II: “A Eucaristia, como suprema manifestação sacramental da comunhão na Igreja, exige, para ser celebrada, um contexto de integridade dos laços, inclusive externos, de comunhão. De modo especial, sendo ela como que a perfeição da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos requer que sejam reais os laços de comunhão nos sacramentos, particularmente no Batismo e na Ordem sacerdotal. Não é possível dar a comunhão a uma pessoa que não esteja batizada ou que rejeite a verdade integral de fé sobre o Mistério eucarístico. Cristo é a Verdade, e dá testemunho da verdade (cf. Jo 14,6; 18,37); o sacramento do Seu Corpo e Sangue não consente ficções” (Ecclesia de Eucharistia, n. 38).

Já no longínquo século I, Santo Inácio de Antioquia dizia: “Vós vos reunis numa única fé e em Jesus Cristo, ao partirdes um único pão, que é remédio de imortalidade”. Para São João Crisóstomo, “esta é a unidade da fé: quando todos formamos uma só coisa, quando todos juntos reconhecemos o que nos une”. A unidade da fé recebida no Batismo é o pressuposto para sermos admitidos na unidade da divina Eucaristia, porque através dela entramos em comunhão com Aquele que acreditamos ser consubstancial ao Pai, segundo a fé que temos Nele. Como se poderia, portanto, comungar Cristo juntamente com pessoas que sobre Ele têm um credo diferente? Tornar-nos-íamos réus do Corpo e Sangue do Senhor (cf. 1Cor 11,27). A Igreja, que é mãe, sente dor e amor por todos os homens, pelos não crentes, os catecúmenos, os que andam longe da fé, mas não tem o poder de dar a comunhão aos não batizados, nem aos que não professam a fé católica e apostólica bem como aos que se encontram objetivamente numa situação contrária à moral cristã. Recebendo o único Pão, entramos nesta única vida em Cristo e entre nós e tornamo-nos assim um único Corpo do Senhor. Fruto da Eucaristia é a união dos cristãos, antes dispersos, na unidade do único Pão e do único corpo eclesial. É por esse mesmo motivo, que a comunhão eucarística só pode ser recebida na unidade com toda a Igreja, superando toda a separação religiosa ou moral. Nunca se deve esquecer de que a Eucaristia não é simplesmente uma experiência pessoal, mas de cada cristão como membro do único Corpo eclesial do Senhor, unido à Cabeça, que é Cristo Senhor, e aos demais membros, todos vivificados e unidos na comunhão do Espírito Santo.

É preciso, pois, ainda dizer com toda franqueza que não vale o raciocínio dos que querem que nossos irmãos separados comunguem da nossa Eucaristia, dizendo que nós já temos certa comunhão ou ainda que a Eucaristia ajuda a fazer a comunhão e a superar as divisões. Tudo isso é verdadeiro, mas não é argumentação válida para permitir a intercomunhão. São João Paulo II adverte: “A celebração da Eucaristia não pode ser o ponto de partida da comunhão, visando a sua consolidação e perfeição. O Sacramento exprime esse vínculo de comunhão quer na dimensão invisível, quer na dimensão visível que implica a comunhão com a doutrina dos Apóstolos, os sacramentos e a ordem hierárquica. A relação íntima entre os elementos invisíveis e os elementos visíveis da comunhão eclesial é constitutiva da Igreja enquanto sacramento de salvação. Somente neste contexto, tem lugar a celebração legítima da Eucaristia e a autêntica participação nela. Por isso, uma exigência intrínseca da Eucaristia é que seja celebrada na comunhão e, concretamente, na integridade dos seus vínculos” (Ecclesia de Eucharistia, n. 35).

Nos primeiros séculos de difusão do cristianismo, dava-se a máxima importância ao fato de em cada cidade existir um só Bispo e um só Altar, como expressão da unidade do único Senhor. Cristo dá-Se na Eucaristia todo inteiro e em todo o lugar e, por isso, em toda a parte onde for celebrada, ela torna presente plenamente o mistério de Cristo e da Igreja como mistério de Comunhão com o Senhor e entre os irmãos, membros do mesmo corpo. De fato, Cristo, que forma em todo o lugar um único corpo com a Igreja, não pode ser recebido na discórdia. Precisamente porque Cristo é inseparado e inseparável dos Seus membros, a Eucaristia só tem sentido se celebrada com toda a Igreja e num ambiente de caridade fraterna, de comum profissão da mesma fé católica, de participação ativa de todos e cada membro na vida da comunidade, de cuidado com os fracos e necessitados, de respeito para com os que caíram e estão sofrendo. São exigências da comunhão, exigências da Eucaristia!

Este Sacramento deve encher os cristãos de saudades: saudade da comunhão íntima com o Senhor na vida de cada dia, saudade da comunhão com os irmãos na comunidade eucarística e com os irmãos que, por toda a terra, formam um só corpo, na comunhão do Corpo de Cristo, saudade dos irmãos que, por um motivo ou outro, não podem comungar eucaristicamente, saudade dos irmãos separados por não estarem conosco na profissão de fé integral, saudade, enfim, de que toda a humanidade possa, um dia, reconhecer a Cristo como Pão que alimenta nosso corpo e nossa alma, o seu Pai como nosso Deus e Pai, o seu Espírito como vida da nossa vida que nos reúne ao redor da mesma Mesa na qual toda a humanidade se reconheça como uma só família. E esta saudade deve tornar-se compromisso de oração, de comportamentos e ações que nos impilam concretamente àquela unidade do Corpo de Cristo que o Senhor tanto quer para a Sua Igreja.

A Eucaristia XI
12 de junho de 2020

A Eucaristia faz a Igreja ser corpo de Cristo. Neste corpo, formado por muitos membros, nem todos fazem a mesma coisa, mas cada um tem sua função, seu dom, seu modo específico de enriquecer e fazer crescer o corpo até a plenitude do Cristo Jesus. Assim, aqueles que, celebrando o Banquete eucarístico, formam um só corpo, assumem seu lugar de serviço no corpo de Cristo que é a Igreja. Quem não sabe e não quer servir, não serve para ser Igreja e não pode participar do Corpo do Senhor!

O número 34 da Ecclesia de Eucharistia afirma: “Enquanto durar a sua peregrinação aqui na terra, a Igreja é chamada a conservar e promover tanto a comunhão com a Trindade divina como a comunhão entre os fieis. Para isso, possui a Palavra e os sacramentos, sobretudo a Eucaristia; desta vive e cresce e ao mesmo tempo exprime-se nela. Não foi sem razão que o termo comunhão se tornou um dos nomes específicos deste Sacramento excelso”. A Celebração Eucarística é o lugar, o momento, a ocasião em que a Igreja aparece de modo mais completo e verdadeiro porque ali, ela é unida ao Seu Senhor imolado e ressuscitado, ali, alimenta-se com o Maná espirituado, isto é, Alimento cheio de Espírito Santo, que a conforma sempre mais, sempre de novo ao Cristo, sua Cabeça, ali, os fieis crescem cada vez mais na conformação ao corpo eclesial e na união uns com os outros, como membros diversos do corpo único; ali, ainda, o Povo de Deus, reunido para escutar a Palavra e com fé responder o “Amém”, oferece ao Pai com Cristo, por Cristo e em Cristo, o Sacrifício perfeito e santo e, comungando no mesmo Corpo do Senhor, torna-se também ele corpo do Senhor e corpo no Senhor. Portanto, na Celebração, este corpo de Cristo que é a Igreja aparece todo unido e todo articulado num só Espírito Santo, mas também diversificado nos seus vários membros, com seus carismas e ministérios. Desse modo, unir-se na comunhão com o Corpo eucarístico de Cristo nos compromete a construir o Seu corpo que é a Igreja, cada um segundo o dom que a graça de Cristo Deus lhe concedeu. Da Eucaristia, portanto, brotam e na Eucaristia encontram lugar e sentido os diversos carismas e ministérios, todos para a edificação do corpo de Cristo.

É verdade que na sua realidade mais fundamental, a Igreja é um corpo de iguais, pois, pelo Batismo, todos têm a comum dignidade de filhos de Deus, chamados a viver o Evangelho na caridade e a testemunhá-lo diante do mundo pela palavra e pela vida. Mas, também é verdade que, no interior desse corpo, há diversidade de ministérios e carismas. A primeira grande diferenciação que aparece na Celebração é aquela entre os ministros ordenados, marcados pelo sacramento da Ordem e os demais membros do Povo de Deus. “Como ensina o Concílio Vaticano II, os fieis por sua parte concorrem para a oblação da Eucaristia, em virtude do seu sacerdócio real, mas é o sacerdote ministerial que realiza o Sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o Povo. Por isso se prescreve no Missal Romano que seja unicamente o sacerdote a recitar a Oração Eucarística, enquanto o povo se lhe associa com fé e em silêncio. A afirmação, várias vezes feita no Concílio Vaticano II, de que o sacerdote ministerial realiza o Sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo (in persona Christi), estava já bem radicada no magistério pontifício. (...) A expressão in persona Christi quer dizer algo mais do que em nome, ou então “nas vezes” de Cristo. “In persona”, isto é, na específica e sacramental identificação com o Sumo e Eterno Sacerdote, que é o Autor e o principal Sujeito deste Seu próprio sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém. Na economia de salvação escolhida por Cristo, o ministério dos sacerdotes que receberam o sacramento da Ordem manifesta que a Eucaristia, por eles celebrada, é um dom que supera radicalmente o poder da assembleia e, em todo o caso, é insubstituível para ligar validamente a consagração eucarística ao Sacrifício da Cruz e à Última Ceia” (Ecclesia de Eucharistia, nn. 28s).

É todo o Povo de Deus reunido para a Eucaristia quem celebra, como Povo sacerdotal, inserido no corpo eclesial de Cristo. Mas, é o sacerdócio ministerial que coloca o Povo sacerdotal em condição efetiva de oferecer o santo Sacrifício. Assim, com a unção do Espírito recebida não da assembleia, mas do próprio Senhor, pelo sacramento da Ordem, os ministros sagrados têm a capacidade de oferecer a Eucaristia com a Igreja e pela Igreja e, através dela, Povo sacerdotal, pelo mundo inteiro. Já esse Povo sacerdotal, sacerdócio do Reino, corpo do Senhor, que é a Igreja, participa dessa oferta trazendo ao Altar o seu sacrifício espiritual, isto é, uma existência vivida na potência do Santo Espírito, feita de lutas, lágrimas, alegrias e tristezas, de virtudes e esperanças. Tudo isso é oferecido com Cristo, através de Cristo e em Cristo em benefício do mundo inteiro.

Ora, esta participação de todos a todos compromete na edificação da Igreja e na construção do Reino de Deus neste mundo. Seja como ministro ordenado, leigo no mundo nas suas verias profissões, estados de vida ou ocupações, religiosos consagrados pelos votos, todos devemos com nossa vida e ação edificar o corpo do Senhor. Como todos participam da Eucaristia, todos têm o dever sagrado de assumir seu papel de batizado e crismado, abraçando amorosamente sua parte de responsabilidade na edificação do Reino de Deus. Seja solteiro, seja casado, seja religioso, seja secular, ninguém está dispensado de assumir seu serviço, isto é, seu ministério, na Igreja em favor do mundo.

Assim, a partir da Eucaristia celebrada por todos, aparece claramente que a Igreja é uma comunidade toda ministerial, isto é, toda formada por gente chamada a servir, como Cristo, que veio para servir, e na Eucaristia torna sempre presente o memorial de Sua vida dada por nós e pelo mundo inteiro como serviço de amor. Esta realidade é muito bem expressa nos próprios textos litúrgicos, quando se reza pelo Papa, o Bispo local, o Episcopado em geral, os ministros ordenados, todo o Povo de Deus “e todos aqueles que vos procuram de coração sincero” (Oração Eucarística IV).

Eis as consequências de tal realidade:

(1) Todo o modo de viver e de agir dos que participam da Eucaristia deve ter como objetivo a edificação do corpo do Senhor. Participando do Corpo eucarístico eles assumem o compromisso de tudo realizarem na vida para edificar o corpo eclesial do Senhor. Seria uma Eucaristia mentirosa participar do mesmo Pão e do mesmo Cálice e fechar-se em si mesmo, buscando seus próprios interesses e não a edificação comum da comunidade dos irmãos em Cristo, que é a Igreja. A este respeito, diz o Apóstolo que Cristo suprimiu na Sua carne (a da Cruz e a do Altar) a inimizade “a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo, estabelecendo a paz e de reconciliar a ambos com Deus em um só Corpo por meio da Cruz, na qual Ele matou a inimizade” (Ef 2,15s). São Paulo fala na reconciliação que judeus e pagãos podem encontrar no Corpo do Senhor. Mais ainda: esta reconciliação, que é compreensão, partilha, amor fraterno, deve ser vivida e testemunhada pelos que já pertencem a este corpo, que é a Igreja e dele comungam na Eucaristia!

(2) A comunhão no mesmo Corpo eucarístico e a vivência no corpo que é a Igreja, fazem-nos experimentar a diversidade de dons e ministérios que o Espírito do Cristo suscita na Comunidade. O mesmo Espírito Santo que consagra o pão e o vinho eucarísticos - “Por isso, nós Vos pedimos que o mesmo Espírito Santo santifique estas oferendas, a fim de que se tornem o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor nosso” (Oração Eucarística IV), - consagra a Comunidade para que seja corpo de Cristo - “O Espírito nos uma num só corpo (Oração Eucarística II). É esse Espírito Santo quem suscita inúmeros carismas e ministérios na Igreja para a edificação do corpo do Senhor: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo... Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo e todos bebemos de um só Espírito” (1Cor 12,4.7.12-13). É na Eucaristia que a Igreja aparece como comunidade toda articulada em ministérios e carismas para a edificação do corpo de Cristo. A Eucaristia deve ser o centro e o motivo da Comunidade viva, toda atuante, na qual todos sabem que são responsáveis pela Igreja e pela evangelização no ambiente e no modo que é próprio de cada um.

(3) Sendo assim, toda a atividade na Igreja, todo ministério, todo carisma, deve estar orientado não para a própria satisfação ou, o que é pior, para interesses e vaidades pessoais, mas unicamente para o crescimento do corpo de Cristo. Como o Cristo que Se imola no Altar para que todos tenham a Vida divina, e assim presta ao Pai o verdadeiro louvor, também os membros da Igreja devem imolar-se, deixando de lado seus interesses particulares em benefício da Comunidade dos irmãos. Este é o espírito verdadeiramente eucarístico de se viver como Igreja, comunhão na diversidade. Assim, todos se valorizam, todos se respeitam, mesmo com carismas diversos, ministérios variados e modos de pensar diferentes. Como no Corpo eucarístico, os vários grãos formam um só pão e os vários cachos de uva formam um só vinho, também a Comunidade que celebra o santo Mistério, é unida no Espírito Santo, respeitando toda a riqueza da diversidade, buscando sempre o crescimento do corpo do Senhor, que é a Igreja: “Há um só corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. E Ele é que concedeu a uns ser apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e mestres, para aperfeiçoar os santos em vista do ministério, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4,4s.11-13).

(4) Se participando do mistério da Eucaristia, descobrimos e vivenciamos que somos membros de um só corpo, cada qual com seu carisma próprio e seu lugar na Comunidade, então compreendemos também que a Igreja é mistério, isto é, uma Comunidade reunida não por nossa vontade ou capricho, mas pelo Espírito do Filho para realizar o Reino do Pai. Esta consciência nos faz assumir nosso papel na Comunidade com santo temor e espírito de fé. Quem canta no coral, quem varre a igreja, quem visita os doentes, quem participa do conselho paroquial, quem coordena um grupo, quem prepara a celebração litúrgica, deve saber que faz isso como uma realização de sua vocação e batizado e crismado, membro ativo do corpo do Senhor porque participado Corpo eucarístico de Cristo no Altar da missa. Sem esta visão de fé, a Igreja não passaria de um clube, uma agremiação fundada na simpatia dos membros ou em interesses comuns. Mas não: o amor de Cristo, dado e recebido em comunhão, nos uniu no Santo Espírito!

(5) A Celebração Eucarística, unindo-nos na variedade em torno do Corpo do Senhor e como corpo do Senhor, é sempre celebrada em comunhão com os ministros da unidade: o Papa, Bispo de Roma, como cabeça do Colégio dos Bispos, primeiro responsável pela unidade de toda a Igreja na fé e na caridade, e o Bispo local vigário de Cristo na sua Igreja diocesana. O Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium n. 26 exprimiu isso muito bem: “Em toda a comunidade de Altar unida para o Sacrifício, sob o ministério sagrado do Bispo, manifesta-se o símbolo daquela caridade e unidade do corpo místico, sem a qual não pode haver salvação. Nestas comunidades, embora muitas vezes pequenas e pobres, ou vivendo na dispersão, está presente Cristo, por cuja virtude se consocia a Igreja una, santa católica e apostólica”. Jamais haveria uma Celebração eucarística lícita sem a comunhão na fé e na caridade com o Sucessor de Pedro e com o Bispo local. Tinha razão Santo Agostinho, ao afirmar que a Eucaristia é “Sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade”.

Se levarmos a sério esta riqueza, toda a nossa vivência de Igreja, toda a nossa atividade na Comunidade tornam-se meio união com o Senhor morto e ressuscitado e com os irmãos no mistério do Corpo do Senhor, unidos num só Espírito, para a glória do Pai: “Há um só corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4,4s).



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